sábado, 11 de maio de 2019

De volta ao samba do Arnesto, uma musica antologica - Andre Vargas (IstoE)

Por que tantos odeiam Ernesto?

Chanceler escanteou embaixadores experientes, contrariou regras e tornou o Itamaraty um palco de intrigas

Crédito: José Cruz/Agência Brasil
CONVERTIDO Citações em grego, exonerações e pouca política externa (Crédito: José Cruz/Agência Brasil)
A diplomacia brasileira não anda fazendo alianças nem sequer dentro de casa. O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, coleciona desafetos e provoca temor entre antigos colegas, subordinados e chefes. Sua política de tolerância zero contra quem não concorda plenamente com a cartilha pró-EUA do governo Bolsonaro nega as tradições do Itamaraty, que sempre tentou se apresentar como uma instituição equilibrada ­— com diferentes graus de sucesso. Sem contar que críticas às esdrúxulas opiniões que o ministro expressa em seu blog Metapolítica 17 contra o que chama de “globalismo” também podem render um visto para o ostracismo.

EXONERADA Letícia Catelani se disse perseguida
e vítima de corruptos, mas sem apresentar provas

Com o intuito de renovar o ministério e a forma de fazer política externa, um grupo de embaixadores acabou em casa esperando a aposentadoria ou alguma nova designação. Outros migraram temporariamente para instituições governamentais. Há também gente jogada em posições subalternas, como a ex-embaixadora em Gana, Irene Vida Gala. Com mais de 34 anos de experiência e passagens por representações em Portugal, Itália, Angola, África do Sul e na sede da ONU, hoje ela é subchefe de um escritório obscuro em São Paulo e dá palestras. Diante disso, diplomatas mais jovens temem se expor.

Choro e inquisição
Mas de onde veio todo esse furor? Araújo era um discreto diplomata de carreira, gaúcho, 52 anos completos na próxima quarta-feira 15, casado com a colega Maria Eduarda e genro do embaixador Luiz Felipe de Seixas Corrêa. Quem trabalhou com ele fazia comentários positivos. Até que foi apresentado a Olavo de Carvalho durante seu período como ministro-conselheiro na embaixada em Washington. O cartão de visitas como conservador que luta para salvar o Ocidente cristão foi para Ernesto uma espécie de Caminho para Damasco ­— episódio bíblico em que são Paulo é convertido. Acabou alvo de chacota de liberais, moderados e esquerdistas, ganhando os apelidos de Arnie, Arnesto e Beato Salu. Só Olavão gostou, tanto que o indicou. Contrariando as regras do ministério, virou o chanceler mais novo da história sem ao menos ter assumido uma embaixada. Muita gente influente não gostou.

ALMIRANTE Sérgio Segóvia assumiu a Apex por pressão da ala militar, que deseja uma agência de fomento com caráter técnico (Crédito:Divulgação)

Agora crescem as pressões. Durante a formatura de diplomatas, na sexta-feira 3, Araújo comparou Bolsonaro a Jesus Cristo e foi às lágrimas. Também afirmou que “diplomacia não significa ficar em cima do muro” e que é preciso “ter sangue nas veias”.
Depois criticou a Venezuela de Maduro e a possibilidade de eleição de Cristina Kirchner na Argentina. São posicionamentos que um presidente eleito pode adotar, mas que não convém a um chanceler. As lágrimas também podem ter sido uma prefiguração do revés que veio na segunda-feira 6, quando teve que ceder à ala militar do governo, contrária ao bloco olavista.
Com a nomeação do contra-almirante Sérgio Segóvia para a presidência da Apex, a Agência de Promoção à Exportação, veio a exoneração dos diretores Márcio Coimbra e Letícia Catelani, ligados a Eduardo Bolsonaro. Em abril, ambos foram responsáveis pela queda do embaixador e ex-presidente da agência Mario Vilalva, que chamou Araújo de desleal por dar poder aos novos diretores sem consultá-lo. Em fevereiro, o ministro também havia afastado por discordâncias o embaixador Paulo Roberto de Almeida da direção do Instituto de Pesquisas de Relações Internacionais, o braço acadêmico do Itamaraty. Na ocasião, o ex-chanceler Celso Lafer afirmou que o pluralismo acabara: “O chanceler se unge da lembrança de Torquemada, um grande inquisidor”. Como resultado, o MRE virou palco de disputas e mal-estar. Para arrumar o estrago será preciso mais do que as citações em grego koiné que Araújo tanto aprecia. Pena que seu melhor argumento em defesa do Brasil culpe o resto do mundo por adotar uma “visão muito superficial” sobre o governo Bolsonaro.
Araújo é o mais jovem ministro das Relações Exteriores, sem ao menos antes ter assumido uma embaixada. Muita gente detesta a escolha.

Igualdade de gênero
Um memorando reservado instruiu quem atua junto à Organização dos Estados Americanos (OEA) a não usar mais a expressão “igualdade de gênero”, que deve ser substituída por “igualdade entre homens e mulheres”
Embaixadores de pijama
Pelo menos meia dúzia de diplomatas estão sem ter o que fazer. Recebem do erário público (e bem) para ficar em casa aguardando a aposentadoria ou novas designações. Ninguém reclama abertamente, mas há descontentamento e indignação
Odisseia x globalismo
O curso preparatório do Instituto Rio Branco perdeu aulas sobre América Latina e economia. No lugar, estudos sobre Homero, Tucídides, Platão, Aristóteles, são Thomas e santo Agostinho, tidos como fundamentais para o mundo ocidental cristão.

Um comentário:

  1. Mágoa a esta altura da vida corroi a alma, necrosa a humanidade. Seu comportamento reflete o grande pensador tapuia, hospedado na PF em Curitiba. Claro que ele não tem o brilho de sua trajetória, que o levou à Divisão do Arquivo. Pode haver algo mais honroso do que mergulhar nos amarelados papeis, nas dobras erráticas da história ou este arquivo só guarda as pompas pessoais, o desfile pelo grand monde à custa do contribuinte brasileiro. Foram quase 60 milhões de brasileiros que elegeram Bolsonaro, Ernesto Araujo estava no pacote. Quantos desses brasileiros não votaram no Capitão para se ver livre de um Itamaraty conspurcado por militantes, como o nanico Celso Amorim e uma troupe a serviço do Foro de São Paulo. Esta história começa a ser contada. Nela, talvez haja duas linhas sobre sua fulgurante carreira socialite no templo de Rio Branco.

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