quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Bolsonaro mantém apoio a Ernesto e resiste à pressão por troca no Itamaraty - Hanrrikson de Andrade e Luciana Amaral (UOL notícias)

 Bolsonaro mantém apoio a Ernesto e resiste à pressão por troca no Itamaraty

Hanrrikson de Andrade e Luciana Amaral
Do UOL, em Brasília, 12/11/2020 04h00
https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2020/11/12/bolsonaro-mantem-apoio-a-ernesto-e-resiste-a-pressao-por-troca-no-itamaraty.htm

Se depender do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o revés de Donald Trump nos Estados Unidos não será motivo para queda do chanceler Ernesto Araújo, de acordo com auxiliares do governo ouvidos pela reportagem.

O Executivo tem sido pressionado por membros da diplomacia brasileira e estrangeira a trocar o comando do Itamaraty. O lobby conta com o endosso de militares de alto escalão, insatisfeitos com a postura com fortes características ideológicas do ministro. O mesmo tem ocorrido com o chefe da pasta do Meio Ambiente, Ricardo Salles, principalmente nos assuntos referentes à Amazônia.

O argumento apresentado pelos diplomatas, segundo o UOL apurou, é o da eventual necessidade de um "realinhamento estratégico" junto à comunidade internacional. Isso porque a política do Itamaraty, tanto na costura de parcerias comerciais como no pareamento ideológico, muito influenciada pela admiração de Bolsonaro por Trump —derrotado nas urnas pelo democrata Joe Biden.

Além disso, a imagem do Brasil no exterior foi desgastada pela crise ambiental que o país atravessa, com as queimadas na Amazônia e no Pantanal, o desmatamento em expansão e a sucessão de polêmicas criadas nos primeiros dois anos de governo Bolsonaro (a exemplo do discurso na ONU, que teve mentiras e dados imprecisos).

Essa pressão, no entanto, tem surtido até agora efeito contrário. Desde a confirmação da derrota do republicano na disputa com Biden, Bolsonaro tem manifestado nos bastidores apoio ao trabalho do chanceler.

O presidente dá crédito a Ernesto Araújo e considera meritória a aproximação entre os governos brasileiro e norte-americano nos últimos anos.

Na visão dele, o Itamaraty "fez um golaço" ao construir uma aliança forte com Trump e, pelo menos por enquanto, o fracasso da reeleição não tiraria o que o presidente chama de "brilho" do auxiliar.

Além disso, Ernesto Araújo conta com a defesa irrestrita de olavistas —como Filipe G. Martins (assessor especial da Presidência para assuntos internacionais) e dos filhos do presidente, sobretudo o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) —a quem Bolsonaro costuma dar ouvidos quando se trata de relações com os Estados Unidos e de política externa.

Procurado pelo UOL para comentar a situação de Araújo, o líder do governo no Congresso, senador Eduardo Gomes (MDB-TO), disse que qualquer mudança na Esplanada dos Ministérios cabe somente ao presidente da República

"Não é, Ernesto?"

Um interlocutor do presidente ouvido pela reportagem acredita que a declaração de Bolsonaro de proteger a Amazônia com pólvora indica que o movimento "anti-Araújo" não deve prosperar. Pelo menos não até que a Justiça americana comece se a posicionar a respeito das denúncias de supostas fraudes no sistema eleitoral feitas por Trump.

Em evento oficial no Palácio do Planalto, na terça, Bolsonaro afirmou que, em certas ocasiões, "apenas diplomacia não dá". "Quando acaba a saliva, tem que ter pólvora", completou. Entre uma frase e outra, o presidente se dirigiu a seu chanceler.

"Não é, Ernesto?".

Embora não tenha citado nominalmente Biden, Bolsonaro se referia ao presidente eleito dos EUA, a quem chamou de "candidato", que ameaçou o Brasil de sanções econômicas caso as queimadas na Amazônia e o desmatamento se perpetuem.

Ontem, o vice-presidente, general Hamilton Mourão, disse que Bolsonaro utilizou um "aforismo antigo", uma "figura de retórica", que nada teria a ver com pretensões bélicas. "Ele se referiu a um aforismo antigo que tem aí que, quando acaba a diplomacia, é com os canhões. É isso que ele se referiu."

Recepção a subsecretário de Trump no Itamaraty

Outro sinal de que Bolsonaro resiste a trocar Ernesto Araújo e até mesmo Ricardo Salles, além de seguir firme no alinhamento com Trump, foi a recepção nesta terça (10), no Itamaraty, ao subsecretário de Estado dos EUA para Crescimento Econômico, Energia e Meio Ambiente, Keith Krach.

No dia anterior, o norte-americano jantou com o ministro de Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, para discutir segurança cibernética e a implementação da rede 5G.

Como resultado dos encontros, o Ministério das Relações Exteriores anunciou o apoio do Brasil aos princípios da iniciativa Clean Network. A proposta feita pelos EUA busca limitar a influência política e comercial chinesa em redes de telecomunicações. Os leilões das radiofrequências a serem utilizadas na implementação do 5G no Brasil estão previstos para o primeiro semestre de 2021.

Mudar é necessário, diz professor

Professor do Instituto de Relações Internacionais da UnB (Universidade de Brasília), Juliano Cortinhas disse ao UOL entender que o Brasil não tem outra alternativa a não ser mudar a sua forma de se relacionar com a comunidade internacional.

Para ele, a troca no comando do Itamaraty seria fundamental para o processo de reposicionamento. "O Brasil não tem uma política externa baseada em aliança e laços com o país Estados Unidos. O Brasil se associou ao Trump, ao conservadorismo populista que o Trump tinha, é uma questão pessoal, e não de diplomacia", afirmou.


“Governo edita portaria de vacinação obrigatória para militares, que Bolsonaro combate para civis - Portaria

 Ao transmitir a notícia abaixo, de interesse da sociedade como um todo, da nação em sua totalidade, dirijo-me ao preclaro general do Exército que dirige atualmente o ministério da Defesa: os militares não sentem nem um pouquinho de vergonha, o mínimo que seja, ao ORDENAR para si, mas exclusivamente para os próprios integrantes das FFAA, uma medida de VACINAÇÃO COMPULSÓRIA que vai na exata direção contrária da proclamação DEPLORÁVEL do seu comandante supremo que anuncia a NÃO OBRIGATORIEDADE da vacinação para o povo brasileiro, e isso por uma doentia obsessão com seu projeto eleitoreiro prioritário que é afastar de modo autoritário, e até MORALMENTE CRIMINOSO, qualquer adversário político no seu tresloucado empreendimento de reeleição a todo custo, com o único objetivo de proteger sua família miliciana de perseguições judiciais, por CRIMES CONTINUADOS DE CORRUPÇÃO e lavagem de dinheiro???

O profissional comandante das FFAA já pensou nisso ao expedir a sua medida?

Espero que a minha pergunta não incomode muito sua excelência.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 12/11/2020

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“Governo edita portaria de vacinação obrigatória para militares, que Bolsonaro combate para civis

11 de novembro de 2020

O Ministério da Defesa, comandado pelo general Fernando Azevedo e Silva, publicou nesta quarta-feira (11), uma portaria no Diário Oficial da União (DOU) na qual reafirma a obrigatoriedade da vacinação para os militares das Forças Armadas. O próprio Jair Bolsonaro havia efeito campanha contra a obrigatoriedade da vacina e, nessa terça-feira (10), afirmou ser necessário enfrentar a pandemia do novo coronavírus de “peito aberto”. Para ele, o Brasil deve deixar de ser “um país de maricas”, numa referência pejorativa ao receio com pandemia, que já matou mais de 162 mil e infectou 5,7 milhões de pessoas.


De acordo com o comunicado do ministério, “fica instituído o Calendário de Vacinação Militar, visando ao controle, à eliminação e à erradicação das doenças imunopreveníveis e à padronização das normas de imunização para os militares das Forças Armadas”. “As vacinas e os períodos estabelecidos no Calendário de Vacinação Militar serão obrigatórios”, acrescenta a nota do ministério.”

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A sociedade à qual eu pertenço, tanto quanto a nobre casta dos militares, esse estamento privilegiado do atual governo, espera que o mesmo governo que protege afanosamente as FFAA se lembre de também estabelecer um Calendário para a VACINAÇÃO GERAL contra a epidemia do Covid-19, do contrário eu me sentiria pertencendo a um outro mundo que não o dos militares desta nossa pátria tão distraida.

Paulo Roberto de Almeida

A deplorável “assessoria internacional” do capitão - Paulo Roberto de Almeida

 Sobre o afundamento deplorável, e inédito, que a diplomacia bolsolavista promove contra a imagem do Brail no mundo

Paulo Roberto de Almeida 

A “assessoria internacional” do presidente é formada por uma dupla, no máximo um trio, de amadores incompetentes, cuja única função é apenas a de conformar-se às obsessões costumeiras do chefe, feitas de ignorância, de desinformação e dos preconceitos políticos mais anacrônicos. Seguem caninamente um tresloucado guru expatriado, completamente ignorante em política internacional, adepto de teorias conspiratórias já desacreditadas seguidamente, e que já conseguiu antagonizá-los com uma fração menos insensata dos serviçais do poder.

Conseguiram arrastar o Brasil para o completo isolamento internacional, destruindo a credibilidade da diplomacia profissional, com o risco de produzir reais prejuízos materiais e intangíveis aos interesses externos do Brasil. E ainda cometem a loucura de ofender dirigentes estrangeiros, e de aprovar as atitudes tresloucadas do chefe, que conduz uma “diplomacia presidencial aos pontapés”.

Bando de capachos medíocres. Não continuarão a arrastar a política externa e a diplomacia brasileira para o descrédito internacional sem a minha denúncia, o meu protesto, o meu registro circunstanciado de todo o mal que estão perpetrando contra a imagem do Brasil no mundo. 

Continuarei a exercer o meu direito de criticar a destruição da inteligência no Itamaraty e o desmantelamento de todos padrões racionais que sempre guiaram a diplomacia brasileira, atualmente submetida ao comando dessa pequena malta de ideólogos fundamentalistas.

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 12/11/2020

quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Relações Brasil-EUA e mudanças de presidente Trump para Biden - Paulo Roberto de Almeida

 As eleições americanas e as relações do Brasil com os Estados Unidos: da subordinação a Trump a simulações sob uma presidência Biden  

Paulo Roberto de Almeida

(www.pralmeida.orghttp://diplomatizzando.blogspot.com)

  

1. A relação Brasil-Estados Unidos: da busca de autonomia à subordinação a Trump

As interações entre os dois maiores países do hemisfério americano sempre foram marcadas por evidente assimetria, dada a magnitude do poder econômico e militar assumida pelos Estados Unidos, mas elas constituíram, de qualquer modo, a mais importante relação bilateral do Brasil desde o início do período republicano até a atualidade, nas várias interfaces nas quais se distribuem essa complexa interação (comercial, financeira, tecnológica, militar, educacional e científica, cultural, turística e, last but not the least, diplomática). 

Os Estados Unidos foram, aliás, o primeiro país – não considerando Buenos Aires – a reconhecer a independência do Brasil, em 1824, assim como os EUA estiveram entre os primeiros a reconhecer o novo regime republicano e se colocando ao seu lado em 1893, quando da revolta da Armada, por muitos considerada como uma tentativa de restauração monárquica. Essa relação já era relevante desde meados do século, já que os americanos se converteram nos principais importadores do principal produto brasileiro de exportação, o café. Mas foi a partir do início do século XX que eles se tornaram, também, financiadores competitivos, ao lado dos banqueiros britânicos, e, logo depois, em investidores diretos (a Ford montou uma montadora de seus veículos desde 1919). Essa relação foi reforçada por ocasião da Grande Depressão, quando Roosevelt busca evitar a ocupação de espaços na América Latina pelas potências nazifascistas, bem como no decorrer da Segunda Guerra Mundial e no seu imediato seguimento, quando ocorre certa “americanização do Brasil”, reforçada durante a primeira fase da Guerra Fria, mas sobretudo por ocasião do golpe militar de 1964. 

Acadêmicos costumam falar de “alinhamento automático” em relação a dois curtos períodos da diplomacia brasileira: nos anos Dutra (1946-50) e durante uma breve fase ao início dos anos 1960, por ocasião do primeiro governo dos generais. Não há consenso, porém, sobre o significado real desse tipo de conceituação, uma vez que nesses dois períodos o que o Brasil buscava, na verdade, era uma grande barganha, sempre enfatizando a necessidade de recursos para concretizar seus projetos de desenvolvimento, raramente contemplados na planilha geopolítica dos EUA, que se contentavam e recomendar abertura a investimentos estrangeiros e reformas internas.

Essa relação era definida, por FHC, como essencial e cooperativa: não obstante as boas relações políticas, mantinham-se os desacordos setoriais, a maior parte em questões de comércio e propriedade intelectual. Para Lula, igualmente, a relação era importante, mas nunca foi considerada essencial para o atingimento dos objetivos diplomáticos do seu governo, que na verdade passavam pelo afastamento do “império” do continente e pela criação de instituições sul-americanas, em substituição às hemisféricas. Seu governo não exibiu o antiamericanismo explícito da sua base esquerdista, embora houvesse uma nítida postura antiamericana em diversos setores do PT e da própria diplomacia. A despeito de diversas “caneladas” diplomáticas, Lula procurou manter uma relação de cordialidade com os presidentes dos EUA, o que foi mais evidente, paradoxalmente, com Bush Jr. do que com Obama; quanto à Dilma, ela não tinha nenhum apetite diplomático.

Antes mesmo da posse de Bolsonaro já se prometia e já se anunciava uma estreita política pró-americana, mas nunca se imaginou que tal proximidade se daria, no governo Bolsonaro, num plano de servilismo e de subordinação jamais visto, com qualquer outro país, em quase duzentos anos de exercício independente da diplomacia brasileira, em geral, e no plano bilateral em especial. A “submissão automática” como já se afirmou, não exatamente aos EUA, mas ao presidente Trump especificamente, alcançou níveis e dimensões inacreditáveis para qualquer observador das relações exteriores do Brasil. 

Essa servidão voluntária foi explicitada na famosa frase do presidente – I love you Trump – por ocasião do breve encontro na Assembleia Geral da ONU, em setembro de 2019, mas ela esteve explícita desde o primeiro dia, quando tanto o presidente como seu chanceler chegaram a dar assentimento à instalação de uma base militar americana no Brasil, no que foram imediatamente desmentidos e a ideia rechaçada pelos ministros militares. Mas essa sabujice, inaceitável para qualquer diplomata digno de respeito, foi reafirmada por diversas vezes, tanto por familiares do presidente, quanto por ele mesmo, assim como pelo chanceler, inclusive mediante notas oficiais (apoio às ações unilaterais dos EUA no Oriente Médio, ao “plano de paz” de Trump para a Palestina; ao candidato americano ao BID, etc.) e por declarações diversas ao longo de um ano e meio. 

O aspecto provavelmente mais sensível do “protetorado” exercido pelo governo Trump sobre a chancelaria bolsolavista tem se concentrado na questão da escolha da tecnologia para o sistema 5G, em relação à qual a administração americana vem exercendo inédita pressão para que a empresa chinesa Huawei – já fornecedora desde muitos anos de equipamentos de comunicações a provedores brasileiros do setor – seja excluída da qualificação para o leilão, que será postergado (em detrimento dos interesses nacionais nesse terreno). Outras questões, como a relação do Brasil com a China, de modo geral, mas também a da presença da China na região sul-americana, sobretudo na área econômica e comercial, vão continuar marcando as relações bilaterais nos anos à frente, independentemente de quem seja o presidente eleito em novembro de 2020. 

 

2. Da subordinação a Trump a possíveis desenvolvimentos sob Joe Biden

Existem muitas questões nas relações bilaterais, portanto, uma seleção é inevitável, considerando que em diplomacia uma parte passa pelo setor privado – investimentos diretos, comércio, licenças de marcas e patentes, alianças empresarias, fluxos de capitais, etc. –, mas o essencial é feito entre governos, o que depende muito dos presidentes nos dois regimes. A tabela a seguir identifica esses aspectos principais em função da transição presidencial.

 

Relações Brasil-Estados Unidos sob dois presidentes

Trump

Biden

Relações políticas de modo geral

Alegada relação pessoal não recebeu, no entanto, qualquer benesse especial; ao contrário: restrições a produtos, extração de concessões no etanol, pressão sobre China.

Não teria intenção de retaliar o Brasil, mas não haveria nenhuma empatia para com um presidente que apoiou ostensivamente seu adversário; relações cordiais, mas frias.

Comércio bilateral, possibilidade de acordo de livre comércio

Déficit comercial  continuou, fluxos diminuíram; um simples acordo de facilitação, sem impacto real no volume.

Se as possibilidades de qualquer tipo de acordo comercial eram diminutas, com os Democratas elas desaparecem por completo.

Meio Ambiente

Total convergência de opinião e posturas, inclusive na rejeição ao Acordo de Paris,  mas Bolsonaro não consumou retirada.

Biden é um ambientalista e já se pronunciou sobre a destruição na Amazônia; provocou reação em Bolsonaro; pressão continuará.

Multilateralismo

O antiglobalismo é doutrina oficial na Casa Branca e foi totalmente adotada pelo chanceler acidental, com fervor.

O Brasil ainda não se retirou da Unesco e da OMS, como Trump faz, mas se retirou do Pacto Global das Migrações. 

OCDE

OS EUA enganaram Bolsonaro e só o apoiaram depois que a Argentina virou peronista; não farão esforços por isso. 

O “apoio” americano foi anunciado com estardalhaço, mas não existe muita chance de o Brasil lograr agora esse objetivo.

OMC

Trump sabotou a OMC, deixando paralisado o seu sistema de solução de controvérsias. Não haverá nova rodada negociadora. O DG do Brasil pode ter saído por este fator.

Biden talvez restabeleça o funcionamento do órgão, concordando com novos juízes, o que é do interesse do Brasil. A política comercial do Brasil pode ficar paralisada.

China

Trump deslanchou uma guerra contra a China, mas que é apoiada não só pelos generais paranoicos, mas também por acadêmicos distinguidos. Brasil seguiu.

Biden não mudará muito a postura, pois tem preocupações similares, menos de espírito guerreiro e mais por preocupações de tipo econômico (questão do 5G).

América Latina, BID

A maior parte era considerada como sendo shithole countries, inclusive o Brasil; Venezuela era apenas questão eleitoral.

O servilismo diplomático foi o mais exacerbado na região, deixando o Brasil completamente isolado, inclusive no BID.

Terrorismo

A despeito da luta continuar, Trump quer retirar soldados do OM; assassinou um comandante iraniano no Iraque.

Biden adotará uma abordagem menos agressiva em relação ao Irã, o que dispensará o Brasil de seguir os EUA. 

Relações com a Europa, EU

Trump hostilizou os europeus, com pleno apoio de Bolsonaro e do chanceler; UE está aliviada com sua derrota.

Não é provável, mas pode ocorrer, que Biden retome projeto de acordo comercial do Atlântico Norte; Mercosul recua.

Missões de Paz da ONU

Nem se cogitou de qualquer envolvimento americano; unilateralismo absoluto.

O antimultilateralismo do chanceler colocou o Brasil nas antípodas da missão na ONU.

Temas sociais, religiosos, culturais

Agenda da direita conservadora recebeu pleno apoio de Bolsonaro, que até exacerbou no militantismo religioso.

Biden retornará a uma agenda politicamente correta, o que deixará o Brasil de Bolsonaro isolado em diversos foros mundiais. 

 

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 3790, 6 novembro de 2020

Disponível na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/44480368/3790_As_eleicoes_americanas_e_as_relacoes_do_Brasil_com_os_Estados_Unidos_da_subordinacao_a_Trump_a_simulacoes_sob_uma_presidencia_Biden_2020_). 

 

 

General Villas Bôas vira muro das lamentações de militares contra Bolsonaro - Vicente Nunes (Correio Braziliense)

 Os militares, individualmente, e a corporação, como FFAA, estão começando a perceber que entraram numa fria, ou numa roubada, ao apoiarem um medíocre tresloucado, um degenerado perverso, quase um psicopata. Agora não adianta reclamar, pois deveriam ter percebido antes. Mas foram seduzidos, tanto corporativamente, com vantagens para as FFAA, quanto individualmente, com prebendas e generosos e altos ganhos para os oportunistas. Vão pagar um preço, em credibilidade e respeito da sociedade, mas os indivíduos não estão ligando para isso, apenas focados em seus ganhos. A corporação vai perder.

Paulo Roberto de Almeida

FOTO: ED ALVES/CB/DA.PRESS

General Villas Bôas vira muro das lamentações de militares contra Bolsonaro

Publicado em Economia

Os militares que deram suporte à eleição do presidente Jair Bolsonaro — vários deles foram expelidos do Palácio do Planalto — elegeram o general Villas Bôas como muro das lamentações contra o chefe do Executivo.

 

Referência para a caserna, Villas Bôas é visto como um dos poucos que ainda conseguem colocar um freio em Bolsonaro, que está cada vez mais tresloucado diante da possibilidade real de o Ministério Público pegar o filho 01, o senador Flávio Bolsonaro, por causa das rachadinhas, e de se construírem candidaturas que possam lhe apear do poder.

 

Para os queixosos, o presidente da República está metendo os pés pelas mãos ao destruir o pouco da credibilidade que resta ao governo, transformar os militares em motivo de chacota, deixar a economia flertar com uma perigosa volta da inflação e atentar contra a saúde pública ao desqualificar a vacinação contra a covid-19.

 

Por enquanto, a determinação é de que apenas os militares que deixaram o governo, mas têm trânsito livre com Villas Bôas, critiquem o presidente da República. São os casos dos generais Santos Cruz e Rêgo Barros. Mas o coro vai engrossar caso Bolsonaro mantenha o comportamento descontrolado.

 

Dentro dessa estratégia, o vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, foi aconselhado a não partir para o confronto público com Bolsonaro. Mas quem conhece o vice sabe o quanto isso está custando para ele. O general e o presidente mal se falam há mais de uma semana.

 

Vicente Nunes

Repórter há 33 anos. Não dispensa a boa informação. Está no Correio Braziliense desde 2000. Tem passagens pelo Jornal do Comércio, O Globo, Jornal do Brasil, Estado de S. Paulo e Gazeta Mercantil. Tem três prêmios Esso de Jornalismo Econômico (2009/ 2014/ 2015).

Brasília, 13h07min


Webinar Joe Biden e o Agronegócio Brasileiro - Insper (19/11, 18hs)

Evento  Joe Biden e o Agronegócio Brasileiro

Webinar, 19/11/2020 - 18h00

A confirmação da eleição de Joe Biden nos EUA traz grandes impactos para o futuro do agronegócio brasileiro, das relações dos EUA e do Brasil com a China e de questões ligadas ao desmatamento na Amazônia e à mudança do clima, temas que foram destacados na campanha do novo presidente. Está em pauta também a retomada de sistemas multilaterais baseados em regras comuns na área de comércio, saúde pública, clima, finanças e outros, além de novas formas de diálogo com a China.

Insper Agro Global juntamente com o Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) promove o webinar Joe Biden e o Agronegócio Brasileiro. O encontro faz parte do Ciclo de Debates Insper Agro Global 2020, patrocinado pelo Itaú-BBA.

Para esse debate, convidamos Alexandre Mendonça de Barros, Sócio-consultor da MB Agro, Chris Garman, Diretor de Américas do Eurasia Group, Monica de Bolle, membro do conselho consultivo internacional do CEBRI e professora da Johns Hopkins University, e Roberta Braga, Vice Diretora de América Latina do Atlantic Council. A abertura institucional e mediação será conduzida por Julia Dias Leite, Diretora-presidente do CEBRI, e Marcos Jank, Insper Agro Global e Núcleo Agro do Cebri.

Webinars Insper – O Insper acredita que informação de qualidade, baseada em evidência, é fundamental para tomada de decisão e para o enfrentamento aos desafios impostos pela chegada do novo coronavírus. Neste sentido, a escola promove uma série de eventos on-line, gratuitos, para divulgar conteúdos relevantes como panorama econômico, aspectos trabalhistas, ferramentas jurídicas aplicáveis, desafios para startups, liderança e gestão de equipes remotas, gestão do capital de giro em tempos de crise, impactos nas cadeias de suprimento e o impacto do novo coronavírus em empresas familiares. Confira a programação completa e assista, na íntegra, aos eventos que já passaram pelo nosso canal!

https://www.insper.edu.br/agenda-de-eventos/joe-biden-agronegocio-brasileiro/ 

 

Sobre o "comunista" João Cabral de Melo Neto, segundo o chanceler acidental - Paulo Roberto de Almeida

O João Cabral "comunista" da era MacCarthy no Itamaraty:

 Muitos anos atrás, às vésperas de mais um funesto aniversário do AI-5 – o instrumento da ditadura que cassou meus professores no recém ingressado curso de Ciências Sociais da USP, em parte responsável por minha saída do Brasil um ano depois, para um longo autoexílio na Europa, onde dei prosseguimento a meus estudos –, fui contatado por professores do Rio de Janeiro para colaborar numa obra projetada em torno do fatídico instrumento da ditadura, especificamente seu impacto no Itamaraty.

Argumentei que eu pouco poderia oferecer, pois em 1968, quando foi editado o mais violento ato "jurídico" da ditadura, eu era um jovem estudante, recém aprovado no vestibular da USP, tendo ingressado no Itamaraty dez anos depois, sem muito conhecimento do que havia ocorrido na Casa durante os anos de chumbo do regime militar. Tentei sugerir outros nomes, e cheguei a contatar diversos embaixadores aposentados que haviam sido contemporâneos do arbítrio, alguns até vítimas dele. Nenhum quis aceitar. Sob insistência dos organizadores acabei aceitando colaborar, e fiz algumas pesquisas e recolhi alguns depoimentos sobre o assunto.

Mas, para isso, fui pesquisar alguns casos anteriores, inclusive o da funesta investigação em torno da "célula Bolivar", no Itamaraty dos anos 1950 (segundo governo Vargas, em plena Guerra Fria), quando João Cabral de Melo Neto e outros foram afastados do serviço diplomático, por medidas que depois foram corrigidas pelo STF. Mas eu apenas tratei perfunctoriamente do caso, como se poderá verificar pelo trabalho abaixo.

Transcrevi, na postagem anterior, o excelente artigo do embaixador José Augusto Lindgren Alves, "Religião e liberdades truncadas", que discorre sobre as muitas impropriedades do discurso do chanceler acidental na formatura da turma João Cabral de Melo Neto do Instituto Rio Branco, uma excelente peça analítica, da qual recomendo leitura atenta.

Meu ensaio histórico está disponível, e transcrevo abaixo apenas as partes pertinentes ao "comunista" João Cabral de Melo Neto, remetendo os interessados no AI-5 ao link para o texto completo.

Quanto ao medíocre, indigno e insultuoso discurso do chanceler acidental, ele está aqui:

https://www.youtube.com/watch?v=eeEawfB7X-g

O anticomunismo no Brasil tem causas reais, em 1935, notadamente, mas muito do anticomunismo posterior é hidrofobia de fanáticos ignorantes que, como os canalhas de Samuel Johnson, se enrolam na bandeira da pátria para suas causas extremistas.

Paulo Roberto de Almeida

Eis a ficha de meu trabalho:

1847. “Do alinhamento recalcitrante à colaboração relutante: o Itamaraty em tempos de AI-5”, Brasília, 31 dezembro 2007, 32 p. Ensaio histórico sobre os efeitos institucionais e o impacto do AI-5 na política externa para colaboração a livro coletivo. Publicado em Oswaldo Munteal Filho, Adriano de Freixo e Jacqueline Ventapane Freitas (orgs.), 'Tempo Negro, temperatura sufocante': Estado e Sociedade no Brasil do AI-5 (Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio, Contraponto, 2008; 396 p. ISBN 978-85-7866-002-4; p. 65-89). Relação de Publicados n. 866.


Eis o sumário:  

1. Introdução: uma Casa conservadora, dotada de pensamento avançado

2. Pré-história: o Itamaraty nos tempos da Guerra Fria

3. Política Externa Independente: uma vocação recorrente

4. O realinhamento de 1964 a 1967: um interregno incômodo

5. Revolução na revolução: o Itamaraty na tormenta

6. Segurança e desenvolvimento: colaboração, ainda que relutante

7. Pós-história: os efeitos de longo prazo 

Referências bibliográficas

Aqui o link para o ensaio na íntegra em Academia.edu:

https://www.academia.edu/44479134/Do_alinhamento_recalcitrante_a_colaboracao_relutante_o_Itamaraty_em_tempos_de_AI_5_2008_

Agora os trechos pertinentes ao João Cabral, nesta seção:

2. Pré-história: o Itamaraty nos tempos da Guerra Fria

O ambiente maniqueísta do pós-guerra, com a necessidade de posicionamento em favor do “Ocidente” na época da Guerra Fria, marcou várias gerações de intelectuais e de expoentes da classe ilustrada, entre os quais se situavam diplomatas e altos funcionários do Estado. Próximos dos intelectuais e acadêmicos progressistas, muitos diplomatas se identificavam com as teses “neutralistas” ou “não-alinhadas” defendidas pelos propugnadores de uma “política externa independente”, em voga no final dos anos 1950 e início dos anos 1960. Tratava-se de uma ruptura com os princípios “tradicionais” da diplomacia conservadora dos anos de entre-guerras e do início da Guerra Fria, quando o alinhamento da política brasileira com os interesses americanos era, no entender dos historiadores, proverbial. O governo Dutra teria sido o protótipo do alinhamento subserviente, embora outras interpretações minimizem a substância mesma da convergência entre as posições diplomáticas do Brasil e as dos EUA. [Nota: Cf. Paulo Roberto de Almeida, “A diplomacia do liberalismo brasileiro”, in José Augusto Guilhon de Albuquerque, Ricardo Seitenfus, Sergio Henrique Nabuco de Castro (orgs.), Sessenta Anos de Política Externa Brasileira (1930-1990), 2a. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006; vol. 1: Crescimento, Modernização e Política Externa, p. 211-262.]

Essa época, marcada pelo maniqueísmo da era McCarthy nos EUA, produziu efeitos no Itamaraty, onde alguns diplomatas foram acusados de serem simpatizantes do Partido Comunista e do bloco socialista, tendo sido objeto de inquérito sumário e sancionados abusivamente, antes de serem absolvidos pela ação da Justiça. Em 1953, com base em denúncia de colega de carreira, Amaury Banhos Porto de Oliveira, Paulo Augusto Cotrim Rodrigues Pereira, Jatyr de Almeida Rodrigues e Antonio Houaiss foram submetidos a processo administrativo no Itamaraty, ao passo que outro diplomata, João Cabral de Mello Neto, foi objeto de inquérito a cargo do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), como autor de crimes contra a segurança nacional. [Nota: O episódio teve início em 1952, com base em violação de correspondência pessoal por diplomata, que repassou o assunto ao jornalista Carlos Lacerda, o qual, por sua vez, denunciou a existência de uma célula comunista no Itamaraty, “Bolívar”, à qual estariam vinculados vários diplomatas, entre eles o ministro Orlando Leite Ribeiro: “Em inquérito presidido pelo embaixador Hildebrando Accioly, o Ministro Leite Ribeiro e os demais diplomatas foram inocentados da acusação pois se comprovou a inexistência da referida ‘célula’, fruto da maquinação de grupos anti-getulistas e do mesmo diplomata (...) que denunciou meu pai, Cotrim e outros colegas”; correspondência eletrônica do embaixador Guilherme Luiz Leite Ribeiro (Rio de Janeiro, 31/12/2007).]

Eles foram afastados do Itamaraty, sem qualquer defesa, pelo presidente Getúlio Vargas, que os colocou em disponibilidade inativa, não remunerada, com base em sumária “exposição de motivos” do Conselho de Segurança Nacional. A condenação dos quatro primeiros foi anulada em 1954 pelo Supremo Tribunal Federal, por vício de forma e cerceamento da defesa, “menos [João] Cabral, que teve de obter mandado de segurança separado, após o arquivamento do inquérito policial”.[Nota: Correspondência eletrônica do embaixador Amaury Banhos Porto de Oliveira (Campinas, 02/01/2008). Elementos da acusação de 1953 figuram no livro dedicado aos 80 anos de Antonio Houaiss, coordenado por Vasco Mariz: Antonio Houaiss: uma vida: homenagem de amigos e admiradores em comemoração de seus 80 anos, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1995; ver, em especial, considerações de natureza jurídica sobre o processo no artigo de Evandro Lins e Silva, “Punições por convicção política”, p. 60-73; reproduzido em Comunicação & política, Rio de Janeiro: Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos, vol. VIII, n. 1, nova série, janeiro-abril 2001, p. 197-206.]

Ler a íntegra do meu ensaio neste link: 

https://www.academia.edu/44479134/Do_alinhamento_recalcitrante_a_colaboracao_relutante_o_Itamaraty_em_tempos_de_AI_5_2008_


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