domingo, 4 de maio de 2014

Eleicoes 2014: PT comeca campanha sem saber o que fazer - Veja

Por Bruna Fasano, na VEJA.com, 3/05/2014

Um dia depois do encontro do PT que oficializou o nome da presidente Dilma Roussef, com presença do ex-presidente Lula, em São Paulo, o partido divulgou neste sábado um documento com as definições sobre a tática eleitoral para vencer o pleito de outubro. O texto traz também o que se parece com uma lista de diretrizes para um segundo mandato de Dilma – e quarto dos petistas. A tônica do encontro, como se viu na sexta-feira, ainda é a de abafar o ‘Volta, Lula’, que ganhou coro em setores da sigla.

Em número e importância de caciques petistas, o segundo dia de encontro na capital paulista foi menos prestigiado. Com plateia bastante esvaziada, poucos delegados do partido discursaram. A presença de Rui Falcão, presidente nacional da legenda, teve como objetivo manter os representantes regionais unidos e buscou reforçar o sentimento de que Dilma ainda é a melhor opção para manter o governo em mãos petistas.
Uma brochura entregue aos delegados, para que estes passem adiante as decisões do encontro, traz definições sobre a tática eleitoral e a política de alianças para 2014. O documento reconhece que a disputa eleitoral deve resultar em ataques ao desempenho do governo Dilma, já bastante criticado. Como é tradição no partido, a imprensa foi responsabilizada pela perda de popularidade da presidente. “Setores da mídia monopolizada, que funciona como verdadeiro partido de oposição, representam um projeto oposto”, diz um trecho do documento. Em outro parágrafo, o texto pede que o partido deve “apoiar incondicionalmente” o projeto de continuidade, e, ainda assim, “manter e manifestar o desejo de mudança”. Ou seja, internamente, o PT acredita ser possível convencer o eleitor de que o jeito de mudar é manter as coisas como estão.
No programa de governo há um ataque indireto ao pré-candidato do PSB ao Palácio do Planalto, Eduardo Campos. “As oposições estão estagnadas, sem discurso consistente, sem programa. Não escondem a disposição de abandonar as políticas de emprego e de renda dos governos Lula e Dilma. Reivindicam a “autonomia” do Banco Central (autonomia em relação a quem?)”
Também pré-candidato, o senador tucano Aécio Neves (MG) não foi poupado. “A oposição anuncia ‘medidas amargas’, ‘impopulares’, caso venham a ser eleita (…) Amargas para quem?”, diz outro trecho da brochura. Neste ponto, o PT faz referência à entrevista concedida por Aécio Neves em abril, quando o pré-candidato do PSDB afirmou não temer “medidas amargas” e disse que, se eleito, não se tornaria refém de avaliações impopulares.

Caso Padilha
 Ao final do evento, Falcão falou a jornalistas sobre a candidatura de Alexandre Padilha, ex-ministro da Saúde, ao governo de São Paulo. “Não cogitamos substituir o candidato, até porque não há nenhum motivo para isso”, afirmou. Padilha vive um momento turbulento, com nome ligado constantemente a figuras presas e investigadas pela operação Lava-Jato, da Polícia Federal. Entre os “amigos ocultos” revelados pela investigação está o doleiro Alberto Youssef, dono de uma empresa de fachada – o laboratório Labogen – que firmou contrato com o Ministério da Saúde na gestão do petista à frente do Ministério da Saúde. Entre os líderes petistas que participaram do encontro neste sábado estavam o líder do PT na câmara, Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, o deputado federal Paulo Teixeira e o senador Eduardo Suplicy – todos de São Paulo.

O presidente nacional do PT passou boa parte do evento nos bastidores, articulando com alas radicais e minimizando os resultados das últimas pesquisas eleitorais que apontam que o desempenho de Dilma não é animador. Na última análise divulgada, 49,1% dos entrevistados desaprovaram o desempenho pessoal da presidente. Alas radicais dizem que o partido deveria ir às ruas protestar contra a prisão dos mensaleiro presos no julgamento da ação penal 470 – única forma que o PT se refere ao mensalão. E, em documento, defendem que José Dirceu, José Genoino, Delúbio Soares e João Paulo Cunha são representantes legítimos do PT, embora Lula tenha afirmado em entrevista recentemente que eles não seriam de sua ‘confiança’.
A necessidade de acalmar as correntes radicais mostra, mais uma vez, o tamanho do racha interno que atormenta o partido e o governo. Conhecido por embates internos intensos, o PT, cujo comando tentou nos últimos dois dias demonstrar união em torno do nome de Dilma, termina o evento sem a certeza de que sepultou o ‘Volta, Lula’. Apesar do esforço, mais importante do que o discurso oficial seria reverter a tendência de queda de Dilma, mantida nas últimas três pesquisas eleitorais.

Mais irracionalidades governamentais: debate com Gustavo Franco e Helio Beltrao - Instituto Mises Brasil

“Nossa cultura nacionalista e protecionista nos faz muito mal”, diz Gustavo Franco

O presidente do Conselho de Governança do Instituto Millenium, Gustavo Franco, participou de um bate-papo sobre economia com o presidente do Instituto Mises Brasil, Helio Beltrão, e o diretor do Instituto Liberal do Nordeste, Raduán Melo, no 27º Fórum da Liberdade, realizado em abril, em Porto Alegre.
No encontro, promovido pelo “Liberzone”, site que discute política e liberdade, os três debateram perspectivas para a economia brasileira em ano de eleição. Para Franco, o atual governo destruiu o tripé macroeconômico e apenas se esforça para que a situação fiscal brasileira não se revele desastrosa. “Nós não temos mais metas de inflação. O objetivo é apenas não ultrapassar os 6,5% do teto antes da eleição”. Franco também criticou o forte intervencionismo do Banco Central no mercado e a proximidade do governo com regimes bolivarianos. “Nossas conexões com a globalização estão precárias”, lamentou.
Assista ao vídeo na íntegra:

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Politica economica companheira: aumenta a irracionalidade, e osprejuizos - Merval Pereira

Nau dos insensatos

As intervenções pontuais do governo em setores da economia têm provocado consequências maléficas em outros, como, por exemplo, na questão elétrica. Ou na redução forçada dos juros, que acabou sendo revertida pela realidade, e hoje temos juros mais altos do que antes, para tentar controlar a inflação crescente. Querendo reduzir compulsoriamente a tarifa de energia, o governo praticamente obrigou as empresas a aceitar uma renovação de contratos em novas bases, provocando prejuízos e impedindo que investimentos necessários fossem feitos.
As tarifas acabaram não caindo como o prometido em um pronunciamento propagandístico na televisão, e o governo está com um problema para o Tesouro enfrentar, que pode chegar a R$ 50 bilhões segundo algumas estimativas. O desequilíbrio financeiro em consequência da Medida Provisória 579, de 2012, já obrigou o governo a colocar R$ 18 bilhões no setor, para financiar a redução arbitrária da tarifa, afetando as contas públicas.
O malabarismo para financiar outros R$ 11 bilhões está provocando uma crise na Câmara de Compensação de Energia Elétrica (CCEE), com diretores pedindo demissão por não concordarem com essa contabilidade criativa, o que pode obrigar o Tesouro a garantir de alguma maneira esse empréstimo, anulando a tentativa de não aumentar o rombo nas contas públicas.
Depois desse imbróglio todo, ainda restará para o próximo governo um tarifaço e o perigo de um apagão. Caminhamos para uma situação semelhantes à ocorrida em 1998, com sinais trocados. Naquele ano de reeleição, o governo Fernando Henrique Cardoso adiou o mais que pôde a desvalorização do Real, que acabou vindo em janeiro de 1999, no primeiro mês do segundo mandato.
Prometer que a tabela do Imposto de Renda será reajustada no próximo ano no mesmo dia em que terminava o prazo para a declaração do IR deste ano parece uma burla ao cidadão comum
Agora, o governo tenta adiar um programa de racionamento de energia para não sofrer eleitoralmente, mas todos os especialistas advertem que se nada for feito o racionamento virá, com mais força, já em novembro deste ano, um mês depois de fechadas as urnas, seja quem for o eleito.
Uma herança maldita que Dilma pode estar deixando para si mesma, assim como o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, retarda uma campanha de racionalização do uso da água em São Paulo, para não ter prejuízos nas urnas. Corremos o risco de ter, fechadas as urnas, apagão de energia e água.
Tudo isso para dizer que soluções atípicas, como as que a presidente Dilma anunciou em cadeia nacional de rádio e televisão na véspera do Dia do Trabalho, não significam medidas racionais para o bem da população, e acabam produzindo efeitos contrários.
Mesmo a carga positiva que essas medidas populistas possam trazer para uma candidatura em risco é duvidosa. O aumento de 10% para os integrantes do Bolsa Família não fará com que mais beneficiários do plano votem em Dilma, a grande maioria já deve estar com ela. Mas fortalece a percepção do restante da população de que o programa social é utilizado como arma eleitoral, e aumenta o rombo nas contas públicas.
Prometer que a tabela do Imposto de Renda será reajustada no próximo ano no mesmo dia em que terminava o prazo para a declaração do IR deste ano parece uma burla ao cidadão comum. Além de o reajuste anunciado ser inferior à inflação, não parece lógico que o governo tome uma decisão dessas em ano eleitoral, para valer em um mandato que pode não ser o seu.
A garantia de continuar, além de 2015, com uma política de reajuste do salário mínimo com ganhos reais é uma vantagem para a candidatura governista, que os oposicionistas só equipararão caso a campanha eleitoral entre numa corrida demagógica que vencerá aquele que prometer mais coisas impossíveis de cumprir. Essa política, aliás, está sendo questionada no Supremo Tribunal Federal.
O que se desenha ao final é um quadro de irresponsabilidade fiscal que se agrava com o populismo eleitoral. Como as medidas anteriores, essas também terão consequências indiretas em vários outros setores, provocando a alta da inflação futura e a necessidade de aumentar os juros mais ainda, neutralizando os benefícios que porventura trouxessem aos trabalhadores do Brasil. E assim a nau dos insensatos navega em águas turbulentas.

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O Brasil avestruz dos petistas e as multinacionais brasileiras - Marcos Troyjo

Ataque às multis brasileiras

Das 15 maiores economias do mundo, a do Brasil é a menos internacionalizada, tanto pelo pequeno número de empresas nacionais com presença no exterior como pela baixa participação no comércio mundial.
A insularidade incomoda há tempos. Desde que descoberto por Cabral há 514 anos, se excetuarmos os ciclos de commodities (cana-de-açúcar, café, etc.), raramente o Brasil contabilizou exportações superiores a 15 % do PIB.
A Suécia tem 10 milhões de pessoas e 200 empresas multinacionais (EMNs) O Brasil, 200 milhões de pessoas e apenas duas dúzias de companhias com atuação verdadeiramente global. A dimensão do mercado interno não é desculpa. Os EUA têm a mesma porcentagem do PIB ocupada pela soma de exportações e importações (cerca de 22%) que o Brasil — e dispõem de milhares de EMNs nos mais diversos portes e setores.
Dentre as economias mais avançadas do Ocidente ou mesmo aquelas da Ásia-Pacífico de maior crescimento relativo, a internacionalização é marcante. Japão, Coreia do Sul e China transformaram-se em “Nações-Comerciantes”. Fortaleceram o elo entre elevadas fatias do comércio mundial e EMNs robustas.
Já países como a Suíça contam com “empresas-rede”. A Nestlé é bom exemplo. Grande parte de sua atividade industrial e 98% da receita vêm de fora do país.
Há, assim, elo indissociável entre maior internacionalização e aprimoramento da competitividade.
Para empresas nacionais com vocação internacional, os obstáculos são complexos. O oneroso “Custo Brasil” atravanca a operação no país-sede. A não-participação brasileira em acordos plurilaterais de comércio e investimento inibe a presença de nossas companhias em redes produtivas globais.
Há, assim, elo indissociável entre maior internacionalização e aprimoramento da competitividade
É nesse contexto que parece particularmente esdrúxula a MP 627 aprovada pelo Governo, sobretudo a taxação de 35% sobre lucros oriundos de atividades no exterior. Trata-se de mais um fardo a erodir a posição competitiva de EMNs brasileiras em terceiros mercados.
A implantação de tal medida evidencia a ausência, por parte do governo, de qualquer rumo estratégico voltado à inserção competitiva do País no cenário global.
É gritante sua incoerência com a prática de financiar internamente empresas “campeãs nacionais” com créditos facilitados que, a cada ano, superam recursos destinados a programas de alívio da pobreza como o Bolsa-Família.
Assim, em vez de maior competitividade externa, o resultado é o aumento do grau de oligopolização do mercado interno e maior vulnerabilidade de empresas nacionais ante possíveis aquisições por parte de EMNs estrangeiras.
O discurso oficial brasileiro alardeia que nas últimas décadas o país conseguiu estabelecer três pactos: o da democracia (desde a segunda metade dos anos 80); o da estabilidade (com o Plano Real) e o da inclusão social (com as políticas de assistência social do período Lula-Dilma).
Seria agora o momento de um novo pacto (o da competitividade). No entanto, com medidas que cortam as asas da internacionalização brasileira, esse quarto pacto tem tudo para não sair do chão.

Socialismo da pobreza: deputado do PT quer eliminar a riqueza, e disseminar a estupidez economica

O mais incrível é que estupidezes desse tipo ocupem o trabalho de comissões e de parlamentares.
Delirante, não é mesmo? Mas o PT abriga gente rústica como esse deputado.
Mas observem que a questão de fundo é a mesma que anima os defensores da última novidade editorial, que tanto encanta os socialistas: O Capital no Século XXI, de Thomas Piketty, que acha que a riqueza está muito concentrada e que o Estado deve atuar para redistribui-la.
Se o PT ganhar, teremos, não o projeto estúpido desse deputado, mas o imposto sobre as grandes fortunas (um projeto socialista de FHC) e a nova taxa de transações financeiras supostamente para a saúde.
E já temos a burrice dos 10% do PIB para a educação: vão gastar mais com uma escola que vai continuar ruim, aliás deve piorar, pois isso reforçará as máfias sindicais de professores.
Paulo Roberto de Almeida

15/04/2004 

Projeto da poupança fraterna começa a ser analisado

A Câmara vai iniciar a análise do Projeto de Lei Complementar 137/04, do deputado Nazareno Fonteles (PT-PI), que estabelece um limite máximo de consumo e a criação de uma "Poupança Fraterna", pela comissão de Finanças e Controle. O projeto estabelece que, durante sete anos, haverá um limite máximo de consumo mensal que cada pessoa poderá utilizar para seu sustento e de seus dependentes residentes no País. Este limite será calculado de acordo com a renda per capita nacional mensal calculada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo o IBGE, em 2003, a renda per capita anual era R$ 8.565, o que significa cerca de R$ 713 ao mês.
Pelo projeto, a parcela dos rendimentos, que exceder o limite de consumo, será depositada, a título de empréstimo compulsório, em uma conta especial de caderneta de poupança, em nome do depositante, denominada Poupança Fraterna.

Distribuição de renda
O objetivo do projeto, segundo o autor, é fortalecer os valores humanísticos de fraternidade, liberdade e igualdade, que facilitarão e possibilitarão a todos os brasileiros acesso aos bens essenciais. Na avaliação de Fonteles, a proposta promoverá também a inclusão social e econômica da parcela da população que hoje possui baixa capacidade de consumo. "A fome em que vivem milhões de seres humanos deve-se à má distribuição da renda e da riqueza, e não à escassez de alimentos", defende o deputado.

Poupança
O projeto estabelece que os depósitos da “poupança fraterna” poderão ser feitos no Banco do Brasil ou na Caixa Econômica Federal, a critério do titular da conta. A proposta também prevê a livre movimentação dos recursos pelo titular entre as duas instituições financeiras. Os recursos aplicados serão remunerados com juros equivalentes à 50% dos depósitos efetuados em caderneta de poupança.

Devolução
Os recursos aplicados serão devolvidos aos poupadores ou seus herdeiros nos 14 anos seguintes ao término do prazo de poupança, em prestações mensais equivalentes à metade de cada um dos depósitos realizados. Haverá, no entanto, as seguintes hipóteses de saques extraordinários dos valores depositados: 
1. morte do titular;
2. aquisição de casa própria para fins de residência permanente, limitado a R$ 200 mil; e
3. tratamento de doença grave do titular, do cônjuge ou dependentes diretos; 

Gestão
O projeto prevê a criação do Conselho Nacional de Poupança Fraterna (CNPF), a quem caberá a gestão da Poupança Fraterna. O conselho terá, entre outros, os seguintes integrantes:
1. ministro de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, que o presidirá; 
2. representantes dos Ministérios da Saúde; Educação; Planejamento; Meio Ambiente; e Ciência e Tecnologia; 
3. representantes de centrais sindicais e confederações; 
4. representantes de entidades de classes; e
5. representantes do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal. 

Segundo o texto apresentado, poderão ser criados, conforme demandas regionais e locais, Conselhos Estaduais e Municipais da Poupança Fraterna, que atuarão em articulação com o Conselho Nacional.

Sonegação
O PLP prevê multa equivalente a duas vezes o valor sonegado, além de juros de mora nos casos em que o correntista não depositar, na Poupança Fraterna, o excedente ao limite máximo de consumo. Além disso, terá seu nome inserido no Cadastro da Dívida Ativa da União, pelo valor correspondente a duas vezes o valor sonegado

O projeto será relatado pelo deputado João Leão (PL-BA). Após a avaliação da Comissão de Finanças e tributação, a proposta será apreciada pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania. Em seguida, seguirá para o Plenário. 

Economia mundial: acabou-se o que era doce (para o Brasil) - Pedro da Motta Veiga, Sandra P. Rios

O avestruz num mundo em transformação
Pedro da Motta Veiga e Sandra Polónia Rios*
O Estado de S.Paulo, 02 de maio de 2014

As tendências que ganham força no quadro econômico e político internacional apontam para um cenário muito diverso da bonança que tanto beneficiou o Brasil na primeira década do século. Independentemente dos contornos precisos que o cenário global adquirirá nos próximos anos, as margens de manobra de um país com as características do Brasil serão, daqui até pelo menos o fim dos anos 10, muito mais estreitas do que as vigentes no período anterior à eclosão da crise.
Já há a percepção difusa da emergência de um mundo marcado por mais riscos do que oportunidades para o Brasil. As preocupações com o "isolamento" internacional da economia brasileira e as críticas ao atrelamento das posições brasileiras em negociações comerciais às preferências argentinas são expressões dessa percepção. Mas, em geral, a percepção de riscos e ameaças é genérica e com frequência "transborda" para visões quase apocalípticas do futuro que nos espera num mundo mais hostil.
Não é para tanto, mas o que vem por aí é, de fato, preocupante. Senão vejamos. Não se esperem mais da China os bônus gerados por espantosas taxas de crescimento e pela disparada dos preços de commodities. A China em transição para um modelo de crescimento baseado mais no consumo doméstico do que em investimentos e exportações continuará a demandar as commodities exportadas pelo Brasil - provavelmente mais as agropecuárias que as minerais -, mas crescerá menos e não produzirá o choque externo positivo que nos proporcionou na primeira década do século.
Mesmo com taxas anuais que serão uma fração (minoritária) daquelas observadas há menos de dez anos, o crescimento da China continuará a ser uma estrela de primeira grandeza num mundo marcado pelo baixo crescimento. Este já está contratado para os próximos anos na União Europeia e seria irrealista esperar uma vigorosa recuperação dos EUA no curto prazo.
De seu lado, o vigoroso crescimento dos emergentes esbarrou em limites estruturais e em obstáculos políticos. Nesse processo, percebeu-se que o tal crescimento vigoroso dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) foi um fenômeno principalmente chinês. À exceção da China, o principal desafio dos Brics é a volta ao crescimento sustentado nos próximos anos, o que supõe o enfrentamento de uma agenda de reformas domésticas econômica e politicamente complicada. Difícil imaginar que esses países (exceção feita à China, mais uma vez) venham a dar, nos próximos anos, contribuição muito relevante para o crescimento global.
Não bastassem essas evoluções, as negociações comerciais preferenciais - quase um anátema para a política externa brasileira, quando não se trata de Mercosul e congêneres - voltaram à agenda dos principais atores da economia internacional. A China tece gradualmente sua rede de acordos, principalmente na Ásia e na América do Sul, mas a
principal novidade, aqui, é a negociação dos acordos ditos megarregionais - o TPP, envolvendo os EUA e diversos países da Ásia-Pacífico; e o TTIP, envolvendo EUA e União Europeia.
Como o foco principal dessas negociações são regras e disciplinas aplicáveis a um grande número de temas, há a preocupação - não de todo injustificada, mas certamente exagerada - de que países que não participam das negociações estarão virtualmente excluídos dos grandes mercados do mundo.
Ainda que a conclusão desses acordos possa ser mais difícil do que fazem crer seus patrocinadores, há um forte movimento na direção da convergência de regras comerciais, que moldará crescentemente os fluxos de comércio de bens e serviços. Essa convergência tem motivações econômicas, mas também segue lógica geopolítica, que vem ganhando peso depois da intervenção russa na Ucrânia.
Diante dessas evoluções, o governo brasileiro tem adotado a postura do avestruz e torce para que alguma "força maior" detenha as mudanças em curso no mundo. O Brasil não aproveitou o período de bonança para se preparar para tempos mais difíceis. Ante o novo cenário, o País estará diante da alternativa de (mais uma vez) se proteger de um mundo pouco amigável com políticas de isolamento ou de adotar políticas ativas de revisão e modernização de suas relações econômicas internacionais.

*Pedro da Motta Veiga e Sandra Polónia Rios são diretores do Centro de Estudos de Integração Econômica (CINDES).

sábado, 3 de maio de 2014

Turismo Sem Fronteiras Para Monoglotas

O que mais surpreende é que os monoglotas acham que o governo, isto é, todos nós, precisamos pagar cursos de linguas indefinidamente. 
Turismo Sem Fronteiras?
Paulo Roberto de Almeida

Alunos do Ciência sem Fronteiras foram orientados a racionar alimentos

Um grupo de estudantes brasileiros que foram selecionados pelo programa federal Ciência sem Fronteiras para estudar no Canadá e tiveram as bolsas cortadas começou a retornar nesta semana ao Brasil, reclamando do tratamento recebido. Sem dinheiro, contam que foram orientados a "racionar alimentos".
Luana Monteiro Leite, 27, e Rondinelly Guimarães, 23, estavam entre os 80 estudantes do Ciência sem Fronteiras que estavam no Canadá -há mais deles 30 na Austrália- e que foram chamados de volta ao Brasil por não terem atingido o nível de proficiência no inglês necessário para serem aceitos pela universidade de sua escolha. Os estudantes começaram a chegar no Brasil nesta semana.
Esses alunos foram selecionados pelo programa para cursar um período de sua graduação em uma universidade de Portugal. Mas o edital foi cancelado e eles foram transferidos para o Canadá, onde chegaram em setembro, para realizar seus estudos.
Weimer Carvalho/Folhapress
Rondinelly Guimarães, 23, bolsista do Ciência Sem Fronteiras, que retornou ao país
Rondinelly Guimarães, 23, bolsista do Ciência Sem Fronteiras, que retornou ao país
Como o nível de inglês desses estudantes era insuficiente para ingressar diretamente em uma universidade do Canadá, foi estabelecido, inicialmente, que eles fariam um curso de inglês até janeiro, quando realizariam testes. Os que não obtivessem a nota necessária continuariam o curso e fariam novo teste em março ou abril.
Os estudantes contam que houve apenas o primeiro teste, em meados de janeiro, e que aqueles que não obtiveram a nota tiveram a bolsa cortada e receberam a ordem de voltar ao Brasil.
"No começo foi um sonho, mas, depois de todas as injustiças, é como se tivéssemos recebido uma punhalada nas costas", diz Luana.
O momento mais tenso ocorreu em dezembro de 2013, quando a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) atrasou por quase um mês o pagamento das bolsas.
Após relatarem dificuldades financeiras, os estudantes receberam, em 4 de dezembro, um e-mail de Nathalí Rosado, coordenadora do CBIE, órgão que gerencia o programa no Canadá, dizendo: "Racionem a sua alimentação, mas não excessivamente (isto é, não cessem de comer)".
No mesmo e-mail, Rosado recomendou que os estudantes fossem ao banco de roupas e alimentos da Universidade de Toronto para receberem uma cesta de comida gratuita.
"Foi um período em que tivemos de racionar comida mesmo", diz Rondinelly. Luana e Rondinelly recorreram ao banco de alimentos mais de uma vez.
CRITÉRIO DE RETORNO
Ela conta que alunos da mesma turma que obtiveram notas idênticas àqueles que estão voltando continuarão no Canadá, estudando inglês até setembro.
Os estudantes questionam também a falta de critério para decidir sobre quem ficaria ou voltaria.
Documentos obtidos pela Folha mostram dois resultados dos testes realizados em janeiro, uma aluna que obteve a nota 56 no teste TOEFL IBT foi convocada pela Capes para retornar, enquanto um aluno que obteve a nota 45 no mesmo teste recebeu o aceite da Universidade de Toronto. A Capes disse que não discute casos de alunos específicos.
Rondinelly e Luana dizem considerar o programa positivo, apesar de tudo. "Mas não podemos ficar calados diante da falta de planejamento e de compromisso", diz Rondinelly.
Eles tentarão retomar a vida universitária no Brasil, mas como o semestre letivo já iniciou há dois meses, só devem conseguir retornasr às aulas em agosto. 

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...