terça-feira, 3 de maio de 2011

A politica externa do nunca antes e os criticos saudosistas - cronica de um jornalismo neutro...

Interessante exposição sobre um debate que ficou em segundo plano por causa do "povão", quero dizer, por causa de uma expressão infeliz do ex-presidente egocêntrico da era neoliberal, que tanto escandalizou gregos e goianos, ou petistas e pessedebistas (e tutti quanto se acham amigos do povo, aliás, uma frase da revolução francesa, de tão triste memória).
O jornalista acha, com o assessor presidencial para assuntos internacionais -- que ainda possuiria forte influência sobre a política externa --, que Garcia demonstra que a diplomacia lulista não foi tão politizada assim, "citando exemplos", ele e Garcia concordariam, "de figuras brilhantes que politizaram a diplomacia, de Oswaldo Aranha a Fernando Henrique Cardoso."
Curioso: a acusação contra a diplomacia lulista não era o fato de terem politizado o Itamaraty e sua política externa supostamente profissional, mas sim de terem partidarizado uma diplomacia que, sendo política, não era, ao que parece, partidária, supondo-se que a era neoliberal não fosse justamente neoliberal.
Ou seja, já que Oswaldo Aranha e FHC também politizaram a diplomacia, os aprendizes de feiticeiros e os amadores petistas podiam sair por aí abraçando ditadores e protegendo violadores dos direitos humanos.
Tudo em nome de uma outra politização possível, claro.
O mundo é tão mais simples quando explicado por jornalistas.
O mundo mudou, o Brasil mudou, o Maranhão mudou, o Itamaraty mudou, todos nós mudamos, por que a Dilma e seu aspone diplomático não mudariam?
Simples, não é?
Paulo Roberto de Almeida

A oposição e a política externa
Sergio Leo
Valor Econômico, 02/05/2011, pág. A2

Mundo enfrentado por Dilma é diferente do de Lula, diz Garcia

A polêmica despertada pelo artigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sobre "O Papel da Oposição", no último número da revista Interesse Nacional, eclipsou, por seu alcance, uma outra interessante polêmica publicada no mesmo número da publicação, sobre assunto aparentemente de interesse mais restrito, a política externa brasileira. De um lado, o assessor internacional das presidências Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, Marco Aurélio Garcia. De outro, o ex-ministro de Relações Exteriores de FHC, Luiz Felipe Lampreia. Em ambos os textos, o tema é a mudança da política externa, com Dilma.
"As mudanças existem e existirão por duas razões", diz Garcia: porque o mundo enfrentado por Dilma é diferente do encontrado por Lula, em suas vantagens e nas responsabilidades que exige; e porque "toda política externa tem de conviver com uma certa imprevisibilidade", refletida em surpresas como a revolta do mundo árabe.
Expressa já no fim do artigo, a declaração de mudanças na política externa não faz menção à propalada centralidade da defesa dos direitos humanos no Itamaraty da nova presidência - posta em questão, aliás, na visita de Dilma à China, em que foi um não-assunto o sumiço dado pelas autoridades chinesas a elementos potencialmente perturbadores nesses tempos de ebulição árabe, o mais famoso dos quais é o artista Ai Weiwei, preso, incomunicável, sob alegação de crimes econômicos.
A referência a mudanças, feita pelo mesmo Marco Aurélio Garcia que as desdenhava no começo do governo atual, parece um tributo à presidente que se esforça - com êxito - para mostrar que não é mera continuadora de Lula. O restante do artigo, porém, feito por um assessor palaciano que, ao contrário de rumores desejosos, ainda exerce forte influência sobre as definições de política externa, mostra traços fortes da continuidade.
Garcia dedica boa parte do texto a demolir a crítica mal informada que atribui a uma inédita "ideologização" da política externa os pecados da diplomacia lulista. Visões distintas do que seria o "interesse nacional" sempre existiram de sobra na atuação externa brasileira, e não poderia ser de outro modo, como mostra Garcia, citando exemplos de figuras brilhantes que politizaram a diplomacia, de Oswaldo Aranha a Fernando Henrique Cardoso.
Sem tratar da acusação de que, sob Lula, o Brasil opinou excessivamente nos processos eleitorais dos países vizinhos, Garcia justifica, com argumentos consistentes, a razão da prioridade para o entorno regional. A "balcanização" da América do Sul, sua fragmentação resistente aos discursos de unidade, é atribuída, por ele, à falta de maior integração física e energética - uma prioridade cada vez mais evidente nos planos externos de Dilma.
Ao lado da defesa do multilateralismo e da lembrança do papel fundamental dos chamados países do Sul para a recuperação econômica, Garcia classifica as críticas à ação de Lula em questões como o Irã e Oriente Médio como defesa de uma "reserva de mercado" dos países ricos. Ataca, porém, como anacrônica a análise que vê, nessas ações, indícios de "terceiro-mundismo".
A coincidência do artigo do assessor com a do ex-chanceler de FHC não mostra exatamente um debate. Às preocupações quase conceituais de Garcia, Lampreia contrapõe uma listagem do que considera a herança "das mais negativas" recebidas por Dilma em matéria de política externa, e uma detalhada e provocativa agenda de mudanças - quase uma pauta para a oposição, que tem tido atuação superficial nesse debate.
Lampreia, ativo crítico do governo Lula, subestima a ação brasileira na acomodação de conflitos entre Venezuela e Colômbia, mas acerta ao criticar duramente a timidez da ação brasileira em conflitos regionais como o da Argentina e Uruguai em torno das "papeleras" uruguaias que geraram bloqueio de vias por argentinos alegando ameaças ambientais.
Os gestos públicos a ditadores e líderes polêmicos como Mahmoud Ahmadinejad "são iniciativas gratuitas que nos tiram credibilidade", aponta o ex-ministro - e a ausência de ações semelhantes por parte de Dilma parece lhe dar razão.
Sem a polêmica que caracterizou o artigo de FHC, Lampreia também sugere rumos à oposição, que vem agindo reativamente nos temas diplomáticos. Ao reconhecer prioridade ao Mercosul, ele defende a ênfase em seu aspecto comercial, reivindicando, no entanto uma "certa flexibilidade", que dê aos países autonomia em negociações comerciais. Aparentemente, sugere a consolidação do bloco como área de livre comércio e abandono, pelo menos temporário, das pretensões à união aduaneira que nunca foi.
Lampreia também cobra um "papel mais ativo nos conflitos regionais" por parte da diplomacia brasileira. Mostrando-se sabedor dos motivos que orientam a cautela nesse assunto - o medo de ser visto como "imperialista" é o maior deles -, o diplomata diz que o esforço brasileiro não precisaria ser "singular", e poderia ocorrer em combinação com outros governos da região. Uma cobrança válida, quando se recorda que o governo Lula não pôs, na discussão entre Uruguai e Argentina, uma fração do empenho dedicado aos temas do Oriente Médio.
É uma pena que esses e os muitos outros temas tocados pelos dois artigos na revista não tenham a atenção merecida, e sejam postos em segundo plano não só pelo "povão" mencionado polemicamente por FHC na mesma edição. Seria louvável se os interessados não deixassem morrer as discussões levantadas por Garcia e Lampreia, no blablabla maniqueísta que, infelizmente, parece imperar em boa parte das discussões sobre a política externa brasileira.

Sergio Leo é repórter especial e escreve às segundas-feiras
E-mail: sergio.leo@valor.com.br

Essa ginga diplomatica que o tio Sam nao sabe imitar...

Ninguém supera o Brasil em simpatia, imaginação, cordialidade, ritmo, colorido, evolução nas passarelas diplomáticas, enfim, aquele "olhar diferente", menos duro do que o desses loiros de olhos azuis, esses imperialistas arrogantes, que não sabem dialogar como nós dialogamos.
Decididamente, o Brasil é o campeão das soluções pacíficas, do diálogo amigável, da conversa mole, das soluções milagre, de tudo isso aquilo que a fria racionalidade desses nórdicos e anglo-saxões não consegue emular ou imitar de jeito nenhum.
Eles não são como a gente: apesar de materialmente mais ricos, nós somos moralmente superiores.
Pelo menos é o que eu percebo deste papo todo...
Paulo Roberto de Almeida

Amorim sugere que Brasil atue como mediador entre EUA e o mundo árabe
AFP, 27/04/2011

WASHINGTON — O Brasil pode utilizar sua crescente influência diplomática para fazer a mediação entre os Estados Unidos e o mundo árabe, sugeriu o ex-chanceler Celso Amorim, em seu primeiro artigo escrito após deixar o cargo, divulgado nesta quinta-feira, nos Estados Unidos.
"Não seria o momento de utilizar as boas relações do Brasil - e de outros países sul-americanos - com o mundo árabe para iniciar um novo diálogo (com os Estados Unidos)?", pergunta-se Amorim neste artigo publicado em inglês pela revista America's Quarterly.
"O Brasil pode servir como um mediador efetivo em negociações", acrescentou Amorim, após fazer um relato de seus oito anos à frente da diplomacia brasileira.
"Talvez uma visão menos maniqueísta e mais sutil da realidade, como a demonstrada pelo Brasil e por outros países sul-americanos, seria útil na hora de lidar com estas situações espinhosas, espacialmente no Oriente Médio", acrescentou Amorim.
Durante o governo presidido por Luiz Inácio Lula da Silva, Amorim converteu-se num dos principais defensores do grupo de países denominados emergentes.
No artigo, o ex-chanceler reconhece que algumas das decisões que tomou à frente da diplomacia brasileira despertaram a inimizade dos Estados Unidos, como sua mediação junto à Turquia para tentar resolver o conflito nuclear iraniano.
"Seja qual for (o veredicto), não se pode dizer que a política externa do Brasil nos últimos anos tenha sido ineficiente ou tenha mantido um perfil baixo", afirma Amorim.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Politicas de governo e politicas de Estado - Paulo Roberto de Almeida

Fui alertado, por um aluno de curso à distância -- um desses tantos cursos patrocinados pelo governo sobre gênero e raça, que cabe olhar com cuidado -- de que um texto meu estava sendo usado (sem que minha autorização tivesse sido sequer solicitada), obviamente de forma truncada e seletiva.
Para que não se perca o contexto mais amplo em que foram elaborados meus argumentos, transcrevo aqui o trabalho em sua integralidade, que pretendo retrabalhar assim que possível.

Sobre políticas de governo e políticas de Estado: distinções necessárias
Autor: Paulo Roberto De Almeida
Site do Instituto Millenium, Agosto 13, 2009

O que são políticas de Estado e o que são políticas de governo? Seriam os dois termos intercambiáveis, como preferem alguns? Ou são elas necessariamente distintas e próprias de cada situação, de cada arranjo de poder, correspondendo cada uma a uma forma específica de elaboração e de aprovação? Esta não é uma questão trivial, pois dependendo da resposta que se dá a estas questões pode-se estar sancionando meras políticas do governo como se fossem políticas de Estado ou travestindo as primeiras com a aura indevida do processo decisório articulado e responsável, como devem ser todas as políticas que aspiram à chancela “de Estado”.
Com efeito, determinadas políticas, seguidas por um governo específico, num dado momento da trajetória política de um país, podem corresponder à expressão da chamada “vontade nacional”, dado que contêm certo número de elementos objetivos que podem entrar na categoria dos sistêmicos ou estruturais, respondendo, portanto, ao que normalmente se designa como política de Estado. Alternativamente, porém, ela pode expressar tão somente a vontade passageira de um governo ocasional, numa conjuntura precisa, geralmente limitada no tempo, da vida política desse mesmo país, o que a coloca na classe das orientações passageiras ou circunstanciais.
Muitos pretendem que toda e qualquer política de governo é uma política de Estado, posto que um governo, que ocupa o poder num Estado democrático – isto é, emergindo de eleições competitivas num ambiente aberto aos talentos políticos – é sempre a expressão da vontade nacional, expressa na escolha regular daqueles que serão os encarregados de formular essas políticas setoriais. Os que assim pensam consideram bizantina a distinção, mas estes são geralmente pessoalmente do próprio governo, eventualmente até funcionários do Estado que pretendem se identificar com o governo de passagem. O que se argumenta é que, na medida em que suas propostas políticas já foram “aprovadas” previamente no escrutínio eleitoral, elas correspondem, portanto, aos desejos da maioria da população, sendo em conseqüência “nacionais”, ou “de Estado”.
Não é bem assim, pois raramente, numa competição eleitoral, o debate pré-votação desce aos detalhes e minudências das políticas setoriais e a todos os contornos e implicações dos problemas que podem surgir na administração corrente do Estado após a posse do grupo vencedor. Campanhas eleitorais são sempre superficiais, por mais debates que se possam fazer, e os candidatos procuram simplificar ainda mais os problemas em confronto, adotando slogans redutores, e fazendo outras tantas simplificações em relação às posições dos seus adversários. Por outro lado, as promessas são sempre genéricas, sem muita quantificação – diretamente quanto às metas ou sua expressão orçamentária – e sobretudo sem precisão quanto aos meios e seus efeitos no cenário econômico ou social. Todos prometem empregos, distribuição de renda, crescimento e desenvolvimento, defesa dos interesses nacionais, resgate da dignidade e da cidadania e outras maravilhas do gênero. Em outros termos, raramente a eleição de um movimento ou partido político ao poder executivo lhe dá plena legitimidade para implementar políticas de governo como se fossem políticas de Estado, que por sua própria definição possuem um caráter mais permanente, ou sistêmico, do que escolhas de ocasião ou medidas conjunturais para responder a desafios do momento.
Políticas de governo são aquelas que o Executivo decide num processo bem mais elementar de formulação e implementação de determinadas medidas para responder às demandas colocadas na própria agenda política interna – pela dinâmica econômica ou política-parlamentar, por exemplo – ou vindos de fora, como resultado de eventos internacionais com impacto doméstico. Elas podem até envolver escolhas complexas, mas pode-se dizer que o caminho entre a apresentação do problema e a definição de uma política determinada (de governo) é bem mais curto e simples, ficando geralmente no plano administrativo, ou na competência dos próprios ministérios setoriais.
Políticas de Estado, por sua vez, são aquelas que envolvem as burocracias de mais de uma agência do Estado, justamente, e acabam passando pelo Parlamento ou por instâncias diversas de discussão, depois que sua tramitação dentro de uma esfera (ou mais de uma) da máquina do Estado envolveu estudos técnicos, simulações, análises de impacto horizontal e vertical, efeitos econômicos ou orçamentários, quando não um cálculo de custo-benefício levando em conta a trajetória completa da política que se pretende implementar. O trabalho da burocracia pode levar meses, bem como o eventual exame e discussão no Parlamento, pois políticas de Estado, que respondem efetivamente a essa designação, geralmente envolvem mudanças de outras normas ou disposições pré-existentes, com incidência em setores mais amplos da sociedade.
Se quisermos ficar apenas com um exemplo, no âmbito da diplomacia, pode-se utilizar esta distinção. Política de Estado é a decisão de engajar um processo de integração regional, a assinatura de um tratado de livre comércio, a conclusão de um acordo de cooperação científica e tecnológica numa determinada área e coisas do gênero. Política de governo seria a definição de alíquotas tarifárias para um setor determinado, a exclusão de produtos ou ramos econômicos do alcance do tratado de livre comércio, ou a assinatura de um protocolo complementar definindo modalidades para a cooperação científica e tecnológica na área já contemplada no acordo. Creio que tanto o escopo das políticas, como os procedimentos observados em cada caso podem ser facilmente distinguidos quando se considera cada um dos conjuntos de medidas em função das características definidas nos dois parágrafos precedentes.
Por isso, não se pode pretender que as políticas de Estado possam ser adotadas apenas pelo ministro da área, ou mesmo pelo presidente, ao sabor de uma sugestão de um assessor, pois raramente o trabalho técnico terá sido exaustivo ou aprofundado o suficiente para justificar legitimamente essa designação. Isso se reflete, aliás, na própria estrutura do Estado, quando se pensa em como são formuladas e implementadas essas políticas de Estado.
Pense-se, por exemplo, em políticas de defesa, de relações exteriores, de economia e finanças – em seus aspectos mais conceituais do que operacionais – de meio ambiente ou de educação e tecnologia: elas geralmente envolvem um corpo de funcionários especializados, dedicados profissionalmente ao estudo, acompanhamento e formulação das grandes orientações das políticas vinculadas às suas respectivas áreas. Ou considere-se, então, medidas de natureza conjuntural, ou voltadas para uma clientela mais restrita, quando não ações de caráter mais reativo ou operacional do que propriamente sistêmicas ou estruturais: estas podem ser ditas de governo, aquelas não.
Portanto, quando alguém disser que está seguindo políticas de Estado, pare um pouco e examine os procedimentos, a cadeia decisória, as implicações para o país e constate se isso é verdade, ou se a tal política corresponde apenas e tão somente a uma iniciativa individual do chefe de Estado ou do ministro que assim se expressou. Nem todo presidente se dedica apenas a políticas de Estado, e nem toda política de Estado é necessariamente formulada pelo presidente ou decidida apenas no âmbito do Executivo.
Como dizem os americanos: think again, ou seja, espere um pouco e reconsidere o problema…

Oposicao sem posicao - Entrevista Leoncio Martins Rodrigues

Foi mais ou menos o que eu disse em meu artigo da revista Interesse Nacional, já postada aqui, sem no entanto mencionar uma única vez o PSDB.
Paulo Roberto de Almeida

ENTREVISTA da 2ª LEÔNCIO MARTINS RODRIGUES
PSDB corre o risco de se tornar uma legenda maldita
ELEONORA DE LUCENA
Folha de São Paulo, segunda-feira, 02 de maio de 2011

CIENTISTA POLÍTICO DIZ QUE O PARTIDO VIVE CRISE PROFUNDA E PRECISA DE UM CHEFE PARA SUPERÁ-LA
A intelectualidade erra.

DE SÃO PAULO - Depois de abocanhar quase 44 milhões de votos na última eleição presidencial, o PSDB vive a sua pior crise.
Para enfrentá-la precisa ter um único chefe. A opinião é de Leôncio Martins Rodrigues, 76. Cientista político próximo do PSDB e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ele teme pelo futuro dos tucanos. "O PSDB corre esse risco de virar uma legenda maldita", afirma.
Na entrevista, Leôncio diz estranhar o silêncio do ex-governador José Serra e comenta o desmanche na oposição. Para ele, a falta de perspectiva de poder e a disputa entre as lideranças tucanas explicam o momento conturbado.

Folha - Essa é a maior crise que o PSDB já viveu?
Leôncio Martins Rodrigues - Sim. Nunca houve uma crise assim tão forte.

Como o sr. explica essa crise?
Minha impressão é que o PSDB está sem uma mensagem e não tem liderança. Ou melhor, tem liderança demais. Duas grandes lideranças, Aécio e Serra, e esse é o problema. Partido só tem um chefe. Partido com dois chefes briga. Isso faz parte da essência da política. Os bolcheviques tinham um chefe: Lênin. Quando o pobre Lênin morreu, Stálin e Trótski brigaram de morte. O partido tem de ter uma só liderança.

E o governador Alckmin?
Você pode pôr também o Alckmin [como liderança].

Onde foi parar o capital político exibido pelo PSDB na eleição? Ele se evaporou?
Grande parte da votação de Serra não era de votos tucanos ideologicamente. Foi um voto anti-Lula, anti-Dilma, por ela representar a continuidade do Lula e do PT. Dilma muito habilmente entrou no eleitorado de classe média, que se encanta com o fato de ela ser mais taciturna, de ser mais comedida no falar, de falar melhor.
Pode ter havido uma divisão do trabalho: o Lula fica com a parte popular, enquanto ela se orienta para um eleitorado um pouco mais culto e de renda mais elevada. Eu já vi vários amigos que tinham votado no Serra fazendo muitos elogios à Dilma. A mídia também está fazendo. Isso vai fortalecer brutalmente, não sei se o PT, mas a Dilma.

O crescimento do governismo, que o PSDB não consegue deter, explica a crise?
É o terceiro mandato que eles não têm a Presidência. Isso provoca crise. Perderam muitos Estados, tiveram a bancada diminuída. O político se comporta para ganhar as eleições: se a mensagem não dá votos, ele muda.

Há uma debandada do PSDB. É a falta de perspectiva de poder que explica?
Os partidos fazem programas para chegar ao poder, e não vão ao poder para realizar programas. Então, mudam. Eles não vão ficar perdendo tempo, perdendo eleições, gastando dinheiro. Não conseguem arrecadar, não conseguem bons contribuintes sem a perspectiva de ganhar o poder. Têm que mudar, não tem conversa. Tem legendas no Brasil que, com certa frequência, se tornam malditas. Arena, depois o PFL. E eles vão mudando.

O DEM é a maldita da vez?
O DEM não é ainda. O DEM foi criado para evitar uma legenda maldita, mas se arrisca a ficar também.

E o PSDB?
O PSDB corre esse risco de virar uma legenda maldita.

O PSDB é o partido da direita?
De jeito nenhum. O PSDB foi um partido moderno. Fernando Henrique teve muita coragem de tomar medidas, de inventar uma cultura política brasileira, com as privatizações, as agências, o Proer. Foi um partido modernizador do capitalismo no Brasil.

Qual vai ser a característica do PSDB daqui para frente?
Eu não sei. O político sempre quer ascender, mas depende das possibilidades. Aécio vem de um Estado importante, tem ambições, mas tem de enfrentar outros. Não sei o que vai acontecer, mas acho que pode ser muito mal para o país.

O quê?
A liquidação do PSDB.

O sr. acredita nessa hipótese?
Liquidar eu não diria, porque criar um novo partido é uma coisa um pouco complicada. Mas a perspectiva de juntar com outro partido pode ser boa, porque os partidos recebem muito dinheiro do Estado, não é?

A fusão com o DEM seria boa para o PSDB e para o DEM?
Não sei.

Se essa fusão se confirmar, o PSDB não será um partido mais à direita do que é hoje?
O que é ser de esquerda? Stálin era de esquerda? Os termos direita e esquerda são usados na luta política para desmoralizar o adversário.

O sr. concorda com a tese de que a linha seguida por Alckmin é mais conservadora do que a de Serra ou Aécio?
O PSDB sempre foi um partido paulista. Você se lembra dos líderes. Do outro lado tinha o Aécio, que não era tão importante. Mas os partidos sempre têm uma característica regional muito marcada. O PSDB não conseguiu entrar no Rio. Tem outro problema.
As lideranças do PSDB estão envelhecendo. Não houve o surgimento de uma nova liderança, mais jovem, que encontrasse uma nova mensagem capaz de galvanizar parte da população. O PT teve mais gana para chegar ao poder, de gente que vinha mais de baixo, de classe média. Gente que queria ascender mais, com mais garra. E teve um líder muito bom desse ponto de vista, o Lula, que soube galvanizar mais as massas, levar um pouco de emoção também ao campo da política. O PSDB não está conseguindo levar. Seria preciso que ele tivesse formado novas lideranças. Não apareceram novas lideranças.
Não sei para onde vai o Serra. Vai disputar a prefeitura? Seria esmagado pelos adversários imediatamente. A primeira coisa que iriam fazer é lembrar que ele assinou em cartório que não iria abandonar a prefeitura, e largou. Isso dificulta muito que ele possa concorrer à Prefeitura de São Paulo. Vai ficar esperando a nova eleição? É muito tempo sem cargo.

E a fusão PSDB-DEM?
Você tem mais dinheiro, mais tempo de TV, mais poder de chantagem, mais votos no Legislativo. Você pode chantagear melhor o Executivo. Mas, em compensação, você tende a aumentar a confusão interna. É mais gente disputando o poder e mais alas. Se o partido não surge de um impulso da própria sociedade, a confusão aumenta. Eu não sei como vão dividir, quem é que vai mandar.

E o papel do Aécio? Ficou mais complicado com o evento no Rio, a recusa ao bafômetro, a carteira vencida?
Seguramente o cacife dele baixa bastante. Para um candidato que tem um comportamento de playboy conta muito mal. Porque o presidente da República tem que aparentar responsabilidade, seriedade. Não dá para ficar passeando em alta velocidade e se recusar a cumprir certos rituais, como o bafômetro, ter carteira de motorista em dia. Proceder dessa maneira é dizer: estou acima da lei. Isso em campanha vai ser jogado contra ele. Pioraram muito as chances dele: depois desse episódio terá mais dificuldade para agrupar o PSDB. O Aécio teria de fincar um pé em São Paulo. Ele não consegue. Você não pode ser uma liderança nacional se não conquista São Paulo.

Isso não beneficia Serra? Por que ele está tão calado? Não seria hora de ele, que galvanizou tantos votos há poucos meses, tomar a frente do partido e botar ordem na casa?
Teoricamente, concordo com você. Mas não tenho a menor ideia de por que ele está tão calado. É possível que tenha ficado um pouco abatido com a derrota.

Quem botará ordem na casa?
Em princípio seria o Serra. Mas ele vai encontrar um obstáculo, que não é nada bobo: o Alckmin. Alckmin é muito esperto. Sabe se conter, não é tão açodado assim.
O que deveria ter acontecido seria o surgimento de uma liderança forte, nacional, com mais ou menos 50 anos, com experiência, que se dispusesse a viajar pelo Brasil, ficar conhecido, ganhar apoios locais dos caciques, dos pequenos caciques locais. Mas isso não apareceu.

Frases

"O PSDB está Sem uma mensagem e não tem liderança. ou melhor, tem liderança demais... Partido só tem um chefe. Partido com dois chefes briga

As lideranças do PSDB estão envelhecendo... Seria preciso que ele tivesse formado novas lideranças. Não apareceram"

"Dilma muito habilmente entrou no eleitorado de classe média, que se encanta com o fato de ela ser mais taciturna, de ser mais comedida no falar, de falar melhor

Não sei para onde vai o Serra. Vai disputar a prefeitura? Seria esmagado... Vai ficar esperando a nova eleição? É muito tempo sem cargo

O que deveria ter acontecido seria o surgimento de uma liderança forte, nacional, com mais ou menos 50 anos, com experiência... Mas isso não apareceu "
LEÔNCIO MARTINS RODRIGUES, cientista político

RAIO-X
LEÔNCIO MARTINS RODRIGUES

FORMAÇÃO
Bacharel em Ciências Sociais pela USP (1962), é professor titular aposentado dos departamentos de Ciência Política da USP e da Unicamp

LIVROS
Publicou "Mudanças na Classe Política Brasileira" (2006), "Partidos, Ideologia e Composição Social" (2002) e "Força Sindical"(1993)

A "tortura" do marco teorico - alguns textos PRAlmeida

Teor de mensagem que encaminhei a alguns alunos meus. Acredito que possa interessar a vários outros alunos, que não são "meus", mas podem passar por...

Muitos de vocês estão se preparando neste momento, ou terão de se preparar em algum momento futuro, com o famoso trabalho de final de curso, monografia, ou dissertação de Mestrado, ou mesmo simples artigo de pesquisa.
Tenho feito e avaliado muitos desses trabalhos e artigos acadêmicos ao longo dos anos, e creio poder colaborar em algo, com base em alguns trabalhos escritos de minha parte.
Tenho dois textos a propósito das monografias e dissertações, guias bem humorados para a confecção desses trabalhos acadêmicos pelos alunos; eles estão em minha página, na seção Academia, respectivamente estes aqui:

Pequeno Guia para se fazer uma monografia academica:
http://www.pralmeida.org/05DocsPRA/1892GuiaMonografia.pdf

O que se espera de uma dissertacao de Mestrado?:
http://www.pralmeida.org/05DocsPRA/1606DissertacaoMestrado.pdf

Com base em consultas passadas de estudantes -- muitos angustiados -- resolvi escrever um artigo despretensioso, tentando libertar os pobres dos alunos da obsessao do "marco teórico", uma imposição de grande parte dos professores e à qual en pessoalmente não atribuo muita importância:

Falácias acadêmicas, 3: o mito do marco teórico
(Buenos Aires-Brasília, 30 setembro 2008, 6 p. Da série programada, com algumas criticas a filósofos famosos)
Espaço Acadêmico (n. 89, outubro 2008; arquivo em pdf:
http://www.espacoacademico.com.br/088/88pra.pdf

Muitos outros trabalhos meus, animados desse mesmo espírito crítico, figuram numa série a que dei o nome geral de "Falácias Acadêmicas", todos publicados na revista Espaço Acadêmico, mas que podem ser consultados neste link do meu site:
http://www.pralmeida.org/05DocsPRA/FalaciasSerie.html

O primeiro foi sobre o mito do neoliberalismo, o segundo sobre o mito do Consenso de Washington), e terceiro, justamente, sobre o Mito do Marco Teorico.
Tem muito mais, mas isso vocês podem explorar por si mesmos...

Transcrevo aqui meu argumento quanto à ética que estimo deva presidir à elaboração de todo e qualquer trabalho acadêmico:

Acredito que uma das maiores, senão a maior responsabilidade do cientista social é a honestidade intelectual, o que implica na consideração de todos os elementos em jogo, não apenas aqueles que respondem às suas preferências políticas ou filosóficas. Considero este critério o mais relevante no trabalho científico, aliás o único relevante no campo das ciências humanas ou sociais, e é em torno dele que eu gostaria de desenvolver minha obra de leitor, de pensador, de sistematizador de argumentos e de expositor de fatos históricos. Não me preocupo tanto, ou talvez nada, com a teoria, pois não creio que ela seja indispensável no desenvolvimento desse tipo de trabalho. Claro, todos nós “partimos” de algum teoria, mesmo de forma inconsciente, mas isso não tem nada a ver com a “necessidade” de expor sua teoria previamente ao trabalho com os fatos. Prefiro deixar que os fatos falem por si, e se alguém quiser depois aplicar alguma teoria a eles, que o faça por sua própria conta e risco, mas eu não vou me preocupar em desenvolver nenhuma nova teoria para tentar encaixar, ou amoldar, os fatos dentro dessa nova camisa de força conceitual.
Essa é uma das razões pelas quais eu praticamente passo por cima dos capítulos teóricos nas muitas dissertações e teses para cuja avaliação eu sou convidado. Acho que os professores “torturam” os seus alunos, obrigando-os a encontrar o famoso “quadro teórico” da sua pesquisa, quando os pobres alunos mal dão conta do emaranhado de fatos brutos que devem processar. Mas isso é uma outra discussão que farei em outra oportunidade.


Voilà...
Paulo Roberto de Almeida

MECdoPT: a deformacao da Historia em construcao...

Certas pessoas não se contentam em apresentar a sua versão da história; elas também querem transformá-la em versão oficial, com todas as deformações e simplismos que suas mentes deformadas concebem conceber.
Paulo Roberto de Almeida

Livros aprovados pelo MEC criticam FHC e elogiam Lula
Obras atacam privatizações feitas pelo tucano e minimizam o mensalão

LUIZA BANDEIRA - RODRIGO VIZEU
Folha de S.Paulo, Domingo 1 de maio de 2011

Comissão formada por professores avalia os livros, que são usados por 97% das escolas da rede pública de ensino

DE SÃO PAULO - Livros didáticos aprovados pelo MEC (Ministério da Educação) para alunos do ensino fundamental trazem críticas ao governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e elogios à gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Uma das exigências do MEC para aprovar os livros é que não haja doutrinação política nas obras utilizadas.
O livro "História e Vida Integrada", por exemplo, enumera problemas do governo FHC (1995-2002), como crise cambial e apagão, e traz críticas às privatizações.
Já o item "Tudo pela reeleição" cita denúncias de compra de votos no Congresso para a aprovação da emenda que permitiu a recondução do tucano à Presidência.
O fim da gestão FHC aparece no tópico "Um projeto não concluído", que lista dados negativos do governo tucano. Por fim, diz que "um aspecto pode ser levantado como positivo", citando melhorias na educação e a Lei de Responsabilidade Fiscal.
Já em relação ao governo Lula (2003-2010), o livro cita a "festa popular" da posse e diz que o petista "inovou no estilo de governar" ao criar o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.
O escândalo do mensalão é citado ao lado de uma série de dados positivos.
Ao explicar a eleição de FHC, o livro "História em Documentos" afirma que foi resultado do sucesso do Plano Real e acrescenta: "Mas decorreu também da aliança do presidente com políticos conservadores das elites". Um quadro explica o papel dos aliados do tucano na sustentação da ditadura militar.
Quando o assunto é o governo Lula, a autora -que à Folha disse ter sido imparcial- inicia com a luta do PT contra a ditadura e apenas cita que o partido fez "concessões" ao fazer "alianças com partidos adversários".
Em dois livros aprovados pelo MEC, só há espaço para as críticas à política de privatizações promovida por FHC, sem contrabalançar com os argumentos do governo.

MENSALÃO
Já na apresentação da gestão Lula, há dois livros que não citam o mensalão.
Em "História", uma frase resume o caso, sem nomeá-lo: "Em 2005, há que se destacar, por outro lado, a onda de denúncias de corrupção que atingiu altos dirigentes do PT, inúmeros parlamentares da base do governo no Congresso e alguns ministros do governo federal".
A Folha não conseguiu falar com os autores da obra.
Uma das críticas feitas a Lula é o fato de ter continuado a política econômica do antecessor.
Os livros aprovados pelo MEC no Programa Nacional do Livro Didático são inscritos pelas editoras e avaliados por uma comissão de professores. Hoje, 97% da rede pública usa livros do programa.
São analisados critérios como correção das informações e qualidade pedagógica. As obras aprovadas são resenhadas e reunidas em um guia, que é enviado às escolas públicas para escolha dos professores

domingo, 1 de maio de 2011

O Brasil seria uma bolha? - Moises Naim

Atenção: ele não chamou o Brasil de bolha. Ele apenas se pergunta se, com toda essa euforia em torno do crescimento e da pujança (um pouco real, outro tanto propaganda) da economia e da incorporação de novas camadas sociais à famosa classe média -- que estaria desaparecendo, segundo alguns catastrofistas --, o Brasil não seria, na verdade, mais uma dessas tantas bolhas que encantam enquanto estão crescendo, coloridas e reluzentes, e que de repente, tilt, explodem e desaparecem de surpresa...
Paulo Roberto de Almeida

¿Es Brasil una burbuja?
MOISÉS NAÍM
El País, 01/05/2011

Este es el segundo tema que domina las conversaciones en Brasil. El primero, y mucho más popular, es la celebración de sus enormes éxitos: los millones de pobres que han dejado de serlo, la impresionante pujanza de sus empresas, las enormes oportunidades y la mayor prosperidad. Si bien los problemas aún son grandes (miseria, crimen, corrupción, desigualdad), el optimismo también lo es. Los brasileños, siempre alegres, están ahora más contentos que nunca. Y con mucha razón. Las cosas van muy bien. Y eso lleva a la segunda conversación obligada: ¿cuánto durará la fiesta? ¿Cómo -quién- nos puede descarrilar este raudo tren hacia la prosperidad?, se preguntan. Paradójicamente, los motivos del éxito también son la fuente de las ansiedades. En los últimos cinco años, el crédito ha crecido hasta alcanzar el 45% del tamaño de la economía. Así, los brasileños han encontrado quien les preste para comprar casas, motocicletas, refrigeradores y todo lo demás -muchos por primera vez-. Y no les ha importado que las tasas de interés de esos préstamos sean las segundas más altas del mundo o que las familias brasileñas deban hoy dedicar un 20% de sus ingresos a pagar sus deudas.

Este auge del crédito y el consumo obedece, en parte, a los millones de nuevos empleos y los mejores salarios generados por la expansión económica. Mientras las economías más ricas cayeron un 2,7% durante la crisis de 2008-2009, Brasil creció al 5%, y el año pasado lo hizo al 7,5%. El paro se ha reducido a los niveles más bajos en décadas y en muchos sectores las empresas no consiguen los trabajadores que necesitan. Los altos precios internacionales de los minerales y productos agrícolas, que Brasil exporta en grandes cantidades, contribuyen a esta expansión.

Los inversionistas internacionales también están eufóricos con Brasil. La inversión extranjera directa creció un 90% el año pasado. La avalancha de fondos foráneos que está cayendo sobre Brasil, atraídos por sus altas tasas de interés, está obligando al Gobierno a considerar la posibilidad de imponer límites más estrictos al capital especulativo. Los flujos de capital extranjero y los ingresos por exportaciones han llenado las arcas brasileñas con divisas de otros países, lo cual ha encarecido el valor de su moneda. El tipo de cambio ajustado a la inflación es hoy un 47% más caro de lo que fue su promedio en la última década. El real es la moneda más sobrevalorada del mundo.

Inevitablemente, la combinación de una moneda cara, la euforia de los inversionistas extranjeros, el aumento del consumo y los cuellos de botella que existen para satisfacer una demanda que crece aceleradamente hace que todo sea más caro. Brasil, que sigue siendo una nación muy pobre, es actualmente uno de los países más caros del planeta. El precio de la vivienda en Río de Janeiro y São Paulo casi se ha duplicado desde 2008. Alquilar oficinas en Río es hoy más costoso que hacerlo en Nueva York, y los salarios de los ejecutivos en São Paulo son mayores que en Londres o Manhattan. Y la inflación para todos está subiendo hasta el punto de que la presidenta, Dilma Rousseff, ha declarado que es su principal preocupación. No hay duda de que la economía esta sobrecalentada.

Pero ¿es Brasil una burbuja financiera? No. El progreso de Brasil y su potencial no son una ilusión. Se basan en logros concretos y fortalezas reales. Pero la economía brasileña sí tiene aspectos insostenibles. La expansión del crédito y el crecimiento del gasto público no pueden seguir al ritmo actual. Hay muchas reformas estructurales importantes que el expresidente Lula da Silva pospuso -Brasil tiene algunos de los jubilados más jóvenes del mundo, por ejemplo-. El Gobierno chino invierte anualmente en infraestructura (vías, aeropuertos, hospitales, etcétera) un monto equivalente al 12% de su economía. Brasil, tan solo el 1,5%. Esto explica, en parte, por qué la economía brasileña se "recalienta" a pesar de que este año solo crece al 4,5%. ¿Qué pasaría si creciera al 10% varios años seguidos? Su decrépita infraestructura no lo permitiría.

En estos momentos la prioridad es estabilizar la economía. Esto implica tomar medidas políticamente impopulares: desacelerar el consumo, por ejemplo. Y otras. O la presidenta Dilma Rousseff le baja el volumen a la fiesta y lo hace ahora de una manera controlada, o los mercados "se lo harán" de una manera descontrolada y socialmente más dolorosa. La euforia y la complacencia son las enemigas más amenazantes para el exitoso Brasil de hoy.

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