Improvisar pode ser uma boa qualidade, desde que se tenha competência para fazê-lo. Claro, preparação e antecipação são sempre melhores do que improvisação, mas por vezes esta se afigura necessária.
Quando ela é transformada em recurso único, sem qualquer planejamento, aí a coisa fica preta (ops, acho que não se pode empregar essa palavra agora...).
Paulo Roberto de Almeida
''Itamaraty no improvisa''
Sergio Amaral
O Estado de São Paulo, 12 de junho de 2010
Por que razão o Brasil decidiu envolver-se num conflito tão complexo e explosivo como o programa nuclear iraniano, numa região tão longe de nós, ao lado de um parceiro tão distante dos valores e dos interesses da sociedade brasileira? Essa é a pergunta que muitos se fazem neste momento e para a qual a diplomacia brasileira ainda não deu uma resposta convincente.
A Turquia até pode ter as suas razões para se solidarizar com o Irã e aceitar o isolamento no Conselho de Segurança da ONU. No momento em que o Egito parece retrair-se da liderança que tradicionalmente exerceu no mundo islâmico, seria até compreensível que a Turquia buscasse aproveitar a oportunidade para ampliar a sua influência na região.
No caso do Brasil, a aventura do Irã é incompreensível, sobretudo quando persistem vários contenciosos perto de nós, em relação aos quais não tentamos ou não logramos, aí, sim, mediar um entendimento. Os exemplos são vários, como a disputa sobre as "papeleras" entre o Uruguai e a Argentina; a virtual paralisia do Mercosul, como resultado das sucessivas medidas protecionistas da Argentina; e um retrocesso na integração sul-americana, pela falta de uma visão compartilhada entre os países da região e, especialmente, em decorrência dos desentendimentos entre vários de nossos vizinhos.
Alguns buscaram ver na iniciativa do Brasil o objetivo de exportar mais, para um mercado que pode apresentar oportunidades para alguns setores da economia brasileira. As estatísticas, no entanto, mostram que, em 2009, as vendas para o Irã representaram apenas 0,80% do total de nossas exportações. Assim, ainda que dobrássemos as exportações, elas continuariam a ser pouco significativas.
Outros mencionaram o argumento político. Ao se apresentar como mediador de um conflito de dimensão mundial, o Brasil estar-se-ia credenciando a um protagonismo global. O fracasso da tentativa de mediação, em decorrência da aprovação de novas sanções contra o Irã, por uma expressiva maioria, de 12 a 2 votos no Conselho de Segurança, mostrou, no entanto, de duas, uma: ou a ingenuidade dos formuladores da política externa ou a falta de informação sobre a postura dos principais atores (como a China). Qualquer dessas hipóteses seria uma falha grave para uma diplomacia competente.
Se o Brasil nada ganhou com o acordo negociado com o Irã, tem muito a perder. Em primeiro lugar, a credibilidade. Quando os diplomatas de minha geração ingressaram no Itamaraty, em meados dos anos 70, ouviam de seus colegas latino-americanos, com um misto de admiração e respeito, o comentário: "Itamaraty no improvisa." Hoje, essa não parece ser a marca da diplomacia brasileira. Em Honduras, sob a indução do venezuelano Hugo Chávez, envolvemo-nos num imbróglio ao abrigar, sem se ter configurado o asilo, um presidente deposto que pregava a insurreição de um terraço da Embaixada do Brasil. Em seguida, no Oriente Médio, a oferta para mediar a crise Israel-Palestina, um dos mais antigos e desafiadores conflitos do mundo contemporâneo, foi rejeitada por ambos. Para não dizer que não alcançou nenhum resultado, logrou unir governo e oposição em Israel contra nós. Por fim, no Irã, colocamo-nos, a contracorrente da comunidade internacional, na esdrúxula posição de fiadores das boas intenções de um governo que se notabilizou por um déficit democrático e por recorrentes violações dos direitos humanos, desta vez, na contramão dos valores da sociedade brasileira.
Tem mais. Muito poderemos perder ao nos associarmos a um país que busca, segundo os fortes indícios coletados pela Agência Internacional de Energia Atômica, a fabricação de artefatos nucleares. Há anos estamos desenvolvendo, legitimamente, o ciclo do combustível nuclear, para utilização pacífica. A comunidade internacional, depois de ter buscado em vão reforçar a inspeção sobre o programa brasileiro, acabou cedendo à evidência de que o Brasil não apresenta nenhum risco de proliferação de armas nucleares. É difícil antecipar se a anuência tácita ao programa nuclear brasileiro será mantida, após o empenho demonstrado pelo Brasil em dar cobertura a um programa que, por um conjunto de evidências, tem intenções militares. Sem falar das possíveis repercussões para outro de nossos interesses legítimos, como é o acesso a uma cadeira permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas.
No momento em que os olhares da comunidade internacional se voltam, com admiração, para a emergência da China, econômica antes, política em seguida, é interessante registrar a evolução notável de sua diplomacia. Aos poucos, a China foi abandonando a visão de um conflito irreconciliável nas relações entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, na linha da retórica do Grupo dos 77, em favor da defesa de uma harmonia entre os povos, na melhor tradição confuciana. Nos foros internacionais, pauta-se pela discrição, frequentemente pela ambiguidade. Sabe que ainda não chegou o momento de assumir a liderança que sua dimensão e sua crescente influência econômica inevitavelmente proporcionarão. Esquiva-se do protagonismo e do ativismo diplomático, exceto quando algum dos seus interesses estratégicos estiver em jogo. Assim, sem alarde, foi aos poucos equacionando alguns de seus desafios mais sérios, como a questão do Tibete, o conflito de Taiwan e mesmo as críticas, em boa medida justificadas, às restrições aos direitos humanos.
Em contraste com a moderação chinesa, a diplomacia brasileira, nos últimos anos, tem associado a exuberância na retórica com a parcimônia nos resultados. Mais do que isso, como diriam hoje nossos amigos latino americanos, "Itamaraty, si, improvisa".
DIPLOMATA, FOI EMBAIXADOR EM LONDRES E PARIS
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
terça-feira, 15 de junho de 2010
Pausa Copa do Mundo: nossos primeiros adversarios, a Coreia do Norte
O Le Monde dedicou uma imensa matéria a este país ainda stalinista, talvez até mais do que isso, um dos mais fechados (senão o mais fechado) do mundo.
Vale clicar no link da matéria para assistir aos videos interessantes...
Mondial 2010 : la Corée du Nord, secret défense
Le Monde, 15.06.2010
L'équipe de Corée du Nord jouera sa deuxième Coupe du monde en 2010, quarante-quatre ans après ses exploits réalisés sur le sol anglais.

Pour la deuxième participation de son histoire à la Coupe du monde, la Corée du Nord est tombée dans la poule la plus difficile de cette édition 2010 : le "groupe de la mort", avec le Brésil, la Côte d'Ivoire et le Portugal. Si la tâche s'annonce immensément compliquée, la sélection du pays le plus secret du monde a quelques arguments à faire valoir, en particulier une défense en béton armé.
HISTORIQUE : l'exploit de 1966 (video)
Pour sa première participation à la Coupe du monde en 1966, la Corée du Nord réussit un exploit incroyable. Tout dans l'histoire de son épopée a un goût savoureux. Déjà, sa qualification. Quatre équipes devaient participer aux éliminatoires de la zone Asie-Océanie : la Corée du Nord, la Corée du Sud, l'Australie et l'Afrique du Sud. Suspendu par la FIFA en raison de l'apartheid, le pays africain ne peut finalement pas jouer. La Corée du Sud décide, quant à elle, de se retirer lorsqu'elle apprend que les matches qualificatifs se déroulent au Cambodge et pas au Japon, comme prévu initialement. Résultat, la Corée du Nord n'a plus qu'à battre l'Australie pour obtenir le sésame, ce qu'elle fait avec la manière (6-1 à l'aller, 3-1 au retour). A l'arrivée des Chollima – un cheval de la mythologie coréenne qui sert de surnom à l'équipe – en Angleterre où est organisée la Coupe du monde, se pose un problème diplomatique. Depuis la guerre de Corée, les Anglais n'ont toujours pas reconnu la légitimité du gouvernement nord-coréen.
Malgré cela, le tournoi commence et les joueurs du pays le plus fermé du monde brillent : une défaite 3-0 contre l'URSS, un match nul 1-1 contre le Chili et surtout, une victoire historique 1 à 0 contre les doubles champions du monde italiens. Soutenus par toute la ville où ils sont logés, Middlesbrough, qui s'est entichée d'eux, les Nord-Coréens affrontent le Portugal en quart de finale. Pour l'occasion, plusieurs milliers de fans de Middlesbrough se déplacent à Liverpool pour les encourager ! Là encore, ce n'est pas banal. Les Chollima mènent 3 à 0, jusqu'à l'entrée en jeu d'Eusebio qui change tout et inscrit quatre buts. Score final : 5 à 3. Les joueurs rentrent alors au pays. Et si la foule les accueille en héros, certains témoignages (Les Aquariums de Pyongyang, un livre écrit par Kang Chol-hwan) racontent qu'une grande partie de l'équipe a été envoyée au goulag.
Depuis cette date, la Corée du Nord n'a plus jamais participé à un Mondial. En 1998 et en 2002, après l'échec aux éliminatoires pour la Coupe du monde 1994, le régime a décidé que son équipe ne jouerait pas les qualifications. Mais l'isolement du régime allant grandissant, le retour de la Corée du Nord sur la scène sportive est à interpréter à travers le prisme diplomatique.
PARCOURS DE QUALIFICATION : qualifée grâce à sa défense de fer
Une attaque timide et une défense de béton. Avec 1,25 but par match lors des éliminatoires, la Corée du Nord présente la plus faible moyenne des 32 pays qualifiés pour la Coupe du monde. Mais, grâce à son arrière-garde renforcée (la Corée du Nord joue avec cinq défenseurs), elle a encaissé très peu de buts (7 en 16 matches), ce qui a lui permis de finir deuxième de son groupe, derrière la Corée du Sud mais devant des habitués des Mondiaux comme l'Iran et l'Arabie saoudite.
POINTS FORTS ET POINTS FAIBLES
Une préparation intensive. Les joueurs de la Corée du Nord sont réunis pour préparer le Mondial sud-africain depuis novembre 2009 ! Difficile de faire mieux pour souder un collectif, développer un état d'esprit conquérant, et faire respecter la discipline militaire qui caractérise le régime et la sélection. Les Chollima ont voyagé en Europe, en Amérique du Sud et en Afrique pour se frotter à des footballs qu'ils connaissent peu, eux qui évoluent tous dans leur pays, à l'exception d'An Yong-hak et Jong Tae-se (Japon) et Hong Yong-jo (Russie). Durant cette tournée, l'équipe a eu l'occasion de prouver sa rigidité défensive, concédant des 0-0 contre Nantes (L2), le Congo et l'Afrique du Sud. Quant au Mexique (2-1) et au Paraguay (1-0), ils ont eu du mal à faire sauter le verrou pour s'imposer.
Le manque d'expérience. Aucun joueur évoluant hors de l'Asie, des supporteurs que le régime ne souhaite pas laisser partir en Afrique du Sud, un choc culturel attendu... Sortis de leur isolement le temps d'une compétition, les Chollima vont vivre en Afrique du Sud un véritable test, une aventure unique dans leur existence. Nation du Mondial la moins bien classée à la FIFA (105e), peu habituée au haut niveau, la Corée du Nord et ses petits gabarits vont souffrir en termes d'impact athlétique et de vitesse du jeu. Surtout dans une poule aussi relevée, où le Brésil, le Portugal et la Côte d'Ivoire vont tout faire pour dynamiter leur défense.
JOUEUR-CLÉ : Jong Tae-se, le "Rooney du peuple"
L'histoire du joueur vedette des Chollima est passionnante. Né au Japon de parents sud-coréens, Jong Tae-se a passé toute sa scolarité dans des écoles financées par la Corée du Nord. Et il a donc opté pour la sélection de ce pays. Evoluant dans le club nippon de Kawasaki Frontale, il est l'un des meilleurs joueurs du championnat, inscrivant chaque saison entre 15 et 20 buts. Au sein d'une équipe nationale ultra-défensive, le "Rooney du peuple" est le finisseur vif et énergique, celui qui conclut les contre-attaques.
JOUEUR À SURVEILLER : Hong Yong-jo, le cerveau russe (video)
Vale clicar no link da matéria para assistir aos videos interessantes...
Mondial 2010 : la Corée du Nord, secret défense
Le Monde, 15.06.2010
L'équipe de Corée du Nord jouera sa deuxième Coupe du monde en 2010, quarante-quatre ans après ses exploits réalisés sur le sol anglais.

Pour la deuxième participation de son histoire à la Coupe du monde, la Corée du Nord est tombée dans la poule la plus difficile de cette édition 2010 : le "groupe de la mort", avec le Brésil, la Côte d'Ivoire et le Portugal. Si la tâche s'annonce immensément compliquée, la sélection du pays le plus secret du monde a quelques arguments à faire valoir, en particulier une défense en béton armé.
HISTORIQUE : l'exploit de 1966 (video)
Pour sa première participation à la Coupe du monde en 1966, la Corée du Nord réussit un exploit incroyable. Tout dans l'histoire de son épopée a un goût savoureux. Déjà, sa qualification. Quatre équipes devaient participer aux éliminatoires de la zone Asie-Océanie : la Corée du Nord, la Corée du Sud, l'Australie et l'Afrique du Sud. Suspendu par la FIFA en raison de l'apartheid, le pays africain ne peut finalement pas jouer. La Corée du Sud décide, quant à elle, de se retirer lorsqu'elle apprend que les matches qualificatifs se déroulent au Cambodge et pas au Japon, comme prévu initialement. Résultat, la Corée du Nord n'a plus qu'à battre l'Australie pour obtenir le sésame, ce qu'elle fait avec la manière (6-1 à l'aller, 3-1 au retour). A l'arrivée des Chollima – un cheval de la mythologie coréenne qui sert de surnom à l'équipe – en Angleterre où est organisée la Coupe du monde, se pose un problème diplomatique. Depuis la guerre de Corée, les Anglais n'ont toujours pas reconnu la légitimité du gouvernement nord-coréen.
Malgré cela, le tournoi commence et les joueurs du pays le plus fermé du monde brillent : une défaite 3-0 contre l'URSS, un match nul 1-1 contre le Chili et surtout, une victoire historique 1 à 0 contre les doubles champions du monde italiens. Soutenus par toute la ville où ils sont logés, Middlesbrough, qui s'est entichée d'eux, les Nord-Coréens affrontent le Portugal en quart de finale. Pour l'occasion, plusieurs milliers de fans de Middlesbrough se déplacent à Liverpool pour les encourager ! Là encore, ce n'est pas banal. Les Chollima mènent 3 à 0, jusqu'à l'entrée en jeu d'Eusebio qui change tout et inscrit quatre buts. Score final : 5 à 3. Les joueurs rentrent alors au pays. Et si la foule les accueille en héros, certains témoignages (Les Aquariums de Pyongyang, un livre écrit par Kang Chol-hwan) racontent qu'une grande partie de l'équipe a été envoyée au goulag.
Depuis cette date, la Corée du Nord n'a plus jamais participé à un Mondial. En 1998 et en 2002, après l'échec aux éliminatoires pour la Coupe du monde 1994, le régime a décidé que son équipe ne jouerait pas les qualifications. Mais l'isolement du régime allant grandissant, le retour de la Corée du Nord sur la scène sportive est à interpréter à travers le prisme diplomatique.
PARCOURS DE QUALIFICATION : qualifée grâce à sa défense de fer
Une attaque timide et une défense de béton. Avec 1,25 but par match lors des éliminatoires, la Corée du Nord présente la plus faible moyenne des 32 pays qualifiés pour la Coupe du monde. Mais, grâce à son arrière-garde renforcée (la Corée du Nord joue avec cinq défenseurs), elle a encaissé très peu de buts (7 en 16 matches), ce qui a lui permis de finir deuxième de son groupe, derrière la Corée du Sud mais devant des habitués des Mondiaux comme l'Iran et l'Arabie saoudite.
POINTS FORTS ET POINTS FAIBLES
Une préparation intensive. Les joueurs de la Corée du Nord sont réunis pour préparer le Mondial sud-africain depuis novembre 2009 ! Difficile de faire mieux pour souder un collectif, développer un état d'esprit conquérant, et faire respecter la discipline militaire qui caractérise le régime et la sélection. Les Chollima ont voyagé en Europe, en Amérique du Sud et en Afrique pour se frotter à des footballs qu'ils connaissent peu, eux qui évoluent tous dans leur pays, à l'exception d'An Yong-hak et Jong Tae-se (Japon) et Hong Yong-jo (Russie). Durant cette tournée, l'équipe a eu l'occasion de prouver sa rigidité défensive, concédant des 0-0 contre Nantes (L2), le Congo et l'Afrique du Sud. Quant au Mexique (2-1) et au Paraguay (1-0), ils ont eu du mal à faire sauter le verrou pour s'imposer.
Le manque d'expérience. Aucun joueur évoluant hors de l'Asie, des supporteurs que le régime ne souhaite pas laisser partir en Afrique du Sud, un choc culturel attendu... Sortis de leur isolement le temps d'une compétition, les Chollima vont vivre en Afrique du Sud un véritable test, une aventure unique dans leur existence. Nation du Mondial la moins bien classée à la FIFA (105e), peu habituée au haut niveau, la Corée du Nord et ses petits gabarits vont souffrir en termes d'impact athlétique et de vitesse du jeu. Surtout dans une poule aussi relevée, où le Brésil, le Portugal et la Côte d'Ivoire vont tout faire pour dynamiter leur défense.
JOUEUR-CLÉ : Jong Tae-se, le "Rooney du peuple"
L'histoire du joueur vedette des Chollima est passionnante. Né au Japon de parents sud-coréens, Jong Tae-se a passé toute sa scolarité dans des écoles financées par la Corée du Nord. Et il a donc opté pour la sélection de ce pays. Evoluant dans le club nippon de Kawasaki Frontale, il est l'un des meilleurs joueurs du championnat, inscrivant chaque saison entre 15 et 20 buts. Au sein d'une équipe nationale ultra-défensive, le "Rooney du peuple" est le finisseur vif et énergique, celui qui conclut les contre-attaques.
JOUEUR À SURVEILLER : Hong Yong-jo, le cerveau russe (video)
Nuestros hermanos, incorrigibles (con nuestra colaboracion...)
Brasil reage a ameaça argentina de bloqueio comercial
Bridges Weekly Trade News Digest
Vol. 14, No. 20 - 02 junho 2010
A relação comercial entre as duas principais economias da América do Sul tem apresentado focos de tensão recorrentes. Mais recentemente, o secretário de Comércio da Argentina ameaçou bloquear todas as importações de bens alimentícios oriundos do Brasil.
A presidenta argentina, Cristina Fernández de Kirchner, negou que a hipótese mencionada acima esteja sendo considerada e garantiu ao presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, que “não há nenhum bloqueio à importação; tampouco haverá”. Apesar das declarações de Kirchner, empresários brasileiros alegam que, ao menos no nível informal, o bloqueio às importações já teve início.
“A informação que nós recebemos dos empresários brasileiros que comercializam com a Argentina é de que os pedidos dos empresários argentinos foram suspensos, apesar de não existir uma ordem expressa do governo nesse sentido”, afirmou Rubens Barboza, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
As preocupações com relação à possibilidade de um bloqueio comercial surgiram em 23 de abril, quando o secretário de Comércio argentino, Guillermo Moreno, publicou carta em que anunciava que revisaria as compras do exterior, como parte de sua avaliação da competitividade do mercado argentino. O bloqueio foi verbalmente anunciado por Moreno em 6 de maio, com início previsto para 1º de junho.
Cabe destacar que o bloqueio às importações violaria as regras do Mercado Comum do Cone Sul (Mercosul). O Brasil também é o principal parceiro comercial da Argentina, o que torna uma eventual disputa comercial entre esses dois sócios altamente prejudicial para a economia argentina, além de um fator de complicação das - já tensas - relações internas no âmbito do Mercosul.
A União Europeia (UE) criticou o bloqueio argentino, o qual também afetaria produtores europeus, além dos brasileiros. Juntos, Brasil e UE consomem 45% das exportações argentinas, volume que equivale a US$ 56 bilhões. Em comunicado recente, o bloco enfatizou que a aplicação de tal embargo violaria os compromissos assumidos pela Argentina no G-20 e na Organização Mundial do Comércio (OMC).
Segundo o secretário brasileiro de Comércio, Welber Barral, se o Brasil encontrar evidências de que o bloqueio comercial está em vigor, o país pode depositar uma queixa junto à OMC. Posto que o Brasil exporta para o país vizinho aproximadamente US$ 500 milhões em alimentos - menos de 25% do que importa da Argentina -, não enfrentará dificuldades para retaliar qualquer medida protecionista adotada pelo sócio comercial, sustentou Barral.
Paralelamente, o Mercosul tem figurado recorrentemente entre os temas das campanhas presidenciais, haja vista a aproximação das eleições. A candidata Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores (situação), sublinhou em diversas ocasiões a necessidade de fortalecimento do Mercosul. Já o candidato do Partido da Social-Democracia Brasileiro (PSDB), José Serra, alinhado ao posicionamento da Fiesp, tem expressado uma postura mais crítica com relação ao bloco sul-americano, considerando- o um obstáculo aos interesses brasileiros.
Na semana passada, os ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, desembarcaram em Buenos Aires para reunirem-se com suas contrapartes argentinas. Por meio do encontro, os ministros buscam uma forma de atenuar a tensão nas relações comerciais entre os países.
Bridges Weekly Trade News Digest
Vol. 14, No. 20 - 02 junho 2010
A relação comercial entre as duas principais economias da América do Sul tem apresentado focos de tensão recorrentes. Mais recentemente, o secretário de Comércio da Argentina ameaçou bloquear todas as importações de bens alimentícios oriundos do Brasil.
A presidenta argentina, Cristina Fernández de Kirchner, negou que a hipótese mencionada acima esteja sendo considerada e garantiu ao presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, que “não há nenhum bloqueio à importação; tampouco haverá”. Apesar das declarações de Kirchner, empresários brasileiros alegam que, ao menos no nível informal, o bloqueio às importações já teve início.
“A informação que nós recebemos dos empresários brasileiros que comercializam com a Argentina é de que os pedidos dos empresários argentinos foram suspensos, apesar de não existir uma ordem expressa do governo nesse sentido”, afirmou Rubens Barboza, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
As preocupações com relação à possibilidade de um bloqueio comercial surgiram em 23 de abril, quando o secretário de Comércio argentino, Guillermo Moreno, publicou carta em que anunciava que revisaria as compras do exterior, como parte de sua avaliação da competitividade do mercado argentino. O bloqueio foi verbalmente anunciado por Moreno em 6 de maio, com início previsto para 1º de junho.
Cabe destacar que o bloqueio às importações violaria as regras do Mercado Comum do Cone Sul (Mercosul). O Brasil também é o principal parceiro comercial da Argentina, o que torna uma eventual disputa comercial entre esses dois sócios altamente prejudicial para a economia argentina, além de um fator de complicação das - já tensas - relações internas no âmbito do Mercosul.
A União Europeia (UE) criticou o bloqueio argentino, o qual também afetaria produtores europeus, além dos brasileiros. Juntos, Brasil e UE consomem 45% das exportações argentinas, volume que equivale a US$ 56 bilhões. Em comunicado recente, o bloco enfatizou que a aplicação de tal embargo violaria os compromissos assumidos pela Argentina no G-20 e na Organização Mundial do Comércio (OMC).
Segundo o secretário brasileiro de Comércio, Welber Barral, se o Brasil encontrar evidências de que o bloqueio comercial está em vigor, o país pode depositar uma queixa junto à OMC. Posto que o Brasil exporta para o país vizinho aproximadamente US$ 500 milhões em alimentos - menos de 25% do que importa da Argentina -, não enfrentará dificuldades para retaliar qualquer medida protecionista adotada pelo sócio comercial, sustentou Barral.
Paralelamente, o Mercosul tem figurado recorrentemente entre os temas das campanhas presidenciais, haja vista a aproximação das eleições. A candidata Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores (situação), sublinhou em diversas ocasiões a necessidade de fortalecimento do Mercosul. Já o candidato do Partido da Social-Democracia Brasileiro (PSDB), José Serra, alinhado ao posicionamento da Fiesp, tem expressado uma postura mais crítica com relação ao bloco sul-americano, considerando- o um obstáculo aos interesses brasileiros.
Na semana passada, os ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, desembarcaram em Buenos Aires para reunirem-se com suas contrapartes argentinas. Por meio do encontro, os ministros buscam uma forma de atenuar a tensão nas relações comerciais entre os países.
Politica Externa do Brasil: pode perder varias, alias...
Lula prejudica reputação do Brasil
Por Mary Anastasia O'Grady
The Wall Street Journal, 14/06/2010
O Brasil pode estar ganhando respeito no front econômico, mas quanto à liderança geopolítica, Lula acaba preservando imagem de país ressentido e com complexo de Terceiro Mundo
Provavelmente não demorou muito depois que fomos expulsos do Jardim do Éden para o Brasil começar a sonhar em se tornar um país sério e um protagonista no cenário mundial. Agora, justo quando parecia que o eterno sonho brasileiro iria se tornar realidade, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está botando tudo a perder.
O Brasil pode estar ganhando algum respeito no front econômico e monetário, mas quando se trata de liderança geopolítica, Lula está fazendo horas extras para preservar a imagem que o país tem de ressentido e sofrer de complexo de Terceiro Mundo.
O exemplo mais recente de como o Brasil ainda não está pronto para ter um lugar de destaque nos círculos internacionais, foi dado na semana passada quando ele votou contra as sanções ao Iraque no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). A Turquia foi a única parceira do Brasil nesse exercício embaraçoso. Mas a Turquia pelo menos pode culpar a complexidade de suas raízes muçulmanas. Lula está prejudicando a reputação do Brasil em nome de sua própria gratificação política.
O Brasil defendeu sua posição na ONU alegando que "as sanções muito provavelmente levarão sofrimento à população do Irã e favorecerão aqueles, nos dois lados, que não querem que o diálogo prevaleça". Não há nada nessa declaração. As sanções não são direcionadas para a população civil, e sim para as ambições nucleares e de proliferação de mísseis do Irã. Quanto ao "diálogo", deveria ser óbvio a esta altura que é preciso um pouco menos de conversa com o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad.
Se o Brasil considerava seu voto uma posição de princípios em defesa da justiça, ele logo desistiu disto. Após protestar contra as sanções, ele rapidamente anunciou que vai honrá-las. Isso sugere que o país pode estar tendo um certo reconhecimento da diminuição dos retornos de suas políticas externas lunáticas.
O Partido dos Trabalhadores (PT) de Lula é de extrema esquerda, mas ninguém deveria confundí-lo com um bolchevique determinado. Ele é apenas um político esperto que saiu das ruas e adora o poder e as limusines. Como o primeiro presidente brasileiro eleito pelo PT, ele vem tendo que contrabalançar as coisas úteis que aprendeu sobre os mercados e as limitações monetárias com a ideologia de suas bases.
Sua resposta a esse dilema tem sido usar seu Ministério das Relações Exteriores ? onde uma burocracia de inclinações esquerdistas é comandada por um intelectual notoriamente antiamericano e anticapitalista, Celso Amorim ? para polir suas credenciais esquerdistas. Com sua amizade com os "não-alinhados" proporcionando um escudo, ele vem conseguindo manter os ideólogos coletivistas fora da economia.
Mas a reputação do Brasil de líder entre as economias emergentes vem sofrendo muito. Para satisfazer a esquerda, Lula vem sendo solicitado a defender e elevar seus heróis, que são alguns dos maiores violadores dos direitos humanos do planeta.
Uma análise de seus dois mandatos presidenciais revela uma tendência de defender déspotas e desrespeitar democratas. O repressivo governo iraniano é apenas o exemplo mais recente. Há também o apoio incondicional de Lula à ditadura de Cuba e ao presidente da Venezuela Hugo Chávez. Em fevereiro, Cuba deixou o dissidente político Orlando Zapata morrer por causa de uma greve de fome, na mesma semana em que Lula chegou à ilha para se confraternizar com os irmãos Castro. Ao ser perguntado pela imprensa sobre Zapata, Lula comparou sua morte a mais uma entre as muitas pessoas que fizeram greve de fome na história e que o mundo ignorou. Ele obviamente nunca ouviu falar do militante irlandês Bobby Sands.
Lula também mantém-se fiel a Chávez, depois dele ter destruído as instituições democráticas de seu país e colaborado com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), que atuam no tráfico de drogas. Um Brasil adulto teria usado sua influência para liderar um esforço contra esse terrorismo patrocinado pelo Estado. Mas sob a análise dos custos e benefícios políticos de Lula, as vítimas da violência das FARC não têm importância.
Os hondurenhos não se saíram melhores durante a viagem de Lula pelo poder. O Brasil passou boa parte do ano passado tentando forçar Honduras a reempossar o presidente Manuel Zelaya, mesmo tendo ele sido destituído pelo governo civil por violar a constituição. As medidas brasileiras, inclusive abrigar Zelaya na embaixada brasileira por meses, criaram um sofrimento econômico imenso para os hondurenhos.
Na semana passada, a secretária de Estado americana Hillary Clinton pediu a volta de Honduras para a Organização dos Estados Americanos (OEA), observando que o país realizou eleições e voltou à normalidade. O Brasil foi contra. "O retorno de Honduras à OEA deve ser atrelada e meios específicos que garantam a redemocratização e o estabelecimento de direitos fundamentais", disse o vice-ministro das Relações Exteriores do Brasil Antonio de Aguiar Patriota. Uma observação ao Brasil: Está se referindo a Cuba?
O Brasil realiza eleições presidenciais em outubro e embora Lula esteja saindo com elevados níveis de popularidade, isso não é garantia de sucesso para a candidata do PT. Portanto, ele agora está agradando sua base partidária dando as mãos a Ahmadinejad e votando contra o Tio Sam.
Será que isso vai funcionar? Muita coisa vai depender se o número de brasileiros que acham que ele está prejudicando a emergente relevância do Brasil vai superar o número daqueles que apoiam a dança de Lula com os déspotas. Conforme alertou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a política de Lula está fazendo o Brasil "mudar de lado", mas não está nem um pouco claro se os brasileiros concordam com isso.
Mary Anastasia O'Grady é editorialista do Wall Street Journal
Por Mary Anastasia O'Grady
The Wall Street Journal, 14/06/2010
O Brasil pode estar ganhando respeito no front econômico, mas quanto à liderança geopolítica, Lula acaba preservando imagem de país ressentido e com complexo de Terceiro Mundo
Provavelmente não demorou muito depois que fomos expulsos do Jardim do Éden para o Brasil começar a sonhar em se tornar um país sério e um protagonista no cenário mundial. Agora, justo quando parecia que o eterno sonho brasileiro iria se tornar realidade, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está botando tudo a perder.
O Brasil pode estar ganhando algum respeito no front econômico e monetário, mas quando se trata de liderança geopolítica, Lula está fazendo horas extras para preservar a imagem que o país tem de ressentido e sofrer de complexo de Terceiro Mundo.
O exemplo mais recente de como o Brasil ainda não está pronto para ter um lugar de destaque nos círculos internacionais, foi dado na semana passada quando ele votou contra as sanções ao Iraque no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). A Turquia foi a única parceira do Brasil nesse exercício embaraçoso. Mas a Turquia pelo menos pode culpar a complexidade de suas raízes muçulmanas. Lula está prejudicando a reputação do Brasil em nome de sua própria gratificação política.
O Brasil defendeu sua posição na ONU alegando que "as sanções muito provavelmente levarão sofrimento à população do Irã e favorecerão aqueles, nos dois lados, que não querem que o diálogo prevaleça". Não há nada nessa declaração. As sanções não são direcionadas para a população civil, e sim para as ambições nucleares e de proliferação de mísseis do Irã. Quanto ao "diálogo", deveria ser óbvio a esta altura que é preciso um pouco menos de conversa com o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad.
Se o Brasil considerava seu voto uma posição de princípios em defesa da justiça, ele logo desistiu disto. Após protestar contra as sanções, ele rapidamente anunciou que vai honrá-las. Isso sugere que o país pode estar tendo um certo reconhecimento da diminuição dos retornos de suas políticas externas lunáticas.
O Partido dos Trabalhadores (PT) de Lula é de extrema esquerda, mas ninguém deveria confundí-lo com um bolchevique determinado. Ele é apenas um político esperto que saiu das ruas e adora o poder e as limusines. Como o primeiro presidente brasileiro eleito pelo PT, ele vem tendo que contrabalançar as coisas úteis que aprendeu sobre os mercados e as limitações monetárias com a ideologia de suas bases.
Sua resposta a esse dilema tem sido usar seu Ministério das Relações Exteriores ? onde uma burocracia de inclinações esquerdistas é comandada por um intelectual notoriamente antiamericano e anticapitalista, Celso Amorim ? para polir suas credenciais esquerdistas. Com sua amizade com os "não-alinhados" proporcionando um escudo, ele vem conseguindo manter os ideólogos coletivistas fora da economia.
Mas a reputação do Brasil de líder entre as economias emergentes vem sofrendo muito. Para satisfazer a esquerda, Lula vem sendo solicitado a defender e elevar seus heróis, que são alguns dos maiores violadores dos direitos humanos do planeta.
Uma análise de seus dois mandatos presidenciais revela uma tendência de defender déspotas e desrespeitar democratas. O repressivo governo iraniano é apenas o exemplo mais recente. Há também o apoio incondicional de Lula à ditadura de Cuba e ao presidente da Venezuela Hugo Chávez. Em fevereiro, Cuba deixou o dissidente político Orlando Zapata morrer por causa de uma greve de fome, na mesma semana em que Lula chegou à ilha para se confraternizar com os irmãos Castro. Ao ser perguntado pela imprensa sobre Zapata, Lula comparou sua morte a mais uma entre as muitas pessoas que fizeram greve de fome na história e que o mundo ignorou. Ele obviamente nunca ouviu falar do militante irlandês Bobby Sands.
Lula também mantém-se fiel a Chávez, depois dele ter destruído as instituições democráticas de seu país e colaborado com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), que atuam no tráfico de drogas. Um Brasil adulto teria usado sua influência para liderar um esforço contra esse terrorismo patrocinado pelo Estado. Mas sob a análise dos custos e benefícios políticos de Lula, as vítimas da violência das FARC não têm importância.
Os hondurenhos não se saíram melhores durante a viagem de Lula pelo poder. O Brasil passou boa parte do ano passado tentando forçar Honduras a reempossar o presidente Manuel Zelaya, mesmo tendo ele sido destituído pelo governo civil por violar a constituição. As medidas brasileiras, inclusive abrigar Zelaya na embaixada brasileira por meses, criaram um sofrimento econômico imenso para os hondurenhos.
Na semana passada, a secretária de Estado americana Hillary Clinton pediu a volta de Honduras para a Organização dos Estados Americanos (OEA), observando que o país realizou eleições e voltou à normalidade. O Brasil foi contra. "O retorno de Honduras à OEA deve ser atrelada e meios específicos que garantam a redemocratização e o estabelecimento de direitos fundamentais", disse o vice-ministro das Relações Exteriores do Brasil Antonio de Aguiar Patriota. Uma observação ao Brasil: Está se referindo a Cuba?
O Brasil realiza eleições presidenciais em outubro e embora Lula esteja saindo com elevados níveis de popularidade, isso não é garantia de sucesso para a candidata do PT. Portanto, ele agora está agradando sua base partidária dando as mãos a Ahmadinejad e votando contra o Tio Sam.
Será que isso vai funcionar? Muita coisa vai depender se o número de brasileiros que acham que ele está prejudicando a emergente relevância do Brasil vai superar o número daqueles que apoiam a dança de Lula com os déspotas. Conforme alertou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a política de Lula está fazendo o Brasil "mudar de lado", mas não está nem um pouco claro se os brasileiros concordam com isso.
Mary Anastasia O'Grady é editorialista do Wall Street Journal
Politica Externa do Brasil: não se pode ganhar todas...
Garcia reconhece frustração brasileira após sanções
MARINA GUIMARÃES - Agência Estado
10 de junho de 2010
O assessor para Assuntos Internacionais da Presidência da República do Brasil, Marco Aurélio Garcia, reconheceu hoje que a diplomacia brasileira se sente frustrada com a votação no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), que aprovou novas sanções ao Irã. "Claro que houve frustração da diplomacia brasileira, mas não por não ter insistido, mas por ter visto que os outros (países) não nos acompanharam. Acho isso um absurdo, uma decisão errada", afirmou, em Buenos Aires, onde participa de um seminário acadêmico como principal orador.
Numa longa análise sobre a quarta rodada de sanções para frear o programa iraniano de enriquecimento de urânio, Garcia considerou ser preciso esperar para avaliar a situação e saber se o episódio pode ajudar ou complicar o Brasil na aspiração de ser membro permanente do Conselho. "Algumas análises dizem que facilitou (o processo de inclusão do Brasil), outras dirão que complicou. Não sei. Ainda estamos sob o impacto da decisão de ontem, que vai ter suas consequências. É preciso dar um tempo para ver como isso vai amadurecer", disse ele.
Garcia argumentou que a decisão de ontem era previsível, mas ponderou que o Brasil conseguiu, pelo menos, realizar o debate sobre o assunto, já que houve uma tentativa dos EUA de não se fazer o debate. "Nós temos relações boas com todos os países, com alguns temos relações muito boas, mas evidentemente não concordamos com as sanções. Isso demonstra que as relações internacionais já não têm mais um alinhamento incondicional", argumentou.
Contudo, ele reconheceu que a votação foi resultado da relação de força internacional. "Entendemos essa realidade, mas o Brasil continuará defendendo os valores multilaterais que historicamente tem defendido, e de forma mais acentuada nos últimos anos", afirmou. "O problema é que os EUA têm força e vão ter durante muitas décadas. Têm um poder que não puderam exercer no Iraque, mas exerceram agora. Na crise do Iraque eles ficaram muito mais isolados, mas tinham tropas", alfinetou.
Batalhas
Segundo ele, o episódio do Irã é só um assunto a mais na agenda externa. "Temos muitas outras questões que vão estar permanentemente na agenda. Por exemplo: o presidente Lula vai a uma reunião do G-20, onde vai vocalizar uma série de posições sobre a crise e os caminhos para sair da crise e muitas outras coisas", destacou. "Não estamos emburrados, estamos preocupados", disse ele, ressaltando que o caso do Irã não foi a última batalha.
"O Brasil é um ator global. O que se votou ontem foi uma composição na qual tiveram votos, de um lado, um grupo de países, e do outro, o Brasil e a Turquia", justificou o assessor, completando que os EUA estão incomodados com a participação de um ator que normalmente não faz parte do jogo diplomático internacional. Mesmo assim, disse ele, a relação com os norte-americanos vai continuar firme. "Temos uma agenda de cooperação muito grande com os EUA e continuaremos dialogando e sempre vamos nos expressar quando tivermos uma diferença", concluiu.
MARINA GUIMARÃES - Agência Estado
10 de junho de 2010
O assessor para Assuntos Internacionais da Presidência da República do Brasil, Marco Aurélio Garcia, reconheceu hoje que a diplomacia brasileira se sente frustrada com a votação no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), que aprovou novas sanções ao Irã. "Claro que houve frustração da diplomacia brasileira, mas não por não ter insistido, mas por ter visto que os outros (países) não nos acompanharam. Acho isso um absurdo, uma decisão errada", afirmou, em Buenos Aires, onde participa de um seminário acadêmico como principal orador.
Numa longa análise sobre a quarta rodada de sanções para frear o programa iraniano de enriquecimento de urânio, Garcia considerou ser preciso esperar para avaliar a situação e saber se o episódio pode ajudar ou complicar o Brasil na aspiração de ser membro permanente do Conselho. "Algumas análises dizem que facilitou (o processo de inclusão do Brasil), outras dirão que complicou. Não sei. Ainda estamos sob o impacto da decisão de ontem, que vai ter suas consequências. É preciso dar um tempo para ver como isso vai amadurecer", disse ele.
Garcia argumentou que a decisão de ontem era previsível, mas ponderou que o Brasil conseguiu, pelo menos, realizar o debate sobre o assunto, já que houve uma tentativa dos EUA de não se fazer o debate. "Nós temos relações boas com todos os países, com alguns temos relações muito boas, mas evidentemente não concordamos com as sanções. Isso demonstra que as relações internacionais já não têm mais um alinhamento incondicional", argumentou.
Contudo, ele reconheceu que a votação foi resultado da relação de força internacional. "Entendemos essa realidade, mas o Brasil continuará defendendo os valores multilaterais que historicamente tem defendido, e de forma mais acentuada nos últimos anos", afirmou. "O problema é que os EUA têm força e vão ter durante muitas décadas. Têm um poder que não puderam exercer no Iraque, mas exerceram agora. Na crise do Iraque eles ficaram muito mais isolados, mas tinham tropas", alfinetou.
Batalhas
Segundo ele, o episódio do Irã é só um assunto a mais na agenda externa. "Temos muitas outras questões que vão estar permanentemente na agenda. Por exemplo: o presidente Lula vai a uma reunião do G-20, onde vai vocalizar uma série de posições sobre a crise e os caminhos para sair da crise e muitas outras coisas", destacou. "Não estamos emburrados, estamos preocupados", disse ele, ressaltando que o caso do Irã não foi a última batalha.
"O Brasil é um ator global. O que se votou ontem foi uma composição na qual tiveram votos, de um lado, um grupo de países, e do outro, o Brasil e a Turquia", justificou o assessor, completando que os EUA estão incomodados com a participação de um ator que normalmente não faz parte do jogo diplomático internacional. Mesmo assim, disse ele, a relação com os norte-americanos vai continuar firme. "Temos uma agenda de cooperação muito grande com os EUA e continuaremos dialogando e sempre vamos nos expressar quando tivermos uma diferença", concluiu.
Tempos duros para a social-democracia europeia
Um artigo enviesado, mas que revela que a social-democracia europeia -- ou seja, os socialistas, ou esquerda, ou o que sobrou dela -- não consegue prevalecer mesmo em tempos de suposta crise do neoliberalismo (que é obviamente uma invenção que não tem nenhuma realidade).
De fato, os cidadãos eleitores das democracias avançadas, nos EUA e na Europa, alternam suas preferências políticas entre partidos conservadores e socialistas desde muito tempo, há décadas, senão há mais de um século. A única novidade no cenário foi o ingresso dos partidos verdes (mas sempre limitados em sua base eleitoral), além da mais evidente implosão e desaparecimento dos partidos comunistas (onde eles subsistem, se tornaram partidos populistas, apenas).
Durante algum tempo, os eleitores premiam a distribuição, com os socialistas (ou democratas, nos EUA), depois a situação fiscal se agrava, a inflação volta, e os eleitores se assustam, e votam para os conservadores, que voltam a reduzir impostos, privatizar e reduzir a inflação. Também acabam fazendo bobagens, e são por sua vez colocados para fora do poder por uma nova tropa de redistributivistas-socialistas, que prometem fazer melhor. Não fazem, ficam algum tempo e depois se vão.
Assim são as democracias avançadas, com alternâncias aparentes no quadro de uma grande continuidade, que é a do Estado organizador e eventualmente protetor.
Até que chega a China e rouba emprego de todo mundo, socialistas e conservadores.
Mas essa é outra história...
Paulo Roberto de Almeida
Malos tiempos para la socialdemocracia
El País, 13/06/10
Bruxelas – Más de dos años de crisis financiera y económica con las secuelas de fuerte crecimiento del paro y amenazas para el Estado de bienestar han puesto de relieve el fracaso de las políticas conservadoras neoliberales. Sin embargo, este cambio de escenario no ha supuesto ninguna ventaja para el centro-izquierda. Los electores europeos siguen sin confiar en los socialdemócratas, cuyo declive en los Gobiernos e instituciones de la Unión es incesante, aunque con ciertas excepciones. Después de las últimas elecciones en Reino Unido y Hungría, solo seis primeros ministros socialistas se sientan en el Consejo Europeo cuando hace una década eran mayoría. En el Parlamento Europeo, los socialistas registraron el año pasado el peor resultado de su historia, y en la Comisión Europea han sido relegados al tercer puesto, detrás de los liberales.
Malos tiempos para la socialdemocracia, pero también momentos de catarsis interna y búsqueda de nuevas ideas, como el creciente interés por el individuo. Sin embargo, en el norte de Europa, como en Dinamarca, Holanda y Suecia, que cuentan con los modelos sociales más eficientes, y en Irlanda, los socialdemócratas están recuperando territorio. Los vaticinios de Ralf Dahrendorf que apuntaban a “un fin de la socialdemocracia cercano” no parecen tan evidentes. Pero la izquierda sufre muchas fugas. La consolidación del movimiento ecologista y la extensión de las ONG ocupan cada vez más espacios de la izquierda, cuyo sector más ortodoxo también mantiene sus posiciones.
Desde las propias filas socialistas existe una clara conciencia de la falta de respuestas a los desafíos actuales. Antoine Quero, secretario de Organización del PSOE en Europa, sostiene que “la socialdemocracia no tiene la respuesta adecuada ni a nivel local ni global”. “De la izquierda”, precisa, “se espera una respuesta para que la dimensión humana domine sobre el capitalismo y no al revés, como ocurre”. Quero cree que “el Estado de bienestar ha producido una cierta externaliza-ción de la solidaridad. El ciudadano paga sus impuestos y ya está”. En su opinión, el futuro debe pasar por prestar más atención al individuo y a su participación social. Está convencido de que el futuro de la socialdemocracia exige “desarrollar los modelos de democracia participativa y deliberativa”. Esta mayor atención al individuo constituye una de las bases del discurso de la líder socialista francesa, Martine Aubry, con su sociedad del care (cuidado). “Una sociedad en la que el Estado cuide a cada uno, lo que implica una revolución de los servicios públicos, que hasta ahora han funcionado sobre la base de reglas generales, sin encargarse de cada uno”, explica Aubry en Le Monde.
Ramón Jáuregui, secretario general de los socialistas españoles en la Eurocámara, considera que uno de los problemas más serios es que “la izquierda sigue dando respuestas en clave nacional cuando los problemas del mundo se gobiernan en mesas internacionales” como el G-20. “Y ahí”, añade, “la izquierda se pierde porque solo ofrece una mirada nacional”. Recuerda que el “modelo de progresividad fiscal y cohesión social tiene una dimensión nacional”. Y lamenta las dificultades de implantar iniciativas supranacionales. “Europa”, afirma, “sigue arrastrando los pies y compite cada vez peor en un mundo al que se han incorporado mil millones de trabajadores”.
Piotr Maciej Kaczynski, investigador del Center for European Policy Studies, señala varias razones para explicar por qué “no se ha producido un revival de la izquierda a pesar de la crisis”. Las fronteras entre izquierda y derecha se han hecho muy borrosas. “Los partidos conservadores”, señala, “asumen o toleran valores sociales que hasta ahora eran patrimonio de la izquierda, como el matrimonio de homosexuales o el aborto”. De la misma manera apunta que “los desempleados y trabajadores temporales tampoco se sienten defendidos por los partidos socialdemócratas”. Kaczynski advierte también que “la Unión Europea es en una fuente de división entre los dirigentes socialistas, muy europeístas, y unas bases más escépticas”.
No obstante, otros análisis son menos categóricos sobre este declive. Bernhard Webels, investigador del Social Science Research Center, observa que la proporción de los votantes socialdemócratas durante los últimos 20 años en 12 países europeos “no ha identificado ninguna tendencia de declive significativa” y su peso oscila sin grandes variaciones en torno al 30%. Cree que los socialdemócratas han “sabido identificar los desafíos actuales y formular las repuestas políticas adecuadas que contienen las opciones políticas por un mundo social más justo”.
De fato, os cidadãos eleitores das democracias avançadas, nos EUA e na Europa, alternam suas preferências políticas entre partidos conservadores e socialistas desde muito tempo, há décadas, senão há mais de um século. A única novidade no cenário foi o ingresso dos partidos verdes (mas sempre limitados em sua base eleitoral), além da mais evidente implosão e desaparecimento dos partidos comunistas (onde eles subsistem, se tornaram partidos populistas, apenas).
Durante algum tempo, os eleitores premiam a distribuição, com os socialistas (ou democratas, nos EUA), depois a situação fiscal se agrava, a inflação volta, e os eleitores se assustam, e votam para os conservadores, que voltam a reduzir impostos, privatizar e reduzir a inflação. Também acabam fazendo bobagens, e são por sua vez colocados para fora do poder por uma nova tropa de redistributivistas-socialistas, que prometem fazer melhor. Não fazem, ficam algum tempo e depois se vão.
Assim são as democracias avançadas, com alternâncias aparentes no quadro de uma grande continuidade, que é a do Estado organizador e eventualmente protetor.
Até que chega a China e rouba emprego de todo mundo, socialistas e conservadores.
Mas essa é outra história...
Paulo Roberto de Almeida
Malos tiempos para la socialdemocracia
El País, 13/06/10
Bruxelas – Más de dos años de crisis financiera y económica con las secuelas de fuerte crecimiento del paro y amenazas para el Estado de bienestar han puesto de relieve el fracaso de las políticas conservadoras neoliberales. Sin embargo, este cambio de escenario no ha supuesto ninguna ventaja para el centro-izquierda. Los electores europeos siguen sin confiar en los socialdemócratas, cuyo declive en los Gobiernos e instituciones de la Unión es incesante, aunque con ciertas excepciones. Después de las últimas elecciones en Reino Unido y Hungría, solo seis primeros ministros socialistas se sientan en el Consejo Europeo cuando hace una década eran mayoría. En el Parlamento Europeo, los socialistas registraron el año pasado el peor resultado de su historia, y en la Comisión Europea han sido relegados al tercer puesto, detrás de los liberales.
Malos tiempos para la socialdemocracia, pero también momentos de catarsis interna y búsqueda de nuevas ideas, como el creciente interés por el individuo. Sin embargo, en el norte de Europa, como en Dinamarca, Holanda y Suecia, que cuentan con los modelos sociales más eficientes, y en Irlanda, los socialdemócratas están recuperando territorio. Los vaticinios de Ralf Dahrendorf que apuntaban a “un fin de la socialdemocracia cercano” no parecen tan evidentes. Pero la izquierda sufre muchas fugas. La consolidación del movimiento ecologista y la extensión de las ONG ocupan cada vez más espacios de la izquierda, cuyo sector más ortodoxo también mantiene sus posiciones.
Desde las propias filas socialistas existe una clara conciencia de la falta de respuestas a los desafíos actuales. Antoine Quero, secretario de Organización del PSOE en Europa, sostiene que “la socialdemocracia no tiene la respuesta adecuada ni a nivel local ni global”. “De la izquierda”, precisa, “se espera una respuesta para que la dimensión humana domine sobre el capitalismo y no al revés, como ocurre”. Quero cree que “el Estado de bienestar ha producido una cierta externaliza-ción de la solidaridad. El ciudadano paga sus impuestos y ya está”. En su opinión, el futuro debe pasar por prestar más atención al individuo y a su participación social. Está convencido de que el futuro de la socialdemocracia exige “desarrollar los modelos de democracia participativa y deliberativa”. Esta mayor atención al individuo constituye una de las bases del discurso de la líder socialista francesa, Martine Aubry, con su sociedad del care (cuidado). “Una sociedad en la que el Estado cuide a cada uno, lo que implica una revolución de los servicios públicos, que hasta ahora han funcionado sobre la base de reglas generales, sin encargarse de cada uno”, explica Aubry en Le Monde.
Ramón Jáuregui, secretario general de los socialistas españoles en la Eurocámara, considera que uno de los problemas más serios es que “la izquierda sigue dando respuestas en clave nacional cuando los problemas del mundo se gobiernan en mesas internacionales” como el G-20. “Y ahí”, añade, “la izquierda se pierde porque solo ofrece una mirada nacional”. Recuerda que el “modelo de progresividad fiscal y cohesión social tiene una dimensión nacional”. Y lamenta las dificultades de implantar iniciativas supranacionales. “Europa”, afirma, “sigue arrastrando los pies y compite cada vez peor en un mundo al que se han incorporado mil millones de trabajadores”.
Piotr Maciej Kaczynski, investigador del Center for European Policy Studies, señala varias razones para explicar por qué “no se ha producido un revival de la izquierda a pesar de la crisis”. Las fronteras entre izquierda y derecha se han hecho muy borrosas. “Los partidos conservadores”, señala, “asumen o toleran valores sociales que hasta ahora eran patrimonio de la izquierda, como el matrimonio de homosexuales o el aborto”. De la misma manera apunta que “los desempleados y trabajadores temporales tampoco se sienten defendidos por los partidos socialdemócratas”. Kaczynski advierte también que “la Unión Europea es en una fuente de división entre los dirigentes socialistas, muy europeístas, y unas bases más escépticas”.
No obstante, otros análisis son menos categóricos sobre este declive. Bernhard Webels, investigador del Social Science Research Center, observa que la proporción de los votantes socialdemócratas durante los últimos 20 años en 12 países europeos “no ha identificado ninguna tendencia de declive significativa” y su peso oscila sin grandes variaciones en torno al 30%. Cree que los socialdemócratas han “sabido identificar los desafíos actuales y formular las repuestas políticas adecuadas que contienen las opciones políticas por un mundo social más justo”.
segunda-feira, 14 de junho de 2010
O Itamaraty e o antissemitismo ordinario - uma nota de rodapé
Um leitor habitual deste blog, Paulo Araújo, deixou um comentário sobre a minha postagem "Dois diplomatas que foram contra suas respectivas chancelarias".
Considero que o valor destas informações não poderia ficar restrito a uma simples nota de rodapé, de forma que o comentário foi imediatamente promovido a post integral e full scope.
Ainda que eu nem sempre concorde com certos exemplos de "história revisionista" -- bem mais condizentes com o espírito de nossa época do que com as condições e circunstâncias da época a que se dirigem, e portanto projetando valores do presente no passado -- creio que o trabalho da pesquisadora mencionada é sério e merece ser destacado.
Houve tempo, sim, em que o Itamaraty, seguindo nisso quase toda a elite brasileira -- e um e outro eram indissociáveis, ainda que o Itamaraty, pela vivência no exterior, pudesse ser mais aberto -- praticou o mais ordinário antissemitismo, que era, digamos assim, moeda comum na sociedade brasileira, e em outras sociedades, na primeira metade do século 20.
Nem por isso se deve deixar de mencionar esses pontos negros, essas passagens obscuras na vida de alguns diplomatas que não tiveram a coragem de nadar contra a corrente, e de lutar contra tendências nefastas de sua época que simplesmente representavam a diferença entre a vida e a morte para milhares de pessoas.
Nosso dever é o de apontar essas passagens sombrias de nossa história.
Caro Paulo Roberto Almeida
A historiadora Maria Luiza Tucci Carneiro tem uma importante obra de pesquisa solidamente fundamentada em fontes primárias sobre o anti-semitismo de Estado no Brasil.
De acordo com a autora, Osvaldo Aranha, em sua gestão como Ministro do Exterior, emitiu circulares secretas anti-semitas e não impediu o processo administrativo que afastou a bem do serviço público o embaixador Luiz Martins de Souza Dantas, o grande (e desconhecido) brasileiro reconhecido como um dos justos no memorial Yad Vashem.
Um pouco sobre os estudos de Tucci Carneiro
Uma entrevista da historiadora na revista da FAPESP
http://www.revistapesquisa.fapesp.br/?art=3489&bd=1&pg=1&lg=
E um artigo que vale a pena ler para conhecer o trabalho da pesquisadora
A Muralha anti-semita
“Existem pelo menos 24 circulares secretas anti-semitas emitidas pelo Itamaraty entre 1937 e 1948, além da primeira “ordem permanente de serviço”, que antecipava o teor racista da já citada circular nº 1.127 (7 de junho de 1937 e anterior à gestão de Aranha). Este conjunto de proibições tinha conseqüências imediatas na vida daqueles que procuravam fugir das perseguições nazistas que culminaram, em 1945, no fim da Segunda Guerra Mundial, na morte de 6 milhões de judeus, além de milhares de ciganos, testemunhas de Jeová, deficientes físicos e dissidentes políticos. Ao negar vistos aos judeus interessados em emigrar para o Brasil, o governo Vargas deixou de salvar milhares de vidas.”
http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=613&pagina=2
Valeu...
Considero que o valor destas informações não poderia ficar restrito a uma simples nota de rodapé, de forma que o comentário foi imediatamente promovido a post integral e full scope.
Ainda que eu nem sempre concorde com certos exemplos de "história revisionista" -- bem mais condizentes com o espírito de nossa época do que com as condições e circunstâncias da época a que se dirigem, e portanto projetando valores do presente no passado -- creio que o trabalho da pesquisadora mencionada é sério e merece ser destacado.
Houve tempo, sim, em que o Itamaraty, seguindo nisso quase toda a elite brasileira -- e um e outro eram indissociáveis, ainda que o Itamaraty, pela vivência no exterior, pudesse ser mais aberto -- praticou o mais ordinário antissemitismo, que era, digamos assim, moeda comum na sociedade brasileira, e em outras sociedades, na primeira metade do século 20.
Nem por isso se deve deixar de mencionar esses pontos negros, essas passagens obscuras na vida de alguns diplomatas que não tiveram a coragem de nadar contra a corrente, e de lutar contra tendências nefastas de sua época que simplesmente representavam a diferença entre a vida e a morte para milhares de pessoas.
Nosso dever é o de apontar essas passagens sombrias de nossa história.
Caro Paulo Roberto Almeida
A historiadora Maria Luiza Tucci Carneiro tem uma importante obra de pesquisa solidamente fundamentada em fontes primárias sobre o anti-semitismo de Estado no Brasil.
De acordo com a autora, Osvaldo Aranha, em sua gestão como Ministro do Exterior, emitiu circulares secretas anti-semitas e não impediu o processo administrativo que afastou a bem do serviço público o embaixador Luiz Martins de Souza Dantas, o grande (e desconhecido) brasileiro reconhecido como um dos justos no memorial Yad Vashem.
Um pouco sobre os estudos de Tucci Carneiro
Uma entrevista da historiadora na revista da FAPESP
http://www.revistapesquisa.fapesp.br/?art=3489&bd=1&pg=1&lg=
E um artigo que vale a pena ler para conhecer o trabalho da pesquisadora
A Muralha anti-semita
“Existem pelo menos 24 circulares secretas anti-semitas emitidas pelo Itamaraty entre 1937 e 1948, além da primeira “ordem permanente de serviço”, que antecipava o teor racista da já citada circular nº 1.127 (7 de junho de 1937 e anterior à gestão de Aranha). Este conjunto de proibições tinha conseqüências imediatas na vida daqueles que procuravam fugir das perseguições nazistas que culminaram, em 1945, no fim da Segunda Guerra Mundial, na morte de 6 milhões de judeus, além de milhares de ciganos, testemunhas de Jeová, deficientes físicos e dissidentes políticos. Ao negar vistos aos judeus interessados em emigrar para o Brasil, o governo Vargas deixou de salvar milhares de vidas.”
http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=613&pagina=2
Valeu...
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