sexta-feira, 1 de junho de 2012

Argentina: ja vimos esse filme antes, alias, duas ou tres vezes... (faltou pipoca, no final...)

Inacreditável Argentina, inacreditáveis argentinos. 
OK, vamos distinguir: pessoas normais, os argentinos, têm o direito de ser esquecidos, relapsos, distraídos.
Não os dirigentes políticos, ou seja, a Argentina, ou quem fala por ela.
Esses dirigentes já fizeram não sei quantos controles cambiais, sempre com os mesmos resultados desastrosos. Manipularam não sei quantas dezenas de vezes os preços, mediante tabelas de referência, preços congelados, subsídios a determinados consumidores, imposição de regras malucas aos produtores, enfim, toda sorte de medidas bizarras, sempre com os resultados desastrosos de sempre.
Já deram vários calotes, na sua própria população, nos produtores nacionais (especialmente do agro) e nos investidores estrangeiros.
Como é que os dirigentes argentinos conseguem ser tão néscios?
E os argentinos comuns com eles, já que aprovam essas medidas cujo único efeito é torná-los mais pobres a cada vez.
Como é que eles não aprendem?
Paulo Roberto de Almeida 

Controle cambial na Argentina

Editorial O Estado de S.Paulo, 31 de maio de 2012
Enredando-se ainda mais no cipoal de controles cambiais - que, por sua variedade e complexidade crescentes, mostram uma administração em dificuldades cada vez maiores para resolver os principais problemas econômicos do país -, o governo de Cristina Kirchner acaba de colocar em prática sua mais recente medida para tentar conter a desvalorização do peso e a disparada do dólar no mercado paralelo, de grande importância na Argentina. Todo argentino que comprar um pacote de viagens junto a uma agência de turismo agora precisa informar à Afip, a Receita Federal do país, a origem do dinheiro para o pagamento das despesas, o tempo e o objetivo da viagem, entre outros dados. Dificilmente, porém, a nova restrição cambial funcionará do modo desejado pelo governo.
Fruto, entre outros fatores, da crescente desconfiança de poupadores locais e de investidores nacionais e estrangeiros com relação aos rumos que a administração Kirchner - anteriormente chefiada pelo falecido marido da presidente - vem dando ao país, o problema cambial se tornou crítico. Na maioria dos casos, o governo é responsável pelas dificuldades do país na área cambial.
Desde novembro, pouco antes do início do segundo mandato de Cristina Kirchner, o governo argentino vem tomando medidas para restringir as compras de dólares. Os resultados não têm sido notáveis. No ano passado, saíram do mercado financeiro argentino US$ 23 bilhões. Estima-se que, em abril de 2012, os argentinos compraram US$ 1,2 bilhão, boa parte dos quais deve ter tomado o rumo do exterior.
O emprego nos postos da fronteira com o Uruguai - apontado como destino preferido das remessas ilegais para o exterior da moeda americana - de cães farejadores treinados para detectar a presença da tinta utilizada na impressão das notas de dólar é a caricatura perfeita da obstinação kirchneriana com a questão cambial e também da inutilidade de boa parte das medidas que vem tomando para evitar a fuga de divisas. Seriam necessárias muitas matilhas para conter a saída de dólares na proporção em que deve estar ocorrendo.
Mais do que cães ou obsessão governamental, a solução exige atitudes corretas das autoridades, mas estas têm sido muito raras. O que se vê com muito maior frequência são decisões temerárias que tornam ainda mais difícil a situação do país. Desde a selvagem moratória unilateral de sua dívida externa, em 2001, a Argentina é considerada um pária pelo sistema financeiro internacional, o que praticamente a impede de obter financiamentos externos para seus programas de crescimento econômico.
Outra fonte importante de recursos externos, os investimentos diretos na produção, tem sido constantemente desprezada pelas autoridades do país, com discursos, ações e medidas políticas de caráter nitidamente nacionalista e antiestrangeiro, como a recente expropriação da maior empresa petrolífera do país, até então controlada por um grupo espanhol.
A problemas deliberadamente criados pelo governo Kirchner somam-se outros, como a seca que prejudicou a safra de soja do país e que, neste ano, poderá resultar na quebra de até US$ 4,5 bilhões nas exportações do produto in natura ou derivados. As exportações estão caindo. Em abril, ficaram US$ 412 milhões abaixo das de abril de 2011 e US$ 475 milhões abaixo das de março passado.
Há um mês, o governo impôs aos exportadores a obrigatoriedade de negociar internamente os dólares das vendas externas no prazo máximo de 15 dias. Isso exigia mudanças de procedimentos e reprogramação financeira por parte dos exportadores, que, por cautela, reduziram seus negócios. As exportações, já em queda, diminuíram mais. Na segunda-feira, o governo ampliou o prazo para 30 dias.
Empresas importadoras têm sido pressionadas fortemente pelo governo Kirchner para comprar internamente o que antes importavam.
O intervencionismo excessivo no câmbio alimenta as desconfianças e torna o problema mais grave.

O Brasil vai alimentar o mundo? - artigo de Marcos S. Jank

Provavelmente, mas isso depende...
Depende de muita coisa: de melhorarmos nossa produtividade, de deixarmos de ser um país caro, de parar de tributar excessivamente as atividades produtivas e de muitas outras coisas mais, que dependem apenas de nós mesmos, e do governo, claro.
Nos últimos nove ou dez anos, o governo fez de tudo para proteger os bárbaros (no sentido propriamente gótico, ou visigodo, da palavra) do MST e outros movimentos neobolcheviques, que fingem que querem a reforma agrária, mas na verdade só querem aterrorizar o agronegócio e se opor à agricultura comercial de exportação; inacreditável que esses bárbaros (no sentido huno, desta vez) invadiram fazendas produtivas, negócios privados, instituições públicas e NUNCA foram reprimidos. Pode-se pensar que, dentro do governo, existem outros bárbaros (no sentido de mongois, desta vez, stricto et lato sensii) que só pensam em defendê-los.
O Brasil também deve ser o único país do mundo que tem DOIS ministérios da agricultura, com políticas perfeitamente contraditórias, opostas e até inimigas entre si; um se encarrega da agricultura normal, de mercado, o outro só subsidia agricultores inviáveis e patrocina loucuras agrícolas com o nosso dinheiro.
Tem muitas outras coisas erradas no setor primário, e como ele vem fazendo, ainda assim, sucesso, nos últimos tempos, produzindo renda e riqueza, liberando saldos de exportação, enfim, financiando os déficits de outros setores, pode ser que o governo, mais uma vez, queira transformar o setor, como no passado, em uma vaca a ordenhar, literalmente, ou seja, tirar o dinheiro que o setor produz para distribuí-lo entre seus beneficiários improdutivos.
Enfim, sou moderadamente pessimista quanto às chances do Brasil se tornar uma grande economia de mercado. Não com essa obsoleta concepção de mercado, como diria o Polanyi (mas com outro sentido).
Paulo Roberto de Almeida 



A hora e a vez da moderna agricultura tropical
Marcos Sawaya Jank (*)
O Estado de São Paulo, 30/05/2012, Opinião, A-2


Nas próximas décadas o mundo oferecerá uma oportunidade de ouro ao Brasil, que exige, acima de tudo, planejamento e organização. Entre 2000 e 2050, o consumo global de alimentos vai triplicar, pois a população crescerá uma vez e meia (de 6 bilhões para 9 bilhões de pessoas), ao mesmo tempo que cada habitante duplica o seu consumo individual, dado o aumento da renda. A agência americana Usaid estima que nesses 50 anos teremos de gerar um volume de alimentos semelhante ao que produzimos nos últimos 8 mil anos.

Commodities alimentares serão produtos valorizados e dinâmicos num mundo marcado pela urbanização acelerada, pelo crescimento da renda per capita nas economias emergentes e pela mudança dos hábitos alimentares, com a substituição de grãos e tubérculos por proteína animal. A desaceleração da economia chinesa pode até impactar momentaneamente esse movimento, mas ele continuará positivo e exponencial nas próximas décadas, pois tem natureza estrutural. Basta lembrar que a própria China está mudando o foco de seus investimentos de infraestrutura para consumo, o que se traduz por uma migração de commodities minerais para agrícolas e energéticas, com destaque para as carnes e os lácteos. Esse imenso país só tem 15% de terras aráveis e vai investir US$ 630 bilhões em programas de conservação de água nos próximos dez anos, uma questão que já se tornou de segurança nacional. A Índia vem atrás, com problemas semelhantes.

O fato é que em 2000, dos US$ 20 bilhões que exportamos no agronegócio, 60% se dirigiram à Europa e aos EUA, ante apenas 14% à Ásia. Em 2011 exportamos US$ 95 bilhões no agro, sendo 25% para a Europa e os EUA e 52% para a Ásia. Um crescimento de 15% ao ano, agora redirecionado para países emergentes - da Ásia, do Oriente Médio e da África -, que nos obriga a repensar toda a nossa política comercial. Estou convencido de que essa nova era "asiocêntrica" é muito mais uma oportunidade do que uma ameaça para o Brasil. Para entender isso é preciso despir-se dos preconceitos históricos contra "commodities" e verificar in loco o que está acontecendo no campo brasileiro: novas tecnologias adaptadas às condições tropicais, importantes ganhos de escala e especialização dos produtores com a migração do Sul para o Centro-Oeste e o Nordeste, novos modelos de gestão e comercialização de produtos, agricultores jovens e dinâmicos, sistemas agroindustriais sofisticados.

Não é por acaso que o mapa das cidades com IDH mais elevado bate exatamente com o mapa da agricultura empresarial mais moderna. Na última década a produtividade total da agricultura (terra, trabalho e capital) cresceu 3,6% ao ano, ante menos de 0,5% ao ano dos setores de serviços e da indústria não agrícola. A quantidade de indústria e tecnologia embarcada num simples grão de soja é grande e é nessa etapa da produção, junto com as soluções de logística, que se encontra o verdadeiro "valor adicionado" que acaba diferenciando produtores e países. As crescentes restrições na disponibilidade de terra e água fazem com que produzir commodities seja hoje mais relevante e complexo que processá-las. A China já percebeu isso, mas não tem saída.

Resta saber se conseguiremos aproveitar essa oportunidade. Primeiro, por causa das travas que tornaram nosso agronegócio um setor com imenso potencial, porém de alto custo. Travas clássicas são as ineficiências estruturais da nossa logística e os crescentes riscos regulatórios - legislação complexa e altamente instável no tempo, por exemplo, nas áreas ambiental e trabalhista, de registros de propriedade precários e restrições para aquisição de terras por empresas nacionais controladas por capital estrangeiro. Segundo, porque os concorrentes não estão parados: oferecem cada vez melhores condições para produzir, principalmente em termos de políticas de atração de investimentos, logística adequada e incorporação de novas tecnologias. No seminário “Perspectivas do Agronegócio 2011-2012” organizado pela BM&F na semana passada, empresários brasileiros declararam que estão considerando seriamente a possibilidade de investir em outras regiões (EUA, Leste Europeu, África), onde as condições para plantar seriam mais atrativas.

Precisamos urgentemente definir com clareza as metas e o papel que o Brasil deveria desempenhar na busca pela segurança alimentar e energética do planeta nas próximas décadas. Em seguida, precisamos definir como as cadeias de suprimento deveriam estruturar-se para atingir essas metas: políticas públicas que garantam segurança jurídica para investir, fortes ganhos de eficiência logística e incentivos à agricultura de alta produtividade e verdadeiramente sustentável, com eficiência econômica e responsabilidade socioambiental. A longo prazo, o que interessa não é o que um país produz, mas como ele produz em relação aos seus melhores concorrentes. O mundo claramente espera proatividade e liderança do Brasil nessa área.

Retornei de uma semana de eventos nos EUA convencido que esta é a hora e a vez da agricultura tropical moderna, não apenas no Brasil. Mas por aqui efetivamente saímos na frente, demos passos importantes nas últimas décadas e não podemos agora ficar parados contemplando nosso próprio umbigo. Não se trata de aproveitar uma oportunidade de mercado ou de ficar repetindo que temos recursos naturais abundantes. Isso não basta, e também não é mais verdade. Precisamos, sim, de muito planejamento e organização para enfrentar uma questão fundamental para o futuro do planeta: como criar cadeias de suprimento eficientes para alimentar 9 bilhões de pessoas, a grande maioria vivendo em cidades, com recursos naturais cada vez mais restritos.

* Especialista em Agronegócio e Agroenergia, foi presidente da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica). Email: marcos@jank.com.br

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Brasil-Siria: "E' preciso manter o dialogo"

Dixit, redixit, tridixit (et encore):


Brasil se isola na questão síria
Editorial O Globo, 31/05/2012


No momento em que os principais países recorrem às mais duras medidas para repudiar o massacre sistemático do povo sírio por seu próprio governo, o Brasil mais uma vez decide contemporizar. Segundo o Itamaraty, o governo brasileiro está preocupado em não piorar ainda mais a situação na Síria. "O diálogo precisa ser mantido", sustentou o porta-voz da chancelaria brasileira.
Não é um bom sinal. Mostra uma recaída na diplomacia companheira praticada nos dois governos Lula, de um terceiro-mundismo arcaico e antiamericanismo juvenil, que resultou em episódios grotescos, como a recepção em Brasília do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, e a viagem do brasileiro a Teerã para tentar evitar, inutilmente, uma ação da comunidade internacional contra o programa nuclear iraniano. Ou manifestações de simpatia pelo ditador do Zimbábue, Mugabe, com quem se reuniu por iniciativa de Hugo Chávez. Ou a impotência diante da transformação da Embaixada do Brasil em Tegucigalpa num palanque do aliado Manuel Zelaya, presidente deposto de Honduras.
A presidente Dilma Rousseff deu sinais importantes de que restabeleceria as melhores tradições do Itamaraty ao fazer dos direitos humanos a pedra de toque de sua política externa. Foi uma decorrência disso o voto brasileiro no Conselho de Direitos Humanos da ONU de apoio à condenação de atrocidades de Muamar Kadafi na Líbia. Mas a evolução dos fatos, que levaram à intervenção militar da Otan para derrubar o ditador, criou mal-estar em muitos países, inclusive o Brasil. Objetavam que a ONU teria dado carta-branca à Otan para derrubar um governo, ainda que fosse uma ditadura cruel.
Agora, porém, não há justificativa para a inação do governo brasileiro diante do massacre cotidiano de sírios por parte de um regime que não se acanha de praticar genocídio. Bashar Assad tacha de "terroristas" os que lutam para derrubá-lo - uma força heterogênea de rebelados contra a ditadura, desertores das forças sírias, civis que pegaram em armas. Mesmo que haja entre eles sectários. Assad só tem demonstrado frieza diante das tentativas da comunidade internacional de obter um cessar-fogo via esforços do ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan.
Recentemente, Dilma determinou ao primeiro escalão da área internacional que repensasse a política externa brasileira para ajustá-la ao pós-Primavera Árabe e à crise europeia. O objetivo seria aumentar a influência do país no cenário internacional. Mas há erros evidentes. Ao se referir às divergências de opinião no Conselho de Segurança em relação à Síria, principalmente entre americanos, de um lado, e China e Rússia, de outro, o assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, comentou: "Parece a volta da Guerra Fria."
A frase resume o caráter equivocado da posição brasileira num mundo multipolarizado. Não tem sentido manter uma postura de inércia envergonhada, até porque entre ela e a intervenção militar há uma série de gradações diplomáticas possíveis. O que não pode é defender o indefensável só para não destoar de "companheiros" da sigla Brics e se isolar dos demais países.

In praise of stupidity, 2: ainda bem que os bandidos não fizeram pos-graduacao...

Sim, pós-graduação, pois, pelo que venho observando, é possível que pessoas sem um domínio correto da língua nacional -- seja qual ela for, pois creio que os militantes afrodescendentes vão incorporar cotas de expressões afrodescendentes na chamada língua pátria, que não se sabe bem a quem pertence, atualmente -- passem perfeitamente por todas as etapas da educação anormal que temos em nosso país, e consigam chegar à pós-graduação escrevendo errado. 
Como a escola primária, aliás a básica, já não prepara mais para alguma coisa útil, é possível, assim, se precaver contra golpes na internet, como o que vem aqui abaixo ilustrado contra um banco conhecido.
Vamos manter os bandidos ignorantes: pessoalzinho do MEC, continuem como estão, não precisa melhorar nada, pois se melhorar estraga...



Caro cliente,
O Banco Santander sempre busca a comodidade e conforto de nossos clientes, visando isso estamos disponibilizando uma atualizacao para o acesso Internet Banking Santander. O novo Modulo de Protecao garante total seguranca em suas transacoes via Internet Banking. Para sua seguranca este servico esta disponivel apenas para correntistas, por meio do link abaixo.

Ouvidoria
0800 726 0322
De segunda a sexta-feira, das 9h as 18h, exeto feriados. 

quarta-feira, 30 de maio de 2012

O fascismo que se via, e o fascismo que nao se ve: texto PRA

Tenho no meu iPad, descarregado de algum site de livros clássicos caídos no domínio público, e invariavelmente avanço um pouco na leitura cada vez que posso, o livro "Ensaios de Economia Política" de Frédéric Bastiat, no qual o grande economista francês do século XIX sempre recorria à imagem que o tornou conhecido: "o que se vê" e "o que não se vê".
De fato, a economia sempre produz resultados inesperados, alguns típicos daquela lei das consequências involuntárias, que é desconhecida pela maioria dos nossos dirigentes políticos.
Mas, hoje, refletindo sobre o "enésimo" evento ou fato que não se vê, a partir daquilo que se vê, resolvi consolidar essas reflexões que coloco à disposição dos meus leitores...
Assim é, se lhes parece...
Paulo Roberto de Almeida 



Existem países perfeitamente fascistas, sem que se saiba...

Paulo Roberto de Almeida

Sei que a expressão fascista pode parecer extremamente forte, nos dias que correm, para designar um país, mas é o que me veio à mente, após acumular, mentalmente, dezenas e dezenas de exemplos banais, corriqueiros, ordinários, redundantes, enfim, triviais, que confirmam o que afirmo no título deste texto. Minhas observações, não preciso estender-me a respeito, são retiradas do que leio na imprensa diária, nas matérias de jornais internacionais, em blogs de formadores de opinião, e também, por que não dizê-lo?, em boletins partidários e de grupos políticos, enfim, um pouco de tudo o que leio continuamente, regularmente, recorrentemente, todos os dias.
Sei também que os leitores podem achar que estou exagerando, já que, para a maior parte das pessoas, a expressão “fascista” vem sempre associada à imagem dos camisas negras, ou milícias armadas, desfilando – a passo de ganso ou em qualquer outro estilo – sobre fundo de cenários cinzentos, dominados por um ditador exaltado, fazendo discursos de ódio e incitando a massa do povo contra um inimigo qualquer. Mas essa é uma vinculação historicamente datada, que enfatiza mais os movimentos reais que existiram na Europa do entre-guerras (e por imitação em outras partes do mundo também), do que a essência do “ser fascista”, que está presente cada vez que alguns dos elementos abaixo domina o cenário público de um país e penetra nas consciências das pessoas, sem que elas tenham sequer consciência de que estão vivendo – que sabe até aceitando, maquinalmente – num país perfeitamente fascista, em sua essência.
Essas imagens estereotipadas de um regime fascista correspondem apenas à sua superfície, ou embalagem externa, atualmente um tanto ridículas, sobretudo depois que Charles Chaplin imortalizou a figura do ditador ridículo em seu filme explicitamente vinculado a dois exemplos do gênero, mas é claro que características externas não esgotam a essência do que é ser fascista. Explico as razões de minha adesão a essa expressão, para que meu título tenha mais consistência empírica e venha ilustrado por manifestações concretas da realidade que vivemos, atualmente, em países talvez conhecidos dos leitores. Vejamos alguns fatos, não opiniões.
Em qual país, senão num país fascista, o chefe de um dos poderes constitucionais tenta subordinar, dominar, emascular, castrar ou controlar os demais poderes, usando para isso de todos os golpes baixos de que é capaz, inclusive os serviços de inteligência, a sua “polícia política”, os seus esbirros partidárias, mediante compra de consciências e de vontades, por meio da chantagem, da corrupção, das insinuações diretas, da conquista por vantagens materiais ou intimidação pura e simples?
Em que país se observa uma tal concentração de poder, pela desmesura e apropriação de recursos, monopolizados por quem controla as alavancas de extração de recursos e de distribuição seletiva e arbitrária desses recursos? Qual o país no qual o Estado central consegue controlar frações importantes da riqueza nacional, sem que a massa dos cidadãos, e sequer seus representantes eleitos, possam controlar devidamente, e na mais perfeita transparência, a coleta, o tratamento e a distribuição (com alguns descontos pelo caminho, está claro) desses recursos? Esse país só pode ser um país perfeitamente fascista, ainda que seus cidadãos disso não se apercebam.
Em que país o Estado central concentra mais e mais poderes e recursos, fazendo com que indivíduos privados, em seu papel de produtores ou de consumidores, sejam convertidos em dependentes obrigatórios desse Estado centralizador e monopolista? Qual o país que coloca na lista de pagamentos do Estado, ao mesmo tempo, o mais miserável dos excluídos e o mais ricos dos seus milionários? Só pode ser um país fascista.
Qual o país no qual o mesmo chefe, ungido à condição de nosso guia, líder genial dos povos, intérprete da vontade nacional, se pretende iniciador de tudo de positivo que existe – segundo lista que ele mesmo decretou como exclusiva de sua vontade – e passa o tempo fazendo autoelogios e propaganda de si mesmo? Em qual país a máquina pública é colocada a serviço do egocentrismo autista do chefe supremo, e gasta rios de dinheiro fazendo propaganda enganosa sobre suas virtudes inigualáveis e suas realizações inéditas? Tem de ser num país fascista.
Em qual país os órgãos de controle fiscal e econômico têm todo o poder e arbítrio para invadir sua privacidade, decretar o que é ou não válido em suas contas privadas, se permitir presumir intenções ou ações passíveis de punição administrativa, pelo simples fato que esse órgão pode decretar, ao seu bel prazer, o que os indivíduos podem ou não podem fazer com seu patrimônio, renda ou ganhos. Onde mais esses mesmos órgãos, mesmo quando pensam “fazer o bem” aos empresários e trabalhadores, “decretando” um favor qualquer no plano regulatório ou tributário, impõem um tal número de normas e regulamentos tão complicados, sujeito a uma burocracia kafkiana, que acaba tornando aquele favor um inferno adicional, digno do mesmo escritor mas jamais por ele descrito em detalhes? Só pode ser num país basicamente fascista, no direito e nas práticas.
Em qual país, um outro órgão supostamente constituído para a defesa da saúde pública, impede farmácias de vender chiclete e impede cidadãos de alcançar eles mesmos uma simples cartela de aspirina nas estantes das mesmas farmácias? Isso é fascismo puro.
Como chamar um país que pratica racismo oficial, que pretende dividir os cidadãos entre uma minoria dita desprotegida, e todos os demais cidadãos, baseando-se para isso apenas na aparência externa, e que recorre para dirimir casos duvidosos a tribunais raciais? Qual o país no qual militantes da mesma causa racial, divisionista, segregadora, ilegal, pretende tornar obrigatórias cotas raciais em todas as esferas da vida pública, e quer ainda impor os mesmos critérios sobre empresas e instituições privadas? Isso é fascismo no mais alto grau de degeneração mental.
Qual o país no qual o Estado se torna tão onipotente e avassalador que, desde os mais simples cidadãos até os mais ricos empresários, todos se sentem obrigados, compelidos, ou até mesmo o fazem inconscientemente, a recorrer ao Estado como o nec plus ultra da vida social, como o Deus ex machina de todas as soluções possíveis aos problemas e dilemas dessa sociedade, como se não houvesse outras forças na sociedade do que a do Estado que tudo pode, tudo pensa, tudo provê, tudo supervisiona, em tudo interfere, mesmo nas esferas mais recônditas da vida privada, como a educação dos filhos, as opções sexuais das pessoas, o que elas podem ver ou não na televisão, o     que elas devem estudar nas escolas, enfim, tudo o que perpassa a vida de cada um, da concepção até depois de morto e enterrado? Já estamos aqui no fascismo total...
Em que tipo de país, um partido hegemônico pretende controlar a imprensa, determinar como devem ser organizados os meios de comunicação, escolhe quem subsidiar nas artes e na cultura, repassa dinheiro para os amigos do poder, escolhe quem vai ser o vencedor de concorrências públicas (e que depois será obrigado a submeter-se à extorsão financeira do mesmo partido), enfim, corrompe todos os canais e instrumentos da administração pública e coloca militantes descerebrados nas engrenagens do poder, para justamente ter o controle de todas as instâncias da vida pública e privada dos cidadãos? Já estamos vivendo num sistema fascista, com estas características.
Que nome dar a um país que se deixou dominar por um sistema de tipo mafioso, e totalitário, em que a obediência total e absoluta é devida ao semideus que controla o sistema e tem a palavra final sobre o que pode e o que não pode nesse país? Em que tipo de país mandarins oficiais, marajás estatais, corporações organizadas de servidores ditos públicos, servem-se da máquina pública para fins privados, chantageiam os cidadãos que necessitam dos serviços públicos, submetem empresários que dependem desses serviços para produzir renda e riqueza e no qual, as mesmas pessoas acham que possuem um direito divino aos recursos públicos apenas porque estão no Estado? Só pode ser um país fascista, isso é evidente.
Qual o país no qual os ditos servidores não precisam prestar contas à sociedade, têm direito à estabilidade imediata, se aposentam com inúmeros privilégios – que já tinham antes na vida ativa – em relação a equivalentes funcionais do setor privado, e ainda acham que prestam um grande favor à sociedade? Em qual país acadêmicos e trabalhadores ditos intelectuais acham que a sociedade lhes deve por direito pagar salários elevados sem que disso eles necessitem prestar contas, sem qualquer critério de produtividade ou de resultados, como se fossem marajás entronizados numa torre de marfim? Tem de ser um país de mentalidade e comportamentos fascistas, está claro.
E, finalmente, em qual país, senão num país fascista, todas essas características ainda despertam admiração e orgulho, adesão inconteste e louvores exagerados, como seu o chefe absoluto do Estado total fosse a vontade eterna consolidada na figura em questão? Não pode ser senão num país fascista.

O fascismo, antes de exibir atributos materiais de tal ou qual movimento ou partido político, e de se manifestar concretamente num regime determinado, historicamente existente, constitui, primordialmente, um “estado mental”, uma feitura especial da psicologia humana que corresponde àquilo que alguns psicanalistas, psicólogos ou sociólogos chamariam de “personalidade autoritária”. O fascismo, antes de ser de direita, de esquerda, ou de qualquer outra corrente determinada do pensamento político dos últimos dois ou três séculos, emerge de pulsões e comportamentos perfeitamente autoritários, e mesmo totalitários, implicando numa vontade de dominação que parece resultar de algum desvio de personalidade.
Não se trata de um fenômeno ou processo puramente individual, mas deriva de tendências psíquicas e mentais profundamente entranhadas no comportamento individual e coletivo de milhares, talvez milhões de indivíduos que, ao longo dos séculos, e provavelmente no decurso da história humana conhecida, se alçaram a posições de mando e de dominação com base nessa vontade extrema de mandar e dominar outros seres humanos. O fascismo, em sua essência, é isso: uma pulsão inexcedível para o comando e a dominação absoluta, uma intolerância com respeito à liberdade humana e uma incapacidade de conviver democraticamente, segundo os parâmetros de uma sociedade normal, civilizada. O fascismo sempre é monopolizador, destruidor das vontades alheias, monopolizador dos instrumentos de controle social, arrebatador de todas as atenções e exigente de obediência total e absoluta.
Pois, ou eu muito me engano, ou tenho descoberto evidências empíricas, factuais, materiais, de mentalidades, comportamentos, atitudes e práticas fascistas aqui e ali, sempre que me volto para algum lugar, percorro sua imprensa, leio o que escrevem seus “intelequituais”, ouço as perorações de alguns de seus chefes políticos, e me espanto, de verdade, ao constatar como meus colegas e concidadãos não percebem que estão em face de um país fascista. A maior parte da massa não tem, obviamente, condições de fazer um julgamento elaborado a esse respeito. Mas eu me pergunto como acadêmicos, pessoas bem informadas, empresários que se sacrificam para viver dentro da lei (e pagam caro por isso), como todas essas pessoas não se dão conta que estão vivendo sob um regime de tipo fascista?
Este é mistério para mim...

Paulo Roberto de Almeida
Berlim, 2398: 31 Maio 2012

Ossos do oficio: lixo que sempre aparece...

O grande trade-off -- como diriam os economistas -- de se exercer num blog (mesmo quando é para divertimento pessoal, como este aqui), é o lixo que se acaba inevitavelmente recebendo, de aloprados, "cumpanheiros" e outros malucos e serviçais de partidos totalitários que pululam como nunca na internet (eles têm tempo e dinheiro: vivem com o dinheiro público, ou seja, com o meu, com o seu, com o nosso dinheiro...).
Por exemplo, um larápio do tempo alheio que tem a indignidade de se apelidar Pol Pot -- decerto ele gostaria de sair por aí, matando os que não se encaixam na sua mentalidade terrorista -- me escreve isto: 

Pol Pot Miguxo deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Suprema Indecencia - Editorial Estadao": 
O senhor como diplomata deveria ter uma visão menos inviesada, torcedora e informada do que está se passando...

Acho que já parei no "inviesada"; só não entendi o "torcedora": minha visão? Eu só torço para o Portuguesa de Desportos...
Sorry Pol Pot, e leitores, mas paro por aqui. Lixo é bom de mostrar para que os leitores tenham consciência de como são doentios certos cérebros contaminados pela delinquência política...
E pensar que gente dessa corja vive do nosso dinheiro...
Paulo Roberto de Almeida 

Fim do bonus demografico: de novo a pobreza?

Este debate, que deve interessar primordialmente os países do Caribe e Cuba, também tem tudo a ver com o Brasil. Estamos em meio a nosso bonus demográfico, mas, em lugar de aproveitar a maior relação possível, e históricamente exclusiva, única e irrepetível, para ficarmos ricos, estamos apenas dilapidando as possibilidades de crescimento por um distributivismo precoce e exacerbado, deixando de produzir os recursos humanos para obter ganhos de produtividade, se esquecendo de que precisamos ficar ricos rapidamente antes que o bônus demográfico termine e tenhamos, então, de arcar com uma maior proporção de velhos, dependentes e "gastadores" de recursos dos sistemas de saúde generosos e universais, o que nos deixará numa situação calamitosa dentro de uma geração e meia, quando todos os bônus terminarão e os "malus" se manifestarão.
Infelizmente, as pessoas são inconscientes, hoje, o que deixará uma pesada herança para elas mesmas, quando se aposentarem com uma Previdência que já terá quebrado três vezes, e para seus filhos e netos, que terão de trabalhar muito mais, apenas para garantir um tratamento relativamente digno para seus dependentes, que serão seus pais e avós. Triste, mas teria de ser assim?
Querem apostar? Bem, eu não estarei mais aqui quando o problema se apresentar, mas vocês sim...
Paulo Roberto de Almeida 

Demographic Change in Cuba:
Economic and Social Impact

Paulo Saad
Chief of Population and Development Area
UN Economic Commission for Latin America and the Caribbean (CEPAL)
Moderator
Mauricio Font
Bildner Center and The Graduate Center, CUNY, New York

Tuesday June 5, 2012, 4PM
The Graduate Center, Segal Theater
365 Fifth Avenue (@ 34th Street)

Countries in Latin America and the Caribbean are in the midst of a period of profound demographic change which will lead to a dramatic shift in the age structure of the population, with sharp declines in the proportion of children and increases in the proportion of older persons. Though they are at different stages in this process, the majority of countries in the region are currently in the midst of the period of the demographic dividend, which is characterized by a relative increase in the number of working-age people relative to those who are dependent upon them. However, sooner or later this favourable situation will end due to the rising demand for resources on the part of a progressively older population. The transition to economically-aged societies in Latin America and the Caribbean -in contrast to that of the more developed countries- will take place in a context of high and persistent levels of inequality and of lower per capita income and less developed political and financial institutions.
This new situation will pose unprecedented challenges to Latin American and Caribbean society and will require adjustments in diverse areas, especially in health and pensions. This is particularly the case of Cuba, which is already experiencing a very intensive process of population ageing. Ideally public policies should anticipate demographic changes, redesigning the financing mechanisms for social protection systems so that the increased pressure on public and private spending can be sustained financially without reducing the coverage and quality of benefits.
Paulo Saad (Ph.D., University of Texas) is Chief of the Population and Development Area at the Population Division of the United Nations Economic Commission for Latin America and the Caribbean (ECLAC). Prior to ECLAC he worked at the Population Division of the Department of Economic and Social Affairs of the United Nations in New York. Throughout his professional career Mr. Saad has worked on a variety of projects related to population ageing and currently coordinates the project “Intergenerational Transfers, Population Ageing and Social Protection in Latin America and the Caribbean” with support from the International Development Research Center (IDRC) of Canada. The project is an integral part of a global undertaking under the general coordination of the University of California, Berkeley.

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...