quarta-feira, 16 de junho de 2010

Brasil terá maior crescimento agrícola do mundo até 2019

Como demonstra a matéria abaixo da BBC-Brasil, nosso país é uma potência agrícola e deve continuar a sê-lo no futuro previsível. Isso tem tudo a ver com a teoria das vantagens comparativas de David Ricardo, como já afirmava desde meados do século passado um economista clarividente como Eugênio Gudin, acusado, pelos "industrializantes" ignaros da época, de ser um partidário do "Brasil eternamente agrícola", o que obviamente é ridículo.
Não existe nenhum atraso em ser uma potência agrícola, atividade que reune o que tem de melhor na ciência, na tecnologia, na indústria, nos serviços, na pesquisa de ponta.
Isso não tem absolutamente nada a ver com a "desindustrialização" do Brasil. Todos os países passam pela diminuição do setor industrial na formação do PIB, geralmente em direção dos serviços, mas não há nada de fundamentalmente errado em reforçar o setor agrícola, sobretudo se este é moderno, pujante, capitalizado e cientificamente apoiado como é o caso no Brasil.
Paulo Roberto de Almeida

Brasil terá maior crescimento agrícola do mundo até 2019
Daniela Fernandes
De Paris para a BBC Brasil
15 de junho, 2010

Brasil deve ampliar participação em produtos que já exporta

A produção agrícola do Brasil deverá registrar o maior crescimento mundial, de mais de 40% até 2019, na comparação com o período entre 2007 e 2009, segundo um relatório conjunto da Organização da ONU para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgado nesta terça-feira.

“É no Brasil que a alta da produção agrícola será, de longe, a mais rápida”, afirma o documento Perspectivas Agrícolas 2010-2019, divulgado pelas duas organizações.

De acordo com o relatório, a agricultura russa deve crescer 26% até 2019. Os setores agrícolas da China e da Índia também devem registrar um aumento significativo nesse período, de 26% e 21%, respectivamente.

Já a produção agrícola da União Europeia deve registrar uma expansão de menos de 4% até 2019, segundo o relatório, que classifica o desempenho como “estagnado”.
“O aumento da produção agrícola mundial deverá ser menos rápido durante a próxima década do que nos últimos dez anos, mas ela deverá, no entanto, permitir o crescimento de 70% da produção mundial de alimentos até 2050, como exige o crescimento demográfico previsto”, afirma o relatório.

Etanol
O documento demonstra que o Brasil deve ampliar ainda mais suas atividades em setores agrícolas onde já atua com destaque. Um deles é o da produção de etanol, que deve crescer 7,5% por ano no Brasil no período entre 2010 e 2019.

“O Brasil, com sua indústria baseada na produção de etanol a partir da cana-de-açúcar, deverá ser o principal exportador mundial. Uma parte dessas exportações deve transitar pelos países do Caribe com destino aos Estados Unidos para se beneficiar de condições preferenciais de importação”, diz o relatório.

Segundo a FAO e a OCDE, “o aumento do comércio internacional de etanol vai resultar quase totalmente do crescimento das exportações brasileiras”.

O documento afirma ainda que “40% do aumento da produção mundial de etanol deve ser realizado graças ao aumento da produção baseada na cana-de-açúcar, principalmente do Brasil, para atender a demanda doméstica brasileira e americana”.

Oleaginosas
Outro setor agrícola em que o Brasil deverá ter maior destaque é o dos oleaginosos (soja, milho, óleos vegetais). Durante a próxima década, 70% do aumento das exportações mundiais de grãos oleaginosos devem vir do Brasil.

As exportações brasileiras do produto devem passar de 26% do total mundial em 2010 a 35% em 2019, diz o relatório.
“O Brasil deverá se tornar o primeiro exportador mundial de grãos oleaginosos, ultrapassando os Estados Unidos em 2018.”

O país também deverá ampliar sua posição, já forte, no mercado mundial de açúcar, representando 50% do comércio internacional na próxima década.

O Brasil terá ainda um papel significativo no aumento do comércio mundial de carnes, contribuindo “sozinho com 63% das exportações de países que não integram a OCDE e com um terço das exportações mundiais”, diz o relatório.

O documento afirma também que os preços dos produtos agrícolas voltaram a cair, após os níveis recordes atingidos há dois anos, durante a crise alimentar, mas ressalta que “é pouco provável” que eles voltem aos níveis médios da década passada.

Os preços médios devem permanecer mais elevados e as preocupações em relação à segurança alimentar persistem, afirmam as duas organizações.

Elas preveem que as cotações médias do trigo e dos cereais serão, nos próximos dez anos, entre 15% e 40% superiores às do período entre 1997 e 2006

De servos e de seres livres: um rebound (e encerramento do debate)

Um EX-SERVO do Estado me escreveu um longo comentário ao post que leva este título (ver mais abaixo), e depois reclamou que eu tinha limitado seu direito de expressão. Isso se deveu não à minha censura, como pretendeu afirmar o comentarista em questão, mas a uma limitação técnica do sistema, como vai aqui explicitado:

Seu HTML não pode ser aceito: Must be at most 4,096 characters

Ou seja, como eu, o Ex-Servo do Estado tem a mania de escrever demais. Vou transcrever abaixo o que esse comentarista escreveu, que agora sei quem é, mas não vem ao caso.
Considero que fica encerrada aqui a discussão, pois não me interessa prolongar um debate esquizofrênico, cheio de equívocos e ressentimentos.
Permito-me apenas responder a determinadas bobagens ao final.
Paulo Roberto de Almeida

Transcrevo:
Prezado embaixador,
Vejo que V.Exa tem um problema terrível com a palavra hermenêutica, pois eu afirmei que me considero um ex-servo do Olimpo, justamente, por que me libertei daquilo que supostamente me remetia a uma prisão [de qualquer ordem].
Eu não disse que sou servo. Vou dar um exemplo: V.Exa se diz ex-socialista, isto significa que ex-socialista não é socialista. Conseguiu compreender a diferença agora ?
Foi apenas uma metáfora que quer significar a liberdade plena e nada mais. Já tinha reparado que V.Exa escreve sem interpretar, devidamente, os próprios escritos, que dirá os alheios !
Quanto ao seu conceito de liberdade, achei um tanto sofrível, posso dizer até “gongorico”, o final de sua defesa, pois quase me emocionou. O que eu questionei não foi o fato de V.Exa ser um servo [ops! melhor servidor] do Estado, mas sim, justamente, por que faz críticas e usufrui de TODAS as prerrogativas que o Estado lhe confere. Assim como os militares, V.Exa sempre diz que os diplomatas são sanguessugas do Estado. Não fui eu que disse isso, foi V.Exa em seu livro “A Grande Mudança”.
Eu não sou contra o que escreve, pelo contrário. Só acho que V.Exa critica mas, efetivamente, não faz nada para mudar ideologicamente suas atitudes. É liderado por um homem que tem menos estudo do que uma relés Dona-de-Casa. Como isso deve fazê-lo sofrer! Estudou a vida inteira para ser chefiado pelo Lula, que trágico fim o seu. Isso não é uma prisão? Ele é que decide mandá-lo para China ou para Conchinchina, acha mesmo que isso é liberdade ?
Usarei suas próprias palavras: “...as pessoas têm o direito de criticar o Estado e de criticar as políticas públicas....” e acrescentarei o seguinte: “desde que suas ações coadunam com seus pensamentos”.
O Brasil não precisa de mais Estado na economia para se desenvolver. Isto é fato!
Mas V.Exa, que critica os muitos jovens que querem a carreira pública faz, parte do serviço público. Então por que está no Serviço Público ?
Apenas a guisa de esclarecimento, eu não me contento com um Estado espoliador, jamais ! E concordo plenamente que o Brasil é uma anomalia no conjunto de economias em desenvolvimento; que possui uma carga tributária nefasta para setor patronal e, também, para o povo, mas V.Exa faz parte daqueles que usufruem de todos os privilégios dados pelo Estado e que aumentam o déficit público, pois isso volta para o contribuinte.
Quanto à não concordar com um Estado que arranca metade da renda e ainda o obriga a comprar no setor privado os serviços, não é uma questão de sinceridade, mas sim de coerência, sendo assim, aqui foi um ponto onde concordamos.
Quanto à V.Exa não concordar com a estabilidade funcional, já tinha escrito isso também em seu livro “A Grande Mudança”, para mim continua a ser demagogia, visto que diz que não gosta de Caviar, mas come o infeliz do Caviar. [Eu particularmente adoro Caviar e assumo]
Agora, o seu desfecho nesta defesa foi piegas, pois se acha que tudo isso é uma indignidade com o povo brasileiro e se é adepto do princípio da dignidade da pessoa humana, então, eu pergunto:
1 ) - Por que não larga as tetas públicas e produz [como empresário] para este povo que trabalha tanto e paga os seus privilégios, segundo suas próprias palavras ?
2 ) Acha mesmo que como empresário sua influência não seria mais “producente”, junto à APEX, salvo engano órgão ao qual está com V.Exa. na Expo China representando o Brasil para uma maior visibilidade internacional ?
3 )- Como cidadão pagador de impostos, não seria melhor que o fizesse na condição de empresário ? Visto que além de produzir, daria empregos e ajudaria no desenvolvimento econômico do país ?
4 ) - Matematicamente falando, talvez fosse o caso de deixar de alugar seu cérebro servilmente [santa tolice], para produzir mais dentro deste gigante adormecido, não acha que traria mais resultados positivos para o povo brasileiro ?
5 )- Será que V.Exa, realmente, é um ser livre ?
Da próxima vez que escrever, pode até me criticar, mas, por favor, interprete melhor o que eu escrevo, pois não sou “SERVO” e sim “EX-SERVO” que raciocina e que neste momento se volta contra o criador, no sentido de lhe dizer: produza para o país e saia do discurso a lá moda Azambuja e tantos outros...

Remetente: Um ex-servo do Olimpo
Destinatário: Ao Deus do Saber do Olimpo
(Brasil, 17.06.2010)

Fim de transcricao

Comento rapidamente:
1) Não sou embaixador, mas isso não vem ao caso e não tem nada a ver com o debate.
2) Meu conceito de liberdade é muito simples: pessoas conscientes, mesmo quando funcionários públicos, não se contentam em ser submissos ao Estado, mas exercem o seu direito de criticar esse mesmo Estado. No meu conceito, as liberdades individuais vêm antes da sujeição ao Estado.
3) O "ex-servo do Estado" pretende que eu me retire do Estado para poder criticá-lo, o que é contraditório com a expressão acima, das liberdades fundamentais.
4) Não desfruto de nenhuma mordomia estatal: trabalho, tenho salário, pago minhas despesas com meu próprio salário. As alegações são ridículas, inclusive quanto ao caviar.
5) Seria demagogia se eu usasse minha condição profissional para defender a estabilidade funcional. Como sou um ser livre, defendo o fim da estabilidade para TODOS os funcionários públicos, pois considero isso nefasto do ponto de vista dos serviços público e uma fonte de privilégios e mordomias inaceitáveis para o povo brasileiro.
6) Num país livre, cada um escolhe ser empresário, funcionário público, professor, qualquer coisa, e isso não tem absolutamente nada a ver com o que cada um pensa sobre o Estado, a economia, os direitos individuais, o exercício dos deveres cívicos, etc.

Dou por encerrada esta discussão ridícula, com quem quer se promover, ainda que anonimamente.
16.06.2010

Venezuela - de volta a uma triste realidade econômica

Sinceramente, gostaria de postar coisas mais interessantes sobre a Venezuela, do que simples notícias de "alimentos apodrecidos".
Mas creio que essa é a triste realidade da Venezuela hoje: um país que deveria estar discutindo programas de governo e perspectivas eleitorais, e tem de se ocupar de cenários que imaginávamos enterrados no passado: inflação, falta de alimentos, cortes de eletricidade e de água, enfim, cenas prosaicas demais para merecer maior atenção...
Paulo Roberto de Almeida

Comida podre na Venezuela
Editorial
O Estado de S.Paulo, 16/06/2010

Comida apodrece em portos da Venezuela, enquanto os consumidores enfrentam uma crise de abastecimento, com escassez de produtos no mercado e preços em alta. O governo joga a culpa da inflação nos fantasmas de sempre -- especuladores interessados em desestabilizar o regime do presidente Hugo Chávez. Mas os carregamentos abandonados e em deterioração foram importados pela PDVAL, uma subsidiária da Petróleos de Venezuela, a estatal convertida num dos principais instrumentos de intervenção na economia do País. Segundo admitiu o governo na semana passada, 30 mil toneladas de alimentos estavam se estragando em contêineres no Porto Cabello. De acordo com a imprensa oposicionista, o total passa de 75 mil toneladas, em vários portos.

O desperdício dessa comida é apenas mais um desastre imposto ao povo da Venezuela pelo estilo de governo bolivariano, uma mistura de autoritarismo, incompetência e corrupção. O crescente autoritarismo tem sido acompanhado de intervenção cada vez mais ampla em setores da economia venezuelana. O resultado tem sido invariavelmente catastrófico. Uma rede varejista foi montada para distribuir alimentos. Essas lojas deveriam levar aos consumidores a comida importada pela PDVAL, mas o sistema tem falhado de ponta a ponta. Os produtos não chegam, as prateleiras ficam vazias e o público enfrenta dificuldades cada vez mais sérias para se abastecer. De janeiro a maio o custo da alimentação subiu 21%, segundo o Banco Central.

A inflação da comida é mais um componente de uma situação muito difícil para a maior parte da população, já afetada pela falta de água, pela escassez de energia elétrica, pelas deficiências do investimento público e por uma situação econômica em deterioração cada vez mais sensível. Há anos o governo desperdiça o dinheiro do petróleo em ações destinadas a consolidar um regime cada vez mais centralizador e repressivo, em vez de aproveitá-lo para modernizar a economia, diversificar a produção e fortalecer o próprio setor petrolífero.

A desapropriação e redistribuição de terras foi um fracasso. Isso não surpreende. Há uma distância enorme entre a tolice retórica a respeito da "soberania alimentar" e a criação de condições favoráveis à produção e ao abastecimento. Em todos os outros setores a intervenção oficial produziu resultados igualmente ruins.

O governo reage à sucessão de fracassos com novas ações contra a oposição, contra a liberdade de informação e de opinião e contra o setor privado. Uma de suas últimas façanhas foi mandar prender o presidente da TV Globovisión. O empresário, dono também de uma distribuidora de carros, foi acusado de esconder automóveis para especular com os preços. O ridículo da acusação e a pobreza da justificativa de mais essa violência só não escandalizam os defensores do autoritarismo e da censura -- entre os quais se destaca o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Esse é o padrão Chávez. A cada novo desastre provocado por sua ambição de controlar toda a vida venezuelana, ele reage distribuindo acusações e praticando mais alguma arbitrariedade. Já impôs ao Congresso domínio suficiente para não encontrar oposição séria entre os parlamentares. Domesticou boa parte do Judiciário, mandando prender quem se atreve a assinar uma sentença contrária a seus interesses políticos. Dispõe de milícias para promover arruaças e intimidar quem tenta manter alguma independência de opinião. Inabilita profissionais, especialmente jornalistas e advogados, quando se tornam incômodos.

As condições de abastecimento só não são piores na Venezuela porque ainda há algumas empresas privadas no setor. Mas o número diminui rapidamente. Na semana passada o governo anunciou a imposição de seu controle a mais 18 empresas do setor. O alvo principal de Chávez, agora, é a maior empresa privada do setor de comidas e bebidas, a Polar, já prejudicada pelo confisco de produtos. A desapropriação de mais uma grande empresa será uma nova oportunidade para a expansão da incompetência e da corrupção.

O PT exagerou na cara de pau: uma desfacatez muito grande

Este blog não se ocupa diretamente de questões políticas, pelo menos não de temas partidários, ou de eleições e preferências políticas. Ele se ocupa de ideias, entre outras ideias politicas, mas sobretudo de princípios, valores, políticas públicas. Ele pretende preservar a dignidade das boas ideias politicas e contribuir para a melhora dos "costumes políticos" no Brasil.
Eu raramente, ou quase nunca, postaria uma matéria como essa que vai abaixo, se não fosse por uma legítima indignação com a mentira, a desfaçatez, a cara-de-pau e a sem-vergonhice, tão evidentes no tema básica.
Ou seja, o partido que vem usando golpes baixos, que vem montando dossiês e que mente desbragadamente com respeito a suas patifarias pretende acusar os adversários de fazer todas aquelas trapaças às quais ele mesmo recorre e usa extensa e intensivamente.
Como se diz em linguagem popular: é muita cara-de-pau.
Creio que atitudes como essa, merecem denúncia e repúdio indignado, pelo menos da parte de todos aqueles que gostariam de ver uma campanha presidencial de alto nível, com eleições marcadas pela lisura, pelo debate aberto, pela sinceridade de propósitos, enfim.
Minha contribuição à campanha atual, para manter meus princípios e valores, seria confirmar meu total repúdio a esse tipo de atitude, e dizer o que segue:
1) A campanha política será marcada por uma disputa eleitoral entre dois candidatos em torno dos quais se dará o debate político sobre como cada um pretende conduzir a próxima presidência, com base nas suas percepções pessoais sobre os problemas principais do Brasil e suas propostas de soluções. Não estão em causa a administração FHC e sequer a de Lula. As manipulações e tentativas para desviar o foco do debate e orientá-lo em comparações com o passado são a meu ver equivocadas.
2) A acusação de que a oposição aposta no "quanto pior melhor" é de absoluta má-fé e de distorção da verdadeira realidade. Quem recorre a todos os expedientes para tentar ganhar é o PT, que intervem vergonhosamente num diretório estadual para distorcer a vontade de seus militantes e quadros regionais.
3) Acusar alguém de "submissão internacional" é de tão baixo nível que sequer cabe uma rejeição desse inventado propósito, feito de má-fé, numa atitude praticamente criminosa.
4) Finalmente, quando aos grandes temas propostos para campanha -- "reforma agrária, democratização da comunicação social e implantação do imposto sobre grandes riquezas" -- minhas únicas observações são estas: reforma agrária é uma questão praticamente marginal hoje em dia, pertencendo ao Brasil de um passado de agricultura atrasada e pouco capitalizada; "democratização da comunicação social" é um outro nome para a tentativa autoritária e liberticida de controlar a imprensa, criando o que se chama de "grande irmão censor"; imposto sobre as grandes fortunas pode até ser discutido, mas num contexto eleitoral significa pretender fazer demagogia classista, jogando os pobres contra os ricos, para tentar fazer crer que os pobres estariam em melhor situação se esse imposto fosse criado, já que anima a sanha distributivista dos ingênuos, que não sabem que seria mais uma maneira de dar dinheiro a um Estado já superdimensionado, um ogro insaciável em sua extorsão tributária.
Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 16.06.2010)

PT volta a atacar imprensa e fala em manipulação
Leila Suwwan
O Globo, 16/06/2010

Partido aprova resolução afirmando que oposição usará golpes baixos e grandes meios de comunicação na campanha

Resolução política do PT aprovada na última sexta-feira ataca a imprensa e afirma que a disputa será marcada por "golpes baixos" e "tentativa de manipulação dos meios de comunicação". O documento afirma que a oposição e seus "apoiadores nos meios de comunicação" tentarão influenciar o resultado da eleição. Também conclama a militância a transformar os esforços da chapa Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (PMDB) em uma campanha de massas, e a insistir na comparação entre os governos de Lula e Fernando Henrique Cardoso.

O documentou resultou da reunião do Diretório Nacional do partido, semana passada, em São Paulo, e foi divulgado no site do PT. Na mesma reunião, foi decidida a intervenção no diretório regional do Maranhão para garantir o apoio à reeleição de Roseana Sarney (PMDB) para o governo. O diretório regional havia optado pelo apoio a Flávio Dino (PCdoB).

O documento já antecipava orientações presentes também no discurso do presidente Lula na convenção do partido, no último domingo, quando ele avaliou como "quase absoluta" a chance de vitória. "Devemos estar preparados para uma campanha de golpes baixos. (...) E que sinaliza qual será o comportamento de uma parte da oposição durante nosso futuro governo", diz o texto do partido.

O documento afirma que "a oposição e seus apoiadores nos meios de comunicação já demonstraram, por diversas vezes, estar dispostos a absolutamente tudo para tentar ganhar as eleições". "Farão de tudo para levar a eleição ao segundo turno, apoiando outras candidaturas, estimulando a judicialização da política, usando os grandes meios de comunicação como boletins de campanha, atacando os direitos humanos, torcendo para que a nova etapa da crise internacional altere para pior as condições do Brasil, produzindo crise cambial, alta de juros e primarização de nossa pauta de exportações."

O diagnóstico é baseado em acontecimentos das últimas semanas, sem citar o suposto dossiê e acusando o candidato tucano, José Serra, de usurpar mensagens de continuidade. A análise do partido é de que a estratégia do PSDB não teve êxito. Fala em dianteira nas pesquisas, crescimento de Dilma e "estancamento" de Serra - os candidatos estavam tecnicamente empatados nas últimas sondagens. O PT pede que a militância "não baixe a guarda".

O texto acusa o tucano José Serra de "submissão" internacional: "O candidato da oposição ataca a política externa brasileira, deixando evidente que sua opção é pela submissão aos poderosos de ontem, sem perceber que o mundo está mudando e que nosso país já é um dos protagonistas de uma nova época que está nascendo".

A resolução apresenta uma espécie de manual para discussões eleitorais, ancorado na comparação entre os governos Lula (2003-2010) e Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).

"Interessa explicar as vantagens do modelo de partilha frente ao modelo de concessão; o papel decisivo que os bancos públicos jogaram, para evitar os efeitos mais perversos da crise internacional; o papel da elevação do salário mínimo e de programas de transferência de renda, para estimular um mercado interno que sustentou o crescimento do país", afirma o documento.

O texto pede o envolvimento dos partidos de esquerda, movimentos sociais e intelectuais para aprofundar o caráter popular do governo e alcançar três objetivos: reforma agrária, democratização da comunicação social e implantação do imposto sobre grandes riquezas.

Por que o Brasil nao vai crescer? duas respostas prontas (e frescas)...

Já fiz dois posts dando as razões de "Por Que o Brasil Não Vai, Não Pode, Não Quer Crescer". Elas são tão evidentes que nem preciso me estender sobre elas (busquem alguns posts atrás, ou usem o instrumento de busca aí do lado).
Creio que vou ter de voltar ao assunto mais vezes, não por que gosto, ou por que pretendo, mas é que as razões são tantas que fica difícil não trazê-las aqui ao conhecimento dos leitores interessados.
Abaixo, vocês têm mais duas, e nem vou comentar, pois acho que não é preciso.
Só falta quantificar os custos diretos (esses são cálculos mais rápidos de fazer) e os indiretos e delongados (mais difíceis, pois as consequências vão se estender durante quarenta anos ou mais, e vão pesar todo ano cada vez um pouco mais nos nossos bolso).

Aposentados
Lula mantém reajuste de 7,7% e veta fim do fator previdenciário.

Plano de carreira
Lula sanciona plano de carreira da Câmara que garante aumento de até 40%.


Estaria bem assim, ou vocês querem mais?
Resta apenas saber o que, exatamente, o governo vai cortar em termos de serviços para a população -- saúde, educação, segurança -- ou de infra-estrutura que não vai ser construída -- escolas, hospitais, delegacias, estradas, enfim, tudo. Investimentos que já são poucos, vão continuar magros, e em algum momento o governo vai meter um pouco mais sua mão suja no nosso bolso e no caixa das empresas para arrancar um pouco mais de dinheiro. Ou então ele vai produzir inflação.
Esse é o preço de quem pretende ser generoso com quem não deveria...
Voilà: duas razões para o Brasil não crescer.
Amanhã deve ter mais...
Paulo Roberto de Almeida
(16.04.2010)

De servos e de seres livres

Um Anônimo (sempre essas criaturas que têm medo, ou vergonha, de assumir a própria identidade), que se assina como "ex-servo do Olimpo" [no Brasil??!!], escreveu o que segue a propósito deste meu post:

"Por que o Brasil nao vai crescer?"


Anônimo disse...

Apenas se torna incompreensível que o autor do blog seja um funcionário de alto escalão do próprio Estado, que tanto critica, assim como é pago pelo povo que atribui ser o culpado e tolo. Incoerência ou bipolaridade filosófica ? Talvez pura e mera demagogia, pois se realmente fosse adepto de suas próprias convicções já teria saído do Itamaraty e defendido com mais afinco sua visão liberal de menos Estado na economia! Discurso é fácil, ações é que são difíceis de serem realizadas. A maior liderança é a do exemplo ou estou equivocado (a). Escreveu outrora, sobre a dificuldade de se ter empreendendores no Brasil, então, onde fica o exemplo ? Talvez fosse o caso de ler o Monge e o Executivo para tentar ser líder pelo exemplo e não pelo discurso, já basta o nosso presidente com a sua demagogia exacerbada.
Reflita senhor embaixador...assinado um anônimo facilmente identificável como ex-servo do Olimpo.


Então respondo:


Anônimo servo,

Eu acho incompreensível, da minha parte, que alguém se identifique, não como uma pessoa em sua plena capacidade, mas como um servo de qualquer coisa, seja essa coisa o Olimpo, o Nirvana, o Paraíso, um palácio presidencial ou seja lá o que for.
Prefiro ser um ser livre no pântano, no deserto, que seja numa prisão de algum désposta, do que ser servo de qualquer um ou de qualquer "coisa". Mesmo sendo prisioneiro de alguém, conservarei sempre meu espírito de liberdade, e minha vontade própria, de fazer apenas aquilo que a minha consciência me ditar, e não o que for ordenado por alguém.
Também acho incompreensível o fato de você achar incompreensível o fato de alguém que é temporariamente um servidor do Estado deixar a capacidade de pensar com sua própria cabeça e ter de prestar voto de obediência a quem quer que seja. Uma coisa é o desempenho de funções no Estado, algo que pode me ocupar algumas horas do dia. Outra coisa seria alugar a minha consciência e a minha capacidade de pensar com minha própria cabeça a quem quer que seja, ainda que seja o meu chefe imediato.
Saiba Anônimo Servo que jamais eu concordaria com o meu chefe apenas porque ele me disse para fazê-lo, se eu não estiver pessoalmente convencido daquela mesma coisa. Posso até obedecer uma ordem que não seja ilegal, e que não violente minha dignidade, se aquilo fizer parte de minhas funções, mas jamais submeterei minha capacidade cognitiva, minha disposição de pensar com minha própria cabeça apenas porque sou um funcionário do Estado, jamais o servo de um soberano qualquer. O tempo dos súditos já passou há muito tempo, e se fosse o caso, provavelmente eu nunca aceitaria ser súdito de alguém.

Apenas nas ditaduras, e nos regimes servis, somos obrigados a nos conformar com a vontade do soberano.
Em qualquer regime democrático digno desse nome um cidadão qualquer, em qualquer capacidade profissional, tem o direito de não apenas discordar de seus chefes, mas também de chamar o presidente de incompetente, mentiroso, vagabundo, fraudador, demagogo, populista e sem-vergonha (aplique a quem quiser). Nos EUA, pessoas e grupos políticos acusam o presidente Obama de ser um estrangeiro e até de ser um agente inimigo, e não me consta que, enquanto não atentarem contra a segurança física do presidente ou comprometerem a segurança nacional, qualquer um deles esteja sendo ameaçado pelo presidente ou pela presidência da República americana.
Democracias são assim: as pessoas têm o direito de criticar o Estado e de criticar as políticas públicas com as quais não concordam, as simple as that.
Você, que se intitula "servo do Olimpo" -- e que, portanto, deve ter usufruido de uma educação acima da média -- deveria saber disso, e se escolhe ser chamado de "servo" é apenas por um espírito servil que, repito, para mim é incompreensível.

Você me acusa de criticar o Estado que me paga e até o próprio povo, por ser tolo ou até estúpido, por preferir mais Estado, quando este o espolia de mais da metada da sua renda.
Se você, Anônimo servil, se contenta de servir a um Estado assim espoliador, saiba que eu não, e se como você, pretendo o melhor Estado possível para o Brasil e para os seus cidadãos -- mesmo para os mais tolos, que pagam como carneiros todos os seus impostos sem reclamar -- então, se você tivesse um pouquinho de consciência crítica, chegaria à mesma conclusão que eu cheguei: que o Brasil é uma anomalia no conjunto de economias em desenvolvimento: que o Brasil tem uma carga fiscal de país rico para serviços públicos de país miserável.
Saiba que eu nunca vou me conformar com isso, e estarei sempre disposto a criticar o Estado, o povo, o presidente, os anônimos que me escrevem que se conformam com isso.
Como pessoa que não abandona o cérebro em casa quando vai trabalhar, sempre farei o que sempre fiz: expressar exatamente o que penso, e lutar por ideais, princípios, valores e medidas que estimo, com base numa análise racional da realidade, melhores para o meu país e meu povo.

Saiba Anônimo servil, que isso não é demagogia, nem liberalismo, apenas a expressão da melhor política possível para o maior número. Isso se chama racionalidade e independência de pensamento, duela a quien duela, como diria um dos maiores presidentes fraudadores da história do Brasil. Aliás, o fraudador está em boa companhia atualmente.
Se você for sincero, não pode concordar com um Estado que lhe arranca metade da renda e ainda o obriga a comprar no setor privado os serviços -- de educação, de saúde, de transporte, e talvez até de aposentadoria (salvo se você for um privilegiado do setor público) -- que o Estado lhe deveria prover e que não dispensa, ou presta mal, porcamente.
Saiba que mesmo sendo um funcionário público, jamais concordarei com a estabilidade funcional para servidores públicos -- mesmo para diplomatas -- e jamais concordarei com os privilégios de aposentadoria de que somos beneficiários. Tudo isso é uma indignidade para com o povo brasileiro, que trabalha e paga esses privilégios injustificáveis em qualquer país normal.

Termino: não preciso sair do Itamaraty para dizer o que digo, pois nada do que digo tem a ver com a formulação e a execução da política externa e sim com a minha condição de cidadão pagador de impostos, e dono de um cérebro que ainda permanece livre, mesmo alugado por algumas horas para o serviço exterior brasileiro.

Da próxima vez que me escrever, pode até me criticar, mas, por favor, não se qualifique mais como "servo", pois isso o diminui terrivelmente. Continue anônimo, se de desejar, mas preserve a sua dignidade.

Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 16.06.2010)

terça-feira, 15 de junho de 2010

Um centro de estudos afro-asiaticos que involui para o racialismo...

Recebi, de um expedidor que colocou como assunto "Solicitação de apoio ao pleito do CEAO", a mensagem in fine, que pode ser lida, se alguém desejar, antes desta minha resposta, que segue imediatamente abaixo.

Ao Gabinete da UFBA e ao
Centro de Estudos Afro-Orientais,

Minha opinião, que certamente não será levada em conta, é a de que o Centro seja efetivamente estruturado para servir de instituição de pesquisa, de reflexões e de debates, e até de trabalhos de pós-graduação, nas áreas que eram originalmente as suas, ou seja, o estudo das sociedades da África e da Ásia e suas relações com o Brasil e o continente sul-americano, no contexto da globalização (um termo que não existia quando ele foi criado, mas que já existia como realidade, ainda que colonial e semi-colonial).
As propostas emitidas no comunicado abaixo evidenciam o propósito de interiorizar o CEAO, de torná-lo um centro para o debate (viciado) de temas brasilo-brasileiros, não internacionais, como seria desejável.
Constato que o CEAO se prepara para converter-se em instituto da UFBA para atender ao mesmo tipo de clientela que vem transformando a agenda dos debates sociais e políticos no Brasil, infelizmente para pior.
Também constato, com tristeza, que o CEAO adere ao mesmo tipo de ideologia que, tendo sido importada dos EUA, pretende reproduzir no Brasil um novo tipo de política racialista, de cunho pretensamente afro-brasileira, mas que nada mais vai fazer senão criar um novo Apartheid numa sociedade que não se distinguia até aqui, pelo menos não no plano da cultura social e no das políticas públicas, por políticas e práticas de cunho racialista.
Considero pessoalmente lamentável que a universidade - que segundo o seu nome deveria ser universalista -- esteja aderindo a orientações e práticas divisionistas no pior sentido da palavra, de natureza racial, o que pode até ser inconstitucional.
Lamentável, também, que uma entidade que se pretendia aberta ao mundo, venha a se enclausurar num tipo de debate viciado e vicioso que está dividindo a sociedade brasileira e que ameaça criar -- a despeito de todos os problemas reais de discriminação e de preconceito -- algo que nunca existiu no Brasil: o conflito aberto de raças e talvez até o ódio racial.
Considero essa involução nefasta para o futuro do Brasil como nação integrada e como sociedade multirracial, pois a proposta implícita a esta consulta visa a separar, não a unir pesquisadores em torno de uma agenda comum.
Triste constatar que a universidade brasileira, no caso a baiana, consiga dar um tremendo passo atrás no sentido da construção de uma sociedade inclusiva, e que ela se renda a uma ideologia nefasta da separação racial que certamente vai criar mais problemas do que pretende resolver.
A despeito de ser pela revitalização do CEAO, sou clara e terminantemente contrário à agenda de trabalho que se pretende criar para seus trabalhos.
Atenciosamente,
Paulo Roberto de Almeida
Diplomata e professor universitário
http://www.pralmeida.org

===============

Mensagem recebida em 15.06.2010:

CEAO - Centro de Estudos Afro-Orientais
Colaboradores/as e parceiros/as do CEAO,

No âmbito das comemorações dos 50 anos do Centro de Estudos Afro-Orientais (CEAO), iniciamos o processo de transformação do Centro em uma nova unidade universitária, de caráter multidisciplinar, dedicada aos estudos étnicos, africanos e afro-brasileiros. Na fase atual, o Projeto de criação do novo Instituto, o parecer técnico sobre o projeto e anexos estão disponíveis na página da UFBA (www.ufba.br) para consulta pública, seguindo o que determina o Estatuto da Universidade.

Em 1959, o Centro de Estudos Afro-Orientais foi concebido como um canal de diálogo entre, por um lado, o Brasil e os países africanos e asiáticos e por outro, entre a universidade e a comunidade afro-brasileira. O CEAO, porém, apesar de, esporadicamente, ter se voltado para o estudo e o ensino de assuntos pertinentes ao Oriente Médio e Ásia, inclusive o ensino de línguas (hebreu, japonês, árabe etc.), concentrou seu foco, ao longo dos anos, nos estudos de temas africanos e afro-brasileiros. Mais recentemente o Centro vem atuando em diversas frentes de pesquisa, ensino e extensão num contexto de crescente preocupação com questões raciais no Brasil, participando ativamente do debate sobre as políticas afirmativas. As atividades atualmente desenvolvidas pelo CEAO evidenciam o preparo dessa instituição para dar o salto qualitativo que a transformará numa unidade universitária no âmbito da UFBa.

O novo Instituto tem como missão participar do processo de construção e socialização de conhecimentos sobre as relações étnicorraciais, as culturas e história de países africanos e as culturas africanas no Brasil e em outros países da diáspora, com vistas à formação acadêmica na área multi/interdisciplinar dos estudos étnicos, afrobrasileiros e africanos. Entre os seus objetivos, consta combater, nas suas relações com a sociedade, o racismo, o sexismo e todas as demais formas de opressão e de discriminação.

Através deste documento solicitamos o envio de comentários, sugestões e manifestações de apoio para os seguintes endereços eletrônicos: gabinete@ufba.br e soc@ufba.br com cópia para ceao@ufba.br.

Atenciosamente,
Coordenação do CEAO
Centro de Estudos Afro-Orientais (CEAO)
FFCH-UFBa
CEAO - Centro de Estudos Afro-Orientais
Pç. Inocêncio Galvão, 42, Largo Dois de Julho - CEP 40025-010. Salvador - Bahia - Brasil
Tel (0xx71) 3322-6742 / Fax (0xx71) 3322-8070 - E-mail: ceao@ufba.br - Site: www.ceao.ufba.br

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...