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quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Memorias diplomaticas - Paulo R. de Almeida

Não as minhas, que não as tenho (pelo menos não ainda), mas as dos outros...

Memória e diplomacia: o verso e o reverso
Paulo Roberto de Almeida
(Publicado em Mundorama, 23.09.2010)

Memórias, pelo menos memórias publicadas, não são para qualquer um: elas geralmente constituem o apanágio e a distinção daqueles que tiveram um itinerário de vida semeado de grandes e importantes cruzamentos com a vida política nacional (ou até internacional) e que desempenharam algum papel de relevo em alguns dos episódios. Pode ocorrer, também, com indivíduos que foram simplesmente testemunhas desses fatos, mesmo com alguma participação mínima nesses eventos, aquilo que Raymond Aron chamou, para si mesmo, de “espectador engajado” (ver suas Memórias, publicadas em 1983, e o livro de depoimento, que leva justamente esse título). Todos esses deveriam se sentir compelidos a colocar no papel, ou em qualquer outro suporte memorialístico, aqueles registros pessoais que apresentem relevância para a compreensão desses episódios, fatos e eventos de que tenha, ou não, participado, mas sobre os quais podem oferecer um depoimento inteligente. Líderes da área econômica, mesmo não tendo participado de fatos relevantes, mas que foram importantes em processos mais estruturais de transformação produtiva na vida de um país também podem oferecer suas “memórias do desenvolvimento”, pois de certa forma ajudaram a construir o país e a enriquecer a sociedade.
Os diplomatas, pela sua importância “locacional” em determinados episódios da interface externa do país, também poderiam oferecer bons testemunhos sobre os grandes eventos internacionais a que assistiram ou dos quais foram partícipes, ainda que em posição de baixa responsabilidade decisória. Muitos deles conviveram e assessoram estadistas, chefes de Estado e ministros, e se ocuparam justamente de processar a informação, colocá-la no contexto, oferecer resumos sintéticos e propostas de decisão para aqueles mesmos encarregados de tomá-las e se situam, assim, numa posição privilegiada para relatar o que viram, ouviram e até o que fizeram. São muitos os relatos diplomáticos e também numerosas as memórias de diplomatas, um gênero infelizmente muito pouco cultivado no Brasil, pelo menos entre os burocratas “normais” da carreira.
Podem ser contadas nos dedos das duas mãos – e não precisamos dos dedos dos pés – as memórias de diplomatas, o que é de certa forma lamentável, não apenas no plano individual, mas também como evidência de uma lacuna institucional, pois o volume reduzido de depoimentos pessoais significa que a Casa, o ministério, que possui uma excelente memória coletiva, não se ocupa de resguardar as memórias individuais de seus membros, por meio de um programa sistemático de preservação de papéis individuais e de depoimentos organizados, que ultrapassem o aborrecido dos burocráticos maços individuais, para alcançar o que se poderia chamar de reflexão sobre a carreira e sobre os episódios mais relevantes que a rechearam. Elas existem, por certo, mas bem mais como resultado de uma decisão pessoal do que por estímulo do serviço diplomático, e de forma mais organizada numa entidade externa – o Cpdoc, por exemplo – do que por iniciativa da própria instituição.
Algumas dessas memórias cobrem mais o trivial da carreira, como por exemplo o livro de Luis Gurgel do Amaral: O Meu Velho Itamarati (De Amanuense a Secretário de Legação) 1905-1913 (2a. ed.: Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2008; 1ra. ed.: Imprensa Nacional,1947), um despretensioso relato sobre os tempos do Barão e a chamada belle époque (certamente não no Brasil, pois o Rio de Janeiro ainda estava infestado de mosquitos da febre amarela, e o próprio Barão se refugiava em Petrópolis). Outras são bem mais consistentes, como o excelente depoimento escrito do próprio punho pelo ex-chanceler Mario Gibson Barboza: Na Diplomacia, o traço todo da vida (Rio de Janeiro: Record, 1992). Na mesma época, foi publicado um livro de pretensões mais modestas, do ex-chanceler Ramiro Saraiva Guerreiro: Lembranças de um Empregado do Itamaraty (São Paulo: Siciliano, 1992).
Pertencentes a um período histórico ainda anterior a esses depoimentos que cobrem, em grande medida, o período militar, figuram as memórias de Manoel Pio Correa Jr, O mundo em que vivi (Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, 1996, 2 volumes), e as de Vasco Leitão da Cunha, Diplomacia em alto-mar: depoimento ao CPDOC (Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1994). Roberto Campos, o diplomata-economista, também deixou suas memórias, mas elas interessam menos, talvez, ao estudioso da história diplomática do Brasil do que ao pesquisador de sua história econômica: A Lanterna na Popa: memórias (Rio de Janeiro: Topbooks, 1994; 4a. ed. rev. e aum.; Rio de Janeiro: Topbooks, 2001-2004, 2 volumes); ele era, certamente, uma ave rara no Itamaraty, que provavelmente não soube apreciá-lo à altura de sua capacidade, em virtude de sua postura bastante crítica à postura excessivamente “terceiro-mundista” do Itamaraty.
O mais recente exemplo no gênero memorialístico pode ser atribuído a Ovídio de Andrade Melo, que em seu algo desconjuntado depoimento encomendado por colegas ideologicamente afins, Recordações de um Removedor de mofo no Itamaraty: relatos de política externa de 1948 à atualidade (Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2009), trata da política nuclear do Brasil e da recusa ao TNP, do reconhecimento de Angola e dos seus périplos afro-asiáticos. Flavio Mendes de Oliveira Castro também ofereceu um depoimento mais para o anedótico, em Caleidoscópio: cenas da vida de um diplomata (Rio de Janeiro: Contraponto, 2007), mas ele já tinha reunido uma importante documentação sobre a própria casa e seus chefes nesta obra de 1981, recentemente atualizada e reeditada: Dois séculos de história da organização do Itamaraty; 1: 1808-1979; 2: 1979-2008 (Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2009, 2 volumes). Mais específica a uma determinada fase da vida de um diplomata, e juntando memória pessoal e depoimento sobre uma época, é este livro de Carlos Alberto Leite Barbosa: Desafio Inacabado: a política externa de Jânio Quadros (São Paulo: Atheneu, 2007). Outros cobrem praticamente toda a vida diplomática, pelo menos acima do conselheirato: foi o caso de Vasco Mariz em: Temas da política internacional: ensaios, palestras e recordações diplomáticas (Rio de Janeiro: Topbooks, 2008).
Também existem aqueles que juntam discursos, conferências, palestras e artigos publicados – muitos deles escritos por assessores – para realizar uma compilação em formato de livro, acrescido de algumas reflexões introdutórias ou comentários esparsos, o que parece ter sido o caso de Paulo Tarso Flecha de Lima, em seu Caminhos Diplomáticos: 10 anos de agenda internacional (Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1997) ou, mais recente, de Luiz Felipe Lampreia: O Brasil e os Ventos do Mundo (Rio de Janeiro: Objetiva, 2010). Os que não têm tempo de sequer fazer isso, apenas pedem que se lhe juntem os discursos (raramente escritos da própria mão) e os publicam às expensas do contribuinte, como já ocorreu com vários chefes da Casa. Outros colecionam papéis, importantes, que depois eventualmente serão disponibilizados pela família ou pessoalmente; foi o caso de Paulo Nogueira Batista, por meio desta coletânea: Suely Braga da Silva: Paulo Nogueira Batista: o diplomata através de seu arquivo (Rio de Janeiro: Cpdoc; Brasília: Funag, 2006); e também de um dos pioneiros da diplomacia econômica no Itamaraty: Teresa Dias Carneiro: Otávio Augusto Dias Carneiro, um pioneiro da diplomacia econômica (Brasília: Funag, 2005).
Relevantes, também, são os depoimentos prestados ao Cpdoc, uma vez que eles vem com um aparato crítico-metodológico que os próprios diplomatas não estão habituados a preparar. Podem ser citados, nessa categoria, João Clemente Baena Soares: Sem medo da diplomacia: depoimento ao Cpdoc (organizadores Maria Celina D’Araujo et alii; Rio de Janeiro: FGV, 2006); Marcílio Marques Moreira: Diplomacia, Política e Finanças (Rio de Janeiro: Objetiva, 2001); e o próprio Vasco Leitão da Cunha, já citado. Aguarda-se agora o depoimento de Rubens Antonio Barbosa, em curso de preparação pelo mesmo Cpdoc.
Um traço comum à maior parte dos depoimentos, memórias e entrevistas coletadas é a adesão de quase todos eles à chamada “cultura da Casa”, feita de certo conformismo pouco crítico com a política externa – que muitas vezes eles ajudaram a forjar ou a defender –, uma “fidalguia” de caráter que os impede de apontar lacunas sérias no modo de funcionamento do ministério e muita benevolência em relação às supostas excelências do serviço diplomático brasileiro. Poucos são críticos, como Roberto Campos, e os que são, como Ovídio Mello, o fazem por clara adesão política a correntes que nunca pertenceram ao chamado mainstream diplomático brasileiro, embora tenham permeado seu pensamento desenvolvimentista e terceiro-mundista. Esse é, digamos assim, o reverso da medalha das “memórias diplomáticas”: elas expõem ou justificam algumas políticas, mais do que discutem seus fundamentos ou oferecem reflexões livres sobre suas implicações para o país e a sociedade.
Todos esses depoimentos, memórias e coletâneas de documentos e reflexões são relevantes na construção de uma memória “viva” – se é o caso de se dizer – da história diplomática brasileira, mas muito ainda falta a ser feito para se alcançar certo rigor na tomada de depoimentos – que deveria ser um empreendimento oficial e coletivo, por exemplo – e na sua depuração crítica, com todo o aparato da técnica historiográfica. Mais importante, o Itamaraty não dispõe sequer de um historiador oficial, que possa juntar os documentos mais relevantes, agrupá-los tematicamente e colocá-los à disposição dos pesquisadores e do público at large, como ocorre, por exemplo com a U.S. Foreign Relations series. Tempo virá, certamente, em que se esse tipo de trabalho se fará em bases permanentes e regulares, com a ajuda dos muitos historiadores que já ingressaram na carreira diplomática.

Shanghai, 23.09.2010

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Addendum:
Mensagem pessoal recebida de Matias Spektor, do Cpdoc:

Caro Paulo,

Foi excelente ler teu artigo ainda agora no Mundorama.

Esta mensagem brevíssima é para contar a você que estamos entrando na gráfica com o longo depoimento prestado pelo Azeredo da Silveira ao Cpdoc entre 1979 e 1982. O material é um primor e sai pela editora da FGV em outubro. Faremos um lançamento no Rio e outro em Brasília em novembro.

A outra nota é que os livros do Roberto Campos, Lampreia, Saraiva Guerreiro e Gibson Barboza são, todos, produto de longos depoimentos prestados ao Cpdoc também. A diferença é que, nesses casos, assim como ocorrerá com o material do Rubens Barbosa, a edição fica por conta dos depoentes.

Entendo por colegas que o Itamaraty agora está avançando na constituição de um programa de história oral nos moldes que você sugere. Seria mesmo ótimo.

Abraço grande,
Matias [Spektor]
(24.09.2010)

Uma parenteses explicativo sobre o excesso de politicagens no blog

Faço uma interrupção nos posts apenas para prestar contas sobre algo que a mim também incomoda.
O excesso de posts, de informações ou análises, de matérias de opinião sobre temas políticos, mais exatamente eleitorais.
Confesso não gostar disso, ou melhor, pelo menos não aqui, neste blog, que deveria estar voltado essencialmente, embora não exclusivamente, para temas de relações internacionais e de política externa do Brasil.
Os seguidores que se inscreveram para ler os posts, os leitores eventuais ou habituais podem estar incomodados com essa excessiva concentração de posts em temas meramente conjunturais, no mais das vezes sequer edificantes, e talvez mesmo vergonhosos.

Ao desculpar-me pelo fato, arrisco uma explicação.
Gosto de ocupar-me de assuntos de inteligência, como dá para perceber: livros, informações, análises, reflexões sobre meus temas preferidos, que são os de economia, desenvolvimento, cultura, politica internacional, história, diplomacia, enfim, aquilo que os franceses chamariam de haute culture.
Nisso não vai nenhum elitismo, e se houver, não me incomoda o mínimo: considero altamente desejável, e admirável, as pessoas buscarem a maior cultura possível, a maior compreensão alcançável sobre as coisas do mundo e da mente. Como se diz em latim, numa expressão que termina por um palavrão em português: nada do que é humano me é estranho.
Assim, me interesso por tudo, e leio um pouco de tudo, geralmente livros de estudo, um pouco menos de romances -- o que lamento, sinceramente -- por absoluta falta de tempo e concentração naquelas áreas mencionadas.
Este blog, obviamente, procura apresentar uma pequena seleção de meus temas preferidos -- e tenho outros para outras matérias, livros, eleições, etc -- com ênfase nas relações internacionais e na política externa do Brasil, por gosto e por deformação de ofício, digamos assim.

Mas também tenho os meus dislikes.
Por exemplo, tenho alergia à burrice.
Atenção: não confundir com ignorância. "Respeito", humildemente (se é o caso de dizer), a "incultura" dos menos afortunados, daqueles que não tiveram chance na vida de se educar corretamente e que permanecem ignorantes, por falta de condições objetivas, ainda que eu acredite que qualquer ser humano pode fazer um esforço próprio para se instruir, se tiver consciência, claro, do valor do conhecimento para sua elevação material (e até espiritual). Mas não é desses indivíduos que estou falando.
Eu me refiro àqueles que, tendo condições e possibilidade de se instruir, ou de pelo menos de se informar por meios próprios, de buscar dados sobre as coisas que o cercam, de pelos menos abrir um jornal ou de ver um programa noticioso na TV ou ouvir informações no rádio, enfim, pessoas que escolhem voluntariamente permanecer ignorantes, por preguiça, por desinteresse, por simples insistência na desinformação (que salta virtualmente na face de qualquer um hoje em dia), por recusa de melhorar sua capacidade cognitiva, ou por simples acomodação na incultura. Esses eu encontro por vezes, aqui e ali, e me surpreendo como certas pessoas até bem vestidas, dotadas (aparentemente) de uma educação formal que pode ter ido até o terceiro nível, podem ser tão desinformadas e voluntariamente alheias às realidades do Brasil e do mundo. Esse eu reputo burros, e reputo que se trata de uma estupidez voluntariamente assumida. Tenho alergia, portanto, desse tipo de burrice ou de incultura (porque escolhida).

Também tenho horror à mentira, à fraude deliberada, à desonestidade intelectual, que são todos reflexo e resultado de um mesmo traço fundamental em certos indivíduos: a falta de caráter.

Infelizmente, todos esses traços são facilmente encontráveis no Brasil atualmente, e até em esferas onde não esperávamos encontrar esse tipo de "defeito", digamos assim.

Creio que estou chocado por encontrar tudo isso em doses altamente concentradas nos últimos tempos.
Essa é a razão de por que tenho me desviado de meus assuntos habituais para me ocupar, tapando o nariz, desses aspectos menos felizes da conjuntura brasileira atual.
Isso passa...

Paulo Roberto de Almeida
(23.09.2010)

Uma analise do carisma - Mario Guerreiro

Afinal de contas, o que é carisma?!
Mario Guerreiro
(22.09.2010)

Quando investigamos a origem da palavra “carisma” surpreendemos um processo de laicização cujas consequências últimas são assaz surpreendentes. Charisma é uma palavra grega que foi usada pelo cristianismo primitivo e cujo significado era o de “dom da graça divina”. Desse modo, dizia-se que um homem agraciado por esse dom era um homem carismático.

Em seus estudos sobre a formação da religião cristã, o teólogo Rudolph Sohm empregou essa palavra diversas vezes e, ao que tudo indica, o sociólogo Max Weber (1864-1920) teria sido o primeiro a estender seu sentido a um contexto laico. Carisma passou a ser, para ele, uma qualidade excepcional (real ou imaginária) possuída por um indivíduo capaz de exercer influência e liderança sobre determinado grupo de indivíduos.

É importante assinalar que Weber não fez uso do termo na sua acepção original (teológica), mas sim numa acepção laica inspirada na mesma. Assim sendo, ele despiu o vocábulo inteiramente de qualquer conotação valorativa, tanto quando o que estava em jogo a análise das lideranças do ponto de vista da sociologia da religião como a do ponto de vista do poder político.

Ou seja: para o cristianismo, possuir carisma era e ainda é um bem, uma qualidade excepcional ofertada por Deus a alguns espíritos especiais, porém para Weber é meramente uma qualidade possuída por um particular tipo de liderança: a liderança carismática.

Tal liderança, em si mesma, não é boa nem má. O líder carismático goza de uma grande capacidade de persuadir e inflamar um grupo maior ou menor de indivíduos, porém tanto pode conduzi-los a praticar o bem como o mal. Lembremos que, tanto Mahatma Gandhi como Adolf Hitler teriam que ser considerados líderes carismáticos, tal como caracterizado por Weber. E por que não Abelardo Barbosa, o Chacrinha, e Seymour Abravanel, o Sílvio Santos, bem como Michael Jackson, o bispo Macedo, Enéas Carneiro et caterva?!

Lembremos que no caso de Sílvio Santos, este chegou mesmo a se candidatar a Presidente da República, e creio que só não obteve uma votação maior, porque lançou sua candidatura demasiadamente tarde, não por carecer de dons carismáticos weberianos.

Só fico em dúvida se devo considerar que é também carismático o candidato a deputado Tiririca com seu slogan "Vote em Tiririca que pior do que tá não fica"?! Digo isto porque ele mostrou ser capaz de conquistar a adesão de milhares de eleitores e está correndo o risco de ser o candidato mais votado em São Paulo.

Apesar disso, percebo que no mundo contemporâneo há uma valoração positiva da expressão “líder carismático”, como se uma liderança carismática fosse sempre uma algo positivo, unicamente conduzindo um grupo maior ou menor de indivíduos à prática do bem.

Nada mais estranho ao pensamento de Weber que sempre desempenhou um grande esforço no sentido de preservar aquilo que ele chamou de Wertfreiheit (literalmente: isenção de valor, mas numa linguagem técnica: neutralidade axiológica), coisa esta considerada por ele imprescindível numa abordagem científica.

Essa tomada no sentido valorativo de um termo, antes usado num sentido puramente descritivo, é um fenômeno bastante disseminado socialmente. Determinadas qualidades de caráter dianoético (relativas à mente e ao intelecto) frequentemente são tomadas num sentido ético. Se uma qualidade tal como a astúcia fosse algo eticamente negativo, Cristo não a teria recomendado ao dizer: “Sede mansos como as pombas, mas astutos como as serpentes”.

Todavia, a astúcia em si mesma não é uma qualidade dianoética positiva nem negativa, tudo dependerá de quem a empregar: se a empregar com uma boa ou má finalidade, se a empregar para se defender de quem preparou uma armadilha ou para passar a perna nos outros. O mesmo pode ser dito da prudência: por acaso um vil criminoso não pode ser prudente em determinada ação? E se for, só por isso ele deixará de ser um meliante e passará a ser um homem probo?

No entanto, por maior que seja minha admiração pelas brilhantes análises da liderança carismática realizadas por Max Weber, gostaria de ir mais adiante e colocar a seguinte indagação:

O portador de carisma é reconhecido pelas características de sua personalidade qua tale – tais como poder de comunicação, persuasão, liderança, etc – ou tudo depende muito de como seus liderados o vêem, de sua identificação com ele, de ele se comportar de acordo com os anseios e expectativas deles, etc?

Coloquei essas indagações logo após a leitura da análise de uma particular personagem da história reconhecidamente carismática. Em sua descrição de Che Guevara, diz Olavo de Carvalho:

“Como revolucionário, Che Guevara foi um vulgar tiranete, um assassino que se comprazia em executar pessoalmente as sentenças de morte que assinava.”

“Como ministro da Economia foi um fiasco do qual o próprio regime cubano se livrou o mais rápido que pôde; como guerrilheiro, foi um recordista de inépcia, capaz de perder para o exército mais pífio da América Latina”.

“Que encanto possui essa porcaria de personagem para que tantos brasileiros se babem de gozo devoto ante sua imagem e concedam mais vasta homenagem aos trinta anos de sua morte do que aos trezentos anos de Vieira e aos quatrocentos de Anchieta?”

Associar a barba rala de adolescentes a algum odor de santidade, me desculpem, mas é pura perversão sexual: não explica nada. Quanto ao “no perder la ternura [jamás]” é apenas uma frase e nada de novo nos informa”.

“O culto de Che Guevara é um enigma que a própria figura do Che não elucida. Suas razões não estão na natureza do objeto cultuado, mas sim na psicologia de seus sacerdotes. Para encontrá-las, é preciso dar à pergunta uma formulação mais geral: Por que o socialismo, um fracasso na realidade, continua persuasivo como ‘ideal’?” [Olavo de Carvalho: O Imbecil Coletivo II. Rio de Janeiro. Topbooks.1998. pp.47-8. O grifo é meu].

Fica bastante claro na supracitada passagem - especialmente no último parágrafo - que os motivos do grande carisma de Che Guevara não devem ser procurados em sua figura, porém na “psicologia de seus sacerdotes”, ou seja: nos anseios, nas expectativas, na identificação daqueles que interagiram e ainda interagem com sua figura, mesmo - ou principalmente - após sua morte seguida de sua “beatificação”.

Reconhecer isso representa analisar a liderança carismática por um prisma diferente daquele descortinado por Weber, pois o que passa a estar em jogo é a idéia de que um líder carismático é muito mais o que ele representa para os outros, os anseios que ele vem a preencher, expectativas dos outros que ele satisfaz ou se limita a nutrir substanciosamente, etc.

Com isto, não estou pretendendo insinuar que o líder carismático tenha grande capacidade de intuir os anseios e as expectativas de seus acólitos e, com verdadeiro talento dramático, seja capaz de desempenhar um papel que venha ao encontro dos mesmos. Longe dele esse distanciamento frio mediante o qual um bom ator confere vida à personagem representada por ele.

O líder carismático não finge ser uma personalidade que ele não é, não representa num palco para uma platéia. Malgrado sua fala e seus gestos mostrarem-se frequentemente eivados de teatralidade, são realmente espontâneos: ele sente de fato as emoções que transmite aos outros, ele se mostra tal qual é.

E nisto consiste justamente uma das suas principais virtudes, uma vez que a persuasão não se faz apenas pelas idéias transmitidas por ele, mas, principalmente pelo tônus afetivo mediante o qual elas envolvem afetivamente a platéia. Na comunicação de um líder carismático com seu público, está muito mais em jogo o pólo expressivo do que o pólo semântico da linguagem, para usar a oportuna distinção de Karl Bühler.

No excelente filme O Grande Ditador, o magistral ator e diretor Charles Chaplin expressou isso de maneira admirável. Ele faz uma paródia do Führer esvaziando seus eletrizantes discursos de todo conteúdo significativo, só emitindo fonemas típicos da língua alemã, porém com toda aquela verve acompanhada de frenética gesticulação. Algo semelhante a “Aftas ardem e doem”!!!

E é por isso que carismáticos são Fidel Castro, Chávez e Lula e não-carismáticos são Dilma, Marina e Serra. Estes, não importando o conteúdo de suas falas, são incapazes de transmitir emoção e envolver afetivamente a platéia. Seus sorrisos são forçados e inexpressivos. O de Serra mal consegue esconder uma pessoa amarga, dona da verdade e intransigente, o de Dilma uma pessoa rancorosa, intratável e mandona: a folclórica sogra de maus bofes sorrindo para as visitas, mas só por questão de etiqueta.

Mas não nos esqueçamos de que ser carismático não é nenhuma virtude ética, limita-se às capacidades de persuasão e liderança. Tais capacidades, como já vimos, dependem muito do reconhecimento e do acolhimento dos liderados que se identificam com o líder. Vamos até mais longe dizendo que não só os anseios e as expectativas, mas também a especial mentalidade da platéia é que fazem de alguém um verdadeiro líder carismático.

Antonio Conselheiro não conquistaria multidões de fanáticos seguidores, se estes não estivessem nos sertões nordestinos, mas sim na Finlândia (onde provavelmente ele seria remetido a uma clínica psiquiátrica). Se sua carreira fosse feita no Brasil, Hitler não teria sido levado a sério e eleito (ainda que indiretamente) pelo povo, e provavelmente arranjaria um emprego num circo como bom imitador de Carlitos (personagem de Charles Chaplin).

Mas a esta altura há uma pergunta que não quer se calar: Considerando que um líder político como Luís Inácio Lula da Silva é de fato um grande líder carismático, sem que haja nessa asserção nenhum juízo de valor – tal como recomendaria Max Weber – o que fez com que ele se tornasse o que de fato se tornou? E ser ainda capaz de alavancar sua insossa e despreparada candidata à sucessão em virtude única de seu carisma de grande transferidor de votos – capaz de eleger até um poste!

Para resumir tudo numa só sentença: Ele é a “cara do povo”, como se costuma dizer. Mas o que é ser a cara do povo, quando o povo em questão só pode ser o brasileiro?

Ora, é ser semiletrado, bravateiro, orgulhoso de seu despreparo e ignorância, matreiro, fiel seguidor da “Lei de Gérson”, manipulador, inconseqüente, emissor de chavões esquerdistas e abobrinhas de apedeuta, cara-de-pau, amante de mordomias y otras cositas mucho más malas...

Trata-se, portanto, de um legítimo representante do povo, e isto ninguém pode negar! Nem mesmo os 4% de eleitores que o detestam tanto quanto seus dois (des)governos e em que me incluo prazerosamente como minoria irrelevante em termos estatísticos.

Que devemos concluir? Que “a democracia é uma aristocracia de pilantras?” (Lorde Byron). Que “a democracia não passa de uma ficção estatística?” (Jorge Luis Borges). Que a democracia corre sempre o risco de se transformar numa ditadura da maioria? (Tocqueville).

Não! Devemos concluir que cada povo tem o governo que merece.

E se um povo quiser ser merecedor de futuros governos melhores, que exija uma educação da melhor qualidade para todos indistintamente, capaz de gerar um número maior de eleitores bem formados e bem informados.

É quase certo eles que jamais elegeriam um indivíduo como Lula nem para síndico de seu edifício ou Presidente de seu clube de futebol.

Populismo cambial: governo comete, e custa caro...

Os "economistas" do governo atual, aliás o próprio ministro da Fazenda, e o candidato ao governo paulista pelo partido que "combatia o populismo cambial" do governo "neoliberal" anterior, parece terem se esquecido de suas acusações sem pé nem cabeça. E, no entanto, é o que eles mais estão praticando, desde que chegaram ao poder, acumulando ainda reservas em excesso, a um custo anual superior a 20 bilhões de dólares.
Parece que eles não têm a solução para o problema, a não ser comprar mais dólares, o que estimula os "especuladores" e trazer mais dólares ainda ao Brasil.
Quanto isso vai durar? Enquanto o governo tiver condições de comprar dólares e jogar a conta nas nossas costas pelo futuro imprevisível...
Paulo Roberto de Almeida

Enxurrada de dólares
Editorial Folha de S.Paulo, 22.09.2010

Apesar das incertezas que ainda pairam sobre a economia mundial, cresce com rapidez o fluxo de capitais para os países em desenvolvimento. O Brasil é um destinatário privilegiado: nos últimos 12 meses, os investimentos estrangeiros em renda fixa e Bolsa superam US$ 65 bilhões, um recorde em anos recentes. Por causa dessa enxurrada de dólares, o país experimenta um processo de forte valorização do real -uma ameaça ao equilíbrio das contas externas.
As causas são globais. A mais importante é a consolidação de uma disparidade de crescimento econômico entre países ricos e o mundo em desenvolvimento. São hoje os emergentes, Brasil entre eles, os responsáveis pelo dinamismo e pelas oportunidades de investimento mais atrativas.
EUA e Europa -onde se concentra grande parte da riqueza financeira do mundo- amargam uma recuperação complicada, lenta, insuficiente para reduzir o desemprego. Não há dúvida de que a taxa real de juro dessas economias permanecerá próxima de zero por muito tempo, o que incentiva os investidores a buscar opções fora de seus países.
É natural, portanto, que se observe uma persistente realocação de capitais em favor dos países em crescimento. Estima-se, por exemplo, que menos de 5% da carteira dos grandes investidores institucionais europeus e americanos se encontre alocada em títulos de nações emergentes, parcela que poderá subir para cerca de 20% nos próximos anos.
É um movimento que agravará as dificuldades de gestão para os países receptores.
Como está em curso um processo de desvalorização do dólar e do euro, em razão da crise, a pressão pela valorização cambial afetará quase todas as outras economias -como tem ocorrido. Nesse quadro, ações isoladas em plano nacional podem amenizar, mas não eliminarão o problema.
A maior parte dos países em desenvolvimento tenta administrar a valorização de suas moedas por meio de compras de dólares nos mercados de câmbio. Valem-se para isso das vultosas reservas internacionais que acumularam nos últimos anos.
Mas há diferenças que precisam ser ressaltadas. Algumas economias -em especial as asiáticas- estão mais aparelhadas para acumular dólares, pois contam com ampla poupança interna e juros baixos. Não é o caso do Brasil, onde o custo de aumentar o volume de reservas pode se tornar proibitivo. Sustentar US$ 250 bilhões com uma diferença de juros nominais de 8% em relação aos ricos (10,75% contra 2,5% nos EUA) já onera o Tesouro em US$ 20 bilhões ao ano. Logo, os recursos para adquirir dólares não são "ilimitados", e a autorização para o Fundo Soberano comprá-los, como já se anunciou, não deverá alterar muito essa realidade.
Por outro lado, a opção de lavar as mãos e não intervir é insustentável, pois tornaria ainda maior o dano para a competitividade do setor produtivo. Cabe ao governo agir para minimizar as disparidades e o custo das intervenções -por exemplo, desonerando as exportações e o investimento.
É preciso que se criem logo condições fiscais para aproximar a taxa de juros interna dos padrões internacionais, levando-a para cerca de 2% ao ano, em termos reais, ou seja, descontada a inflação.

Ironias da historia: militares defendem a democracia, jornalistas sao pela censura...

Participo nesta 5ª de um debate sobre a liberdade de expressão no Brasil
Reinaldo Azevedo, 23.09.2010

Há algo de deliciosamente irônico no que vou escrever agora. E certas ironias da história são muito úteis porque não servem para iluminar só o presente. Iluminam também o passado. Amanhã, este blog passará uma boa parte do tempo sem atualização. Encerro o trabalho nesta madrugada e volto a postar só à noite. Por quê?

Vou ao Rio para participar de um debate sobre “liberdade de expressão”. Os demais debatedores são o jornalista Merval Pereira, colunista do jornal O Globo e da GloboNews, e Rodolfo Machado Moura, diretor de Assuntos Legais da Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão. A mediação é de Paulo Uebel, do Instituto Millenium.

Muito bem. Também nesta quinta, o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo abriga uma manifestação que tem como tema a imprensa. No caso, o PT e alguns outros partidos de esquerda, com apoio da CUT, UNE e outros auto-intitulados “movimentos sociais,” lançarão um grito de guerra contra o que chamam “velha mídia”. Por quê?

Estão descontentes com a cobertura que a imprensa, cumprindo a sua obrigação, vem fazendo dos escândalos promovidos pelo governo Lula ou, mais genericamente, pelos petistas. Nunca antes na história destepaiz — e, creio, na história mundial —, um sindicato de jornalistas se mobilizou para defender a censura! O “protesto” conta com o apoio e o incentivo entusiasmado de “profissionais” que são direta ou indiretamente financiados pelo governo federal ou por estatais.

E a ironia? O debate de que vou participar, aberto ao público, ocorre no Clube Militar, no Rio, entre 15h e 17h, no Salão Nobre da sede principal, na avenida Rio Branco, 251, no Centro. O encontro é promovido pelo clube e conta com o apoio do Instituto Millenium e do Centro de Estudos Políticos, Estratégicos e de Relações Internacionais (Themas).

Alguns bobinhos acreditam que o mundo pode ser dividido assim: militares são autoritários, detestam a democracia e são contra a liberdade de expressão. Já com os civis se dá o contrário. Errado! Aqueles podem ser democratas primorosos; estes podem ser tiranos contumazes. Não há regra para isso. No Brasil, o preconceito se deve, em boa parte, a uma história contada no joelho, que cria vilões e heróis de manual.

Dada, no entanto, a “história oficial”, a ironia está justamente nisto: debate-se liberdade de expressão no Clube Militar e se pede censura num sindicato de jornalistas. E isso serve, sim, para instruir o nosso olhar sobre o passado. Ao longo de mais de duas décadas, deu-se por verdade uma mentira: todos aqueles que combateram o regime militar estariam querendo democracia. Falso! Muitos queriam uma ditadura, outra ditadura…

Em parte, o espírito daqueles falsos combatentes da liberdade remanesce nos dias de hoje. Os que agora maculam um sindicato de jornalistas pedindo censura são herdeiros dos que queriam, há mais de 40 anos, uma ditadura comunista no Brasil. Aos ideólogos de sempre, ressalte-se, juntaram-se agora alguns vagabundos que só querem assaltar os cofres públicos.

Já os militares, vejam só!, têm clareza de que não há solução aceitável fora da democracia e do estado de direito. Isso nos diz muito do presente. Isso nos diz muito do passado.

Democracia em perigo - editorial O Estado de S.Paulo

O desmanche da democracia
Editorial - O Estado de S.Paulo
23 de setembro de 2010

A escalada de ataques furiosos do presidente Lula contra a imprensa - três em cinco dias - é mais do que uma tentativa de desqualificar a sequência de revelações das maracutaias da família e respectivas corriolas da ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra. É claro que o que move o inventor da sua candidata à sucessão, Dilma Rousseff, é o medo de que a sequência de denúncias - todas elas com foros de verdade, tanto que já provocaram quatro demissões na Pasta, entre elas a da própria Erenice - impeça, na 25.ª hora, a eleição de Dilma no primeiro turno. Isso contará como uma derrota para o seu mentor e poderá redefinir os termos da disputa entre a petista e o tucano José Serra.

Mas as investidas de Lula não são um raio em céu azul. Desde o escândalo do mensalão, em 2005, ele invariavelmente acusa a imprensa de difundir calúnias e infâmias contra ele e a patota toda vez que estampa evidências contundentes de corrupção e baixarias eleitorais no seu governo. A diferença é que, agora, o destampatório representa mais uma etapa da marcha para a desfiguração da instituição sob a sua guarda, com a consequente erosão das bases da ordem democrática. A apropriação deslavada dos recursos de poder do Executivo federal para fins eleitorais, a imersão total de Lula na campanha de sua afilhada e a demonização feroz dos críticos e adversários chegaram a níveis alarmantes.

A candidatura oposicionista relutou em arrostar o presidente em pessoa por seus desmandos, na crença de que isso representaria um suicídio eleitoral - como se, ao poupá-lo, o confronto com Dilma se tornaria menos íngreme. Isso, adensando a atmosfera de impunidade política ao seu redor, apenas animou Lula a fazer mais do mesmo, dando o exemplo para os seguidores. As invectivas contra a imprensa, por exemplo, foram a senha para o PT e os seus confederados, como a CUT, a UNE e o MST, promoverem hoje em São Paulo um "ato contra o golpismo midiático". É como classificam, cinicamente, a divulgação dos casos de negociatas, cobrança e recebimento de propinas no núcleo central do governo.

Sobre isso, nenhuma palavra - a não ser o termo "inventar", usado por Lula no seu mais recente bote contra a liberdade de imprensa que, com o habitual cinismo, ele diz considerar "sagrada". O lulismo promove a execração da mídia porque ela se recusa a tornar-se afônica e, nessa medida, talvez faça diferença nas urnas de 3 de outubro, dada a gravidade dos escândalos expostos. Sintoma da hegemonia do peleguismo nas relações entre o poder e as entidades de representação classista, o lugar escolhido para o esperado pogrom verbal da imprensa foi o Sindicato dos Jornalistas. O seu presidente, José Camargo, se faz de inocente ao dizer que apenas cedeu espaço "para um debate sobre a cobertura dos grandes veículos".

Mas a tal ponto avançou o rolo compressor do liberticídio que diversos setores da sociedade resolveram se unir para dizer "alto lá". Intelectuais, juristas, profissionais liberais, artistas, empresários e líderes comunitários - todos eles figuras de projeção - lançaram ontem em São Paulo um "manifesto em defesa da democracia", que poderá ser o embrião de um movimento da cidadania contra o desmanche da democracia brasileira comandado por um presidente da República que acha que é tudo - até a opinião pública - e que tudo pode.

Um movimento dessa natureza não será correia de transmissão de um partido nem estará atado ao ciclo eleitoral. Trata-se de reconstruir os limites do poder presidencial, escandalosamente transgredidos nos últimos anos, e os controles sobre as ações dos agentes públicos. "É intolerável", afirma o manifesto, "assistir ao uso de órgãos do Estado como extensão de um partido político, máquina de violação de sigilos e de agressão a direitos individuais." "É inconcebível que uma das mais importantes democracias do mundo seja assombrada por uma forma de autoritarismo hipócrita, que, na certeza da impunidade, já não se preocupa mais nem mesmo em fingir honestidade." O texto evoca valores políticos que, do alto de sua popularidade, Lula lança ao lixo, como se, dispensado de responder por seus atos, governasse num vácuo ético.

Manifesto pela Liberdade e pela Democracia

Normalmente não assino manifestos, de qualquer teor, de qualquer origem. Não é meu estilo.

Ocorre porém que recebi, numa dessas mensagens "informativas", uma amostra das ofensas feitas por partidários da candidatura oficial contra o oponente político, que eles consideram um inimigo a ser abatido. O asco das injúrias, as palavras de baixo calão, o estilo escatológico, a podridão dos argumentos me surpreenderam, pois não imaginava que pessoas normais, ainda que animadas pela batalha eleitoral, fossem capazes de descer tão baixo no fosso de seus valores inexistentes.
Tudo isso me leva a não apenas assinar o manifesto que já está disponível na internet, como também a sugerir que outros o assinem.
Não se trata de uma questão partidária, mas da defesa elementar da democracia e das liberdades.
Paulo Roberto de Almeida

Manifesto em Defesa da Democracia

Publicado em 22/09/2010 por manifestoemdefesadademocracia

Numa democracia, nenhum dos Poderes é soberano. Soberana é a Constituição, pois é ela quem dá corpo e alma à soberania do povo.

Acima dos políticos estão as instituições, pilares do regime democrático. Hoje, no Brasil, inconformados com a democracia representativa se organizam no governo para solapar o regime democrático.

É intolerável assistir ao uso de órgãos do Estado como extensão de um partido político, máquina de violação de sigilos e de agressão a direitos individuais.

É inaceitável que militantes partidários tenham convertido órgãos da administração direta, empresas estatais e fundos de pensão em centros de produção de dossiês contra adversários políticos.

É lamentável que o Presidente esconda no governo que vemos o governo que não vemos, no qual as relações de compadrio e da fisiologia, quando não escandalosamente familiares, arbitram os altos interesses do país, negando-se a qualquer controle.

É inconcebível que uma das mais importantes democracias do mundo seja assombrada por uma forma de autoritarismo hipócrita, que, na certeza da impunidade, já não se preocupa mais em valorizar a honestidade.

É constrangedor que o Presidente não entenda que o seu cargo deve ser exercido em sua plenitude nas vinte e quatro horas do dia. Não há “depois do expediente” para um Chefe de Estado. É constrangedor também que ele não tenha a compostura de separar o homem de Estado do homem de partido, pondo-se a aviltar os seus adversários políticos com linguagem inaceitável, incompatível com o decoro do cargo, numa manifestação escancarada de abuso de poder político e de uso da máquina oficial em favor de uma candidatura. Ele não vê no “outro” um adversário que deve ser vencido segundo regras, mas um inimigo que tem de ser eliminado.

É aviltante que o governo estimule e financie a ação de grupos que pedem abertamente restrições à liberdade de imprensa, propondo mecanismos autoritários de submissão de jornalistas e de empresas de comunicação às determinações de um partido político e de seus interesses.

É repugnante que essa mesma máquina oficial de publicidade tenha sido mobilizada para reescrever a História, procurando desmerecer o trabalho de brasileiros e brasileiras que construíram as bases da estabilidade econômica e política, que tantos benefícios trouxeram ao nosso povo.

É um insulto à República que o Poder Legislativo seja tratado como mera extensão do Executivo, explicitando o intento de encabrestar o Senado. É deplorável que o mesmo Presidente lamente publicamente o fato de ter de se submeter às decisões do Poder Judiciário.

Cumpre-nos, pois, combater essa visão regressiva do processo político, que supõe que o poder conquistado nas urnas ou a popularidade de um líder lhe conferem licença para ignorar a Constituição e as leis. Propomos uma firme mobilização em favor de sua preservação, repudiando a ação daqueles que hoje usam de subterfúgios para solapá-las. É preciso brecar essa marcha para o autoritarismo.

Brasileiros erguem sua voz em defesa da Constituição, das instituições e da legalidade.

Não precisamos de soberanos com pretensões paternas, mas de democratas convictos.

ASSINE A PETIÇÃO

Jornalistas pedem censura a jornais: assim mesmo

Dia de luto no Brasil: jornalistas, obviamente alinhados com partidos celerados e inimigos da liberdade, fazem manifestação contra o que eles chamam de "imprensa golpista", ou seja, aquela que ousa denunciar -- no que não faz mais do que o seu dever -- as falcatruas, roubalheiras e crimes políticos cometidos nas mais altas esferas de nossa república mafiosa.

Permito-me apenas transcrever editorial publicado na página 2, de Opinião, do Jornal da Tarde desta quinta-feira, 23 de setembro de 2010.

Ato pró-censura no auditório do Sindicato “dos Jornalistas”

Manifestação contra imprensa livre se dará em lugar que leva nome de mártir da liberdade na ditadura

É um preocupante sinal dos tempos as centrais sindicais, alguns sindicatos, partidos governistas, movimentos sociais e certos “blogueiros” terem marcado para hoje seu “Ato contra o golpismo midiático”, ou seja, um protesto contra a liberdade de imprensa, no auditório do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de São Paulo. O convite para a manifestação acusa a imprensa de “castrar o voto popular”, “deslegitimizar as instituições” e destruir a democracia por noticiar pagamento de propina em envelopes entregues em gabinetes contíguos ao da ex-chefe da Casa Civil e atual candidata petista à Presidência, Dilma Rousseff, no Palácio do Planalto, onde o presidente da República dá expediente. Mas, como de hábito agem Luiz Inácio da Silva e sua candidata em palanques ou em pronunciamentos públicos de quaisquer naturezas, não se referem explicitamente ao escândalo propriamente dito. Ou seja, o “golpismo midiático” contra que sindicalistas, militantes de movimentos sem existência jurídica e indefinidos “blogueiros” investem é a prerrogativa que no Estado Democrático de Direito todo cidadão tem de ser informado sobre o que acontece, principalmente quando isso implica dispêndio de dinheiro público arrecadado de impostos.

O presidente Lula já demitiu quatro servidores de alto coturno, entre os quais a ex-chefe da Casa Civil Erenice Guerra, que era braço direito de Dilma e por esta foi indicada para o posto. Mas os participantes do movimento, como o presidente, a candidata e as cúpulas do governo e do PT, preferem protestar contra a divulgação do escândalo. Este gerou as demissões e, nesta reta final da campanha pela sucessão presidencial, forçou o presidente e seus áulicos a abandonarem às pressas seu devotado apego ao conceito do Direito Romano da dúvida a favor do réu (in dubio pro reo) , ao qual sempre fizeram questão de recorrer para justificar a impunidade gozada por companheiros pilhados em flagrante delito.

Numa demonstração de que é cada vez menos “dos jornalistas”, o sindicato anfitrião do ato o faz ao arrepio da própria história. Assim como a corte de Lula manipula suas massas de manobra de sempre sem levarem em conta o fato de que o ex-dirigente sindical e seu partido só chegaram aonde chegaram por obra e graça do permanente desafio dos meios de comunicação à censura na ditadura militar. Por ironia do destino, o auditório onde a manifestação a favor da censura será realizado leva o nome do mais notório mártir da liberdade de imprensa no Brasil (o que tem sido omitido no noticiário), o jornalista Vladimir Herzog, morto sob tortura.

Nem tudo está perdido, contudo, pois o Largo de São Francisco continua cumprindo seu papel histórico de dar voz aos que discordam: nele foi lançado ontem o “Manifesto em Defesa da Democracia”, assinado por intelectuais, artistas e homens públicos que não têm medo da verdade. Ao contrário: eles sabem que sem ela a democracia torna-se farsa para, depois, fenecer.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

GRAVE ATENTADO: lingua portuguesa assassinada pela mafia (ci)vil

Estou preocupado com o futuro da última flor do Lácio, esta inculta e bela que corre o risco de virar estropiada e feiosa, na verdade, esquartejada e horrorosa.
Não pela denúncia do crime em si, que esse deixo para nossos céleres juizes, procuradores, adevogados da União (se existem; creio que sim, tem até um da famiglia Inácio), mas pela simplória preocupação com o destino da língua portuguesa, ou brasileira (vocês escolhem), venho transcrever um documento alucinante em sua originalidade sintática.
Nem Saramago, que costuma abusar de nossa paciência com os atentados à correção estilística que perpetra em seus textos pretensiosos e geralmente insossos, seria capaz de tamanha inventividade gramatical.
Deixo vocês com o post de Augusto Nunes...
Paulo Roberto de Almeida

Direto ao Ponto
O e-mail do filho de Erenice comprova que, no Brasil de Lula, bandido de estimação não precisa nem ter cérebro para ficar milionário
Augusto Nunes
Blog na Veja, 14/09/2010 - às 17:08

O e-mail enviado à direção de VEJA por Israel Guerra é uma prova de muitos crimes. O conteúdo, um desfile de desmentidos inconvincentes, fantasias indecorosas e desculpas esfarrapadas, confirma as delinquências divulgadas pela revista. A descoberta de que a forma foi revisada no Planalto acrescenta alguns crimes hediondos aos prontuários do bando que transformou a Casa Civil em gazua e esconderijo.

Claro que todos os envolvidos nas bandalheiras leram a sopa de letras. É certo que Erenice aprovou o texto assinado por seu garoto. Como se apresenta como advogada, deve ter prontamente confiscada a carteirinha da OAB. Israel, que se proclama “bacharelando em direito”, deve ser devolvido ao curso primário. E todos ─ mãe, filho, parentes e agregados ─ merecem o imediato enquadramento por atentados contra a gramática, linchamento da ortografia e tentativa de assassinato da língua portuguesa.

O lado bom da coisa é que o e-mail produzido a muitas mãos já se transformou em documento histórico. Daqui a muitos anos, a leitura do amontoado de cretinices ajudará a compreender como eram as cabeças que governaram o Brasil durante a Era da Mediocridade. Confiram o palavrório, reproduzido sem correções:

No final do mês de dezembro do ano de 2009, o sr. Fábio Baracat, me procurou com o problema de que a empresa ao qual se dizia sócio, e que inclusive, apregoava que estava assumindo o controle total, a MTA Linhas Aéreas, estava quase expirada sua autorização para voar e solicitando ajuda no sentido de trabalhar e resolver tal situação. Informei ao senhor Fábio que, estando cumpridas todas as regras e requisitos de segurança operacional, havia a possibilidade legal prevista na legislação vigente, da concessão de outorga pelo Diretor Presidente da ANAC, pelo expediente AD REFERENDUM, conquanto a empresa também estivesse regular quanto suas obrigações jurídico fiscais. Eu construí a argumentação e o embasamento legal da referida peça e a encaminhei ao representante legal da empresa aqui na cidade de Bsb, que a protocolou no órgão competente. Por razão deste serviço prestado, solicitei a gentileza de meu irmão, que a CAPITAL emitisse nota fiscal contra a pessoa jurídica indicada pelo senhor Fabio Baracat para cobrança do pagamento. Os documentos fiscais e contábeis, encontram-se a disposição para eventuais esclarecimentos.

Cumpre informar que conheci o sr. Fabio em meados de 2008, apresentado a mim pelo meu amigo e compadre Vinicius e que durante certo período, foi de meu círculo de amigos, tendo inclusive, sido apresentado em momento social, a minha mãe, que a época, era Secretária Executiva da Casa Civil, na condição de amigo meu, nada mais do que isto.

Ressalto que não houve a busca por clientes, mas sim, um suposto empresário, que a época se dizia uma amigo, que na verdade era um agenciador de cargas para a mencionada empresa aérea, solicitando a produção de um trabalho, junto a área do direito aeronáutico que eu detenho relativo conhecimento, e este trabalho foi produzido e apresentado de maneira satisfatória ao órgão regulador pelo procurador constituído a época dos fatos. Me foi perguntado, se já havia recebido “empresários” e feito negociatas no escritório Trajano e Silva. Informo que isto nunca ocorreu, já fui lá inúmeras vezes, visto que meu tio trabalha no referido escritório e sou bacharelando em Direito, sendo que constantemente, vou ao escritório para a complementação de minha graduação e que, inclusive, a época em que fiz o trabalho acima mencionado para o senhor Fábio, solicitei a permissão de recebê-lo na sala de reuniões do escritório, visto que não dispunha de espaço razoável para expor o trabalho feito ao referido “empresário” Fábio Baracat.

Por último esclareço, que a época da constituição da CAPITAL, meu irmão me solicitou que esta fosse registrada no meu endereço residencial, em razão da impossibilidade financeira de estabelecer o escritório numa sala comercial, ademais, meu irmão me informou que deu entrada no encerramento da empresa já no início deste ano corrente

Espero ter respondido aos questionamentos.

Atenciosamente,
Israel Guerra


Só Lula, promovido a inimputável pela intelectuália companheira, pode produzir impunemente um desfile tão obsceno de frases sem pé nem cabeça, vírgulas fora de lugar, substantivos na contramão, plurais guilhotinados, adjetivos bêbados, concordâncias desatinadas e outros assombros. Todos os envolvidos na construção desse monumento à estupidez são desprovidos de raciocínio lógico. São todos incapazes de contar uma história infantil com começo, meio e fim.

Se Israel Guerra é mesmo estudante universitário, a faculdade que frequenta precisa ser lacrada antes que recrute outro lote de analfabetos funcionais. Sem o socorro da melhor amiga de Dilma Rousseff, o bacharelando estaria condenado ao desemprego perpétuo. Sem o amparo da Casa Civil, não seria convidado para intermediar sequer a negociação da gorjeta entre o freguês do botequim e o garçom. Só uma cabeça baldia escreve uma coisa dessas. Acomodado no colo da mãe, Israel Guerra se atreve a fingir que pensa. E vai fazendo fortuna como lobista fora-da-lei.

No Brasil de Lula, bandido de estimação já nem precisa ter cérebro para continuar em liberdade e virar milionário.

Paranoia antichinesa substitui (ou se acrescenta a) velhas paranoias: continua sendo uma paranoia...

Paranóias brasileiras e sua geografia cambiante: pequena digressão sobre uma doença tupiniquim
Paulo Roberto de Almeida

No início dos anos 1960, mais exatamente a partir de 1961, um pequeno panfleto nacionalista começou a fazer muito sucesso no Brasil: Um dia na vida do Brasilino (versões eletrônicas ainda podem ser encontrada nos sites de algumas dessas seitas velhuscas que esqueceram de morrer com a implosão do socialismo; um resumo também pode ser lido neste link: http://www.culturabrasil.pro.br/brasilino.htm).
O nome já diz tudo: Brasilino era um cidadão comum, urbano, vivendo num universo dominado por empresas estrangeiras (ainda não se dizia multinacionais), sobretudo americanas. Ao acordar, Brasilino já estava pagando royalties ao imperialismo: acendia a luz que lhe era fornecida pela Light and Power, tomava banho com sabonete Lux ou Palmolive, escovava os dentes com Kolynos, se barbeava com Williams e Gillette, comia aveia Quaker e tomava Ovomaltine. Ao se deslocar para o trabalho, usava um carro alemão ou americano, com gasolina fornecida pela Esso, fumando o seu “Souza Cruz”, na verdade pertentente à American Tobacco. Já no escritório, se quiser telefonar, só pode ser por meio da American Telegraph and Telephone. Alguma indisposição depois do almoço (também preparado com diversos produtos estrangeiros), e lá vai um Alka-Seltzer. Assim Brasilino passava o dia, consumindo, invariavelmente, o tempo todo, produtos estrangeiros e, claro, pagando royalties e dividendos, o tempo todo, ao imperialismo.
O sentido da panfleto era, portanto, muito claro: éramos explorados, espoliados, dominados pelo capital estrangeiro. Se dizia que mais de 70% de nossa indústria era estrangeira, 100% dos fabricantes de automóveis, 70% disso, 80% daquilo. O mais terrível era a dominação americana nos filmes, na TV, corrompendo nossa bela cultura nacional, afastando nossos sambas em favor do desgraçado rock-and-roll. Enfim, o panfleto era um festival de bobagens, com erros grosseiros, mais até factuais do que de equívocos econômicos, o que não o impediu de ser, como referido, um enorme sucesso de público e de opinião. Ele contribuiu, e muito, para sedimentar na cabeça dos brasileiros – inclusive de distintos membros das elites, como militares, diplomatas e empresários – a noção de que o capital estrangeiro estava ali para nos explorar, para sugar nossas riquezas, para espoliar nossos fabulosos recursos naturais. Se não fosse o capital estrangeiro, e a remessa de lucros, o Brasil e os brasileiros seriam naturalmente muito ricos, pois todo o dinheiro remetido ao exterior sob a forma de lucros, dividendos e royalties aos investidores internacionais ficaria necessariamente no Brasil. Simples assim.
O fantasma nessa época era o imperialismo americano, que aliás se encarregou de mostrar que era mesmo poderoso, ao tramar o golpe que resultou na derrubada de um governo “democrático” em 1964. Depois vieram os tempos dos acordos MEC-Usaid, da aliança da Time-Life com a Rede Globo, dos empréstimos extorsivos feitos pelos banqueiros de New York e, obviamente, nossa indústria continuou dominada pelo capital estrangeiro. Não importa se os militares foram mais nacionalistas do que o mais acirrado dos comunistas, fortalecendo a golpes de decretos o capital nacional, proibindo o capital estrangeiro em vários setores da economia nacional, inaugurando estatais como quem cria coelhos. A mentalidade paranóica contra o capital estrangeiro continuou, ainda que atenuada depois de tantos anos de “sobrevivência miraculosa” do capital nacional, de nacionalização quase completa da programação da Globo e do predomínio absoluto da maravilhosas musicas nacionais em nossas rádios.
Passados tantos anos, quando a gente já estava quase se acostumando à decadência progressiva do imperialismo americano, já cansados dessa história que o capital estrangeiro vem ao Brasil para nos explorar, eis que surge novo perigo, desta vez amarelo: o necolonialismo chinês. Ele vem com toda força, comprando terras, minas, indústrias, destruindo empregos, fechando fábricas, saqueando, literalmente, nossos fabulosos recursos naturais. Contra ele se levantam grandes sumidades do pensamento econômico nacional: o economista Delfim Neto, que já serviu a vários generais presidentes e que agora serve a um presidente que pretende reeditar o tempo dos generais; o empresário siderúrgico neoprotecionista e presidente da Fiesp, que pretende não apenas fechar o país às importações mas simplesmente banir as empresas chinesas do território nacional; vários outros já agitaram a tese do espectro sino-imperial, uma reedição atualizada do velho imperialismo espoliador de antigos tempos. Mais um pouco, serão os próprios autores da tese dos “aliados estratégicos” que vão agitar novamente a mais surrada das bandeiras patrioteiras e pedir uma moratória na invasão chinesa em nome da defesa da soberania nacional. Todos se levantam contra o novo fantasma, e acham que ele não se contentará em ser o primeiro parceiro comercial e “sócio industrial” obrigatório, mas vai querer também se apossar de nossos campos, nossas minas e consumir toda a nossa comida. Não duvidem, senhores: o perigo agora é muito maior, pois eles são mais de um bilhão!
Cada vez que eu ouço, ou leio, essas teses delirantes, mais me convenço de que o Brasil e os brasileiros são paranóicos de nascença: estamos sempre sendo atacados por algum imperialista malévolo, por algum espoliador disfarçado de comerciante, por algum neocolonialista travestido de investidor. Mais me convenço de que somos uma nação de mentalidade atrasada, de medos inexplicáveis, de temores não justificados pela marcha normal dos negócios capitalistas. Os chineses são capitalistas? Sim, até mais do que os brasileiros. Quem quer que tenha ido à China – ou se não puderem leiam os relatórios de uma fonte insuspeita: o think tank americano Freedom House, sobre as liberdades econômicas no mundo – sabe que a liberdade empresarial é muito maior na China do que no Brasil, que a carga tributária e os embaraços burocráticos são muito menores lá do que no Brasil, que a competição é feroz – como deveria ocorrer em qualquer país capitalista normal – e que negócios são negócios, não empreendimentos filantrópicos.
A limitação de compra de terras a proprietários estrangeiros além de ser paranóica, estrito e lato senso, é propriamente anti-chinesa; as tentativas de impedir empresas chinesas – estatais ou não – de adquirir mineradoras, fábricas, empresas de transporte ou de eletricidade no Brasil são risíveis, se não fossem patéticas. Tudo isso, como nos tempos de Brasilino, quando se pensava expulsar as empresas estrangeiras do país, não vai servir em nada a causa do desenvolvimento nacional, vai apenas atrasar e atrapalhar nosso próprio processo de modernização produtiva. Empresários que sempre mamaram nas tetas do Estado, rentistas disfarçados e protecionistas sem vergonha, todos esses paranóicos voluntários ou inconscientes causam um enorme mal ao Brasil, apelando para o tradicional refúgio dos canalhas: o patriotismo, ou a “defesa do interesse nacional”, como os ideólogos de plantão adoram proclamar.
O Brasil não tem absolutamente nada a ganhar enveredando por esse caminho de retração e de fechamento. Os empresários brasileiros precisam aprender a fazer negócios na China e com os chineses, aqui e em qualquer outro lugar. Nunca foram tão grandes as oportunidades para o crescimento econômico, sabendo explorar as vantagens do comércio e dos mercados internacionais, no Brasil, na China, na América Latina, em quaisquer outros continentes. A nova paranóia anti-chinesa é uma atitude totalmente contraproducente, do ponto de vista dos próprios interesses brasileiros, além de completamente ridícula para quem se pretende pronto para enfrentar o mundo como ele é.

(Shanghai, 23.09.2010)

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La invasión económica de China en Brasil y América Latina amenaza transformar al continente en una especie de satélite del dragón rojo, con potenciales transformaciones culturales, psicológicas y políticas
Destaque Internacional - Informes de Conyuntura
Año XII - No. 308 - Madrid - San José de Costa Rica
Santiago de Chile, 20 de septiembre de 2010
Responsable: Javier González

1. En lo que va de 2010, China se ha dedicado a "comprar" América Latina ante el desinterés aparente de los Estados Unidos y de las demás potencias occidentales. Esas potencias parecen bostezar delante del neocolonialismo impulsado por un enigmático "capitalcomunismo" chino, cuya esencia es difícil de definir pero cuya influencia con certeza se expande como una sui generis metástasis por las Américas.

2. La Venezuela de Chávez recibió de China, en el primer semestre de 2010, líneas de crédito de 20 mil millones de dólares. Ecuador, después de modestos 56 millones de inversiones directas de China en 2009, firmó este año contratos por 5 mil millones en el área de petróleo y energía hidroeléctrica. Perú, durante el primer semestre, recibió inversiones en minería por 1.400 millones de dólares, y China se transformó en el segundo socio comercial del país.

3. El caso del gigantesco Brasil es especialmente notorio en materia de invasión económica de China, que pasó a ser en 2010 la principal socia comercial de ese país, desplazando a los Estados Unidos. A comienzos de año, Petrobrás firmó un acuerdo para abastecer a China durante 10 años con 200 mil barriles de petróleo diarios. Las compras de alimentos y minerales superaron los 20 mil millones en el primer semestre. Los chinos compran todas las tierras y minas que encuentran a la venta y que la legislación les permite comprar.

Hace pocos días, el periódico The Guardian publicó un reportaje especial preguntando si, en vez de "socia comercial", China no podría ser más apropiadamente denominada "saqueadora" del Brasil. En amplio reportaje, el periódico inglés muestra que los chinos están financiando la construcción del superpuerto de Açu, en São João da Barra, al norte del Estado de Rio de Janeiro, para exportar a China toda clase de productos alimenticios y de minerales. El referido superpuerto será una gigantesca "autopista marítima hacia China", y se ha llegado al punto de que un gran empresario financia cursos gratuitos de mandarín para la población de esa ciudad brasileña. A través de esa "autopista marítima", cada año serán transportados a China "miles de toneladas de mineral de hierro, granos y millones de barriles de petróleo", para "aliviar la aparentemente insaciable sed de China por recursos naturales", comenta el periódico inglés.

3. No en vano, el presidente de la Federación de Industrias del Estado de São Paulo, Benjamin Steinbruch, hizo un llamado al actual gobierno brasileño para poner frenos legales a la invasión económica china. El mencionado empresario aclara que la competencia de los chinos es totalmente "desleal", y que no se trata de una acción de la iniciativa privada china sino de una invasión del propio Estado chino.

El nuevo gobierno brasileño que surja de las próximas elecciones nacionales tendrá delante de sí la disyuntiva de cambiar su conducta externa con relación a China o de transformarse en una especie de satélite económico, junto con otras naciones latinoamericanas. Mas aún. La invasión económica de China en Brasil y América Latina no solamente amenaza transformar al continente en una especie de satélite del dragón rojo, sino que podrá provocar gigantescas transformaciones culturales, psicológicas y políticas.

4. En ese contexto, suenan superficiales e inclusive irresponsables las declaraciones recientes efectuadas en Pekín por el secretario de Estado adjunto de los Estados Unidos para el Hemisferio Occidental, Arturo Valenzuela, en el sentido de que ve con "buenos ojos" las inversiones chinas en América Latina, y que éstas no serían "ni una preocupación ni una amenaza".

5. En sentido diferente, son de destacar las declaraciones de varios cancilleres de la Asociación de Naciones del Sudeste Asiático (Asean) manifestando malestar ante la arrogancia regional china, especialmente por sus pretensiones hegemónicas en el Mar de la China meridional. Por su parte, en Japón, se destaca la amplia victoria electoral obtenida por el actual primer ministro pro occidental Naoto Kan, en las elecciones internas del gobernante Partido Democrático (PD), sobre su rival pro chino Ichiro Ozawa. Japón, Corea del Sur y otras naciones del Sudeste Asiático están en condiciones de constituirse en un importante y decisivo contrapeso para las pretensiones hegemónicas de China.

6. Contra el sistema totalitario chino poco o casi nada se habla, ni siquiera se chista. Hecha la salvedad de honrosas excepciones, se trata de un conformismo psicológico de naturaleza casi hipnótica, se diría que suicida. Ese conformismo parece haber tomado cuenta de muchas mentalidades gubernamentales, diplomáticas y empresariales. Tampoco se chista cuando grandes empresas radicadas en China son obligadas a abrir sus secretos industriales y enigmáticamente aceptan esas pesadas condiciones, aún sabiendo que China copiará los productos, los fabricará y distribuirá en Occidente como productos "genéricos", a precios muchos más bajos. Casi no se habla de los "derechos humanos" violados por un Estado totalitario y que reduce a un trabajo semiesclavo, para decir lo menos, a millones de chinos dedicados a producir artículos con bajos costos que inundan América Latina.

7. Paradójicamente, lo que nunca se permitió al "imperialismo" estadounidense se está permitiendo al "neoimperialismo" chino. La frase atribuida a Lenin, de que "los mismos burgueses van entregar la cuerda con la que los vamos a ahorcar", parece adquirir, en el caso de China, una enorme actualidad, sea cual sea la ideología que esté actualmente por detrás del misterio chino.

¿Quién podrá garantizar que la influencia económica china en América Latina no redunde en exigencias en el corto y mediano plazo, que nos conduzcan a formas de neoesclavitud psicológica, cultural y hasta política?

Negar la influencia internacional del dragón chino sería irreal; pero, por otro lado, sería ingenuo no sospechar que la metástasis china pueda tener componentes publicitarios similares a los usados por la antigua Unión Sovietica para impresionar a los occidentales. Buena parte de los supuestos "logros" soviéticos en los campos militar, económico y tecnológico eran simples mentiras transformadas en verdades a través de trucos publicitarios. ¿En qué medida y en qué porcentajes se mezclan las verdades y las mentiras en el caso de China? Cabe a los especialistas y a los formadores de opinión estudiar objetivamente ese problema.

Link del artículo del periódico The Guardian sobre el "saqueo" que China estaría haciendo en el Brasil:
http://www.guardian.co.uk/world/2010/sep/15/brazil-port-china-drive
(artigo reproduzido abaixo

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Brazil's huge new port highlights China's drive into South America
Investments guarantee Chinese access to soy, oil and other badly needed resources
Tom Phillips in Sao Joao da Barra
The Guardian, Wednesday 15 September 2010

Brazil Super Port The 'super port' in Sao Joao da Barra is the largest port investment in Brazil and will have capacity for the largest ships in the world. Photograph: Douglas Engle/Australfoto

Blades slicing through the morning heat, the helicopter rose from the tarmac and swept into a cobalt sky, high above Rio's Guanabara Bay.

It powered north-east over deserted beaches, dense Atlantic rainforest and fishing boats that bobbed lazily in the ocean below. Then finally, 80 minutes on, the destination came into view: a gigantic concrete pier that juts nearly two miles out into the South Atlantic and boasts an unusual nickname: the Highway to China.

Dotted with orange-clad construction workers and propped up by dozens of 38-tonne pillars, this vast concrete structure is part of the Superporto do Acu, a £1.6bn port and industrial complex that is being erected on the Rio coastline, on an area equivalent to 12,000 football pitches.

Reputedly the largest industrial port complex of its type in the world, Açu is also one of the most visible symbols of China's rapidly accelerating drive into Brazil and South America as it looks to guarantee access to much-needed natural resources and bolster its support base in the developing world.

When Acu opens for business in 2012, its 10-berth pier will play host to a globetrotting armada of cargo ships, among them the 380-metre long Chinamax – the largest vessel of its type, capable of ferrying 400,000 tonnes of cargo.

Millions of tonnes of iron ore, grain, soy and millions of barrels of oil are expected to pass along the "Highway" each year on their way east, where they will alleviate China's seemingly unquenchable thirst for natural resources.

"This project marks a new phase in relations between Brazil and China," Rio's economic development secretary, Julio Bueno, said during the recent visit of about 100 Chinese businessmen to the port complex, which is being built by the Brazilian logistics company LLX and should receive billions of dollars of Chinese investment.

This new phase of engagement with Brazil and South America, is part of China's "going out strategy" – an economic and, some say, diplomatic push for Chinese companies, many of them state-run, to invest abroad, snapping up access to minerals, energy and food by pouring the country's colossal foreign reserves into overseas companies and projects.

China is expected to overtake Japan as the world's second largest economy this year and may already be the world's greatest energy consumer. Now it is set to become Brazil's top foreign investor, with its companies plowing $20bn into the country in the first six months of 2010, compared with $83m in 2009. A recent study by Deloitte predicted that Chinese investments in Brazil could hit an average of about $40bn a year between now and 2014, with companies throwing money at sectors ranging from telecommunications, infrastructure and farming, to oil, biofuels, natural gas, mining and steel manufacturing.

"Relations with Brazil in all areas have entered a new era," Qiu Xiaoqi, China's ambassador in Brazil, recently told the state news agency Xinhua.

The surge in China's South American spending is not just a Brazilian phenomenon. Ecuador has already signed around $5bn of bilateral deals with China this year, including $1.7bn to help build a hydro-electric dam and $1bn investments for oil exploration and infrastructure projects. That compared with Chinese investment of just $56m in 2009.

Chinese companies have sunk $1.4bn into mining operations in Peru this year, while in April Hugo Chávez announced that the Chinese, already major sponsors of Venezuelan oil exploration, had agreed to open a $20bn credit-line for the "Bolivarian revolution".

Michael Klare, author of Rising Powers, Shrinking Planet, a book about the growing tussle for global resources, described today's China as "the shopaholic of planet Earth".

"The Chinese authorities understand that to sustain the country's continued growth, they will have to ensure that its industries are provided with adequate supplies of energy, minerals, and other basic raw materials," he said. But the "going out" strategy went far beyond business transactions, he added.

"They seek to fashion a multipolar world in which no single power – read the United States – plays an overwhelmingly dominant role. To this end, they seek to bolster ties with rising regional powers like Brazil and South Africa."

In Sao Joao da Barra, the city nearest to Acu and one of Rio state's poorest regions, the Chinese presence is being felt even before Brazil's Highway to China is complete.

Keen to impress, LLX staff at the Açu port lay on hot water and Mandarin interpreters for visiting Chinese dignitaries. Sao Joao da Barra's town hall, meanwhile, has started offering free Mandarin lessons to locals interested in working with the wave of Chinese guests that is anticipated.

"You should see a 10-year-old boy saying, 'I understand … the Chinese are coming and when the Chinese industries come I want to work for them and if I speak Mandarin I'll have a competitive advantage on the others'," beamed Eike Batista, the billionaire entrepreneur behind the superport and one of the most vocal cheerleaders for Chinese advances into Brazil. "[It is] wonderful."

Leonardo Gadelha, LLX's CFO, said during a recent tour of the port: "This is part of a Chinese strategy of going to the market more and more. They are already a very considerable presence in Africa and we are now going through this moment in Brazil."

The Highway to China lay "in the middle" of this blossoming relationship with China, he said, adding: "We are betting that … this will continue growing."

Not all Brazilians, or indeed western governments, share such enthusiasm.

"There are many in Washington who worry about China's growing presence in Africa and Latin America and claim that this poses a threat to America's long-term strategic interests," said Klare, noting, however, that the US' "fixation" with Afghanistan and the war on terror meant there had been virtually no reaction.

In Brazil meanwhile China's arrival has prompted cries of neo-colonialism. "The Chinese have bought Africa and now they are trying to buy Brazil," the prominent economist Antônio Delfim Netto complained in a recent interview with the Estado de Sao Paulo newspaper, warning that it was a "grave mistake" to allow a foreign state to buy "land, minerals [and] natural resources" from another sovereign power.

Batista, Brazil's richest man, rejected such criticism, saying: "The association between Brazil and China is a two-way highway." Chinese companies such as Wuhan Iron and Steel had committed to helping build a $5bn steel mill at the port complex, rather than always shipping out primary resources to process at home, he pointed out. "You want to get three tonnes of raw iron ore, [so] produce one tonne of steel in Brazil," he said. "That philosophy is sinking in and is great for both sides."

Neither would Chinese companies be allowed to flood the complex with hordes of foreign workers as had happened in Africa, said Gadelha, the CFO.

"If it was up to them they would bring lots of Chinese workers as they are used to doing," he admitted. "[But] Brazil's legislation is very strict in this sense."

Batista suggested that rather than complaining about China's courtship of Brazil, western powers should urge their own companies to pay more attention to the region themselves.

"In the last 15 years or so the [American and European] CEOs have stopped coming here and that is why they are a little bit behind," he said. "We are pushing European companies and saying: 'You're not really understanding what is happening in Brazil'."

"Don't put Brazil in the same bag as our neighbours," he added. "We are not Central America. We are not Venezuela. We are not Argentina."

This article was amended on 17 September 2010. The original refferred to the 380-metre wide ChinaMax. This has been corrected.

Beijing's deals
Brazil In November 2009 Brazilian energy giant Petrobras signed a $10bn loan deal with China's Development Bank. As part of the deal Petrobras will guarantee the supply of 200,000 barrels of oil per day to China over the next 10 years. Chinese companies and state banks pumped around $20bn into Brazil in the first half of this year.

Venezuela Hugo Chávez, pictured, unveiled a $20bn credit line from China's Development Bank to fund the "Bolivarian revolution" in April.

Ecuador The country has already signed around $5bn of bilateral deals with China this year, including $1.7bn to help build a hydro-electric dam and $1bn investments for oil exploration and infrastructure projects. In 2009 direct Chinese investment in the country was just $56m.

Peru Chinese companies invested $1.4bn in mining operations in Peru during the first four months of this year, making China the country's second largest trade partner.

Política externa e o debate eleitoral - Mundorama

Os autores acreditam que a oposição ao governo atual "insinua" ligações do PT com as FARC. Não se pode insinuar o que é um FATO. Pode-se apenas afirmar, informar, constatar. Como já disse alguém, fatos são teimosos: eles não deixam de existir apenas porque não se gosta deles. Eles continuam teimosamente lá.
Eles também exibem certa ingenuidade, ao afirmar que "as ações do Brasil no cenário internacional interessam ao mundo, como no caso do Irã."
Interessam ao mundo? Ou seja: o mundo veio pedir ao guia genial dos povos que, por favor, tentasse intermediar o problema nuclear iraniano já que os líderes das principais potências nucleares e a Alemanha foram incapazes de trazer o Irã à mesa de negociações? Não se sabe se é ingenuidade ou falta de informação.
Talvez contaminação pelo "novo olhar da diplomacia brasileira"...
Em todo caso, cabe a leitura, embora se deva descontar a ingenuidade em muitas passagens, como nesta aqui, por exemplo:
"As eleições diretas para o parlamento do Mercosul devem ser outro fator estrutural que dará impulso a essa tendência nas próximas eleições..."!!! Se algum eleitor souber que existem (onde estão?) candidatos para o Parlamento do Mercosul, deve certamente ser um estudante de Mestrado especializado em Mercosul...
Em algum momento a realidade encontrará o artigo, apenas não se sabe quando...
Paulo Roberto de Almeida

Política externa e o debate eleitoral
Leandro Freitas Couto & Taís Sandrim Julião
Boletim Mundorama, 21 Setembro 2010

Política externa não dá voto. Essa é uma afirmação que, com certo pesar, afirmam parte expressiva dos especialistas em Relações Internacionais. Não por acaso. Como aponta Almeida (1992), tradicionalmente os partidos políticos brasileiros – atores-chave na estrutura eleitoral – não tem inserido a política externa como uma de suas prioridades no conjunto de suas propostas de políticas públicas.

É igualmente importante destacar que, do ponto de vista eleitoral e da trajetória institucional dos partidos, o Brasil apresenta um perfil bastante instável. Isso de deve, em grande medida, as características da própria democracia vivida pelo país. Questões sobre representação e sufrágio, tão caras ao princípio democrático e relacionadas à estrutura partidária, foram, por vezes, abandonadas ou relegadas a segundo plano, tendo por base, curiosamente, o desejo de fortalecer a democracia no país. São exemplos a plataforma populista de Vargas e o golpe militar de 1964; este, inclusive, dado em nome dos valores e das instituições democráticas. Nesse sentido, vislumbramos uma trajetória em que a relativa indiferença dos partidos sobre a política externa do país é apenas uma dimensão de um problema mais amplo e de ordem mais estrutural, no qual a própria existência e a representatividade dos partidos foram colocadas em xeque.

É preciso ponderar, entretanto, que essas particularidades da organização política brasileira não impediram que o debate político trouxesse para a esfera doméstica temas, problemas e oportunidades para o Brasil relacionadas ao cenário da política internacional. Não é inédito na história do país, e muito menos um fenômeno contemporâneo, o interesse de articular as esferas nacional e internacional para usos políticos domésticos.

A construção de legitimidade de governos já teve na política externa e na inserção internacional do país seu principal lastro. A título de exemplo, podemos mencionar o governo Médici que, em um contexto de frustração das expectativas democráticas, buscou arrefecer as tensões domésticas ao propagandear os lemas de “Brasil Potência” e frases de efeito como “Ninguém segura este país!”, em referência direta ao aumento do peso relativo do Brasil fundamentado em estatísticas de crescimento econômico que consagraram a idéia de “Milagre Econômico”. Ainda que não atrelado a um discurso partidário e ao debate eleitoral – não ocorriam eleições regulares e, portanto, tradução em termos de voto – havia sim a relação direta a um discurso em termos de plataforma política, no caso a do regime militar.

A promulgação de uma nova constituição em 1988 foi fundamental para construir um novo sentido para o debate democrático no país, sobretudo em um contexto de retorno da estrutura pluripartidária e da realização de eleições regulares. A reestruturação da cena partidária e eleitoral representa, assim, o ponto de partida de um processo de amadurecimento político do país; processo esse que, somado a outras questões, aponta na direção de que a política externa tende a preencher um espaço cada vez mais significativo nas agendas dos partidos políticos e, por conseqüência, repercutir nas campanhas eleitorais em um ambiente mais “democratizado”.

Nesse sentido, a experiência eleitoral de 2010 se coloca como um marco, particularmente no âmbito da disputa presidencial. A quantidade de informações relacionadas à política externa que está sendo veiculada no âmbito do debate eleitoral desse ano, especialmente pelas três principais candidaturas que tentam chegar ao Palácio do Planalto, pode ser um indicativo da superação da máxima de que política externa não dá voto. A nosso ver, isso se dá tanto por fatores estruturais quanto por fatores conjunturais.

Do ponto de vista estrutural, não há dúvidas de que as mudanças ocorridas nos últimos anos nas comunicações e tecnologias de informação fazem chegar até nós, com mais velocidade, uma realidade internacional que cada vez afeta mais o cenário doméstico. Embora a capacidade de análise estruturada dessa informação por parte da maioria da população seja baixa, há certa compreensão, ainda que parcial, de que o que se passa no mundo afeta o Brasil, vide a recente crise internacional, e de que as ações do Brasil no cenário internacional interessam ao mundo, como no caso do Irã.

Como a percepção da população com relação às interações do Brasil com o mundo se dá de forma difusa, e as informações são trabalhadas de modo episódico, essa mudança estrutural ainda não é definidora de uma tendência a respeito do nível de importância da política externa para a definição de uma corrida eleitoral no país. Todavia, fatores conjunturais se somam a essa mudança estrutural e, certamente, influenciam de forma direta a pauta do debate do eleitoral de modo que questões externas tenham cada vez mais espaço.

Em primeiro lugar, a implementação, nos últimos anos, de uma política externa ativa, de cunho universalista e autonomista, ao lado da projeção internacional do próprio presidente Lula, conferiu ao país um novo posicionamento no cenário global. Obviamente, essa projeção conta com aspectos positivos e negativos, custos e benefícios que são explorados pelas correntes políticas internas que disputam o poder. Nessa linha, elementos de política externa vêm sendo apresentados com certa constância nos programas eleitorais dos principais candidatos.

Outro fator conjuntural interessante a ser destacado diz respeito à projeção internacional de empresas brasileiras, que vem alcançando o status de verdadeiras marcas globais. Nessa direção, o caso da Petrobras é emblemático, sobretudo porque figura no imaginário coletivo nacional como um dos símbolos mais consistentes dos interesses e das ambições brasileiras em sua ação internacional.

Interessante mencionar a visibilidade conferida pela grande mídia às discussões sobre as mudanças climáticas e seus efeitos ao redor do globo e no Brasil, trazendo esse tema, com forte relação com a política externa, para a pauta eleitoral. Certamente, contribui com isso o fato de que um dos três principais candidatos tem no discurso ambiental seu principal mote, o que também força às demais candidaturas a se posicionarem sobre o tema. Assim, esse elemento possui uma dupla dimensão: é tanto conjuntural – sobretudo aos olhares da mídia – quanto estrutural – a ponto de se configurar como o eixo do programa de governo.

A hipótese inicial é de que há uma análise qualitativa por detrás das principais campanhas de que esses temas podem atrair votos para cada uma das chapas, a ponto de serem explorados nos programas dos candidatos. Além disso, ocorre a construção de discursos diferenciados para o grande público, com imagens e discursos simples e diretos, e um debate orientado por intelectuais ligados às principais correntes políticas e ideológicas do país, que mira o voto mais qualificado, multiplicador enquanto formador de opinião. Nota-se que, enquanto a principal candidatura de oposição usa a política externa para atacar o governo, inclusive insinuando ligações entre o Partido dos Trabalhadores e as FARC, para a parcela da esquerda que critica o governo por conta da continuidade de políticas econômicas ortodoxas, a política externa é apontada justamente como um dos mais importantes avanços dos dois mandatos de Lula da Silva

Oportunidades abertas por mudanças estruturais são aproveitadas por elementos conjunturais que as reforçam. As eleições diretas para o parlamento do Mercosul devem ser outro fator estrutural que dará impulso a essa tendência nas próximas eleições, e os movimentos internacionais do Brasil formarão o contexto que poderá consolidar essa tendência de crescente importância da política externa no debate eleitoral. Nessa linha, passará a ser um elemento que ajudará, cada vez mais, na definição do voto do eleitor. Da condição de mito, esse tende a ser um horizonte de reflexão promissor para os especialistas de Relações Internacionais, pois, como buscou argumentar esse artigo, a relação entre política externa e eleições não poderá mais ser subestimada.

Referências:
ALMEIDA, Paulo Roberto. Os Partidos Políticos nas Relações Internacionais do Brasil, 1930-90. Contexto Internacional, Rio de Janeiro, vol. 14, nº 2, jul/dez 1992, pp.161-208.

Leandro Freitas Couto é Doutorando em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília – UnB, Professor de Política Externa Brasileira do Instituto de Ensino Superior de Brasília – IESB, e Analista de Planejamento e Orçamento do Ministério do Planejamento (leandro.couto@gmail.com).

Taís Sandrim Julião é Mestre em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília – UnB e Professora de Relações Internacionais do Instituto de Educação Superior de Brasília – IESB (tais.sandrim@gmail.com).

Ate onde vai o discurso (e a pratica) do "odio aos inimigos politicos"

Felizmente não é no Brasil. Pelo menos ainda não.
Mas numa terra cujo líder é muito admirado pelos seus êmulos tupiniquins...
Se dependesse deles, talvez o Brasil ficasse um pouco mais parecido com o vizinho, e infeliz, país...
Paulo Roberto de Almeida

Los extremos del odio
Editorial de Teodoro Petkoff
Tal Cual, 20.09.2010

El 3 de enero ingresó al Hospital Universitario de Maracaibo un policía llamado Junior Galué, con dos balazos en la cabeza y en estado crítico. Fue atendido por el médico Frank de Armas, veinte años de graduado y en sus tiempos presidente de la FCU de la Universidad del Zulia. Cuando se disponía a intervenir al agente Galué, recibió del Director del Hospital Universitario, Dr. Dámaso Domínguez, esta inverosímil orden: “Mándalo para una clínica privada porque ése es de la policía de la Alcaldía de Manuel Rosales”. De Armas, estupefacto, advirtió que el herido estaba agonizando. Dámaso Domínguez retrucó: “Si usted no acata mi orden, mañana está despedido”. De Armas desobedeció la vileza y la crueldad de su superior y operó al agente a quien, por cierto, le salvó la vida. Al día siguiente Frank de Armas fue despedido; denunció la aberrante conducta de Domínguez ante la Fiscalía y la Defensoría del Pueblo y nueve meses después sigue esperando respuesta. Se nos ha dicho que el doctor Dámaso Domínguez es un médico muy reputado. No hay razones especiales para dudar de que además de buen profesional sea un ciudadano normal, buen padre y tal vez apreciado por sus amigos. Como todo maracucho, no tiene nada de raro que sea una persona cordial y abierta. ¿Qué es lo que ha hecho que pueda actuar como un monstruo, capaz de ordenar que no se atienda a un paciente porque es de “los otros” y despedir al médico porque atendió a ese paciente que agonizaba? Hay allí un cerebro envenenado por un discurso de odio, que destila desprecio e insultos contra sus adversarios; que insiste en considerarlos como “enemigos”, amenazando con “pulverizarlos”, “aniquilarlos”. “demolerlos”. Un discurso que ha transformado a personas normales en fanáticos que han delegado su facultad de razonar con su cabeza en la del Líder Máximo “quien nunca se equivoca”. Once años de ese discurso canalla nos han enfermado como sociedad y cada extremo de ella no es sino la imagen especular del otro. Afortunadamente los extremos son minoritarios y el buen sentido común está venciéndolos. Pero ése es, hasta ahora, el más penoso e infeccioso legado de Hugo Chávez

Nova geografia do comercio internacional: finalmente um acordo...

O modesto acordo Sul-Sul
Editorial - O Estado de S.Paulo
21 de setembro de 2010

O Brasil e mais dez países poderão concluir em dezembro a primeira Rodada Sul-Sul, uma negociação comercial lançada em São Paulo em 2004. O ponto principal do acordo será uma vantagem tarifária - ou margem de preferência - de 20% para a maior parte dos produtos comercializados entre os participantes. O governo brasileiro propõe a assinatura do compromisso em Foz do Iguaçu, durante a próxima conferência de cúpula do Mercosul. Até lá, os diplomatas terão de torcer para ninguém mais desistir. No começo da negociação os envolvidos eram 40 países. O número foi minguando e dos 11 atuais 4 são do Mercosul.

O resultado econômico será provavelmente modesto, mas o governo brasileiro poderá apresentar o acordo como um feito diplomático importante: pela primeira vez países emergentes da América, da Ásia e da África terão formalizado uma troca de vantagens dentro do Sistema Geral de Preferências Comerciais.

Será também o primeiro acordo brasileiro com vários parceiros de fora da América do Sul. A negociação entre Mercosul e União Europeia foi retomada recentemente, depois de quase seis anos de abandono, e sua conclusão é incerta. O projeto da Área de Livre Comércio das Américas envolveria 34 países do hemisfério, mas foi implodido em 2003. A mais ambiciosa iniciativa multilateral, a Rodada Doha, lançada em 2001, está paralisada há mais de um ano e ninguém sabe quando se poderá retomá-la para valer.

Fora da vizinhança, o Mercosul tem acordos de livre comércio com Israel e com o Egito, Além disso, acertou algumas facilidades com o México, mas em escala muito limitada. A primeira Rodada Sul-Sul foi lançada em São Paulo, há seis anos, durante evento da Unctad, a Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento. Realizada pela primeira vez em 1964, em Genebra, essa conferência, concebida como um fórum de países do Terceiro Mundo, se converteu em órgão permanente.

A ideia de uma Rodada Sul-Sul ajustou-se perfeitamente às novas bandeiras da diplomacia brasileira, adotadas a partir de 2003. Mas três quartos dos países mobilizados inicialmente abandonaram o projeto. A China, embora considerada uma potência emergente, seria um parceiro incômodo, por causa de suas condições especiais de competitividade. O grupo remanescente inclui, além dos quatro membros do Mercosul, a Coreia, por muitos considerada um país industrializado, a Índia, a Indonésia, a Malásia, o Egito, o Marrocos e a pequena Cuba, a menor e mais fraca dessas economias.

O Mercosul já tem um acordo de livre comércio com o Egito, assinado este ano. A Coreia já negociou um acordo desse tipo com os Estados Unidos, ainda não aprovado pelo Congresso americano, e suas conversações com a União Europeia estão avançadas. Dentre as economias envolvidas na Rodada Sul-Sul, a mais desenvolvida é a coreana, com elevado nível de industrialização, respeitável estoque de capital humano e alto padrão de competitividade.

A rodada encolheu não só em número de participantes. Também as propostas se tornaram mais modestas. O Mercosul defendeu inicialmente uma redução de tarifas de 40%. Mas a margem de preferência acabou ficando em 20% - apreciável, de toda forma. Além disso, os negociadores foram cautelosos na seleção dos produtos com tarifas sujeitas à redução. O Brasil não terá facilidades maiores para exportar produtos do agronegócio. Sua competitividade nessa área é reconhecida. Mas, em contrapartida, não concederá facilidades para o ingresso de produtos têxteis, eletrônicos, veículos e bens de capital.

A conclusão dessa rodada provavelmente criará oportunidades comerciais. Mesmo com esse acordo, no entanto, o balanço do governo Lula, no campo da diplomacia comercial, será muito pobre. Parte desse resultado será atribuível às suas escolhas. Decisões políticas erradas privaram o Brasil, por exemplo, de uma presença maior no mercado americano e de acordos vantajosos com parceiros do mundo rico. Nossos concorrentes se beneficiaram desse equívoco.

Republica Mafiosa do Brasil (34): por favor, dirija-se ao balcao ao lado...

A frase, "balcão ao lado", é típica das burocracias públicas, e até das privadas, quando se tem de tratar com um grande público e os assuntos são variados, demandando, portanto, alguma especialização dos atendentes, o que nada mais é do que uma manifestação corriqueira da chamada "divisão do trabalho", tão bem explicitada, para os economistas, na obra seminal de Adam Smith, "The Wealth of Nations" (o título é mais longo, mas é conhecida assim).
O problema começa, no governo de que dispomos, que não tratava exatamente de um balcão, e não era bem ao lado, mas sim uma central de negócios em botecos obscuros de corrupção, agora chamada de "consultoria para o sucesso do negócio".
Um governo mafioso sempre atua assim, como sabemos por experiência, por história, por relatos da imprensa.
É o que nos convida a fazer, ou o chamamento que faz aos seus colegas jornalistas, o editorialista de economia do Estadão, Rolf Kuntz, no "Observatório da Imprensa".

ELEIÇÕES & ECONOMIA
Cobertura resvala nos grandes temas
Por Rolf Kuntz
Observatório da Imprensa, 21/9/2010

O caso Erenice Guerra é uma grande história, mas pode ser também a porta de entrada para uma história maior. Afinal, por que um empresário precisa de intermediário para pedir empréstimo ao BNDES, o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social? Ou para pleitear um contrato com uma empresa controlada pela União? Os parentes da recém-demitida ministra-chefe da Casa Civil não recorreram a anúncios classificados para vender seus serviços. Mas foram procurados para facilitar os negócios. Quantos escritórios prestarão serviços semelhantes, aberta ou veladamente?

Nenhuma fonte oficial vai confirmar a necessidade de intermediários. Empresários favorecidos pelo tráfico de influência, com ou sem propina, também não vão contar suas histórias publicamente. Mas uma pauta mais ampla sobre como funciona esse jogo no Brasil pode ser compensadora, embora trabalhosa. Assuntos como esse não são estritamente econômicos ou políticos, mas os jornais muito raramente mobilizam pessoal das duas áreas para trabalhar em conjunto. Quando ocorre essa cooperação, o resultado é geralmente bom.