domingo, 5 de fevereiro de 2012

Las Malvinas son... British (for a while..., or forever...)


O biombo do Atlântico Sul
Mac Margolis
O Estado de S. Paulo, 4/02/2012

A Ilha de Iwo Jima era a antessala do Japão continental na 2ª Guerra. Socotra e Masirah são ilhas estratégicas para defender o Golfo Pérsico, enquanto as Seychelles, Maldivas e Maurício são bases cruciais no plano de expansão da pax chinesa. E as Ilhas Malvinas? Para que servem?

Com 3.300 mil habitantes em meio ao Atlântico Sul, as Ilhas Malvinas não constam dos manuais de geopolítica. A constelação de ilhotas já foi entreposto para caçadores de baleias e focas. Hoje é um império de cordeiros e kelp, as algas gigantes que os nativos colhem para alimentar os rebanhos. Sim, há lulas e pesca e fartos relatos de vastas reservas de petróleo. Mas até agora nenhum barril de óleo foi extraído das suas águas geladas. Seu PIB não passa de US$ 120 milhões. Mas não há metro quadrado mais explosivo no Hemisfério Ocidental.

Nas próximas semanas, o HMS Dauntless, poderoso destróier britânico, zarpa para o Atlântico Sul. O príncipe William, piloto da Força Aérea Real e segundo na linha sucessora para a coroa britânica, já está em Port Stanley, onde ficará para um tour de seis semanas. Londres garante que a viagem não é uma provocação, mas se engana quem acha que a querela entre Grã-Bretanha e Argentina, uma disputa que matou quase mil pessoas, em 1982, e deflagrou uma crise diplomática hemisférica, já tenha terminado. As Malvinas - ou Falkland, para os britânicos - despertam paixões que a razão não explica. Hoje são o maior biombo do mundo.

Nascidos e criados britânicos, mas com uma pitada de gauchismo, e governados pela coroa britânica desde 1830, os kelpers - os habitantes do arquipélago - são herdeiros de uma espólio mal resolvido. Durante quase dois séculos, as ilhas foram território ecumênico, com franceses, uruguaios, escoceses, ingleses e argentinos trabalhando lado a lado e em paz. Mas os governantes argentinos jamais engoliram a ideia da Union Jack - a bandeira britânica - ondeando nas mesmas latitudes que a bandeira azul celeste.

A briga já foi mais civilizada. Nos anos 90, Guido di Tella, o saudoso chanceler argentino, tentou seduzir os kelpers com cartões de natal e presentes a cada família. Agora, às vésperas do 30º aniversário da guerra, o governo de Cristina Hirchner desenterra a causa de forma menos belicosa que os militares da ditadura de 1976 a 1983, mas não por isso menos agressiva. Turbinada pela reeleição e "recuperada" de um câncer que não existia, Cristina empolgou ao chamar a Grã-Bretanha de "poder colonialista decadente". Mais importante, montou uma bem-sucedia ofensiva diplomática para levar a questão da posse das ilhas aos foros internacionais.

Recentemente, todos os países latino-americanos reiteraram seu apoio ao objetivo argentina. E para a revolta de Londres, até os EUA tiraram o corpo fora, afirmando que não tomarão “posição nenhuma a respeito da soberania” das ilhas. 

Ninguém em sã consciência imagina uma reprise do sangrento e custoso conflito de três décadas atrás. Mas para ambas as partes, a causa pode valer mais do que a vitória. Para a Grã-Bratenha, à mercê da crise econômica européia e ameaçada pela rebelião escocesa, o resgate dos kelpers no outro lado do oceano ainda é ponto de orgulho nacional. (Ao menos a julgar pelos aplausos nos cinemas britânicos quando Meryl Streep, encarnando Margaret Thatcher no flime A dama  de ferro, manda afundar o navio argentino Belgrano.)

Para a Argentina, nada como reviver um causa perdida para abafar as agruras em casa. Sua economia também esta em desaceleração, a reboque dos mercados globais. Sua inflação é a segunda mais alta do continente. E pior é o esforço do governo para escondê-la, maquiando dados e intimidando jornalistas e economistas independentes que ousam divergir dos números oficiais.

O Fundo Monetário Internacional (FMI), que não toma partido nos oceanos, acaba de intimidar o governo argentino a "melhorar" a qualidade de seus dados. Se Buenos Aires reparou, é outra história. Atrás do biombo da guerra, mesmo uma guerra de palavras, todo o resto é chiado distante. Haja kelp.

Primeira Cupula Mundial Contra o Cancer: iniciativa de Chavez

Chavez acredita que uma cúpula dos chefes de Estado ou de governo que já tiveram câncer pode ajudar na luta contra essa terrível doença. Seria mais uma menos uma novena política, em que terços e cantos religiosos são substituídos por discursos e slogans contra o imperialismo, que, ao que parece (Chávez o afirmou), resolveu espalhar virus do câncer entre os chefes de Estado progressistas da região, só os progressistas, pois os reacionários e aliados de Washington estão livres, lampeiros e saudáveis.
Quem sabe, então, Chávez não deixa, por um momento, a retórica anti-imperialista e antiamericana e se alia a seu cordial inimigo, só para obter a cura? Depois de curado, ele poderia voltar a xingar o imperialismo...
Paulo Roberto de Almeida 



Chávez visitará Lula e Dilma no próximo sábado
Folha de São Paulo Online - 4/02/2012

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, anunciou que no próximo sábado se reunirá com sua colega brasileira, Dilma Rousseff, e com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para discutir, entre outros temas, a denominada cúpula dos líderes que venceram o câncer.

Assim o afirmou Chávez durante a instalação da 11ª Cúpula de chefes de Estado da Aliança Bolivariana para os Povos da América (Alba) em Caracas.

Chávez deu "graças a Deus" porque finalmente a presidente argentina, Cristina Fernández de Kirchner, não sofre de câncer após uma cirurgia de tireoide.

O presidente venezuelano tinha previsto visitar Lula em São Paulo no dia 11 de dezembro do ano passado, mas a reunião foi cancelada após Chávez decidir ficar em Caracas por causa das chuvas e cancelasse também a viagem prévia à Argentina para assistir à posse de Cristina.

O líder aproveitou para reiterar que a cada dia se sente "melhor" e voltou a brincar de versões de imprensa sobre uma suposta deterioração de seu estado de saúde.

Republica Putinesca da Russia: sort of, not really - Tom Friedman (NYT)


OP-ED COLUMNIST

Russia: Sort of, but Not Really

Denis Sinyakov/Reuters
Protesters in Moscow have gotten more brazen. This banner, which says “Putin, Go Away,” faces the Kremlin.
Moscow

Related

Josh Haner/The New York Times
Thomas L. Friedman

Readers’ Comments

AS a journalist, the best part of covering the recent wave of protests and uprisings against autocrats is seeing stuff you never imagined you’d see — like, in Moscow last week, when some opponents of Vladimir Putin’s decision to become president again, for possibly 12 more years, hung a huge yellow banner on a rooftop facing the Kremlin with Putin’s face covered by a big X, next to the words “Putin Go Away” in Russian.
The sheer brazenness of such protests and the anger at Prime Minister Putin among the urban middle classes here for treating them like idiots by just announcing that he and President Dmitri Mevedev were going to switch jobs were unthinkable a year ago. The fact that the youths who put up the banner were apparently not jailed also bespeaks how much Putin understands that he is on very thin ice and can’t afford to create any “martyrs” that would enrage the antigovernment protesters, who gathered again in Moscow on Saturday.
But what will Putin do next? Will he really fulfill his promise to let new parties emerge or just wait out his opposition, which is divided and still lacks a real national leader? Putin’s Russia is at a crossroads. It has become a “sort-of-but-not-really-country.” Russia today is sort of a democracy, but not really. It’s sort of a free market, but not really. It’s sort of got the rule of law to protect businesses, but not really. It’s sort of a European country, but not really. It has sort of a free press, but not really. Its cold war with America is sort of over, but not really. It’s sort of trying to become something more than a petro-state, but not really.
Putin himself is largely responsible for both the yin and the yang. When he became president in 2000, Russia was not sort of in trouble. It was really in trouble — and spiraling downward. Using an iron fist, Putin restored order and solidified the state, but it was cemented not by real political and economic reforms but rather by a massive increase in oil prices and revenues. Nevertheless, many Russians were, and still are, grateful.
Along the way, Putin spawned a new wealthy corrupt clique around him, but he also ensured that enough of Russia’s oil and mineral bounty trickled down to the major cities, creating a small urban middle class that is now demanding a greater say in its future. But Putin is now stalled. He’s brought Russia back from the brink, but he’s been unable to make the political, economic and educational changes needed to make Russia a modern European state.
Russia has that potential. It is poised to go somewhere. But will Putin lead? The Times’s Moscow bureau chief, Ellen Barry, and I had a talk Thursday at the Russian White House with Putin’s spokesman, Dmitri Peskov. I left uncertain.
All these urban protests, said Peskov, are a sign that economic growth has moved ahead of political reform, and that can be fixed: “Ten years ago, we didn’t have any middle class. They were thinking about how to buy a car, how to buy a flat, how to open bank accounts, how to pay for their children to go to a private school, and so on and so forth. Now they have got it, and the interesting part of the story is that they want to be involved much more in political life.”
O.K., sounds reasonable. But what about Putin’s suggestion that the protests were part of a U.S. plot to weaken him and Russia. Does Peskov really believe that?
“I don’t believe that. I know it,” said Peskov. Money to destabilize Russia has been coming in “from Washington officially and non-officially ... to support different organizations ... to provoke the situation. We are not saying it just to say it. We are saying it because we know. ... We knew two or three years in advance that the next day after parliamentary elections [last December] ... we will have people saying these elections are not legitimate.”
This is either delusional or really cynical. And then there’s foreign policy. Putin was very helpful at the United Nations in not blocking the no-fly zone over Libya, but he feels burned by it — that we went from protecting civilians to toppling his ally and arms customer, Muammar el-Qaddafi. It’s true. But what an ally! What a thing to regret! And, now, the more Putin throws his support behind the murderous dictatorship of Bashar al-Assad in Syria, the more he looks like a person buying a round-trip ticket on the Titanic —after it has already hit the iceberg. Assad is a dead man walking. Even if all you care about are arms sales, wouldn’t Russia want to align itself with the emerging forces in Syria?
“There is a strong domestic dimension to Russian policy toward Syria,” said Vladimir Frolov, a Russian foreign policy expert. “If we allow the U.N. and the U.S. to put pressure on a regime — that is somewhat like ours — to cede power to the opposition, what kind of precedent could that create?”
This approach to the world does not bode well for reform at home, added Frolov. “Putin was built for one-way conversations,” he said. He has overseen a “a very personalized, paternalistic system based on arbitrariness.”
Real reform will require a huge re-set on Putin’s part. Could it happen? Does he get it? On the evidence available now, I’d say: sort of, but not really.

Carta Internacional - revista da ABRI: chamada para artigos


Chamada de artigos – Revista Carta Internacional – ABRI

A Associação Brasileira de Relações Internacionais – ABRI informa que a Revista Carta Internacional, fundada pela Universidade de São Paulo, passa a ser a partir de 2012 uma publicação da associação, A Revista é semestral e aceita contribuições na forma de artigos científicos sobre temas da agenda internacional contemporânea. As normas de colaboração são as seguintes:
DIRETRIZES PARA AUTORES
1. Os artigos devem ser inéditos e podem ser escritos em português, espanhol ou inglês.
2. Os artigos devem conter em torno de 50 mil caracteres (incluindo espaços e notas de rodapé).
3. As notas de rodapé restringem-se a esclarecimentos adicionais ao texto;
4. Observar o sistema Chicago (autor, data), de acordo com os exemplos abaixo:
Para Artigos:
CERVO, Amado L. (2003) Política exterior e relações internacionais do Brasil: enfoque paradigmático. Revista Brasileira de Política Internacional, Vol. 46, Nº 1, 2003, p. 5-25.
Para Livros:
SARAIVA, José Flávio S. , Ed. (2003) Foreign Policy and Political Regime. Brasília: IBRI, 364 p.
Para documentos eletrônicos:
PROCÓPIO, Argemiro (2007). A hidropolítica e a internacionalização amazônica, publicado em Mundorama.net [http://mundorama.net/2007/09/13/a-hidropolitica-e-a-internacionalizacao-amazonica/]. Disponibilidade: 18/09/2007.
5. Os artigos devem vir acompanhados de: título em português e inglês / resumo e abstract / palavras-chave e key words. No caso de artigo em língua estrangeira, na língua original e em português.
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Relatos da Imigracao Alema no Brasil, sec. XIX

Cartas e relatos do início da imigração alemã ao Brasil


É difícil imaginar como era a vida dos imigrantes que desbravaram as matas virgens da região sul do Brasil a partir de 1824. Nesse sentido, para mostrar esses momentos, o jornalista e escritor Felipe Kuhn Braun traz, em seu quarto livro, Cartas e Relatos de Imigrantes Alemães, publicação do autor, importantes testemunhos de época na forma primária e direta de cartas e relatos escritos pelos imigrantes alemães no decorrer do século XIX.

Infelizmente, a maioria das cartas que chegaram aos imigrantes não foram preservadas, ao contrário daquelas que os imigrantes enviaram para a Alemanha. Depois de dez anos de pesquisas, Braun compilou essas cartas para publicação, a fim de preservá-las para as futuras gerações. Por acreditar que só os próprios imigrantes conseguiriam relatar suas vivências com tanta exatidão, descrevendo as dificuldades e o modo de vida daquela época, Felipe decidiu-se pela publicação sistemática dessas cartas, como forma de expressar e comunicar as vivências dos imigrantes.

As primeiras cartas são dos anos iniciais do processo de colonização alemã no sul do país. São cartas trocadas pelas famílias Tatsch, Kayser, Friedrich, Gerhard, Elicker e Franzen. Nas cartas, eles escrevem sobre a saída da Alemanha, a dor e a saudade da despedida, sobre a longa e cansativa viagem de três meses, bem como sobre os falecimentos em alto mar. Também sobre a chegada no Rio de Janeiro e posteriormente no Rio Grande do Sul, sobre a hospedagem na casa da Feitoria em São Leopoldo, sobre o começo dos trabalhos na mata virgem e as dificuldades com os índios. São relatos carregados de palavras e descrições sobre sentimentos como fé e perseverança.



Na segunda parte do livro, estão publicadas cartas do segundo período da imigração, que se iniciou após o término da Revolução Farroupilha. São as cartas dos imigrantes Claeser, Ritter, Schuh e Brill. Os relatos, as narrativas e as memórias são dos imigrantes Mathias Schmitz, Friederika Müller Nienow, Maria Margaretha Schäffer, Heinrich Fauth e Heinrich Georg Bercht. 


Começo na mata virgem. Fotografia  tirada por volta de 1880
Braun dá voz a personagens que ficaram esquecidos, inclusive nos estudos sobre colonização alemã, já que, da maioria desses imigrantes, não há nem fotografias antigas e nem uma grande variedade de documentos.


Georg Heinrich Ritter - cervejeiro da Linha Nova

As cartas complementam os estudos atuais sobre imigração, já que trazem pontos de vista daqueles que foram partícipes de todo esse processo. Juntamente com os escritos dos imigrantes, Braun publica fotografias antigas e desenhos da localidade berço da imigração alemã no Brasil, São Leopoldo, bem como desenhos da despedida dos imigrantes na Alemanha, da viagem para o Brasil e do início da colonização nas Picadas do interior.


Interior dos navios que trouxeram os imigrantes
A seguir, pequenas amostras de relatos escritos pelos imigrantes e publicados por Braun:

"...não deixarei de amar-vos; mesmo quando a morte fechar os meus olhos e meu corpo jazer na sepultura, minha alma não deixará de ser a alma do teu pai..."  
                                                                                                                           Peter Tatsch, em 18 de novembro de 1832



Professor imigrante de sobrenome Dewes e esposa - Picada Cará - Feliz

"..nestes seis anos desde que me despedi de ti, nenhum dia se passou sem que me lembrasse de ti. Então, adeus a ti com tua estimada esposa e filhos; Cristo, o Senhor abençoe e proteja a vós, acompanhe-vos em todos os passos até a vida eterna! Eu sou, até o túmulo, teu irmão leal, de todo o coração".
                                                                                                                                                Johann F. Friedrich, em 1832


Casa do imigrante na Feitoria, onde se instalaram provisoriamente os primeiros imigrantes
"Em vida e na morte, sim, até no túmulo, sou aquele que nunca vos tem esquecido, vosso fiel cunhado. Pelas lágrimas, tenho que terminar e, por isso, eu vos saúdo a todos milhares de vezes. Lembrem-se de mim em vossos corações e representem-me em meu lugar na igreja. Adeus, em constante paz, nunca um mal vos atinja. Eu sou vosso cunhado que vos quer de todo o coração"
                                                                                                                           Mathias Franzen em 27 de agosto de 1832.


Carl Trein - empresário do Vale do Caí, RS

"Meu bisavô ficou morando na sua terra e morreu como um homem relativamente novo, foi enterrado na sua propriedade onde na época ficava o cemitério para os evangélicos. Hoje flores ainda florescem nas sepulturas dos que lá repousam".

                                                                                                                                                                        Juliana Juchum.
Para contatar o autor ou para adquirir o livro, mande um e-mail para  felipe.braun@terra.com.br ou felipe.braun@hotmail.com.
Visite também o site 
www.imigracaoalema.com .

Fonte: o Autor, por e-mail

Crer e Perseverar - Fernando Henrique Cardoso (Estadao)

Um artigo com o qual concordo apenas em parte, mas que me parece tocar em questões reais do momento político brasileiro, escrito por alguém que sabe escrever -- o que já é uma enorme vantagem no Brasil de hoje, sobretudo quando os ignaros assaltam os meios de comunicação com sua gramática estropiada -- e que teve responsabilidades políticas ainda maiores do que os atuais detentores do poder, já que conduziu o único plano de estabilização que deu certo nos últimos sessenta anos no Brasil (na verdade, desde a introdução do cruzeiro, em 1942).
Os patrulheiros a soldo, os mercenários do poder, os AAs (adesistas anônimos) nem precisam responder com seu cortejo de injúrias e réplicas desencontradas: geralmente eles não têm nada, absolutamente nada de substantivo a acrescentar, e se refugiam nas mentiras habituais, nos ataques gratuitos, nas bobagens e idiotices costumeiras. Não vou postar, a não ser que seja algo legítimo para o debate político.
Por outro lado, já posto aqui suficientes materiais debiloides dos companheiros, lixo inútil e material contaminado pela lógica capenga que costuma caracterizar os seus sites e veículos de comunicação, apenas para expor como as bobagens mais idiotas têm curso no Brasil da ignorância consumada.
Não tenho nenhum problema em acusar certas pessoas de idiotas, embora alguns achem esta estratégia errada: não tenho culpa se idiotas existem, e se eles conseguiram até chegar ao poder. Assim é o mundo.
Paulo Roberto de Almeida 

Crer e perseverar

Fernando Henrique Cardoso, 
O Estado de S. Paulo, 05 de fevereiro de 2012 | 7h 01
Nas duas últimas semanas apareceram alguns artigos na mídia que ressaltam o silêncio das oposições como um risco para a democracia. É inegável que está havendo uma "despolitização" da sociedade não só no Brasil, mas em geral. O "triunfo do mercado" levou às cordas as colorações políticas. Parece que tudo se deve medir pelo crescimento do PIB. Nos países bem-afortunados, ainda que cheios de "malfeitos", não há voz que ressoe contra os governos. Nos que caem em desgraça sem terem feito a "lição de casa" - sem terem gerado um "superávit primário" -, aí sim, os governos em exercício pagam o preço. Caem porque são vistos como incapazes de assegurar o bom pagamento aos mercados. Não importa ser de coloração mais progressista ou mais conservadora. Caem sem que tenha havido um debate político-ideológico que mostre suas fraquezas eventuais, mas porque o rancor das massas gerado pelo mal-estar econômico-financeiro se abate sobre os líderes do momento.
O Brasil esteve até agora ao abrigo da tempestade que desabou sobre os mercados dos Estados Unidos e da Europa. Por mais que nossos governos errem, os decibéis das vozes oposicionistas são insuficientes para comover as multidões. Pior ainda quando essas vozes estão roucas ou preferem sussurrar. Como entramos em céu de brigadeiro a partir de 2004, tanto pela virtude do que fizemos na década anterior como pelos acertos posteriores e graças à ajuda dos chineses, fazer oposição tornou-se um ato de contrição.
Mas que importa? Também era assim no período do milagre dos anos 1970, durante o regime militar. A oposição nada podia esperar, a não ser censura, cadeia ou tortura. Não obstante, não calou. Colheu derrotas eleitorais e políticas, resistiu até que, noutra conjuntura, venceu. Hoje a situação é infinitamente mais fácil e confortável. Só que falta, o que antes sobrava, a chama de um ideal: queríamos reabrir o sistema político. Hoje o que queremos? Ganhar as eleições? Mas para quê?
Eis o enigma. Não faltam candidatos. Ainda recentemente, em conversa analítica que fiz com uma jornalista da The Economist, ressaltei que há vários, e não só no PSDB. Neste o mais conhecido e denso, José Serra, amadurecido por êxitos e derrotas, não conseguiu deixar clara em 2010 sua mensagem, embora tenha obtido 44% dos votos. O isolamento em que sua campanha ficou, dadas as dissonâncias internas do PSDB e as dificuldades para fazer alianças políticas, impediu a vitória. Se o candidato tivesse expressado com mais força as suas convicções, mesmo desconsiderando o que as pesquisas de opinião indicavam ser a demanda do eleitorado, poderia ter sensibilizado as massas.
Quem sabe por este caminho se decifre o enigma: falar à sociedade, com força e veemência, tudo o que se sente, inclusive a indignação pela corrupção, pela incompetência administrativa e, sobretudo, pelo escândalo de uma sociedade que se faz mais rica com um governo que distribui muito pouco, faz propaganda do que não concretizou inteiramente e coloca no altar os "vencedores", mesmo quando estes ganham à custa do dinheiro do povo, que paga impostos cada vez mais regressivos.
Outro, mais óbvio provável candidato, graças à posição eleitoral dominante em seu Estado e ao seu estilo de fazer política, Aécio Neves, está em fase de teste: transmitirá uma mensagem que salte os muros do Congresso e chegue às ruas? Encarnará a mudança com a energia necessária e o desprendimento que é o motor da ousadia, arriscando-se a dizer verdades inconvenientes, e aparentemente custosas eleitoralmente, para que o povo sinta que existe "outro lado" e confie nele para abrir perspectivas melhores?
Refiro-me aos dois por serem os mais cogitados no momento. Não são os nomes que importam agora, mas a disposição de correr riscos e de sair da armadilha da briga partidário-eleitoral para entrar na grande cena da opinião pública e - façamos a distinção - da opinião popular. É evidente que o governo, qualquer governo, leva vantagens, principalmente desde que o lulopetismo instalou a regra de que tudo vale para manter o poder: clientelismo, propaganda abusiva, uso continuado da máquina pública, etc. Entretanto, também no regime militar o governo levava vantagens. Mas nós lutávamos não para ganhar no dia seguinte, mas para criar um horizonte de alternativas.
A elucidação do enigma requer perseverança e coragem. Eu ganhei duas eleições no primeiro turno contra Lula porque tinha uma mensagem: a da estabilização da economia com o Real e o início da distribuição de rendas. Mesmo sem propagandear, a pobreza deixou de atingir mais de 15 milhões de pessoas com a estabilização dos preços e a política de aumentos reais do salário mínimo, que começou em 1994. Não foi fácil ganhar os apoios para pôr em ação o Plano Real, precisei brigar muito. Lula ganhou porque pregou, no início no deserto, ser ele o portador da mensagem que levaria a um mundo melhor. Perseverou, rodou o Brasil, abandonou a tribuna parlamentar e, no começo, desprezou a mídia. Mostrou-se audacioso, desprendido e generoso. Se sinceramente ou não, é outra questão: a Carta aos Brasileiros está à disposição dos historiadores para que julguem. Mas o povo acreditou.
É esta a verdadeira questão da oposição, e deveria ser a preocupação dos pré-candidatos: mergulhar nos problemas do povo, falar de modo simples o que sentem e o que se pode fazer. Sem meias palavras e sem insultos. Sem falácia, com muita convicção. Politizar a cena pública para assegurar a democracia. Dizer quem é bom, ou melhor, o que é bom e o que é mau. Mas dizer nas universidades, nas organizações populares, nas associações profissionais, nas pequenas e médias cidades. Preparar nelas a mensagem - o discurso - para mais tarde falar com credibilidade na grande cena nacional.
Quem o fizer terá chances de ser o candidato da oposição e, eventualmente, ganhar as eleições. Isso independe de manobras de cúpula, simpatias e interesses menores.
Não se pense que nossa realidade será sempre o que hoje parece ser: uma sociedade conformada, legendas eleitorais disputando mordomias no dá-cá-toma-lá entre governo e congressistas e a voz do governo a tonitruar como um trovão divino, a que todos se curvam prestimosos. É só mudar a conjuntura e a cena muda, se a oposição apresentar alternativas. Mesmo que não mude, nada deve alterar nossos valores e convicções. Continuemos com eles, pois "água mole em pedra dura tanto bate até que fura". 
SOCIÓLOGO, FOI PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Natureza Viva e livros antigos -- um autoretrato...

Com exceção dos cigarros, creio que sou eu:

Jonathan Wolstenholme,
Natureza Morta com Livros Antigos
Hoje, trocamos a pluma pelo computador, mas ainda escrevo bastante nos meus Moleskines, o médio e o pequeno. Aliás, tenho de transcrever minhas últimas produções manuscritas.
Paulo Roberto de Almeida
Paris, 5 de fevereiro de 2012

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Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...