Dizem que um dos lemas do Itamaraty é saber renovar-se na continuidade. Bem, em termos de continuidade, ele não precisa mais se preocupar...
Aliás, na Defesa também, como registra a matéria na sequencia.
Paulo Roberto de Almeida
Dilma mantém Marco Aurélio Garcia, assessor de Lula
Tânia Monteiro
O Estado de S.Paulo, 26.11.2010
A presidente eleita Dilma Rousseff decidiu manter o assessor especial internacional do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Marco Aurélio Garcia, no mesmo cargo que ocupa hoje.
A manutenção da Garcia na cozinha do Planalto é um forte sinal da continuidade de política de boa vizinhança do Brasil com os países vizinhos, como a Venezuela, que rendeu muitas críticas à política
externa do presidente Lula. A própria Dilma, embora não tenha explicitado como pretende conduzir a política externa brasileira, já manifestou apoio ao Mercosul e foi celebrada pelo venezuelano Hugo
Chávez. Será uma reedição da dobradinha Garcia-Itamaraty, que o governo considera que deu certo na administração da política externa sob Lula.
Mas, a ajuda de Marco Aurélio à Dilma não se restringe à política externa. Garcia, que foi um dos coordenadores da campanha da petista, ajudará a presidente eleita também na relação com o PT.
=============
Convencida por Lula, Dilma irá se reunir com Jobim
Gerson Camarotti e Geralda Doca
O Estado de S.Paulo, 27.11.2010
Dilma já considera possível mantê-lo no Ministério da Defesa
Depois das recomendações do presidente Lula, a presidente eleita, Dilma Rousseff, já diminuiu as resistências para manter no cargo o ministro da Defesa, Nelson Jobim.
Terá uma conversa definitiva com ele depois do dia 4 de dezembro, quando ele estará de volta ao Brasil de uma viagem a Itália, Sérvia, Polônia e Espanha. Oficialmente, a conversa será para tratar da compra dos caças para a Força Aérea Brasileira.
Lula tem dito a Dilma que Jobim é fundamental para evitar crise numa área delicada.
Na sua avaliação, o presidente vai além: hoje haveria poucos quadros preparados como Nelson Jobim para ter autoridade e conhecimento para comandar as Forças Armadas.
Todos os antecessores de Jobim enfrentaram crise e foram desestabilizados. Dilma analisou outros nomes para a Defesa. Até o do deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), que irá para a Justiça, chegou a ser avaliado.
Mas cresce o consenso de que qualquer nome enfrentaria dificuldades. Para diminuir as resistências de Dilma, uma saída seria manter Jobim por um período determinado, até acabar a reestruturação do Ministério da Defesa. Mas Lula tem dito que o melhor seria mantê-lo por todo o mandato.
Confirmada a permanência de Jobim, devem continuar nos cargos os comandantes das Forças Armadas: brigadeiro Juniti Saito, da Aeronáutica; almirante Moura Neto, da Marinha, e general Enzo Perri, do Exército.
Ontem, a atuação de Jobim no enfrentamento ao crime organizado no Rio foi elogiada no Planalto, o que contou pontos para sua permanência.
Ao saber das resistências ao seu nome, Jobim mandou sinais de que não tinha interesse em permanecer no posto. Isso preocupou Lula, que decidiu priorizar o assunto.
"Até Jobim, a Defesa foi um dos maiores problemas do meu governo", disse Lula para Dilma.
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
sábado, 27 de novembro de 2010
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
Unasur e a clausula democratica: e quando o "golpista" é o proprio dirigente?
A Unasur aprovou uma "clásula democrática", como informa a matéria abaixo. Muito bom, muito bem.
Mas ela se aplica apenas em tentativas ou iniciativas de derrubadas de regimes regularmente eleitos por meios violentos, ou seja, golpes de Estado "clássicos" (se o termo se aplica).
E quando são os próprios dirigentes a minar a democracia em seu país? Nada a fazer?
Pois é isso o que vem fazendo alguns dos líderes políticos presentes na reunião da Unasur: eles vem minando, na verdade destruindo, a democracia por dentro. Sem golpes, apenas na base de decretos, de mudanças constitucionais e legais, algumas delas conseguidas por via plebiscitária, quando o líder cesarista, ou candidato a autocrata, exerce todos os seus poderes efetivos para convencer uma maioria de votantes (que podem não ser suficientemente esclarecidos) de que aquelas mudanças vão melhorar a vida desses votantes.
Contra esses "golpes legais" a cláusula da Unasur não serve para nada. Melhor ficar com a resolução democrática da OEA, a declaração de Lima (2001), muito mais exigente em termos de requerimentos democráticos.
Paulo Roberto de Almeida
GEORGETOWN - Os países da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) aprovaram nesta sexta-feira, 26, um protocolo para responder de forma conjunta, ou inclusive prevenir, tentativas de golpes de Estado na região.
"Já assinamos", disse o presidente da Venezuela, Hugo Chávez em Georgetown, na Guiana, onde a reunião ocorre.
O protocolo estabelece sanções diplomáticas, políticas e comerciais a qualquer tentativa ou golpe de Estado nos países membros. "Quem tentar um golpe de Estado, ou chegar ao poder por meio de um governo de facto, saberá que terá de enfrentar o ostracismo total da região", disse o presidente do Equador, Rafael Correa.
Mas ela se aplica apenas em tentativas ou iniciativas de derrubadas de regimes regularmente eleitos por meios violentos, ou seja, golpes de Estado "clássicos" (se o termo se aplica).
E quando são os próprios dirigentes a minar a democracia em seu país? Nada a fazer?
Pois é isso o que vem fazendo alguns dos líderes políticos presentes na reunião da Unasur: eles vem minando, na verdade destruindo, a democracia por dentro. Sem golpes, apenas na base de decretos, de mudanças constitucionais e legais, algumas delas conseguidas por via plebiscitária, quando o líder cesarista, ou candidato a autocrata, exerce todos os seus poderes efetivos para convencer uma maioria de votantes (que podem não ser suficientemente esclarecidos) de que aquelas mudanças vão melhorar a vida desses votantes.
Contra esses "golpes legais" a cláusula da Unasur não serve para nada. Melhor ficar com a resolução democrática da OEA, a declaração de Lima (2001), muito mais exigente em termos de requerimentos democráticos.
Paulo Roberto de Almeida
Unasul aprova cláusula democrática
Protocolo estabelece sanções diplomáticas e comerciais a tentativa ou golpe de Estado na região
estadão.com.br, 26 de novembro de 2010 | 19h 20
GEORGETOWN - Os países da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) aprovaram nesta sexta-feira, 26, um protocolo para responder de forma conjunta, ou inclusive prevenir, tentativas de golpes de Estado na região.
"Já assinamos", disse o presidente da Venezuela, Hugo Chávez em Georgetown, na Guiana, onde a reunião ocorre.
O protocolo estabelece sanções diplomáticas, políticas e comerciais a qualquer tentativa ou golpe de Estado nos países membros. "Quem tentar um golpe de Estado, ou chegar ao poder por meio de um governo de facto, saberá que terá de enfrentar o ostracismo total da região", disse o presidente do Equador, Rafael Correa.
Inflacao na China, e no Brasil
Revoltas contra os aumentos de preços costumam ser violentos na China, como relata esta pequena matéria da Economist. Mas não adianta culpar os americanos pelo aumento de preços na China, pois como também indica a matéria o aumento do meio circulante na China foi muito mais importante do que nos EUA, para uma economia duas ou três vezes menor.
Seria interessante conhecer de quanto aumento o M2 brasileiro, uma vez que o governo vem aumentando o crédito e os gastos de maneira quase irresponsável. Não se deveria reclamar, em seguida, se o BC aumentar os juros, em virtude de a inflação estar superando não apenas o centro da meta, mas ameaçando ultrapassar a banda fixada (que vai até 6,5%, cabe lembrar).
I wouldn’t go that far. But I share his scepticism about the other excuse Chinese officials like to offer: the Fed. They trash its monetary policy as enthusiastically as the schoolkids trashed their canteen. Its easy money, they argue, has raised global commodity prices and spurred hot-money inflows.
But despite its best efforts, the Fed has only succeeded in raising America’s broad money supply (as measured by seasonally-adjusted M2) to about $8.8 trillion. China’s central bankers, on the other hand, have increased China’s M2 to almost 70 trillion yuan, or $10.5 trillion. As Mr Kroeber points out, China has a greater quantity of money circulating in an economy a third of the size. Who is calling whom easy?
Seria interessante conhecer de quanto aumento o M2 brasileiro, uma vez que o governo vem aumentando o crédito e os gastos de maneira quase irresponsável. Não se deveria reclamar, em seguida, se o BC aumentar os juros, em virtude de a inflação estar superando não apenas o centro da meta, mas ameaçando ultrapassar a banda fixada (que vai até 6,5%, cabe lembrar).
The canteen vigilantes
The Economist, November 26th, 2010, 10:05
by S.C. | HONG KONG
FORGET the bond-market vigilantes. In China, rising inflation has invited swift and terrible retribution from over a thousand rampaging schoolkids, who trashed their canteen in Guizhou province after the school raised the price of school dinners and bottled water. The South China Morning Post has the story (subscription required) and the pictures.
The disagreement among China-watchers about the roots of the country’s inflation is almost as violent. Like the company running the school canteen, many economists blame the rising price of vegetables and fruit. But this is “a lot of guff”, argues Arthur Kroeber of Dragonomics, an economics consultancy. “Food prices,” he says, are “an expression of inflation, not its cause.”I wouldn’t go that far. But I share his scepticism about the other excuse Chinese officials like to offer: the Fed. They trash its monetary policy as enthusiastically as the schoolkids trashed their canteen. Its easy money, they argue, has raised global commodity prices and spurred hot-money inflows.
But despite its best efforts, the Fed has only succeeded in raising America’s broad money supply (as measured by seasonally-adjusted M2) to about $8.8 trillion. China’s central bankers, on the other hand, have increased China’s M2 to almost 70 trillion yuan, or $10.5 trillion. As Mr Kroeber points out, China has a greater quantity of money circulating in an economy a third of the size. Who is calling whom easy?
Tentando entender a politica externa brasileira (e nao conseguindo)...
Li, e peço que leiam, a nota seguinte:
Ministério das Relações Exteriores
Assessoria de Imprensa do Gabinete
Nota à Imprensa nº 682
23 de novembro de 2010
Tensão na Península Coreana
O Governo brasileiro tomou conhecimento, com preocupação, dos incidentes ocorridos na ilha de Yeonpyeong, entre a República da Coréia e a República Popular Democrática da Coréia, dos quais resultaram vítimas fatais sul-coreanas.
Ao solidarizar-se com as famílias das vítimas, o Governo brasileiro conclama ambas as Partes a absterem-se de medidas que possam agravar ainda mais a tensão na Península Coreana e a buscarem uma solução negociada, com participação das Nações Unidas.
Ao que tudo indica, quem bombardeou a ilha sul-coreana foi a artilharia norte-coreana. A nota passa por cima desse fato, como se os obuses tivessem vindo de "alienígenas" ou terceiras partes. A nota ainda pretende que os sul-coreanos abstenham-se de tomar qualquer medida de defesa nacional?
Ainda estou tentando entender...
Ministério das Relações Exteriores
Assessoria de Imprensa do Gabinete
Nota à Imprensa nº 682
23 de novembro de 2010
Tensão na Península Coreana
O Governo brasileiro tomou conhecimento, com preocupação, dos incidentes ocorridos na ilha de Yeonpyeong, entre a República da Coréia e a República Popular Democrática da Coréia, dos quais resultaram vítimas fatais sul-coreanas.
Ao solidarizar-se com as famílias das vítimas, o Governo brasileiro conclama ambas as Partes a absterem-se de medidas que possam agravar ainda mais a tensão na Península Coreana e a buscarem uma solução negociada, com participação das Nações Unidas.
Ao que tudo indica, quem bombardeou a ilha sul-coreana foi a artilharia norte-coreana. A nota passa por cima desse fato, como se os obuses tivessem vindo de "alienígenas" ou terceiras partes. A nota ainda pretende que os sul-coreanos abstenham-se de tomar qualquer medida de defesa nacional?
Ainda estou tentando entender...
OI Movel: passe longe dessa companhia vagabunda
A OI tem um excelente serviço "policial", ou de investigações "criminosas", mas é uma péssima companhia telefônica, ou uma companhia de crédito desqualificada.
Estou no Brasil há três dias, depois de oito meses no exterior. Pois acabo de receber um telefonema em meu celular de Brasília, que pertence a outra companhia telefônica, cobrando-me um débito de mais de 800 reais, relativo a uma compra feita no Rio Grande do Norte em dezembro de 2006.
Alguns dados correspondem: meu nome, data de nascimento e CPF, o que não é difícil de descobrir, pois o CPF vem impresso em cada talão de cheque.
Mas o endereço é de Natal, no RN, cidade e estado onde jamais estive, assim como jamais mantive qualquer tipo de relação contratual com essa companhia vagabunda, a OI, que ousa me telefonar a Brasília para cobrar um débito de origem fraudulenta.
O mais inacreditável é que essa companhia concedeu um cartão de crédito a esse suposto alter ego meu, nordestino, sem jamais exigir uma carteira de identidade, com foto, nem verificou antecedentes, endereço real, nomes de pai e mãe, etc... Asi no más, vão dando crédito a qualquer bandido que aparece (esse com o meu nome, mas não é a primeira vez, devo dizer).
Efetuei uma reclamação no SAC -- que tem um nome algo incômodo para o atendimento a não clientes -- mas se a companhia vagabunda voltar a me incomodar novamente pretendo processá-los por assédio indevido e danos morais.
Em todo caso, fica aqui o alerta: companhias vagabundas não merecem o crédito de clientes...
Paulo Roberto de Almeida
Estou no Brasil há três dias, depois de oito meses no exterior. Pois acabo de receber um telefonema em meu celular de Brasília, que pertence a outra companhia telefônica, cobrando-me um débito de mais de 800 reais, relativo a uma compra feita no Rio Grande do Norte em dezembro de 2006.
Alguns dados correspondem: meu nome, data de nascimento e CPF, o que não é difícil de descobrir, pois o CPF vem impresso em cada talão de cheque.
Mas o endereço é de Natal, no RN, cidade e estado onde jamais estive, assim como jamais mantive qualquer tipo de relação contratual com essa companhia vagabunda, a OI, que ousa me telefonar a Brasília para cobrar um débito de origem fraudulenta.
O mais inacreditável é que essa companhia concedeu um cartão de crédito a esse suposto alter ego meu, nordestino, sem jamais exigir uma carteira de identidade, com foto, nem verificou antecedentes, endereço real, nomes de pai e mãe, etc... Asi no más, vão dando crédito a qualquer bandido que aparece (esse com o meu nome, mas não é a primeira vez, devo dizer).
Efetuei uma reclamação no SAC -- que tem um nome algo incômodo para o atendimento a não clientes -- mas se a companhia vagabunda voltar a me incomodar novamente pretendo processá-los por assédio indevido e danos morais.
Em todo caso, fica aqui o alerta: companhias vagabundas não merecem o crédito de clientes...
Paulo Roberto de Almeida
Populismo cambial e farra dos importados: Brasil tem o Guiness...
O Brasil conseguiu se distinguir num concurso econômico internacional: é o país onde as importações cresceram mais rapidamente, de todos os membros da OMC. Os exportadores -- outros países da OMC -- agradecem e pedem para continuar essa "abertura irresponsável e unilateral".
Nossos parceiros na OMC adoram todas as nossas "práticas econômicas nefandas", todo esse "populismo cambial", que "destrói a indústria nacional", "remete empregos para o exterior", cria um "desequilíbrio insustentável na balança comercial" e "compromete gravemente o saldo de transações correntes" do Balanço do Pagamentos.
Todo esse quadro é "inaceitável", só explicável num "governo antinacional", "submisso aos interesses estrangeiros", e que arrisca "comprometer nossa soberania nacional". Tudo isso é consequência do "neoliberalismo da política econômica", de uma visão "mercadista exagerada", que acredita na "ilusão de que os mercados são capazes de auto-correção", que afasta a "necessária ação do Estado na manutenção de um bom ambiente econômico interno", se necessário por algumas "medidas de proteção justificadas", em face da "deslealdade comercial" de vários parceiros externos.
"Tudo isso é inaceitável", e "não pode continuar assim".
Calma, calma, não penso nada disso. Tudo o que está entre aspas são frases, reais, pronunciadas por vários dos que nos comandam ou que nos representam atualmente, quando essas personagens estavam na oposição ao governo anterior, social-democrata, e quando eles acusavam o governo de ser antinacional e vendido aos interesses estrangeiros.
Pois bem: os atuais dirigentes estão fazendo exatamente o que foi feito anteriormente: uma abertura "irresponsável", um "populismo cambial" e outros atos perversos contra a economia nacional.
Não vejo os protestos que deveriam existir nessas circunstâncias.
Será que estou vivendo em outro país?
Paulo Roberto de Almeida
CÂMBIO DÓLAR-REAL É INSUSTENTÁVEL! IMPORTAÇÕES SOBEM 46%
O Estado de S.Paulo, 25/11/2010
1. Brasil é o país onde as importações mais cresceram desde o início do ano. Volume cresceu 46% entre dezembro de 2009 e setembro deste ano; variação é a maior entre 70 países avaliados pela OMC. A invasão de importados no Brasil bate todos os recordes. Segundo dados oficiais de 70 governos, o País está sofrendo a maior expansão de importações em 2010 entre todos os membros do G-20 e entre todas as economias do mundo que tiveram seus dados compilados pela Organização Mundial do Comércio (OMC).
2. Setembro bateu recorde em volume de importações no País. Em comparação com a média dos meses de 2006, o valor é três vezes maior. Em relação a setembro de 2009, o Brasil também tem a maior taxa de expansão, de 43%. Na China, a alta havia sido de 24%, ante 34% na Rússia. Nenhuma das 70 economias avaliadas teve variação tão grande como a do Brasil entre dezembro de 2009 e o fim do terceiro trimestre de 2010.
3. O Brasil já aparece nas estatísticas americanas como o parceiro comercial com o qual os Estados Unidos têm o maior superávit. Com a Europa, a situação se repete. O superávit que o Brasil tinha com os europeus desde 1999 foi zerado no terceiro trimestre. O resultado contrasta com os números de 2007, quando o País havia obtido saldo positivo de 11,5 bilhões, amplamente favorável às contas nacionais.
4. Em 2010, o Brasil foi ainda a economia que teve a maior expansão de importação de produtos europeus em todo o mundo. O crescimento das vendas europeias ao Brasil foi de 54% de janeiro a agosto. Segundo os dados da OMC, China e Rússia também tiveram alta em suas importações em 2010. Mas em nenhum deles a expansão ocorreu no mesmo ritmo que a do Brasil.
Nossos parceiros na OMC adoram todas as nossas "práticas econômicas nefandas", todo esse "populismo cambial", que "destrói a indústria nacional", "remete empregos para o exterior", cria um "desequilíbrio insustentável na balança comercial" e "compromete gravemente o saldo de transações correntes" do Balanço do Pagamentos.
Todo esse quadro é "inaceitável", só explicável num "governo antinacional", "submisso aos interesses estrangeiros", e que arrisca "comprometer nossa soberania nacional". Tudo isso é consequência do "neoliberalismo da política econômica", de uma visão "mercadista exagerada", que acredita na "ilusão de que os mercados são capazes de auto-correção", que afasta a "necessária ação do Estado na manutenção de um bom ambiente econômico interno", se necessário por algumas "medidas de proteção justificadas", em face da "deslealdade comercial" de vários parceiros externos.
"Tudo isso é inaceitável", e "não pode continuar assim".
Calma, calma, não penso nada disso. Tudo o que está entre aspas são frases, reais, pronunciadas por vários dos que nos comandam ou que nos representam atualmente, quando essas personagens estavam na oposição ao governo anterior, social-democrata, e quando eles acusavam o governo de ser antinacional e vendido aos interesses estrangeiros.
Pois bem: os atuais dirigentes estão fazendo exatamente o que foi feito anteriormente: uma abertura "irresponsável", um "populismo cambial" e outros atos perversos contra a economia nacional.
Não vejo os protestos que deveriam existir nessas circunstâncias.
Será que estou vivendo em outro país?
Paulo Roberto de Almeida
CÂMBIO DÓLAR-REAL É INSUSTENTÁVEL! IMPORTAÇÕES SOBEM 46%
O Estado de S.Paulo, 25/11/2010
1. Brasil é o país onde as importações mais cresceram desde o início do ano. Volume cresceu 46% entre dezembro de 2009 e setembro deste ano; variação é a maior entre 70 países avaliados pela OMC. A invasão de importados no Brasil bate todos os recordes. Segundo dados oficiais de 70 governos, o País está sofrendo a maior expansão de importações em 2010 entre todos os membros do G-20 e entre todas as economias do mundo que tiveram seus dados compilados pela Organização Mundial do Comércio (OMC).
2. Setembro bateu recorde em volume de importações no País. Em comparação com a média dos meses de 2006, o valor é três vezes maior. Em relação a setembro de 2009, o Brasil também tem a maior taxa de expansão, de 43%. Na China, a alta havia sido de 24%, ante 34% na Rússia. Nenhuma das 70 economias avaliadas teve variação tão grande como a do Brasil entre dezembro de 2009 e o fim do terceiro trimestre de 2010.
3. O Brasil já aparece nas estatísticas americanas como o parceiro comercial com o qual os Estados Unidos têm o maior superávit. Com a Europa, a situação se repete. O superávit que o Brasil tinha com os europeus desde 1999 foi zerado no terceiro trimestre. O resultado contrasta com os números de 2007, quando o País havia obtido saldo positivo de 11,5 bilhões, amplamente favorável às contas nacionais.
4. Em 2010, o Brasil foi ainda a economia que teve a maior expansão de importação de produtos europeus em todo o mundo. O crescimento das vendas europeias ao Brasil foi de 54% de janeiro a agosto. Segundo os dados da OMC, China e Rússia também tiveram alta em suas importações em 2010. Mas em nenhum deles a expansão ocorreu no mesmo ritmo que a do Brasil.
Contra a politizacao dos direitos humanos...
Essa mania dos americanos de manipularem resoluções nos órgãos de direitos humanos é de fato insuportável e precisa de uma resposta ousada. Justamente como certas pessoas pensam que é o correto como postura internacional. Não se pode deixar os países politizarem questões à vontade, praticamente sozinhos. Que coisa...
Abstenção pró-Irã
Editorial Folha de S.Paulo, 25/11/2010
Ao abster-se na votação de uma resolução das Nações Unidas contra as violações dos direitos humanos no Irã, aprovada na última sexta-feira, a diplomacia do governo Lula manteve-se coerente com sua política de confrontação com os Estados Unidos.
Se os norte-americanos manobram contra moções que firam seus aliados, então os brasileiros recusam-se a votar reprimendas a adversários da grande potência, mesmo que sentenciem mulheres a morrer apedrejadas ou se envolvam em campanhas genocidas.
O Brasil deve assumir atitude altiva em suas relações com os EUA, mas já são suficientes os contenciosos com aquela nação para que se amplie desnecessariamente as frentes de conflito.
Ao justificar a abstenção na resolução sobre o Irã, o representante brasileiro queixou-se de que os direitos humanos são tratados na ONU de forma "seletiva e politizada". São termos, aliás, que definem bem a atual política do Itamaraty, em contraste com a melhor tradição brasileira.
O governo Lula condenou, por exemplo, "de forma veemente" o golpe hondurenho. Interveio nos assuntos internos, cedendo a embaixada para a volta do presidente banido e, num extremo de intransigência, ainda recusa-se a aceitar o resultado da eleição que, goste ou não, superou o impasse.
Ao mesmo tempo, evitou manifestar-se sobre os conflitos no Irã, onde divergências políticas foram - e continuam sendo - tratadas com prisões, mortes e expurgos.
No ano passado, o ditador do Sudão, Omar al Bashir, já havia dito que tinha o "apoio do presidente Lula". O Brasil se eximira de condenar o governo sudanês por sua responsabilidade na campanha de "limpeza étnica" que chegou ao auge em 2004 e custou a vida de milhares de pessoas.
Incongruências dessa espécie só servem para minar a credibilidade de nossa diplomacia.
A política externa deve ser um instrumento de defesa dos interesses econômicos do país, colocando-se a favor da resolução negociada e pacífica de conflitos e de princípios como direitos humanos e autodeterminação.
No caso do Irã, não havia laços comerciais relevantes a atenuar a abstenção - que, dado o histórico recente, ganhou sabor de um renovado apoio ao governo de Mahmoud Ahmadinejad.
============
Addendum (para destacar um comentário e minha resposta):
Meu comentário em retorno (PRA):
Felipe,
Em primeiro lugar, uma coisa (as sanções coletivas, decididas num órgão multilateral) não se opõe à outra (o diálogo bilateral).
Em segundo lugar, o diálogo bilateral raramente traz soluções ou constitui um meio eficaz de pressão, a menos que seja numa situação de assimetria tão grande que o grande consiga fazer pressões (neste caso ilegítimas) contra o suposto pequeno, para trazer resultados tangíveis para o que se pretende.
No caso da Coréia do Norte, por exemplo, sanções multilaterais não surtem nenhum efeito. Mas a China, se desejar, pode estrangular o país em pouco mais de uma semana. O mesmo não se aplicaria ao Irã, que depende muito pouco de um grande vizinho e menos ainda dos órgãos multilaterais. Mas as sanções multilaterais são indispensáveis se se desejar resolver a questão pelo lado prático, independente de qualquer diálogo bilateral.
Portanto, nesse caso, a "experiência" recomendaria, sanções, primeiro, e bem fortes, depois "diálogo", seja lá o que isso significar.
Trogloditas do cenário internacional (e ainda existem vários) são dificilmente enquadráveis pela voz da razão: apenas sanções fortes (e que infelizmente prejudicam o povo do país) ou um grande porrete unilateral podem trazer resultados.
Mas, os países precisam ter coerência: não se pode deixar de sancionar o Irã e pretender sancionar Honduras, por exemplo.
As simples as that...
Paulo Roberto de Almeida
Abstenção pró-Irã
Editorial Folha de S.Paulo, 25/11/2010
Ao abster-se na votação de uma resolução das Nações Unidas contra as violações dos direitos humanos no Irã, aprovada na última sexta-feira, a diplomacia do governo Lula manteve-se coerente com sua política de confrontação com os Estados Unidos.
Se os norte-americanos manobram contra moções que firam seus aliados, então os brasileiros recusam-se a votar reprimendas a adversários da grande potência, mesmo que sentenciem mulheres a morrer apedrejadas ou se envolvam em campanhas genocidas.
O Brasil deve assumir atitude altiva em suas relações com os EUA, mas já são suficientes os contenciosos com aquela nação para que se amplie desnecessariamente as frentes de conflito.
Ao justificar a abstenção na resolução sobre o Irã, o representante brasileiro queixou-se de que os direitos humanos são tratados na ONU de forma "seletiva e politizada". São termos, aliás, que definem bem a atual política do Itamaraty, em contraste com a melhor tradição brasileira.
O governo Lula condenou, por exemplo, "de forma veemente" o golpe hondurenho. Interveio nos assuntos internos, cedendo a embaixada para a volta do presidente banido e, num extremo de intransigência, ainda recusa-se a aceitar o resultado da eleição que, goste ou não, superou o impasse.
Ao mesmo tempo, evitou manifestar-se sobre os conflitos no Irã, onde divergências políticas foram - e continuam sendo - tratadas com prisões, mortes e expurgos.
No ano passado, o ditador do Sudão, Omar al Bashir, já havia dito que tinha o "apoio do presidente Lula". O Brasil se eximira de condenar o governo sudanês por sua responsabilidade na campanha de "limpeza étnica" que chegou ao auge em 2004 e custou a vida de milhares de pessoas.
Incongruências dessa espécie só servem para minar a credibilidade de nossa diplomacia.
A política externa deve ser um instrumento de defesa dos interesses econômicos do país, colocando-se a favor da resolução negociada e pacífica de conflitos e de princípios como direitos humanos e autodeterminação.
No caso do Irã, não havia laços comerciais relevantes a atenuar a abstenção - que, dado o histórico recente, ganhou sabor de um renovado apoio ao governo de Mahmoud Ahmadinejad.
============
Addendum (para destacar um comentário e minha resposta):
- felipe disse...
- Olá PRA, Afinal, o que você acha que tem mais efeito prático ? As sanções impostas pela ONU, ou o meio do diálogo, que o Brasil tem colocado em pauta atualmente ? Gostaria de ouvir um pouco "a voz da experiência". Obrigado, Felipe França
Meu comentário em retorno (PRA):
Felipe,
Em primeiro lugar, uma coisa (as sanções coletivas, decididas num órgão multilateral) não se opõe à outra (o diálogo bilateral).
Em segundo lugar, o diálogo bilateral raramente traz soluções ou constitui um meio eficaz de pressão, a menos que seja numa situação de assimetria tão grande que o grande consiga fazer pressões (neste caso ilegítimas) contra o suposto pequeno, para trazer resultados tangíveis para o que se pretende.
No caso da Coréia do Norte, por exemplo, sanções multilaterais não surtem nenhum efeito. Mas a China, se desejar, pode estrangular o país em pouco mais de uma semana. O mesmo não se aplicaria ao Irã, que depende muito pouco de um grande vizinho e menos ainda dos órgãos multilaterais. Mas as sanções multilaterais são indispensáveis se se desejar resolver a questão pelo lado prático, independente de qualquer diálogo bilateral.
Portanto, nesse caso, a "experiência" recomendaria, sanções, primeiro, e bem fortes, depois "diálogo", seja lá o que isso significar.
Trogloditas do cenário internacional (e ainda existem vários) são dificilmente enquadráveis pela voz da razão: apenas sanções fortes (e que infelizmente prejudicam o povo do país) ou um grande porrete unilateral podem trazer resultados.
Mas, os países precisam ter coerência: não se pode deixar de sancionar o Irã e pretender sancionar Honduras, por exemplo.
As simples as that...
Paulo Roberto de Almeida
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