quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Bolivar Lamounier se ocupa dos "intelectuais"

Com aspas, e aproveito para recomendar os livros de Paul Johnson e de Thomas Sowell sobre as contribuições nefastas que muitos desses personagens fizeram para maior prejuizo da humanidade.
A postagem eu devo a meu amigo Orlando Tambosi. 
Paulo Roberto de Almeida 
O antiliberalismo dos intelectuais brasileiros
Bolívar Lamounier acaba de lançar o livro Tribunos, Profetas e Sacerdotes - Intelectuais e ideologias no Século XX (SP, Cia. das Letras), em que analisa "o papel dos pensadores na atualidade". A obra está na minha lista de leituras, pois trata exatamente de uma questão que sempre me interessou: a persistência, entre a intelectualidade, do pensamento autoritário. Infelizmente, somos um país infenso à cultura da liberdade: passamos do positivismo para o autoritarismo militar, reforçado depois, a partir das universidades, pelo marxismo. Lamounier está certo: a esquerda se apropriou do conceito de intelectual. Resultado: aqui, até um Emir Sader, que escreve Getúlio com lh (Getulho) reivindica o papel de "pensador":

Tribunos defendem causas e pessoas, profetas inventam paraísos e apontam o caminho da salvação. Já os sacerdotes cuidam da disciplina e ensinam ao rebanho o que é certo ou errado. Visionários ou controladores, eles têm missões distintas, mas neste caso é de intelectuais que se fala o tempo todo. Separá-los por esses três papéis foi a forma que encontrou o cientista político Bolívar Lamounier para contar, em seu novo livro, os feitos, malfeitos, limites e o incerto futuro dessas figuras às vezes destemidas, admiradas ou odiadas, às vezes arrogantes, equivocadas ou perseguidas. 
Tribunos, Profetas e Sacerdotes - Intelectuais e Ideologias no Século XX, que Bolívar lançou na semana passada em São Paulo e lança hoje no Rio, é um passeio pelos altos e baixos da função dos intelectuais na sociedade. Para entendê-la - e entendê-los - ele percorre as experiências de outros países (a antiga União Soviética, Alemanha, EUA) e desemboca, ao fim, na experiência brasileira. Depara-se, então, com a gangorra entre liberalismo e autoritarismo e dedica capítulos especiais a duas figuras centrais do século 20, Oliveira Vianna e Sérgio Buarque de Hollanda.
Ao falar do livro para o Estado, o autor levanta questões sobre o que disseram e dizem os intelectuais dos 21 anos do regime militar. Ele deixa, a propósito, uma advertência: “No Brasil, e em geral na América Latina, a esquerda se apropriou do conceito de intelectual”. Criou-se, dessa forma, “uma ilusão de ótica, uma confusão cultivada de uma forma em grande parte deliberada”.
O que significam os modelos de intelectual que dão título ao livro? 
O tribuno assemelha-se a um advogado: é o que defende as pessoas, grupos ou o próprio país. Um belo exemplo é o poeta andaluz García Lorca, cujo objetivo era defender a etnia cigana, não propagandear paraísos terrestres. Inventar esses paraísos e conduzir a humanidade até lá é papel do profeta - o exemplo clássico são os marxistas. O alto sacerdote é a autoridade que interpreta para o rebanho os livros sagrados. 
O “fim dos intelectuais” é mencionado no livro como um perigo real, num mundo de especializações e redes digitais. Eles vão desaparecer?
Não acredito que o intelectual esteja em extinção; o intelectual-tribuno certamente não está. Mas o espaço se reduziu drasticamente para os profetas e sacerdotes. No mundo atual, falar do futuro não é propor utopias mirabolantes, é projetar tendências a partir de fatos comprovados. Sacerdotes continuarão a existir em esferas específicas, como o âmbito acadêmico, onde cumprem a função de exigir padrões de qualidade científica.
Sua análise destaca uma persistente rejeição do liberalismo na história e na cultura brasileira. A que atribui esse fenômeno?
A história brasileira caracteriza-se pela coexistência entre dois veios importantes, um liberal e outro antiliberal. O liberal tem origem na independência e na Constituição de 1824. O antiliberal começa com a chegada do positivismo de Augusto Comte, forte nas escolas militares e se expande com o protofascismo. A partir dos anos 20 ele é reforçado pelo marxismo e se difunde fortemente através do nacionalismo.
O sr. assinala que Celso Furtado, Hélio Jaguaribe e Cândido Mendes idealizaram o modelo nacionalista do pré-1964. Por quê?
Celso Furtado e Hélio Jaguaribe pensaram que os militares tomariam os fazendeiros como aliados preferenciais e forçariam o restante da economia a permanecer estagnada, o que evidentemente não aconteceu. Cândido Mendes errou na previsão política, por acreditar que os militares detinham um poder ilimitado, imune a dissensões internas. Tal diagnóstico também foi desmentido. 
A percepção, pelos intelectuais, do que representou o regime militar para a sociedade e para o País foi insatisfatória? Pela urgência, moral e prática, eles se centraram na crítica ao autoritarismo e menosprezaram outros temas?
Era natural que assim fosse. As ameaças às liberdades democráticas eram reais. Mas essa ênfase não esgota o que aconteceu ao longo de 21 anos. Falta muito para a análise do período ser feita de modo satisfatório. Ainda são poucos os estudos sérios disponíveis e há barreiras ideológicas consideráveis.
Parece-lhe que há hoje muito mais intelectuais de esquerda do que de direita no debate público, e que a esquerda tem mais espaço nesse universo?
Não exatamente. O que ocorreu no Brasil e em geral na América Latina foi que a esquerda se apropriou do conceito de intelectual, adulterando-o a não mais poder. Assim, todo esquerdista letrado fica conhecido como intelectual, qualquer que seja a qualidade do que diz. No centro e na direita, pessoas com o mesmo perfil, e não raro com mais qualidade, não se apresentam como intelectuais e sim como economistas, historiadores, etc. O que há, portanto, é uma ilusão de ótica, uma confusão cultivada de uma forma em grande parte deliberada. (Estadã0).

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