segunda-feira, 5 de abril de 2010

2027) Pausa para humor - Barao de Itararé

Link para o site remetido por um leitor habitual deste blog, Vinicius Portela:
http://www.culturabrasil.pro.br/itarare.htm

Máximas e Mínimas do Barão de Itararé
Aparício Torelli - o "Barão de Itararé"

. De onde menos se espera, daí é que não sai nada.
. Mais vale um galo no terreiro do que dois na testa.
. Quem empresta, adeus...
. Dize-me com quem andas e eu te direi se vou contigo.
. Pobre, quando mete a mão no bolso, só tira os cinco dedos.
. Quando pobre come frango, um dos dois está doente.
. Genro é um homem casado com uma mulher cuja mãe se mete em tudo.
. Cleptomaníaco: ladrão rico. Gatuno: cleptomaníaco pobre.
. Quem só fala dos grandes, pequeno fica.
. Viúva rica, com um olho chora e com o outro se explica.
. Depois do governo ge-gê, o Brasil terá um governo ga-gá. ( Ge-gê: apelido de . . Getulio Vargas. Ga-gá: referia-se às duas primeiras letras no sobrenome do novo presidente, Eurico Gaspar Dutra).
. Um bom jornalista é um sujeito que esvazia totalmente a cabeça para o dono do jornal encher nababescamente a barriga.
. Neurastenia é doença de gente rica. Pobre neurastênico é malcriado.
. O voto deve ser rigorosamente secreto. Só assim , afinal, o eleitor não terá vergonha de votar no seu candidato.
. Os juros são o perfume do capital.
. Urçamento é uma conta que se faz para saveire como debemos aplicaire o dinheiro que já gastamos.
. Negociata é todo bom negócio para o qual não fomos convidados.
. O banco é uma instituição que empresta dinheiro à gente se a gente apresentar provas suficientes de que não precisa de dinheiro.
. A gramática é o inspetor de veículos dos pronomes.
. Cobra é um animal careca com ondulação permanente.
. Tudo seria fácil se não fossem as dificuldades.
. Sábio é o homem que chega a ter consciência da sua ignorância.
. Há seguramente um prazer em ser louco que só os loucos conhecem.
. É mais fácil sustentar dez filhos que um vício.
. A esperança é o pão sem manteiga dos desgraçados.
. Adolescência é a idade em que o garoto se recusa a acreditar que um dia ficará chato como o pai.
. O advogado, segundo Brougham, é um cavalheiro que põe os nossos bens a salvo dos nossos inimigos e os guarda para si.
. Senso de humor é o sentimento que faz você rir daquilo que o deixaria louco de raiva se acontecesse com você.
. Mulher moderna calça as botas e bota as calças.
. A televisão é a maior maravilha da ciência a serviço da imbecilidade humana.
. Este mundo é redondo, mas está ficando muito chato.
. Pão, quanto mais quente, mais fresco.
. A promissória é uma questão "de...vida". O pagamento é de morte.
. A forca é o mais desagradável dos instrumentos de corda.

Apparício Torelly, (o "Barão de Itararé), que também usou o pseudônimo de "Apporelly", era gaúcho de Rio Grande, nascido em 29/01/1895. Estudou medicina, sem chegar a terminar o curso, e já era conhecido quando veio para o Rio fazer parte do jornal O Globo, e depois de A Manhã, de Mário Rodrigues, um temido e desabusado panfletário. Logo depois lançou um jornal autônomo, com o nome de "A Manha". Teve tanto sucesso que seu jornal sobreviveu ao que parodiava. Editou, também, o "Almanhaque — o Almanaque d'A Manha". Faleceu no Rio de Janeiro em 27/11/71. O "herói de dois séculos", como se intitulava, é um dos maiores nomes do humorismo nacional. Extraído de "Máximas e Mínimas do Barão de Itararé", Distribuidora Record de Serviços de Imprensa - Rio de Janeiro, 1985, págs. 27 e 28, coletânea organizada por Afonso Félix de Souza.

Mais “Máximas e Mínimas” do Barão de Itararé!

. Deus dá peneira a quem não tem farinha.
. Testamento de pobre se escreve na unha.
. Tempo é dinheiro. Vamos, então, fazer a experiência de pagar as nossas dívidas com o tempo.
. Precisa-se de uma boa datilógrafa. Se for boa mesmo, não precisa ser datilógrafa.
. O fígado faz muito mal à bebida.
. O casamento é uma tragédia em dois atos: um civil e um religioso.
. Com as crianças é necessário ser psicólogo. Quando uma criança chora, é porque quer balas. Quando não chora, também.
. O menino, voltando do colégio, perguntou à mãe:
-- Mamãe, por que é que pagam o ordenado à professora, se somos nós que fazemos os deveres?
. O feio da eleição é se perder.
. A moral dos políticos é como elevador: sobe e desce. Mas, em geral, enguiça por falta de energia, ou então não funciona definitivamente, deixando desesperados os infelizes que confiam nele.
. Com dinheiro à vista toda gente é benquista.
. Se você tem dívida, não se preocupe, porque as preocupações não pagam as dívidas. Nesse caso, o melhor é deixar que o credor se preocupe por você.
. Palavras cruzadas são a mais suave forma de loucura.
. A alma humana, como os bolsos da batina de padre, tem mistérios insondáveis.
. O homem cumprimentou o outro, no café.
-- Creio que nós fomos apresentados na casa do Olavo.
-- Não me recordo.
-- Pois tenho certeza. Faz um mês, mais ou menos.
-- Como me reconheceu?
-- Pelo guarda-chuva.
-- Mas nessa época eu não tinha guarda-chuva...
-- Realmente, mas eu tinha...

. O homem é um animal que pensa; a mulher, um animal que pensa o contrário. O homem é uma máquina que fala; a mulher é uma máquina que dá o que falar.
. O homem que se vende recebe sempre mais do que vale.
. O mal alheio pesa como um cabelo.
. A solidez de um negócio se mede pelo seu lucro líquido.
. Que faz o peixe, afinal?... Nada.
. A sombra do branco é igual a do preto.
. "Eu Cavo, Tu Cavas, Ele Cava, Nós Cavamos, Vós Cavais, Eles Cavam. Não é bonito, nem rima, mas é profundo...
. Tudo é relativo: o tempo que dura um minuto depende de que lado da porta do banheiro você está.
. Nunca desista do seu sonho. Se acabou numa padaria, procure em outra!
. Devo tanto que, se eu chamar alguém de "meu bem" o banco toma!
. Viva cada dia como se fosse o último. Um dia você acerta...

Uísque e mulher ranzinza
Eu tinha doze garrafas de uísque na minha adega e minha mulher me disse para despejar todas na pia, porque se não...
- Assim seja! Seja feita a vossa vontade, disse eu, humildemente. E comecei a desempenhar, com religiosa obediência, a minha ingrata tarefa.
Tirei a rolha da primeira garrafa è despejei o seu conteúdo na pia, com exceção de um copo, que bebi.
Extraí a rolha da segunda garrafa e procedi da mesma maneira, com exceção de um copo, que virei.
Arranquei a rolha da terceira garrafa e despejei o uísque na pia, com exceção de um copo, que empinei.
Puxei a pia da quarta rolha e despejei o copo na garrafa, que bebi.
Apanhei a quinta rolha da pia, despejei o copo no resto e bebi a garrafa, por exceção.
Agarrei o copo da sexta pia, puxei o uísque e bebi a garrafa, com exceção da rolha.
Tirei a rolha seguinte, despejei a pia dentro da gar­rafa, arrolhei o copo e bebi por exceção.
Quando esvaziei todas as garrafas, menos duas, que escondi atrás do banheiro, para lavar a boca amanhã cedo, resolvi conferir o serviço que tinha feito, de acordo com as ordens da minha mulher, a quem não gosto de contrariar, pelo mau gênio que tem.
Segurei então a casa com uma mão e com a outra contei direitinho as garrafas, rolhas, copos e pias, que eram exatamente trinta e nove. Quando a casa passou mais uma vez pela minha frente, aproveitei para recontar tudo e deu noventa e três, o que confere, já que todas as coisas no momento estão ao contrário.
Para maior segurança, vou conferir tudo mais uma vez, contando todas as pias, rolhas, banheiros, copos, casas e garrafas, menos aquelas duas que escondi e acho que não vão chegar até amanhã, porque estou com uma sede louca ...

Apparício Torelli, Barão de Itararé, o Brando, (1895/1971), "campeão olímpico da paz", "marechal-almirante e brigadeiro do ar condicionado", "cantor lírico", "andarilho da liberdade", "cientista emérito", "político inquieto", "artista matemático, diplomata, poeta, pintor, romancista e bookmaker", como se definia, era gaúcho e é um dos maiores humoristas de todos os tempos. Dele disse Jorge Amado: "Mais que um pseudônimo, o Barão de Itararé foi um personagem vivo e atuante, uma espécie de Dom Quixote nacional, malandro, generoso, e gozador, a lutar contra as mazelas e os malfeitos".

Aqui pode-se ver o brasão da Casa de Itararé:


Antes "Duque", num gesto de humildade rebaixou-se para "Barão"...

O texto acima foi extraído do livro "Máximas e Mínimas do Barão de Itararé", Editora Record - Rio de Janeiro, 1985, pág. 28 e seguintes, uma coletânea organizada por Afonso Félix de Sousa.

2026) Quote of the week - Winston Churchill

"The inherent vice of capitalism is the unequal sharing of blessings; the inherent virtue of socialism is the equal sharing of miseries."

Winston Churchill

2026) Quote of the week - Winston Churchill

"The inherent vice of capitalism is the unequal sharing of blessings; the inherent virtue of socialism is the equal sharing of miseries."

Winston Churchill

2025) Para um debate de alto nivel sobre a Politica Economica do Governo - Gustavo Franco

O artigo abaixo tem mais de dois anos, mas isso não diminui em nada sua importância para um debate esclarecido sobre a política econômica,
Ele me foi enviado gentilmente por um leitor deste blog, Zamba.
Muito grato a ele.
Paulo Roberto de Almeida
(Aeroporto de Dubai, 5.04.2010)

NOSSA ECONOMIA
A arte de embralhar causas e efeitos
GUSTAVO H.B. FRANCO *
Revista Época, edição 510 - 25/02/2008

* Economista e professor da PUC-Rio e escreve quinzenalmente em ÉPOCA. Foi presidente do Banco Central do Brasil (http://www.gfranco.com.br/; gfranco@edglobo.com.br)

Nunca antes, numa crise internacional, a moeda brasileira ficou mais forte e o Brasil foi visto como um “porto seguro” para as aplicações financeiras. Esta podia ser uma das bravatas do nosso Presidente: o Real valendo mais que dólar, forte como nunca, reflexo de uma economia de mercado em acelerado progresso e de um governo iluminado.

Mas vamos deixar de lado o fato de que não é bem assim, como deve suspeitar o leitor, e refletir sobre uma questão filosófica mais transcendente, relativa à natureza das relações de causa e efeito no mundo da economia e da política.

Na verdade, não creio que exista problema mais difícil na ciência econômica. Um helicóptero que despeja cédulas de cem reais em cima de uma grande capital “causará” um aumento no custo de vida na referida cidade? Ou vice versa?

Antes de examinar este e outros problemas da espécie convém lembrar o preceito básico da lógica elementar segundo a qual a causa vem antes do efeito; o observador atento deverá, portanto, sempre procurar, acacianamente o que vem primeiro: o governo iluminado ou progresso econômico.

É claro que, na vida real, as coisas são mais complexas; nem sempre há clareza se o governo iluminado veio antes, ou muito antes, do progresso econômico. Na verdade, existem outras coisas que causam o progresso econômico e que o pesquisador pode não estar percebendo.

Pode ser, por exemplo, que seja uma economia internacional em franca expansão, face ao surgimento da China, a causar o progresso econômico no Brasil. Neste caso, seriam duas, portanto, as causas do progresso brasileiro, o governo iluminado e a China.

Na verdade, todavia, é possível que essas duas causas tenham peso diferente, ou mesmo que a China esteja causando a expansão da economia globalizada e o progresso no Brasil, e que o governo iluminado não tenha muita relevância nem para uma coisa nem para a outra. Na verdade, é possível mesmo que o governo não seja nada iluminado e que o progresso no Brasil esteja sendo causado por fatores alheios a nós, e pertinentes à China e ao pujante crescimento da economia internacional.

Mas o governo, que pode não ser nada iluminado, tem bons marqueteiros e entende perfeitamente as dúvidas que afligem os cientistas sociais e os eleitores quando se trata de identificar relações de causa e efeito. E num rasgo de grande iluminação lança uma iniciativa chamada PAC que consiste muito mais essencialmente em deixar claro que quer o crescimento, do que propriamente em mecanismos que sabidamente causam o crescimento.

Como as pessoas sabem que as causas costumam vir antes dos efeitos, elas escutam que o governo deflagrou iniciativas voltadas para o crescimento agrupadas pela enigmática sigla PAC. E em seguida são informadas que efetivamente está se observando algum crescimento. É de se concluir que PAC, ou o governo iluminado, produziu o crescimento? Ou terá sido a China?

Aqui entra uma certa mágica, ninguém vai querer acreditar que o crescimento foi causado pela China, por uma razão muito simples: a China está fora do controle do eleitor. É mais confortável supor que foi o PAC que causou o crescimento, pois esta crença proporciona ao eleitor uma esperança. Ou uma ilusão, faz pouca diferença. Na verdade, é disso que trata esta ciência conhecida como “marketing”, o estudo de um público com vistas a fazê-lo enxergar determinada coisa que, às vezes, não existe exatamente da forma como se vende.
Fidel Castro, por exemplo, é um milagre de “marketing”, um ditador que se aposenta com pensão completa, e mesmo com algumas homenagens, e sem que nenhum juiz espanhol venha lhe apoquentar como foi o caso de outro ditador mais ao Sul, o General Pinochet. Fidel parece ter migrado para o mundo da ficção, onde vigora uma espécie de “suspensão da descrença”. Acreditamos no que não existe, não enxergamos as mazelas e defeitos do líder, e o herói revolucionário se torna um mito que nenhuma acusação é capaz de atingir. O que são alguns cadáveres, ou algumas transações financeiras exóticas tendo lugar no quarto ao lado?

domingo, 4 de abril de 2010

2024) Suite a une erreur, nous nous excusons

Parece que eu não sei contar. Inclusive não se trata de conta complicada, integral, regressão essas coisas. Não! Se trata de coisa muito simples, abaixo da aritmética mais elementar: apenas registrar a sequência certa dos números que adotei para registrar a inclusão gradativa de posts neste blog (que, aliás, segue a numeração antiga, linear, já adotada nos blogs que o precederam imediatamente, e que de repente ficaram bloqueados por outras manifestações de incompetência técnica deste que aqui escreve).
O fato é que há uma verdadeira salada de números, tendo alguns leitores atentos me cobrado anteriormente esse aspectos bizarro de minha sequência: de repente, há um salto para a frente, ou para trás, e muitos posts ou ficam com numeração muito alta, denotando algum "desaparecimento" misterioso de vários deles, ou então ficam com numeração baixa, ocorrendo nesse caso repetição de números mais adiante.
Isso tudo talvez possa ser explicado pelo fato de eu por vezes postar cansado, e então digitar errado (trocar um zero por um nove, por exemplo, ou vice-versa), ou então pelo fato de dispor de vários blogs (especializados, em textos mais longos, por exemplo, ou em resenhas de livros, whatever). Tem também a possibilidade de que alguns comentários se referem a posts anteriores e, ao retomar a sequência da postagem, eu possa ter partido novamente daquele, não do último da séria.
Seja qual for o motivo -- e isso não tem a menor importância quanto ao conteúdo, posto que a maior parte dos blogs não efetua essa numeração manual -- eu pretendo reconstituir a sequência exata assim que dispuser de tempo, pois isso envolve uma operação manual, cansativa, repetitiva e não automatizável.
Nada que afete o conteúdo do post para seus leitores, apenas uma pequena obsessão minha quanto a ordem em meus papeis e registros (se eu não numerasse meus artigos terminados, por exemplo, eu simplesmente perderia o controle dos trabalhos).
A bientôt, e muito obrigado a todos aqueles que me alertaram para as incongruências da minha numeração...
Paulo Roberto de Almeida
(Dubai, 5 de abril de 2010)

1024) Passeando nos Emirados Arabes...

Estados menores que...(escolham)
Paulo Roberto de Almeida
Dubai, 4 de abril de 2010

Bem, nao posso reclamar da contagem, mas ainda ficaram me faltando 3 dos sete emirados.
Estou passeando nos Emirados Árabes Unidos (pelo menos é o que dizem), e dos sete da lista (Abu Dhabi, Dubai, Sharjah, Fujairah, Ajman, Umm al-Quwain e Ras al-Khaimah), consegui percorrer os quatro primeiros, em carro alugado e em dois dias completos.
Ficou faltando os três últimos, que são, na verdade, enclaves minúsculos no Golfo Arábico (que os iranianos insistem em chamar de Golfo Persa, por razões mais do que geográficas) e que penso conhecer uma outra vez que por aqui passe. Não que acrescentem muito, mas seria apenas para ter a conta redonda, ou no caso, em número impar.
Dos sete, o mais importante é incontestavelmente Dubai, a economia mais importante da região. A capital, contudo, fica em Abu Dhabi, na verdade uma cidade quase sem graça comparada a Dubai. Esta, a despeito do que dizem do petróleo, não depende em quase nada do chamado "ouro negro", e sim do comércio. Trata-se de uma espécie de Miami do Oriente Médio, com todos os shoppings de luxo que se puder imaginar, vias expressas, prédios luxuosíssimos (inclusive o prédio mais alto do mundo, e o hotel mais luxuoso de todos), e um comércio realmente impressionante.

Esses minúsculos estados já foram possessão portuguesa, desde o Vasco da Gama, mas depois os ingleses entraram no jogo e raptaram, como se sabe, todos eles, inclusive Aden, que era um posto importantíssimo. Pelo menos limparam as costas dos piratas, que parece que se mudaram para a Somália...

Eles tem muito petroleo, claro, o que explica a riqueza impressionante, mas aparentemente mal distribuída. Dubai é riquíssima, Sharjah tem muitos museus (mais de 16 pelas minhas contas, dos quais consegui visitar dois, o arqueológico e o de cultura islâmica), e Abu Dhabi também tem palácios impressionantes e os três tem hoteis de luxo, resorts e prédios altíssimos refinados.
Estive também em Fujairah, que é uma espécie de primo pobre, quase socialista, comparado aos irmãos mais ricos. É o único dos emirados que fica no Oceano Indico, com um pedaço de Oman na ponta da península (e continuando depois de Fujairah). O museu é de uma pobreza fransciscana e o forte está caindo aos pedaços, muito diferente do forte de Dubai que abriga um museu muito bem organizado (ficava em frente do meu hotel, ou o contrário...).

Eles são ricos, sim, mas não acredito que isso seja o resultado do petróleo, pois do contrário Nigéria, Venezuela e outros petro-estados também seria ricos e não são. Isso é o resultado do comércio livre, da abertura aos investimentos estrangeiros, sobretudo abertura de espírito.
Em Dubai, em Abu Dhabi e nos outros emirados se encontram todos os tipos de pessoas, imigrantes e estrangeiros trabalhando, muitos turistas. Todo tipo de mulheres: desde as americanas e europeias de short ou bermuda, até aquelas cobertas dos pés à cabeça.
Tentei mas não consegui fotografar uma de burka passando em frente a uma loja de lingerie, com manequins vestidas a caráter... Enfim, é a liberdade completa, ou quase...

Parto nesta segunda-feira 5 de abril para Shanghai, outra cidade riquíssima, mas sem a liberdade de que gozam os Emirados...

Paulo Roberto de Almeida
(Dubai, 5 de abril de 2010)

1023) O Brasil no Wall Street Journal - Rodrigo Constantino

Toda vez que sai uma matéria na imprensa internacional dizendo que o Brasil está bem, as "gentes" ficam entusiasmadas e correm para cantar novas loas a quem vocês sabem. Uma análise mais promenorizada, como esta que faz o economista Rodrigo Constantino, mostraria que os motivos de comemoração são bem outros, e que os de preocupação continuam presentes...

A matéria do WSJ
Rodrigo Costantino
29 de março de 2010

Em matéria sobre o Brasil, o renomado The Wall Street Journal conclui, de forma bastante otimista, que o amanhã chegou para o "país do futuro". Naturalmente, alguns esquerdistas já correram para soltar fogos de artifício: viva Lula! Seria bom mais cautela para esta turma, que já se queimou com a comemoração precipitada da matéria da The Economist com o Cristo Redentor na capa. Fica parecendo que essa gente nem sequer lê as matérias, e que o complexo de vira-lata é tão forte que eles vibram de emoção sempre que algum ícone do capitalismo faz elogios ao país. Se ao menos lessem a reportagem, evitariam tanto constrangimento. Tentarei facilitar a tarefa deles, colocando alguns trechos da matéria (em itálico), comentados em seguida por mim (em negrito).

"But the country has enormous challenges it must overcome before it can fully live up to its potential. Its public sector is bloated and riddled with corruption. Crime is rampant. Its infrastructure is badly in need of repair and expansion. The business environment is restrictive, with a labor code ripped from the pages of Benito Mussolini's economic playbook. Brazil also risks patting itself on the back so much that it fails to see the colossal work that remains to be done."

Logo no começo, o WSJ faz um caveat: os desafios que o país ainda enfrenta são enormes! E quais seriam esses desafios? Ora, justamente aquilo que a esquerda defendeu a vida inteira! O que ainda temos de ruim, de empecilhos ao progresso, é exatamente aquilo que figuras como Lula e Dilma sempre defenderam. Abaixo, maiores detalhes desses pontos.

"Things started changing in the 1990s. The government adopted strict monetary policies and a laser-like focus on balancing the books. That fiscal prudence has given the country remarkable cash reserves—and breathing room during crises."

O que aconteceu com a "herança maldita"? O WSJ parece pensar diferente do PT: o que veio ANTES é o que foi responsável pelas mudanças mais estruturais, e justamente aquilo que o PT lutou para impedir: estabilidade da moeda, responsabilidade fiscal, abertura comercial etc.

"Even a pledge for a bigger state role in the economy by Dilma Rousseff, Mr. da Silva's outgoing chief of staff and his hand-chosen successor as the party's candidate, isn't scaring off the business community. "It's refreshing to have an election and see there's no fuss about either outcome," says Andrew Béla Jánszky, a Brazilian investment lawyer in the São Paulo office of Shearman & Sterling LLP. "For once, stability is almost a given."

Ou seja, ATÉ MESMO uma Dilma da vida não assusta tanto, porque eles acreditam que ela não vai fazer... o que sempre defendeu na vida! Aqui está o maior ponto de discordância entre mim e o WSJ: considero a visão deles bastante ingênua. A Dilma não é "mais do mesmo"; ela é uma ameaça enorme de retrocesso, de mais autoritarismo ainda, de passos largos rumo ao modelo venezuelano. Souberam iludir o jornalista do WSJ direitinho com a retórica deles. Para cada público, um discurso diferente. Acorda, minha gente!

"For one thing, even after sweeping reforms, the government's role in the economy remains relatively big. Government spending totals more than 20% of the country's gross domestic product, compared with about 15% in the U.S., 13% in China and 7% in Indonesia, another fast-growing emerging market, according to data compiled by Mosaico Economia Política, a Brazilian consultancy."

Ops! Um dos maiores problemas do país: o tamanho excessivo do governo! E o que Dilma defende? Justamente mais governo ainda, um Estado "forte", ou seja, um monstrengo inchado que se mete em tudo na economia e nas nossas vidas. O que o país tem de pior é aquilo que Dilma mais gosta!

"Another problem is the restrictive business environment, especially strict labor laws that date back to the 1940s and were originally modeled on the statist policies of Mussolini."

Pois é... um dos piores pontos para o Brasil é a nossa lei fascista trabalhista, aquela que garante infindáveis privilégios aos sindicatos, aquela que dificulta a vida dos empresários, que gera desemprego e informalidade, e sim, que a esquerda adora e não aceita mudar! O país precisa de reformas liberais trabalhistas. A esquerda defende isso?

"Yet another obstacle to growth is a lack of infrastructure—from roads, railways and bridges to docks, airports and pipelines."

E o PAC?! Ah sim, Lula já vai lançar o segundo PAC, e o primeiro mal começou! Os setores que ficam sob a responsabilidade do governo são os mais caóticos? Não acredito!

"Crime is still a big problem in most cities and in lawless rural areas where ruthless prospectors, loggers and landowners at times ride roughshod over their neighbors."

Acho que o WSJ não defenderia muito o "movimento social" chamado MST, tão próximo do PT.

Em resumo, a matéria do WSJ se mostra bem otimista com o Brasil, é verdade. Mas aponta os pricipais obstáculos, todos eles bandeiras que os esquerdistas defenderam a vida toda. Para superá-los, o país necessita de muitas REFORMAS LIBERAIS. Mas não há partido que defenda tais reformas, muito menos o PT. Ao contrário: Dilma representa um retrocesso em relação a todas essas mudanças necessárias. E eis o maior erro do WSJ, em minha opinião: ignorar este risco, aceitar a premissa de que Dilma é apenas "mais do mesmo". Não é! Dilma é a candidata de Chávez. Ela representa, mais ainda que Lula, uma guinada rumo ao modelo autoritário venezuelano.

O segundo erro do jornal é pegar a foto relativamente favorável da economia brasileira, e ignorar seus pilares de areia. Aumento de transferências do governo para os mais pobres, crédito público explodindo, aumento de gastos públicos, nada disso representa um modelo de crescimento sustentável. Sem as reformas estruturais, o país terá apenas vôos de galinha, e continuará sim sendo o eterno "país do futuro". O WSJ tem a obrigação de saber bem disso. Afinal, ao lado do Heritage Foundation ele publica o Índice de Liberdade Econômica todo ano, que coloca o Brasil entre os menos livres do mundo. Sem liberdade econômica, não há progresso de longo prazo. O governo Lula e sua candidata Dilma, por acaso, defendem mais liberdade econômica ou mais Estado gerindo a economia? Pois é...

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Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...