domingo, 23 de junho de 2013

A frase da semana: ah, essa cobica terrivel dos imperialistas, um perigo...

“O Brasil é um país muito rico, tem muitas reservas naturais. Esses recursos podem ser objeto de cobiça”.


Celso Amorim, ministro da Defesa

O que acontece quando uma autoridade mente, no Brasil? E nos Estados Unidos?

Reproduzo apenas a chamada da revista Veja:

E agora general?

A Abin mentiu quando disse que seus agentes nunca estiveram no Porto de Suape. Documentos comprovam que quatro espiões não só foram flagrados pela segurança do porto como ficaram detidos por mais de duas horas.

O que acontece, pergunto, novamente, quando alguém que tem status de ministro de Estado mente?
No Brasil, não acontece absolutamente nada. Fica por isso mesmo.

Nos Estados Unidos, essa autoridade seria imediatamente convocada por uma comissão do Congresso, da House ou do Senado, e seria constrangida a se demitir também imediatamente.

Talvez seja por isso que os EUA sejam uma democracia intolerante, e os poderes estatais no Brasil se assemelhem a uma casa de tolerância, a começar pela mais alta instância...
Paulo Roberto de Almeida 

Emprestimos secretos a Cuba e Angola: Senado precisa fazer o seu dever - FSP, Senador Alvaro Dias

O Senado Federal é o órgão constitucionalmente mandatado para aprovar, ou não, todas as operações financeiras externas do Brasil, inclusive a dos Estados. Ou seja, a União, ou o Executivo, não pode perdoar dívidas de países, ou conceder empréstimos externos sem que o Senado aprove, ou desaprove, a operação.
Parece que o Senado não anda fazendo o seu papel...
Paulo Roberto de Almeida

FOLHA TRANSPARÊNCIA
Medida foi assinada pelo ministro Fernando Pimentel um mês após entrada em vigor da Lei de Acesso à Informação
BNDES fez operações com 15 países em 2012, mas só as dos dois países receberam o carimbo de 'secreto'
RUBENS VALENTEDE BRASÍLIAFolha de S.Paulo, 9 de Abril de 2013

O ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento) tornou secretos os documentos que tratam de financiamentos do Brasil aos governos de Cuba e de Angola. Com a decisão, o conteúdo dos papéis só poderá ser conhecido a partir de 2027.
O BNDES desembolsou, no ano passado, US$ 875 milhões em operações de financiamento à exportação de bens e serviços de empresas brasileiras para Cuba e Angola. O país africano desbancou a Argentina e passou a ser o maior destino destes recursos.
Indagado pela Folha, o ministério disse ter baixado o sigilo sobre os papéis porque eles envolvem informações "estratégicas", documentos "apenas custodiados pelo ministério" e dados "cobertos por sigilo comercial".
Os atos foram assinados por Pimentel em junho de 2012, um mês após a entrada em vigor da Lei de Acesso à Informação. É o que revelam os termos obtidos pela Folhapor meio dessa lei.
Só no ano passado, o BNDES financiou operações para 15 países, no valor total de US$ 2,17 bilhões, mas apenas os casos de Cuba e Angola receberam os carimbos de "secreto" no ministério.
Segundo o órgão, isso ocorreu porque havia "memorandos de entendimento" entre Brasil, Cuba e Angola que não existiam nas outras operações do gênero.
O ministério disse que o acesso a esses outros casos também é vetado, pois conteriam dados bancários e comerciais já considerados sigilosos sem a necessidade dos carimbos de secreto.
INEDITISMO
Antes da nova Lei de Acesso, já existia legislação que previa a classificação em diversos graus de sigilo, mas é a primeira vez que se aplica o carimbo de "secreto" em casos semelhantes, segundo reconheceu o ministério. O órgão disse que tomou a decisão para adaptar-se à nova lei.
O carimbo abrange quase tudo o que cercou as negociações entre Brasil, Cuba e Angola, como memorandos, pareceres e notas técnicas.
As pistas sobre o destino do dinheiro, contudo, estão em informações públicas e em falas da presidente Dilma.
Em Havana, onde esteve em janeiro para encontro com o ditador Raúl Castro, ela afirmou que o Brasil bancava boa parte da construção do porto de Mariel, a 40 km da capital, obra executada pela empreiteira Odebrecht.
Ela contou ainda que o Brasil trabalhava para amenizar os efeitos do embargo econômico a Cuba. "Impossível se considerar que é correto o bloqueio de alimentos para um povo. Então, nós participamos aqui, financiando, através de um crédito rotativo, US$ 400 milhões de compra de alimentos no Brasil."
Na visita a Luanda, em Angola, Dilma falou em 2011 que "os mais de US$ 3 bilhões disponibilizados pelo Brasil fazem de Angola o maior beneficiário de créditos no âmbito do Fundo de Garantias de Exportações" do BNDES.
O Desenvolvimento diz que os financiamentos têm o objetivo de estimular e dar competitividade às empresas brasileiras nas vendas ao exterior. A Folha não conseguiu falar com as embaixadas de Cuba e de Angola.
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Pronunciamento do Senador Álvaro Dias a respeito da operação, num plenário praticamente vazio: 
https://www.youtube.com/watch_popup?feature=player_embedded&v=3DE9E8LVuAo

Sobre os protestos no Brasil - Mansueto Almeida (do Reino Unido)

 Tenho lido varia análises daqui da Inglaterra sobre a onda de protestos no Brasil. A pessoas aqui me perguntam o que esta acontecendo no Brasil e os motivos dos protestos. O que consigo falar é sobre o que não são os protestos. Há pelo menos três grandes diferenças da onda de protestos no Brasil em relação aos protestos recentes ocorridos no resto do mundo.
Primeiro, a onda de protestos no Brasil não tem paralelo com o tipo de protesto dos “indignados” na Espanha. Na Espanha o protesto era contra as políticas de austeridade em um país no qual a taxa de desemprego está em 25%. No Brasil, temos a menor taxa de desemprego desde 2003, algo como 5,5%. Assim, o tipo de protesto que ocorreu recentemente em alguns países da Europa contra desemprego e cortes de serviços públicos não tem paralelo com o que está acontecendo no Brasil.  O gasto publico e a oferta de serviços público aqui só faz aumentar e recentemente aprovamos o Plano Nacional de Educação para elevar o gasto com educação de 5% para 10% do PIB – se isso ocorrer seremos o país que mais gasta com educação (% do PIB).
Segundo, os protestos no Brasil tambem são diferentes dos protestos que ocorreram nos EUA com a ocupação do Zuccotti Park pelo movimento “Ocuppy Wall Street”. Lá as pessoas estavam se manifestando contra o crescimento da desigualdade de renda, que cresce nos EUA desde a década de 1970, e contra a influência econômica e política dos 1% mais ricos. No Brasil, ao contrário dos EUA, a desigualdade de renda vem caindo nos últimos 10 anos de forma rápida, a renda real dos trabalhadores cresceu e a pobreza diminuiu fortemente. É dificil alguém achar que o pobre de hoje está pior do que o pobre de dez anos atrás.
Terceiro, apesar da semelhança da mobilização via redes sociais como ocorreu com a primavera árabe, os protestos no Egito, Tunísia e agora Síria e Turquia são revoltas da população contra governos anti-democráticos: ditaduras. Novamente, este não é o caso do Brasil. No Brasil, temos democracia, número grande de partidos e liberdade de expressão. O eleitor tem feito escolhas por um Estado mais ativo na oferta de serviços publicos e políticas sociais. Basta lembrar que o Brasil tem uma carga tributaria elevada – 36% do PIB- porque gasta muito com política social e previdência. Os gastos sociais e previdência explicam 84% do aumento do gasto federal no Brasil de 1999 a 2012 e isso parece ser demanda do eleitor por maior proteção social, apesar dessas escolhas serem muitas vezes decorrentes da pressão de grupos organizados e de muitos não conhecerem as distorções do gasto público no Brasil. Mas será que agora o eleitor está arrependido de suas próprias escolhas? Não acredito.
Assim, o que explica a onda de protestos no Brasil? Tarifa Zero? Mas nenhum país do mundo que conheço tem tarifa zero em transporte público. Governos de paises ricos subsidiam o transporte para pessoas de baixa renda e estudantes, mas o transporte público não é de graça.
Os protestos são contra gastos com a copa? Pode ser parte da explicação. Apenas agora a sociedade pode ter se dado conta do elevado custo da infraestrutura da copa. Mas faria sentido agora derrubar os estádios? Por que não houve essa pressão quando o país foi escolhido para sediar a copa e olimpíadas.
Os protestos são contra o governo ou contra a classe política em geral? Não é claro. Ninguém sabe ao certo até porque os protestos ocorrem em várias cidades governadas pela situação e oposição. Ninguém sabe ao certo quais partidos ou grupos políticos se beneficiarão da onda de protestos, mas é claro que as pessoas tenderão a canalizar a maior parte da culpa para o governo atual, independentemente de sua real responsabilidade.
Os protestos são contra corrupção? Mas hoje temos no Brasil um Ministério Publico e uma policia federal que está investigando e punindo corruptos. Mas queremos matar os corruptos como se faz na China? É isso. Não sei.
Em resumo, não sei ao certo quais as demandas dos manifestantes e não há uma liderança dos protestos que possa negociar com o governo uma pauta de reivindicações. No entanto, ninguém sabe ao certo se e quais grupos politicos se beneficiarão dessa onda de protestos. Mas de qualquer forma é um movimento fascinante em uma sociedade que não tem o costume de grandes passeatas e protestos. É um fenomeno novo que ainda vamos levar algum tempo para entender.

Why India Trails China - Amartya Sen (NYT)

The New York Times, June 19, 2013

Why India Trails China



CAMBRIDGE, Mass. — MODERN India is, in many ways, a success. Its claim to be the world’s largest democracy is not hollow. Its media is vibrant and free; Indians buy more newspapers every day than any other nation. Since independence in 1947, life expectancy at birth has more than doubled, to 66 years from 32, and per-capita income (adjusted for inflation) has grown fivefold. In recent decades, reforms pushed up the country’s once sluggish growth rate to around 8 percent per year, before it fell back a couple of percentage points over the last two years. For years, India’s economic growth rate ranked second among the world’s large economies, afterChina, which it has consistently trailed by at least one percentage point.
The hope that India might overtake China one day in economic growth now seems a distant one. But that comparison is not what should worry Indians most. The far greater gap between India and China is in the provision of essential public services — a failing that depresses living standards and is a persistent drag on growth.
Inequality is high in both countries, but China has done far more than India to raise life expectancy, expand general education and secure health care for its people. India has elite schools of varying degrees of excellence for the privileged, but among all Indians 7 or older, nearly one in every five males and one in every three females are illiterate. And most schools are of low quality; less than half the children can divide 20 by 5, even after four years of schooling.
India may be the world’s largest producer of generic medicine, but its health care system is an unregulated mess. The poor have to rely on low-quality — and sometimes exploitative — private medical care, because there isn’t enough decent public care. While China devotes 2.7 percent of its gross domestic product to government spending on health care, India allots 1.2 percent.
India’s underperformance can be traced to a failure to learn from the examples of so-called Asian economic development, in which rapid expansion of human capability is both a goal in itself and an integral element in achieving rapid growth. Japan pioneered that approach, starting after the Meiji Restoration in 1868, when it resolved to achieve a fully literate society within a few decades. As Kido Takayoshi, a leader of that reform, explained: “Our people are no different from the Americans or Europeans of today; it is all a matter of education or lack of education.” Through investments in education and health care, Japan simultaneously enhanced living standards and labor productivity — the government collaborating with the market.
Despite the catastrophe of Japan’s war years, the lessons of its development experience remained and were followed, in the postwar period, by South Korea, Taiwan, Singapore and other economies in East Asia. China, which during the Mao era made advances in land reform and basic education and health care, embarked on market reforms in the early 1980s; its huge success changed the shape of the world economy. India has paid inadequate attention to these lessons.
Is there a conundrum here that democratic India has done worse than China in educating its citizens and improving their health? Perhaps, but the puzzle need not be a brainteaser. Democratic participation, free expression and rule of law are largely realities in India, and still largely aspirations in China. India has not had a famine since independence, while China had the largest famine in recorded history, from 1958 to 1961, when Mao’s disastrous Great Leap Forward killed some 30 million people. Nevertheless, using democratic means to remedy endemic problems — chronic undernourishment, a disorganized medical system or dysfunctional school systems — demands sustained deliberation, political engagement, media coverage, popular pressure. In short, more democratic process, not less.
In China, decision making takes place at the top. The country’s leaders are skeptical, if not hostile, with regard to the value of multiparty democracy, but they have been strongly committed to eliminating hunger, illiteracy and medical neglect, and that is enormously to their credit.
There are inevitable fragilities in a nondemocratic system because mistakes are hard to correct. Dissent is dangerous. There is little recourse for victims of injustice. Edicts like the one-child policy can be very harsh. Still, China’s present leaders have used the basic approach of accelerating development by expanding human capability with great decisiveness and skill.
The case for combating debilitating inequality in India is not only a matter of social justice. Unlike India, China did not miss the huge lesson of Asian economic development, about the economic returns that come from bettering human lives, especially at the bottom of the socioeconomic pyramid. India’s growth and its earnings from exports have tended to depend narrowly on a few sectors, like information technology, pharmaceuticals and specialized auto parts, many of which rely on the role of highly trained personnel from the well-educated classes. For India to match China in its range of manufacturing capacity — its ability to produce gadgets of almost every kind, with increasing use of technology and better quality control — it needs a better-educated and healthier labor force at all levels of society. What it needs most is more knowledge and public discussion about the nature and the huge extent of inequality and its damaging consequences, including for economic growth.

Amartya Sen, a Nobel laureate, is a professor of economics and philosophy at Harvard. He is the author, with Jean Drèze, of “An Uncertain Glory: India and its Contradictions.”

Manifestacoes de massa no Brasil vistas pelo grande jornal capitalista (WSJ)

Aliás, uma cobertura totalmente asséptica.
Paulo Roberto de Almeida

Brazil's New Middle Class Takes to the Streets

The Wall Street Journal, June 21. 2013

After a Decade of Growth, Protests Seek To Build on Gains in Living Standards

[image]Agence France-Presse/Getty Images
Riot police charge a protester in Rio de Janeiro during demonstrations this week demanding better public services and lower transit costs.
SÃO PAULO—For Alexandre Peppe, the last decade has been great. The 29-year-old from the poor outskirts of São Paulo got a good job in state government, bought a car and became the first in his family to go to college.
All the same, he took to the streets this week with a million other members of Brazil's new middle class over a wide range of grievances, from high bus fares to corruption and crime.
"The population is revolting against the government of Brazil," said Mr. Peppe, who joined others to cram the broad avenues of São Paulo.
Over the last decade, Brazil capitalized on a global commodity boom to lift millions out of poverty and create a new middle class. Brazil's politicians from all political stripes now find themselves under siege from the very same group.
"This middle class had economic growth in a period of low inflation, and suddenly they've unleashed a cauldron of complaints, on a range of issues like corruption, that have been accumulating for a decade," said Maílson da Nóbrega, a former Brazilian finance minister.
Demonstrations in Rio have grown into a movement protesting poor government services, corruption and crime. WSJ's Loretta Chao reports.
On Friday, demonstrators returned to the streets in nearly sixty cities, with reports of looting in Rio de Janeiro, where some of the protests have turned violent in recent days. The protests have continued despite decisions by São Paulo and Rio to give in to a key demand for lower bus fares. But the protest movement has expanded beyond that issue to a field of middle class grievances.
The demonstrations couldn't come at a worse time for Brazil, which is hosting the Confederations Cup soccer tournament in new stadiums built for next year's World Cup. For this soccer-mad nation, hosting the tournament was meant to cap a national rise toward global prestige.
Instead, for some, the protest movement has brought to the fore a range of problems that were mostly left out of the Brazil story as the country became a darling of the global investment community amid the boom.
"This situation in Brazil is the coup de grâce on the idea that Brazil was the next big thing," said Gesner Oliveira, a businessman who ran São Paulo's main water utility for several years and now is a consultant.
In recent days, soccer fans in cities like Salvador and other growing urban centers have had to run for cover from police firing rubber bullets in order to get to games, raising questions about whether Brazil can handle hosting the Cup next year.
Protests erupted a few blocks from the hotel where the Italian national team was staying in Salvador on Friday, causing team coach Cesare Prandelli to say the team would remain holed up in the hotel ahead of its match the following day against Brazil. But he denied rumors that Italy asked for the tournament to be scrapped.
Soccer's governing body FIFA said Friday it would not scrap the tournament due to the unrest and that no team had signaled a desire to pull out. In a statement that would have been unimaginable just two weeks ago, FIFA secretary-general Jérôme Valcke felt compelled to say that Brazil must host the World Cup next year. "There is no plan B," he said.
The tournament has become a catalyst for some of the protesters' complaints. That is because even in this soccer-mad country, the birthplace of Pelé, residents are increasingly frustrated at the amount of money that is been put into two major global events, the 2014 World Cup and the 2016 Olympics, compared with the lack of progress in the issues that impact people's daily lives.
No one in Brazil was caught more off guard than President Dilma Rousseff and her left-wing Workers Party, in power for the last decade.
Before the protesters poured onto the streets, Ms. Rousseff appeared to be cruising toward an easy re-election bid next year as expanded welfare programs boosted living standards of the poor, and a growing economy brought greater prosperity to millions more.
Ms. Rousseff, the country's first female president, at first sought to align with the protesters by reminding marchers that her own political career came from the opposition.
The strategy backfired after Workers Party officials sent their members to the streets, where they were booed by the stridently anti-party marchers.
Ms. Rousseff held an emergency cabinet meeting on Friday, officials said.
Governor Cid Gomes, the governor of Ceará state and a Rousseff ally, told reporters Friday that Ms. Rousseff called him on Thursday night and was in a state of "bewilderment."
Government officials say Ms. Rousseff has been extremely active behind the scenes, and pushed officials in Rio and São Paulo to lower tariffs. Ms. Rousseff did not speak publicly in order to avoid inflaming the protests and on expectation that they might subside after the tariff reductions.
After violence across Brazil late Thursday, including protesters forcing into the foreign ministry, Ms. Rousseff planned a speech for late Friday, where she will acknowledge some of the grievances and offer dialogue with protesters. She will also firmly state that violence will not be tolerated in the country's cities.
Some say much of the explanation for why hundreds of thousands of Brazilians are on the streets right now can be found in Mr. Peppe's experience in recent years—and a school of thought in development economics about why seemingly better-off middle class populations have taken to the streets across the emerging world from Turkey to Chile.
The idea is that populations begin to demand more of their leaders as their own economic conditions improve. Citizens who are better off have the luxury to focus on social grievances that seem less pressing to impoverished people whose biggest concern are earning enough to feed themselves.
Mr. Peppe grew up in the sprawling northern outskirts of São Paulo, a poor and crime-ridden maze of small concrete homes during the years of four- digit inflation and successive currency crashes.
His mother, who never learned to read, raised him on around $80 a month. His father, a cop, was killed when Mr. Peppe was 11.
Amid Brazil's boom, Mr. Peppe was able to find work, take out loans to pay for a new car and apartment, and took a second job to pay for it. As he marched, he took photos of face-painted protesters with sleek a Sony Ericsson smartphone.
But Mr. Peppe's prosperity was matched by the bitterness for the injustices that he says came into focus as his life expanded beyond his neighborhood.
"The inequality is very sad, even revolting," Mr. Peppe said. "And now, the population of Brazil is waking up."
Much of the ire is directed at a political system that critics say affords broad impunity to engage in corruption while mostly ignoring the demands of ordinary Brazilians.
Adding to middle-class anxieties are warning signs that the commodity boom that lifted the economy is coming to an end. Brazil's economy has slowed after posting 7.5% growth in 2010.
—Luciana Magalhaes contributed to this article.
Write to John Lyons at john.lyons@wsj.com, Loretta Chao at loretta.chao@wsj.comand Matthew Cowley at matthew.cowley@dowjones.com
A version of this article appeared June 22, 2013, on page A10 in the U.S. edition of The Wall Street Journal, with the headline: Brazil's New Middle Class Takes to the Streets.

Iran: o fim de um lamentavel presidente (que não seja o unico) - Luiz Felipe Lampreia

O Globo, 22/06/2013

A eleição presidencial iraniana produziu dois resultados importantes: a vitória do candidato menos radical, Hassan Rouhani, e o fim do lamentável Mahmoud Ahmadinejad, presidente desde 2005. O presidente eleito fez campanha com o slogan “prudência e esperança”, o que está longe de ser uma plataforma arrojada, mas acenou com um ambiente de maior liberdade pessoal. Muito relevante foi sua postura, como ex-negociador nuclear, favorável a uma redução das tensões nessa matéria entre o Irã e os principais países ocidentais para permitir o abrandamento das sanções do Conselho de Segurança da ONU que estão sufocando a economia iraniana.
Quanto a Ahmadinejad, ele teve um de seus poucos momentos de glória no dia 16 de maio de 2010, quando o presidente do Brasil ergueu seu braço e proclamou vitória no confronto com aqueles que queriam cercear o programa iraniano de “uso pacífico” da energia nuclear”.
Deu no que deu: uma derrota esmagadora no Conselho de Segurança da ONU. Ao fim de seu mandato, restam para o povo iraniano uma das maiores taxas de inflação do mundo, elevados índices de desemprego, violenta queda das receitas de petróleo em resultado das sanções internacionais da ONU. Mestre da bazófia inflamada e das posições radicais, Ahmadinejad entra para a História como um pária internacional.
As eleições presidenciais do dia 14 de junho podem vir a reduzir a intransigência do regime. É óbvio que Rouhani, como aiatolá que é, não representa um opositor ainda que velado da teocracia. Alguns de seus predecessores no cargo também eram clérigos xiitas e também buscaram uma abertura política, com êxito muito relativo. Quem detém o poder, acima de todos, é sempre o aiatolá Khamenei, “líder supremo”. Para usar a expressão de um estrategista político brasileiro do passado, o regime iraniano avança por sístoles e diástoles. Em todo caso, pelo que se pode ler na imprensa internacional, Hassan Rohani, que foi o negociador nuclear de seu país, é o mais moderado de todos os que disputaram a eleição.
É interessante sublinhar que, mesmo com ênfases teocráticas e militaristas, o regime de Teerã promove regularmente transições de poder, fenômeno raro no Próximo Oriente.
Contudo, como atesta a violenta supressão do Movimento Verde de protestos, com sua agenda reformista, em 2009, o Irã não é uma democracia nos moldes ocidentais.
Com a recentíssima eleição, o regime adquiriu indiscutivelmente mais legitimidade. A questão que se põe é se o Irã poderá desempenhar um papel internacional mais construtivo sob o próximo presidente. A busca de armas nucleares poderá abrandar, permitindo uma atenuação das sanções do Conselho de Segurança? Veremos.
Haverá modificação em outra coluna mestra da política regional de Teerã: o apoio ao regime sanguinário de Bashar Assad? Sabe-se que a ingerência direta do Irã nos assuntos da Síria e do próprio Líbano continua a atear mais fogo nos conflitos internos desses países. Em minha opinião, o propósito de aumentar e consolidar sua influência em toda a região é um cânone do política externa iraniana que será mantido, seja qual for o resultado das eleições, com os métodos que forem necessários.
Resta a conhecer quais métodos serão empregados doravante pelo Irã.
Se Rohani não tiver poder para alterar profundamente os rumos do Irã, enquanto durar o regime retrógrado dos aiatolás o país não poderá exercer na sua região uma influência positiva, no plano cultural e político, compatível com sua grande herança cultural, seu peso específico e a contribuição do segmento mais culto de sua população. O presidente eleito vai assumir suas funções com muitos desafios.
O primeiro deles será afirmar-se na política iraniana em meio às lutas entre ultraconservadores que sempre ameaçam o equilíbrio interno.
O segundo desafio estará em combater a crise econômica que deriva sobretudo do maior conjunto de sanções jamais impostas a um país e que cortaram mais de 50% das exportações de petróleo e gás do Irã. O terceiro teste de Rouhani será conseguir avanços nas negociações nucleares sem ser atacado internamente como um vende-pátria. Três enorme desafios.
A Pérsia foi a primeira superpotência da Antiguidade.
Na época em que atacou a Grécia, sob Dario, em 490 AC, e dez anos depois, sob seu filho Xerxes, o império chegava à Índia e poderia ter-se firmado na Europa, não fossem as vitórias gregas em Maratona e Salamina.

Com os hebreus, os persas são os únicos povos antigos cujos textos sobreviveram nos tempos modernos. “A ascensão dos aiatolás tem sido um rebaixamento do país no sentido da violência feita às grandes tradições do passado iraniano”, como disse Robert Kaplan. Esperemos que Hassan Rouhani consiga reverter este curso.

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...