sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Sobre posturas em temas de diplomacia - Paulo Roberto de Almeida

Um ano e meio atrás, envolvi-me inadvertidamente em um "diálogo" com alunos do Instituto Rio Branco, alguns manifestamente defensores daquilo que eu chamei, não sem uma ponta de ironia (que muitos consideram desprezo, o que também pode ser), de lulopetismo diplomático.
Como a diatribe tomava tons de acirrado debate, resolvi afastar-me desse tipo de diatribe, não sem antes deixar consignado o que eu pensava desse tipo de defesa – que parecia identificar-se com a defesa de criminosos em fase de condenação – e o que eu pensava de minha própria postura.
Abaixo o que escrevi em agosto de 2017.
Paulo Roberto de Almeida
São Paulo, 28 de dezembro de 2018


Um diálogo sobre posturas políticas em questões de diplomacia

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 6 de agosto de 2017.

Não costumo solicitar a qualquer pessoa que me defenda de qualquer ação minha, voluntária ou involuntária, pois acredito que todos devemos assumir responsabilidade por nosso atos e omissões. 
Não me considero um representante típico da diplomacia, aliás nem da academia, pois transito entre os dois ambientes com total independência de pensamento e de ação. Apenas recuso, expressamente, qualquer classificação minha numa dessas categorias estanques pelas quais os “rotuladores” de pessoas costumam enquadrar amigos ou “inimigos”: liberal, conservador, direitista, socialdemocrata, etc. Acho isso simplesmente ridículo: tendo vindo da esquerda, e mesmo da extrema esquerda, em meus anos de ativismo político juvenil – daí resultando um longo exílio no exterior durante a ditadura militar – evolui pragmaticamente como resultado de leituras, viagens e reflexões sobre os capitalismos e socialismos realmente existentes, e tendo constatado, mais do que a miséria material, sobretudo a miséria moral dos sistemas coletivistas e socialistas, daí resultando uma postura que eu consideraria como “racionalista”, não recusando qualquer solução de políticas públicas – estatal ou de mercado – segundo uma avaliação ponderada dos custos e benefícios de quaisquer medidas tomadas em prol do bem-estar e prosperidade social. Um regime de liberdades econômicas é sempre o mais preferível entre todos os sistemas até agora historicamente testados.
Recuso igualmente a pecha de “ideólogo” que muitos querem me atribuir: tenho buscado orientar meus trabalhos analíticos pela maior objetividade possível e com base na honestidade intelectual que costumam caracterizar meus escritos.
O fato de ter escrito “lulopetismo diplomático” não tem qualquer conotação ideológica: foram os próprios companheiros no poder que atacaram a política externa anterior, acusando-a de submissa e alinhada, e fazendo absoluta questão de se demarcar das orientações diplomáticas em curso, até de forma desonesta e mistificadora. Eles mesmos atribuíram um rótulo a sua diplomacia do Sul Global: ela seria “ativa e altiva”, o que é uma classificação pro domo sua, que me habilita igualmente a encontrar um título para o que eles mesmos queriam distinguir.
Ao postar determinados artigos na lista, fui cobrado por notórios admiradores do “lulopetismo diplomático”, que entenderam que eu deveria responder às questões levantadas por eles, como se eu devesse me pautar por cidadãos que sequer se deram o trabalho de ler meus argumentos completos justificadores da crítica radical que fiz, e faço sempre, dos treze anos e meio de desvarios diplomáticos.
Se eles pretendem argumentos sólidos podem encontrar em meu livro “Nunca Antes na Diplomacia”, ou então na coletânea de textos que ofereci gentilmente a todos e a cada um: Quinze anos de política externa: ensaios sobre a diplomacia brasileira, 2002-2017; disponibilizado na Academia.edu (link: https://www.academia.edu/s/37587e7897/quinze-anos-de-politica-externa-ensaios-sobre-a-diplomacia-brasileira-2002-2017?source=link); informado no blog Diplomatizzando (http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/05/quinze-anos-de-politica-externa-ensaios.html; twittado neste link: https://shar.es/1Rvapr). Também pode ser consultada a longa entrevista que concedi não só sobre o lulopetismo diplomático, mas também sobre as políticas econômicas em curso no período (https://youtu.be/fWZXaIz8MUc). Os que pretendem obter respostas para os seus questionamentos dispõem, portanto, de amplos argumentos sobre o que é esse tal de “lulopetismo diplomático”, uma das grandes mistificações no mais amplo exercício de destruição da economia e da política brasileira por uma organização que não hesito em classificar de criminosa, com base, objetivamente, em todos os relatórios, denúncias, indiciamentos e condenações já registrados.
Por fim, repito o que já disse: nada tenho contra aqueles que defendem o socialismo, o estatismo, um regime de intervencionismo e de controle dos mercados, ainda que eu ache essas pessoas profundamente equivocadas, em bases pragmáticas e objetivas. Apenas acho que pessoas honestas deveriam se resguardar de apoiar criminosos comprovados, e mentirosos confirmados, em suma, desonestos subintelequituais.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 6 de agosto de 2017.

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