Ao longo dos anos, fui à USP dezenas de vezes, para seminários, para palestras, para bancas, para diversos tipos de atividades, e a despeito de estar sempre classificada nos primeiros lugares do Brasil e da região, sentia que alguma coisa não andava bem.
Claro, a sua administração. Ela gasta o dobro, por aluno, do que a Universidade Católica do Chile, que acaba de roubar o seu lugar como primeira da região.
Espero que sua decadência seja rápida, e a catástrofe definidora.
Infelizmente, as máfias sindicais de professores e funcionários não permitirão sua recuperação em condições normais.
É apenas por isso que eu desejo a completa falência da universidade.
Para que ela possa ser recuperada em novas bases...
Mas vai demorar...
Paulo Roberto de Almeida
A Universidade, por má gestão, gasta 106% dos seus recursos em
salários. Se fosse uma instituição privada, teria falido. O modelo de
governança precisa ser debatido
Editorial O Globo, 3/06/2015
Pela dimensão e
importância estratégica, o ensino público básico monopoliza as atenções de
especialistas e domina os debates sobre Educação. Mas, quando a Universidade de
São Paulo (USP), a melhor instituição de ensino superior do país, mapeada em
rankings internacionais, entra em crise, é como se fosse ligado um estridente
sinal de alerta. Afinal, os centros de excelência no ensino universitário
estão, em maior número, nos estabelecimentos públicos. Qualquer maior problema
em seu modelo, baseado na quase total autonomia, justifica sérias preocupações.
A USP já indicava alguma
perda de substância acadêmica em rankings mundiais. Em 2012, até então única
universidade brasileira a aparecer entre as duzentas melhores do mundo, no
levantamento da Times Higher Education (THE), a USP, ligada à estrutura do
Estado de São Paulo, caiu do 158º lugar para o grupo de escolas que se
distribuem entre a 226ª e a 250a posições, cujos nomes não são divulgados. Já
no ranking dos melhores estabelecimentos latino-americanos, levantado pelo
grupo Quacquerelli Symonds (QS), a USP, este ano, perdeu o posto de melhor
universidade do continente para a Católica do Chile. Esta, por sinal, exige uma
prova de proficiência em inglês. Quem vai mal, precisa estudar a língua. E
assim a universidade chilena consegue produzir metade de seus artigos
científicos em parceria com centros internacionais de estudo e pesquisa. A USP,
apenas de 25% a 30%, um fator negativo nas avaliações internacionais.
A USP enfrenta graves
problemas financeiros: tendo seguido, desde o final da década de 80, uma norma
prudente, mas não escrita, de destinar 80% dos recursos, oriundos do ICMS
paulista, para salários e os 20% restantes para investimentos e outras despesas
de custeio, a universidade, por má administração, gasta hoje 106% em salários.
Ou seja, se fosse uma instituição privada, estaria falida. O atual reitor,
recém-empossado, Marco Antônio Zago, da Faculdade de Medicina de Ribeirão
Preto, da USP, propõe medidas administrativas duras. Por exemplo, nenhum
reajuste salarial este ano. O resultado foi a decretação de greve de
professores, funcionários e alunos. A pior solução será se o Palácio dos
Bandeirantes aceitar colocar mais dinheiro na universidade, sem qualquer
contrapartida, ampliando a parcela dos cerca de 5% do ICMS do maior estado da
Federação recebidos pela USP. Se a autonomia foi mal usada — no caso, pelo
reitor anterior, João Grandino Rodas, da Faculdade de Direito (Largo de São
Francisco) —, ela precisa ser exercida agora para a própria universidade fazer
um ajuste.
Será um processo
doloroso, pois o campus, nos últimos anos, foi politizado e partidarizado, com
a atuação de grupos radicais e sindicatos. Entende-se, por este aspecto, a
crise acadêmica da USP. Em ambientes como este, a meritocracia deixa de ter
valor. A questão é saber se a autonomia como tem sido praticada é o melhor
sistema de governança para instituições que vivem do dinheiro da contribuinte,
ao qual precisam dar retorno na forma de conhecimento, pesquisas, e assim por
diante. O momento da USP põe em debate o modelo de gestão das universidades
públicas.
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