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sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

A barriga da semana... e a pressa em se vangloriar...

A “libertação” de Sakineh e a modéstia lulista
por Marcos Guterman
Blog no Estadão, 10.dezembro.2010 11:41:17

A notícia da libertação da iraniana Sakineh Ashtiani, anunciada por uma ONG alemã, provou-se precipitada. Na verdade, parece que a situação dela não mudou nem um milímetro – ela continua condenada a ser enforcada por participação no homicídio de seu marido, a quem ela supostamente traiu. O caso, como se sabe, é centro de enorme atenção mundial, graças ao fato de que Sakineh fora primeiro condenada à morte por apedrejamento, sentença de indizível crueldade, justificada por questões religiosas. Enquanto não foi desmentida, porém, a informação da libertação de Sakineh causou comoção, embora não mudasse substancialmente o cenário de desrespeito flagrante de direitos humanos no Irã – há ainda dezenas de condenados a apedrejamento no país, por motivos semelhantes. Houve reticência, no entanto, por parte dos vários governos interessados no assunto. A Casa Branca não emitiu nenhum comentário. França e Alemanha alegaram que precisavam de confirmação. Já o governo brasileiro, apesar de exibir certa cautela, não perdeu a chance de tripudiar sobre os críticos e reivindicar a responsabilidade indireta pela “libertação”.
“É uma vitória dos direitos humanos em geral e confirma que há formas eficientes de vender os direitos humanos que não precisam ser ruidosas”, disse o assessor do presidente Lula para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, sugerindo que foi a “discrição” do Brasil lulista que libertou Sakineh. Como o Irã parece que não mudou de ideia mesmo com a “discreta” mediação brasileira, é lícito considerar que a estratégia, enfim, não funciona com regimes de perfil totalitário.
Garcia aproveitou para defender o “companheiro” presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad. “Esperamos que esse processo prossiga. Acho que revela a sensibilidade do governo iraniano”, disse o assessor. Pois o “sensível” governo iraniano permanece surdo aos apelos de milhões de pessoas ao redor do mundo.
Por fim, Garcia reafirmou a modéstia que caracteriza o governo Lula: “Acho só que é um acontecimento suficientemente grande para nós querermos nos apropriar dele individualmente”. Ah, bom.

2 comentários:

amauri disse...

Bom dia Paulo!
Assim foi também sobre Honduras. O Brasil burocrata ainda tem a sindrome do cão vira latas.
Até quando o povo, em sua maioria, vai continuar respeitando seres deste nível?
Bom fim de semana.

Mário Machado disse...

Além do exemplo citado pelo comentarista acima lembro da apressada reação ao suposto ataque de xenófobos a uma imigrante brasileira na Suíça. Tempos depois se descobriu que não existiu a agressão e tampouco a gravidez da moça que pelo que tudo indica sofre de problemas psicológicas e/ou mentais.