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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

sábado, 6 de novembro de 2021

Benvenuto na Itália? Mai suceso - José Horta Manzano

 

Bolsonaro na Itália – benvenuto? Por José Horta Manzano

… Saudades do tempo em que visita de chefe de Estado estrangeiro era um acontecimento. Tanto cá quanto além-fronteiras, era a mesma festa. Algumas visitas chegaram a marcar a história.

Bolsonaro na Itália

Saudades do tempo em que visita de chefe de Estado estrangeiro era um acontecimento. Tanto cá quanto além-fronteiras, era a mesma festa. Algumas visitas chegaram a marcar a história.

Em 1961, finzinho de maio e começo de junho, John F. Kennedy, então presidente dos EUA, esteve de visita à França, presidida pelo general De Gaulle. Durante a estada, Jacqueline Kennedy, a esposa do visitante, chamou a atenção de todos. Era bela, tinha uma graça especial e, qualidade maior: falava francês. O velho general se derreteu.

Foi engraçado o dia em que a senhora Kennedy, orgulhosa das origens de sua família, contou a De Gaulle: “O senhor sabe, eu tenho ascendência francesa!”. E o general, de bate-pronto: “Pois imagine a senhora que eu também!”.

Pouco antes de embarcar de volta para os EUA, o presidente americano deu uma entrevista coletiva. Logo na abertura, o homem mais poderoso do planeta mostrou que tinha forte senso de humor. Fez cara dramática e declarou, sério: “I do not think it altogether inappropriate to introduce myself to this audience. I am the man who accompanied Jacqueline Kennedy to Paris. And I have enjoyed it.” Trocando em miúdos, fica mais ou menos assim: “Pensando bem, não acho inapropriado me apresentar a esta plateia. Sou o homem que acompanhou Jacqueline Kennedy em Paris. E gostei muito.

A tradição de visitas de dirigentes brasileiros a países estrangeiros é antiga. Começou já nos tempos do imperador, quando viagens eram vagarosas e podiam demorar semanas. Das menos antigas, lembro de JK nos EUA, de FHC na França, de Lula passeando de carruagem com a rainha da Inglaterra. Todos sempre foram bem recebidos. Aliás, todos os dirigentes brasileiros sempre foram recebidos com simpatia aonde quer que se dirigissem. Correligionário ou não do presidente, todo brasileiro sentia uma pontinha de orgulho.

Agora que terminou a vilegiatura que nosso capitão fez em terras italianas, a gente sente muita tristeza. Não me lembro de ter jamais visto, no exterior, manifestações de protesto contra a visita de presidente nosso. Essas viagens costumam ser instantes de confraternização, aqueles momentos em se põem (temporariamente) as querelas de molho. Com Bolsonaro, não foi possível. Como dizem por aqui, “sua fama o precede” – antes mesmo de ele apontar na esquina, todos já sabem de que barro é feito o personagem.

Falando do capitão, Elio Gaspari resumiu com maestria: “Pisou no pé da chanceler alemã Angela Merkel, teve uma conversa desconexa com o presidente turco, conversou com garçons e, por não usar máscara nem tomar vacina, ficou sem o aperto de mão do primeiro-ministro Mário Draghi.”. Foi um vexame atrás do outro.

O capítulo mais impressionante ocorreu justamente no deslocamento sentimental ao vilarejo de origem da família. Era pra ser um momento apolítico, que não se prestava a manifestações. Mas deu chabu. A proverbial belicosidade do capitão suscita sentimentos pouco pacíficos. Aconteceu o contrário do esperado.

Em Pádua, os manifestantes estavam tão exaltados, que a polícia teve de intervir com canhões de água. A visita à basílica de Santo Antônio teve de ser cancelada. O bispo da diocese negou-se a receber Bolsonaro. Disse que, se o presidente desejasse, podia vir como um fiel comum, mas que não seria recebido com honras de visitante especial. O capitão desistiu.

Em Anguillara Veneta, a cidadezinha de origem da família, estava prevista uma recepção na prefeitura, para entrega do diploma de cidadão honorário. A intensidade das manifestações de rua não permitiram. De última hora, mudou-se o programa. O almoço e a entrega do canudo foram feitos num restaurante situado fora da cidade, instalado num casarão do século 19. Para não fomentar uma revolta entre os moradores, a prefeita resolveu pagar do próprio bolso. Pelo jeitão sofisticado do restaurante (e pelo volume da comitiva presidencial), imagino que a prefeita se arrependeu da hora em que teve a ideia de conferir o título de cidadão a Bolsonaro.

Bolsonaro na Itália

E assim continuamos. Se já era malvisto, o capitão confirmou a fama e virou empesteado, daqueles que todos querem ver pelas costas. Nenhum dirigente estrangeiro quer ser visto em sua companhia, que é pra não perder popularidade nem votos no país natal.

Na COP26, Ninguém acreditou nas boas intenções do Brasil; a ausência do chefe dá dois recados. Primeiro, de que ele não esta ligando a mínima para aquele circo; segundo, de que o compromisso brasileiro não passa de encenação pra inglês ver – perdão! – pra escocês ver (a conferência é na Escócia).

Se a Lega (partido da extrema-direita italiana) já era vista com desconfiança, as honras oferecidas a Bolsonaro hão de ter tido o efeito contrário. Fortaleceram a convicção de que se trata de um agrupamento de gente pouco recomendável. Quem é amigo de Bolsonaro bom sujeito não é.

 Resumo da ópera

Eles, que estão longe, ainda podem dar-se ao luxo de se esquivar do capitão, de ignorá-lo, de dar-lhe as costas, de fingir que não viram. Os que estão no Brasil e são obrigados a sobreviver com os sustos diários aplicados no país por aquele estropício, ah!, isso já uma outra história. Deve fazer parte de nosso carma coletivo.

 Disclaimer

No título, usei a palavra italiana benvenuto, que se traduz por bem-vindo. É ironia.

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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos,  dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.

O que fazem as elites brasileiras? Nada?!?! - Bolivar Lamounier e Paulo Roberto de Almeida

 Transcrevo, em primeiro lugar, postagem de Bolivar Lamounier, que trata de questões sobre as quais também venho me ocupando há um bocado de tempo. Depois, coloco minha reação a seus argumentos, tambem objeto de um longo comentário meu em sua postagem original.

Com a palavra, Bolivar Lamounier:

A INSUFICIÊNCIA DAS ELITES

Bolívar Lamounier -  06.11.2021

Faz tempo que venho martelando a tecla dos riscos a que o Brasil está exposto enquanto não conseguir pelo menos dobrar sua renda média anual por habitante, que é atualmente cerca de 12 mil dólares. Não conseguir pelo menos dobrá-la é o que se chama estar aprisionado na “armadilha do baixo crescimento”. 

Ontem fiz referência a um excelente livro publicado em 1994 pela Harvard Business School Press, intitulado THE WORLD IN 2020 – POWER, CULTURE AND PROSPERITY. Nas trezentas páginas do livro, há uma única referência ao Brasil e à Argentina. Transcrevo-a: “It is quite possible that a country  like  Argentina   will recover some of the ground that it has lost this century. It will not  regain the living standards which, in relative terms,  it had a hundred years ago – it is not going to be as rich as Northern Europe or the US – but it could enjoy a period of considerable prosperity, if only it can sustain a modicum of political stability. From a brutal economic point of view, it does not need to  achieve a full-western style democracy, but what it does need is competente and corruption-free administration. Brazil, with its even greater resources , could have an  extraordinary impact on the continent, given a decade of such government”.  

Observem que o livro aponta para um futuro que NÃO aconteceu, nem na Argentina nem no Brasil, no referido período de 26 anos. Tem tudo a ver com a tese que tenho aqui martelado: a de que, nos próximos 20 anos, não temos condições de superar o  ritmo medíocre de crescimento econômico e pior ainda de redistribuição da renda e de avanço educacional, científico e tecnológico  em que afundamos (a “armadilha do baixo crescimento”). Com o sistema político disfuncional, instável e corrupto de que dispomos, vamos seguir patinando no mesmo lugar, só que pior, com mais violência e araçatubas muito mais numerosas.  

Onde devemos buscar as causas dessa tragédia? O subtítulo do livro dá uma boa indicação: “power, culture and prosperity”, ou seja, a prosperity depende de dois grandes grupos de fatores, o poder e a cultura. 

Acontece que “poder” não é uma categoria que se reduza só à máquina de Estado, a forças militares e policiais e a boçais de todo tipo controlando as instituições legislativas, judiciais e administrativas. Ter eleições e através delas escolher os titulares de tais instituições é fundamental, mas não suficiente, diria mesmo totalmente insuficiente, se, subjacente às instituições, não tivermos  elites (no sentido neutro do termo, obviamente) que as ancorem, balizem e inspirem. No Brasil, o termo elite designa alguns milhares de indivíduos que se deram bem na vida particular, mas que não sentem responsabilidade alguma em relação ao país, que não interagem entre si em busca de soluções e, principalmente, que não falam. Um país no qual as elites não falam, não se manifestam, não expressam seus pontos de vista e preferências, é uma anedota de mau gosto.   

Em qualquer país, é possível distinguir três camadas sociais bem nítidas. A mais alta em renda e escolaridade (cerca de 20%) é aquela que, se quiser, compreenderá os problemas e poderá ajudar a resolvê-los. Poderá ajudar a melhorar a qualidade da vida pública. Fincará o pé no combate á corrupção. Na camada intermediária (digamos, 40%), não temos propriamente ricos, mas temos resource owners, quero dizer, pessoas que  percebem para que lado o vento está soprando, e podem recorrer a seus recursos (capacidade de ler um jornal, tempo disponível para conversar sobre questões públicas, reunir-se com amigos e vizinhos etc; tudo isso é “recurso” que pode ser utilizado para aumentar o alcance dos posicionamentos tomados pela camada superior. Os 40% mais baixos em renda e escolaridade são pobres demais para ajudar. Pedir a um pobre-diabo que sai de casa às 5:30 para o trabalho e chega de volta às 20:00, exausto, que contribua significativamente para melhorar o país, é pura demagogia.

O problema é que, para transformar os percentuais da população e os respectivos  recursos em poder político, é preciso ter cultura. Como já falei em escolaridade, é óbvio que não estou sendo redundante, dizendo a mesma coisa pela segunda vez. Não, cultura é um termo mais amplo, que emprego para designar as áreas de convergência e divergência existentes na sociedade, áreas que precisam ser conhecidas para que as elites falem realmente como elites. Faz trinta anos, mais ou menos, que tento abordar essa questão em meus trabalhos de pesquisa, mas esbarro num obstáculo invencível: a ignorância dos que poderiam patrociná-los. Ignorância sem fim. São indivíduos e entidades que não conseguem compreender estas duas afirmações elementares: 1) as instituições formais de governo não pairam no ar, acima de nossas cabeças, e nem conseguem agir como deveriam, sem a “cultura”, vale dizer, um balizamento mais amplo que as oriente; 2) para conhecer o substrato das instituições, ou seja, o que de fato as sustenta e baliza, é preciso estudar o assunto em profundidade, com  metodologias apropriadas. Bate-boca é muito bom para botequim, mas, para ajudar o país a se livrar da “armadilha do baixo crescimento”, não serve.”

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Agora, este escrevinhador:

Bolívar Lamounier trata aqui de um tema com o qual há muito tempo também estou muito preocupado e que ele resume, provavelmente de forma intencional, numa frase: “as elites não falam”. 

Eureka! 

Tenho falado muito dessas elites medíocres, que geralmente exibem suas posses (alguns de seus membros são mais discretos), mas o que choca, realmente, é o fato que elas raramente falam sobre o Brasil, sobre o futuro do país que também é delas (e como), ou pelo menos deveriam se ocupar dessa nação que tem, sim, muitas elites, mas que não parecem ter nenhuma preocupação com o estado presente e a evolução futura de uma nação que parece perdida no tempo e no espaço (e isso precede o desgoverno do capitão). 

Não tem nenhum líder das elites que se aventuraria a fazer um chamamento aos seus colegas para debater sobre os impasses atuais e os desafios futuros do Brasil? 

À diferença da Revolução francesa, que em 1789 começou com a convocação dos États Généraux — entre eles o Tiers État, aquele que não era “nada”, segundo o Abade Sieyès, mas que queria ser tudo — e a apresentação dos Cahiers de Doléances (cadernos de reclamações, de pedidos e de demandas). No nosso caso, o Tiers État está mais próximo da segunda categoria identificada por Bolivar Lamounier, e o que se busca é realmente la crème de la crème de la société, nossos grandes burgueses, capitalistas e banqueiros, para que eles possam, por uma vez, se ocupar do futuro do país no qual obtêm fabulosos lucros e subsídios estatais, proteção e apoio dos bancos públicos. 

Já nem me refiro ao alto mandarinato do serviço público, à aristocracia da magistratura, que possuem mais privilégios do que os nobres do Ancien Régime, pois estes não estão interessados em nada, a não ser em preservar e se possível aumentar suas mordomias e prebendas.  

Creio que o que falta ao Brasil é um partido das elites, ou pelo menos um clube de reflexões, onde elas possam, entre charutos e champagne, discutir um pouco sobre o destino das elites. Eu e Bolivar também pertencemos às elites, mas se trata apenas de uma elite intelectual, pois não teriamos dinheiro para frequentar esses lugares exclusivos das verdadeiras elites.

Seria pedir muito que elas pensassem um pouco no país e falassem entre si sobre o que fazer com esse Prometeu acorrentado, esse Gulliver amarrado pelo liliputianos do estamento parlamentar?

Pela sugestão:

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 6/11/2021


sexta-feira, 5 de novembro de 2021

Devolução de comenda da Ordem de Rio Branco (2005) - Paulo Roberto de Almeida

 Em 2005, ao ter o Itamaraty agraciado com a Ordem de Rio Branco, no grau de Grande Oficial, o então presidente da Câmara dos Deputados, depois afastado do cargo por corrupção, eu considerei devolver a minha comenda, preparei memorando, transcrito abaixo, ao chefe do Cerimonial do Itamaraty, na qualidade de Secretário do Conselho da Ordem, procedendo a tal gesto.

Na última hora, contudo, amigos e colegas de carreira, sabedores de minha intenção (pois fiquei chocado não só com tal personagem, mas também diversos outros, me demoveram de fazê-lo, basicamente por duas razões: causaria uma "comoção desnecessária" no Itamaraty e a comenda concedida ao político corrupto não deveria ser confundida com a minha, dada a um membro da carreira, ao passo que o ladrão vulgar tinha sido agraciado na categoria de "contemplados externos".

Não desisti ainda de devolver...

1466. “Ordem de Rio Branco: Memorandum”, Brasília, 2 de setembro de 2005, 1 p. Comunicação ao Chefe do Cerimonial do Itamaraty, na qualidade de Secretário do Conselho da Ordem, a propósito da distinção concedida no grau de Cavaleiro. Não encaminhada. 


Memorandum ao Sr. Chefe do Cerimonial do Itamaraty

 

Brasília, em 2 de setembro de 2005

 

Ordem de Rio Branco. Cavaleiro

Pedido de desligamento.

Paulo Roberto de Almeida.

 

            Senhor Chefe do Cerimonial,

            Dirijo-me a Vossa Excelência na qualidade de Secretário do Conselho da Ordem de Rio Branco, de conformidade com o disposto no Regulamento do Decreto nº 51.697, de 5 de fevereiro de 1963, que dispõe sobre a concessão dessa honraria, com a qual fui distinguido, em 1986, quando Segundo Secretário, no grau de Cavaleiro do quadro Ordinário.

            Muito embora o referido Regulamento não preveja retrocessão ou recusa ulterior dessa distinção – estando apenas nele previsto a suspensão, pelo Conselho da Ordem, do “direito de usar a insígnia por motivo de condenação judiciária ou prática de atos contrários ao sentimento de honra e à dignidade nacional”, o que não se aplica ao meu caso –, venho, por meio deste Memorandum e por razões de ordem estritamente pessoal, solicitar a Vossa Excelência minha exclusão dos quadros dessa Ordem. 

Acompanha este Memorandum o estojo que contém as insígnias da ordem com que fui contemplado. Tão pronto localize, entre meus papéis, o respectivo diploma que me foi entregue na ocasião, providenciarei sua entrega a Vossa Excelência. 

 

Respeitosamente,

 

Paulo Roberto de Almeida

Ministro de Segunda Classe

 

Anexo: estojo com as insígnias da Ordem de Rio Branco, grau: Cavaleiro. 

 



O multilateralismo em crise - Ngaire Woods

 The Telegraph, Londres – 5.11.2021

Is Multilateralism a Fig Leaf?

International organizations must manage a constant tension between the interests of their most powerful member states and those of the rest. Three factors – leadership, effective internal processes, and transparency – are crucial to managing these strains.

Ngaire Woods

 

Oxford - International organizations are currently plagued by allegations of powerful states wielding undue influence over outcomes. These include recent revelations about Australia, Japan, Saudi Arabia, and other countries pushing back against the United Nations on climate change, suggestions that senior World Bank officials intervened to boost China’s ranking in the Bank’s Doing Business index, and suspicions that China influenced the World Health Organization’s approach to the COVID-19 pandemic.

Underlying all these controversies is the simple reality that powerful countries exert great influence over multilateral organizations. But their clout does not render multilateralism impossible. Rather, it is a force that must be actively managed and counterbalanced.

The undue influence of some countries in multilateral institutions is of course not new, but the shifting global balance of power has brought it back into focus. For example, the recent Doing Business fracas prompted arguments implying that otherwise technocratic and evidence-based institutions such as the World Bank were at risk of being led by managers too attentive to China’s concerns. As Anne Krueger writes, “Like Caesar’s wife, IMF and World Bank leaders must be well above suspicion in overseeing these institutions’ work and safeguarding the integrity of the data on which that work relies.”

But history tells a different story. The United States has long dominated the World Bank, in both its formal and informal governance. In the 1960s, it was said that the US hardly needed to exercise its formal powers over the organization, because its staff worked with one eye constantly trained on the preferences of the US government, a few blocks away in the center of Washington, DC. As the historian Catherine Gwin noted, “The result was a strong and enduring American imprint on all aspects of the Bank, including its structure, general policy direction, and the manner of granting loans.”

The US government has typically channeled its preferences through the World Bank’s senior management. In 2006, an independent panel commissioned by the Bank to evaluate its research criticized the way in which “research was used to proselytize on behalf of Bank policy, often without taking a balanced view of the evidence, and without expressing appropriate skepticism.” Moreover, “[i]nternal research that was favorable to Bank positions was given great prominence, and unfavorable research ignored.” The panel lamented that, “when the Bank leadership selectively appeals to relatively new and untested research as hard evidence that its preferred policies work, it lends unwarranted confidence to the Bank’s prescriptions.”

Other powerful countries also exercise influence over international organizations’ senior management and staff. In the International Monetary Fund’s 2014 surveillance review, for example, staff noted the “additional internal pressure and scrutiny associated with surveillance of systemic economies.” And in a background paper on evenhandedness for the review, nearly 60% of IMF mission-chief respondents who worked on advanced economies acknowledged “pressure to dilute the candor of staff reports in order to avoid upsetting the country authorities.”

But international organizations need the backing of powerful countries in order to be effective, and they have historically secured that backing by giving these countries special rights. For example, whereas the US stayed out of the League of Nations in the 1920s, it was persuaded to join the UN, the IMF, and the World Bank after World War II. This was not least because the US gained a say over these organizations’ leadership, hosted their headquarters, and had outsize decision-making power (a veto in the UN Security Council and weighted voting power in the IMF and World Bank). China’s leading position within the Asian Infrastructure Investment Bank today reflects similar considerations.

At the same time, powerful countries must accept some constraints in order to persuade and co-opt others to participate in multilateral institutions. For this reason, strong states create organizations that give votes to other states, with formal decision-making arrangements that (however weakly) limit their power to decide unilaterally what the institution does.

The result is a constant constructive tension between the interests of the most powerful and those of everyone else. Three factors are crucial to managing the inevitable strains.

First, leadership is vital. The role of any multilateral institution’s leader includes not only “speaking truth to power,” but also mobilizing smaller countries to ensure their voices are heard in counteracting the influence of the powerful. Yet, such offsetting influence will be muted as long as powerful states control the appointment and reappointment of organizations’ senior leadership – as the US and the European Union(and increasingly China) do at the World Bank and the IMF. As matters stand, the heads of these institutions are implicitly accountable to the leading powers.

Second, in principle, formal governance arrangements guaranteeing the representation of all members, rules about staffing and funding, and decision-making processes permit all member states to hold an institution to account. But the effective operation of such mechanisms requires attention, information, and experience. Currently, too many countries are represented in multilateral institutions by officials who serve brief terms and have little access to information. This makes them easy to outmaneuver. Less powerful countries need to train and equip their representatives appropriately to serve on the boards of international organizations, so that they can hold their own and constrain the undue influence of the more powerful.

Lastly, transparency is crucial. The trend toward open evaluations conducted by independent evaluation offices, and the increased publicity surrounding efforts by some countries to influence international organizations, are uncomfortable for all participants, but they are vital in the pursuit of effective cooperation.

Given today’s heightened geopolitical tensions, complaints about some countries’ supposedly excessive sway in multilateral institutions may become more frequent. More accountable leadership, effective representation, and transparency are the best tools for counteracting, detecting, and mitigating it.(P.S.)

 

Ngaire Woods is Dean of the Blavatnik School of Government at the University of Oxford.

 

A PEC dos "Predatórios" (sic) - Vera Magalhães (OESP)

Há praticamente dois anos que venho alertando meus alunos sobre o caráter PREDATÓRIO das emendas parlamentares, agora potencializadas pelo ESTUPRO do orçamento representado pelas "emendas do Relator", um assalto a mão armada sobre o orçamento público, em favor de um estamento político que representa um patrimonialismo de tipo GANGSTERISTA.
Paulo Roberto de Almeida



Microhistória do Brasil nos últimos 60 anos - Paulo Roberto de Almeida

 Microhistória do Brasil nos últimos 60 anos

 

 

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com; pralmeida@me.com)

 

 

Vou resumir, num único parágrafo nossa história das três últimas gerações.

Sou de uma geração que assistiu a tudo: o descontrole inflacionário do final dos anos 1950 e início dos 60, a estabilização estatista dos anos militares, o descontrole inflacionário e o endividamento do final da ditadura, as hiperinflações e os planos frustrados de estabilização da redemocratização (1986-1992), uma razoável estabilização macroeconômica com o Plano Real (1994), mas meia boca, pois que baseado em âncora cambial insustentável e ausência de ajuste fiscal rigoroso, um "conserto" em 1999, que criou um tripé macroeconômico razoável, a ser complementado por reformas estruturais de segunda geração que NUNCA foram feitas – o lulopetismo econômico surfou sobre a demanda chinesa e a valorização das commodities –, seguido de uma rápida deterioração da conjuntura econômica sob a incompetente da Dilma, que provocou a MAIOR RECESSÃO econômica de nossa história, uma nova tentativa de correção sob Temer, mas sabotada pelas turbulências políticas derivadas da corrupção e do ativismo judicial, para chegarmos, enfim, a um governo que prometia tudo – luta contra a corrupção, abertura econômica e liberalização comercial, nova política – e não entregou NADA, ao contrário, só agravou TUDO, corrupção, desmandos, desgoverno, graves violações da institucionalidade, com um psicopata genocida no comando do Executivo, militares castrados a seu serviço e um estamento político adepto do patrimonialismo gangsterista. 

Acho que resumi nossa história pelo lado menos glorioso.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4011, 5 novembro 2021, x p.

 

 

Sobre nossa miséria política atual - Paulo Roberto de Almeida

Sobre nossa miséria política atual

 

 

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

 

 

O Brasil tem muitas mazelas, um supermercado inteiro de deficiências políticas, econômicas, sociais, culturais, que foram sendo construídas ao longo dos últimos 200 anos por elites predadoras que não só continuaram o legado de atraso de 300 anos de colonização extratora (tráfico, escravidão, privilégios aristocráticos de fachada, conservadorismo reacionário antirreformista e anticientífico, patrimonialismo renitente, corporativismo, cartorialismo), mas que também acrescentaram novos fatores de atraso deliberadamente buscado: não educação, não reforma agrária, nacionalismo rastaquera, protecionismo comercial, intervencionismo estatal exacerbado, patrimonialismo reformado, corporativismo burocrático, etc.

Gostaria apenas de destacar um pequeno grande fator de nossa perda total de sentido no domínio das políticas públicas, que é a ausência completa de concepção nacional de planejamento para o desenvolvimento da nação de forma integrada e o domínio nocivo dessas políticas por um estamento parlamentar preocupado apenas com o seu enriquecimento pessoal via emendas paroquiais que destroem deliberadamente a noção de um orçamento nacional.

Neste caso, não creio que a origem do problema esteja na horripilante fragmentação partidária que infelicita o sistema político brasileiro (e que também é um problema maior), e sim o absoluto desprezo desses parlamentares por qualquer coisa que se aproxime do conceito de política pública racional: eles são uma matilha de devoradores de nacos cada vez maiores do orçamento público pela vias das muitas emendas obrigatórias ou dirigidas que constituem uma forma legal de roubar o erário, sob a forma das emendas individuais, das “de bancada” (ou seja partidárias, e todos se locupletam) e, agora, as “emendas do relator”, que constituem um assalto ilegal, imoral e amoral, pois que secretas e pouco transparentes, ao orçamento geral. Esta foi a tragédia construída nos últimos anos.

No estágio atual de nossa desgovernança figura justamente o estamento parlamentar, uma categoria que constitui uma “classe em si” e que foi contaminada pela constitucionalização das emendas compulsórias e “incontigenciáveis”, um “presente de grego” que nos foi legado por aquele gênio do mal chamado Eduardo Cunha, o corrupto que, sozinho, valia meio PT. Esse supercorrupto construiu ainda, ao lado da excrescência que já era o Fundo Partidário — um outro assalto ao orçamento público por entidades de direito privado que são os partidos, e muitos existem e são criados apenas por causa desse “fundo” —, o Fundo Eleitoral, outro assalto indecoroso aos recursos públicos pelo Estamento Político e pela pletora de partidos. 

Esse Fundo Eleitoral dispensa o estamento político de fazer caixa dois e de ficar implorando recursos aos seus capitalistas e financiadores corporativos e representou em parte a consequência involuntária da proibição empresarial de financiamento empresarial de campanhas políticas, um preconceito idiota contra o “poder econômico”, que sempre existirá, de uma forma ou de outra.

Em conclusão: todo o nosso sistema político-partidário-eleitoral e todo o processo orçamentário atuais estão eivados de deformações, assim como o sistema tributário, que se tornou um monstro irreformável e incorrigível por distorções acumuladas ao longo dos anos, aliás desde o infame “pacote de abril” dos tempos da ditadura militar (Geisel, 1977) e ainda acrescentadas pela “Constituição Contra o Brasil” (título de um livro meu, d’après Roberto Campos) de 1988.

O Brasil é um gigante acorrentado por si mesmo, uma espécie de Gulliver capturado pelos parlamentares liliputianos e condenado a ficar eternamente deitado, não em berço esplêndido, mas na praia de nossas desesperanças. 

Quase 80 anos depois do livro (aliás medíocre de Stefan Zweig), somos um “país sem futuro”, tema talvez de um novo “clássico revisitado” que pretendo escrever em 2022. 

Termino, perguntando aos nobres colegas Bolivar Lamounier e Everardo Maciel se concordariam com minha análise pessimista do quadro político-partidário e do caos financeiro-orçamentário que nos transformaram em verdadeiro Prometeu acorrentado.

 

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4010, 5 novembro 2021, 2 p.

 


quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Ah, esse “liberalismo colbertista” francês - Alexis Karklins-Marchay

 Les Echos, Paris – 4.11.2021

Zemmour, cet antilibéral qui feint de l'ignorer

Dans cette lettre ouverte à Eric Zemmour, l'essayiste Alexis Karklins-Marchay revient sur le libéralisme économique auquel le polémiste dit adhérer. En réalité, les écrits d'Eric Zemmour et ses prises de position passées montrent sa méfiance et son hostilité à un courant libéral qu'il n'a cessé de dénoncer.

Alexis Karklins-Marchay

 

 

Monsieur Zemmour,

Votre progression impressionnante dans les sondages ne laisse personne indifférent. Malgré les polémiques soulevées par vos prises de position, c'est un fait : vos idées rencontrent un véritable écho auprès de nombreux électeurs. Cela vous oblige désormais à avancer sur d'autres thèmes que le « grand remplacement » ou l'identité.

Sur l'économie, vos récents discours sur le travail, la fiscalité et les finances publiques vous ont immédiatement classé dans la catégorie « libérale », vous-même indiquant lors d'une interview que ce qualificatif ne vous gêne pas. Par transparence vis-à-vis de ceux qui seraient tentés de voter pour vous, en particulier dans le monde de l'entreprise, il semble indispensable de comprendre votre propre logique. Car, de la même façon que l'hirondelle aristotélicienne ne fait pas le printemps, l'annonce d'une baisse d'impôt ne saurait faire le libéral.

Vos derniers livres et vos déclarations démontrent que vous êtes en réalité un contempteur infatigable du libéralisme. Vous détestez le libéralisme qui fut, dites-vous, adopté par François Mitterrand et les élites françaises en 1983. Vous attaquez avec virulence « les apôtres du marché » et les tenants de la « modernité libérale ». Vous regrettez que la droite ait repris « les thèses libérales européistes » et moquez les technocrates qui défendent les « stricts équilibres budgétaires ».

Pour vous, la France serait victime de « l'alliance entre marché et progressisme, entre libéraux et libertaires ». Vous critiquez sans relâche le « libre-échange mondialisé » dont la « logique imparable détruit les peuples, les emplois, au profit d'une infime minorité qui s'enrichit ». Malheureusement, parfois, au mépris des faits historiques…

Conscient de devoir rassurer les entrepreneurs, vous évoquez bien sûr « l'enfer fiscal » et, suivant le mot de Georges Pompidou, vous souhaitez « qu'on cesse d'emmerder les Français ». Vous reconnaissez également le niveau vertigineux de nos prélèvements obligatoires et de nos dépenses publiques.

Mais plutôt que d'en tirer les conséquences sur la nécessité de réformer l'Etat pour le rendre plus efficace, vous rejetez la faute sur l'immigration, stigmatisez les défenseurs du « moins d'Etat », dénoncez la « main invisible » d'Adam Smith et les thèses de Milton Friedman. Vous soutenez même que le libéralisme serait responsable de la bureaucratisation française depuis quarante ans !

Relire Boisguilbert

Comme l'immense majorité des politiques français, de droite comme de gauche, vous affirmez « je suis colbertiste ». Au regard de votre indéniable culture et de votre passion pour notre civilisation, vous ne pouvez néanmoins ignorer que le protectionnisme mis en place par le contrôleur des finances de Louis XIV fut bien plus préjudiciable que la liberté du commerce pratiquée par la Hollande. Plutôt que Colbert, n'est-ce pas Boisguilbert, l'ami de Vauban et le premier des libéraux français, qu'il conviendrait de relire, surtout ses analyses sur les causes de la misère au temps du Roi-Soleil ?

Pourquoi faire l'impasse sur les enseignements de Turgot, Say, Dunoyer ou Bastiat ? Comment célébrer les succès économiques de Charles de Gaulle sans rappeler que ces derniers ont été rendus possibles grâce à l'adoption des réformes libérales proposées en 1958 par l'économiste Jacques Rueff ?

Je ne résiste pas, pour terminer, à partager avec vous deux citations de Balzac, cet authentique génie français que nous aimons tant : « Tout gouvernement qui se mêle du commerce et ne le laisse pas libre entreprend une coûteuse sottise » ; « En fait de commerce, encouragement ne signifie pas protection […]. L'industrie ne peut être sauvée que par elle-même, la concurrence est sa vie. Protégée, elle s'endort ; elle meurt par le monopole comme sous le tarif. » Et si, plutôt qu'une énième déclinaison de « plus d'Etat », la France essayait la liberté ?

 

Alexis Karklins-Marchay, essayiste, est l'auteur d'« Histoire impertinente de la pensée économique », 2016, et de « Notre monde selon Balzac », 2021 (Ellipses).

Congresso Mundial de História Econômica, Paris, 2-29 Julho 2022

 World Economic History Congress, Paris, 25-29 July 2022


The 19th World Congress will be held in Paris on July 25-29, 2022. The Congress will address “resources” as one of the main challenges of the contemporary world. The Congress will consider sessions on all the categories of resources, that is natural, material, immaterial and human (work and skill): water, air, energy, food products, raw materials, labour, capital, patents etc.

The organizing committee welcomes a large set of approaches in economic history including social history, urban and rural history, history or economics of finance, sciences and technologies, gender history, cultural history, etc. – and crossovers with other disciplinary fields, including management studies, demography, geography, environment, anthropology, sociology, socio-psychology etc. It also invites panels about methods in economic history, history of economic thought or economic theory, as well as innovative discussion of new sets of data and archives, or public communication of new (or renewed) results in economic history.

The plenary sessions are lectures presented by internationally renowned researchers (keynote lectures):
- Pr. Bruce Campbell (Queen's University Belfast): “Environmental change, renewable resources and the economic history of the pre-industrial world”
- Pr. Catherine Coquery-Vidrovitch (Université de Paris)
- Pr. Ibrahima Thioub (Université Cheikh Anta Diop UCAD, Dakar)
- Pr. Francesca Trivellato (Institute for Advanced Study, Princeton University)

Social Events
With the worst of the 2020 pandemic hopefully behind us, we know that everyone will be keen to enjoy in-person interaction with colleagues! Besides coffee breaks, the Congress will organize several social events throughout the week.
Coffee breaks

Light breakfast refreshments will be available at the welcome coffee on Monday morning from 10:30 to 11:30 am at the Pullman building after the opening plenary session.

Simpler coffee breaks will be available in each building where sessions take place from

4:00 to 4:30 pm on Monday, and between 10:30 and 11:00 am and between 3:30 and 4:00 pm from Tuesday to Friday.

Opening reception, Monday 6:30 to 8:45 pm at Pullman (Free - RSVP)

Join fellow attendants for an aperitif cocktail at the Pullman building
Pre-Congress Social Events : Sightseeing

Participants will benefit from guided tours on the afternoon of Sunday, July 24, 2022:
Exhibition in the Cité des Sciences et de l’Industrie
Storage of the Musée des arts et métiers (Saint-Denis)
Industrial heritage sites in North Paris
Visits in Paris : CITECO, Réservoir de Montsouris (XIXth water tank), Museum of Mineralogy in the Paris School of Mines, Archives nationales...

National Archives reception

Tuesday 6:30 to 9:00 pm (Free - RSVP)

Participants in the Archives Social Event will be invited to this visit and this reception by the French National Archives
Musée de l’Air et de l’Espace

Tuesday 6:30 to 9:00 pm (Details to follow - RSVP)

Participants in the Musée de l’Air et de l’Espace Social Event will be invited this visit and this reception by the museum
Gala Dinner at the Cité des Sciences et de l’industrie (Parc de la Villette)

Wednesday 8:30 to 11:00 pm -- (Price to be announced)

The main reception of the Congress will take place in the marvelous venue of the Main Hall of the Cité des Sciences.
Student Reception (Condorcet)

Thursday 8:00 to 12:00 pm (Free to graduate students -others: tba Conditions to be announced for others)

Join fellow early-career researchers in economic history in this informal reception with music.
Closing Reception (Condorcet)

Friday 7:45 to 9:30 pm (Free - RSVP)

Say farewell to the Congress and fellow attendants during this cocktail dinner in the Campus Condorcet.


Mini-reflexão sobre nossa acomodação às misérias do cotidiano - Paulo Roberto de Almeida

 Mini-reflexão sobre nossa acomodação às misérias do cotidiano

Paulo Roberto de Almeida

Nosso sofrimento ainda não terminou: politicos oportunistas ainda veem em Bolsonaro uma chance de continuarem se locupletando. Estamos indo diretamente a uma longa estagflação. 

Também surpreende a resiliência do psicopata perverso, o que depende de eleitores e do Grande Capital. 

A adesão ainda significativa de tantos brasileiros a um mentiroso, a um crápula, a essa escória de gente, a esse genocida confirmado, é um desafio a todos os cientistas políticos; o fenômeno tem mais a ver com traços psicológicos desse povo que ainda idolatra o verme mesmo tendo todas as evidências de que ele está afundando o Brasil e piorando a vida de todos e cada um. Difícil explicar isso.

Políticos e Grande Capital (não todo ele) ainda se entende, pois esperam continuar lucrando em cima do parvo, ainda assim é triste constatar que esses poderosos não têm a mínima consideração pelo futuro da nação e pela situação pré-falimentar da economia do país.

O que leva um povo a estrangular assim suas chances de prosperidade e de bem-estar, ou melhor, como explicar a decisão dos mais privilegiados de continuar a desprezar de maneira tão vil o destino de milhões de brasileiros pobres?

Não sabemos exatamente, mas a América Latina não é exatamente um exemplo de postura racional de aderência a um projeto de desenvolvimento inclusivo e socialmente responsável: sempre fomos desiguais e tolerantes com a opressão, a miséria e a desigualdade. 

Entendo que os principais fatores dessa condição — criada internamente, não imposta de fora — sejam a não educação da massa da população, a corrupção política e a arrogância soberba, mesquinha e egoista das elites dominantes e dirigentes, cujo arbítrio e poder não encontram limites. 

Em outros termos, uma mudança estrutural e sustentada não é provável no curto prazo. Se considerarmos que mais da metade da humanidade ainda vive em condições precárias de equilíbrio econômico e de bem-estar social, submetida a regimes corruptos e pouco democráticos, podemos concluir que o Brasil vive nessa média medíocre de metade da humanidade. 

Em conclusão: não temos capacidade de sermos melhores do que o nosso meio, ou de superar rapidamente o legado de atraso e de ignorância que recebemos de nossos antepassados nos últimos 200 ou 500 anos de formação da nação (sacrificando, diga-se de passagem, os povos originários).

Espero ter interpretado razoavelmente bem, e de maneira objetiva, as razões de nossa condição deplorável. Privilegiado como sou, agora, constrange-me ainda assim ver tantos brasileiros, milhões deles, entregues a uma situação de abandono, parte responsabilidade pessoal, mas a maior parte devido à incúria das elites do poder. Ineptos e desprezíveis, é tudo o que me resta dizer.

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 4/11/2021

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

Meu primeiro manifesto contra o bolsolavismo, em 3/11/2018 - Paulo Roberto de Almeida

 Abaixo, o que escrevi hoje, 3/11/2021, para introduzir o que eu havia escrito TRÊS ANOS antes, ou seja, ainda ANTES de começar o presente desgoverno. Eu já previa o pior, mas não poderia imaginar, ninguém poderia, que seria MUITÍSSIMO PIOR.

Introdução em 3/11/2021:

Pouco depois do fatídico 2o turno de 2018, que confirmou a vitória daquele a quem eu classificava “apenas” como fascista, naquele momento, e antes mesmo do anúncio do patético direitista no armário como “chanceler acidental”, eu já anunciava minha postura no “modo resistência”, e me preparava para ser exonerado de meu cargo como Diretor do IPRI logo no primeiro dia de janeiro de 2019. Demorou um pouco, mas isso acabou ocorrendo no Carnaval, sendo que antes, já no dia 2 de janeiro, recebi a ordem de congelar o programa aprovado para novas atividades no IPRI. Estava começando a “Era dos Absurdos” no Itamaraty e o reinado dos “novos bárbaros” na nova administração. Continuei no modo resistência e até escrevi cinco livros criticando acerbamente o ciclo bolsolavista na diplomacia brasileira. Felizmente, no tocante à diplomacia, acabou em 29 de março de 2021, mas a política externa continua a porcaria que sempre foi no desgoverno do capitão genocida.

Texto de 3/11/2018:

Também vou reforçar as hostes da Resistência, onde aliás sempre estive, tendo até um quilombo de resistência intelectual, o blog Diplomatizzando, que muito me serviu ao longo de todo o período de travessia do deserto, sob o lulopetismo diplomático.

Vou continuar resistindo à burrice crassa, à estupidez ideológica, à inépcia administrativa, à desfaçatez profissional, à mistificação política, à mentira corporativa, ao patrimonialismo, ao dirigismo, ao intervencionismo estatal, ao protecionismo comercial, ao nacionalismo rastaquera, ao patriotismo piegas, às máfias sindicais (de trabalhadores e de patrões), ao fundamentalismo religioso (em especial ao criacionismo), ao Estado máximo e à Escola Mínima, à falta de bibliotecas nas escolas, aos carteis de industriais e de banqueiros, às saúvas freireanas, aos mortadelas nacionais e estrangeiros, aos políticos profissionais, aos capitalistas promíscuos, enfim, à desonestidade intelequitual e à ignorância acadêmica, uma enfermidade que se reforçou muito desde 2003.

Como se pode constatar, tenho muito a que resistir...

Concluo:

Tem outra coisa a fazer senão resistir?

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 3/11/2021

Tendo, logo depois do 2o. turno de 2018, antecipado minha postura no modo de resistência, mesmo dispondo de um cargo no Itamaraty, não mudei de atitude, nem sob retaliações (e elas não foram poucas). Deixei meu testemunho: 5 livros sobre a era dos novos bárbaros!

-  Apogeu e demolição da política externa: itinerários da diplomacia brasileira (Curitiba: Editora Appris, 2021)


-  O Itamaraty Sequestrado: a destruição da diplomacia pelo bolsolavismo, 2018-2021 (Brasília, Diplomatizzando, 2021)


-  Uma certa ideia do Itamaraty: a reconstrução da política externa e a restauração da diplomacia brasileira (Brasília: Diplomatizzando, 2020)


 O Itamaraty num labirinto de sombras: ensaios de política externa e de diplomacia brasileira (Brasília: Diplomatizzando, 2020)


 Miséria da diplomacia: a destruição da inteligência no Itamaraty (Brasília: Edição do autor, 2019)


Miséria da diplomacia: a destruição da inteligência no Itamaraty (Boa Vista: Editora da UFRR, 2019, 165 p., Coleção “Comunicação e Políticas Públicas vol. 42).