Apoio dos EUA à entrada do Brasil na OCDE é muito claro, diz assessor internacional de Bolsonaro
Filipe Martins, porém, afirma que consenso no clube dos países ricos sobre novas vagas talvez seja etapa 'muito mais difícil'
Ricardo Della Coletta - Brasília
O
assessor especial para assuntos internacionais da Presidência, Filipe
Martins, afirmou nesta quinta-feira (9) que o apoio dos Estados Unidos à
entrada do Brasil na OCDE (Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico) "é muito claro", mas que isso ocorrerá em
meio à discussão, entre os membros da entidade, sobre quantas novas
vagas serão abertas.
"Vai
ter uma reunião ministerial em breve [entre os países que integram a
OCDE], e isso vai ser decidido lá. E aí, depois dessa etapa, o apoio dos
EUA é muito claro: o Brasil e Argentina devem estar nas vagas", disse
Martins, depois de participar de uma palestra no Instituto Rio Branco, a
escola de formação de diplomatas do Itamaraty.
"E
como os membros da OCDE veem o Brasil como o país a ser priorizado,
pelo peso econômico, eu acho que não tem muito motivo para ser
pessimista em relação a isso", disse o assessor.
Martins,
porém, afirma que o consenso dos 35 países membros do organismo sobre
como ocorrerá a sua expansão talvez seja uma etapa "muito mais difícil"
do que o levantamento do veto dos EUA ao pleito brasileiro.
"Nós
temos uma segunda etapa agora, que talvez seja muito mais difícil, que é
chegar ao consenso dos 35 membros da OCDE sobre o número de países e
vagas que serão abertas", disse.
"Mas chegando a um consenso sobre isso, o Brasil fará parte do processo de acesso."
O
assessor, que foi aluno do curso de filosofia do escritor Olavo de
Carvalho, ocupa um dos mais importantes postos de aconselhamento do
presidente da República.
O
apoio do presidente dos EUA, Donald Trump, ao acesso do Brasil à OCDE,
uma espécie de clube dos países ricos, foi anunciado durante a visita do
presidente Jair Bolsonaro a Washington em março.
O argumento do governo é que o ingresso do país na OCDE melhoraria a confiança dos investidores internacionais no Brasil.
Em
troca da luz verde de Washington, as autoridades brasileiras aceitaram
abrir mão, em negociações futuras, do tratamento diferenciado ao qual o
Brasil tem direito na OMC (Organização Mundial do Comércio) por se
declarar um país em desenvolvimento.
A reunião ministerial da OCDE à qual o assessor especial se referiu está marcada para os dias 22 e 23 de maio, em Paris.
Nos
últimos dias, causou incômodo no governo brasileiro a notícia de que os
EUA não haviam cumprido o acordo de apoiar o acesso do país ao clube
dos países ricos.
Segundo
o jornal Valor Econômico, os EUA mantiveram o impasse sobre a adesão de
novos membros na OCDE durante reunião do conselho de representantes da
entidade, na terça-feira (7).
A
delegação americana mais uma vez teria dito que não havia instruções
para trabalhar pelo ingresso de novos países na organização.
A
notícia fez com que o governo dos EUA reafirmasse publicamente o
compromisso assumido com Bolsonaro, de que o Brasil terá o apoio da
administração Trump para iniciar o processo de admissão na entidade.
"Há
hoje uma discussão sobre como expandir a OCDE. Os países europeus têm
uma ideia de expandir um pouco mais, com um pouco mais de liberalidade, e
os EUA têm uma certa restrição sobre como essa expansão vai se dar",
disse Martins.
"Os
EUA acham que [vagas para] seis países é muita coisa, que vai acabar
entrando país que não tem os instrumentos adequados para fazer parte",
concluiu.
A palestra dada por Martins aos diplomatas se chamou "Governança Global e Autodeterminação Popular".
Nela,
o assessor especial da Presidência defendeu ideias do escritor Olavo de
Carvalho. Ele argumentou que a eleição de Bolsonaro, no ano passado, se
insere numa série de fatos políticos que não foram antecipados pelas
"elites políticas".
Como
exemplo, Martins citou a votação do brexit, a eleição de Trump nos EUA e
a chegada ao poder do direitista Matteo Salvini na Itália.
Felipe
Martins também abordou ao longo de sua palestra, por diversas vezes, o
termo globalismo. Embora frequentemente utilizado pelo chanceler Ernesto
Araújo, o conceito encontra pouco amparo na academia.
"A grande disputa do século 21 será entre os defensores da democracia liberal e os defensores da governança global", declarou.
Em
outro momento, Martins associou a chamada agenda globalista a uma
"corrosão da tradição religiosa e a proposta de substituição por uma
moral biônica."
Itamaraty espera ingresso do Brasil na OCDE ainda em maio, diz porta-voz
O
porta-voz da Presidência da República, general Rêgo Barros, afirmou
nesta quinta-feira, 9, que a diplomacia brasileira possui indicativos
“críveis” de que os Estados Unidos manifestarão apoio ao ingresso do
Brasil na OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico) na próxima reunião da entidade em Paris, em 22 e 23 de maio.
“Há
indicações críveis de que a delegação norte-americana dará tal apoio,
embora ainda não esteja clara a posição daquele país sobre como
procederia ao conjunto das candidaturas”, disse o porta-voz, durante
declaração à imprensa no Palácio do Planalto. “O MRE (Ministério das
Relações Exteriores) está realizando gestões em Washington e em todas as
capitais de países da OCDE para que a acessão brasileira seja aprovada
no mais breve prazo, se possível, já na próxima reunião do conselho de
ministros da OCDE a realizar-se em Paris nos dias 22 e 23 de maio.”
O
porta-voz ressaltou, porém, o apoio de Trump não assegura o ingresso
brasileiro na OCDE. Além do País, outros cinco são candidatos a ter
assento e não se sabe qual seria a posição dos Estados Unidos. Os países
europeus condicionam que, a cada ingresso de país latino-americano,
haja um de país europeu.
“Para
obter o consenso dos membros, ainda será necessário acordar solução
sobre o início do processo de acessão de seis candidaturas que estão em
exame: Brasil, Argentina, Bulgária, Croácia, Peru e Romênia”, ponderou
Rêgo Barros.
O
aval dos Estados Unidos foi uma promessa do presidente do país, Donald
Trump, ao presidente Jair Bolsonaro, durante visita de Estado em
fevereiro. Em contrapartida, o Brasil se comprometeu a começar a abrir
mão de status especial que detém na Organização Mundial do Comércio
(OMC).
EUA
O
Itamaraty confirmou nesta quinta a visita de Bolsonaro a Dallas, no
Texas, na próxima semana. Bolsonaro deverá receber um prêmio de
personalidade do ano oferecido pela Câmara de Comércio Brasil-EUA, além
de reunir-se com políticos conservadores, como o ex-presidente George W.
Bush. A comitiva presidencial decola de Brasília no dia 14 de maio, à
noite, e retorna no dia 16 de maio. Os compromissos oficiais ainda não
foram divulgados.
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