segunda-feira, 5 de setembro de 2022

Bicentenário da Independência: os fundadores do Estado - Paulo Roberto de Almeida (evento do IAB Nacional)

 Bicentenário da Independência: os fundadores do Estado  


Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

Notas para palestra em seminário do IAB sobre o Bicentenário, 5/09/2022, 10:30hs. Transmissão via Canal YouTube/IABNacional: www.youtube.com/user/tviab  

 

Falar sobre os fundadores do Estado brasileiro, 200 anos atrás, significa distinguir, de um lado, aqueles que colocaram os alicerces fundamentais da nova nação independente na América do Sul portuguesa, em 1822, e, de outro lado, aqueles que, a partir de 1824, com a Constituição outorgada – depois da iniciativa frustrada da Assembleia Constituinte –, passaram a construir todas as demais instituições do Estado, desde a formação da Assembleia Geral e do Senado, a criação da Suprema Corte, processo que se estendeu bem além do primeiro Reinado e das próprias Regências, tocando em muitas outras agências públicas, na segurança e defesa, na justiça (com os códigos de processo), na administração do orçamento e em diversos outros terrenos.

A construção do Estado propriamente dito é feita na sequência daquele momento inicial, quando se constituem gabinetes essencialmente brasileiros, voltados para as questões nacionais – não as de Portugal, como sob Pedro I – e se definem as linhas das políticas doméstica e externa, durante as Regências e ao início do segundo Reinado, depois do golpe da maioridade de 1840, uma iniciativa dos Liberais, depois recuperada pelos conservadores ou regressistas. O Regresso, ou Partido Saquarema, é o verdadeiro construtor do Estado brasileiro, com homens como Bernardo Pereira de Vasconcelos, Honório Hermeto Carneiro Leão, Rodrigues Torres, Paulino Soares de Souza e vários outros; foram eles que realmente colocaram de pé uma configuração política e de segurança pública, que deu cabo das revoltas provinciais das regências e da primeira fase do reinado de Pedro II, assim como souberam encontrar uma solução ao primeiro grande conflito externa, a disputa com a Grã-Bretanha em torno da questão do tráfico escravo. Esta é, no entanto, a segunda geração dos construtores do Estado, a que se desempenha no final do período regencial e nos anos 1840-50.

Minha intenção seria falar da primeira geração, aquela que levou o então Reino Unido, quase reduzida a uma nova condição de colônia pelas Cortes de Lisboa, à sua separação de Portugal, decretando a independência política e obtendo o reconhecimento internacional do Império do Brasil. Quanto a seus componentes, cabe mencionar, antes de todos os homens, a princesa Leopoldina, que verdadeiramente tomou a decisão de romper com Portugal, apoiada por estadistas da qualidade de José Bonifácio de Andrada e Silva. Antes mesmo dos estadistas de 1822, três intelectuais e formadores de opinião, já tinham pensado o Brasil como nação e como Estado. Eles são José da Silva Lisboa, Hipólito da Costa e José Bonifácio, que por acaso figuram em primeiro lugar na lista de duas dezenas de estadistas que integram meu livro, recentemente publicado, sobre os Construtores da Nação, os que formularam projetos para o Brasil, muito poucos implementados de fato.

José da Silva Lisboa, o Adam Smith brasileiro, é o mais velho dos três, o primeiro economista de fato – não esquecendo o bispo Azeredo Coutinho, fundador do seminário de Olinda – o intelectual baiano, súdito fiel dos Braganças, quem primeiro escreveu sobre a economia e a política econômica que o Brasil deveria ter, desde o Vice-Reino, com seu livro Princípios de Economia Política, de 1804. Com a chegada da corte ao Rio de Janeiro, ele passa a discutir a política comercial e industrial que o Brasil deveria seguir, como sede do grande império português; ele o faz com seus livros sobre o comércio franco do Brasil, de 1808, e um outro, sobre a franqueza da indústria, de 1810. Silva Lisboa só se tornou barão, depois visconde de Cairu no primeiro Reinado, quando foi contemplado pelo imperador com esses títulos de nobreza e com o cargo de senador do Império. 

Mas, sua obra básica para a construção da nação foi escrita ainda antes da Revolução do Porto e da Independência: ela foi os Estudos sobre o Bem Comum, de 1819, onde estão reunidos os fundamentos sobre os quais deveria se apoiar uma sólida política econômica para o fortalecimento da nação brasileira, prevendo inclusive a rejeição do tráfico e a abolição da escravidão, assim como o aproveitamento das vantagens comparativas do imenso território e a formação do seu capital humano. Silva Lisboa, como economista e liberal político, foi não só o Adam Smith brasileiro, mas também o seu David Ricardo, o Frédéric Bastiat, o Jean-Baptiste Say, o James Mill e talvez até o John Stuart Mill, menos talvez pelos seus impactos efetivos sobre o novo Estado do que pelos seus escritos duradouros, ainda válidos.

Em segundo lugar eu colocaria Hipólito da Costa, quem, recém egresso de Coimbra, recebeu do ministro português Rodrigo de Souza Coutinho a missão de descrever o que havia de novo, e de útil para Portugal e para o Brasil, na jovem República americana, o que ele fez em sua estada de investigação econômica de 1798-1799. Dessa missão resultou o seu relato de viagem à Filadélfia, que só viemos a conhecer em 1955, graças a Alceu Amoroso Lima, que recuperou o manuscrito na Biblioteca de Évora e o fez publicar pela Academia de Letras. Hipólito retornou maçom dessa viagem e, como tal, foi detido pela polícia política do absolutismo português e entregue à Inquisição. Ele relatou, na Narrativa da Perseguição (que publicou em Londres em 1810), os interrogatórios a que foi submetido entre 1802 e 1805, quando se evade do cárcere e se refugia em Londres. Na capital britânica, com o apoio do príncipe de Gales, maçom igualmente, ao Correio Braziliense, que ele publica ininterruptamente de 1808, desde o momento da instalação da corte no Rio de Janeiro, até 1822, já tendo aderido ao princípio da separação dos dois reinos. Pela densidade substantiva do seu “armazém literário”, cobrindo praticamente todos os aspectos do mundo europeu e americano que poderiam interessar à construção de sua nação de origem, ele merece legitimamente que se o chame de primeiro estadista do Brasil.

Finalmente, temos José Bonifácio, que retorna ao Brasil em 1819, depois de três décadas de estudos por diversos países europeus (inclusive a França revolucionária do final do século XVIII) e de engajamento na resistência portuguesa contra a invasão napoleônica. Foi ele quem redigiu as instruções aos delegados de São Paulo às Cortes de Lisboa, já defendendo o formato de Estado que ele pretendia favorecer, a manutenção da união política entre Portugal e o Brasil, junto, aliás, com Silva Lisboa e o próprio Hipólito. Para os três, o Brasil deveria ser a sede de um importante império luso-brasileiro, junto com as demais colônias, que poderia figurar lado a lado com outros importantes impérios em formação.

Os principais projetos de Bonifácio para a construção da nação brasileira, assim como para Hipólito, eram a abolição imediata do tráfico escravo, a eliminação gradual do regime servil, pari passu à importação de agricultores europeus, para fazer do Brasil a grande economia que já figurava nas previsões de Silva Lisboa. Mas ele também tinha o projeto, algo utópico, de “civilizar os índios”, ademais da firme intenção de fundar universidades, mudar a capital para o interior e muito mais. Ainda antes da independência, no manifesto às nações amigas de agosto de 1822, ele se pronunciava pelo liberalismo comercial, mas também pelo respeito mútuo e plena reciprocidade no trato internacional e pela facilidade de ingresso no país de sábios, artistas e empresários. 

O trio de fundadores da nação brasileira, Silva Lisboa, Hipólito e Bonifácio, tinham peculiaridades próprias nas ideias e propostas formuladas por cada um deles, como grandes intelectuais iluministas que eram, mas concordavam no essencial: preservar, acima de tudo, a unidade nacional, instituir um regime político liberal, abrir a economia, eliminar o tráfico e a escravidão, importar capital humano e ganhar o respeito da comunidade internacional. Conseguiram algumas coisas dos seus grandes objetivos, mas se estivessem conosco nos 200 anos da independência, saberiam indicar as grandes carências remanescentes: a desigualdade renitente, os desequilíbrios sociais e regionais persistentes, o edifício político ainda pendente da eliminação do patrimonialismo e dos privilégios inaceitáveis. Estiveram entre os primeiros construtores da nação, mas seus projetos para o Brasil ainda não foram completados. 


Brasília, 4228: 4 setembro 2022, 3 p.

Bicentenário da Independência: A Construção da Nação e o seu futuro - Canal YouTube do IAB, 5/09/2022, 10:00hs

Nesta manhã, 5/09/2022, o Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB), promove mais um evento da série Bicentenário da Independência, desta vez sobre A Construção da Nação e o seu futuro

O Evento será transmitido pelo Canal YouTube/IABNacional.

Clique no link abaixo para assistir ao webinar: 

www.youtube.com/user/tviab


Uma síntese perfeita sobre os sentidos do liberalismo, em John Locke e em Pierre Manent, por Alex Catharino

Uma síntese perfeita sobre os sentidos do liberalismo, em John Locke e em Pierre Manent

Alex Catharino


Há exatos 390 anos, em 29 de agosto de 1632, em Wrington, Somerset, na Inglaterra, nasceu o médico e filósofo John Locke, falecido, aos 72 anos, em High Laver, Essex, no mesmo país.

Além de ser notável representante do empirismo britânico, devido as reflexões epistemológicas no "Ensaio acerca do Entendimento Humano", de 1689, suas concepções políticas, nos "Dois Tratados sobre o Governo", de 1689, e nas três "Carta sobre a Tolerância", publicadas, respectivamente em 1688, em 1690 e em 1692, fizeram que a maioria dos analistas considerasse John Locke como o "pai do liberalismo".

Nesta semana, em memória desse pensador inglês, recomendamos o livro "História Intelectual do Liberalismo: Dez Lições", do cientista político francês Pierre Manent, disponível, atualmente, em língua portuguesa em lançamento da Edições 70 (@edicoes_70).

Além do prefácio introdutório, de uma nota final, e do posfácio "Grandeza e Miséria do Liberalismo", escritos pelo próprio autor, a obra é dividida nos respectivos capítulos: I) "A Europa e o Problema Teológico-Político", II) "Maquiavel e a Fecundidade do Mal", III) "Hobbes e a Nova Arte da Política", IV) "Locke, o Trabalho e a Propriedade", V) "Montesquieu e a Separação dos Poderes", VI) "Rousseau, Crítico do Liberalismo", VII) "O Liberalismo Depois da Revolução Francesa", VIII) "Benjamin Constante e o Liberalismo de Oposição", IX) "François Guizot, o Liberalismo de Governo", X) "Alexis de Tocqueville, o Liberalismo Perante a Democracia".

Nas sentenças finais de seu posfácio, Pierre Manent fez a seguinte advertência aos liberais contemporâneos:

"É verdade que o liberalismo fez recuar o cristianismo para a periferia da vida coletiva. Todavia, despeito de seu triunfo, não se pode substituir inteiramente a ele, porque define apenas as condições da ação, e nunca as suas finalidades, como fez o cristianismo. É a relação com o cristianismo, bem mais do que a questão da organização econômica, que é fundadora e formadora do liberalismo. É essa relação que temos de nos esforçar por desembaraçar, se quisermos chegar à clareza sobre o destino das sociedades liberais".

Alex Catharino

Cabe aguardar o golpe ou preveni-lo? - Paulo Roberto de Almeida

 Comentário a propósito da contrariedade de muitos a respeito da ação do ministro Alexandre de Moraes, mandando investigar empresários golpistas, considerando-a inconstitucional.

O problema de minimizar simples ameaças verbais é a possibilidade de um dia nos deparamos com o horror de uma ditadura cruel. 

Em 1926-27, quando foram publicados os dois volumes do Mein Kampf, não se deu muita importância aos argumentos de um golpista de instintos totalitários, já anunciando a luta contra bolcheviques e judeus. 

A obra só começou a ser lida, de fato, depois que Hitler já tinha transformado a turbulenta República de Weimar numa ditadura assassina. 

Como alertou Karl Popper, não se pode ser tolerante com os intolerantes, pois eles podem simplesmente matar a democracia.

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 5/09/2022

Vergonha do Brasil e do Itamaraty - Paulo Roberto de Almeida

 Vergonha do Brasil e do Itamaraty: uma expressão pessoal de meu profundo desconforto moral com o desgoverno que rebaixa o conceito externo da nação.

Ingressei na carreira diplomática em plena ditadura, e durante alguns anos continuei resistindo ao regime militar, usando nomes de guerra para escrever contra o autoritarismo e mesmo contra aspectos da “diplomacia blindada” que tivemos em algumas fases da ditadura. 

Mas a política externa não era o pior aspecto do regime militar, quando comparada, por exemplo, à idiotice da censura política e da repressão cultural, ou até, no limite, à repressão desapiedada de opositores pacíficos do regime, entre os quais eu me incluía.

Melhoramos muito em todos os aspectos desde 1985, embora a vergonha das desigualdades sociais tenha continuado impérvia desde então, a despeito de melhorias pontuais em governos passados.

Mas um aspecto passou a me constranger desde as eleições presidenciais de outubro de 2018: jamais, até 2018-19, senti tanta vergonha da política externa e da diplomacia como nos últimos 4 anos.

Tenho profunda tristeza pelo que ocorreu com nossa imagem internacional e com o lado deprimente e depressivo que atingiu — o verbo não é muito forte — o Itamaraty, sobretudo na primeira fase do atual governo, quando a gestão da Casa de Rio Branco esteve entregue à franja lunática que rebaixou o conceito da diplomacia profissional e da própria política externa de forma nunca antes vista na história do país. 

Não consigo imaginar o estado de espírito da maioria dos meus colegas diplomatas e não consigo entender como alguém da carreira possa ainda admitir, apoiar ou defender o atual desgoverno, conduzido por um desequilibrado ex-militar, um indigno representante das masmorras dos anos de chumbo da ditadura militar.

Os valores e princípios da diplomacia profissional brasileira foram espezinhados e conspurcados pelos que humilham a nação no mundo. 

Sei que este meu protesto não tem nenhuma relevância no atual contexto eleitoral; eu apenas desejei registrar meu sentimento num momento decisivo da trajetória do Brasil: vamos atravessar o Bicentenário da Independência numa situação de profunda divisão do país.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 5/09/2022

Padres alertam contra a reeleição do atual presidente da República - Carta aberta

Trata-se de algo inédito no Brasil: padres da Igreja Católica tomam a iniciativa de recomendar aos fieis que rejeitem o atual presidente. As razões são claramente expostas no texto a seguir.

Paulo Roberto de Almeida 

 Carta Aberta

Padres alertam contra a reeleição do atual presidente da República

Encontramo-nos, novamente, no período eleitoral. Em 2018 a população, enganada por fake news, desmotivada por crises econômicas, escândalos de corrupção e insuflada por discursos de ódio acabou por eleger para a presidência da República Jair Messias Bolsonaro. Uma catástrofe anunciada! Hoje, distante quatro anos daquele momento, nós Padres, conscientes do nosso dever de pastores do povo de Deus, queremos alertar para o perigo de repetirmos o mesmo erro, que pode pôr o Brasil em uma crise humana muito profunda. Por isso, elencamos dez elementos pelos quais, claramente, opomos nossas consciências à reeleição do atual Presidente da República.

1 – Uso do nome de Deus: o atual presidente sempre manipulou o sentimento religioso da população brasileira, tentando convencê-la de que é um homem cristão, religioso e, por isso, digno e bom. Trata-se apenas de uma estratégia de controle das consciências, visto que todo o seu discurso e suas ações são uma total oposição ao Evangelho de Jesus;

2 – Discurso de ódio: o atual presidente insufla ódio na população por aqueles que considera inimigos seus ou do país (ainda que inimigos imaginários como os “comunistas”), tendo sempre um discurso ligado à violência, ao apelo às armas, a imposição da maioria e submissão das minorias, e um tom de agressividade e de desprezo pelos pobres, pelas mulheres, comunidades tradicionais indígenas e quilombolas, população de rua, comunidade LGBTQIA+, migrantes, etc;

3 – Fake news: toda a eleição de 2018 foi movida por notícias falsas e alarmistas, colocando em pânico a população mais simples e vulnerável. Notícias falsas circularam por grupos de WhatsApp e pelas demais redes socias, desinformando e manipulando a população. Durante todo o seu governo as notícias falsas e caluniosas permaneceram e o Presidente mente de forma compulsiva na TV e em seus diversos pronunciamentos;

4 – Má gestão da pandemia de COVID-19: o governo atual, capitaneado pelo Presidente Bolsonaro, geriu de forma desastrosa e desumana a pandemia de COVID-19. O Presidente fez propaganda de medicamentos comprovadamente ineficazes, atrasou propositalmente a compra de vacinas, criou dificuldades para o estabelecimento de políticas de distanciamento social, demitiu ministros da saúde que contradiziam suas ideias infantis e, incrivelmente, ainda imitou pessoas morrendo sufocadas;

 5 – Volta da pobreza: o país foi imerso na pobreza e 33 milhões de pessoas passam fome no Brasil de hoje. Nós, que havíamos saído do mapa da fome em 2014, tornamos a ver a instabilidade alimentar em nosso meio. A inflação impede pessoas de comprarem alimentos básicos para a subsistência. Nosso povo passa fome enquanto super ricos cercam o atual Presidente por medo de perderem privilégios. Com tudo isso, o presidente ainda nega que existam pessoas com fome no Brasil;

6 – Aumento do desmatamento: O desmatamento ilegal, as políticas que favorecem o agronegócio irresponsável, favorecimento do garimpo ilegal, silêncio e despreocupação com as ameaças sofridas por ambientalistas e defensores da Amazônia, o uso de agrotóxicos proibidos em outras partes do mundo, o pisoteamento das comunidades indígenas, o desaparelhamento dos órgãos de controle ambiental e indigenista e a sistemática destruição da Amazônia são escândalos em nível mundial. O atual governo coloca em risco toda a confiabilidade do país e o equilíbrio ambiental através de suas políticas ecocidas;

7 – Sinais claros de corrupção: eleito com discurso anticorrupção, o atual Presidente vive soterrado e soterrando os escândalos de corrupção que o envolvem e envolvem sua família. Escândalos de corrupção na compra de vacinas, escândalos no MEC, interferência na Polícia Federal, desmonte das políticas de transparência fundamentais no combate à corrupção, compra do parlamento através do “orçamento secreto”, movimentações financeiras milionárias não esclarecidas (compra de 51 imóveis com dinheiro vivo), sigilo de 100 anos sobre ações pessoais sendo que somos uma República;

8 – Ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF): o Presidente da República tem sistematicamente atacado o STF, que diz intervir indevidamente no governo. Frases ameaçadoras contra ministros do STF são públicas e estão nas redes socias. A ameaça a um poder da República é um ataque à Constituição Federal e um perigo ao Estado Democrático de Direito. Além disso sustenta um discurso antidemocrático militarista;

9 – Questionamento sobre o processo eleitoral: mesmo tendo sido eleito pelo atual sistema de urnas eletrônicas, o Presidente da República questiona sistematicamente o sistema eleitoral brasileiro, afirmando que houve e que podem acontecer fraudes. Chegou mesmo a afirmar que existiam provas dessas fraudes, provas essas, que nunca pode demonstrar. O TSE já demonstrou que tudo não passa de retórica de mentira. Porém, com esse discurso cria desconfiança e instabilidade no sistema eleitoral do Brasil;

10 – Claros sinais de autoritarismo e fascismo: por fim, o lema do presidente Bolsonaro sempre foi: “Deus acima de tudo, Brasil acima de todos”, que se assemelha a propaganda nazista “Alemanha acima de tudo”, lema que deturpa patriotismo em perigoso nacionalismo. Em um Estado laico a única realidade que está acima de tudo é a Constituição, que existe para garantir a liberdade e o bem estar de todos os cidadãos, não importando suas etnias, religiões ou classes sociais. O Estado laico não é Estado ateu. Estado laico é a única garantia de que todos os cidadãos poderão viver e celebrar suas diversas crenças de forma livre;

Feitas essas considerações, como padres preocupados com o bem da nossa população, recordamos que Jesus veio para que tenhamos vida e vida em abundância (Jo 10,10). Um discípulo de Jesus consciente não pode reeleger um homem que com palavras e obras demonstra ser o oposto de tudo aquilo que Jesus é e anuncia. Deus nos ilumine para sermos fiéis ao Senhor da vida!

Comprometem-se com essa carta mais de 450 padres católicos de diversas Dioceses, Ordens, Congregações e Institutos de Vida Consagrada de todo o Brasil e fora dele, denominados Padres da Caminhada e Padres contra o fascismo, e que refletem e se unem desde 2018 em vista da democracia ameaçada no Brasil.

Brasil, 07 de setembro de 2022


domingo, 4 de setembro de 2022

Vladimir Putin Will Eventually Lose His War in Ukraine. Here’s Why - Sylvain Saurel (Medium)

 Sylvain Saurel

Medium, Sep 1, 2022





Image: Craig Stephens

Russia is likely to lose this war, which began a little over six months ago. It has already lost geopolitically: its existential goal of bringing Ukrainians, who have now turned entirely to the West, back into its sphere of influence has fallen through. Vladimir Putin has pushed Sweden and Finland to join NATO.

His main point of support in Europe, Germany, has been denuded. And the EU-27 will do everything to do without its hydrocarbons. What ally and important outlet does it have left, apart from China? At the risk of a certain vassalization. But what about the outcome of the war itself, which is more important to public opinion than to the protagonists?

The prognosis may seem staggering, given that the world’s second-largest army, on paper, is facing a country with only a handful of operational divisions in 2014. But in the long run, the defeat of the Russian army, at least the loss of the territories conquered since the beginning of the invasion, six months ago, seems likely. The reasons are both economic and military.


Indeed, Western sanctions are considerably hampering the Russian war effort. Certainly, they have not brought its economy to its knees, as some have claimed: this was not possible, given the country’s well-known resilience, and would have been counterproductive, in addition to being ethically questionable.

But key sectors are being strangled by the cessation of Western imports. Car production has been divided by ten by June 2022, domestic airlines will be grounded one after the other due to lack of maintenance. And the strength of the ruble, which is often cited by opponents of sanctions, is nothing but a sham: it is simply because few Russian importers now have to sell rubles to pay for their purchases.

Moscow is betting on a “fatigue” of the European public opinion, for the moment hardly tangible, in particular by cutting gas to push the German industry to implore a lifting of the sanctions. This hypothetical gamble would also deprive it of a third of its foreign exchange earnings. Given the discount on oil sales due to the reputational risk of its customers, once the necessary imports have been paid for, it would only have $300 million a day left to finance its war effort. This is barely enough to replace about 50 Kalibr missiles.

One figure sums up how unequal the current economic tug-of-war is: Russia’s GDP, 1,700 billion dollars, is twenty-eight times lower than that of Kyiv’s allies.

Russian missile stockpile is in free fall — Silence in 6 to 8 months.

Thus, Ukraine benefits from an uninterrupted flow of ultramodern Western weapons, French Caesar guns, British M270 mobile missile launchers, and especially the 16 American Himars batteries, which can destroy a hundred ammunition depots, radar systems, or batteries every day.

Paradoxically, Ukraine has more tanks today than at the beginning of the war, between those captured and those supplied by its allies, while its adversary has lost 1,300, the third of its operational fleet. Moscow has already used up 80% of its stock of cruise missiles, estimated at 3,000 warheads, and cannot reconstitute it, due to a lack of Western electronic components, except for a small amount on the black market. At the current rate of consumption, among the highest in history, of its conventional, short-range, and low-accuracy shells, specialists estimate that its artillery will be silenced in 6 to 8 months.

Moscow has also lost the strategic initiative. Its commandos and airborne troops hardly operate anymore, Chechen fighters are visible only on TikTok and its fleet is practically no longer employed. As for the planes, they are reluctant to enter Ukrainian airspace, at a rate of about fifteen missions per day, and could be neutralized this fall by American Nasams missiles.

Only the artillery, Moscow’s traditional centerpiece, is active at the moment.

Obvious mental wear and tear in the Russian army

American intelligence estimates that one-third of the contingent deployed before the invasion has been put out of action, or 80,000 soldiers killed or wounded. Moscow is now recruiting inexperienced fighters up to the age of 60. Wear and tear is also mental, with reports of desertions, late pay, and alcoholism.

Certainly, Ukraine has probably lost 20,000 to 30,000 men, and its counter-offensive towards the key city of Kherson, announced in early July 2022, is stalling. But it will continue its undermining work, methodically destroying Russian supply lines, now all within range of its missiles, and ammunition depots, targeted almost every day at this moment in this annexed Crimea that Moscow thought was a sanctuary.

Until the Russian troops, isolated, demoralized and deprived of ammunition, have no choice but to retreat or surrender. Because the only plausible outcome now on the Russian side is a humiliating defeat which is likely to make the dictator Vladimir Putin stagger in Russia itself. History has already shown us that bloodthirsty dictators have not been able to resist for long after a defeat as humiliating as the one that awaits Putin in the future.

It is just a matter of time before the defeat of Putin in Ukraine and then his fall in Russia.


Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...