Pouco antes das 4hs da tarde, eu postava no Academia.edu este meu trabalho abaixo referido:
“Brasil no Brics”, In: Jorge Tavares da Silva
(coord.), Brics e a Nova Ordem Internacional
(Casal de Cambra: Caleidoscópio;
Aveiro: Mare Liberum, 2015, 320 p.; ISBN: 978-989-658-279-1;
p. 71-115). Disponível no Academia.edu (links: https://www.academia.edu/10200076/108_Brasil_no_Brics_2015_ e https://www.academia.edu/attachments/36883658/download_file?s=work_strip).
Logo em seguinda, mais exatamente às 15:56hs, eu postava a informação neste blog, e depois anunciava no Facebook, embora não saiba dizer o efeito desta última ação. Pelo relatório, alguns acessos foram feitos pelo Facebook e outros por este blog, mas muitos diretamente no Academia.edu.
Consultando agora à noite (22:00hs) os acessos ao Academia.edu, pela ferramenta Analytics, constato agora que esse arquivo foi objeto de algumas dezenas de visitas, mais exatamente 113 no momento em que escrevo.
Parece que existe uma febre pelos Brics, ou talvez pelo Brasil, embora os dois termos podem despertar interesse.
Apenas para registrar a pequena febre, não curável por nenhum analgésico, transcrevo mais abaixo o Analytics por "Overview", apenas até as 21h49
No "Document View", esse arquivo já estava em segundo lugar, com as mesmas 113 visitas e 32 downloads, embora algumas visitas se referissem a uma versão anterior do texto, quando eu ainda não havia recebido o livro de Portugal.
Agradeço o interesse por este meu texto.
Paulo Roberto de Almeida
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
sábado, 7 de março de 2015
sexta-feira, 6 de março de 2015
Formacao do Diplomata Brasileiro - Rogerio S. Farias, Gessica Carmo
Filhos da democracia: a descarioquização da diplomacia brasileira, por Rogério de Souza Farias e Géssica Carmo
4 Votes
Em
1934, após uma longa viagem de trem, o médico João Guimarães Rosa
chegou ao Rio de Janeiro. Sentiu-se “estonteado com o ambiente
barulhento” e, depois, “com o luxo magnificente do [Palácio] Itamaraty.”
Ele estava no grande salão da biblioteca para prestar um concurso para o
cargo de cônsul com outros 58 candidatos. Na prova de francês, a
primeira etapa, pediu-se para traduzir trecho do livro Nouvelle Anthropologie,
de Henri de Lanteuil, e fazer uma versão do livro de João Ribeiro,
História do Brasil. Um candidato levantou e abandonou a prova. Parecia
impossível. Guimarães Rosa conseguiu chegar ao final, mas tinha certeza
que não passara. Saiu da prova e pegou uma barca no cais Pharoux. Ficou
indo e vindo de Niterói ao Rio de Janeiro, imerso em um profundo
sentimento de insegurança. O resultado saiu e 30 foram reprovados — mas
não ele. O mineiro passou nas sucessivas etapas, até as provas orais.
Presenciada por numerosa plateia, o médico demonstrou uma segurança e um
porte incomuns para evento de tal natureza. A reação de todos era de
pasmo. Era um desconhecido. Não frequentara os saraus literários do Rio
de Janeiro ou de São Paulo; tampouco, as redações de jornal ou as rodas
intelectuais da capital. Era, talvez, o único dos dez concorrentes
habilitados sem ter colocado os pés na Europa. Um amigo da família, que
esteve na plateia, relatou a reação dos examinadores: estavam comovidos,
atônitos e surpresos [1]. De onde saíra aquele talento?
O espanto com o fato de um médico que
vivia no interior de Minas Gerais ter desempenho tão expressivo no
concurso fazia sentido. A diplomacia era uma profissão predominantemente
de cariocas e de uma minoria das elites das capitais regionais. Essa
característica não foi monopólio brasileiro. A concentração social e
regional foi algo que afetou todos os serviços exteriores até pelo menos
o final da primeira metade do século XX. Nos Estados Unidos, entre 1898
e 1914, dois terços provinha da Costa Leste, tendo estudado em escolas
particulares, como Groton, ou/e em Harvard, Yale e Princeton. Em
Portugal, no serviço exterior salazarista (1926-1974), a maioria
provinha de Lisboa, com formação em direito em Coimbra; na Alemanha,
após a unificação, os diplomatas, em sua maioria, provinham de três das
211 fraternidades estudantis; na França, predominava a elite parisiense,
particularmente os mais ricos ou com parentes na cúpula do aparelho de
Estado. No Império austro-húngaro, havia um pouco mais de dispersão
geográfica, mas somente 6% não era aristocrata em 1914[2].
A maioria dos serviços exteriores mudou
substantivamente o padrão de seu recrutamento no século XX. O Brasil não
foi diferente. Dando continuidade à série “Filhos da Democracia”,
examinaremos o grupo de diplomatas que acedeu ao IRBr de 1985 a 2010 no
aspecto específico do local de nascimento. Antes de iniciar, no
entanto, deve-se levar em conta que, no período examinado, o país passou
por várias mudanças do ponto de vista federativo. Optou-se por utilizar
a distribuição existente em 2010, data final do marco temporal do
estudo.
A primeira informação relevante é que o
serviço exterior brasileiro foi caracterizado por uma elevada proporção
de cariocas em suas fileiras no início do período republicano. No
período Vargas (1930-1945), eles eram mais de 40%. Do governo Sarney
para o Governo Lula, contudo, a participação de diplomatas nascidos no
Rio de Janeiro passou por uma radical diminuição — caindo de 51% para
22%. Outra queda importante foi o número de servidores que nasceram no
exterior. Se utilizarmos tal categoria como uma proxy, ainda que
imperfeita, de filhos de diplomatas, pode-se dizer que o período
posterior ao quadriênio Collor/Itamar levou a uma carreira menos
endógena. As unidades da federação que mais avançaram, no mesmo período,
foram Minas Gerais e São Paulo, sendo a segunda um caso especialmente
relevante (ver tabela abaixo).
Tabela 1: Distribuição de diplomatas por estado de nascimento [3].
Outra forma de analisar essa mudança é
examinar pela categoria de cidade de nascimento (Mapa 1 e Tabela 2) [4].
Entre 1930-1945, há uma concentração tanto na região sudeste como na
fronteira sul do Rio Grande do Sul. Já nos governos Sarney e
Collor/Itamar, há uma concentração em poucas cidades. Seria só no
governo FHC que diminuiria o peso das capitais, tendência essa avançada
pelo governo Lula.
Tabela 2 e Mapa 1: Distribuição de diplomatas por cidade de nascimento.
Essa mudança no status relativo do
serviço exterior brasileiro, no entanto, não pode ser celebrada como uma
nova era de abertura do método de recrutamento. Uma forma de analisar
os dados é pelo filtro da distribuição regional. A desagregação dos
dados por esse critério (Tabela 3) demonstra que a participação da
região sudeste permaneceu praticamente a mesma. Há, certamente, uma
tendência de queda se compararmos com o período Sarney (de 62,96% para
59,85%), mas ainda está acima do período 1930-1945 (58,68%). Essa
situação vai de encontro com as tendências demográficas do país (Tabela
4), onde o sudeste ocupa somente 21,58% do contingente populacional – em
uma tendência levemente declinante. Enquanto demograficamente as
regiões norte e nordeste representam mais de 50% da população, há menos
de 15% de diplomatas oriundos dessas áreas, apesar do leve crescimento
no governo Lula.
Tabela 3: Distribuição de diplomatas por região de nascimento.
Tabela 4: Distribuição populacional do Brasil. Fonte: IBGE.
Examinar só por estado e cidade de
nascimento é uma análise incompleta. Há, no Brasil, relativa mobilidade
populacional. Pode haver casos, portanto, de pessoas nascidas em
determinadas cidades que tiveram toda sua vida estudantil e profissional
em outras localidades. Qual seria o impacto dessa situação na
concentração regional e estadual de diplomatas? A questão, aqui, é saber
identificar esse fluxo. Para formatar esses dados, foi criada uma
categoria compreendendo as cinco unidades da federação com maior
participação na carreira (Minas Gerais, Distrito Federal, Rio de
Janeiro, Rio Grande do Sul, São Paulo) mais o exterior. Com base nela,
foi feita uma tabela com a proporção, por período, de todos os
diplomatas que não nasceram e nem fizeram graduação nessas localidades
(Tabela 5). Antes de apresentá-la, é necessário considerar, primeiro,
que quase metade dos diplomatas do período 1930-1945 não tinham ensino
superior completo (ou a informação não foi reproduzida nos anuários).
Isso limita a comparabilidade deste período com os demais. Segundo, não
foram computadas atividades de pós-graduação e empregos anteriores da
posse — foi utilizada somente a graduação. Os resultados são chocantes.
Mesmo com a expansão do governo Lula, menos de 12% dos diplomatas
recrutados não nasceram e tampouco estudaram nessas seis localidades.
Isso quer dizer que um indivíduo nascido nas 22 unidades federativas
remanescentes que não fizesse pelo menos sua graduação em uma das
instituições de ensino superior dos cinco estados ou no exterior estaria
em grande desvantagem.
Tabela 5: proporção de diplomatas que
não nasceram e não cursaram o ensino superior em Minas Gerais, Distrito
Federal, Rio de janeiro, Rio Grande do Sul, São Paulo e exterior.
Isso é um problema. Enquanto,
demograficamente, ocupam 52% do contingente populacional brasileiro, os
oriundos desses estados enfrentam sérias dificuldades quando não se
dirigem para os centros de ensino nas grandes metrópoles do país.
Pode-se dizer, dessa maneira, que hoje a diplomacia brasileira
representa melhor a composição regional do país se comparado com aquele
momento em que Guimarães Rosa entrara no Itamaraty. Mas a concentração
ainda permanece em pessoas que nasceram ou estudaram em Minas Gerais,
Distrito Federal, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, São Paulo e/ou no
exterior. Transpor essa barreira é um grande desafio porque está
associada à própria desigualdade da infraestrutura educacional do país.
Não há dados padronizados do ensino superior, mas utilizando os da área
de humanas do Exame Nacional de Ensino Médio de 2013, nas variáveis
média por escola e percentual de alunos que tiraram notas mais altas,
percebemos que, das mais de 14.700 escolas de ensino médio do país,
poucas de fora do grupo selecionado (DF, MG, RJ, SP e RS) tem alto
padrão de desempenho.
Gráfico 1: médias das notas em
humanas e percentual de todos os alunos no Nível 5 do ENEM. Dados do
sítio eletrônico do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira. O tamanho de cada referência refere-se ao
número de alunos participantes por instituição de ensino médio.
No ensino superior, a situação é quase a
mesma. Utilizando os 192 primeiros colocados do Ranking Universitário da
Folha de São Paulo de 2014, observamos que 51% das instituições de
ensino superior estão concentradas no grupo de cinco estados
selecionados acima. Se utilizarmos o critério das vinte primeiras
colocadas, no entanto, a proporção chega a 75% [5]. O recrutamento do
Itamaraty, dessa forma, só reflete (e reforça) um problema mais amplo da
sociedade.
Mas o que fazer para dirimir esse
problema? Pensou-se, no final da década de 1950, que a realização das
provas para o Instituto Rio Branco em outros estados fosse ser um passo
importante na melhor distribuição regional dos diplomatas brasileiros.
Isso começou em 1961, com a realização da prova em sete cidades. Em 1995
foram dez, e em 2011, pela primeira vez, todas as fases do concurso
foram aplicadas em todas as capitais da federação. Infelizmente, a
realização das provas em um estado só teve impacto no recrutamento
quando a infraestrutura educacional dessa localidade permitiu a
apresentação de candidatos competitivos. Quando esse elemento não estava
disponível, não há evolução significativa – como a introdução das
provas em Cuiabá, Campo Grande e Manaus em 2005.
No final do governo Lula e no primeiro
mandato do governo Dilma Rousseff, há relatos sobre viagens de alguns
alunos do Instituto Rio Branco para acompanhar a execução das provas e
realizar palestras em instituições de ensino em capitais mais afastadas.
Não se tem notícia, contudo, se essa atividade continua sendo executada
e se teve algum impacto sobre o interesse de estudantes dessas
localidades pela carreira. Ademais, a iniciativa trabalha um aspecto
meritório, a divulgação, a qual infelizmente tem impactos limitados
sobre o tipo de problema apresentado acima – a carência de
infraestrutura educacional.
Nessa dimensão, cabe apresentar o papel
positivo que a Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG) desempenhou, no
período examinado, na tarefa de vulgarizar o conhecimento de matérias
cruciais para o bom desempenho no concurso. Essa pode ser uma via a ser
explorada no futuro. Pode-se cogitar, por exemplo, o uso de aulas
virtuais sobre aspectos relacionados ao concurso promovidas pela
Fundação, usando o canal já existente no Youtube. Pode-se questionar tal
iniciativa indicando que tal tarefa caberia ao setor privado.
Infelizmente, nas franjas dos grandes centros urbanos do país, há
escassa capacidade de o setor privado fazer oferta equivalente de
material de estudo. A inação, aqui, serviria somente para reforçar a
desigualdade. Mas isso não significa que o sistema atual seja ideal. Há a
necessidade de maior diálogo entre a diretoria do IRBr e a FUNAG, além
de estudos quantitativos mais adequados para identificar, com base nos
candidatos ao concurso, qual material pode ser melhorado e quais foram
julgados mais importantes.
Utilizar o modelo do atual Programa de
Ação Afirmativa de Bolsa-Prêmio de Vocação para as áreas geográficas
assinaladas acima seria uma proposta mais efetiva. Assim, a concessão de
bolsas para alunos promissores de regiões sem a capacidade
institucional de formar bons candidatos poderia dirimir o problema.
Ainda que os desafios analisados acima sejam consequência de uma
desigualdade geral da sociedade brasileira em termos regionais, uma
política de bolsas seria um mecanismo para o Itamaraty ser novamente
surpreendido pelos Guimarães Rosas de todos os rincões do país.
Referências:
- Bruley, Yves e Soutou, Georges-Henri. Le Quai d’Orsay impérial: histoire du Ministère des Affaires étrangères sous Napoléon III. Paris: Editions A. Pedone, 2012.
- Cecil, Lamar. The German diplomatic service, 1871-1914. Princeton, N.J.: Princeton University Press, 1976.
- Godsey Jr., William D. The culture of diplomacy and reform in the Austro-Hungarian foreign office, 1867-1914. In: Mosslang, Markus e Riotte, Torsten. The diplomat’s world: a cultural history of diplomacy, 1815-1914. Oxford: Oxford University Press, 2008. p. 59-81.
- Heinrichs, Waldo H. American ambassador: Joseph C. Grew and the development of the United States diplomatic tradition. New York: Oxford University Press, 1986.
- Moskin, J. Robert. American statecraft: the story of the U.S. foreign service. New York: St. Martin’s Press, 2013.
- Oliveira, Pedro Aires. O corpo diplomático e o regime autoritário (1926-1974). Análise social, n. 178, p. 145-66. 2006.
- Rosa, Vilma Guimarães. João Guimarães Rosa, meu pai. 2ª edição: Nova Fronteira, 1999.
[1] Rosa: 1999, 311; Atas do concurso
para terceiro oficial (1934). Concursos, relatórios, resultados finais.
Lata 580. Maço 1. AHI-RJ. Maço 13.120. AHI-RJ.
[2] Moskin: 2013, 342; Heinrichs: 1986, 97; Oliveira: 2006; Bruley e
Soutou: 2012, 338-48; Godsey Jr.: 2008, 17; Cecil: 1976, 64 e 79[3] No período 1930-1945, estão na categoria diplomatas os servidores das carreiras consular e de Secretaria de Estado e não se diferenciou o Rio de Janeiro do Distrito Federal.
[4] Na Tabela 2 foram selecionadas as cidades que em qualquer dos cinco casos tivesse pelo menos 1,5% dos diplomatas no respectivo período.
[5] http://ruf.folha.uol.com.br/2014/. Acesso em: 2 de março de 2015.
Todos os dados quantitativos foram retirados da base de dados referida no primeiro artigo da série “Filhos da Democracia”.
Rogério de Souza Farias is visiting
scholar do Lemann Institute for Brazilian Studies e associate do Center
for Latin American Studies da Universidade de Chicago, Estados Unidos
(rofarias@gmail.com)
Géssica Carmo é Bacharelanda em
Relações Internacionais pela Universidade Federal de Uberlândia – UFU
(gessicafdcarmo@gmail.com)
O Brasil no Brics: capítulo em novo livro - Paulo Roberto de Almeida
Acabo de receber este livro:
Participei com um capítulo sobre o Brasil, de acordo com a ficha abaixo:
Participei com um capítulo sobre o Brasil, de acordo com a ficha abaixo:
Brasil
Hartford, 16 Abril 2014, 33 p. Contribuição
à obra: Jorge Tavares da Silva (coord.), Brics
e a Nova Ordem Internacional, a ser publicada em Portugal. Revisão em 21/07/2014, para acomodar informação sobre a cúpula
dos Brics em Fortaleza, com a criação de um banco do grupo, bem como de um
mecanismo de reservas contingentes; atualização geral das tabelas, total: 44
p.; revisão formal, atualização de dados: 16/01/2015.
Publicado In:
Jorge
Tavares da Silva (coord.):
Brics e a Nova
Ordem Internacional
(Casal de Cambra: Caleidoscópio; Aveiro: Mare Liberum, 2015, 320 p.; ISBN:
978-989-658-279-1; p. 71-115).
Relação de Originais n. 2600; Relação de Publicados n. 1162.
Disponível no Academia.edu (links: https://www.academia.edu/10200076/108_Brasil_no_Brics_2015_
e
quinta-feira, 5 de março de 2015
Renuncia voluntaria em lugar de impeachment? Ou tera' de ser "renunciada"? Oh duvida cruel...
Entrando por acaso nas estatísticas de visita deste meu modesto blog, deparo com estas estatísticas do período recente:
Ou seja, o interesse pelo tema da renúncia da soberana, em lugar de ser apeada do poder por um processo de impeachment, parece ter despertado a curiosidade desse pessoalzinho que anda por aí, em busca de alguma novidade.
Pois é, novidades existem muitas, pois o Brasil anda de crise em crise, sem que se saiba exatamente para onde ele vai. Provavelmente para lugar nenhum, pois ninguém se entende sobre o que deve ser feito, e não existem estadistas neste país.
Mas, eu entendo que muita gente que anda por aí, que gostaria de continuar mandando, não está nada satisfeito com a situação atual. Daí ter surgido essa história de renúncia, na própria fonte do mal, isto é, do mesmo pessoalzinho sedento de poder que não pretende renunciar ao próprio.
Daí que eles estejam talvez pensando em apear a incompetente fazendo-a renunciar.
Como aquele pobre procurador argentino, que foi suicidado, no nossa caso, ela seria renunciada.
Será que cola?
A ver...
Paulo Roberto de Almeida
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Feb 28, 2015,
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88
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Ou seja, o interesse pelo tema da renúncia da soberana, em lugar de ser apeada do poder por um processo de impeachment, parece ter despertado a curiosidade desse pessoalzinho que anda por aí, em busca de alguma novidade.
Pois é, novidades existem muitas, pois o Brasil anda de crise em crise, sem que se saiba exatamente para onde ele vai. Provavelmente para lugar nenhum, pois ninguém se entende sobre o que deve ser feito, e não existem estadistas neste país.
Mas, eu entendo que muita gente que anda por aí, que gostaria de continuar mandando, não está nada satisfeito com a situação atual. Daí ter surgido essa história de renúncia, na própria fonte do mal, isto é, do mesmo pessoalzinho sedento de poder que não pretende renunciar ao próprio.
Daí que eles estejam talvez pensando em apear a incompetente fazendo-a renunciar.
Como aquele pobre procurador argentino, que foi suicidado, no nossa caso, ela seria renunciada.
Será que cola?
A ver...
Paulo Roberto de Almeida
Historia Global em debate: métodos, historiografia e estudos de casos - Simposio Nacional da Anpuh (Flops, 29-31/07/2015)
Simpósio Nacional de História
a realizar-se de 27 a 31 de julho de 2015, em Florianópolis, SC.
Veja aqui a página inicial do evento: www.snh2015.anpuh.org
Uma das palestras, a cargo de uma brasilianista dubitativa, no dia 29, coloca em dúvida, justamente, a própria realidade, hoje, desse conceito:
Sou ainda uma Brazilianist?
Barbara Weinstein (New York University)
Mediador: Alexandre Fortes (UFRRJ)
Tomando como ponto de partida o tema do simpósio – Lugares do historiador: novos e velhos desafios
– proponho revisitar e repensar a categoria de “Brazilianist.” A
palavra significa não apenas o historiador que estuda o Brasil, mas
também um pesquisador cujo “lugar” é situado fora do Brasil (na grande
maioria dos casos, nos Estados Unidos). Seguindo a chamada “standpoint
theory,” knowledge is “socially situated” – a posição do intelectual não
só cria certa “ótica”, mas também empresta a certos saberes um maior
prestígio e autoridade. Deixando ao lado as várias críticas desta
teoria, podemos notar que, começando nos anos setenta, a noção do
Brazilianist correspondia a esta proposta teórica. O “Brazilianist” não
era simplesmente um historiador do Brasil radicado nos Estados Unidos,
mas alguém cuja abordagem refletia a sua localização e alguém que podia
aproveitar do seu lugar relativamente privilegiado no mundo do saber
(independente da qualidade da obra produzida). Na palestra pretendo
questionar a validez do conceito do “Brazilianist” entre historiadores
no momento atual, levando em conta as mudanças no mundo acadêmico
brasileiro, a formação de redes de colaboração e intercambio que
trasbordam as fronteiras nacionais, e o surgimento do viés transnacional
na profissão de história, entre outros fatores.
Mas, o simpósio temático que me chamou a atenção foi este aqui:
007. A História Global em debate: métodos, historiografia e estudos de casos |
| Coordenadores: JOÃO JÚLIO GOMES DOS SANTOS JÚNIOR (Doutor(a) - Universidade Federal de Pelotas), MONIQUE SOCHACZEWSKI GOLDFELD (Doutor(a) - CPDOC-FGV) |
Resumo: A proposta deste Simpósio Temático é discutir a Global
History enquanto uma tendência histográfica que se apresenta como uma
alternativa metodológica ao historiador. Entre as principais
características dessa corrente estão o alargamento da unidade de
análise, superando o tradicional uso do Estado-Nação, e pesquisas que
privilegiam perspectivas não eurocêntricas. Nosso intuito é discutir
tanto questões teóricas e metodológicas (diferenças entre histórias
conectadas, cruzadas, transnacionais, mundiais, globais, etc.) como
também estudos de casos. Nesse sentido, incentivamos a apresentação de
pesquisas históricas das mais variadas temáticas que discutam os séculos
XIX e XX enfatizando as articulações entre os espaços globais, desde as
Américas, Oriente Médio, Subcontinente Asiático e África com suas
distintas relações com a Europa, e eventualmente entre si. Papers
written in English are particularly welcome.
Justificativa: As tradições historiográficas baseadas na
perspectiva eurocêntrica e centradas no Estado-Nação passaram a ser
problematizadas a partir de questões históricas tais como os movimentos
de descolonização, a queda do Muro de Berlim, o fim da Guerra Fria e o
desmantelamento da União Soviética. Todos esses processos foram
acompanhados por uma percepção de aceleração do tempo histórico em uma
ascendente globalização. De acordo com Georg Iggers (2010), é necessário
uma nova forma de escrita da história que compreenda as atuais
condições de vida, que se diferenciam daquelas pré-1989.
Há diversas respostas historiográficas a essa questão. Cada uma delas está inserida em uma lógica de disputa de campo acadêmico (BARROS, 2014). Há aqueles que defendem a chamada Connected Histories (SUBRAHMANYAM, 1997; GRUZINSKI, 2001; 2012; HARTOG, 2013); outros consideram que a melhor alternativa é a Histoire Cruzée (WERNER; ZIMMERMANN, 2006). A discussão só aumenta quando se procura diferenciar a Global History, World History e a Transnational History (VENGOA, 2009; FICKER, 2014); ou ainda quando se procura articular a micro-história com a macro-história através das variações de escala (REVEL, 2010).
Por mais que todas essas tendências possuam distinções entre si, seja narrativas, metodológicas ou temáticas, todas compartilham da necessidade de ampliar os objetos de análise para além do Estado-Nação e escapar do eurocentrismo. Dessa forma, concordamos com Jürgen Kocka (2012), que considera que a Global History oferece uma alternativa historiográfica ao buscar objetos de pesquisa capazes de estabelecer relações além fronteiras, assim como conexões transnacionais nos seus mais variados conteúdos temáticos, tais como história da globalização, migrações, ambiental, saúde, leis, etc.
Nos últimos vinte e cinco anos acompanhamos o surgimento de uma série de estudos que priorizaram um enfoque global e mundial, com ênfase em objetos transnacionais, cruzados, conectados e relacionais. Por mais que essas correntes historiográficas apresentem diferenciações entre si, de uma maneira geral todas estão preocupadas com a ampliação dos objetos de análise. Esse alargamento tem por finalidade romper com a tradicional unidade do Estado-Nação e oferecer uma interpretação alternativa ao eurocentrismo.
Assim, a proposta deste Simpósio Temático é congregar tanto trabalhos capazes de refletir teórica e metodologicamente essas mudanças, como também estudos de casos que consigam articular diferentes espaços e temáticas históricas. Acreditamos que essa proposta é salutar e pode se tornar um interessante espaço de discussão não apenas neste encontro nacional de História em Florianópolis, mas também em muitos outros e, quem sabe, tornar-se uma referência para reflexão desses temas.
É fato ainda que a revolução corrente no acesso a fontes digitais de pesquisa em todo o globo, levanta ainda questões quanto a natureza das fontes e formas de pesquisa, relevantes no âmbito do debate sobre o fazer da chamada Global History (ARMITAGE; GULDI, 2014; MAZLISH; IRIYE, 2004). Bibliografia: ARMITAGE, David; GULDI, Jo. The History Manifesto. Cambridge: Cambridge University Press, 2014.
BARROS, José D’Assunção. História Comparada. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014.
FICKER, Sandra Kuntz. “Mundial, trasnacional, global: Un ejercicio de clarificación conceptual de los estudios globales”. IN: Nuevo Mundo Mundos Nuevos [En ligne], Débats, mis en ligne le 27 mars 2014.
GRUZINSKI, Serge. “Os mundos misturados da monarquia católica e outras connected histories”. IN: Topoi, Rio de Janeiro, mar. 2001, p. 175-195.
GRUZINSKI, Serge. Que horas são...lá, no outro lado? América e Islã no limiar da época moderna. Belo Horizonte: Autêntica, 2012.
HARTOG, François. "Experiência do tempo: da história universal à história global?". IN: história, histórias. Brasília, vol. 1, n. 1, 2013. p. 164-179.
IGGERS, Georg. "Desafios do século XXI à historiografia". IN: História da Historiografia. Ouro Preto, n. 4, mar/10, p. 105-124.
KOCKA, Jürgen. "Global History: Opportunities, Dangers, Recent Trends". IN: CULTURE & HISTORY DIGITAL JOURNAL 1(1) June 2012. p. 1-6.
MAZLISH, Bruce; IRIYE, Akira. The Global History Reader. New York: Routledge, 2004.
REVEL, Jacques. "Micro-história, macro-história: o que as variações de escala ajudam a pensar em um mundo globalizado". IN: Revista Brasileira de Educação, v. 15 n. 45 set./dez. 2010. p. 434-444.
SUBRAHMANYAM, Sanjay. “Connected Histories: Notes towards a Reconiguration of Ear& Modern Eurasia”. IN: Modern Asian Studies 31, 3 (1997), pp. 735-762.
VENGOA, Hugo Fazio. "La historia global y su conveniencia para el estudio del pasado y del presente". IN: HISTORIA CRITICA EDICIÓN ESPECIAL, BOGOTÁ, NOVIEMBRE 2009, p. 300-319.
Werner, M., Zimmermann, B. “Beyond comparison: Histoire croisée and the challenge of reflexivity”. IN: History and Theory, 45: 30–50. (2006).
Há diversas respostas historiográficas a essa questão. Cada uma delas está inserida em uma lógica de disputa de campo acadêmico (BARROS, 2014). Há aqueles que defendem a chamada Connected Histories (SUBRAHMANYAM, 1997; GRUZINSKI, 2001; 2012; HARTOG, 2013); outros consideram que a melhor alternativa é a Histoire Cruzée (WERNER; ZIMMERMANN, 2006). A discussão só aumenta quando se procura diferenciar a Global History, World History e a Transnational History (VENGOA, 2009; FICKER, 2014); ou ainda quando se procura articular a micro-história com a macro-história através das variações de escala (REVEL, 2010).
Por mais que todas essas tendências possuam distinções entre si, seja narrativas, metodológicas ou temáticas, todas compartilham da necessidade de ampliar os objetos de análise para além do Estado-Nação e escapar do eurocentrismo. Dessa forma, concordamos com Jürgen Kocka (2012), que considera que a Global History oferece uma alternativa historiográfica ao buscar objetos de pesquisa capazes de estabelecer relações além fronteiras, assim como conexões transnacionais nos seus mais variados conteúdos temáticos, tais como história da globalização, migrações, ambiental, saúde, leis, etc.
Nos últimos vinte e cinco anos acompanhamos o surgimento de uma série de estudos que priorizaram um enfoque global e mundial, com ênfase em objetos transnacionais, cruzados, conectados e relacionais. Por mais que essas correntes historiográficas apresentem diferenciações entre si, de uma maneira geral todas estão preocupadas com a ampliação dos objetos de análise. Esse alargamento tem por finalidade romper com a tradicional unidade do Estado-Nação e oferecer uma interpretação alternativa ao eurocentrismo.
Assim, a proposta deste Simpósio Temático é congregar tanto trabalhos capazes de refletir teórica e metodologicamente essas mudanças, como também estudos de casos que consigam articular diferentes espaços e temáticas históricas. Acreditamos que essa proposta é salutar e pode se tornar um interessante espaço de discussão não apenas neste encontro nacional de História em Florianópolis, mas também em muitos outros e, quem sabe, tornar-se uma referência para reflexão desses temas.
É fato ainda que a revolução corrente no acesso a fontes digitais de pesquisa em todo o globo, levanta ainda questões quanto a natureza das fontes e formas de pesquisa, relevantes no âmbito do debate sobre o fazer da chamada Global History (ARMITAGE; GULDI, 2014; MAZLISH; IRIYE, 2004). Bibliografia: ARMITAGE, David; GULDI, Jo. The History Manifesto. Cambridge: Cambridge University Press, 2014.
BARROS, José D’Assunção. História Comparada. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014.
FICKER, Sandra Kuntz. “Mundial, trasnacional, global: Un ejercicio de clarificación conceptual de los estudios globales”. IN: Nuevo Mundo Mundos Nuevos [En ligne], Débats, mis en ligne le 27 mars 2014.
GRUZINSKI, Serge. “Os mundos misturados da monarquia católica e outras connected histories”. IN: Topoi, Rio de Janeiro, mar. 2001, p. 175-195.
GRUZINSKI, Serge. Que horas são...lá, no outro lado? América e Islã no limiar da época moderna. Belo Horizonte: Autêntica, 2012.
HARTOG, François. "Experiência do tempo: da história universal à história global?". IN: história, histórias. Brasília, vol. 1, n. 1, 2013. p. 164-179.
IGGERS, Georg. "Desafios do século XXI à historiografia". IN: História da Historiografia. Ouro Preto, n. 4, mar/10, p. 105-124.
KOCKA, Jürgen. "Global History: Opportunities, Dangers, Recent Trends". IN: CULTURE & HISTORY DIGITAL JOURNAL 1(1) June 2012. p. 1-6.
MAZLISH, Bruce; IRIYE, Akira. The Global History Reader. New York: Routledge, 2004.
REVEL, Jacques. "Micro-história, macro-história: o que as variações de escala ajudam a pensar em um mundo globalizado". IN: Revista Brasileira de Educação, v. 15 n. 45 set./dez. 2010. p. 434-444.
SUBRAHMANYAM, Sanjay. “Connected Histories: Notes towards a Reconiguration of Ear& Modern Eurasia”. IN: Modern Asian Studies 31, 3 (1997), pp. 735-762.
VENGOA, Hugo Fazio. "La historia global y su conveniencia para el estudio del pasado y del presente". IN: HISTORIA CRITICA EDICIÓN ESPECIAL, BOGOTÁ, NOVIEMBRE 2009, p. 300-319.
Werner, M., Zimmermann, B. “Beyond comparison: Histoire croisée and the challenge of reflexivity”. IN: History and Theory, 45: 30–50. (2006).
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Se eu tivesse tempo, prepararia um trabalho sobre as interações recíprocas entre história global e a escola acadêmica multidisplinar da "economia-mundo", muito influenciada por braudelianos, arrighianos e wallersteinianos...
Tenho algo a dizer em torno desses conceitos e dos trabalhos conduzidos sob suas ferramentas, métidos e abordagens.
Mas vai provavelmente ficar para uma outra ocasião.
Paulo Roberto de Almeida
Russia/Leviatan (filme): a parabola (mas que nao tem fim) do Estado opressor e corrupto
"Leviatã" - a longa tragédia da sociedade russa
O Observador, 4/03/2015
Mais do que um mero libelo “anti-Putin”, o filme “Leviatã”, de Andrei Zyvagintsev, é uma história feia e bruta sobre os atavismos políticos, culturais e sociais da Rússia, da corrupção ao fatalismo,
A mídia, com a televisão à cabeça, têm o mau hábito de reduzir uma obra de arte a um estereótipo, simplificando-a numa frase ou numa etiqueta para consumo coletivo e retirando-lhe assim a riqueza, os significados e a complexidade. A mais recente vítima desta tendência é “Leviatã”, a quarta longa-metragem do cineasta russo Andrei Zyvagintsev, rotulado como “o filme anti-Putin”.
Nada mais confrangedor e reducionista do que limitar a um libelo contra o atual ocupante do Kremlin o que é na realidade um filme sobre os trágicos atavismos culturais, políticos e sociais da Rússia – a corrupção de alto a baixo e do centro às periferias, a tirania tentacular do Estado, a promiscuidade da Igreja Ortodoxa com o poder, os vasos comunicantes deste com o mundo do crime, o peso da burocracia e a força dos tiranetes locais, a impotência do cidadão comum perante a arbitrariedade pública, o embrutecimento da sociedade pela bebida, o fatalismo da sociedade civil –, que Zyvagintsev ilustra através de história sobre a eterna impotência do cidadão russo perante a arbitrariedade estatal, perante o peso e a força de um monstro. Um leviatã que já se chamou czarismo e depois comunismo, e que se mantém com as roupagens de um novo regime, com novas caras e a mesma velha indiferença e prepotência para com as pessoas comuns.
Putin é apenas mais um, aquele que controla o monstro nesta altura, como o realizador mostra na sequência em que o protagonista e a sua família e amigos vão fazer um piquenique de aniversário na natureza, que consiste essencialmente em beber vodka e fazer tiro ao alvo. Primeiro, a garrafas da bebida nacional, depois às fotografias dos homens que lideraram o país quando ainda se chamava União Soviética, e a seguir no pós-comunismo. O leviatã do sistema sobrevive aos seus líderes, e resta aos governados disparar contra os seus retratos, para cevar toda a raiva, revolta e impotência que os amarfanha por dentro
Este filme de Andrei Zyvagintsev é, no entanto, mais explicitamente “contra” o regime do que a sua obra de estreia, o magnífico e enigmaticamente alegórico “O Regresso”, que revelou o cineasta ao mundo vencendo o Festival de Veneza em 2003. Bem como a sua realização anterior, “Elena” (2011), que, pela subtileza na descrição das desigualdades e injustiças da atual sociedade russa, alguns poderão com toda a legitimidade preferir a este mais óbvio e demonstrativo “Leviatã” (são claros os paralelos feitos por Zyvagintsev com a narrativa bíblica de Job, só que no final do filme, o seu herói, Kolia, em vez de ser recompensado pelo sofrimento que lhe foi infligido, é ainda mais implacavelmente martirizado).
Ironicamente, o realizador foi inspirar-se num fato real ocorrido em 2004 nos EUA (revoltado contra a Câmara Municipal da cidade onde vivia na sequência de um contencioso sobre terrenos, um homem meteu-se num tanque, destruiu vários edifícios públicos e depois suicidou-se) para escrever, com Oleg Negin, “Leviatã”, que ganhou o Prémio de Melhor Argumento no Festival de Cannes, o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro e esteve candidato ao Óscar na mesma categoria
Kolia ( Aleksei Serebryako, em estupenda atuação), um mecânico, vive e trabalha numa casa com vista para o Mar de Barents, que pertence à sua família há várias gerações. O mafioso presidente da câmara local cobiça o terreno e procura expropriar Kolia e a família manipulando a polícia e os tribunais e obrigando-o a aceitar uma indenização ridícula, para, suspeita este, construir uma mansão luxuosa para si ou especular no mercado imobiliário com os seus capangas do meio da construção civil. Kolia recorre a um velho amigo e camarada da tropa, Dimitri, advogado em Moscou. Este recorre aos seus conhecimentos na capital, compila um dossier com todos os podres do autarca, e confronta-o com ele. Só que nem este se deixa intimidar, como também Dimitri se envolve de forma imprudente com a mulher de Kolia. E tudo o que pode acontecer de mau, acontece.
A Rússia que Andrei Zyvagintsev aqui filma é uma terra de homens e mulheres corruptos, desesperados, comprados ou resignados, onde a revolta é um gesto inútil que a máquina da burocracia, o peso do dinheiro ou a violência dos poderosos se encarregam de neutralizar, e onde toda a gente bebe vodka até ao entorpecimento.
Mais do que um filme pessimista, “Leviatã” é um filme fatalista. E é um fatalismo pesado, ancestral, enraizado, profundamente russo, sem solução nem redenção, muito embora o realizador tenha dito que queria que “Leviatã” fosse também entendido como “uma parábola universal” sobre a batalha do indivíduo contra a omnipotência do Estado. Só que na Rússia essa batalha continua, século atrás de século, regime após regime, a ser trágica e repetidamente inglória.
(O Observador)
O Observador, 4/03/2015
Mais do que um mero libelo “anti-Putin”, o filme “Leviatã”, de Andrei Zyvagintsev, é uma história feia e bruta sobre os atavismos políticos, culturais e sociais da Rússia, da corrupção ao fatalismo,
A mídia, com a televisão à cabeça, têm o mau hábito de reduzir uma obra de arte a um estereótipo, simplificando-a numa frase ou numa etiqueta para consumo coletivo e retirando-lhe assim a riqueza, os significados e a complexidade. A mais recente vítima desta tendência é “Leviatã”, a quarta longa-metragem do cineasta russo Andrei Zyvagintsev, rotulado como “o filme anti-Putin”.
Nada mais confrangedor e reducionista do que limitar a um libelo contra o atual ocupante do Kremlin o que é na realidade um filme sobre os trágicos atavismos culturais, políticos e sociais da Rússia – a corrupção de alto a baixo e do centro às periferias, a tirania tentacular do Estado, a promiscuidade da Igreja Ortodoxa com o poder, os vasos comunicantes deste com o mundo do crime, o peso da burocracia e a força dos tiranetes locais, a impotência do cidadão comum perante a arbitrariedade pública, o embrutecimento da sociedade pela bebida, o fatalismo da sociedade civil –, que Zyvagintsev ilustra através de história sobre a eterna impotência do cidadão russo perante a arbitrariedade estatal, perante o peso e a força de um monstro. Um leviatã que já se chamou czarismo e depois comunismo, e que se mantém com as roupagens de um novo regime, com novas caras e a mesma velha indiferença e prepotência para com as pessoas comuns.
Putin é apenas mais um, aquele que controla o monstro nesta altura, como o realizador mostra na sequência em que o protagonista e a sua família e amigos vão fazer um piquenique de aniversário na natureza, que consiste essencialmente em beber vodka e fazer tiro ao alvo. Primeiro, a garrafas da bebida nacional, depois às fotografias dos homens que lideraram o país quando ainda se chamava União Soviética, e a seguir no pós-comunismo. O leviatã do sistema sobrevive aos seus líderes, e resta aos governados disparar contra os seus retratos, para cevar toda a raiva, revolta e impotência que os amarfanha por dentro
Este filme de Andrei Zyvagintsev é, no entanto, mais explicitamente “contra” o regime do que a sua obra de estreia, o magnífico e enigmaticamente alegórico “O Regresso”, que revelou o cineasta ao mundo vencendo o Festival de Veneza em 2003. Bem como a sua realização anterior, “Elena” (2011), que, pela subtileza na descrição das desigualdades e injustiças da atual sociedade russa, alguns poderão com toda a legitimidade preferir a este mais óbvio e demonstrativo “Leviatã” (são claros os paralelos feitos por Zyvagintsev com a narrativa bíblica de Job, só que no final do filme, o seu herói, Kolia, em vez de ser recompensado pelo sofrimento que lhe foi infligido, é ainda mais implacavelmente martirizado).
Ironicamente, o realizador foi inspirar-se num fato real ocorrido em 2004 nos EUA (revoltado contra a Câmara Municipal da cidade onde vivia na sequência de um contencioso sobre terrenos, um homem meteu-se num tanque, destruiu vários edifícios públicos e depois suicidou-se) para escrever, com Oleg Negin, “Leviatã”, que ganhou o Prémio de Melhor Argumento no Festival de Cannes, o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro e esteve candidato ao Óscar na mesma categoria
Kolia ( Aleksei Serebryako, em estupenda atuação), um mecânico, vive e trabalha numa casa com vista para o Mar de Barents, que pertence à sua família há várias gerações. O mafioso presidente da câmara local cobiça o terreno e procura expropriar Kolia e a família manipulando a polícia e os tribunais e obrigando-o a aceitar uma indenização ridícula, para, suspeita este, construir uma mansão luxuosa para si ou especular no mercado imobiliário com os seus capangas do meio da construção civil. Kolia recorre a um velho amigo e camarada da tropa, Dimitri, advogado em Moscou. Este recorre aos seus conhecimentos na capital, compila um dossier com todos os podres do autarca, e confronta-o com ele. Só que nem este se deixa intimidar, como também Dimitri se envolve de forma imprudente com a mulher de Kolia. E tudo o que pode acontecer de mau, acontece.
A Rússia que Andrei Zyvagintsev aqui filma é uma terra de homens e mulheres corruptos, desesperados, comprados ou resignados, onde a revolta é um gesto inútil que a máquina da burocracia, o peso do dinheiro ou a violência dos poderosos se encarregam de neutralizar, e onde toda a gente bebe vodka até ao entorpecimento.
Mais do que um filme pessimista, “Leviatã” é um filme fatalista. E é um fatalismo pesado, ancestral, enraizado, profundamente russo, sem solução nem redenção, muito embora o realizador tenha dito que queria que “Leviatã” fosse também entendido como “uma parábola universal” sobre a batalha do indivíduo contra a omnipotência do Estado. Só que na Rússia essa batalha continua, século atrás de século, regime após regime, a ser trágica e repetidamente inglória.
(O Observador)
CPI da Petralhabras: o roteiro de perguntas de O Antagonista
Êta site intrometido. Mas de uma coisa tenho certeza: os bandidos vão ficar calados, querem apostar?
Paulo Roberto de Almeida
Para agilizar o trabalho da CPI
O Antagonista - Brasil
A CPI da Petrobras aprovou a convocação de Graça Foster, Nestor Cerveró, José Sergio Gabrielli, Renato Duque, Pedro Barusco e Alberto Youssef. Para agilizar o trabalho dos parlamentares, sugerimos que:
a) Pergunte-se a Graça Foster sobre as circunstâncias da sua saída da Petrobras, tendo como base a reportagem da Bloomberg que conta como Dilma Rousseff mandou desobedecer a lei e esconder as perdas da Petrobras; como a então presidente da empresa não conseguiu demitir o subordinado Sergio Machado, homem de Renan Calheiros, da presidência da Transpetro; e como Dilma Rousseff ficou contrariada quando ela, Graça Foster, quis colocar as empreiteiras do petrolão na geladeira
b) Indague-se Nestor Cerveró sobre se o Conselho de Administração da Petrobras, na ocasião presidido por Dilma Rousseff, realmente não tinha dados suficientes para brecar a compra da refinaria de Pasadena, um dos piores negócios da história do capitalismo mundial
c) Repita-se, no caso de José Sergio Gabrielli, o mesmo questionamento feito a Nestor Cerveró e se pergunte ao antecessor de Graça Foster sobre as empresas de fachada usadas para construir boa parte do gasoduto Gasene
d) Inquira-se Renato Duque sobre cada uma das propinas por ele recebidas, de acordo com os depoimentos da delação premiada de Pedro Barusco, seu ex-subordinado na Petrobras, e como ele repassava parte delas a petistas graúdos, incluindo José Dirceu. Duque poderá dar ainda informações preciosas sobre João Vaccari Neto, o Moch, tesoureiro do PT
e) Solicite-se a Pedro Barusco que faça um resumo da sua delação premiada, com a contabilidade das propinas que recebeu para ele próprio, Renato Duque e demais corruptos
f) Peça-se a Alberto Youssef que, além de enumerar o quanto pagou a cada político, nomeando-os, conte a negociata entre o banqueiro André Esteves e a BR Distribuidora. Além disso, que ele pormenorize o que disse na sua delação premiada sobre Lula e Dilma saberem do esquema de corrupção na Petrobras
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