sexta-feira, 3 de maio de 2013

Improvisacao e enganacao companheira chega ao nucleo da politica economica - Editorial Estadao

Desde a transição de Palocci a Mantega -- e aqui junto com a ministra, depois presidentA -- verifica-se uma nítida deterioração da qualidade da política econômica.
Na verdade, devemos falar é das consequências econômicas de Mister Lula, pois o que se fez depois foi apenas acrescentar um pouco mais de incompetência ao que era pura improvisação no segundo mandato do falastrão.
As consequências, como diria um filósofo, sempre vem depois...
Paulo Roberto de Almeida


Déficit de competência

02 de maio de 2013 | 2h 05
Editorial O Estado de S.Paulo
As estropiadas contas do governo continuam ladeira abaixo, afetadas severamente pela crise cada vez mais grave - não a internacional, mas a crise de seriedade e competência da administração federal brasileira. Os resultados de março e o acumulado no ano foram os piores para o mês e para o trimestre desde 2010.
Ao divulgar os últimos números do setor público consolidado, o chefe do Departamento Econômico do Banco Central (BC), Túlio Maciel, recorreu a uma explicação generosa. Segundo ele, a arrecadação mais fraca reflete principalmente dois fatores. O primeiro é a redução de impostos e contribuições concedida a setores selecionados. O segundo é a defasagem entre a recuperação da atividade e a melhora da receita.
A referência à desoneração de tributos poderia tornar o cenário menos feio, se a renúncia fiscal, superior a R$ 40 bilhões em 2012, tivesse produzido algum benefício significativo. Mas o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu só 0,9% e o investimento produtivo encolheu 4% no ano passado.
De janeiro a março, o superávit primário, a economia destinada ao pagamento de juros, ficou em 2,72% do PIB. Um ano antes, havia chegado a 4,45%. O acumulado em 12 meses diminuiu de 2,46% em janeiro para 2,16% em fevereiro e 1,99% no mês seguinte. A meta oficial, de 3,1%, já está praticamente descartada, porque o governo deverá descontar, segundo anunciou, as desonerações e os investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Há um vínculo entre a piora das contas públicas e o baixo ritmo de crescimento da economia, mas a relação é muito diferente daquela apontada por funcionários do governo. São fenômenos irmãos, porque um e outro resultam de erros da política econômica.
A presidente Dilma Rousseff aponta o corte dos juros como grande realização. No primeiro trimestre de 2011, antes da redução, o governo central gastou com juros o equivalente a 4,25% do PIB. De janeiro a março do ano passado, 4,86%. No primeiro trimestre deste ano, 4,24%. Onde está o ganho?
Quando se adicionam os juros ao resultado primário, chega-se ao resultado global. Um buraco de 2,79% do PIB foi o saldo geral do setor público no primeiro trimestre deste ano, maior que o de um ano antes (1,26%) e que o de janeiro a março de 2011 (2,05%).
Juros altos, como se comprovou, estão longe de ser, ao contrário das alegações do governo, o grande problema das finanças públicas brasileiras. Os defensores da tese governista menosprezam ou desconhecem alguns fatos simples e importantes.
A política fiscal tem sido expansionista, como lembrou mais uma vez o economista Túlio Maciel, do Banco Central. Além disso, o governo tem continuado a endividar-se. A dívida bruta cresceu 12,5% em 12 meses.
Números do governo central, divulgados no dia anterior, haviam mais uma vez comprovado a expansão dos gastos. De janeiro a março, a receita total foi 3,9% maior que a de um ano antes, enquanto a despesa foi 11,5% superior à de janeiro a março de 2012. A Previdência arrecadou 8,8% mais que nos primeiros três meses do ano passado, mas gastou com benefícios 14,3% mais que em igual período de um ano antes.
O aumento do investimento em relação ao primeiro trimestre do ano passado ficou em 7,4%, enquanto as despesas totais do Tesouro aumentaram 9,7%. A elevação do dispêndio, portanto, foi puxada principalmente pelo custeio. Além disso, boa parte do valor contabilizado como investimento corresponde a desembolsos para programas habitacionais.
Mesmo com alguma reativação econômica, o estado geral das contas públicas deverá continuar precário. A gastança e as desonerações - até agora mal planejadas e com resultados quase nulos para a economia - devem continuar, segundo informou o secretário do Tesouro, Arno Augustin.
É fácil prever o resultado. O potencial de crescimento continuará muito limitado e as finanças públicas serão sacrificadas por incompetência e demagogia eleitoreira.

O MEC e a confissao de um fracasso total, que vai subindo de grau...

A notícia é aparentemente positiva: o MEC vai facilitar (seja lá o que isso queira dizer) a pós-graduação de professores de matérias científicas e matemáticas, que dão aula no secundário.
Ou seja, estão elevando a incompetência para mais um degrau. Qualquer que seja o resultado desse experimento tosco, ele é uma confissão do fracasso completo do ciclo médio e das universidades em oferecer formação e graduação adequadas para capacitar um professor nessas áreas.
Como não conseguiram, acham que a pós vai resolver o problema. Logo, logo teremos os professores incapazes sendo admitidos no doutorado. Daí para as férias remuneradas do pós-doutorado é um pulo.
O MEC continua sendo um dinossauro que pasta sua própria erva da estupidez.
Paulo Roberto de Almeida


Professores terão de melhorar alunos para ganhar diploma


Fábio Takahashi
Folha de S.Paulo, 2/05/2013
O Ministério da Educação lançará nas próximas semanas programa para tentar melhorar o desempenho de alunos e professores em matemática, física, química e biologia, tanto no ensino médio quanto no superior.
As quatro matérias são as que mais possuem problemas de qualidade, de acordo com o próprio governo federal.
Uma das ações será a oferta de pós-graduação em universidades federais e privadas a professores que lecionam as disciplinas nas escolas públicas de ensino médio.
O certificado garantirá aumento salarial ao docente (progressão na carreira), mas só será concedido se houver a comprovação de que seus estudantes melhoraram –exigência inédita em programas federais de educação.
“Hoje, gasta-se muito com formação dos professores, mas a melhoria não chega aos alunos”, disse Mozart Neves, que coordenará o programa do Ministério da Educação.
A forma de avaliar a evolução dos estudantes não está definida. O docente reprovado poderá refazer o curso.
O número de professores participantes do programa dependerá da adesão dos Estados, que são os responsáveis pelos docentes.
O país tem cerca de 250 mil docentes de ensino médio em matemática, física, química e biologia, segundo os últimos dados do governo. Mas boa parte não tem formação na área –em física, são 90%.
OUTRAS FRENTES
“Temos um número insuficiente de professores nessas áreas. E a procura pelas licenciaturas é insuficiente”, disse o ministro da Educação, Aloizio Mercadante. Para tentar reverter o quadro, o programa terá outras duas frentes.
Em uma delas, o governo tentará incentivar alunos do ensino médio a escolherem o magistério nessas áreas.
Para isso, estudantes com interesse nessas matérias passarão a ter aulas de reforço e ganharão ajuda mensal de R$ 150 (paga pela União).
Eles participarão também de atividades nas universidades em grupos que reunirão docentes universitários, alunos de licenciaturas e professores das escolas básicas. A meta é recrutar 100 mil estudantes do ensino médio.
Em outra frente, os estudantes que já estão nas licenciaturas poderão fazer aulas de reforço nos conteúdos básicos, numa tentativa de diminuir a evasão nos cursos.
Ex-diretor da Unesco no Brasil (braço da ONU para educação), Jorge Werthein diz que o programa é interessante. Ele faz, porém, ressalva sobre a vinculação do certificado de pós-graduação ao professor à melhoria dos alunos.
“Ainda não se encontrou uma boa forma de avaliar o trabalho do professor. Pode haver injustiças.”
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Comentário de um leitor: 
"Não existe, afora poucas experiências localizadas, uma real integração entre Universidades Federais e Rede de ensino básico. Como trazer os garotos da escola se eles nem sabem direito como é o curso? Outra coisa, a evasão se deve muito em parte, também, às práticas dos docentes dentro desses cursos. O sujeito vai fazer uma disciplina de física e o professor simplesmente é um cara que também é um bacharel e nunca deu aula, a não ser ali. Como que um professor desses entende uma realidade escolar?"


quinta-feira, 2 de maio de 2013

A selva selvagem do sistema tributario brasileiro (sistema?!) - Everardo Maciel


Everardo Maciel
O Globo, 2/05/2013

Todos os especialistas sabem que temos um precário modelo de tributação do consumo - possivelmente o mais complexo do mundo.
Nele, tem especial destaque as distorções provocadas pela guerra fiscal do ICMS, que decorre de uma combinação de fatores que vão desde a renúncia do Governo Federal à indispensável tarefa de coordenação de um imposto de vocação nacional até o fracasso das políticas de desenvolvimento regional, daí passando à obsolescência das sanções às entidades que concedem benefícios em desacordo com as regras estabelecidas pela Lei Complementar nº 24, de 1975.
Ao exacerbar-se, a guerra fiscal gerou em um confronto aberto entre os que não admitem a competição fiscal lícita e os que proclamam a necessidade de concessão de benefícios fiscais, sem qualquer restrição.
As intervenções do Judiciário, invariavelmente declarando a inconstitucionalidade da guerra fiscal, foram sempre respondidas com mudanças formais na lei impugnada, preservados os meios para dar curso às concessões ilícitas.
Para reverter esse quadro, o Governo Federal apresentou vários projetos.
A guerra dos portos, consistindo em inacreditáveis benefícios à importação, foi enfrentada pela Resolução nº 13, do Senado. Essa via, contudo, afrontou o preceito constitucional que remete à lei complementar (art. 155, § 2º, inciso XII, letra g) o disciplinamento das concessões e revogações de benefícios no âmbito do ICMS.
O recurso à Resolução representou, além disso, um flagrante desvio de finalidade da competência do Senado, porquanto a fixação das alíquotas interestaduais daquele imposto pretende tão somente proceder à partilha horizontal de rendas.
Ao reduzir para 4% as alíquotas das operações interestaduais subsequentes à importação de mercadorias, a Resolução admitiu casuísticas exceções, a exemplo das mercadorias com conteúdo local superior a 40%, as sem similar nacional, as destinadas às indústrias de automação, informática e TV digital, as importadas pela Zona Franca de Manaus e o gás natural importado.
A indeterminação dos conceitos e as extravagâncias dos requisitos estão promovendo um festival de liminares, sem falar das acumulações de créditos de dificílima liquidez.
Para os demais casos de guerra fiscal, foram propostas medidas que incluem um projeto de lei complementar abrindo exceções ao requisito da unanimidade, a “uniformização” das alíquotas interestaduais do ICMS e a criação de fundos para compensar perdas dos entes federativos.
O projeto de lei complementar pretende sustar, até 31.12.2013, a exigência de unanimidade nas decisões dos Secretários da Fazenda, reduzindo o quórum para 3/5, a fim de permitir a convalidação de benefícios concedidos ilegalmente, desconhecendo completamente a vedação constitucional de a União conceder isenções de tributos estaduais (art. 151, inciso III) e o requisito de aprovação por lei estadual específica que regule exclusivamente a matéria (art. 150, § 6º).
A regra, de resto, inviabilizará investimentos futuros, que não lograrão concorrer com empreendimentos incentivados.
O projeto de Resolução visando “uniformizar” as alíquotas interestaduais, em relação à matéria, é o mais complexo modelo já concebido pela mente humana.
Afora o longo processo de redução das alíquotas, o projeto é pródigo em exceções: Zona Franca de Manaus, Áreas de Livre Comércio, gás natural, transporte aéreo, produtos agropecuários, situações alcançadas pela malsinada Resolução nº 13 e mercadorias sujeitas a um enigmático “processo produtivo básico” a ser aprovado pela União (sic). Assim, as duas alíquotas atuais se converterão em várias, a pretexto de “uniformização”!
Isto posto, a guerra fiscal continuará, por ausência de sanções legais, a tributação ficará mais complexa e mais créditos se acumularão. Ao contribuinte restará pagar uma conta superior a R$ 400 bilhões a serem destinados aos fundos compensatórios, nos próximos 20 anos. A despeito das evidências, sou cético quanto à possibilidade de elaborar-se algo pior.

Everardo Maciel é ex-secretário da Receita Federal. 

PEC dos jornalistas: a estupidez tornada constitucional no Brasil

A Constituição já tem um bocado de absurdos econômicos e outros tantos disparates sociais, para não falar de suas contradições políticas. Ela também abriga várias estupidezes, que deveriam estar na legislação infraconstitucional ou sequer existir como regulação estatal, como essa reserva de mercado para graduados em jornalismos, uma das coisas mais estúpidas que já ocorreram no Brasil e que vai voltar pendurada na CF.
A estupidez tem um brilhante futuro no Brasil.
Paulo Roberto de Almeida


Uma PEC para desautorizar o STF

O Estado de S.Paulo, 02 de maio de 2013 | 2h 06
Opinião - Eugênio Bucci *
Tudo caminha "nos conformes" para a aprovação, agora no início de junho, da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que restabelece a obrigatoriedade do diploma de jornalista para quem queira trabalhar na imprensa. Depois de uma semana particularmente movimentada, em que políticos e magistrados falaram em "crise" entre o Poder Legislativo e o Poder Judiciário - o vice-presidente da República, Michel Temer, preferiu chamar o episódio de "pequeno incidente", dando-o por encerrado -, eis aqui uma iniciativa parlamentar nada amistosa. Por meio dela, deputados e senadores não apenas contestam, mas trabalham abertamente para sepultar uma decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal (STF).

Perto dessa PEC, os fatores que geraram o mal-estar na semana que passou - como o projeto que, se aprovado, deveria levar a República a simplesmente fechar o Supremo, nas palavras do ministro Gilmar Mendes - são café pequeno. Aliás, não foi custoso deixá-los para trás, depois que as cúpulas dos dois Poderes confraternizaram para acertar seus ponteiros. Com a PEC restauradora do diploma obrigatório para o exercício do jornalismo a conversa é mais séria e ficará mais séria ainda. Contrariando o julgamento proferido legitimamente pela Corte Suprema, a PEC do diploma, como já se tornou conhecida nos corredores do Congresso Nacional, uma vez aprovada, vai produzir um novo e mais constrangedor impasse entre os dois Poderes.

Recapitulemos a história. No dia 17 de junho de 2009, por ampla margem (8 votos contra 1), os ministros do STF derrubaram a exigência do diploma de curso superior de Comunicação Social com habilitação em jornalismo para a prática da profissão. A decisão atendia, então, ao Recurso Extraordinário 511.961, movido pelo Sindicato das Empresas de Rádio e Televisão no Estado de São Paulo (Sertesp) e pelo Ministério Público Federal (MPF). Gilmar Mendes, designado relator do caso, entendeu que o Decreto-Lei 972/69, editado durante a ditadura militar, o tal que impôs o diploma obrigatório, afrontava a Constituição federal. Naquela sessão, o único voto contrário ao relator veio do ministro Marco Aurélio Mello.

Para que o leitor acompanhe melhor o raciocínio dos ministros do Supremo na ocasião, podemos resumir aqui o argumento que prevaleceu. Sua lógica é cristalina: nenhum obstáculo de ordem legal deve impedir o cidadão de criar publicações jornalísticas ou de se manifestar publicamente em qualquer veículo. Se um grupo de pescadores ou de moradores de rua pretende criar seu próprio jornal, na internet ou em papel, tanto faz, não deveria precisar contratar um "jornalista responsável" para isso. Qualquer pessoa deve ser livre para criar seu próprio órgão de imprensa. A liberdade, enfim, não deve ser limitada por um "filtro legal" - e a exigência do diploma, aos olhos do Supremo, é um filtro, um obstáculo, uma barreira incompatível com o sentido profundo da Constituição federal. A obrigatoriedade, instituída em 1969, tinha um objetivo tão claro quanto autoritário: controlar de perto, por meio dos registros no Ministério do Trabalho, todos os que estivessem empregados em jornais. Só servia à ditadura. Agora, na democracia, não tem sentido. Exatamente por isso, não há obrigatoriedade do diploma de jornalista em nenhuma outra democracia. Isso só ocorreu no Brasil. Além disso, a obrigatoriedade do diploma cria um desnível entre os portadores desse diploma e os demais cidadãos: os primeiros teriam mais "liberdade" de atuar na imprensa do que os outros cidadãos - o que resulta num privilégio francamente inconstitucional.

Após a decisão daquele 17 de junho de 2009, portanto, a Nação deveria compreender que a questão estava encerrada. Transitada em julgado. Foi então que a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), movida pelo interesse - que, de resto, é legítimo - de proteger o emprego de seus associados (diplomados), vislumbrou um atalho para desfazer o julgado. A estratégia foi mais ou menos a seguinte: ora, se o Supremo diz que a exigência estabelecida pelo decreto de 1969 é inconstitucional, basta escrever a mesma exigência na Constituição - aí, a coisa fica devidamente constitucional. Isto posto, naquele mesmo ano de 2009 a PEC do diploma entrou em tramitação. E vai muito bem. Em agosto do ano passado foi aprovada no Senado com um placar esmagador: 60 votos contra apenas 4.

Há quem se empolgue. Há quem acredite, candidamente, que ela vem para derrotar as intenções escorchantes dos patrões malvados que apoiaram a ditadura. O engano é imenso: a pior imprensa que o Brasil já teve, a mais submissa, a mais covarde, a mais mentirosa, aquela que sorriu para a censura e se sujeitou a publicar que brasileiros assassinados em sessões de tortura tinham morrido em tiroteios sempre se deu muito bem com a exigência do diploma. Outro equívoco, igualmente imenso, é supor que os jornais de hoje, que estão aí lutando para merecer o tempo e o dinheiro de seus leitores, têm planos de contratar analfabetos para redigir editoriais.

Nenhum desses argumentos para em pé. A única razão real para a defesa da PEC do diploma é a proteção corporativista dos sindicatos de jornalistas - que, aliás, já não congregam os profissionais de imprensa. Um levantamento realizado Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política da Universidade Federal de Santa Catarina (em convênio com a Fenaj), que acaba de ser publicado, mostra que, dos jornalistas brasileiros, apenas 25,2% (entre os quais este articulista) são filiados a sindicatos.

Sem nenhuma sustentação de interesse público, a aprovação da PEC do diploma é prejudicial para a qualidade da imprensa e para a normalidade institucional. Mais cedo ou mais tarde, o Supremo será chamado a julgar a constitucionalidade da nova emenda. Vem aí outra queda de braço entre magistrados e parlamentares.
* Eugênio Bucci é jornalista e professor da USP e da ESPM.

Venezuela: batendo, literalmente, na oposicao - Editorial Estadao

Sessão de violência
Editorial O Estado de S.Paulo, 2/05/2013


Nas democracias, quando políticos governistas falam em “bater na oposição”, ou vice-versa, todos sabem que se trata de uma metáfora. Significa encurralar, isolar, desmoralizar os adversários. É bem verdade que, não faz tanto tempo assim, os brasileiros viram o que pode acontecer quando a expressão é empregada em sentido literal. Em junho de 2000, o então presidente do PT, José Dirceu, incitou professores em greve a agredir o governador Mário Covas, já combalido pelo câncer. “Eles (os tucanos) têm que apanhar nas ruas e nas urnas”, ordenou o futuro chefe da quadrilha do mensalão. Embora estarrecedor, foi, no entanto, um episódio excepcional.
Já nos regimes em que as instituições nominalmente democráticas foram capturadas pelo mais crasso autoritarismo, bater fisicamente na oposição acaba sendo apenas uma entre tantas outras modalidades truculentas de enfrentamento político. Foi o que aconteceu na noite de terça-feira no plenário da Assembleia Nacional da Venezuela, quando deputados chavistas, à maneira de uma matilha, acuaram e em seguida espancaram diversos membros da frente oposicionista Mesa de Unidade Democrática (MUD) que ousaram protestar contra a condição de parlamentares mortos-vivos a que os reduziu o presidente da Casa, Diosdado Cabello, expoente da facção ultratroglodita do aparato chavista de poder.
O mais recente ciclo de violência no país começou tão logo saíram os surpreendentes resultados da eleição presidencial de 14 abril. Pelos números oficiais – contestados de imediato pelo candidato oposicionista Henrique Capriles, governador do Estado de Miranda -, o herdeiro político do caudilho Hugo Chávez, falecido havia pouco mais de um mês, Nicolás Maduro levou a melhor por irrisório 1,49 ponto porcentual de vantagem, ou 265 mil votos em um total aproximado de 14 milhões. Apontando numerosas evidências de irregularidades nos postos eleitorais, Capriles exigiu a recontagem total de votos, em vez da auditoria obrigatória de 54% das urnas eletrônicas, que compara os números nas telas com os comprovantes impressos que os eleitores depositam em um recipiente fechado.
A muito custo, a autoridade eleitoral dominada por chavistas concordou em estender a amostragem a 100% dos sufrágios, mas se recusou a examinar as provas de fraude, entre elas a inclusão de milhares de eleitores fantasmas nas listas dos venezuelanos aptos a votar. Diante disso, a oposição decidiu considerar Maduro um presidente ilegítimo enquanto as demandas de seu candidato não fossem atendidas. A retaliação não tardou. Enquanto as milícias chavistas batiam nos opositores nas ruas, Diosdado Cabello, o chefe do Legislativo – em um ato reminiscente do clássico de terror político 1984, de George Orwell –, proibiu os deputados do MUD de falar em plenário e de participar de comissões legislativas. Além disso, suspendeu o pagamento de seus salários.
Segundo a sua lógica orwelliana, já que eles não reconhecem “a vontade soberana do povo”, não podem exercer os seus mandatos, originários do mesmo sistema eleitoral que contestam. De seu lado, com a mesma especiosa argumentação, Maduro ameaçou suspender as transferências de recursos federais para o Estado governado por Capriles.
Na sessão de terça-feira da Assembleia, quando o líder da bancada chavista, Pedro Carreño, exortou Cabello a manter as represálias aos proscritos, alguns deles desenrolaram um cartaz com a inscrição “Golpe no Parlamento”. Foi a senha para a agressão que se transformou em pancadaria, deixando feridos pelo menos 17 oposicionistas e 5 governistas.
“Sem uma palavra, covardemente, eles nos atacaram pelas costas”, contou o deputado do MUD Ismael Garcia. “Não pouparam nem nossas deputadas.” O seu colega Julio Borges apareceu no canal privado Globovisión com diversos hematomas na face. Cabello havia proibido a única emissora autorizada a cobrir as atividades do Congresso de entrevistar parlamentares do minoritário MUD. Ninguém o acusará de incoerente.

Meta de inflacao para o governo deve ser alta... - Alexandre Schwartsman

Alexandre Schwartsman
Blog, 24/04/2013



A matéria sobre “inflação basal” usou pouco da entrevista. Assim resolvi publicá-la completa aqui no blog (é para isso que serve, não?).

1 - Tem fundamento a afirmação de que o Brasil tem uma inflação de base e que ela gira em torno de 5% e 6%?

Não. Isto é uma tentativa de ressurreição de uma tese antiga, a “inflação estrutural”, lá dos anos 50 e 60, à época desmentida pela tese de doutorado do Pastore.

No caso atual, não é necessário mais do que olhar a trajetória da inflação para observar que não apenas ela alcançou valores inferiores aos 5-6% mencionados, como também o fez com crescimento mais forte do que temos hoje. No período 2005-2009, uma vez superados os efeitos da transição política, o desvio da inflação relativamente à meta foi quase 0%. Mesmo se incorporarmos 2010 à amostra, já com o BC enfraquecido (por exemplo, parando inexplicavelmente o processo de alta de juros em setembro de 2010),  a inflação superou a meta em média 0,3% ao ano. Não por acaso, as expectativas de inflação 12 meses à frente entre o final de 2005 e o final de 2010 se mantiveram sempre em torno de 4,5% (na verdade 4,4%), revelando que o BC tinha conseguido ancorar as expectativas.

Obviamente, mesmo se o BC consiga ancorar as expectativas, como a meta é alta e o governo nunca perdeu a oportunidade de perder a oportunidade de reduzir a meta, a inflação não se descolaria muito de 4,5%. Caso tivesse reduzido a meta para níveis similares aos de outros países latino-americanos adeptos do regime de metas, poderíamos – com um BC disposto – ter registrado inflação em torno de 3% ao ano.

2 - Se sim, a que se deve essa resistência? E como eliminá-la? Se não, por que, desde 2000, o Brasil só teve inflação abaixo de 5% em três anos (2006, 2007 e 2009)?

Sim, mas a meta de inflação foi superior a 5% de 1999 a 2005 (em 2001, 2002,  2003, 2004 e 2005 a meta oficial era inferior a 5%, mas, na prática as metas ajustada eram superiores a este patamar). Desde a adoção da meta de 4,5% (em 2006) o BC manteve a inflação em média próxima à meta até perder a autonomia informal de que dispunha. No caso, a resistência da inflação se deve, em primeiro lugar, à insistência de manter a meta em 4,5%, mesmo quando expectativas rodavam abaixo disso. Mais recentemente se deve à subordinação do BC aos objetivos políticos do governo. Basta ver que só pode elevar a Selic agora depois de uma comissão (externa ao governo, diga-se) convencer a presidente.

3 - Como avalia a afirmação de que dois pontos a mais de inflação (além do centro da meta) não faz diferença na vida do brasileiro, uma vez que os salários seguem em alta?

Acho de uma miopia atroz. Embora seja verdade que os aumentos salariais tenham superado a inflação, à medida que a inflação acelera – refletindo, entre outras coisas – o próprio impacto do aumento dos salários sobre os preços, a manutenção dos salários reais requer novas rodadas de elevações salariais. Expectativas de inflação mais elevada são incorporadas aos salários e temos uma clássica espiral salário-preços, na linha da observada, por exemplo, nos EUA e no Reino Unido nos anos 70.

Este processo é instável e, quando finalmente o Fed (e o Banco da Inglaterra) foram tratar o problema, ambas economias tiveram que passar por uma recessão extraordinária.

Hoje o desvio é de 2 pontos percentuais. Se não for tratado agora, será mais bem mais alto em poucos anos e o custo de reduzir a inflação será muito maior do que hoje, assim como hoje já é bem maior do que seria se tivesse sido tratado em 2010-2011.

4 - Em junho, o CMN definirá meta de inflação para 2015. Belluzzo, por exemplo, já defendeu elevar a meta. Com a crise na Europa e EUA, economistas mundo afora têm defendido flexibilidade no objetivo, diante de dificuldades em produzir crescimento. Seria o caso de flexibilizar a meta aqui também?

No ranking das ideias cretinas elevar a meta fica numa posição privilegiada. Faz sentido para países que enfrentam ameaça de deflação (ou deflação propriamente dita). Já no Brasil, cujo problema é o oposto, caso se eleve a meta, as expectativas também irão se elevar, ainda mais com o um BC percebido como submisso. As demandas salariais e preços passam a refletir uma inflação esperada mais alta e a inflação se acelera sem qualquer ganho de produto. Não é por acaso que o Palmeiras foi parar na Segundona.

A imoralidade economica do keynesianismo - Hunter Lewis

Two Sides of the Same Debased Coin
by Hunter Lewis
Mises Daily, on May 2, 2013
[This article originally appeared in the January 2013 edition of The Free Market.]

In the beginning of The General Theory, John Maynard Keynes says that his ideas will no doubt be rejected because they are so novel and revolutionary. Toward the end of the same book, he seems to have forgotten this because now he says he is reviving the same centuries-old ideas that he had once dismissed as the most absurd fallacies. At least he acknowledges that he is changing his position, although he does not explain how his ideas can be new, revolutionary, and also centuries old.

This is of a piece with his describing himself as a member of “the brave army of rebels and heretics down through the ages” even as he recommends policies that appeal to the basest and most self-serving instincts of politicians — and even as he enjoys all the immense privileges that accrue from being at the top of the existing financial and political establishment.

Although it may be true, as the art historian Kenneth Clark said, that Keynes “never dimmed his headlights,” it cannot be said that he knew how to drive on a single side of the road. Keynes, would become the principal apologist for “crony capitalism,” which is perhaps the best term to describe our current system. As you probably know, much of Keynes’s writing is intentionally obscure, although the threads can be unraveled and rebutted, as Henry Hazlitt so brilliantly proved in The Failure of “The New Economics.”

What is the very essence of Keynesianism? Can we describe it in the briefest and simplest terms, so that anyone can understand what is wrong with it, and thus strip away the intellectual fog that surrounds and protects crony capitalism?

At first glance, it might seem that the essence of Keynesianism is simply the endless self-contradiction to which I have already alluded. He was never in one place, intellectually or otherwise, for long.

For example, he railed at the love of money. He called it “the worm ... gnawing at the insides of modern civilization.” But he also desperately wanted to be rich. He railed against investment speculation, but avidly speculated himself. At one point, he was completely wiped out, and had to turn to his father, a teacher, for rescue. Two more times, he could have been wiped out, one of them 1929, which he did not anticipate, the other 1937, which he did not anticipate either.

Keynes’s relationship with gold is a good example of his continual self-contradiction. In 1922, he wrote in The Manchester Guardian: “If the gold standard could be reintroduced ... we all believe that the reform would promote trade and production like nothing else.” A little later he described gold as the “barbarous relic.” Yet even when he called gold the “barbarous relic” he privately continued to recommend it as an investment diversifier.

When we turn to Keynes’s economics, perhaps the most fantastic self-contradiction was that an alleged savings glut, too much supposed idle cash, could be cured by flooding the economy with more cash, newly printed by the government. Perhaps even more bizarrely, Keynes says that we should call this new cash “savings” because it represents “savings” just as genuine as “traditional savings.” That is, the money rolling off the government printing presses is in no way different from the money we earn and choose not to spend.

All this new “savings” enters the economy through the mechanism of low interest rates. At this point, Keynes further confounds his forerunners and elders by arguing that it is not high interest rates, as always thought, but rather low interest rates, that increase savings, even though we started by positing too much savings in the first place.

Keynes’s followers echo this even today. Greenspan, Bernanke, and Krugman have all written about a savings glut which is supposed to be at the root of our troubles, and have proposed more money and lower interest rates as a remedy, although they no longer call the new money “genuine savings.” They prefer quantitative easing and similar obscure euphemisms.

Keynesian Gregory Mankiw, one of two chief economic advisors named by Mitt Romney, has even proposed ramping up CPI inflation to create deeply negative interest rates, perhaps as negative as -6 percent. In other words, increase inflation to around 6 percent but keep interest rates repressed to near zero by buying bonds with whatever money has to be printed.

This latest proposal of deeply negative interest rates outdoes even Keynes. The General Theory does argue that interest rates could and should be brought to a zero level permanently (that’s pages 220–21 and 336). This idea of permanent zero interest rates appears first in Proudhon, although Keynes does not acknowledge or perhaps know that, and seems absurd on its face. Lending money at no interest is equivalent to giving it away, and it is hard to understand how anything can have value that is given away.

Nevertheless, Keynes said that it would be reasonable to get to zero interest rates (and zero level dividends) within a generation. By that standard, we have evidently failed him because we should have reached this utopia by 1966.

But note that even Keynes didn’t suggest negative interest rates. The idea of engineered negative interest rates reminds me of a Yiddish phrase which I am told is translated roughly as: “Smart, smart, stupid.” It takes very smart people to think it up but that doesn’t mean it isn’t stupid. And it is worrying that this is coming not just from President Bush or President Obama. One couldn’t be surprised at anything coming from those quarters.

President Bush said that “I have abandoned free-market principles to save the free-market system.” His successor, President Obama, said in his first budget message that he was taking us from “an era of borrow and spend” to an era of “save and invest.” Then we had Mitt Romney not only relying on a retread Bush advisor, but even a proponent of deep negative interest rates. A very nice man, I might add, but not someone we need in Washington again.

These Romney advisors also, of course, believed in the fairy tale of borrow-and-spend stimulus. It is usually forgotten that Keynes assured us that each dollar of such stimulus would produce as much as twelve dollars of growth and not less than four dollars. Even the most ardent Keynesians have, of course, been unable to demonstrate as much as one dollar. How did Keynes know that you would get four dollars at least? He didn’t. He told the governor of the Bank of England, Norman Montague, that his ideas were “a mathematical certainty” but that was just a crude bluff.

What is empirically verifiable is that all debt, private or public, has been generating less and less growth for decades. In the ten years following 1959, the official figures say that you got 73 cents in growth for each dollar borrowed. By the time of the Crash of ’08, that was down to 19 cents. And I expect it was really negative by then and is deeply negative now.

Rather than follow Keynes and his followers down all these rabbit holes, let’s ask ourselves: is there a common theme to this nonsense? And there is a common theme. The common theme is that market prices don’t matter. In a system replete with paradoxes, this is the ultimate paradox: “In order to fix the price and profit system, we must subvert it. No free price or profit relationship must be left alone. The price/profit system must be poked, pushed, pulled apart, only to be left in a complete shambles.” The assault on interest rates and currency rates is particularly destructive, but all of this madcap tinkering with prices is destructive.

Is this, then, the essence of Keynesianism, its blind destruction of the price mechanism on which any economy depends, as Mises demonstrated? Yes. But there may be an even deeper essence.

When we think of Keynes’s headline ideas, they have a kind of formulaic quality. You take a long established observation, for example, that over-spending and debt are the road to bankruptcy and ruin, and turn it on its head. No, spending and debt are the road to wealth.

For the Victorians, spending within your means and avoiding debt were not just financial principles. They were moral principles. Keynes, who was consciously rebelling against these same Victorians, described their “copybook morality” as “medieval [and] barbarous.” He told his own inner circle that “I remain, and always will remain an immoralist.”

You will recall Mr. Micawber’s famous admonition in Charles Dickens’s nineteenth-century novel David Copperfield: “Annual income twenty pounds, annual expenditure nineteen, nineteen six, result happiness. Annual income twenty pounds, annual expenditure twenty pounds ought and six, result misery.”

Keynes certainly subverted that idea. In particular, he insinuated the very odd, but now very prevalent idea, that old-fashioned wisdom and morality is out of date, even a bit retarded, and odder still, in conflict with science. This is all such nonsense, but it permeates our culture. And the very people who preach honesty and sustainability outside of economics, for example in our treatment of the environment, entirely fail to understand that Keynes is preaching dishonesty and unsustainability in economics.

So, in conclusion, when we strip down Keynesianism to its essence, the relationship to crony capitalism becomes even clearer. Crony capitalism represents both a corruption of capitalism and a corruption of morals. Keynesianism also represents both a corruption of economics and a corruption of morals. Crony capitalism and Keynesianism are just two sides of the same debased coin.

Hunter Lewis is cofounder of Against Crony Capitalism. He is the former CEO of Cambridge Associates and the author of six books. His most recent book is Where Keynes Went Wrong. He has served on boards and committees of 15 not-for-profit organizations, including environmental, teaching, research, and cultural organizations, as well as the World Bank. See Hunter Lewis's article archives.

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