Chanceler de Bolsonaro chora e diz que diplomacia precisa de 'sangue nas veias'
Em discurso com a presença do presidente, Ernesto Araújo rebate críticas à política externa do país
Eliane Oliveira, Gustavo Maia e Jussara Soares
O Globo, 03/05/2019 - 12:22 / Atualizado em 03/05/2019
BRASÍLIA — Em um discurso emocionado durante a cerimônia
de formatura de novos diplomatas, o ministro das Relações Exteriores,Ernesto Araújo ,
afirmou que a diplomacia brasileira não pode mais ficar "em cima do
muro" e precisa ter "sangue nas veias". Ele se queixou das
críticas que vem recebendo de inúmeros setores da sociedade e citou a Venezuela
como prioridade na defesa pela democracia da região.
— Diplomacia não significa ficar em cima do muro. Não
é ver os grandes embates e aderir ao vencedor. Diplomacia precisa ter sangue
nas veias — afirmou o chanceler, ao lado do presidente Jair Bolsonaro e do
vice-presidente Hamilton Mourão.
Araújo chorou ao falar sobre a família. Agradeceu o
apoio da mulher, Maria Eduarda, e disse aos formandos que o apoio dos parentes
será fundamental na carreira que escolheram.
— Nem tudo serão rosas para vocês.
O ministro afirmou que "o mundo todo tem olhos
voltados para a Venezuela, porque ali se dá um combate entre a democracia e a
repressão", e enfatizou que o governo se identificou com essa causa.\— Não há de ser nada. É
muito triste ver gente no Brasil torcendo pela tirania apenas para ver este
governo se dar mal. Nossa política externa não recua diante do primeiro
obstáculo nem da primeira crítica.
"Não terceirizem pensamento"
Araújo
afirmou que, nas três últimas décadas em que está na carreira diplomática,
nenhum presidente valorizou mais o papel do Itamaraty do que Jair Bolsonaro.
Ele também citou uma frase enviada por Bolsonaro a seus ministros, por um
aplicativo de mensagens, que dizia o seguinte: "Enquanto não faltar água
no mar, não deixaremos de lutar."
—
Esse é o sentimento que nos anima, que eu gostaria de transmitir a essa turma
que agora se forma. Há 27 anos, eu estava onde vocês estavam. Continuo sentindo
o mesmo entusiasmo e a perplexidade, no sentido positivo, de estar em uma
instituição que tem a história que tem e o futuro que tem. Os diplomatas
brasileiros devem servir ao Itamaraty, mas devem, sobretudo, servir ao Brasil.
Nunca podemos perder esse horizonte.
Ele
recomendou aos formandos que "não deixem de pensar e não terceirizem seu
pensamento aos meios de comunicação, nem a ninguém". Segundo o chanceler,
não se deve ter medo de correlacionar fatos, mesmo que isso seja interpretado
como "teoria da conspiração".
Mencionou
um livro de ficção que escreveu há cerca de 15 anos. A obra, que nunca foi
publicada, passa-se em um mundo do futuro que é dominado por uma casta chamada
de tautólogos. Nesse mundo, havia um único e último líder rebelde que exprimia
suas opiniões. Araújo citou uma frase do escritor e diplomata Guimarães
Rosa.
—
Tudo é a ponta de um mistério, inclusive os fatos — disse ele, informando que o
Itamaraty criará o Instituto Guimarães Rosa, para promover a língua e a cultura
brasileiras.
Defesa de Bolsonaro
Araújo
afirmou que o presidente Jair Bolsonaro é a "pedra angular" do novo
Brasil. Ele fez referência a uma passagem bíblica, em que a nação judaica
rejeitou a "pedra angular", que seria Jesus.
— A pedra que a imprensa rejeitou, que os
intelectuais rejeitaram, que os artistas rejeitaram, que os autoproclamados
especialistas rejeitaram, ela tornou-se a pedra angular do edifício, o edifício
do novo Brasil.
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