150407PedroLuizRodriguesPoliticaExterna
Diário do Poder, 7/04/2015
PEDRO LUIZ RODRIGUES
BOAS AS MUDANÇAS NA FAZENDA E NA EDUCAÇÃO. FALTA O ITAMARATY
O Brasil bem poderia
aproveitar a oportunidade representada pela VII Cúpula das Américas – a se
realizar no Panamá nos próximos dias 10 e 11 – para voltar a mostrar-se com sua
verdadeira cara aos países do Hemisfério e do resto do mundo.
Somos um caso único
de potência emergente que aceitou despir-se da natural expressão de sua
condição, apenas pela canhestra pretensão de melhor ser aceito pela vizinhança.
Deixamos de ter voz própria nos assuntos da região, preferindo nos submeter ao
assembleísmo próprio dos diretórios estudantis.
Deve o Brasil, de
imediato, romper os penduricalhos exóticos com os quais nos últimos doze
anos os liliputeanos bolivarianistas da região têm buscado restringir
nossos movimentos, reduzindo o País à situação em que se encontrava Gulliver ao
despertar, após o naufrágio.
Estados Unidos e
Cuba serão os grandes protagonistas do encontro no Panamá. Estarão, os dois,
juntos, pela primeira vez, numa reunião de cúpula hemisférica . A despeito das
disparidades de tamanho e poder entre os dois, sentar-se-ão como iguais,
buscando superar os inúmeros obstáculos que ainda os separam.
Quanto ao Brasil,
ficaremos apenas como mais um na massa geral.
A pergunta que cabe
fazer é se atende a nosso interesse nacional continuar a
representar o papel limitado a que fomos reduzidos, de mero integrantes do
clube que tem como sócios principais uma Cristina Kirchner e um Nicolas Maduro.Não
será o momento de recuperarmos voz própria e liderança nos assuntos da região?
Não se trata, é
claro, de repudiar nossa condição de sul-americanos. Mas está na hora de
jogar no lixo a cartilha diplomática imposta pelo PT, que reduz nossa atuação
regional a uma abanação de rabo diante da mediocridade.
Conduzidos pelos
ideológos do PT, fomos aos poucos perdendo a consciência de onde se encontra
nosso verdadeiro interesse nacional. Não é por outra razão que acabamos
de tapa-olho, conduzidos pelo cabresto pelos governos da Argentina e da
Venezuela.
Esses dois países
serão sempre de interesse estratégico para o Brasil. Mas nossos interesses no
mundo extrapolam, em muito, os modestos limites de nossa complicada
vizinhança. Não há razão para que abdiquemos de nossas próprias
necessidades e aspirações.
Uma grande
oportunidade para essa mudança - para fazer retornar a formulação e a
condução da política externa brasileira à sua trajetória histórica – se abriria
com o afastamento do professor Marco Aurélio Garcia da assessoria especial da
Presidência da República para assuntos internacionais.
A presidente Dilma
percebeu que só tem a ganhar colocando gente competente em cargos estratégicos.
Está feliz com o Joaquim Levy, está feliz com o Janine, e vai ficar também
feliz com a saída de Pepe Vargas de seu entorno de assessores.
Acertaria a
presidente se, assim como fez para restaurar a eficiência e credibilidade da
área econômica de seu governo, decidisse também por incutir racionalidade e
bom-senso à política externa brasileira. Para isso, contudo, seria
necessário retirar o Garcia de cena.
Este, a propósito,
anda inconformado com o desarranjo que tomou conta do Partido dos
Trabalhadores. Na prática, vem até mesmo fazendo declarações que mais caberiam
ao presidente do partido, o deputado Rui Falcão.
Como um dos
fundadores do PT, o professor acha que tem o dever de dedicar mais tempo
e esforços para tentar reparar as fissuras que se multiplicam na estrutura do
partido, a cada dia mais chacoalhada pelo envolvimento de alguns seus
integrantes em estrepolias enquadráveis no Código Penal.
Se nesse esforço de
guiar o PT for o acadêmico tão bem sucedido quanto o foi na definição das
prioridades da política externa do Brasil - que é o que tem feito nos últimos
doze anos – o partido pode ir encomendando sua missa de sétimo dia, estará
fadado ao desastre.
Talvez devesse o
assessor presidencial, um gesto de grande patriotismo, adotar a recomendação
que está propondo ao tesoureiro do partido, João Vaccari Neto, de pedir
demissão do cargo, porque seria positivo tanto para ele, Vaccari, quanto para o
próprio PT. Mas se o professor decidisse ele mesmo pedir demissão do cargo e
assumir o comando do partido, seria positivo para ele e para o Brasil.
O embaixador e jornalista Pedro Luiz Rodrigues
é diplomata de carreira
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