segunda-feira, 14 de junho de 2010

Mais um trabalho publicado - Economia mundial, Paulo R. Ameida

Este aqui já tinha saído em Mundorama, o priminho mais rápido do Meridiano 47.

Paulo Roberto de Almeida:
Mudanças na economia mundial: perspectiva histórica de longo prazo
Meridiano 47 (n. 118, maio 2010).

Dois diplomatas que foram contra suas respectivas chancelarias

Ser digno significa, de vez em quando (ou sempre quando necessário), contrariar ordens superiores, quando estas são manifestamente mesquinhas e singularmente desumanas, e sobretudo atentatórias à dignidade humana.
Minha homenagem a dois diplomatas exemplares...
Paulo Roberto Almeida

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As listas dos Souza
Christine Lages

Diplomatas brasileiro e português salvaram mais de 30 mil perseguidos do Holocausto durante a Segunda Guerra e hoje são lembrados pelo feito

RIO - Eles tinham a mesma profissão, morreram com um intervalo de duas semanas, e falavam a mesma língua, principalmente quando se tratava dos direitos humanos. Embaixadores na França em tempos de Segunda Guerra Mundial, o brasileiro Luiz Martins de Souza Dantas e o português Aristides de Sousa Mendes não eram próximos, mas suas trajetórias os uniram após a morte, e deram chance a milhares de pessoas de viver sem a perseguição. Responsáveis pela emissão de vistos no momento em que a Alemanha de Adolf Hitler invadia o país onde representavam Brasil e Portugal, eles criaram uma espécie de Lista dos Souza com a qual permitiram a entrada de mais de 30 mil estrangeiros em seus países. Nesta quinta-feira, o ato dos dois diplomatas será lembrado em cerimônias católicas e judaicas em diversas partes do mundo, incluindo Vaticano, Brasil e Estados Unidos.

Não há registro de que Dantas soubesse do feito de Mendes, e vice-versa. Embora os dois tenham trabalhado na mesma época na França, as emissões eram feitas de forma secreta e sem qualquer tipo de cobrança por parte dos diplomatas. Não havia discriminação: brancos, negros, católicos, judeus, ricos, pobres, intelectuais, homossexuais. A maioria dos perseguidos que conseguiu chegar aos embaixadores no momento certo obteve visto para o Brasil, para Portugal, ou para os dois, já que para chegar ao Rio de Janeiro muitos precisavam de uma permissão de trânsito para Portugal, de onde saíam navios para a América do Sul.

Embaixadores caíram no esquecimento
Nascido no Rio em 1876, Souza Dantas teve uma trajetória brilhante como diplomata: aos 21 anos ingressou no Ministério das Relações Exteriores e percorreu todos os postos da carreira diplomática, serviu em diversas capitais do mundo, foi nomeado durante a Primeira Guerra Mundial ministro interino das Relações Exteriores, e representou o Brasil em Roma em 1919, três anos antes de assumir o posto na capital francesa. Seu jeito sociável de ser - era um famoso solteirão, frequentador assíduo do teatro da "Comédie-Française", e grande promotor de jantares políticos - o tornou conhecido em Paris e Vichy. Mas seu nome caiu no esquecimento após enfrentar inquérito administrativo do governo de Getúlio Vargas pela concessão de alguns vistos diplomáticos a estrangeiros entre junho de 1940 e janeiro de 1941.

- Ele emitiu centenas de vistos (cerca de mil), mas quando soube que estava sendo processado, achou que fosse pelas centenas. Na verdade, eram só uns 12 vistos. Então, escreveu: "Fiz o que teria feito com a nobreza d'alma dos brasileiros, movidos pelos mais elementares sentimentos de piedade cristã" - lembra Fábio Koifman, historiador e professor de Relações Internacionais na UFRRJ, que dedicou três anos ao livro "Quixote nas trevas", no qual conta a história de Souza Dantas.

Embaixador português em Bordeaux entre 1938 a 1940, Sousa Mendes teve seu destino ligado ao de outras cerca de 30 mil pessoas. Responsável pela emissão de vistos na cidade francesa, ele salvou os milhares de refugiados, entre eles 10 mil judeus, num período de dez dias. Filho de uma família católica, conservadora e monárquica, o português foi obrigado a deixar o corpo diplomático de seu país e terminou a vida na miséria.

- Quando falo de um, falo sempre do outro. Os dois foram grandes humanistas e sofreram consequências sérias por isso. Tiveram muito em comum na vida: honestidade e coragem de tomar decisões difíceis, mesmo que não fosse exatamente de acordo com a lei. Quando a guerra começou, os dois estavam na França e os dois fizeram algo de especial, tentando ajudar os refugiados, especialmente os judeus - diz João Crisóstomo, um português residente em Nova York que abraçou a causa dos embaixadores e há mais de dez anos vem lutando para reavivar seus nomes.

Refugiados lembram embaixador brasileiro
Nas listas dos Souza, refugiados de diversas origens. Alguns ficaram conhecidos, como o economista e ex-embaixador dos Estados Unidos na França Felix Rohatyn, de 82 anos, famoso por ajudar a recuperar a cidade de Nova York da crise dos anos 1970. A viagem de Rohatyn até a estabilização de sua família levou dois anos. Aos 12 anos, em 1940, ele conseguiu - ao lado dos pais - o visto dado por Dantas.

- Eu tinha 13 anos quando finalmente consegui chegar ao Brasil. Viajamos da França para o Marrocos, depois para Lisboa e só depois para o Brasil. Em junho de 1942, após viver no Brasil por um ano, finalmente chegamos a Nova York, para o nosso alívio. Esses dois anos foram cansativos e, muitas vezes, difíceis - conta o investidor, acrescentando que, do Rio, lembra da escola e dos jogos de futebol que assistia com o pai.

Rohatyn lembra que só aos 76 anos descobriu que Souza Dantas foi o responsável por seu visto. E quem contou a novidade para o economista foi Crisóstomo, que, ao ler o livro de Fábio Koifman, descobriu que o Rohatyn - também residente em Nova York - estava entre os refugiados salvos pelo brasileiro.

- Ele achava que havia sido salvo por outro embaixador. Ficou emocionado e muito surpreso com a história. Aos 76 anos, descobriu quem havia sido o salvador da vida dele - conta Crisóstomo.

- Sou extremamente grato pela memória do embaixador Souza Dantas, bem como dos outros embaixadores que ajudaram refugiados judeus - acrescenta Felix Rohatyn.

Hoje com 103 anos, a belga Hanna Strozemberg chegou ao Brasil com o marido e o cunhado, com a ajuda do embaixador brasileiro. Ela lembra que Souza Dantas, que emitiu muitos dos vistos diplomáticos sentado em restaurantes ou hotéis franceses, não aceitava nada em troca.

-- O Souza Dantas nos falou que nos deu um visto pré-datado porque havia recebido um telegrama (do Itamaraty) para não dar vistos para judeus. Meu marido chegou com os irmãos e falou para o Souza Dantas que queria oferecer um presente para ele. E ele disse: "Não, se você quer oferecer, ofereça para a Cruz Vermelha. Eu não aceito."

Saiba mais sobre as homenagens:
* Serão realizadas missas em Roma, na Itália, pelos cardeais Renato Martino, William Levada e Claudio Hummes; em Bordeau, na França, pelo cardeal Jean-Pierre Ricard; em Lisboa, Portugal, pelo bispo Dom Tomas Nunes da Silva; em Montreal, no Canadá, pelo Monsenhor André Desroches; em Neark, nos Estados Unidos, pelo bispo Edgar Moreira da Cunha; em Buenos Aires, Argentina, pelo Monsenhor Oscar D. Sarlinga. outras missas também serão realizadas na França, em Portugal, EUA (em São Francisco, Califórnia; e Brookly, em Nova York); e no Brasil (São Paulo, Salvador e Fortaleza)

* Haverá homenagens também em sinagogas de Paris, na França, com o Grande Rabino René-Samuel Sirat; em Buenos Aires, Argentina, com o Rabino Simon Moguilevsky; em São Paulo, Brasil, com o Rabino Michel Schlesinger; no Rio de Janeiro, com o Rabino Dario Bialer; em Bordeaux, na França, com o Rabino Alain David Nacache.

domingo, 13 de junho de 2010

La seguridad alimentar de El Profesor de Economia (al reves

Sempre vou me surpreender com a capacidade de certos professores de economia de insistir em caminhos que já provaram ser inviáveis em condições normais. Sobretudo em condições anormais como as da Venezuela.
Alguém precisa compor um Manual de Economia Al Revés...
Paulo Roberto de Almeida

Venezuela quer hegemonia no mercado de alimentos
Opinião e Notícia, 13/06/2010

Toneladas de comidas estragam enquanto falta o básico nos supermercados

Em plena crise de escassez de alimentos básicos nos supermercados estatais da Venezuela, Hugo Chavez decretou guerra econômica ao setor privado. A resposta do presidente venezuelano aparece após terem sido descobertos mais de 2.300 conteineres de carga de alimentos importados em decomposição e que nunca foram distribuídos à população. A compra foi feita pelo governo, no ano passado.

O governo admitiu que 30 mil toneladas de alimentos estão apodrecendo no porto Puerto Cabello. De acordo com a oposição, são mais de 75 mil toneladas ou um quinto do que a empresa estatal PDVAL importou em 2009.A carga foi descoberta no mês passado por agentes da inteligência que investigavam roubo de leite em pó.

A PDVAL é uma subsidiária de Petróleo da Venezuela criada em 2008. Ela entrou no mercado quando a Mercal não estava conseguindo dar conta do trabalho. O objetivo da estatal é conseguir a “completa supremacia alimentar” e acabar com o Hugo Chávez chama de “acumulo e contrabando” pelo setor privado.

O ex-presidente da PDVAL Luis Pulido foi preso por corrupção e outros 20 funcionários podem também ser presos. Desde 2003, o governo vevezuelano impôs controle de preços em produtos alimentares. O resultado foi uma enorme inflação. O preço dos alimentos cresceu 21% nos primeiros cinco meses deste ano, divulgou o Banco Central. Alimentos básicos faltam mais em lojas da PDVAL do que em supermercados particulares. Mesmo assim, o Estado está se esforçando para atingir o que chama de hegemonia estatal sobre os alimentos.

A empresa que ainda impede que o presidente instale um comunismo parecido com o de Cuba é a privada “Polar”, a maior empresa de alimentos do país.

Brasil e China: duas economias comparadas - Revista Veja

Por que o Brasil não pode ser como a China?
A resposta salta aos olhos: poupamos pouco, o governo "despoupa" muito, nossa produtividade cresce (se crescer) mediocremente...

O Brasil não pode (ainda) crescer em ritmo chinês
Giuliano Guandalini e Marcelo Sakate
Revista VEJA, 16 de junh de 2010

Na Ásia, o PIB crescer 11% é ótima notícia. No Brasil, 9% é sinal de alerta de superaquecimento da economia

VEJA TAMBÉM
• Quadro: As diferenças entre as economias do Brasil e da China (abaixo)

Os números divulgados na semana passada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) confirmaram que o Brasil experimenta os seus dias de China. O total de mercadorias e serviços produzidos pelo país (o produto interno bruto, PIB) cresceu 9% no primeiro trimestre em relação ao mesmo período de 2009, o maior valor para a série histórica iniciada em 1995. Entre as economias mais relevantes do planeta, apenas a China obteve resultado superior. Lá, ninguém celebrou nem franziu a testa. Aqui, houve comemoração. "Vivemos um momento de ouro no país. É um crescimento exuberante. Acho que o Brasil merecia e precisava disso", festejou o presidente Lula. Mas também preocupação. Falou-se em superaquecimento da economia e em crescimento não sustentável. O que esses termos significam?

Os ponteiros ao lado apontam para os números que explicam as limitações da economia brasileira. Imagine que os indicadores são os painéis de dois carros de competição, um chinês e um brasileiro. Se tomarmos os carros pelas economias dos dois países, assim que elas se aproximarem de um crescimento anual de dois dígitos, um ritmo bastante veloz, os pilotos condutores das políticas econômicas vão bater os olhos nos ponteiros e tirar suas conclusões. Vão bater os olhos primeiro no ponteiro que mede a inflação. O chinês vai ficar tranquilo - 3,1% de inflação não assusta. O brasileiro vai se inquietar ao ver a marca de 5,2% no acumulado até maio deste ano. A reação do chinês será pisar no acelerador. A do brasileiro vai ser oposta, e ele tentará reduzir o número de rotações por minuto do motor, desacelerando, portanto, a atividade econômica.

Quando os dois bólidos metafóricos forem para os boxes, os engenheiros e projetistas terão informações capazes de explicar por que o da China não apresentou problemas e o do Brasil se superaqueceu quando acelerou. Eles olharão os números dos ponteiros que medem a taxa de poupança e a taxa de investimento. A China poupa 54,3% de toda a riqueza nacional que produz e investe outros 44,4% dela. O Brasil poupa menos de 20% do seu PIB e investe também alguma coisa em torno disso. Quanto mais um país poupa, mais ele investe e mais rapidamente pode crescer sem inflação. Segundo cálculo do economista Octavio de Barros, diretor de Pesquisas Macroeconômicas do Bradesco, a taxa de investimento deveria subir a 22% do PIB para que o Brasil pudesse avançar 5% ao ano sem inflação. Conclui ele: "Como o crescimento estimado neste ano para o Brasil é de 7,7%, fica claro que estamos acelerando demais".

Um exemplo ajuda a entender a razão disso no nível da microeconomia. Digamos que uma determinada fábrica decide duplicar sua produção mas não tem poupança para investir em máquinas e tecnologia. Essa fábrica vai ser obrigada a comprar o dobro de matéria-prima, dobrar o número de empregados - ou duplicar as horas trabalhadas, pagando horas extras - e pôr as máquinas para produzir no dobro da velocidade. O resultado disso é mais produção? Sim. Mas ela é sustentável? Não, porque logo os fornecedores vão cobrar mais pela matéria-prima, já que a demanda aumentou; os empregados vão exigir aumento de salário; e, com o ritmo acelerado, as máquinas vão quebrar mais frequentemente e se desgastar precocemente. O exemplo vale para o nível macroeconômico - ou seja, a economia de um país. Os mesmos fenômenos que inviabilizariam a tentativa da fábrica que resolveu duplicar sua produção atuariam para tornar insustentável o esforço de um país que crescesse em ritmo incompatível com suas taxas de poupança e investimento.

Essa constatação leva os olhos dos engenheiros e projetistas para outro ponteiro - o que mede a produtividade. O da China marca 4%. O do Brasil mal saiu do zero - está em 0,3%. O aumento de produtividade significa fazer mais com menos insumos. Sem produtividade, não existe crescimento real - outro nome para crescimento sustentável. A produtividade de um país não aumenta sem poupança e investimento em educação e tecnologia. E por que o Brasil não investe mais? Por diversas razões. A mais ponderável é a "despoupança" do governo. Despoupar significa gastar mais do que se arrecada. Enquanto Brasília despoupar e Pequim poupar, os chineses vão nos ver pelo retrovisor.

Quadro: As diferenças entre as economias do Brasil e da China

Venezuela - erosao completa das liberdades democraticas

Transcrevo, primeiro:

Comunicado de Presos Políticos en Venezuela
Caso Zuloaga es de terrorismo judicial
Sabado, 12 junio 2010

Nosotros, presos políticos del régimen del Gobierno del Presidente Hugo Chávez, recibimos con alarma la orden de privación de libertad contra el Presidente de Globovisión Guillermo Zuloaga y su hijo Guillermo Zuloaga Sisso.
Por más energías que invierta la ex consultora jurídica de Venezolana de Televisión -canal de propaganda del régimen- hoy Fiscal General de la República, Luisa Ortega Díaz, en desviar las motivaciones de esta decisión; quienes padecemos la represión judicial del señor Chávez, sabemos que éste es un proceso político.
Con preocupación observamos, que los gritos de la comunidad
internacional y organismos hemisféricos quedan en el vacío, habida cuenta que el régimen en Venezuela, burla a la OEA, a la ONU, a la SIP, a la Corte Interamericana de Derechos Humanos, en fin, a todas las voces acostumbradas al orden y a la democracia y que no tienen espacio en Venezuela.
Lo que el Presidente quiere es silenciar, por la vía de la fuerza, un medio de comunicación que sirve de ventana para reflejar esta hora menguada y bochornosa que hoy vive el país.
Mientras el Presidente en sus apariciones públicas pide para sus
opositores, sentencias, a las que cándidamente obedecen los Poderes Públicos a su servicio, muchos de sus Bolifuncionarios gozan de medidas cautelares aún cuando están acusados de delitos de corrupción.
En Venezuela, el Presidente ordena y horas más tarde los tribunales
ejecutan. Así de grave es el estado de indefensión que vivimos. Sumado a esto, se obliga a huelguistas de hambre por la fuerza a desistir de su protesta, una cosa nunca vista ni siquiera en la Cuba de Fidel Castro.
Que más podemos decir para sacudir a la comunidad internacional, al país y a los venezolanos y sacarlos de su apatía, de su conformismo, de su cobardía cívica frente al Gobierno del Teniente Coronel Hugo Chávez.
El caso Zuloaga, sirve para alertarlos de lo que puede suceder y va a
suceder si se deja pasar lo que se está diciendo y se está haciendo. No nos acompañen con sus oraciones solamente. Están notificados. Están advertidos. En Venezuela lentamente muere la democracia.
Desde las cárceles en Venezuela a los 12 dias del mes de junio de 2010 , los prisioneros políticos:

Jueza María Lourdes Afiuni
Comisario Iván Simonovis
Comisario Lázaro Forero
Periodista Leocenis García
Periodista Biagio Pilieri
Comisario José Sanchez “Mazuco”
Capitán Otto Guevauer
General Delfin Gómez
Ingeniero Silvio Merida

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Agora, terminada a transcrição, confesso que gostaria de ler a seguinte nota à imprensa:

De: AIG - Imprensa [imprensa@itamaraty.gov.br]
Enviado: domingo, 13 de junho de 2010
Assunto: INFO 158 - Situação política na República Bolivariana da Venezuela

Ministério das Relações Exteriores
Assessoria de Imprensa do Gabinete
Nota à imprensa n° 158
13 de junho de 2010

Situação política na República Bolivariana da Venezuela

O Governo brasileiro acompanha com preocupação os desenvolvimentos políticos que vêm ocorrendo na República Bolivariana da Venezuela, que levaram à prisão de diversos opositores do governo naquela república irmã, em condições que desafiam o conceito comum e corrente de democracia, aliás respaldado em instrumentos interamericanos já consagrados. O Brasil se associa às manifestações de repúdio à violação dos direitos elementares de manifestação política, bem como à constante erosão da normalidade democrática no país irmão.

O Governo brasileiro exorta as autoridades venezuelanas a se manterem dentro da legalidade democrática e a atuarem com moderação no tratamento dos seus opositores, de forma a preservar o quadro político-institucional e a restabelecer a ordem constitucional e democrática no país.

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PS.: A nota acima é, obviamente, completamente fictícia, não tendo, como nas obras de ficção, qualquer compromisso com a realidade. Qualquer relação com personagens, situações e eventos existentes não passa de mera coincidência...

Thiago de Mello - Estatutos do Homem

Muito tempo atrás, Thiago de Mello era considerado um homem de esquerda. De fato, ele era: defensor do socialismo, crítico acirrado do capitalismo, tanto que se exilou no Chile, no golpe militar de 1964, onde foi escrito este belo poema, considerado uma ode à liberdade, justamente o que não havia nos regimes socialistas que ele defendia.
Ele, pelo menos, aprendeu, sendo hoje um homem bem diferente desses (e dessas) e que andam por aí, pretendendo que lutaram pelas liberdades democráticas, antes e depois de 1964, quando na verdade o que defendiam era uma bela ditadura do proletariado, no espírito e no modelo do que havia em Cuba (e que existe ainda hoje por lá, tristemente).
Felizmente, o Brasil mudou, e para melhor, com o retorno da democracia no que era apenas um regime autoritário militar, "biodegradável", como dizia Roberto Campos.
Thiago de Mello também mudou, e para melhor, pois hoje é um defensor da democracia, plena, sem adjetivos, apenas democrática.
Diferente de muita gente que anda por aí, enganando o povo e se auto-enganando.
Thiago de Mello, por isso mesmo, é muito crítico, hoje, daqueles que seriam, no passado, seus aliados. Ele os critica, fortemente, no que faz muito bem.
Minha homenagem a ele, um homem que soube atualizar-se, diferentemente de muitos que andam por aí, tentando enganar o povo...
Paulo Roberto de Almeida

Os Estatutos do Homem
(Ato Institucional Permanente)

Thiago de Mello

Artigo I

Fica decretado que agora vale a verdade.
agora vale a vida,
e de mãos dadas,
marcharemos todos pela vida verdadeira.

Artigo II
Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo.

Artigo III
Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.

Artigo IV
Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu.

Parágrafo único:
O homem, confiará no homem
como um menino confia em outro menino.

Artigo V
Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio
nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa.

Artigo VI
Fica estabelecida, durante dez séculos,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.

Artigo VII
Por decreto irrevogável fica estabelecido
o reinado permanente da justiça e da claridade,
e a alegria será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo.

Artigo VIII
Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água
que dá à planta o milagre da flor.

Artigo IX
Fica permitido que o pão de cada dia
tenha no homem o sinal de seu suor.
Mas que sobretudo tenha
sempre o quente sabor da ternura.

Artigo X
Fica permitido a qualquer pessoa,
qualquer hora da vida,
uso do traje branco.

Artigo XI
Fica decretado, por definição,
que o homem é um animal que ama
e que por isso é belo,
muito mais belo que a estrela da manhã.

Artigo XII
Decreta-se que nada será obrigado
nem proibido,
tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela.

Parágrafo único:
Só uma coisa fica proibida:
amar sem amor.

Artigo XIII
Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou.

Artigo Final.

Fica proibido o uso da palavra liberdade,
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre
o coração do homem.

Santiago do Chile, abril de 1964

Os erros da politica externa - Editorial do Estadao

Não se pode contentar todo mundo, sobretudo um jornalão conservador -- alguns diriam reacionário e neoliberal, talvez burguês também, enfim, várias coisas ao mesmo tempo -- como o velho Estadão, muito exigente, talvez demais para os padrões de nossa atual política externa.
Se, e quando, houver uma resposta oficial às acusações do Estadão, terei prazer em publicar também...
Paulo Roberto de Almeida

Os erros da política externa
Editorial O Estado de São Paulo
Domingo, 13 de junho de 2010

O chanceler Celso Amorim usa o argumento da altaneria para explicar o voto brasileiro contra as sanções aprovadas pelo Conselho de Segurança da ONU ao Irã. “Nossa posição foi independente, não foi quixotesca. Dizer não, em vez de se abster, era a única posição honrosa, honesta e justa. Se tivéssemos votado de outra maneira, teríamos perdido totalmente a credibilidade.” O problema é que dois erros não fazem um acerto. E o erro original foi o governo brasileiro, tomado por absurda soberba, ter julgado que poderia levar o Irã a abandonar pela via negociada o seu programa nuclear, e que a comunidade internacional, penhorada e agradecida, passaria a acreditar nos bons propósitos de Teerã. Resultou daí o acordo de troca de urânio levemente enriquecido, patrocinado pelo Brasil e pela Turquia - que só embarcou na aventura na undécima hora -, que o Itamaraty exaltou como o início de conversações de boa-fé entre as grandes potências mundiais e o Irã, e as ditas grandes potências, calejadas no trato com a república islâmica, consideraram ser apenas mais um expediente para ganhar tempo.

O fato é que o acordo de Teerã reproduziu uma oferta feita pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) um ano antes, e rejeitada pelo Irã - e o presidente Lula achou que essa seria a chave para a afirmação da influência do Brasil no Oriente Médio - melhor dizendo, no mundo muçulmano. Seus assessores deixaram que ele incorresse no erro, ao não alertar que a oferta da AIEA fazia sentido quando foi feita, mas não mais um ano depois, quando o Irã havia praticamente dobrado o seu estoque de urânio enriquecido. Além disso, não há no acordo uma única palavra que sugira que o Irã se submeterá de bom grado às inspeções da AIEA - e sem isso não se desfarão as suspeitas de que o objetivo do programa nuclear é a construção da bomba.

A diplomacia lulista cometeu mais um grave erro de avaliação quando tentou se imiscuir nos assuntos do Oriente Médio. Primeiro, Lula ofereceu seus bons serviços para obter a paz entre palestinos e israelenses - oferta que foi recusada com rascante ironia pelas duas partes. Depois, foi a vez do, digamos, equívoco iraniano.

Esses e outros fiascos se devem a uma interpretação enviesada da evolução e da tendência dos acontecimentos mundiais. Em seu antiamericanismo visceral, os assessores internacionais de Lula acreditam que a superpotência está em declínio, que o mundo experimenta uma fase de multipolaridade e que do diretório multipolar fazem parte os países emergentes, com grande destaque do Brasil. E que essas transformações já estão ocorrendo, e em velocidade vertiginosa. Ocorre que, se é verdade que as linhas gerais desse cenário são corretas, o ritmo das transformações é lento, como quase tudo na história.

O declínio dos Estados Unidos é lento e relativo - o país continua sendo, de longe, a maior potência militar e econômica do mundo - e o multilateralismo ainda cede às demandas e imposições da política de poder, como comprovam os fatos do dia a dia.

Não bastasse isso, o Brasil não tem condições objetivas de agir em regiões que estão fora de sua área de influência direta. Somente a reconhecida capacidade de articulação dos diplomatas do Itamaraty e o prestígio conferido ao presidente Lula por sua inegável popularidade no exterior não são suficientes para fazer do Brasil o interlocutor universal e o peacemaker à outrance que a propaganda oficial exalta.

Veja-se, a propósito, que o governo Lula nunca pretendeu - justamente por saber que não dispõe dos instrumentos para esse tipo de tarefa - resolver, por exemplo, o contencioso entre Argentina e Uruguai, a respeito das papeleras, ou consertar os desarranjos estruturais do Mercosul, ou buscar soluções para a virtual guerra civil colombiana. E tais contenciosos afetam diretamente os interesses brasileiros.

O presidente Lula e o Itamaraty, no entanto, sentiram-se à vontade para querer resolver problemas no outro lado do mundo, e justamente aqueles que, há anos ou décadas, tiram o sono das grandes potências, incapazes de promover a paz nessas regiões. A intromissão no caso palestino-israelense foi apenas patética. Já o envolvimento com o Irã é perigoso porque afeta graves questões de segurança internacional, que o Brasil não está preparado para enfrentar.

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...