Estava tentando separar os crimes econômicos do lulo-petismo -- que são aqueles equívocos de política econômica que provocaram e provocam grandes perdas ao país -- dos crimes comuns, essas roubalheiras que prometem, ou pelo menos deveriam, levar esses mafiosos à cadeia por longos anos.
Mas resulta que é difícil separar essas coisas, porque equívocos econômicos são construídos deliberadamente para permitir roubalheiras, e estas são disfarçadas de projetos aparentemente viáveis para, a partir da sua aparência de seriedade, permitirem esse verdadeiro assalto aos cofres públicos que é cometido pelos chefões mafiosos com a conivência de capitalistas promíscuos. Todos eles merecem estar na cadeia, e não apenas os empresários, que na verdade são em grande medida instrumentados pelos mafiosos partidários para fazer o que fazem.
Vejam este exemplo da Comperj, por exemplo: foi concebida pelo chefe da quadrilha para ser mais um duto a jorrar dinheiro por todos os lados, e beneficiar todos os gangsters do partido. Da mesma forma Pasadena: não se tratou de um "mau negócio", e sim de um excelente negócio, pois permitiu desviar dinheiro em dólares, milhões, já no exterior, sem precisar de bancos nacionais, doleiros, malas de dinheiro vivo, enfim, essas coisas atrasadas. Os companheiros agora criaram várias vacas leiteiras que vão ficar por aí durante anos, mesmo que eles sejam escorraçados do poder, como deve ser feito.
Paulo Roberto de Almeida
Comperj dará
prejuízo de R$ 45 bi à Petrobras
Patrícia
Cagni e Eduardo Bresciani – O GloboO Globlo, terça-feira,
7 de abril de 2015
Prejuízo garantido
• Perda mínima no Comperj, obra
investigada na Lava-Jato, será de R$ 45 bi, conclui estatal
BRASÍLIA - A Petrobras estimou em um documento produzido por sua
equipe técnica que o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), em
Itaboraí (RJ), deve gerar um prejuízo mínimo de US$ 14,3 bilhões (R$ 44,8
bilhões) aos cofres da companhia, em valores deste ano. Entram no
cálculo, entre outros fatores, investimentos feitos que não podem ser
recuperados e gastos com a manutenção durante a paralisação da obra. O
documento, obtido pelo GLOBO, foi apresentado ao Tribunal de Contas da União
(TCU) em fevereiro no âmbito de um processo que discute irregularidades na
obra.
O Comperj é um dos empreendimentos da Petrobras
em que houve pagamento de propina e participação de cartel dos fornecedores,
segundo delações premiadas da Operação Lava-Jato. O projeto inicial era de uma
unidade de gás natural, duas refinarias e uma petroquímica. Apenas a unidade de
gás continua em andamento, com previsão de conclusão das obras em junho de
2017. A primeira refinaria, chamada de "trem 1", está com 82% das
obras concluídas, mas foi suspensa em dezembro do ano passado devido a
restrições de caixa. A segunda refinaria ainda não saiu do papel, e o projeto
de petroquímicas foi cancelado em julho de 2014.
O debate com o TCU é sobre qual a melhor opção:
retomar o investimento no "trem 1" em 2019, para terminar a
refinaria, ou abandonar o que já foi feito até agora nesta parte do projeto.
Segundo os técnicos da Petrobras, a retomada geraria um prejuízo menor, de US$
14,3 bilhões, enquanto a desistência do projeto traria um prejuízo maior, de US$
17 bilhões (R$ 53,1 bilhões). Estes dados são descritos no documento VPL@2015,
o que significa o resultado com base no momento atual.
"Dentre os cenários avaliados, o cenário 1
(complementação mecânica das unidades de refino da refinaria trem 1) minimiza
as perdas econômicas para a Petrobras", afirma o documento da Petrobras
apresentado ao TCU.
Para se ter uma ideia, o prejuízo estimado do
Comperj seria maior do que todos os gastos com a organização das Olimpíadas do
Rio, em 2016, estimados em R$ 37,7 bilhões.
A planilha apresentada pela companhia revela
que, independentemente dos dois cenários, US$ 13 bilhões (R$ 40,7 bilhões) que
já foram investidos não teriam mais como ser recuperados, o chamado "custo
afundado". Estão nessa conta edificações e equipamentos que não poderiam
ser aproveitados em outras obras.
Previsão inicial
era gastar US$ 6,1 bilhões
A previsão da Petrobras é que somente no final
da vida útil do Comperj, chamado VPL prospectivo, o negócio poderia se tornar
lucrativo, trazendo para a estatal um retorno de US$ 1,2 bilhão (R$ 3,9
bilhões). A companhia, porém, teria gastos adicionais de US$ 1,8 bilhão (R$
5,62 bilhões) com a postergação do investimento, além de outros US$ 6,4 bilhões
(R$ 20,1 bilhões) para concluir o projeto. No caso da obra ser abandonada,
deixando de existir os gastos com manutenção, o prejuízo nesse mesmo período
seria de US$ 1,4 bilhão (R$ 4,4 bilhões).
A Petrobras não informou com qual prazo
trabalhou no VPL prospectivo nesse caso. O padrão para obras na área de refino
é de vida útil de 25 anos, mas, no caso da refinaria Abreu e Lima, em
Pernambuco, o cálculo foi feito como se a operação fosse "infinita",
gerando um fluxo de caixa constante para a companhia.
A construção do "trem 1" tem previsão
de prejuízo desde o início das obras. Em 2010, quando o projeto foi aprovado
pelo Conselho de Administração da empresa, a previsão de resultado era negativa
em cerca de US$ 700 milhões (R$ 2,18 bilhões). A implementação da refinaria só
foi levada adiante porque o complexo foi apresentado de forma conjunta ao
conselho e havia estimativa de lucro com a construção da segunda refinaria e
das petroquímicas.
A previsão inicial para o complexo era de
gastos de US$ 6,1 bilhões (R$ 19 bilhões). Após as seguidas mudanças no
projeto, a Petrobras já admitiu que os custos seriam de US$ 30,5 bilhões (R$
95,1 bilhões) e, em documentos internos, chegou a estimar em US$ 47,7 bilhões
(R$ 148,8 bilhões) o investimento total.
Procurada, a Petrobras não respondeu a
questionamentos encaminhados pelo GLOBO.
Para o TCU, a estratégia de reunir os
empreendimentos como um projeto conjunto fez com que fossem levadas adiante as
obras da refinaria sem a análise adequada. "Esse cenário de incertezas
demandava maior cuidado em decisões que pudessem impactar os resultados do
empreendimento, pelo aumento das necessidades de investimento",
registraram os técnicos do TCU em auditoria realizada no ano passado.
Em suas delações premiadas, o ex-diretor da
Petrobras Paulo Roberto Costa e o ex-gerente Pedro Barusco afirmaram ter
recebido propina decorrente de contratos do Comperj. Os delatores ligados ao
grupo Toyo Setal, Júlio Camargo e Augusto Ribeiro de Mendonça, disseram que o
cartel atuou fortemente na divisão das obras e apresentou uma planilha que
simulava um campeonato de futebol, no qual as empreiteiras dividiam os lotes
colocados em licitação.
No auge, 29 mil
trabalhadores no complexo
Auditoria do TCU sobre o empreendimento
questionou contratações emergenciais de US$ 7,6 bilhões (R$ 23,7 bilhões) para
a obra realizadas, quando Costa ocupava a Diretoria de Abastecimento da
Petrobras. O TCU constatou que, nos casos em que houve licitação no próprio
Comperj, a Petrobras conseguiu preços 14,27% abaixo da previsão inicial. A
auditoria ressaltou que houve pagamento de R$ 1,5 bilhão em aditivos porque
equipamentos ficaram parados devido à falta de vias de acesso a Itaboraí. Houve
prejuízo na compra de equipamentos que não serão mais usados devido a mudanças
no projeto. Foi com base nesse trabalho que o TCU decidiu ouvir a Petrobras
sobre os aspectos globais do Comperj.
A paralisação de obras e problemas de
empreiteiras contratadas decorrentes da Operação Lava-Jato já causaram
demissões em massa em Itaboraí. No auge, 29 mil trabalhadores trabalhavam nas
obras. Em março, eram 10,6 mil.
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