Paulo Roberto de Almeida
Eleições 2014
Comício com Lula tem drone, militantes pagos e Dilma 'esquecida'
Em Recife, presidente-candidata virou coadjuvante durante discurso de seu cabo eleitoral. Na plateia, beneficiários do Bolsa Família pagos para estar lá
Felipe Frazão, de Recife
04/09/2014 - A candidata do PT à reeleição, Dilma Roussef, o ex-presidente Lula e o candidato ao governo de Pernamabuco, Armando Monteiro, durante comício em Recife (Alexandre Gondim/Folhapress)
O comício que o ex-presidente Lula e a presidente-candidata Dilma Rousseff promoveram na noite desta quinta-feira no Recife (PE) foi o maior evento da campanha petista até o momento. Com ares de superprodução, o ato político teve queima de fogos e foi gravado para a propaganda de Dilma no horário eleitoral gratuito com um drone, que captou imagens aéreas da multidão aglomerada à beira-mar na favela Brasília Teimosa. Apesar de ser reduto petista, o local vive sob influência do PSB de Marina Silva, candidata à Presidência, e Paulo Câmara, candidato ao governo do Estado escolhido pelo ex-governador Eduardo Campos, morto em acidente aéreo em 13 de agosto. Bandeiras amarelas do partido flamulavam entre as do PT. Era só o primeiro sinal de que a mobilização em prol de Dilma não era tão espontânea.
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À tarde, dezenas de ônibus vindos do Agreste, da Zona da Mata e da Região Metropolitana do Recife desembarcaram cabos eleitorais na orla de Brasília Teimosa. Parlamentares e prefeitos de PT e PTB organizaram as caravanas com a missão de levar 20.000 pessoas ao comício. O acesso foi tumultuado. Beneficiárias do Bolsa-Família, as donas de casa Edneuza Alcides, de 42 anos, e Santa Maria da Silva, de 44 anos, disseram ter recebido 50 reais para ir ao comício noturno. Elas relataram ter sido arregimentadas por correligionários de João da Costa (PT), ex-prefeito de Recife e candidato a deputado federal. As duas moram em bairros pobres na periferia da cidade: Casa Amarela, maior favela pernambucana, e Dois Irmãos, e pediram para não serem fotografadas com medo de perder o bico que lhes complementa a renda em época eleitoral. "Aqui veio gente de várias favelas. Pagam 50 [reais]. Dando um 'troquinho' fica mais fácil", disse Edneuza esfregando o indicador no polegar. "Eu quero mudança. Já são 12 anos de PT e nada. Quero ver aumentar o Bolsa-Família", cobrou Santa Maria.
Elas empunhavam bandeiras por João da Costa e contaram que equipes pediram que amarrassem nas costas a bandeira branca de Dilma, como se vestissem uma capa. Admiradoras de Lula, Miguel Arraes e Eduardo Campos, não demonstraram afinidade com a presidente-candidata, que foi a última a discursar para um público já esvaziado e disperso. Não havia mais tanta aglomeração nas janelas e nas lajes das casas, como os que pararam para ouvir o ex-presidente. Lula chegou a ofuscar Dilma no início do ato, que começou com duas horas de atraso. Ele foi aclamado e "convocado" pelo público a vestir um chapéu de sertanejo. Desceu do palco para abraçar eleitores e buscar o chapéu. Quando voltou ao palanque, onde Dilma "esquecida" batia palmas tímidas, deu um jeitinho de colocar a sucessora em evidência: pôs o chapéu nela, em vez de vesti-lo. Lula tentou aproximar Dilma do público. Chamou-a de "essa moça" ou "essa mulher". Apresentou Dilma como uma defensora dos pobres, dentro da retórica do "nós contra eles". "Essa mulher pode fazer o pobre subir mais alguns degraus na escada social desse país. Ela sabe que um quinhãozinho maior tem que ser dado aos mais pobres". O ex-presidente também lembrou de dizer que "pobre vale mais no dia da eleição" e que o "povo sem sabedoria é tangido como se fosse gado".
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