terça-feira, 30 de abril de 2013

Livro bom deve ser grosso, para sentar em cima... - A. P. Quartim de Moraes


No rumo das trevas

O Estado de S. Paulo, 29 de abril de 2013 | 2h 05
A. P. Quartim de Moraes *
O pai empenhado na educação do filho pequeno chega trazendo três grossos livros. Coloca-os sobre a cadeira e o garoto senta-se em cima deles, ficando na altura adequada para acessar o computador que está sobre a mesa. É o criativo gimmick que um gênio publicitário imaginou para dar brilho a um comercial de TV de 30 segundos amplamente veiculado em horário nobre. Pausa. Quem não ficou chocado com essa história tristemente verídica e conferível nos intervalos do telejornal preferido pode parar de ler este artigo aqui mesmo, para não perder tempo. Pois vamos falar sobre coisas que estão fora de moda, como o livro, a julgar pela indigência intelectual que inspira essa peça que a empresa de telecomunicações anunciante teve a irresponsabilidade de aprovar.

Não tenho muitas dúvidas a respeito de que todo o conteúdo do tal comercial, inclusive a "brincadeirinha" com os livros, é perfeitamente compatível com, digamos assim, a "ética empresarial" que vale para todo o mundo dos negócios em que, acima de qualquer valor humano, predomina a implacável "razão de mercado". Este é o mundo em que vivemos. Existem até algumas corporações que conseguem disfarçar a obsessão cega por metas de faturamento sob o manto da preocupação com sua "responsabilidade social", à qual reservam alguns trocados das verbas de marketing e vendas.

É por todos os motivos imperdoável, porém, a tentativa irresponsável de desqualificar o maior símbolo universal do saber e do conhecimento, o livro, intenção óbvia por trás de um truque publicitário que pode parecer apenas bem-humorado. Queimar livros publicamente por motivos políticos sempre foi considerado crime hediondo pelo senso comum das sociedades democráticas. Desqualificar a imagem do livro por questões mercadológicas não é menos grave. Na verdade, convenhamos, é até pior, considerando o alcance e a eficácia da mídia usada.

Sou crítico contumaz da mentalidade argentária que domina hoje o mercado editorial no Brasil e no mundo, até porque entendo que livro é, acima de tudo, conteúdo. É claro, portanto, que as conquistas tecnológicas das últimas décadas oferecem novas formas, novas plataformas para desenvolver e publicar os conteúdos de toda natureza indispensáveis à formação e ao desenvolvimento humanos.

Mas as novas tecnologias digitais são tão recentes, de uma perspectiva histórica, que ainda é muito cedo para preconizar o advento "definitivo" de um sucedâneo para o livro impresso. Alguém se lembra do finado CD-ROM? Na segunda metade dos anos 1990 não faltaram novidadeiros que o apresentassem como "a nova e moderna forma do livro". Atualmente os e-books podem ser considerados fortes candidatos a conquistar os consumidores de livros impressos. E o bom senso recomenda supor que, de fato, exista uma forte tendência a que isso ocorra num prazo que parece cada vez mais curto. Mas quem pode garantir que não surja amanhã um novo e revolucionário gadget que rapidamente transformará o e-book em peça de museu?

É Umberto Eco quem assegura: "Das duas, uma: ou o livro permanecerá o suporte da leitura, ou existirá alguma coisa similar ao que o livro nunca deixou de ser, mesmo antes da invenção da tipografia. As variações em torno do objeto livro não modificaram sua função, nem sua sintaxe, em mais de quinhentos anos. O livro é como a colher, o martelo, a roda ou a tesoura. Uma vez inventados, não podem ser aprimorados. Você não pode fazer uma colher melhor do que uma colher" (Não Contem com o Fim do Livro, Record - 2010, página 16, tradução de André Telles).

Em artigo para esta página em que fiz a citação acima do escritor, linguista e bibliófilo italiano (É o fim do livro? Rir para não chorar, 16/7/2010), manifestei a opinião agora reiterada de que, apesar de sua imagem idealizada - às vezes, sacralizada - de fonte de lazer, informação, conhecimento, fruição intelectual, o livro, enquanto objeto, é apenas "o suporte da leitura", o meio pelo qual o escritor chega ao leitor. E assim permanecerá até que "alguma coisa similar" o substitua. Por tudo isso, o livro, na forma como o mundo o conhece pelo menos desde o século 15, é e continuará sendo, até onde a vista alcança, o maior símbolo universal do saber e do conhecimento. Merece, portanto, no mínimo, respeito.

Cabe ao livro de hoje, como caberá ao do futuro, a transmissão desde a informação utilitária indispensável à boa formação profissional até as indagações e reflexões sobre o sentido da vida que passam, por exemplo, pelas experiências emocionais de quem compartilha conosco a condição de ser humano. Tudo isso faz parte daquilo que precisamos saber, conhecer, para entender quem somos e o mundo em que vivemos e, assim, nos realizarmos como seres humanos. É, digamos, um pouco mais do que o ideal de possuir uma casa "com um carro na garagem", que os fundamentalistas do mercado imaginam como o suprassumo da ambição dos viventes.

Essa visão humanística do mundo pode parecer um tanto fora de moda, mas só estará realmente sepultada - sob sete palmos de ignorância - no momento em que a estultice dos homens lograr o intento de destruir a imagem do livro como maior símbolo universal do saber e do conhecimento. Muita gente dentro do próprio mercado livreiro, mais propriamente dentro do big business editorial, aqui como lá fora, já está fazendo um bom trabalho nessa direção ao mediocrizar impiedosamente os conteúdos que publica em nome do mandamento supremo de que livro bom é livro que vende bem.

A continuar assim, em breve o publicitário e seu cliente para quem os livros só são úteis quando empilhados poderão proclamar, orgulhosos, a confirmação de seus poderes proféticos. E estaremos então penetrando as trevas, depois de percorrer vários tons de cinza.
* A. P. Quartim de Moraes é jornalista. E-mail: apqdm@uol.com.br.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Republica Federativa do Deboche (e outras falcatruas...)

Primeiro, Merval, depois Moreno, para assuntos que não têm absolutamente nada a ver com este blog, e que na verdade me repugnam.
Mas se destina, simplesmente, a registrar para a História, o quão baixo descemos na republiqueta dos companheiros.
Paulo Roberto de Almeida


Rose estressada, por Merval Pereira

Merval Pereira, O Globo, 28/04/2013
Os bastidores do processo administrativo disciplinar desencadeado desde fevereiro deste ano pela Controladoria Geral da União (CGU), vinculada à Presidência da República, contra Rosemary Noronha, ex-chefe de gabinete da Presidência em São Paulo e “amiga íntima” do ex-presidente Lula, estão agitados.
As informações são de que Rose está inquieta, considera-se injustiçada e abandonada, e, assim como o núcleo petista ligado ao ex-presidente Lula, não perdoa a forma “implacável e fria” como a presidenta Dilma vem tratando muitos “companheiros”, não apenas no caso do mensalão, mas, sobretudo, pela maneira com que abraçou a bandeira de suposto combate à “corrupção”, atingindo importantes quadros do partido, entre os quais ela se insere.
O que se comenta nesses meios petistas é que a presidente só poupa quem lhe é conveniente, como no caso de sua amiga Erenice Guerra, que atua com desenvoltura em Brasília após ter sido exonerada da chefia da Casa Civil por tráfico de influência, ou no dos políticos do PR e do PDT que retornaram ao governo depois de enxotados por corrupção.
Muito citado ainda o caso do ministro Fernando Pimentel, que, mesmo sem ter explicado o dinheiro recebido em consultorias, foi tratado com benevolência pela presidente.
Desde a instauração da sindicância, as notícias têm vazado, o que revelaria, na opinião dela, interesse na deterioração de sua imagem, atingindo diretamente o próprio Lula e José Dirceu, pessoas próximas a Rose, como é conhecida. E a CGU tem sido implacável em detalhes até surpreendentes para ela.
O que irritou, de modo mais específico, Rosemary nos últimos vazamentos foi a notícia de que teria sido apreendida em seu poder a quantia de 33 mil reais em moeda sul-coreana (won), quando, segundo ela, consta do auto de apreensão a quantia de 33 mil won, o que faria toda a diferença. Essa quantia seria algo equivalente a um cafezinho na Coreia do Sul, como dez reais.
Foi apreendida ainda uma quantia em dólares (cerca de 20 mil) que, segundo Rosemary, fora comprada licitamente para uma viagem à Disney que faria em dezembro. Apesar do alto poder aquisitivo demonstrado nessa compra antecipada de dólares, Rose garante que todos os seus recursos estão declarados e nega enriquecimento ilícito.
Rosemary também demonstra indignação com a divulgação de sua hospedagem na embaixada em Roma como se tivesse cometido algum ilícito. Alega que essas hospedagens são comuns e que esteve lá na condição de amiga do ex-embaixador do Brasil em Roma José Viegas, ex-ministro da Defesa de Lula.
A defesa de Rosemary, aliás, está disposta a pedir o levantamento das pessoas que teriam se hospedado em todas as embaixadas brasileiras no exterior na gestão da presidenta Dilma, para averiguar se houve situações análogas, de modo a garantir a isonomia de tratamento.
Vários altos funcionários da República, como o ministro Gilberto Carvalho (ex-chefe de Rosemary), Beto Vasconcelos (número dois da Casa Civil) ou Erenice Guerra (ex-ministra da Casa Civil), foram arrolados pela defesa, o que possivelmente demonstra uma estratégia de esmiuçar os meandros da administração pública federal no tocante ao conceito de tráfico de influência, de que Rosemary é acusada.
Rosemary teria atuado para a nomeação de uma desembargadora e diretores da Agência Nacional de Águas e da Agência Nacional de Aviação Civil, e intermediado diversos negócios.
Seguindo o mesmo raciocínio dos “companheiros” de mensalão, Rosemary tem dito que sempre fez o que é comum em Brasília.
Segundo sua defesa, as ações estão “absolutamente dentro da cultura político-institucional brasileira, que demanda essa espécie de contato”. Se o processo administrativo disciplinar contra Rosemary vingar, ela não poderá mais fazer parte do serviço público federal, e certamente uma sanção terá desdobramentos muito negativos no processo penal a que responde.
Daí porque causa a Rosemary surpresa a fúria punitiva com que se lança o próprio governo federal contra ela. Ela identifica a chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, como a responsável pelo rigor da investigação, e o núcleo petista que reclama disso vê na ministra e em seu marido, o ministro Paulo Bernardo, traços de deslealdade.
Até que ponto Rosemary aceitará passivamente servir de bode expiatório? Ou a presidenta Dilma não comanda seus burocratas, e as instituições atuam sob o comando de outros personagens? Rosemary não acredita nisso.



Enviado por Jorge Bastos Moreno - O Globo, 28.4.2013 / 14h58m
Rose fala
Eu e a minha mania de tentar interpretar matérias alheias, mas sem o subalterno interesse de desconstruí-las. No jornalismo, onde a inveja prevalece às vezes mais do que em outras profissões, é comum, diante de uma reportagem bombástica, como a de hoje do Merval, o exercício da desqualificação.
Claro que não vai acontecer isso porque Merval é Merval. É merecidamente do andar de cima. É mestre da notícia. Se ele pensa diferentemente do PT, nada o impede de buscar a informação, não importa onde esteja e nem que seja favorecido ou desfavorecido por ela, como fez agora, ao dar  ouvidos jornalísticos a uma dileta amiga do ex-presidente Lula.
Ponto.
Mesmo assim, nós, a patuléia do jornalismo, não podemos de chamar a atenção para um fato: se foi a Rose, diretamente, ou através do advogado,  que procurou o Merval ou, o que também é bem provável, Merval, com seu faro jornalístico, , soube que ali tinha notícia, não importa, a verdade é que ela está bem assessorada. Cliente e advogado, por mais que estejam antenados, por eles próprios, não saberiam escolher o repórter certo para a notícia certa. Escolheram ou foram escolhidos por alguém de extrema credibilidade e conceito. Logo, há um dedo político assessorando os dois. Falar com Merval é falar hoje com a média dos formadores de opinião.
Escrevo isto aqui agora, às duas e meia da tarde, e as repercussões da coluna do Merval varrem o país, como a matéria mais importante da mídia, não só deste domingo, como das últimas semanas, envolvendo o caso Rose.
Se alguém me perguntar, como já fizeram hoje dezenas de leitores e amigos, o que eu destacaria de mais importante nessa matéria, eu, repórter de varejo, diria: a denúncia de que há farras de brasileiros se hospedando em embaixadas mundo afora. Rose, quando sugere que se investigue, já tem vários nomes que, como disse, são capazes de escandalizar a República.

Banco dos Amigos dos Companheiros e Asseclas em Geral, vulgo BNDES - Rubem F. Novaes

Ludibriados 
Rubem F. Novaes
O Globo, 28/04/2013

Ficamos todos finalmente sabendo, através da imprensa, do sofisticado e grandioso projeto de anexo ao edifício-sede do BNDES. Como agravante, seguiu-se o anúncio da criação de mais uma diretoria, agora para cuidar da América Latina. Não tenho dúvidas em afirmar que qualquer assessoria organizacional iria mostrar excesso de funcionários e a possibilidade de acomodar o contingente de pessoal realmente necessário para o funcionamento do Banco dentro dos limites do edifício existente. Se recursos estão sobrando, a esterilização junto ao Banco Central é alternativa superior à imobilização em prédios, ao socorro de "campeões nacionais, à diplomacia bolivariana e ao empreguismo de "companheiros".
Deixando de lado evidentes desvios de objetivo, o grande engano técnico cometido por entusiastas expansionistas do Banco - e isto vale para qualquer Banco de Desenvolvimento - está em supor que os projetos submetidos à sua apreciação são viabilizados graças ao crédito concedido. A verdade é que o crédito subsidiado, oferecido como mecanismo de indução a projetos privados ditos prioritários, está sempre viabilizando o pior projeto (projeto marginal), dentro do rol de alternativas à disposição da empresa solicitante. Afinal, dinheiro não tem carimbo, não é mesmo?
Para entender o raciocínio, suponha-se, na escala mais simples, que um cidadão tenha dois projetos em vista: construir uma casa ou passar um ano viajando pelo exterior. Admitindo que só tenha recursos para efetivar uma das duas opções, nosso cidadão está decidido pela priorização da casa própria. Nisto, surge a possibilidade de um financiamento público em condições atrativas, desde que o projeto apresentado seja "prioritário". O que faz nosso cidadão hipotético? Ele apresenta, à agência do governo, o projeto da casa própria (nada mais prioritário!), que seria materializado de qualquer modo com os recursos preexistentes, e viabiliza, com os novos recursos, a sua viagem ao exterior. Isto se não pegar o dinheiro, com uma mão, e, com a outra, aplicar imediatamente no mercado financeiro a juros mais altos (alternativa sempre existente). O beneficiário do crédito ficará satisfeito, o banco oficial também e todos nós, ludibriados. Registre-se que o entendimento deste processo tirou de moda a criação de Bancos de Desenvolvimento, pelo menos no âmbito acadêmico.
É certo que, quando de sua criação, em meados do século passado, o BNDES tinha fortes argumentos em sua defesa. Nosso mercado de capitais era praticamente inexistente, nossas empresas não tinham acesso ao mercado internacional de crédito de longo prazo e era importante criar uma cultura de avaliação e acompanhamento de projetos, principalmente na esfera pública. Hoje, estas condições não mais se verificam. Se uma empresa é boa e tem bons projetos, não precisa do BNDES. Se é ruim e seus projetos são ruins, é o BNDES que não deve apoiá-la. Se é ruim, mas tem perspectivas de salvação, caberá a empresas de "venture capital", que têm competência para tal, reestruturá-la para levá-la adiante.
Neste novo mundo econômico de grande sofisticação e agilidade do mercado de capitais, mesmo sem falar dos efeitos maléficos da "bolsa empresário" sobre a distribuição da renda, nem da cooptação política de empresários por governantes de plantão, caberia ao BNDES programar-se para, eventualmente, deixar de existir.

Rubens F. Novais ´economista, foi diretor do BNDES e presidente do Sebrae

Assedio moral no Itamaraty: mais um capitulo de uma longa novela (agora virando drama...)


Assunto: segundo abaixo assinado 
Para: Ministro de Estado; Corregedoria do Serviço Exterior - Itamaraty; direitoshumanos@sdh.gov.br
Cc: Gabinete, Assessoria de Imprensa; contato@sinditamaraty.org.br; locais.mre@gmail.com; Comissão de Ética do Ministério das Relações Exteriores; SG
Assunto: Abaixo-assinado n. 2 Consulado em Sydney: Funcionários imploram abertura do PAD e afastamento dos acusados.

Para o Excelentíssimo Senhor Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador Antônio Patriota; e à atenção do Senhor Corregedor.

Em referência à Nota de Esclarecimento n. 2, de 24 de abril de 2013, da Assessoria de Imprensa do MRE, os funcionários do Consulado do Brasil em Sydney subscritos abaixo manifestam total insatisfação com o tratamento que o Itamaraty tem dado às acusações contra os Senhores César Cidade e Américo Dyott Fontenelle, decorridos mais de 3 meses da primeira denúncia formalizada.

Diante do procedimento investigativo realizado em Sydney pelo Embaixador Roberto Abdalla entre 14 e 21 de fevereiro de 2013, cujo relato "subsidiou o juízo de admissibilidade das denúncias" de assédio, o MRE deveria ter aberto Processo Administrativo Disciplinar (PAD), por meio de sua Corregedoria, em cumprimento ao disposto na Lei 8112/90.

Entendemos que a abertura do Processo de Apuração Ética n.2/2013 não impede, de forma alguma, a abertura de PAD. Por meio deste novo abaixo-assinado, pedimos o afastamento preventivo dos acusados e, mais uma vez, a abertura imediata de Processo Administrativo Disciplinar.


As medidas protelatórias da Comissão de Ética do MRE, aliadas à permanência dos acusados de assédio no Consulado, têm aumentado ainda mais os prejuízos para a saúde dos funcionários. Abominamos esta situação de trabalho insuportável na qual somos obrigados a seguir ordens das mesmas pessoas que por tanto tempo nos assediaram. Abominamos igualmente eventual situação de, já em maio, ter que negociar renovação contratual com as mesmas pessoas que acusamos de assédio moral e sexual. Abominamos, ainda, a presença intimidatória dos acusados de assédio moral e sexual em seus respectivos postos de comando, como se nada tivesse acontecido e dizendo que “isso não vai dar em nada” (palavras do Cônsul-Geral Américo Dyott Fontenelle). A situação atual é igualmente inaceitável para a comunidade brasileira que procura o Consulado em Sydney, pois é obrigada a conviver com prazos absurdos para a realização dos serviços consulares (dilatação de duas para seis semanas para todo tipo de serviço).

Assim, a fim de evitar prejuízos ainda maiores para a saúde dos trabalhadores do Consulado, bem como a fim de restabelecer a normal prestação dos serviços consulares em Sydney, pedimos veementemente o afastamento preventivo dos acusados, com fulcro no artigo 147 da Lei 8112. Em face do número de funcionários extremamente reduzido, pedimos veementemente lotação urgente de novos servidores em Missão Permanente ou Missão Transitória.

Consideramos que a Lei 8112 oferece todos os recursos legais e processuais para a realização das investigações e para a aplicação das penalidades cabíveis.
Em suma, manifestamo-nos veementemente pela instauração imediata de Processo Administrativo Disciplinar e pelo afastamento preventivo dos acusados, nos termos do artigo 147 da Lei 8112.

Assinam:
Ailan Nazareno do Nascimento Lima
Alberto Pinho Amarilho
Flávio Reinaldo Meneghini
Gilberto Matarenzo Junior
José Eduardo Ferrari Coelho
Luis Henrique Aroeira Neves
Márcia Regina Monje de Castro
Viviane Hottum Jones

Diplomacia companheira - Editorial O Globo

Diplomacia brasileira precisa voltar ao pragmatismo
Editorial O Globo, 28.04.2013

Ações motivadas por afinidades ideológicas fazem país patinar, perder oportunidades e espaço no comércio internacional

EUA e União Europeia anunciaram negociações para um formidável acordo comercial. Na América Latina - O presidente eleito do Paraguai, Horacio Cartes, é favorável ao rápido regresso do país ao Mercosul, do qual foi suspenso por Brasil, Argentina e Uruguai em 29 de junho de 2012, como sanção pelo impeachment do presidente Fernando Lugo, no que foi considerado pelos três países um golpe parlamentar. Em manobra polêmica, Brasília, Buenos Aires e Montevidéu puniram o Paraguai para abrir caminho à entrada da Venezuela como membro pleno do bloco comercial. O Congresso paraguaio era o único Legislativo dos integrantes do Mercosul a bloquear o ingresso de Caracas. O obstáculo foi superado com a suspensão.

Isto foi confirmado já com o país suspenso. Em sessão de 23 de agosto, o Senado paraguaio rejeitou a entrada do novo sócio. É provável que Cartes tenha sucesso em reverter a decisão após sua posse, em agosto, pois seu Partido Colorado obteve maioria simples na Câmara dos Deputados (44 das 80 cadeiras) e uma bancada de 19 parlamentares no Senado de 45. Mas não são favas contadas.

Imprevistos poderão significar nova saia justa para a política externa brasileira, que adota dois pesos e duas medidas por conta da "diplomacia companheira", de fundo ideológico. Para permitir o ingresso da Venezuela chavista no Mercosul, Brasília comandou o boicote ao Paraguai após o impeachment do "companheiro" Lugo.

O bloco comercial agora reúne a Venezuela, inimiga número um dos Estados Unidos na América Latina; a Argentina, que não tem boas relações com Washington e se isola; o Brasil, que caiu num antiamericanismo pueril pela retrógrada visão Norte-Sul dos governos do PT; e o Uruguai. O problema é que os EUA ainda são a única potência e o maior mercado consumidor do mundo. Não se pode fingir que não existe.

México, Peru, Colômbia e Chile, países com economias dinâmicas, se lançam na Aliança do Pacífico. Há enorme efervescência na Ásia. Segundo disse ao "Estado de S. Paulo" Ana Paula Zacarias, embaixadora da UE no Brasil, "ao todo, no mundo, estão sendo negociados cerca de 300 acordos comerciais". Enquanto isso, o Brasil fica preso a um Mercosul em crise e decadente, que não consegue avançar nas negociações iniciadas em 2010 para um acordo com a UE.

A relação comercial com a Venezuela é importante, desde que não atrapalhe os demais interesses do Brasil. Este não pode abrir mão de seu papel de líder na América Latina em função de companheirismos ideológicos. A política externa brasileira precisa deixar de lado os dois pesos e duas medidas e voltar a refletir essa liderança, retomando o pragmatismo responsável.

domingo, 28 de abril de 2013

A semente do totalitarismo: o PT e seus projetos ditatoriais - Mary Zaidan


Blog do Noblat, 28/04/2013

Se o Ministério Público desagrada, reduza-se o poder do MP. Se o STF causa dissabores, cortem-se as asas do Supremo.
Se a imprensa critica e denuncia, controle-a. Essa é a lógica que impera no PT, partido que não se satisfaz com a maioria, nem mesmo acachapante.
Quer tanto a hegemonia plena que golpeia qualquer um que ouse discordar da ordem unida, cassando a palavra e o voto.
Que o digam os senadores Jorge Viana (AC) e Wellington Dias (PI), este último líder do PT, impedidos de discordar do prazo de vigência para as novas regras ditadas pelo governo para a criação de novos partidos.
Direta ou indiretamente, a mão e a mente do PT estão em todos os atos que castram os poderes daqueles que o perturbam.
Chegou ao cúmulo de fazer aprovar na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara um revide ao Supremo, que impôs reveses irrecuperáveis à imagem do PT.
Com votos dos mensaleiros José Genoíno e João Paulo Cunha, ambos do PT-SP, o projeto do deputado Nazareno Fonteles (PT-PI) retira prerrogativas constitucionais pétreas do STF, transferindo-as para o Parlamento.
A afronta foi tão assustadora que o aliado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), presidente da Casa, antecipou-se em suspender a tramitação da matéria.
Pôs panos quentes, mas não conseguiu evitar o acirramento da crise com o STF, que o PT não se cansa de atiçar desde o julgamento do mensalão.
Na outra ponta, por meio do aliado Fernando Collor (PTB-AL), o PT tentou intimidar o procurador-geral da República Roberto Gurgel, inimigo número 1 do partido, com a ameaça de uma CPI.
A ideia não prosperou, mas o partido estimula o projeto que limita as possibilidades de investigação do MP. Ainda que o PT tergiverse e diga que nada tem com isso, a PEC de autoria do ex-delegado Lourival Mendes (PT do B-BA) dificilmente chegaria onde chegou sem o aval do partido.
Quanto à imprensa, repete sempre que pode: não vai abandonar o projeto de controle, que, sem pudor algum, chama de democratização.
O PT tem poder legítimo e popularidade recorde. Mas parece invejar o conforto totalitário do governo da Venezuela, nação com democracia de mentirinha, que acaba de receber, assim como a derrapante Argentina de Cristina Kirchner, mais afagos da presidente Dilma Rousseff.
Não se chegou ao absurdo da ditadura bolivariana que quer encarcerar o líder oposicionista e mandou cortar salários e vozes de parlamentares que não reconhecem a vitória de Nicolás Maduro, arremedo mal acabado de Hugo Chávez.
Mas o PT está se empenhando em aproximar-se de tais descalabros. Move-se para sufocar a oposição, anular o Judiciário e pôr rédeas na imprensa.

Mary Zaidan é jornalista. Trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas em duas campanhas e ao longo de todo o seu período no Palácio dos Bandeirantes. Há cinco anos coordena o atendimento da área pública da agência 'Lu Fernandes Comunicação e Imprensa'. Escreve aqui aos domingos. @maryzaidan

(Des)Integracao Regional: como se isolar do mundo e ficar menor... - Sergio Fausto


SERGIO FAUSTO
O Estado de S.Paulo, 28 de abril de 2013 | 2h 03

Quando, em 2005, Hugo Chávez, Néstor Kirchner e Diego Maradona encenaram a morte da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), em comício paralelo à 4.ª Cúpula das Américas, em Mar del Plata, o Brasil observou a distância, mas satisfeito. Era o que o governo brasileiro queria. Na ótica da política Sul-Sul, a Alca era anátema. Representaria um projeto de anexação à economia americana. A integração que corresponderia aos interesses nacionais brasileiros seria essencialmente sul-americana, assentada no eixo Brasil, Argentina e Venezuela, nessa ordem. 
Essa premissa levou o governo brasileiro a estabelecer relações especiais com Buenos Aires e Caracas. Na longa controvérsia diplomática entre Argentina e Uruguai em torno da instalação de indústrias de papel e celulose na margem uruguaia do rio que divide os dois países, o Brasil lavou as mãos. Nem o bloqueio sistemático de pontes sobre o Rio Uruguai por manifestantes argentinos nem as solicitações do então presidente Tabaré Vázquez, temeroso de uma escalada do conflito, convenceram Brasília a assumir a mediação da discórdia, que acabou resolvida na Corte Internacional de Haia, em favor do Uruguai, em 2010.
Em relação à Venezuela, o governo brasileiro esmerou-se na política de dois pesos e duas medidas. Foi brando com Chávez diante de evidências do apoio de seu governo às Farc e duro com a Colômbia, como deveria ser, quando aviões colombianos bombardearam um acampamento da guerrilha no Equador, em 2008. Não disse uma palavra sobre o crescente autoritarismo do "socialismo do século 21", mas, invocando a cláusula democrática do Mercosul, foi implacável no apoio à punição ao Paraguai quando, em 2012, o Senado desse país votou o impeachment de Fernando Lugo. Seguiu-se a incorporação da Venezuela ao Mercosul, que se processou de maneira atípica e se consumou de modo arbitrário.
Em sua forma atual, o Mercosul reflete a preferência do governo brasileiro, desde Lula, e sobretudo com Dilma, por uma integração externa limitada, pouco exigente em matéria de abertura comercial e estabilidade das regras do jogo e altamente dependente da mediação governamental e do protagonismo do Estado, de suas empresas e de poucas grandes empresas nacionais. Prevalece em Brasília a visão de que o jogo assim armado é favorável ao País. Afinal, o Brasil entra em campo com gigantes como Vale e Petrobrás, companhias privadas brasileiras globais e um banco de investimento, o BNDES, sem igual no Hemisfério Sul. O objetivo comum de evitar a "subordinação" econômica da região aos Estados Unidos, as afinidades políticas entre governos e a suposta capacidade do Brasil de enquadrar o chavismo e o kirchnerismo dentro de certos limites de racionalidade econômica e prudência política assegurariam a convergência, sob a liderança do Brasil, dos interesses nacionais dos três países.
A realidade encarregou-se de mostrar que o "interesse nacional" assim definido tende a misturar negócios privados com políticas de Estado e políticas de Estado com preferências político-ideológicas, e que a propalada liderança brasileira é em grande parte ilusória. Nestes últimos anos, Venezuela e Argentina avançaram ininterruptamente na destruição das instituições formais e informais que assegurariam um funcionamento razoavelmente normal e previsível de suas economias e sociedades. E não hesitaram em contrariar os interesses do Brasil quando assim decidiram fazê-lo. Livres do "imperialismo americano", ambos os países foram submetidos à vontade de um poder nacional estatal exercido de forma personalista e arbitrária. Só isso pode explicar por que a Venezuela, com sua riqueza petroleira, num período de duradoura e exuberante alta dos preços internacionais do petróleo, vive hoje uma crise crônica de escassez de divisas e energia, com desabastecimento de vários produtos e apagões constantes. O mesmo se pode dizer, com diferença de grau apenas, em relação à Argentina, um país que dispõe de amplas reservas de gás natural e petróleo e oferta exportável de bens agropecuários, também favorecidos pelos preços internacionais. E que parece à beira de uma crise cambial.
Empresas brasileiras estão fechando as portas na Argentina. A Vale e a Petrobrás descobriram que o apoio do governo brasileiro não é suficiente para proteger os seus interesses no país vizinho. Na Venezuela, grandes empreiteiras brasileiras têm uma carteira de projetos estimada em US$ 20 bilhões. Só o incerto futuro dirá o retorno que terão esses investimentos. De alguma maneira, o setor privado se ajustará às novas realidades. Empresas desse porte têm capacidade de absorver perdas e redirecionar seus investimentos para lugares mais promissores. Não nos deveríamos preocupar com seus eventuais problemas, a não ser pelo fato de que recursos públicos foram empregados para tornar viável parte significativa de seus investimentos.
Mais importante é reorientar a política externa brasileira para a região, sem jogar fora o bebê com a água do banho. Ela não pode estar dissociada de uma visão mais realista do mundo. O Brasil não precisa reproduzir o modelo de inserção externa adotado por países como Chile, Peru, Colômbia e México. Mas não pode ignorar o fato de que a opção por um modelo Alca plus Ásia, com múltiplos tratados de livre comércio, maior abertura das economias, maior protagonismo do setor privado e menor discricionariedade governamental, vem produzindo resultados consistentemente superiores aos obtidos pela opção por um modelo Mercosul minus Alca. O que está em jogo não são siglas, mas uma revisão dos pressupostos que têm orientado a agenda de desenvolvimento e inserção externa do País nos últimos dez anos. Não é fazer mais do mesmo um pouco melhor. É fazer diferente. E isso requer uma nova visão e uma nova liderança política em Brasília.
SERGIO FAUSTO, DIRETOR EXECUTIVO DO iFHC,  É MEMBRO DO GACINT-USP. E-MAIL:SFAUSTO40@HOTMAIL.COM 

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Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...