Borboletas e Lobisomens: a guerrilha do Araguaia, de Hugo Studart
Um comentário, por Paulo Roberto de Almeida
Dois anos atrás, o jornalista Hugo Studart procurou-me na direção do IPRI – onde eu me divertia intelectualmente, antes de ser defenestrado por um chanceler sem qualquer senso de humor – para mostrar-me sua tese de doutorado em História, na UnB, sobre a guerrilha do Araguaia.
Imediatamente constatei a qualidade da pesquisa, o rico conteúdo descritivo, objetivo, factualíssimo, embora recheada, a tese, de inúmeros academicismos supérfluos, que atrapalhavam a leitura de uma excelente história sobre uma das grandes tragédias da luta armada no Brasil, a insana aventura "maoísta" do PCdoB nas selvas do Araguaia, e a terrivelmente cruel operação (em três fases) das FFAA para extirpar completamente aquele "quisto" do território brasileiro, mesmo ao custo de execuções sumárias, assassinatos a frio, equivalentes a crimes contra a humanidade, pelos quais os verdadeiros chefes da contra-guerrilha, não apenas seus simples operadores, nunca foram punidos.
Recomendei a "limpeza" da tese de suas superfluidades acadêmicas e a publicação como um simples, mas poderoso livro de história. Já antecipava a contrariedade do PCdoB, o promotor daquela tragédia, junto com o Exército, que nunca fez autocrítica, nem sequer se explicou, por ter enviado à morte um punhado de jovens idealistas, além de alguns militantes e guerrilheiros profissionais. Expliquei isso ao autor, que caberia adicionar um texto sobre a responsabilidade política do PCdoB, que o partido sempre se recusou a fazer.
Ele então me convidou para escrever algo a respeito, o que fiz, de forma displicente, ou seja, um texto puramente opinativo, no estilo "falta alguém em Nuremberg", mas que ainda assim ele insistiu por colocar em posfácio ao livro já planejado.
Eis o meu registro de minha colaboração ao livro, sendo que o posfácio publicado apenas resumia meu texto original, razão pela qual eu disponibilizei a versão integral em meu blog:
1285. “Uma tragédia brasileira: a loucura
amazônica do PCdoB”, Posfácio a Hugo Studart: Borboletas e Lobisomens: vidas, sonhos e mortes dos guerrilheiros
do Araguaia (Rio de
Janeiro: Editora Francisco Alves, 2018, 660 p.; ISBN: 978-85-265-0490-5; pp.
503-507). Versão original publicada no blog Diplomatizzando
(9/07/2018; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2018/07/golpes-revolucoes-e-movimentos-armados.html).
Agora, depois de muitos ataques do PCdoB ao livro e ao seu autor, e ainda querendo esconder a verdade, o "historiador oficial" – esse título parece um escárnio, mas combina com as mentalidades ainda stalinistas do partido – vem com mais pedras na mão protestar contra o fato de que o livro entrou na lista dos finalistas do prêmio Jabuti. É seu direito.
Como também é direito do autor expor claramente o que está acontecendo, depois de todas as campanhas que o PCdoB fez contra a obra (que eu julgo uma excelente ajuda involuntária em termos de marketing, o que vale um exemplar grátis para o partido sortear entre os seus aguerridos e stalinistas membros).
Transcrevo, pois, o texto que me foi enviado por Hugo Studart, e não recomendo a leitura da "resenha" do stalinista, ops, historiador oficial do PCdoB, mas cada um é livre para escolher suas melhores leituras.
Paulo Roberto de Almeida
São Paulo, 31 de outubro de 2019
Nota de Hugo Studart sobre mais um ataque do PCdoB ao seu livro:
O Partido Comunista do Brasil, PCdoB, publicou manifesto violento em seu site oficial, o Vermelho.com.br, protestando contra a indicação a finalista do Prêmio Jabuti de Literatura 2019 do livro "Borboletas e Lobisomens - Vidas, sonhos e mortes dos guerrilheiros do Araguaia", de minha autoria.
Trata-se do 25º artigo-manifesto do partido contra a obra, resultado de minha Tese de Doutorado em História pela Universidade de Brasília. Assinado pelo historiador oficial do partido, Osvaldo Bertolino, são usados mais de 20 xingamentos ou adjetivos desqualificativos contra a obra, o autor e jornalistas que porventura tenham escrito artigos elogiosos (ou neutros): "livro farsa", "caluniador", "mentiras cabeludas", "crápula", "poço de imundice", "vazio de inteligência" e "pastel de camarão".
Eis um trecho do manifesto:
O autor optou por mobilizar um séquito de figurões moralmente subqualificados da mídia para defendê-lo. As palavras mentirosas surgiram das bocas e mãos de gente como — entre tantos outros — Alexandre Garcia (ex-Globo e ditadura militar), José Nêumanne Pinto (O Estado de S. Paulo), José Roberto Guzzo (revista Veja) e Augusto Nunes (Rádio Jovem Pan). Eles se esforçaram para tentar salvar a obra farsesca de Studart, mas o que saiu foi a velha semântica anticomunista, esvaziada por frases retorcidas e intelectualmente indigentes.
O partido também já organizou quatro atos de escracho públicos; piquete contra o lançamento no Rio de Janeiro; além de publicar 5 horas de gravações no YouTube (quase uma minissérie). Um grupo de militantes procurou a reitora da UnB pedindo para que cassasse meu título de Doutor e, sobretudo, cancelasse o Prêmio UnB de Teses de Doutorado, do qual fui vencedor. Obviamente, ela jamais cometeria tamanha sandice, nem poderia.
Em outro trecho, o manifesto do PCdoB compara "Borboletas e Lobisomens" à obra "A Terra", de Emile Zola:
"Ele tentou escrever um livro que impressionasse pela brutalidade dos detalhes, pelas cenas de vulgaridades que beiram a lascívia e chegam à fronteira do mau gosto. Seu séquito teve uma reação contrária à dos cinco discípulos mais fiéis de Emile Zola, que lançaram um manifesto de repúdio ao seu livro La Terre (A Terra), no qual se diziam escandalizados. Supomo-nos, ao lê-lo, diante de um tratado de escatologia: o mestre desceu ao fundo do poço da imundície. Anatole France também se pronunciou: “Escrevendo A Terra, o senhor Emile Zola nos deu as geórgicas da crápula.” “Jamais um homem fez tamanho esforço para aviltar a humanidade”, completou.
"Na verdade, a obscenidade alegada na obra de Emile Zola pode ser vista na produção do séquito de Studart. Não pela lascívia, mas pela libertinagem política e ideológica. Eles são mestres na arte de burlar os fatos para roubar a cena".
O jornalista Alexandre Garcia foi especialmente atacado no manifesto -- aliás, tanto quanto este autor. Assim, peço desculpas públicas a Alexandre por ter sido o indutor (ainda que involuntário) de tamanha covardia.
Os amigos podem optar por ler o artigo na íntegra, no link abaixo) Contudo, prefiro que avaliem o conteúdo lendo "Borboletas e Lobisomens":
A obra pode ser adquirida pelo site guerrilhadoaraguaia.com.br (envio com dedicatória)
... ou nas principais redes de livrarias do país, tais como as Livrarias da Vila, Cultura, Martins Fontes, Leitura, Travessa e Argumento. Desde já, grato pela leitura.
Hugo Studart
https://www.vermelho.org.br/noticia/323929-1?fbclid=IwAR1Yq70VfeNU9vgtnEj7VkkYHVKOnhQowwa3KiUZDsbIW8d9otS5sbH08RY
Peronist leader Alberto Fernandez and his deputy, former president Cristina Fernandez de Kirchner, won a commanding victory over center-right incumbent Mauricio Macri in Sunday’s poll. But for a nation that has defaulted eight times on its debt and spent a third of the last seven decades in recession, the path forward is unclear.
Voters clearly said no to another mandate for Macri, who promised foundational reforms through managerial nous, and delivered sacrifice and half-measures instead. Nor will Argentinians or the financial markets, upon whose good graces this nation of 45 million depends, abide a return to the interventionism that marred Fernandez de Kirchner’s 2007-2015 government – one reason perhaps that she took second chair to her more conciliatory namesake. (They are unrelated.)
If there is any consensus, it’s that more of the same will not do. But here is where the conversation could get interesting. To a growing number of respected economists, the only path to a fresh start for Argentina involves embracing the U.S. dollar.
The details of dollarization are vexing: Who will be the lender of last resort? How to manage the vagaries of trade and the business cycle when you can’t set interest rates or calibrate the exchange rate? Yet the argument for the greenback is straightforward. When a nation has lost its grip, its currency tumbles, credit risk spikes and bonds fall. If conventional monetary and fiscal policy fails to stabilize the economy, the crisis returns again and again. Better to ditch the iffy peso for the greenback, that reliable Latin American mattress-stuffer, which native authorities cannot print, game or otherwise defile.
Yes, dollarization is the monetary nuclear option. That may be why by 2002 only some 35 countries worldwide, most of them small, had officially given up their own currencies for the dollar. Ecuador is the largest of the three Latin American dollarizers (alongside El Salvador and Panama) and its gross domestic product is just one-fifth that of Argentina.
Serial bouts of hyperinflation, overspending and foreign indebtedness have taken their toll. Each crisis has caused the peso (one of this year’s worst-performingcurrencies) to collapse, destroyed trust in policymakers (who’ve now returned the favor by tightening capital controls), and made the country a perennial pariah in the credit markets (Argentine bonds slumped again on Monday). Tellingly, lenders took heart in the narrower-than-expected Peronist victory, a sign perhaps that Argentinians want stability, not adventure.
Dollarization has its discontents. Not everyone agrees that the best way to restore economic integrity and trustworthiness is to take away policy command and control. Argentinians experimented with dollarization in the 1990s through a policy called convertibility: Each peso was legally backed by a dollar in reserves at a fixed one-to-one exchange. It worked for a while, but there was leakage. Provinces found loopholes to federally mandated austerity, fiscal profligacy continued and even with the dollar anchor, the central bank kept tinkering, therefore undermining convertibility and setting up the country for its seventh debt default since 1827.
And yet at some point, governments exhaust their quota of mistakes. Alberto Ramos of Goldman Sachs is no fan of dollarization, but he allows that dire circumstances call for extreme measures. “If you continue to go from crisis to crisis, you have to let go and dollarize,” he told me. By now, Argentina may well have erased the ifs.
Discarding dollarization because it ties a nation’s hands and deprives a government of instruments to manage exchange rates and business cycles sounds sensible, but ultimately rests on a conceit that ignores events on the ground in Argentina. Economist Nicolas Cachanosky, of the Metropolitan State University of Denver, calls this the nirvana fallacy. “Argentine economists tend to confuse the possible with the probable. They imagine a well-functioning central bank that carefully considers and implements policy. But experience suggests something far less desirable will result,” Cachanosky recently wrote.
What’s not in dispute is that Argentina long ago breached the threshold of economic normalcy. “Argentina lacks credit in the broadest sense; it is a zero-trust country,” writes Johns Hopkins University economist Jorge C. Avila, who along with Cachanosky is one of the few Argentine enthusiasts of dollarization.
In a study earlier this year Avila argued that dollarizing could work as long as Argentina opens its air-gapped economy (exports and imports amount to only about 30% of gross domestic product). “Dollarizing with financial integration and free-trade agreements with superpowers will bring a degree of monetary and financial stability not seen by this country in a century,” he wrote.
That may sound overly optimistic. Indeed, going all the way and scuttling a national currency is a dire recourse, and likely unthinkable for the new Peronist management, whose standard bearers spent much of the campaign blaming Macri for turning Argentina into a vassal of the International Monetary Fund. “Dollarization is a one-way street, you don’t go back,” said Monica de Bolle, a senior fellow at the Peterson Institute for International Economics.
As it happens, de Bolle added, Argentinians are way ahead of their political establishment. Each crisis has led them to dump pesos for the greenback, the only medium of exchange that counts for real estateand other big-ticket transactions. Argentinians have squirreled away up to $150 billion in cash and hold an estimated $500 billion in assets abroad. “Argentinians think in dollars, plan in dollars, dream in dollars and have nightmares in dollars,” said Ramos.
What the Peronists need to say is, if Argentina doesn’t dollarize, then what? The options are all but spent.
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