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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

MercoChavez enriquece o Brasil: que bom, nao e'?

Bem, o ingresso da Venezuela de Chávez vem sendo cantada em prosa e verso, como capaz de retirar o Mercosul de seu modesta cantinho no Cone Sul e projetá-lo nas paragens mais calientes do Caribe e do Amazonas. Que bom! 
Vamos todos nos beneficiar com o manancial de petróleo inesgotável de Mister Chávez, suas fabulosas compras no Brasil e várias outras benesses mais, sobretudo no plano da democracia e dos direitos humanos (inclusive os desumanos e os dos animais).
O Mercosul nunca mais será como antes; aliás, nunca antes na história do Mercosul, tanto tinha sido feito para beneficiar tantos em tão pouco tempo. Logo veremos os resultados.
Paulo Roberto de Almeida 

Lá vêm os bolivarianos

Editorial O Estado de S.Paulo, 6/08/2012

Aberta a porteira do Mercosul aos bolivarianos, com o ingresso da Venezuela, agora é a vez de Equador e Bolívia negociarem sua entrada plena no bloco que é cada vez mais ideológico e menos econômico. O timing do processo é perfeito: primeiro, como se sabe, Brasil e Argentina urdiram o isolamento do Paraguai, último obstáculo à adesão da Venezuela, e atropelaram as normas do Mercosul para receber Hugo Chávez de braços abertos, com direito a uma lépida subida do autocrata venezuelano na rampa do Planalto; ato contínuo, os outros dois mais importantes governos chavistas da América Latina iniciam tratativas para engrossar o Mercosul.
Como diz o diplomata José Botafogo Gonçalves em artigo no Estado (2/8), trata-se de um "novo Mercosul", isto é, não se pode mais falar de uma zona de livre comércio e de união aduaneira, que está no espírito da fundação do bloco, mas, sim, de "um novo clube com objetivos políticos e econômicos que não valoriza o mercado, a livre circulação de mercadorias e serviços, a internacionalização das economias e a competitividade".
Como a comprovar essa tendência, a Bolívia, seguindo a cartilha chavista de estatizar até o ar que se respira, nacionalizou nos últimos dois meses duas minas de prata e estanho exploradas por empresas estrangeiras, depois que grupos indígenas pressionaram o presidente Evo Morales. Segundo o governo, os investidores afetados serão indenizados de acordo com uma avaliação "independente", eufemismo para empurrar-lhes o prejuízo. O padrão de Morales não é novidade - basta lembrar a estrepitosa invasão de refinarias da Petrobrás em 2006 e a consequente indenização por valor inferior ao investido pela empresa brasileira. Essa constante ameaça ao investimento externo e aos contratos desautoriza mesmo os mais ingênuos entusiastas do "novo Mercosul" a supor que a Bolívia irá submeter-se alegremente aos princípios de livre mercado.
O mesmo acontece com o Equador, embora este país seja diferente de Venezuela e Bolívia por um importante aspecto: o país vai bem. Os venezuelanos enfrentam a maior inflação da América Latina, que ronda os 25% anuais, apesar do contínuo controle de preços exercido pelo governo - cuja política brucutu tem desidratado sistematicamente a produção interna. O PIB venezuelano depende cada vez mais, portanto, da vontade de Chávez de investir o dinheiro estatal. A Bolívia, por sua vez, segue sendo um dos países mais pobres do continente, e o desestímulo de Morales ao investimento externo, por conta das seguidas intervenções estatais, não prenuncia futuro melhor.
Já o Equador cresceu 8% em 2011 e tem uma das menores taxas de desemprego da região, por volta de 5%. Pode-se dizer que, ao menos por ora, o "capitalismo de Estado" está funcionando por lá, e o país tem reservas de gás e petróleo que interessam ao Mercosul. No entanto, seguindo o figurino chavista, o presidente Rafael Correa não gosta de jornalistas e de opositores, contrariando frontalmente as cláusulas democráticas do Mercosul - aquelas que foram invocadas para suspender o Paraguai.
Na última manifestação da truculência de Correa, autoridades do Estado apreenderam os computadores da revista Vanguardia, que é crítica ao presidente e noticiou vários casos de corrupção no governo. O motivo da ação oficial é de um cinismo exemplar: o Ministério do Trabalho local alega que a revista foi punida porque não cumpre a cota de funcionários com deficiência. O diretor da publicação, Juan Carlos Calderón, já havia sido condenado em fevereiro a pagar US$ 1 milhão de indenização a Correa por ter publicado um livro em que denunciava um caso de corrupção envolvendo um irmão do presidente. Mais tarde, o magnânimo Correa "perdoou" a dívida do jornalista.
No entanto, nada disso importa mais, porque os valores da democracia e do livre mercado já não fazem mais parte do Mercosul. Com seu novo DNA, e em nome da expansão de oportunidades para as indústrias brasileiras e argentinas, o bloco mandou às favas os escrúpulos, instrumentalizando-se cada vez mais como contraponto bolivariano ao "império" americano.

Um comentário:

Anônimo disse...

Acho dificil sustentar a tese do professor Guimaraes:

http://geografiaegeopolitica.blogspot.com.br/2012/07/estados-unidos-venezuela-e-paraguai-na.html?m=1


Nao conseguiremos sair dos anos 60 nunca?

Vinicius