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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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sexta-feira, 9 de julho de 2010

Dez obras fundamentais para um diplomata

Tenho sido regularmente consultado por candidatos à carreira diplomática sobre "obras importantes" que eles deveriam ler para se preparar adequadamente para a carreira. Como já escrevi um trabalho nessa linha alguns anos atrás, e como não creio que a Humanidade tenha produzido algo de muito grandioso nos últimos anos, permito-me reproduzir aqui um trabalho elaborado em 2006.

Toda lista desse tipo é sempre um pouco subjetiva, denotando mais as preferências pessoais do seu autor do que, necessariamente, as obras “funcionalmente” mais importantes ou aquelas “culturalmente” relevantes, que deveriam integrar a bagagem cultural de todo ser humano medianamente bem informado ou razoavelmente bem formado. Como, entretanto, não se trata de “cultura de salão”, vou tentar traçar uma lista indicativa dos livros que considero importantes para uma boa cultura clássica ou para uma formação adequada no quadro da cultura brasileira.

Como, adicionalmente, se trata de selecionar obras “operacionalmente” relevantes do ponto de vista do diplomata, permito-me indicar aqui aquelas que apresentam uma inclinação especial para os temas de relações internacionais do Brasil. Esta lista, segundo minhas preferências pessoais, seria composta das seguintes obras:

1) Heródoto: História (440 a.C.)
Trata-se, obviamente, do nascimento da história, tal como vista por um grego refinado que interpreta os acontecimentos contemporâneos – as chamadas guerras pérsicas – do ponto de vista de uma pequena comunidade de homens livres que consegue derrotar as tropas de um poderoso império, aliás o mais poderoso então existente; Heródoto faz descrições dos povos habitantes do Mediterrâneo. Existem muitas traduções desta obra clássica, inclusive em português, mas uma boa tradução em inglês pode ser vista neste link: http://classics.mit.edu/Herodotus/history.html; para uma introdução rápida ao conjunto da obra e um útil sumário dos nove livros, consultar este outro link: http://mcgoodwin.net/pages/otherbooks/herodotus.html.

2) Maquiavel: O Príncipe (1513; divulgado pela primeira vez em 1532)
A mais famosa obra de “política prática” conhecida na tradição ocidental – existe um Maquiavel indiano, chamado Kautilya, que escreveu um guia de “administração” do Estado, conhecido como Arthashastra – e que tem servido de referência a incontáveis oportunistas da dominação política, interessados em justificar suas ações nem sempre fundamentadas na moralidade ou na ética. Existem inúmeras traduções em português, com prefácios de cientistas políticos ou de filósofos – uma das mais famosos é o de Isaiah Berlin – assim como arquivos eletrônicos livremente disponíveis, em diversas línguas. O mais famoso estudioso da vida e da obra de Maquiavel é o italiano Pasquale Villari, em seus três volumes de Niccolò Machiavelli e i suoi tempi (consultei a 3ª edição, “riveduta e corretta dall’autore”: Milano: Ulrico Hoepli, 1912; a primeira edição foi publicada em Florença, em 1877). Ver um arquivo eletrônico da obra, entre muitos outros, no original italiano (mas modernizado, obviamente) no seguinte link: http://metalibri.incubadora.fapesp.br/portal/authors/
m/machiavelli-niccolo-di-bernardo-dei/il-principe/
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3) Tocqueville: A Democracia na América (1835)
Uma “enquête” sobre o sistema carcerário americano, feito a pedido do governo francês, redundou no mais famoso livro sobre a formação política da maior nação do hemisfério ocidental. Depois de entregar seu relatório sobre o sistema prisional dos EUA, Tocqueville aprofundou a análise do sistema representativo republicano, até então inédito no plano mundial, bem como se estendeu sobre outros aspectos – políticos, sociais e econômicos – da ex-colônia inglesa, na qual ele viu a semente do gigante americano. Um site da universidade do Québec, no Canadá, é o mais acessível para a versão completa, em francês, desta obra legitimamente clássica: http://classiques.uqac.ca/classiques/De_tocqueville_alexis/
democratie_1/democratie_tome1.html
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4) Pierre Renouvin (org.): Histoire des relations internationales (1953-58)
O grande historiador francês dirigiu a edição original, em oito volumes, com quatro autores. Apesar de démodée, em vários aspectos, historicamente datada, ainda é uma obra de referência, sobretudo por conter uma história abrangente, inserida no contexto da civilização ocidental. Existe um nova edição, em três volumes encadernados, publicados em 1993 pela mesma editora da primeira edição: a Hachette, de Paris. Fiz uma resenha desta obra, destacando as (poucas) partes que se referem ao Brasil, neste trabalho: “Contribuições à História Diplomática: Pierre Renouvin, ou a aspiração do total”, Paris, 8 agosto 1994, 15 p. Resenha crítica de Pierre Renouvin (ed): Histoire des Relations Internationales (Paris: Hachette, 1994, 3 vols: I: Du Moyen Âge à 1789 (876 pp.); II: De 1789 à 1871 (706 pp.); III: De 1871 à 1945 (998 pp.); publicada na seção Livros da revista Política Externa (São Paulo: vol 3, nº 3, dezembro-janeiro-fevereiro 1994/1995, pp. 183-194); disponível em, sua versão integral, no site Parlata: http://www.parlata.com.br/parlata_indica_interna.asp?seq=21.

5) Henry Kissinger: Diplomacy (1994; várias edições posteriores)
Três séculos de história diplomática, desde Westfália até o final do século XX, por um dos mais conhecidos adeptos da teoria realista (mas com enorme conhecimento da história). Sua tese de doutoramento, sobre o Congresso de Viena, ainda hoje é uma referência em história diplomática. O autor é, evidentemente, kissingeriano, e não se cansa de dar seus conselhos sobre como os EUA devem tratar com os demais gigantes da política mundial, sendo meramente condescendente com “lesser actors”. Ainda assim, uma grande e indispensável leitura a todos aqueles que desejam conhecer o “inner functionning” da política externa da grandes potências. O autor se estende nos movimentos da própria diplomacia americana, dividida entre o idealismo wilsoniano e o pragmatismo realista que ele mesmo sempre buscou imprimir à condução dos assuntos externos quando foi conselheiro de segurança nacional do presidente Nixon e depois Secretário de Estado de Nixon e de Gerald Ford. Tem quem deteste Kissinger, por sua ação “imperial”, mas nem por isto este livro deixa de ser indispensável.

6) Manuel de Oliveira Lima: Formação histórica da nacionalidade brasileira (1912; nova edição: Rio de Janeiro: Topbooks, 1997)
Oriundo de conferências que o historiador-diplomata realizou na Sorbonne, em 1911, quando era ministro em Bruxelas, a obra foi concebida em francês, depois traduzida e publicada no Brasil. Trata-se de um vasto panorama da formação histórica, inclusive comparativa, do Brasil, por um dos nossos maiores historiadores sociológicos. Não conheço análises de uma das obras menos referidas de Oliveira Lima, a não ser os prefácios de José Veríssimo e de Gilberto Freyre para a edição brasileira de 1944. A nova edição deste clássico sobre a formação do Brasil foi enriquecida, na edição da Topbooks, pelo acréscimo de conferência do autor sobre o Brasil e os estrangeiros.

7) Pandiá Calógeras: A política exterior do Império (três volumes, 1927-1933; reedição fac-similar, 1989; Brasília: Câmara dos Deputados)
Alguns dizem que esta obra é excessiva e, de fato, para tratar da diplomacia brasileira da época imperial, ela recua um pouco demais: começa na formação da nacionalidade portuguesa e se estende até a queda de Rosas (1852), apenas. Efetuei uma análise dessa obra no seguinte trabalho: “Contribuições à História Diplomática do Brasil: Pandiá Calógeras, ou o Clausewitz da política externa”, Brasília: 21 março 1993, 13 pp., revisto em 22 maio 1993. Artigo-resenha dos livros de João Pandiá Calógeras, A Política Exterior do Império (volume I: As Origens; volume II: O Primeiro Reinado; volume III: Da Regência à Queda de Rosas; edição fac-similar: Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, Câmara dos Deputados, Companhia Editora Nacional, coleção “Brasiliana, 1989, xl + 490, 568 e 620 pp). Publicado na revista Estudos Ibero-Americanos (Porto Alegre, PUCRS, v. XVIII, n. 2, dezembro 1992, pp. 93-103). Relação de Publicados n° 117. Disponível neste link do site Parlata: http://www.parlata.com.br/parlata_indica_interna.asp?seq=22.

8) Carlos Delgado de Carvalho: História Diplomática do Brasil (1959; reedição fac-similar, 1998; Brasília: Senado Federal)
Apesar de antiquada em sua metodologia e historicamente defasada, tendo deixado de servir de livro-texto depois da publicação da obra conjunta de Amado Luiz Cervo e Clodoaldo Bueno – História da Política Exterior do Brasil (3ª ed.; Brasília: UnB, 2006) – essa obra permanece ainda uma referência parcialmente válida para o estudo dos períodos colonial, imperial e republicano, até o final dos anos 1950. Efetuei uma análise neste trabalho (que serviu, ao mesmo tempo, de introdução à sua reedição facsimilar): “Em busca da simplicidade e da clareza perdidas: Delgado de Carvalho e a historiografia diplomática brasileira”, Brasília, 12 dezembro 1997, 25 pp.; revisão em 05.01.98. Texto introdutório à reedição de Carlos Delgado de Carvalho (1884-1980), História Diplomática do Brasil (1ª ed.: São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1959; edição facsimilar: Brasília: Senado Federal, 1998; Coleção Memória brasileira n. 13, lxx, 420 p.), pp. xv-l, incorporando ainda apresentação do Emb. Rubens Ricupero (pp. iii-xiv), elaborada originalmente em 1989, em Genebra). Elaborei uma versão revista dessa introdução, com prefácio, para uma segunda edição, em 2004, mas ela foi publicada sem minhas correções e acréscimos; para a edição de 1998, ver: http://www.pralmeida.org/01Livros/2FramesBooks/
24DelgadoHistoDiplom.html; meu texto: http://www.pralmeida.org/01Livros/
1NewBoooks/PrepNewEdDelg2004.pdf.

9) Marcelo de Paiva Abreu (org.). A Ordem do Progresso: cem anos de política econômica republicana, 1889-1989 (Rio de Janeiro: Campus, 1989; várias reedições)
Uma coletânea indispensável de estudos especializados, por onze diferentes autores, para conhecer a trajetória econômica e política do século republicano. O organizador assina o capítulo relativo à modernização autoritária, entre 1930 e 1945. O volume se abre por um estudo de Gustavo Franco sobre a primeira década republicana, seguido de Winston Fritsh, que se ocupa do apogeu e crise da primeira República, de 1900 a 1930. Sérgio Besserman Vianna assina dois excelentes ensaios sobre o imediato pós-guerra, de 1945 a 1954. Marcelo de Paiva Abreu volta para tratar dos conturbados anos 1961-1964, sobre a inflação, estagnação e ruptura. A estabilização e a reforma, entre 1964 e 1867, são tratadas por André Lara Rezende e as distorções do “milagre” econômico , de 1967 a 1973, por Luiz Aranha Corrêa do Lago. Dionísio Dias Carneiro vem na seqüência (1974-1980) e divide com Eduardo Modiano um capítulo sobre a primeira metade dos anos 1980. Esse último autor encerra a obra com a “ópera dos três cruzados”, uma análise das tentativas de estabilização no final da década. Um anexo estatístico cobre o longo século republicano, contendo os principais indicadores da atividade econômica e das relações externas. Este livro pode ser completado pela leitura desta outra coletânea: Fabio Giambiagi, André Villela, Lavínia Barros de Castro e Jennifer Hermann (orgs.), Economia Brasileira Contemporânea (1945-2004) (Rio de Janeiro: Elsevier, 2005, 432 p.), do qual efetuei uma resenha, neste link de Parlata: http://www.parlata.com.br/
parlata_indica_interna.asp?seq=39.

10) Paulo Roberto de Almeida: Formação da Diplomacia Econômica no Brasil: as relações econômicas internacionais no Império (publicado em primeira edição em 2001; reedição em 2005 pela Senac-SP; ver em www.pralmeida.org).
Com a permissão dos leitores para esta demonstração de auto-indulgência, termino esta lista, narcisisticamente, por um dos meus livros. Eu poderia indicar outros livros de história diplomática do Brasil, mas disponho, aparentemente, de crédito suficiente – em matéria de pesquisa e de estudos acumulados na área da história e das relações econômicas internacionais do Brasil – para destacar minha própria investigação histórica sobre os fundamentos da nossa moderna diplomacia econômica, com a promessa de que vou continuar esse trabalho de pesquisa em dois volumes subseqüentes cobrindo o longo século republicano. Uma apresentação geral da obra foi feita neste artigo: “A formação da diplomacia econômica do Brasil”, Lua Nova, revista de cultura e política, São Paulo: CEDEC, n. 46, 1999, p. 169-195; link: www.pralmeida.org/04Temas/11academia/
05materiais/673FDERevLuaNova2.pdf
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Paulo Roberto de Almeida

quinta-feira, 8 de julho de 2010

A pergunta da semana (talvez do mes, quem sabe do ano?)

Is Lula Trying to Meet Every Despot in the World?

Matéria de Joshua Keating na Foreign Policy online (Wednesday, July 7, 2010)

Lula's latest dodgy friend

As part of what seems like a quest to get in a good photo-op with every one of the world's most despotic leaders before the end of his presidency, Brazilian President Luiz Inacio Lula Da Silva stopped in Equatorial Guinea yesterady for a meeting with President Teodor Obiang Nguema Mbasogo:

"Both presidents expressed their agreement to safeguard democratic principles, cooperate against organized crime and to combat other challenges facing both nations. President Obiang was pleased with the support of the Government of Brazil concerning the candidacy of Equatorial Guinea as a full member of the Community of Portuguese Language Countries (CPLP). President Obiang hoped that Equatorial Guinea would become a member of the Community in time for the next CPLP Summit to be held July 2011 in Luanda, Angola."

The two countries issued a Joint Communique, highlighting the good relations that exist between the two and called upon developed countries to "ensure that measures taken to remedy the worldwide economic crisis not affect the economies of developing countries."

As George Ayittey wrote in our most recent print issue, Obiang has been a kind of one-man economic crisis for Equatorial Guinea, having reportedly amassed a personal fortune of over $600 million off his country's massive oil reserves while his country remains one of the poorest in the world.

Responding to questions about the trip in the Brazilian press, Foreign Minister Celso Amorim replied, "business is business." But al Jazeera's Gabiel Elizondo seems broader aspirations in Lula's recent trips to Africa, which have taken him to an astounding 25 of the continent's 53 countries:

As the clock ticks down on Lula's term as president, it is becoming increasingly clear that he wants to play a large role on the international stage and his frequent trips to Africa as president will probably help shape his post-presidency life

He recently acknowledged this, saying that he will be looking for opportunities to work against poverty and hunger, particularly in Latin America and Africa.....

There has been some talk about Lula being a perfect fit to lead the UN's Food and Agricultural Organization (FAO), or to take on a special envoy role with Africa. He most certainly will start a foundation, possibly run by Amorim, his foreign minister.

But, whatever the future might hold for Lula after his presidency expires, it is a good bet it will involve work directly with the African continent - after all, he has an authentic knowledge of the continent like few other non-African leaders.

On the other hand, doing business with leaders like Obiang is not necessarily the best place to start combating African poverty.

Casal 20K: sucesso financeiro, em meio à crise...

Um fato excepcional, que não pode deixar de merecer o devido registro. Eu, você, e todos aqueles que fazem o maior esforço para preservar os ativos e tentar aumentar o valor patrimonial do que conseguimos duramente amealhar, com muito esforço, dedicação e trabalho insano, gostaríamos de saber como se faz para ter tanto sucesso como o casal K, que em meio à crise (na Argentina também), consegue aumentar seu patrimônio em 20%.
Um feito extraordinário, que merece ser comemorado:

Argentina: aumenta un 20 por ciento la fortuna del matrimonio Kirchner, según la prensa
El patrimonio del matrimonio Kirchner llegó en 2009 a los 55,5 millones de pesos (14,5 millones de dólares)

Infolatam, Buenos Aires, 7 de julio de 2010

La fortuna de la presidenta argentina, Cristina Kirchner, y su esposo y antecesor, Néstor Kirchner, creció un 20,65 por ciento en 2009, hasta unos 14,5 millones de dólares, según una declaración jurada del matrimonio publicada por el diario bonaerense La Nación.

La declaración jurada, que el matrimonio presentó a la Oficina Anticorrupción, señala que el incremento patrimonial respondió a la cancelación de millonarias deudas y la valorización de las acciones de dos de sus tres empresas, indicó el periódico.

En este sentido, apuntó que las deudas de la pareja se redujeron desde unos 4,87 millones de dólares declarados en 2008 a los 1,57 millones del año pasado, gracias a que tuvo ingresos por 4,18 millones de dólares, la mayor parte por alquileres e intereses de depósitos bancarios a plazo.

El patrimonio neto de los Kirchner mejoró además por un aumento del valor de las empresas Los Sauces y Hotesur, propietarias de sendos hoteles en la villa turística de El Calafate, en la Patagonia argentina, agregó.

La fortuna de la mandataria y su esposo fue motivo de denuncias penales presentadas por fuerzas de la oposición política el año pasado, cuando el matrimonio presentó una declaración jurada según la cual su patrimonio había aumentado en 2008 en un 158 por ciento, hasta unos 12,1 millones de dólares.

La polémica se agudizó al conocerse que Kirchner, quien gobernó entre 2003 y 2007, había comprado en 2008 dos millones de dólares en efectivo justo antes de que se apreciara la moneda estadounidense en el mercado local de cambios, regulado por el Banco Central.

Las demandas penales por el presunto enriquecimiento ilícito del matrimonio Kirchner fueron archivadas a fines del año pasado, cuando la Fiscalía se abstuvo de apelar un fallo judicial que había absuelto a la pareja.

Pero sigue su curso una demanda presentada por la Coalición Cívica, tercera fuerza parlamentaria, que acusa a la mandataria y a su esposo de enriquecerse aprovechando el acceso a información reservada, cargo que alude a la compra de dos millones de dólares antes de la apreciación de la moneda estadounidense en el mercado local.

De la última declaración jurada de bienes, surge que el patrimonio del matrimonio Kirchner llegó en 2009 a los 55,5 millones de pesos (14,5 millones de dólares) frente a deudas por 6,22 millones (1,53 millones de dólares).

Colombia-FARC: guerra sem treguas

Parece que se trata de uma situação de guerra, efetivamente. Vai que alguém tem ideia de se oferecer para mediação...
Nunca se sabe: toda guerra leva à perda de vidas humanas, e algumas são mais preciosas do que outras. Tem gente que se especializa em mediação. Pode ser que dê certo, desta vez... (PRA)

Colombia: abatidos en bombardeo 12 guerrilleros de las FARC
Uribe precisó que la operación se registró "en los Montes de María".

Infolatam
Bogotá, 6 de julio de 2010

Un total de doce guerrilleros de las FARC fueron abatidos en un bombardeo en el norte de Colombia y otros seis fueron detenidos en una acción conjunta de la Fuerza Aérea y la Armada, informó el presidente colombiano, Álvaro Uribe. Además, la Policía antinarcóticos de Colombia ha hallado un laboratorio de las FARC y se incautó de 723 kilos de cocaína

"A las cuatro de la mañana de hoy (09.00 GMT), después de una gran labor de inteligencia de la Armada y una acción de la Fuerza Aérea Colombiana, fueron abatidos 12 bandidos y capturados seis", señaló Uribe en un acto público en Bogotá. Añadió que "entre los abatidos está 'Canaguaro' y está 'Ciro', que venían como delegados de esa alhajita, de ese embajador del terror, que es 'Iván Márquez'" (alias de Luciano Marín Arango, uno de los jefes máximos de las Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colombia- FARC).

Uribe precisó que la operación se registró "en los Montes de María" y destacó que esa zona "es una de las que mejor recuperación muestra en Colombia" y que pretendía ser retomada por los enviados de "ese diplomático del terror" (Iván Márquez).

"Canaguaro" y "Ciro", dijo el presidente, "organizaron lo que podríamos llamar el intento del terrorismo de las FARC de la retoma de los Montes de María", tras la muerte en otro bombardeo en octubre de 2007, de Gustavo Rueda Díaz, alias "Martín Caballero", jefe del llamado "Bloque Caribe" de la principal guerrilla colombiana.

Uribe aludió a Jaime Manuel Lara Hernández o "Canaguaro", actual jefe del frente 35 de las FARC desde la muerte de "Martín Caballero", quien recientemente apareció en el documental "La Insurgencia del siglo XXI". Ese documental, de 112 minutos de duración y que despertó una polémica, señala que los miembros de las FARC son campesinos que cultivan la tierra y también muestra cómo decenas, cientos de jóvenes guerrilleros estudian en bibliotecas y forman grupos de lectura en plena selva. "Sabemos dónde está ese bandido de 'Iván Márquez'", puntualizó Uribe.

Además, la Policía antinarcóticos de Colombia halló un laboratorio de refinado de drogas de las FARC en una zona selvática y montañosa del departamento del Cauca (suroeste) y se incautó de 723 kilos de cocaína, informaron fuentes oficiales. Según las fuentes, el laboratorio pertenecía al frente 30 de las FARC.

En un comunicado, la Policía detalló que al llegar al lugar las unidades de antinarcóticos fueron recibidas por disparos de los guerrilleros al mando de alias "Mincho". Sin embargo, los comandos Jungla coparon el lugar y las unidades de investigación iniciaron el trabajo de recolección de material probatorio mediante el cual hallaron los 723 kilos de cocaína y 5,6 toneladas de sustancias químicas.

Mais um artigo publicado: sobre livre comércio

Publicado em versão mais resumida anteriormente em outro veículo:

O argumento a favor do livre comércio
Portal de Economia do iG (28.06.2010).
Relação de Publicados n. 977; relação de Originais n. 2159.

Copa do Mundo: vou acertar no bolao, estou apostando na Holanda...

Não, eu não entendo absolutamente nada de futebol, não torço por nenhum time, nem tenho esses ataques patrioteiros durante a Copa, que me fariam, hipoteticamente, vibrar pela "pátria em chuteiras", pela seleção "canarinho".
Nada disso. Mesmo não sabendo nada de futebol, mesmo não apostando um tostão furado na vitória de alguma seleção nacional em particular, vou apostar tudo o que tenho na Holanda, como a vencedora desta Copa, domingo próximo (aliás, já segunda, aqui na China).
Querem saber a razão?
É porque o Nosso Guia, o genial condutor de povos, está apostando na Espanha, que segundo ele é o mais próximo do Mercosul, do Brasil, da América Latina, whatever.
Ele já tinha apostado na Argentina, depois da eliminação do Brasil, e deu no que deu. Já tinha transferido suas preferências para a outra "seleção do Mercosul" (sic, resic, trisic), a do Uruguai, e nosso vizinho cisplatino ficou para trás.
Agora, Nosso Guia foca na Espanha, e eu já me sinto impelido a apresentar, preventivamente, condolências à seleção espanhola, pelas razões que vocês sabem, e que estão expostas com clareza neste post do jornalista Reinaldo Azevedo.
Leiam, e depois digam se eu não tenho razão em apostar na Holanda.
A conferir, domingo (aqui segunda).
Paulo Roberto de Almeida

EU BEM QUE AVISEI! O SECA-PIMENTEIRA FULMINOU A ALEMANHA!!!
Reinaldo Azevedo, 7.07.2010

Pois é… Eu não sou um desses analistas de pesquisas eleitorais que dão plantão em jornais, convertendo torcida em ciência, mas tenho minhas intuições com base em fatos.
- Lula grudou no Corinthians, que ambicionava a Libertadores. O Corinthians se danou!
- Lula grudou na Seleção Brasileira. A seleção perdeu (juntaram-se urucubaca com Dunga: parceria invencível).
- Lula exaltou as seleções do Mercosul. Foram caindo como moscas. Restou o Uruguai.
- Lula torceu para ao Uruguai. O Uruguai perdeu.
- Lula disse torcer para a Alemanha porque há um brasileiro no time. A Alemanha está fora.

Escrevi ontem este post aqui, ó:

O OLHAR FATAL DE LULA
Reflexões de Lula na Tanzânia. Leiam. Volto em seguida:

“Espero que tenha algum jogador brasileiro em alguma seleção que esteja disputando a final. Se for o Uruguai, nós temos pelo menos um bom jogador do Botafogo na seleção do Uruguai. Se for a Alemanha, nós temos um brasileiro naturalizado”.

“Nós temos como representante do Mercosul o nosso querido Uruguai e estaremos todos torcendo para que o Uruguai seja campeão do mundo. Nada contra os europeus, mas tudo favorável ao Mercosul.”


Comento:
Pois é… A Holanda tem uma seleção certamente superior à do Uruguai, e a tarefa dos companheiros já não era fácil. Mas aí veio a torcida do seca-pimenteira… Aí, meus amigos, não tem jeito: a vaca vai para o brejo mesmo.

A Alemanha, com o seu time dito multicultural - já houve tonto chamando a seleção alemã de “multirracial” (se “raça” não existe, por que existiriam “raças”?) -, deve fazer, sei lá, um culto ecumênico para se livrar da urucubaca.

Os alemães enfrentam os espanhóis amanhã. São muito superiores - mas agora contam com a torcida de Lula. Não há favoritismo que tenha resistido a esse “olhar”…

Quanto à tese das seleções do Mercosul, esposada até por certa babaquice jornalística, dizer o quê? O mais perto que o bloco econômico está da Copa, por enquanto, é a Espanha - e, mesmo assim, fazendo certa concessão ao “colonizador”, né? Pode-se defender também a torcida em favor da Holanda, uma homenagem à herança deixada por aquele povo em Pernambuco.

Seja como for, no terreno, diria, “espiritual”, a Seleção da Holanda passou a ser favorita. Lula não lançou sobre ela o seu olhar fatal.

Encerro
Os técnicos de Espanha e Holanda devem se precaver: desde já, repudiem a torcida de Lula. Nada sobrevive àquele olhar… E depois falam do pé frio de Mick Jagger?

Quer acertar o bolão, amigo? Tente saber para quem Lula está torcendo.

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Addendum (posterior ao post acima, como, aliás, é o sentido do termo em Latim):

“No creo en brujas, pero que las hay, las hay”
Reinaldo Azevedo, 8.07.2010

Ai, Ai… A Espanha, um dos países mais ferorosamente católicos do mundo, pode começar a rezar. Leiam trecho de reportagem da Folha. Volto depois.

Por Ana Flor, Eduardo Arruda e Fábio Zanini:
A Fifa conta com o presidente Lula como uma das estrelas na final da Copa do Mundo, mas a tendência dele ontem era faltar ao jogo decisivo e voltar ao Brasil amanhã ou sábado. Lula afirmou estar exausto a integrantes da comitiva que o acompanha em viagem a seis países africanos, segundo a Folha apurou.

Um assessor direto do presidente disse que a chance de ele não ir à final é de 90%. A decisão final, porém, ainda será tomada por Lula. Além disso, em jantar ontem à noite em Johannesburgo, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, comentou com o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), que Lula não deve ir à partida entre Holanda e Espanha.

Outro motivo, segundo Kassab, é que não há nenhum representante do Mercosul no jogo. Lula também não quer presenciar uma eventual festa da Holanda, time que eliminou o Brasil. Caso se confirme, a ausência do presidente poderá ser vista como uma desfeita para a Fifa, que ontem anunciou como confirmada a presença do brasileiro. No evento, Lula receberia simbolicamente a incumbência de organizar a próxima Copa, que acontecerá no Brasil em 2014.

Hoje, o presidente brasileiro participa, ao lado de Teixeira, de evento de lançamento do emblema da Copa brasileira, em Johannesburgo. Anteontem, ele criticou indiretamente o fato de Teixeira estar há 21 anos à frente da entidade. Aqui

Comento [Reinaldo Azevedo]:
Conhecem o famoso ditado “No creo en brujas, pero que las hay, las hay”? Pois é… O fato de Lula torcer por alguém ou algum time e os coitados sempre se defrontarem com o desastre não é uma dessas inevitabilidades cientificamente comprováveis, que rendam uma teoria, um conceito. Mas uma coisa é certa: trata-se de uma experiência empírica.

Se Lula não gostaria de assistir ao eventual triunfo holandês porque aquela seleção tirou o Brasil da Copa — na verdade, foram Dunga e Jorginho que o fizeram —, suponho que esteja torcendo para a Espanha. Que dureza!

Lutem, valentes! Eurico, o presbítero, enfrentou batalha bem maior! Huuummm… Se bem que esse exemplo não é muito bom. Vamos fazer o seguinte: rezem e acendam velas para o Anjo Custódio!

O fato é que “ele” está de olho em vocês…

Brasil: a caminho da mediocridade e da fantasia...

Inacreditável como o Brasil parece viver num mundo encantado, em todos têm direitos garantidos constitucionalmente. Não há, na Constituição, nenhum dever de produtividade, de eficiência, de redução de gastos, de racionalidade administrativa, de simples bom senso.
Uma coleção de ideias idiotas, sob a forma de leis propostas por outros idiotas, aplaudidas por um conjunto de néscios.
Estou absolutamente convencido, agora, de que o Brasil caminha para criar um sistema totalmente inviável, em que ninguém quer arcar com os custos, e todos querem beneficiar-se de benesses.
Neste caso, inclusive, o que choca é a total falta de responsabilidade: todos têm direitos, e nenhuma obrigação. Os traficantes devem estar satisfeitos.
Paulo Roberto de Almeida

Aprovada proposta que garante direitos constitucionais à juventude
07/07/2010 - 20h53

O Senado Federal aprovou nesta quarta-feira (7), com 52 votos favoráveis, e em regime especial de tramitação, a proposta de emenda à Constituição (PEC 42/08) que altera a denominação do Capítulo VII do Título VIII da Carta para atender os interesses da juventude. Esse capítulo, que trata atualmente dos interesses da família, da criança,
do adolescente e do idoso, passa a incluir também o jovem, conforme a chamada "PEC da Juventude".

A proposta, que vai à promulgação pelo Congresso Nacional, modifica ainda o artigo 227 da Constituição, com o mesmo objetivo de incluir menção ao jovem. Pela proposta, esse artigo passa a ter a seguinte redação: "É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito
à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência,
crueldade e opressão".

A PEC foi aprovada primeiramente pela Câmara, a partir dos trabalhos de uma comissão especial, e o primeiro signatário da proposta original foi o deputado Sandes Júnior (PP-GO). No Senado, a PEC foi aprovada pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) com três emendas de redação, cujo relator foi o então senador Expedito Júnior (PR-RO).

A votação foi acompanhada por representantes de diversas entidades representantes de jovens e de estudantes, que lotaram as galerias do Plenário e comemoraram o resultado.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Pausa... eleitoral (mas nao eleitoreira): os candidatos para outubro

Dentro em pouco, todos vamos nos chatear, pelo menos aqueles que estão no Brasil e que costumam assistir muito televisão (o que não é o meu caso, nem uma coisa, nem outra...)
Vamos (vocês vão) ter de assistir e ouvir muita bobagem, muita mentira, muita promessa vazia, muita cara de pau, com um ou outra frase verdadeira (talvez involuntária) aqui e ali. Um sufoco e um sacrifício...
Em todo caso, transmito a lista dos canditatos registrados no TSE, para fins apenas de conhecimento geral.
Não pretendo me ocupar dos nanicos, pois seria irrealista e non-sense...
Apenas três candidatos movimentarão os debates mais importantes, Dilma, Serra e Marina, cada qual empenhado em afundar o adversário e subir um pouco mais nas pesquisas.
Como sempre faço a cada eleição presidencial, pretendo seguir estreitamente programas e debates, propostas e promessas, mas apenas, seriamente, dos dois primeiros, pois mesmo Marina Silva me parece mais um voto alternativo sem condiçoes de subir muito.
Que vença o melhor (ops, impossível, por inexistência), ou antes, o menos pior...
Paulo Roberto de Almeida

Candidatos e candidatas:
(a presidente e a presidenta, pois esta imbecilidade também parece se firmar...)

1) Coalizão PT-PMDB (e outros partidos menores, como PCdoB, etc)
Dilma Rousseff (PT)
Vice – Michel Temer (PMDB)

2) Coalizão PSDB-DEM (e PTB e PPS)
José Serra (PSDB)
Vice – Índio da Costa (DEM)

3) Partido Verde
Marina Silva (PV)
Vice – Guilherme Leal (PV)

Nanicos:

4) Eymael (PSDC)
Vice – José Paulo da Silva Neto (PSDC)

5) Ivan Pinheiro (PCB)
Vice – Edmilson Silva Costa (PCB)

6) Levy Fidélix (PRTB)
Vice – Luiz Eduardo Ayres (PRTB)

7) Plínio de Arruda Sampaio (Psol)
Vice – Hamilton Moreira (Psol)

8) Rui Costa Pimenta (PCO)
Vice - Edson Dorta Silva (PCO)

9) Zé Maria (PSTU)
Vice – Cláudia Durans (PSTU)

Vendendo o Brasil...

...quero dizer: vendendo energia mais cara ao Brasil, que é um país generoso e pode pagar. Aliás, não só pode, como quer pagar, faz questão de pagar mais caro, o que poderia ser negociado em bases inteiramente de mercado, uma invenção velha e ultrapassado, agora substituída por negociações de irmão para irmão, ou de filho para mãe, ou vice-versa, enfim, vocês escolhem...

Opinião
Itaipu e os vários Paraguais brasileiros
Claudio J. D. Sales
O Estado de S.Paulo, 7 de julho de 2010

Após a eliminação do Brasil da Copa do Mundo da África do Sul, é importante voltarmos nossas atenções para um verdadeiro gol contra os brasileiros que está sendo maquinado pelo governo federal e sua base aliada no Congresso Nacional, em resposta a pressões de políticos paraguaios que não têm muito compromisso com a verdade. Se a Câmara dos Deputados aprovar o Projeto de Decreto Legislativo n.º 2.600/2010, que altera o tratado que deu origem à Usina Hidrelétrica de Itaipu (tratado assinado em 1973, peça jurídica perfeita e que deveria permanecer como tal até 2023), os brasileiros desembolsarão R$ 5,5 bilhões adicionais em benefício dos paraguaios.

Na audiência pública sobre o tema que foi realizada no dia 29 de junho, o representante do Ministério das Relações Exteriores, desprovido de argumentos racionais para justificar essa alteração descabida, apelou para comparações sem lógica, como "PIB do Paraguai antes de Itaipu versus PIB do Paraguai após Itaipu". O que estaria sugerindo o diplomata? Que Itaipu prejudicou o produto interno bruto (PIB) do Paraguai? Bem sabe o diplomata que a usina, que hoje responde por 15% das receitas paraguaias, só trouxe enormes benefícios ao nosso vizinho.

A prevalência da dimensão política sobre a técnico-econômica é marcante: o Ministério de Minas e Energia, colíder natural do tema, não assumiu posição de destaque sobre o assunto. Na mesma linha, é compreensível o comportamento recente do outro representante do governo na mesma audiência, que procurou defender a alteração do tratado e a doação bilionária aos paraguaios. Ficou evidente que esse competente profissional foi forçado a sucumbir às pressões do governo federal, de certa forma contradizendo suas inúmeras manifestações passadas ? em artigos, apresentações públicas e entrevistas ? contrárias à exploração política e oportunista dos paraguaios.

Mas não é possível tolerância parecida com aqueles diplomatas que pretendem influenciar os parlamentares sobre este tema sem estudar minimamente o setor de energia. Isso ficou claro na mesma audiência pública, diante da falta de domínio técnico do representante do Ministério das Relações Exteriores, que cometeu erros conceituais graves ? propositais ou não ?, como confundir "venda de energia" com "remuneração por energia excedente". Talvez a aposta fosse que, complexo como é o setor energético, ninguém percebesse as falácias ali apresentadas. Aposta errada.

Toda a estratégia do governo federal consiste em defender o seguinte raciocínio: apesar de não haver nenhuma necessidade de alteração, e apesar de o Paraguai ter sido beneficiado com a propriedade de 50% da usina sem ter assumido nenhum risco (já que 100% do financiamento para a construção da usina foi feito com garantias do Tesouro brasileiro), precisamos prover "novas ajudas" aos nossos irmãos paraguaios, tão necessitados.

Esquecem esses políticos que a grande ajuda ao Paraguai é dada pelo próprio Tratado de Itaipu, que possibilitou que o país se tornasse proprietário de 50% da usina sem que tivesse à época (assim como não tem hoje) condições financeiras para tal. Esses senhores também se esquecem de olhar ao seu redor e perceber que em nosso Brasil há vários "Paraguais" que poderiam ser muito beneficiados com os R$ 5,5 bilhões que o governo federal quer caridosamente transferir para o governo Fernando Lugo.

No âmbito de nossas prioridades, temos, por exemplo, a situação vivida nas últimas semanas por dois Estados brasileiros. As enchentes em Pernambuco e Alagoas já causaram mais de 50 mortes e deixaram esses Estados em situação mais do que crítica. Curiosamente, os Índices de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco e Alagoas (0,718 e 0,677, respectivamente) são menores que o do Paraguai (0,752).

Também não se pode esquecer que em 1986 e em 2005 já houve alterações, em benefício dos paraguaios, na mesma remuneração atualmente em discussão. Em ambas o Congresso não foi ouvido ? atos que podem até mesmo ser interpretados como inconstitucionais. E mais recentemente, em 2007, o governo federal decidiu liberar o Paraguai do pagamento da correção da dívida, imputando esse ônus aos consumidores brasileiros.

Esses episódios provam que os pleitos e as pressões paraguaias nunca cessarão. Ceder agora revelará que o Brasil admite "dever" algo ao Paraguai ? o que é uma grande falácia; e ficará aberta uma enorme avenida para futuras demandas ao sabor dos próximos governos paraguaios, que sempre verão em Itaipu tema predileto em suas campanhas eleitorais. Onde passa um boi...

É hora de saber quem de fato está do lado do povo brasileiro. Espanta ver alguns deputados de nosso país colocando paraguaios antes de brasileiros igualmente carentes. A esperança é que podemos contar com um bom número de parlamentares capazes de dar transparência às ações político-ideoló gicas de governantes, como ficou evidenciado -- e documentado -- no debate daquela audiência pública.

Chegou a hora de dizer não a mais um pleito de alteração do Tratado de Itaipu. Essa é a melhor forma de dizer sim a essa obra, que tem gerado tantas riquezas para o Brasil e para o Paraguai e, após 2023, será uma verdadeira "Casa da Moeda" para os paraguaios: dívidas quitadas, receitas livres, a partir de uma obra viabilizada integralmente pelo Brasil.

Da mesma forma que Itaipu, em 1973, "inundou" uma disputa territorial entre Brasil e Paraguai, é hora de "afogar" mais uma manifestação de uso político-eleitoral- ideológico-oportunista e evitar que sejam extorquidos R$ 5,5 bilhões dos milhões de brasileiros que anseiam por esses recursos para que seja mudada a sua dura realidade.

Presidente do Instituto Acende Brasil
Site: www.acendebrasil.com.br

O Brasil enlouqueceu (a comecar pelos candidatos)

Cada um, agora, vai se esforçar para ser mais irresponsável do que o outro.
Por que não, por exemplo, prometer logo uma casa e um carro para cada beneficiário do Bolsa Família?
O que impede o Estado de ser assim generoso e de estancar de vez a miséria das massas?
Paulo Roberto de Almeida

Serra diz que vai duplicar Bolsa Família; economistas dizem que meta é factível
Folha de S.Paulo online, 7.07.2010

No primeiro dia oficial de campanha, o candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, prometeu ontem, em Curitiba, mais que duplicar os investimentos no Bolsa Família. Os recursos atenderiam, de acordo com o tucano, outras 15 milhões de famílias que deveriam ser assistidas pelo programa. Sua oponente petista, Dilma Rousseff, acusou a oposição anteontem de ter tentado acabar com o principal programa social da gestão Lula.

“Qual é a nossa meta? É partir para a erradicação da pobreza de todas as famílias abaixo da linha da pobreza”, discursou Serra, em encontro organizado pelo PSDB para discutir a expansão da rede de assistência social. O Bolsa Família atende hoje cerca de 12,6 milhões de famílias e, com a promessa de Serra, chegaria a 27,6. “Temos no Brasil, abaixo da linha da pobreza, 15 milhões de famílias com renda per capita familiar de até meio salário mínimo. O Bolsa Família não cobre isso.” Segundo o candidato tucano, “com crescimento sustentável e política macroeconômica adequada, dá para chegar a isso [ao número de 27,6 milhões de famílias]“.

Serra fez uma comparação com o pagamento anual de juros para estabelecer a nova meta de atendimento. “Sabem quanto custa um programa como o Bolsa Família? R$ 12 bilhões. É 5% do que se paga em juros. Dá para duplicar [o investimento no Bolsa Família] e vai para 10%”, disse. A promessa de Serra é “possível e desejável”, na opinião do economista Marcelo Neri, do CPS-FGV (Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas). Para Neri, o programa poderia tirar da pobreza metade dos 29,5 milhões que ainda vivem no Brasil com renda mensal inferior a R$ 140.

O impacto nas finanças do país seria “relativamente pequeno”, na opinião do economista da FGV e dependeria apenas da vontade política do candidato. O economista do Instituto de Ciências Políticas da UnB (Universidade de Brasília) Ricardo Caldas disse que a ampliação do programa dependerá de prioridades. Para ele, teria que se analisar quais pessoas seriam incluídas: se donas de casa que deixaram de trabalhar para cuidar dos filhos, desempregados, ou jovens.

As dez maiores bobagens economicas de toda a historia (e ainda tem mais)

John S. Chamberlain fez um otimo trabalho, mas ele se esqueceu de mirar "South of the Border", como diria Oliver Stone (esquecendo que a Venezuela não está exatamente south of the border, mas sim un poquito más abajo).
Se ele examisse a situação econômica da Venezuela, justamente, teria amplo material para sua coleção de bobagens econômicas, e todos os dias, graças aos esforços desse profesor de economía al revés, Mister Chávez, o maior e melhor professor de economia que possamos ter em todo o hemisfério (se calhar em todo o mundo, tirando Robert Mugabe), desde que vocês simplesmente invertam as políticas: um manual perfeito de economia política, com demonstrações práticas todos os dias...
Enfim, à falta de El Profesor, fiquem mesmo com essas:

Ten Economic Blunders from History
by John S. Chamberlain
Mises Daily, July 7, 2010

Take cover when you hear a political leader talking about economic affairs. You can bet a bad decision is incoming. Luckily for the leaders, their meddling usually has a slow, erosive effect on the economy. Every so often, however, the great ones manage to land a real whopper that takes them down along with their whole country. Here are ten examples from history.

1. Charge Too Much and You Die
In the year 301, the Roman emperor Diocletian issued the Edictum De Pretiis Rerum Venalium, i.e., the Edict on Prices of Foodstuffs, which rebalanced the coinage system and set maximums on wages and the prices of many types of goods, especially food. The penalty for selling above the stipulated prices was death. Copies of the edict were inscribed on stone monuments all over the empire. Here's a tip for future dictators: never inscribe your blunders on stone unless you want people to laugh at you for the rest of eternity. The edict was a disaster. Sellers withdrew their goods, unwilling to sell at the fixed prices or even risk being falsely accused of selling beyond the maximum and thus be subject to execution. Workers responded to the wage edicts by vanishing or sitting around doing nothing. Eventually the edict was ignored and became a subject of derision and mockery which permanently lowered the prestige and authority of the empire.

2. Shearing the English Wolf
You know you are doing something wrong when your enemies become folk heroes like Robin Hood. Common sense is to tax the weak and give money to the strong, but after his failure in forestry policy King John of England decided to try the reverse. He relieved the knights of the realm from their military service requirements, but then ordered them to pay instead a hefty "scutage" (shield) tax. Soon, there were 10,000 Robin Hoods trying to kill him and going about it in an organized fashion. Signing the humiliating Magna Carta in 1215 bought him some time, but by the next year he was living on the lamb. After his folly-won treasure was washed away in a mistimed river crossing, he went crazy and died soon after.

3. Paper Money Is Amazing
The fifth Khan of Persia was named "Gaykhatu," which means "amazing" in Mongolian. After recklessly squandering the money left by his predecessors he was in no position to cope with a massive rinderpest epidemic that began devastating his subjects' livestock in 1294. Amazing came up with an amazing solution to his financial problems: paper money. Invented by his boss, Kublai Khan, back in China the idea of paper money was a godsend. He would print up certificates just like the Chinese ones, decree death for anyone who refused them, and all his problems would be solved. Amazing! Unfortunately for Amazing he did not fuss too much with technical details like convertibility and capital controls, which Kublai Khan had agonized over, and the result was the total failure of the project. Economic chaos ensued. Amazing was deposed and put to death the next year.

4. I'll Buy Every Sword You've Got
In the Muromachi period (1336 to 1573), Ming dynasty Mandarins in China adopted a policy of buying and importing swords from the Japanese with the goal of depriving the troublesome "barbarians" occupying those islands of their weapons. The gleeful reaction of the Japanese was along the lines of Jay Leno's Doritos commercial: buy all you like; we'll make more.

5. No Smuggling Allowed
Price controls are stupid anytime, but it takes true idiocy to apply them in the middle of a siege. In 1584 forces controlled by Alexander Farnese, the duke of Parma, were besieging Holland's grandest city, Antwerp, in the Dutch War of Independence. At first the siege was ineffectual because the duke's lines were porous and Antwerp could be supplied by sea, but the duke was in luck because the city decided to blockade itself voluntarily. The magistrates of the city declared a maximum on the price of grain. The smugglers who had been running the blockade up to that point became considerably less enthusiastic about making food deliveries after that. Facing starvation, the city surrendered the next year.

6. The Gold Factory of Venice
In 1590 the Republic of Venice was in decline. Nineteen years earlier it had gloriously fended off the Ottoman Turks by a tremendous victory at the Battle of Lepanto, but had nevertheless lost Cyprus, the republic's greatest possession. In 1585 the newly elected doge had thrown silver coins instead of the traditional gold at his ascension. Weighed down by taxes, imposts, tariffs, duties, tithes, assessments and fees, the economy had seen better days. From out of this gloom a new hope unexpectedly appeared. A long-lost Venetian named Marco Bragadini, currently resident in nearby Lombardy, had discovered how to make gold. The republic had to act fast, though, because the duke of Mantua was trying to lay his hands on this valuable goose. A cohort of soldiers was sent forthwith and Bragadini was securely delivered into the city in triumph by three galleys. Rigorous scientific tests were ordered by the senate to verify the power of the "anima d'oro," which Bragadini alone possessed. The alchemist filled a crucible with quicksilver, added a pinch of his secret powder and set it to fire. Soon the quicksilver turned to gold; it was all true. The price of alchemist capes and retorts skyrocketed. Signor Bragadini coolly informed the senate he could produce six million ducats or whatever they would require. For himself he wanted nothing but to be the humble servant of his country. Naturally, the senate put all the resources of Venice at his disposal. Nobles flocked to Bragadini by the dozen, imploring him to cut them in on his business. The months wore on, but the production of the new gold factory was disappointingly meager. Apparently there were limits to the speed with which the gold could be manufactured. Sensing a mounting impatience with his operations Bragadini absconded to Munich where Duke William the Pious was wooing him. Unfortunately for the maestro, in the meantime Pope Sixtus had died and been replaced with the sanctimonious Pope Gregory XIV who considered the alchemist and his two dogs to be the devil's spawn and sent orders for their execution — with which William complied. The senate of Venice decided to pretend the whole thing never happened.

7. How to Deal with Hoarders
As the famine-fueled French Revolution careened out of control in 1793, a radical clique called the "Committee of Public Safety" headed by Maximilien Robespierre took power. The committee resolved to solve the food problem by enacting the "General Maximum," a set of policies fixing the maximum price of bread and other common goods. When those measures failed to increase the supply of food, they sent soldiers into the countryside to forcibly seize grain from the evil farmers who were "hoarding" it. Robespierre and the committee went to the guillotine the next year.

8. A Hobo's Dream, An Empire's End
In 1880, railroad technology was advancing rapidly, and the Russians received several private petitions for a concession in the Far East. To the paranoid patricians of Moscow, it was not enough to merely deny these foreign schemers; they needed to build their own railroad to the east to keep them out. Under the leadership of His Royal Paranoidness, Czar Alexander III, the Russian state began taking out massive foreign loans and constructing the 5,000-mile Trans-Siberian Railway, the largest civil-works project since the Great Pyramid of Giza. Alexander (and his empire) would later die from injuries sustained in a railroad accident. By the time the corruption-ridden boondoggle was completed in 1904, Alexander's son, Nicholas II, was technically bankrupt. Wars and revolts started to plague the empire. Instead of carrying trade goods, the new railway was carrying political prisoners and supplies for soldiers. When Russia rolled over its debts in 1907, it was obvious to the large banking houses that the empire was financially doomed and only small investors could be found to subscribe the new loans. Even with these loans suspended, Russia's economy was so weak that it would not survive the coming war. Nicholas was executed July 16, 1918.

9. It Takes a Village to Build a Famine
The 1984 crop failure in Ethiopia presented a fresh set of problems for the Marxist junta called the "Derg" that controlled the government. The nationalization programs and price controls they had been experimenting with for years seemed less effective than ever. Obviously the remnants of capitalism were still infecting the economy, so they took vigorous measures such as outlawing grain trading. Oddly enough, that did not stop the famine. The chairman, Mengistu Haile Mariam, inspired by the brilliant agricultural successes of Secretary Stalin in the 1930s thereupon sponsored a whole new idea dubbed "villagization." Under this plan the scattered rural inhabitants of Ethiopia would be gathered together in modernized villages with all the latest civic infrastructure. As might be expected, not all the beneficiaries of this plan realized what utopias these villages would be so they had to be driven there at gunpoint for their own good. Unfortunately, the expected increases in agricultural production never materialized and millions starved. The country descended into a permanent state of civil war, which only ended in 1990 after the Soviet Union stopped supplying the Derg. Mengistu fled to Zimbabwe where he has become an important advisor to that nation's rulers.

10. Rubles: Now You See Them, Now You Don't
On January 22, 1991, Mikhail Gorbachev, the president of the Soviet Union, decreed that all existing 50- and 100-ruble banknotes were no longer legal tender and that they could be exchanged for new notes for three days only and only in small quantities. This had the effect of instantly deleting large portions of the savings and accumulated capital of private citizens. He followed up this genius move on January 26, by ordering that the police had the authority to search any place of business and to demand the records of any business at any time. The union's economic problems accelerated into a death spiral. Gorbachev resigned on December 25, and on the next day the Supreme Soviet dissolved itself and the Union of Soviet Socialist Republics.

John S. Chamberlain lives in Natick, Massachusetts, and works as a software engineer specializing in earth science and artificial intelligence. He has an A.B. in politics from Princeton University and an M.S. in computer science from Northeastern University. See John S. Chamberlain's article archives.


Eu tenho para apresentar várias outras falácias, algumas econômicas em minha série a respeito. Ver neste link.

Reforma do Sistema Monetario Internacional - Relatorio da Chattam House

Divulgando uma recomendação, mas confesso que ainda não li, por falta de tempo. Registro, justamente, para ler depois...

Reform of the International Monetary System
Press Releases, Chatham House, 18 March 2010

Reform of the international monetary system has never been more urgent, says this new report.

Beyond the Dollar: Rethinking the International Monetary System maps out proposals for a new international monetary order and look at ways in which monetary authorities and political leaders can help prepare the ground for a new system and facilitate the transition.

The report features contributions by prominent experts and practitioners, including Dr DeAnne Julius, former member of the Monetary Policy Committee of the Bank of England, and Jim O' Neill, Head of Global Economics, Goldman Sachs and creator of the acronym BRICs.

In his chapter, 'A Twenty-First Century International Monetary System', Jim O' Neill says:

'Within 20 years, the combined size of the so-called BRIC economies will possibly equal those of the United States and European Union together. What kind of international monetary system will be necessary for such a world, and can we start to devise one today for such an eventuality?'

While the theme of reform may not be new, the authors conclude that the need has never been more urgent.

Key recommendations include:

* A multicurrency reserve system for a multipolar world economy
* Develop a multicurrency reserve system that is appropriate for a world of regional trading blocs - Europe, Asia, the Americas - alongside a still pre-eminent dollar.
* Encourage a more extensive use of Special Drawing Rights as a supranational currency alongside international reserve currencies that are issued by sovereign states.
* Promote dialogue and policy coordination to provide stability, confidence and balanced adjustment
* Encourage international dialogue between countries issuing a reference currency and individual or groups of countries using the reference currency.
* Strengthen the role and legitimacy of international institutions
* The surveillance role of the International Monetary Fund (IMF) can be reinforced to address more effectively the problem of exchange rates and payments disequilibrium.
* Steps must be taken to safeguard the system against over-reliance on a weakened dollar, including expansion of the Special Drawing Rights.
* The shape of the international monetary system for the 21st century will be significantly influenced by the interests and the requirements of the emerging powers
* The dollar-based monetary system is no longer adequate for a larger and more integrated world economy. Prominent developing economies are increasingly demanding to be included in any multilateral dialogue that aims to shape the new economic order.

Notes to Editors

Read Beyond the Dollar: Rethinking the International Monetary System - Executive Summary

The report is edited by Dr Paola Subacchi and John Driffill, with contributions from Paul Collier, Dr DeAnne Julius, Jim O'Neill and others.

Press Office:
Nicola Norton: +44 (0)20 7957 5739; +44 (0)7917 757 528
Sara Karnas: +44 (0)20 7314 2787; +44 (0)7958 669 785
pressoffice@chathamhouse.org.uk

Como (Nao) Crescer a 7%; mais recente trabalho publicado

Apenas avisando os navegantes e curiosos:

978. “Como (Não) crescer a 7%
Espaço Acadêmico (ano 10, n. 110, julho 2010, p. 73-83).
Relação de Originais n. 2155.

O poderoso chefao da diplomacia brasileira...

Ops, como se dizia antigamente: qualquer semelhança é mera coincidência...

Nem o Barão nem o Chefão
Rolf Kuntz *
O Estado de S.Paulo, 7 de julho de 2010

Dom Vito Corleone jamais cursou uma faculdade e nunca foi diplomata, mas sabia falar com economia e precisão. Dava um recado sério quando usava as palavras "só negócio, nada pessoal". Falta essa clareza à diplomacia brasileira, talvez porque a sua percepção dos interesses e valores seja menos clara que a do chefão criado por Mario Puzo. O chanceler Celso Amorim teve uma educação e uma experiência internacional inacessíveis ao velho mafioso, mas seu discurso é muito menos convincente. "Negócios são negócios", disse o ministro à imprensa brasileira, na Guiné Equatorial, para explicar - e justificar - a boa vontade do governo brasileiro em relação ao ditador Teodoro Obiang Nguema Mbasogo.

A Guiné Equatorial foi a segunda escala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na viagem à África iniciada no último fim de semana. Foi uma visita de Estado e o presidente africano foi convidado, como era previsível, a retribuí-la. Este convite foi um dos poucos detalhes normais nessa operação diplomática. A maior parte dos outros atos só se explica pela combinação das duas marcas principais da diplomacia petista, a vocação para as trapalhadas e a atração pelo autoritarismo.

O mau uso da palavra "negócio" nas explicações do chanceler brasileiro reflete essa dupla característica da atual política exterior. Para começar, o governo brasileiro pagou certamente mais que o necessário para promover os interesses do País na relação com a Guiné Equatorial. Quase nulo até o ano 2000, o comércio bilateral chegou a US$ 414,22 milhões em 2008 e no ano seguinte, em consequência da crise, recuou para US$ 302,84 milhões. A Guiné tem sido superavitária, exportando hidrocarbonetos e importando alimentos e produtos industriais do Brasil. Só para equilibrar o intercâmbio, os brasileiros deveriam exportar uns US$ 200 milhões a mais.

Há, portanto, boa margem para expansão das trocas. Um bom trabalho de promoção de comércio e investimentos poderia facilitar o aumento dos negócios. Mas o governo brasileiro aceitou pagar um sobrepreço por esse resultado. Comprometeu-se a apoiar o ingresso da Guiné Equatorial na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, embora esse idioma não seja o seu idioma corrente. Além disso, o presidente Lula e seu colega Obiang "renovaram", na declaração conjunta, "sua continuada adesão aos princípios da democracia, ao respeito dos direitos humanos e ao Estado de Direito". Poderia ser uma boa piada, se o presidente Lula não envolvesse nessa jogada o nome do Brasil.

Não houve nesse lance nem a fidelidade a princípios, nem o cálculo estritamente realista. As melhores tradições da diplomacia brasileira foram abandonadas em 2003, quando o presidente Lula recauchutou a velha bandeira do terceiro-mundismo. O distanciamento aumentou quando o governo passou a usar essa bandeira para promover uma ambição irrealista de liderança em relação aos países em desenvolvimento.

Os preços pagos por uma liderança nunca reconhecida de fato fora das fronteiras do Brasil foram sempre muito altos. O governo brasileiro se dispôs a engolir e a justificar desaforos dos parceiros sul-americanos, como se isso bastasse para consolidar sua preeminência regional. Nunca deu certo.

No comércio, a retribuição veio na forma de barreiras contra produtos brasileiros e de aumento de importações da China. No campo dos investimentos, houve ações contra interesses da Petrobrás e tentativas de rompimento de contratos. Na articulação diplomática, o Brasil colecionou derrotas incomuns. Não obteve apoio para eleger candidatos à direção-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC) nem à presidência do Banco Interamericano do Desenvolvimento (BID). No caso da OMC, os africanos apresentaram candidato próprio e acabaram, na rodada final, apoiando o nome apresentado pelos europeus.

Na América Latina, os governos das maiores economias têm rejeitado a pretensão brasileira de ocupar uma cadeira permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Quando o presidente Lula resolveu intrometer-se nas discussões sobre o programa nuclear do Irã, ficou falando quase sozinho. Os dois Brics com assento permanente no Conselho de Segurança, Rússia e China, apoiaram as sanções propostas por americanos e europeus.

O Barão do Rio Branco certamente não reconheceria princípios nem interesses nacionais nesse arremedo de estratégia diplomática. Dom Vito Corleone acharia estranhíssimo o uso da palavra "negócio". Mas gente como Teodoro Obiang Nguema Mbasogo deve gostar muito.

* Jornalista.

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Bom negócio para o ditador
Editorial
O Estado de S.Paulo, 7 de julho de 2010

"Negócios são negócios", disse o chanceler Celso Amorim para justificar a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao ditador Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, presidente da Guiné Equatorial há 31 anos. Esse longo período, iniciado com um golpe contra seu tio, Francisco Macías Nguema, foi para ele uma fase de grande prosperidade pessoal ? de excelentes negócios, portanto. Tornou-se o oitavo governante mais rico do mundo, segundo a revista Forbes, graças a métodos não recomendados pelas escolas de administração: violência contra os opositores ? incluindo o assassínio ?, corrupção e estrito controle da vida política de seu país.

O presidente Lula incluiu nos negócios com seu novo amigo o apoio à inclusão da Guiné Equatorial na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). O comunicado conjunto emitido no final da visita menciona a satisfação do presidente Obiang por esse apoio. Os países da comunidade nada ganharão com o ingresso desse novo sócio. Mas uma ditadura conhecida por sua violência e pela corrupção ganhará mais um foro para se manifestar e mais espaço na cena internacional,

Não se fala português na Guiné Equatorial, mas a diplomacia brasileira não se deixou impressionar por esse detalhe. Apesar de tudo, a língua portuguesa é um dos idiomas oficiais do país, por ato assinado em 2007 pelo ditador. Os portugueses chegaram à região em 1470. Logo depois apareceram espanhóis e ingleses. O controle ficou para a Espanha entre 1778 e 1968, ano da independência.

A Guiné Equatorial já exporta petróleo para o Brasil e empresários brasileiros poderão participar de seus programas de obras. Essas transações correspondem ao sentido mais comum da palavra negócio. Será necessário muito mais que o interesse material para estimular o comércio e o investimento? Certamente não, mas o presidente brasileiro deve pensar o contrário.

Além de usar a CPLP para facilitar seus "negócios" com o ditador da Guiné Equatorial, o presidente Lula emprestou seu nome a uma declaração com a seguinte preciosidade: "Os dois chefes de Estado reconheceram a importância da democracia para o desenvolvimento e renovaram sua continuada adesão aos princípios da democracia, ao respeito aos direitos humanos, ao Estado de Direito e à boa governabilidade política e econômica no marco da formulação de suas políticas nacionais de desenvolvimento." Também isso é parte dos negócios?

Nenhum jornalista pôde formular essa ou qualquer outra pergunta quando foi apresentado o comunicado conjunto. Lula e seu novo amigo, sentados lado a lado, ouviram um funcionário africano ler a declaração. Repórteres apenas assistiram à cerimônia, mas puderam conversar com o chanceler brasileiro, "Não estamos ajudando nem promovendo ditadura", disse o ministro, classificando como "pregação moralista" as críticas à aproximação com o ditador.

Não é o que os fatos mostram nem o que está no comunicado, no qual o governo brasileiro se dispõe a promover os interesses políticos de uma ditadura e a dar respeitabilidade a um governante conhecido por seu desprezo à democracia. Além de assumir o compromisso em relação à CPLP, convertida em objeto de "negócios", o presidente Lula avalizou uma declaração do ditador Obiang a favor da democracia, do respeito aos direitos humanos e do Estado de Direito.

"Quem resolve o problema de cada país é o povo de cada país", acrescentou o ministro. Também essas palavras os fatos desmentem. Brasília interveio nos assuntos internos de Honduras, abrigando em sua embaixada um ex-presidente introduzido ilegalmente no país e permitindo-lhe atuar na política durante quase cinco meses. Pode-se discutir se a deposição de Zelaya foi ou não um golpe, embora determinada pelo Congresso e pela Corte Suprema. Há justificativas legais para os dois lados. Mas sobre a interferência brasileira não há dúvida. Quanto ao povo hondurenho, elegeu no fim do ano passado um novo governo, que o Itamaraty não reconhece enquanto o presidente deposto não for reintegrado à vida política nacional. Não se vê perspectiva semelhante para o povo da Guiné Equatorial nem para os povos comandados por outros ditadores amigos do presidente Lula.

Kissinger, realista cinico, e assassinos deliberados: Stalin, Hitler, etc...

Meu amigo virtual Vinicius Portela observou, com razão, que, num trabalho dedicado ao realista cínico Henry Kissinger, eu tinha aproximado esse personagem de ditadores bem mais conhecidos.
Eis a passagem de meu trabalho:

"...Kissinger jogou o jogo de forma tão competente quanto todos os demais atores da grande política internacional, Stalin, Mao, Kruschev, Brejnev, Chu En-lai, Ho Chi-min e todos os outros, ou seja, não há verdadeiramente apenas heróis de um lado e patifes do outro. Todos estão inevitavelmente comprometidos como pequenos e grandes atentados aos direitos humanos e aos valores democráticos."

Faz parte deste pequeno ensaio, agora disponível no link abaixo, deste mesmo blog:

O legado de Henry Kissinger
Paulo Roberto de Almeida
Mundorama, 05/06/2008


O velho Kissinger: o realismo cínico de um grande intelectual e um estadista sem escrúpulos (segunda-feira, 5 de julho de 2010)
Aproveitando a (duvidosa) homenagem que se faz o intelectual e homem de Estado (ver post Os novos Kissingers), transcrevo um artigo que escrevi em 2008. (no link acima) (...)

Bem, gostaria agora de retificar o que afirmei acima, num pequeno ensaio escrito muito rapidamente, sem o tempo necessário de reflexão e revisão.
Não, não creio que Kissinger possa ser colocado na companhia desses ditadores absolutos, déspostas sem escrúpulos e assassinos quânticos.

Stalin e Hitler ficariam bem na companhia de Mao Tsé-tung, Pol Pot e outros grandes assassinos da história (com h minúsculo no caso deles, embora eles certamente pertenceram à grande História). Os outros citados -- Kruschev, Brejnev, Chu En-lai, Ho Chi-min -- pertencem a uma outra categoria de figuras históricas, alguns ditadores, outros simplesmente estadistas, outros personagens patéticos (como Kruschev, depois de ter sido um auxiliar devotado de Stalin), à qual tampouco pertence Kissinger.

Este poderia fazer companhia a Chou En-lai, Metternich, Thiers, Foster Dulles e outros estadistas e diplomatas, com a vantagem, talvez, que Kissinger tinha consistência intelectual e não era apenas um negociador frio e calculista como Thiers.
Antes de se tornar um homem de Estado, Kissinger foi um scholar, um estudioso, pesquisador da diplomacia, do equilíbrio de poderes e da dissuasão. Usou um pouco de sua bagagem intelectual quando esteve a serviço da diplomacia americana, mas basicamente deixou de lado alguns de seus valores acadêmicos para afirmar prioritariamente os interesses primários, muitas vezes brutais, dos Estados Unidos.
Não hesitava em ordenar operações da CIA, quando achava que algum ditadorzinho metido a besta -- ou seja, querendo jogar nos dois lados da balança, ou mesmo se alinhar com os interesses soviéticos -- poderia ameaçar posições fundamentais dos EUA.
Mas, não creio, sinceramente, que tenha ordenado massacres ou torturas de civis. O que ocorreu, e certamente ocorreram efeitos desse tipo nos golpes e operações em que ele esteve envolvido -- bombardeio do Vietnã do Norte, do Laos, golpe de Pinochet no Chile, complôs em Portugal, etc -- eram por ele considerados como "side effects" do grande jogo estratégico, no qual só havia um grande contendor, os outros sendo meros piões secundários, mesmo potências nucleares como França e Inglaterra.
A China, em sua época, não era ainda um contendor estratégico, mas um aliado involuntário no grande jogo com a União Soviética.
Kissinger acreditava no equilíbrio de poderes, um pouco como Castlereagh, e certamente não imaginava que seria possível desmantelar a União Soviética numa corrida armamentista e tecnológica como aquela conduzida por Ronald Reagan.
Ele provavelmente teria gostado de ter continuado a servir os EUA sob um presidente conservador como Reagan, mas provavelmente teria aceito servir qualquer presidente, já que não era um político, mas um estrategista.

Encerro este comentário me redimindo, portanto, do pequeno erro graciosamente levantado pelo Vinicius, a quem agradeço por ter me chamado a atenção para essa inconsistência em meu texto, e vou preparar um outro trabalho, talvez "necrológico", para fazer uma avaliação da obra de Kissinger, quando ele se despedir deste nosso mundo...
Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 7.07.2010)

terça-feira, 6 de julho de 2010

Diplomacia de Lula, poco de contradicoes - Miriam Leitao

Bota poço nisso...
Na verdade, a razão de tudo isso é muito simples, tão simples que basta ter olhos para olhar e chegar a uma conclusão clara, cristalina. Não é preciso nem dizer do que se trata. Para bom entendedor...

Valores relativos
Miriam Leitão
O Globo, 6 de junho de 2010

O ministro Celso Amorim deu uma resposta padrão para as críticas em relação à visita a Guiné Equatorial dirigida pelo ditador Obiang Mbasogo: disse que ’negócios são negócios’. De fato, são.

Mas a diplomacia sabe também que gestos são gestos. Uma coisa é visitar, outra é acolher na Comunidade de Língua Portuguesa um país que sequer fala o português.

Na espantosamente equivocada diplomacia do governo Lula tudo vive misturado.

Só para lembrar: o Brasil não reconhece o governo de Honduras.

Em maio, condicionou a ida do presidente Lula à reunião da Cúpula União EuropeiaAmerica Latina, na Espanha, a que o governo de Madrid desconvidasse o presidente de Honduras, Porfírio Lobo, alegando o golpe contra Manuel Zelaya. Bom, houve sim um golpe, mas o governo de Lobo foi eleito.

O país tão radicalmente defensor de princípios em Tegucigalpa não faz o mesmo no circuito Havana, Caracas, Teerã; nem parece o mesmo que abona a ditadura corrupta e truculenta da Guiné Equatorial com o argumento de que “negócios são negócios”. O país que não comenta a situação interna do Irã, alegando respeitar o princípio de não interferência em assuntos internos, é o mesmo que compara os presos políticos cubanos a criminosos comuns e que afronta a oposição venezuelana afirmando que na Venezuela tem “democracia demais”.

A diplomacia do governo Lula é um poço de contradições insanáveis. Outro argumento usado pelo ministro das Relações Exteriores é que “o isolamento e a distância só farão com que o país fique mais perto de outros e fique mais longe do que desejamos”.

Esse é o mesmo argumento usado para justificar relações fraternas com Mahmoud Ahmadinejad, sem qualquer pergunta a respeito das abusivas condenações à morte de cidadãos que se manifestaram contra as fraudes nas eleições do ano passado.

Quando foi a Tripoli, o presidente Lula fez declarações sobre uma suposta redemocratização do país que estaria sendo conduzida por Muammar Kadhafi.

Quando convém, o governo Lula usa um dos três argumentos: da frieza comercial, da boa influência brasileira sobre maus governos, ou da não interferência em assuntos internos. Em alguns momentos, faz a defesa ideológica de regimes autoritários como os de Cuba e Venezuela.

Em outros momentos, apresentase como defensor inflexível da democracia, o que ocorreu no caso de Honduras.

Como o governo de Honduras realizou eleições, respeitando o que prometeu, não seria o caso de o ministro Celso Amorim dizer o mesmo que disse sobre Guiné Equatorial, que o país não deve ser isolado, porque a proximidade pode empurrá-lo na direção certa? Será que a diferença é apenas o fato de que Guiné tem promissores campos de petróleo, enquanto Honduras é apenas um pobre país centro-americano? Se for isso, que a diplomacia atual nos poupe dos sermões sobre o golpe contra Zelaya ou da condenação à tentativa de golpe que houve em Caracas em abril de 2002, ou quaisquer outros ataques de principismo seletivo.

O Brasil tem que ter relações comerciais com o maior número de países.

Mas deve evitar gestos que pareçam ser uma aprovação a governos que desrespeitem sistematicamente os direitos humanos e que se perpetuem no poder, como Mbasogo. Deve evitar por dois bons motivos: não são esses os valores brasileiros, e o Brasil tem que se esforçar para construir laços com os países e não com os governos.

Por mais interminável que pareça, um dia acabará o governo Hugo Chávez. As demonstrações recorrentes de apoio ao chavismo não são evidentemente bem vistas pela oposição do país. É preciso manter boas relações com a Venezuela sem abonar um governante histriônico que tem feito um ataque serial às instituições. Da mesma forma, é bom aprofundar relações com Cuba sem que isso signifique apoio do Brasil à ditadura de 51 anos da família Castro.

Esse é o ponto que o governo Lula nunca conseguiu.

Mbasogo é um ditador sanguinário que há 30 anos prende e mata inimigos do seu governo e instaurou um estado policial. Não é o Brasil que vai mudar isso, mas sim os cidadãos do país. Mas o cuidado tem que ser o de visitar o país sem abonar seu governo; prospectar negócios sem demonstrar carinho por um ditador. A boa diplomacia sabe bem como fazer esse equilíbrio. Para isso, existem os gestos. Eles precisam ser calibrados na medida certa para passar a mensagem que se quer passar.

Nos governos autoritários, recomenda-se lembrar de como vários governantes fizeram quando estivemos nós sob ditadura. Programas de visitas ao Brasil de governantes democráticos às vezes continham encontros com outras lideranças da sociedade, inclusive adversários do regime. Um dia, o governo militar acabou e alguns líderes daquela oposição passaram a governar o país.

Ahmadinejad nunca teve bons propósitos com o seu programa nuclear. Defender o direito de o Irã ter um programa pacífico, como o nosso, é totalmente diferente de não ver as contradições entre o que o Irã faz e o que o Irã fala; e de ignorar as razões da preocupação da comunidade internacional em relação ao país.

A diplomacia brasileira já soube defender valores e ser pragmática; abrir mercados e ter distanciamento crítico em relação aos governos.

Hoje, não sabe mais.

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Talvez a razão esteja aqui:

Trecho de entrevista de Luís Inácio Lula da Silva à revista “Playboy”, em julho de 1979:

"Há algumas figuras que eu admiro muito, sem contar o nosso Tiradentes e outros que fizeram muito pela independência do Brasil e pela melhoria das condições do povo (...). Por exemplo, o Hitler, mesmo errado, tinha aquilo que admiro num homem, o fogo de se propor a fazer alguma coisa e tentar fazer (...). Não, não [respondendo ao repórter se admirava Adolf Hitler]. O que eu admiro é a disposição, a força, a dedicação. É diferente de admirar as idéias dele, a ideologia dele (...). Khomeini, não conheço muito a coisa sobre o Irã, mas a força que o (xiita) Khomeini mostrou, a determinação de acabar com aquele regime do Xá foi um negócio sério".

EUA-Unasul: "ei, voce ai: empreste a bola, mas nao queremos voce no jogo"

Deixa ver se eu entendi direito: meninos birrentos do quarteirão mais pobre querem a bonita bola de futebol do garoto rico do outro quarteirão, mas não querem que ele participe do jogo, apenas empreste a bola, e não fique se metendo no jogo...
Acho que é um pouco isso, mas vai tentar entender...
Paulo Roberto de Almeida

Chanceleres da Unasul analisam diálogo com os EUA
Nejme Joma
AFP, 06/07/2010

QUITO - Os chanceleres da Unasul analisarão na quinta-feira, em Quito, uma forma de diálogo do bloco com os Estados Unidos, informou a chancelaria equatoriana nesta terça-feira, no momento em que o acordo militar americano com a Colômbia ainda sofre críticas por parte de vários países sul-americanos.

O conselho de chanceleres da União das Nações Unidos Sul-americanas (Unasul) se reunirá de maneira extraordinária para tratar de vários pontos da agenda regional como o diálogo político com os Estados Unidos, afirmou a chancelaria.

Venezuela, Equador e Bolívia rejeitam o acordo militar entre militar entre Estados Unidos e Colômbia assinado em 30 de outubro de 2009, através do qual as tropas americanas podem utilizar bases colombianas para lutar contra o narcotráfico e o terrorismo.

Além disso, os chanceleres receberão um relatório da secretaria técnica sobre o apoio do organismo ao Haiti pelo terremoto de janeiro e outro sobre a presidência pro témpore, que prepara a transferência do cargo à Guiana em agosto.

Governo brasileiro inaugura nova modalidade de entrevista a imprensa: sem perguntas nem respostas...

Não, não foi no Brasil, pelo menos não ainda..., pois se depender de certas pessoas, vão querer inaugurar no Brasil também...

Amorim defende visita de Lula à Guiné Equatorial
Leonencio Nossa, Enviado Especial
O Estado de S.Paulo, 05 de julho de 2010

Na coletiva, cerimonial do governo local não permitiu perguntas de jornalistas ao presidente
"Negócios são negócios". Ditador Nguema Mbasogo está no poder desde 1979

MALABO, Guiné Equatorial - O ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, defendeu neste segunda-feira, 5, a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Guiné Equatorial, governada pelo ditador Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, no poder desde 1979. Em rápida entrevista, o chanceler disse que "negócios são negócios" e classificou de "pregação moralista" as referências da imprensa aos crimes contra os direitos humanos atribuídos ao ditador. "Não estamos ajudando nem promovendo ditadura", disse Amorim. "Quem resolve o problema de cada país é o povo de cada país."
Em conversa com jornalistas, o chanceler disse que democracia não se impõe e ressaltou a importância do comércio com a ditadura de Mbasoso, financiada com dinheiro de empresas de petróleo dos Estados Unidos. "O exemplo tem mais força que a pregação moralista", afirmou, sem entrar em detalhes. "Negócios são negócios. Acho que a gente tem de trabalhar normalmente. Estamos num continente onde os países ficaram independentes há pouco tempo", completou. "Isso é uma evolução que tem a ver com a sociedade e com a política."

Na Guiné Equatorial, a família Mbasogo comanda não apenas o Estado, mas a economia. O hotel da rede Sofitel em que Lula passou a última noite pertence a Mbasogo. No pequeno país, não há divisão entre as finanças do Estado e do clã. Os recursos das exploradoras de petróleo, que começaram a chegar ao país nos anos 1990, não resolveram o problema da miséria. Estima-se que 60% da população vivam na pobreza.

Lei do silêncio. Em sua visita à Guiné Equatorial, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cumpre até o momento a lei de silêncio imposta por Mbasogo. Na entrevista coletiva marcada para esta manhã, o cerimonial do governo local não permitiu perguntas dos jornalistas. Todos as cadeiras da sala onde o evento ocorreu, num espaçoso palácio de mármore e lustres de cristal, foram ocupadas por diplomatas, assessores e seguranças.

Sentado numa poltrona ao lado de Lula, Mbasogo ostentava um relógio de ouro, cravejado de rubis e diamantes. Ali, os dois ouviram um burocrata do governo da Guiné ler uma declaração ressaltando a visita "histórica e transcendental" do presidente brasileiro. Depois da coletiva de imprensa, sem perguntas nem respostas, Mbasogo ofereceu um requintado banquete para a comitiva de Lula. Os jornalistas brasileiros não aceitaram o almoço.

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Ditador respeita democracia e direitos humanos, diz Lula
Ana Flor
Folha de S. Paulo, 6 de junho de 2010

Os chefes de Estado concordaram em não fazer ingerências um no país do outro; foram assinados cinco acordos

Ao lado do ditador Obiang Nguema Mbsogo, há 31 anos no poder na Guiné Equatorial, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou acordos e divulgou um comunicado afirmando que os países são comprometidos com a democracia e o respeito aos direitos humanos. Mbsogo é acusado por organizações internacionais de perseguir opositores do regime, fraudar eleições e violar direitos humanos. É também um dos mandatários mais ricos do mundo.
Os dois assinaram cinco acordos nas áreas de defesa, supressão de vistos oficiais e de cooperação bilateral. No comunicado conjunto, ambos os presidentes concordaram em não fazer ingerências um no Estado do outro. Após o encontro, o Brasil divulgou nota afirmando que os países renovaram sua continuada adesão aos princípios da democracia, ao respeito aos direitos humanos.
Lula também chancelou o pedido de Mbsogo para ser admitido na CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa). A língua foi incluída entre os idiomas oficiais há pouco tempo, como parte do pleito do ditador.

NEGÓCIOS
Ao chegar ao palácio presidencial -um suntuoso edifício com chão de mármore e lustres de cristal- o ministro Celso Amorim (Relações Exteriores) justificou a visita de Lula afirmando que o exemplo tem muito mais força do que a pregação moralista. Segundo Amorim, negócios são negócios e o Brasil não pode desprezar as possibilidades de trocas comerciais com o país. Tem empresa com mais de US$ 1 bilhão investidos na Guiné Equatorial, não é pouca coisa. Não podemos jogar isso fora, nenhum país do mundo joga isso fora, nem Estados Unidos nem Alemanha nem França, afirmou.
Amorim demonstrou irritação quando questionado sobre os negócios do Brasil com um país acusado de não respeitar direitos humanos. Você tomou café da manhã? Olhou de onde vem a manteiga? Da França, disse, dando a entender que, se a Europa não ignora o país, o Brasil não deve fazê-lo. A posição brasileira se choca com a que foi tomada em episódios como o de Honduras, em que mesmo após as eleições o Brasil não reconhece o novo governo. Uma coletiva de imprensa marcada para depois da assinatura de atos foi cancelada sem explicações. Até os ministros brasileiros foram surpreendidos pela decisão.
O presidente seguiu no fim do dia para o Quênia, onde inicia sua primeira viagem ao leste da África. Tentará ativar o comércio com o país mais industrializado da região. Atualmente, o comércio entre os dois países é pequeno até se comparado com outros países do continente: US$ 91 milhões, sendo que US$ 89,4 milhões são exportações brasileiras -90% de produtos industrializados.

A convite do Palácio do Planalto, a repórter ANA FLOR viajou de Cabo Verde à Guiné Equatorial e ao Quênia numa aeronave da Força Aérea Brasileira.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Alergia a burrice, ojeriza a estupidez: imposto sobre as grandes fortunas

Este blog e este escrevinhador têm poucas coisas que os deixam com alergia (vocês sabem: aquela sensação de irritação à flor da pele, um prurido incômomo, que pode degenerar em coceira). Em princípio, sou animado pelo gosto inveterado do conhecimento, tenho curiosidade por um pouco de tudo, e procuro ler tudo o que apresenta algum interesse intelectual, mesmo no sentido lato.
Sou ademais tolerante com a ignorância sincera, isto é, daquelas pessoas que não puderam estudar na vida, e que apenas exibem o despreparo de quem não teve escola, mal lê e não consegue juntar dois raciocínios lógicos numa simples sequência de frases. Pobres de espírito existem em todas as partes, em sociedades ricas e pobres, embora só nestas eles costumam ser em maior número.
Não é o caso do Brasil, país singular, em que mesmo os mais pobres, pelas dificuldades da vida, justamente, aprendem a ser espertos, e esses eu respeito, menos quando são desonestos.
Mas, se tem uma coisa que eu não consigo aguentar é a burrice. Não a burrice comum, mas a burrice de gente instruída, a ignorância enciclopédica, exibida por gente até bem posta na vida, que fala o tempo todo e pretende dar lições de moral em todos e cada um.
Existe essa estupidez "instruída", se me permitem a expressão e dessa eu tenho completa ojeriza, comichão irresistível.
Ele me aparece quando leio ou ouço certas propostas políticas e econômicas, como essa que vai abaixo no artigo do ex-Secretário da Receita Federal. Eu me refiro, portanto, à burrice de alto coturno, à estupidez de estirpe, à ignorância convertida em receita de política pública.
Dessa eu tenho alergia terrível. E o chamado imposto sobre a grande fortuna é tudo isso, mesmo se ele foi concebido e apresentado por um tucano de estirpe, o próprio constituinte Fernando Henrique Cardoso, que depois viria a ser presidente da República (e que nunca quis converter sua idéia estúpida em realidade). Ele também comete estupidezes e nem sempre se desculpa. Pelo menos uma vez, ao se tornar ministro da Fazenda, recomendou que esquecessem o que ele havia escrito, supostamente referindo-se à chamada teoria da dependência, que não é nem teoria, nem é da independência. Apenas uma estupidez sociológica. Pois bem, ele foi o inventor desse tal imposto, imitando nisso (nem originalidade ele teve), os estúpidos dos socialistas franceses (que depois se arrependeram e viraram quase todos capitalistas).
A estupidez foi então recuperada pelo bando de energúmenos que redigiu o tal plano esquizofrênico dos direitos humanos, um enorme estupidez, do começo ao fim.
Bem, chega de alergia, deixo vocês com este artigo de Everardo Maciel.
Paulo Roberto de Almeida

Os direitos humanos e o imposto sobre grandes fortunas
Everardo Maciel
O Globo, 5.07.2010

Li fragmentos, divulgados pela imprensa, do denominado III Plano Nacional de Direitos Humanos. Pareceu-me um amontoado de idéias em que predominam platitudes e bizarrices, reproduzindo velhos discursos marcados pelo radicalismo hiperbólico. Surpreendi-me, entretanto, com uma esdrúxula referência ao imposto sobre grandes fortunas.

Ao compulsar o Decreto nº 7.037, de 2009, que aprova o mencionado Plano, pude constatar que se trata de um modorrento calhamaço de 228 páginas, no qual há uma furtiva menção àquele imposto. A proposição seria “regulamentar a taxação do imposto sobre grandes fortunas previsto na Constituição”. A cerimoniosa referência ao texto constitucional não salva a pobreza da frase. Como regulamentar o que jamais foi instituído? Como “taxar” um imposto?

A inserção da proposta no Plano, por sua vez, é singularmente pitoresca. Ela integra o “Objetivo Estratégico II” (afirmação dos princípios da dignidade humana e da equidade como fundamentos do processo de desenvolvimento), que é parte da “Diretriz 5” (valorização da pessoa humana como sujeito central do processo de desenvolvimento), que, enfim, se inclui no “Eixo Orientador II” (desenvolvimento e direitos humanos). Essa gongórica articulação foi capaz de, impressionantemente, desembocar na malsinada proposição. É um assombroso salto lógico.

A extravagante idéia poderia ser vista apenas como concessão feita aos bolsões políticos “radicais, porém sinceros”, para usar um chavão frequentemente repetido no governo Geisel. Não é assim, entretanto. Tramita no Congresso Nacional projeto de lei complementar, já aprovado na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, que pretende instituir o imposto sobre grandes fortunas, menoscabando o tamanho da carga tributária brasileira.

O imposto sobre as Grandes Fortunas foi concebido na França, no início da década de 80, tendo sua denominação alterada, ainda naquela década, para Imposto de Solidariedade sobre a Fortuna. Poucos países copiaram tal inovação tributária, alguns deles por pouco tempo. Foi nesse contexto que a Constituição de 88 acolheu a novidade, conquanto condicionando instituição do imposto à edição de uma lei complementar.

A experiência mostrou que aquele imposto encerra inúmeros vícios de concepção. Tem baixa capacidade arrecadatória - na França, por exemplo, não representa mais que 0,7% das receitas tributárias. Sua base de cálculo é confusa, em virtude das dificuldades em estabelecer o piso de incidência e das inúmeras exclusões da base de cálculo – a exemplo de obras de arte e bens de uso profissional. Constitui um notável desestímulo à poupança e um peculiar caso de pluritributação, pois tributa mais uma vez um patrimônio já tributado pelos impostos patrimoniais, para não falar da tributação da renda que lhe deu origem. De resto, revelou-se um infeliz incentivo à expatriação de capitais e domicílios fiscais.

Não se alegue que a instituição do imposto sobre grandes fortunas seria uma forma de ampliar os recursos para despesas sociais, porque esses gastos não demandam financiamento por um tipo especial de tributo. Ao contrário, a regra geral é não haver vinculação entre imposto e despesa.

Tampouco se pode pretender, por aquela via, elevar os níveis de progressividade tributária – tese, a propósito, em gradual desuso no mundo, como evidenciam os contínuos avanços, na Europa Oriental, da onda simplificadora centrada no flat tax. A progressividade, malgrado seu caráter polêmico, é matéria já alcançável por alíquotas do imposto de renda e dos impostos patrimoniais.

No projeto de lei complementar, a incidência ocorreria a partir de patrimônios superiores a R$ 2 milhões. A recente e perigosa explosão nos preços dos imóveis urbanos converteria parte significativa da classe média das grandes cidades brasileiras em contribuintes do imposto, mesmo que não tenha havido correspondente aumento de sua renda líquida. De mais a mais, como ficariam aqueles que optaram por construir fundos financeiros para custear sua aposentadoria, sobretudo quando se considera a hipótese plausível de colapso da previdência?

As alíquotas variariam de 1 a 5%. Na hipótese da alíquota máxima, não considerada a incidência dos impostos patrimoniais, sua incidência, no prazo de 20 anos, corresponderia à completa estatização do patrimônio tributado. Nem a mais perversa mentalidade estatizante lograria conceber algo com maior requinte de perversidade.

Definitivamente, inexiste qualquer vínculo conceitual entre direitos humanos e o excêntrico imposto sobre grandes fortunas – uma curiosidade francesa. A extensa fronteira entre os direitos humanos e a tributação se desdobra nas limitações constitucionais ao poder de tributar, na prevenção de discriminações e privilégios fiscais infundados, na observância do princípio da capacidade contributiva e, de modo afirmativo, na efetivação dos direitos do contribuinte e equalização de suas relações com o fisco. Isto, contudo, é outra história.

Everardo Maciel é ex-secretário da Receita Federal

Jogadores de poquer trabalham em (e para) Wall Street...

Faz todo sentido...

Nos Estados Unidos, corretoras contratam jogadores de pôquer
Gustavo Poloni
iG São Paulo, 05/07/2010

Eles não estudaram economia e não têm experiência no mercado financeiro. Mas a habilidade no pôquer os levou a Wall Street

Os funcionários recém-contratados pela Susquehanna International Group recebem dois livros durante a semana de treinamento da empresa. Um deles é A Teoria do Pôquer, no qual o jogador profissional David Sklansky ensina os principais conceitos do mundo das apostas. O outro é Pôquer Hold’em. Publicado em 1976 pelo mesmo autor, é até hoje considerado um dos mais importantes livros para os iniciantes do Texas Hold’em, a modalidade mais popular do jogo. Engana-se quem pensa que a Susquehanna está contratando croupiers, os homens e mulheres que distribuem cartas e controlam as apostas, para trabalhar nas mesas de pôquer em cassinos em Las Vegas, nos Estados Unidos, ou Macau, na China. O treinamento faz parte do processo de formação de novos funcionários da corretora para trabalhar em Wall Street. “Ensinamos as pessoas a tomar decisões em meio a incertezas”, disse Patrick McCauley, responsável pelo treinamento da Susquehanna, ao jornal americano Los Angeles Times. “É ciência pura, não se trata do estereótipo de ser bom no blefe”.

As novas corretoras de Wall Street estão contratando jogadores de pôquer: pensamento rápido e trabalho sob pressão

A Susquehanna não é a única empresa a dar importância para o pôquer na hora de aumentar seus quadros. Ela faz parte de uma nova linhagem de corretoras que está transformando o mercado financeiro nos Estados Unidos ao ganhar muito dinheiro com decisões tomadas em frações de segundos. No começo do ano passado, dois sócios da Toro Trading chamaram o ex-jogador profissional Chris Fargis para uma entrevista. Ao final do bate-papo, um deles perguntou: você se importa se jogarmos algumas mãos de pôquer? Poucos dias depois, Fargis recebeu uma proposta de emprego. Sem diploma em economia ou experiência no mercado financeiro, ganhou a vaga por causa das suas habilidades adquiridas em três anos de pôquer online. Em seu blog, Fargis escreveu que parou de reclamar que estava cansado do jogo e arrumou um emprego em Wall Street. “Se a pessoa não tem interesse em pôquer acende uma luz amarela”, afirmou Danon Robinson, um dos sócios da Toro Trading, ao site Business Insider. “É como trabalhar no mercado financeiro e não ler o Wall Street Journal”.

De olho nessa nova tendência, candidatos a vagas em Wall Street passaram a incluir em seus currículos seus feitos no pôquer. Na internet, é possível encontrar fóruns que discutem a melhor forma de tocar no assunto sem parecer viciado em jogos. Uma delas: “construí e gerenciei uma conta de seis dígitos a partir de um investimento de US$ 500”. Mas é preciso cuidado para incluir a informação em seu currículo. “É preciso ser muito bom, ter ganhado algum torneio ou muito dinheiro online”, disse ao Aaron Brown, jogador de pôquer e autor do livro The Poker Face of Wall Street, sobre a relação entre o jogo de cartas e o mercado financeiro. “Para quem joga pôquer com amigos, é melhor deixar a informação de fora”. Brown sabe do que está falando. Em 35 anos de carreira, acumulou US$ 5 milhões em prêmios e hoje é professor de finanças e executivo de um hedge fund, fundo que investem em papéis de grande risco. Outra dica importante: olhar qual é o perfil do contratante. Instituições mais conservadoras, como o JP Morgan, não vêem o pôquer com bons olhos.

Raciocínio rápido
Essa não é a primeira vez que as habilidades no pôquer são valorizadas por empresas de Wall Street. Na década de 80, quando o mundo ainda não conhecia a internet e as partidas eram jogadas em clubes fechados por homens fumando charutos, os primeiros jogadores de pôquer foram contratados para trabalhar no mercado financeiro. As empresas estavam atrás de algumas habilidades como pensamento rápido, capacidade de tomar decisões e assumir riscos sob pressão e, principalmente, a capacidade de conversar socialmente sem revelar informações confidenciais. Naquela época, os jogadores de pôquer eram recrutados por bancos de investimento. “As pessoas eram mais livres, agiam mais naturalmente e se divertiam muito mais”, disse Brown. “Mas elas também procuravam outros tipos de vícios e usavam muitas drogas”. A tendência deu uma esfriada nos anos 90, mas ganharam força novamente com a popularização dos jogos de pôquer online nos últimos dez anos. Com uma diferença: quem está de olho nos jogadores são as corretoras interessadas em comprar e vender ações em frações de segundos.

A primeira aposta online aconteceu em 1998, no site Planet Poker. De lá para cá, Os sites se transformaram em celeiros de talentos para as corretoras americanas. No ano passado, 6,8 milhões de americanos jogaram pelo menos uma mão na internet apostando dinheiro. De acordo com o PokerAnalytics.com, instituto que faz pesquisas sobre o jogo, isso representa um aumento de 29% em relação a 2009 e quase três vezes mais do que há cinco anos. Hoje, o maior e mais conhecido deles é o PokerStars.com. A qualquer hora do dia ou da noite o jogador vai encontrar pelo menos 300 mil pessoas fazendo apostas em mesas virtuais. Em fevereiro deste ano, o PokerStars.com completou a marca de 40 bilhões de mãos jogadas. Ao todo, o site oferece mais de 14 modalidades de pôquer e seu principal torneio, o Sunday Million (Domingo Milionário, em tradução livre), distribui toda semana US$ 1,5 milhão em prêmios. Além de Fargis, que foi contratado há pouco mais de um ano pela Toro Trading, o americano Bill Chen, que ganhou mais de US$ 700 mil em prêmios, foi contratado para ser analista da Susquehanna.

Existem muitas semelhanças entre o operador do mercado financeiro e o jogador profissional de pôquer online. Ambos trabalham atrás de uma série de telas de computadores (negócios em andamento para o operador e mãos de pôquer para o jogador) e precisam encontrar uma forma de melhorar suas posições. Mais importante, eles precisam ter a capacidade de se recuperar rapidamente de uma grande perda. Essa característica é a mais procurada durante o processo de seleção da corretora Group One Trading. Na entrevista, a empresa quer saber quanto tempo você levou para jogar novamente depois de uma grande perda. A resposta esperada? “Voltei a jogar no dia seguinte, perder faz parte do jogo”. Se a pessoa disser que levou dias para se recuperar, perde pontos. “Outro problema é quando a pessoa nunca assumiu riscos ou assumiu e perdeu tudo”, afirmou Brown. “Assim como no pôquer, o mercado financeiro vive de riscos”. Com uma diferença: no mundo corporativo, a aposta é feita sempre na casa de milhões de dólares.

Qualidade da educacao nao é uma questao de dinheiro, apenas

A TRAGÉDIA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA: GOVERNO LULA NAUFRAGA DE FORMA ESPETACULAR NO DESAFIO DA QUALIDADE
Reinaldo Azevedo, 5.07.2010

O governo gastou R$ 400 milhões para melhorar nota de 1.822 municípios e de 28 mil escolas que tiveram desempenho abaixo do esperado, mas muitas cidades com nota até 2 no Ideb/2009 avançaram pouco e, no ciclo de 5ª a 8ª série, 8% pioraram seu índice

Leia trecho de reportagem de Marta Salomon e Lígia Formenti, no Estadão:

Além de medir a qualidade do ensino no País, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2009 revela o tamanho do desafio que é mudar a situação de escolas e cidades com desempenho muito ruim. Municípios e escolas com pior desempenho - cujo resultado é divulgado hoje - receberam prioridade nas ações do Ministério da Educação (MEC), mas em muitos casos, nem essa ajuda extra resolveu.

No foco do ministério encontram-se 1.822 municípios com notas inferiores a 4,2 em 2007 e mais 28 mil escolas com notas até 3,8 no mesmo ano. Desde então, mais de R$ 400 milhões foram liberados para as escolas.

Mesmo recebendo um auxílio em dinheiro e suporte técnico, pouco mais da metade dos piores municípios no ranking nacional conseguiu melhorar o indicador no intervalo de dois anos, entre as duas últimas edições do Ideb (2007 e 2009), a ponto de superar suas respectivas metas.

A reportagem do Estado selecionou 155 municípios com notas até 2 na segunda etapa do ensino fundamental (de 5ª a 8ª série). A nota 2 equivale a menos da metade da média nacional (4,6). O levantamento revela que, na avaliação do desempenho, quase a metade (45%), o que corresponde a 70 municípios, ou não conseguiu alcançar a meta ou piorou a nota - nesse universo, 58 municípios (37,4%) evoluíram, mas não alcançaram a nota, e 12 (8%) andaram para trás entre 2007 e 2009. Os outros municípios melhoraram a ponto de, pelo menos, alcançar a meta.

Na amostra das 4.ª séries selecionada pelo Estado, com 47 municípios que tinham nota 2 no Ideb de 2007, 25 cidades, o que dá pouco mais da metade (53,1%), alcançaram a meta. Outros 22 municípios (47%) não alcançaram a meta. As metas variam de escola para escola e de município para município, dependendo do ponto de partida de cada um.

Um exemplo de município que andou para trás é Chaves, no Pará. Em 2007, a educação da cidade recebeu nota 2 até a 4.ª série. Dois anos depois, quando a meta era chegar a 3,2, a nota foi de 1,4. Itatuba, na Paraíba, está na mesma situação: no intervalo de dois anos, a nota piorou, caindo de 1,8 para 1,4, ainda mais distante da meta de 2,6. O Nordeste concentra as piores situações.

Também houve casos de melhora significativa, a ponto de a meta ser ultrapassada com folga. Foi o que aconteceu em Tucano, na Bahia. Em dois anos, a nota mais do que dobrou, de 2 para 5,4, superando a média nacional. A meta para 2009 era 3.

“Os primeiros resultados deverão aparecer a partir do Ideb de 2011″, avalia Maria do Pilar Lacerda, secretária de Educação Básica do MEC.

Nas próximas duas semanas, técnicos do ministério cruzarão dados do Ideb para avaliar o comportamento das escolas e municípios com pior desempenho. “Reformas educacionais demoram até uma geração, porque há fatores importantes como a escolaridade das mães e a formação de professores”, alega.

Apoio técnico
Maria do Pilar conta que houve dificuldades para definir o apoio técnico e financeiro aos municípios com pior desempenho. O ponto de partida para a ajuda era a apresentação de um plano pelos municípios e escolas. Inicialmente, de cada 10 planos apresentados ao MEC, 7 eram devolvidos, por serem inadequados. “Em um caso, o maior problema era a alfabetização de crianças, mas o plano previa a reforma da cozinha. Isso consumiu o ano de 2008 inteiro. E, no final, apenas um em cada dez planos era devolvido”. Pilar se diz otimista: “Trata-se de uma mudança estrutural, que depende de mobilização, não é pirotecnia.”

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