Deve ter muita gente curiosa para saber, quem sabe até assistir, a cara dos citados, falando uns dos outros, em algum próximo encontro social, ou até de trabalho:
" -- Esse bandido andou falando mal de mim para os americanos...", devem dizer alguns, enquanto outros ficam quietos, aguardando as próximas revelações, pois sabem que eles também andaram falando o que não deveriam ter falado, mesmo em off...
Divertido...
WikiLeaks: para EUA, divisão interna levou a política externa brasileira desarticulada
O Globo, 06/12/2010
RIO - Em mais um documento divulgado no domingo pelo site WikiLeaks, o ex-embaixador americano no Brasil Clifford Sobel apresenta uma extensa análise sobre o papel de três figuras-chave no país, afirmando que a divisão entre eles foi responsável por uma política externa desarticulada, que "pode levar à frustração por parte de diplomatas brasileiros".
A mensagem de Sobel, datada de 11 de fevereiro de 2009, concentra-se no ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, definido como "nacionalista", no então secretário-geral da pasta, Samuel Pinheiro Guimarães, apresentado como "antiamericano", e no assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, classificado como "acadêmico esquerdista".
"Cada um entalhou seu próprio nicho de política externa: comércio, relações com países desenvolvidos, questões multilaterais, África e Oriente Médio para Amorim; questões político-militares, relações com alguns países em desenvolvimento, e trabalhos internos do Ministério de Relações Exteriores para Guimarães; e países da América do Sul e esquerdistas na América Latina e em outros lugares para Garcia. O efeito é a visão e a implementação da política externa do Brasil de alguma maneira desarticuladas, o que pode levar à frustração por parte de diplomatas brasileiros", afirma Sobel no documento .
Sobel aponta oportunidade de influenciar nova geração de diplomatas
Ao lado dos três - apresentados como principais atores da política externa brasileira -, Sobel cita também o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que comporia com eles as "quatro poderosas personalidades cujas ideologias estão moldando" as prioridades da atuação internacional do Brasil. Juntos, eles levaram o Itamaraty a "direções estranhas e às vezes diferentes", diz o ex-embaixador.
Todos os quatro são descritos como "esquerdistas". Sobel destaca, no entanto, o "pragmatismo" de Lula. Sua boa relação com líderes mundiais ajudou, na visão do ex-embaixador, a aumentar a influência do Brasil no mundo. O diplomata afirma que a política externa do presidente também abriu caminho para ampliar a cooperação do Brasil com atores globais, "inclusive os Estados Unidos".
Ainda assim, Sobel diz no mesmo documento que sua dinâmica ideológica faz do Itamaraty um parceiro frustrante, apontando a oportunidade de contornar o problema e influenciar novos diplomatas.
"Existe agora a oportunidade de ir adiante trabalhando com outras instituições brasileiras, e de moldar as visões de um grande grupo de diplomatas, mais novos, mais pragmáticos, e mais globalmente orientados, que estarão caminhando para postos mais graduados", avalia.
Preocupação com terrorismo em São Paulo, cabos de comunicação e minas
Outros documentos divulgados pelo WikiLeaks revelam também mais preocupações dos americanos com o Brasil. Em pelo menos duas mensagens publicadas no site no domingo, diplomatas americanos afirmam que São Paulo é o principal foco do combate ao terrorismo no país , deixando a Tríplice Fronteira em segundo plano. Os documentos indicam a presença de suspeitos ligação com extremistas do Hezbollah no Sudeste brasileiro.
O Brasil também é citado em documentos vazados pelo WikiLeaks que listam locais "vitais" para a segurança nacional dos EUA . O Departamento de Estado americano pediu em 2009 a todas as missões diplomáticas no exterior informações sobre instalações diversas. Entre as brasileiras estão cabos de comunicação submarinos com conexões em Fortaleza e no Rio de Janeiro e minas de minério de ferro, manganês e nióbio em Minas Gerais e em Goiás.
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Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
Dilma, presidente eleita: "aproximacao com o Iran foi um erro"
Bem, seria interessante conhecer agora a posição, ou os comentários, daqueles que defendiam a política de aproximação com o Irã, como um sinal de autonomia em relação aos Estados Unidos, de independência de julgamento, ou de"diálogo", seja lá o que isso queira dizer...
Paulo Roberto de Almeida
Apoio a Irã na ONU foi erro, diz Dilma
Luciana Xavier CORRESPONDENTE NOVA YORK, Lucas de Abreu Maia
O Estado de S.Paulo, 06 de dezembro de 2010
A presidente eleita Dilma Rousseff criticou, em entrevista publicada ontem no jornal The Washington Post, o comportamento do Brasil na Organização das Nações Unidas (ONU), em 18 de novembro, ao se abster de votar uma condenação às violações de direitos humanos no Irã. "Não concordo com o modo como o Brasil votou. Não é a minha posição", afirmou Dilma, que vinha evitando fazer comentários sobre a decisão do Itamaraty.
Diplomacia. Dilma defendeu negociações de paz no Oriente Médio e sugeriu que manterá estratégia de intermediar conflitos
Na votação, a ONU aprovou uma censura ao regime iraniano por violações de direitos humanos e pediu o fim dos apedrejamentos, da perseguição a minorias e de ataques a jornalistas.
O Brasil foi um dos 57 países que se abstiveram na votação - outros 80 votaram a favor da condenação e 44 foram contrários. A aproximação do Brasil com o Irã tem sido vista com preocupação por Estados Unidos e Europa.
A censura da ONU a Teerã foi motivada pela condenação à morte por apedrejamento de Sakineh Achtiani, acusada de adultério e de envolvimento no assassinato do marido. Em sua primeira entrevista como presidente eleita, Dilma havia criticado a sentença.
Na entrevista ao Post, ela voltou a condenar o apedrejamento de mulheres no Irã. "Não concordo com as práticas medievais características que são aplicadas quando se trata de mulheres. Não há nuances e eu não farei nenhuma concessão em relação a isso", garantiu. "Não sou a presidente do Brasil (hoje), mas ficaria desconfortável, como uma mulher eleita presidente, em não me manifestar contra o apedrejamento. Minha posição não vai mudar quando assumir."
As declarações de Dilma foram antecipadas no site do jornal americano na sexta-feira, pouco depois da notícia de que o atual chanceler, Celso Amorim, deve mesmo deixar o comando do Itamaraty. O ministério das Relações Exteriores provavelmente será comandado por Antônio Patriota - que já foi embaixador do Brasil em Washington.
A despeito da inflexão do discurso em relação ao Irã, a presidente eleita defendeu o diálogo com o governo dos aiatolás e criticou a política externa americana para a região. "O que vemos no Oriente Médio é a falência de uma política de guerra: estamos falando do Afeganistão e o desastre que foi a invasão do Iraque", criticou. A presidente eleita defendeu as negociações de paz na região, sugerindo que seu governo manterá a estratégia atual de intermediar conflitos.
==========
A boa resposta de Dilma ao Washington Post sobre o Irã: “Meu adversário estava certo; aliás, isso sempre acontece…”
Reinaldo Azevedo | VEJA.com 06/12/2010
Como estarão se sentindo agora os petralhas, incluindo algumas cabeças coroadas da universidade? Afinal, as eleições aconteceram há pouco mais de um mês. O PT e sua então candidata, Dilma Rousseff, defenderam sem reservas a política de aproximação com o Irã, empreendida pelo megalonanico Celso Amorim, seguindo a orientação de Luiz Inácio Lula da Silva. Em entrevista ao Washington Post como presidente eleita, Dilma afirmou discordar da decisão do governo brasileiro, que se absteve na sessão da ONU que censurou o país por violar os direitos humanos.
Se Dilma é contra o apedrejamento, certamente deve se opor ao enforcamento de opositores. Quando lhe foi dado falar a respeito durante a campanha, preferiu atacar a política americana — o que ela faz de novo, diga-se —, sem qualquer restrição ao indecoroso apoio incondicional do país a Ahmadinejad e seus terroristas. O alinhamento do Brasil com o Irã era tomado como evidência da altivez do Brasil. Os vazamentos do WikiKeaks só serviram para confirmar o desgaste a que foi submetido o país.
Durante a campanha, o tucano José Serra atacou com dureza as posições do governo brasileiro. Dilma as defendeu. A se manter o padrão de análise de Eliane Cantanhêde — segundo quem, ao criticar o Irã agora, Dilma assume uma posição mais à esquerda (!) do que o governo Lula —, o candidato “esquerdista”, então, era Serra… Menos, vejam bem, para Chico Buarque, o sambista, não era bem assim.
Para o seqüestrador de Jabutis, a política externa anterior ao governo Lula preferia falar fino com Washington e grosso com países do Terceiro Mundo. Como bom esquerdopata, ele acredita que deva ser o contrário: falar grosso com os EUA e fino com facínoras da periferia. Disse isso num encontro de “artistas & intelectuais” em apoio a Dilma. Ao lançar a sua antítese primária, a platéia zurrou de satisfação, muitos com o bolso cheio de grana por leis de “incentivo” à cultura. A coisa mais fácil do mundo é comprar certo tipo de “intelectual & artista”…
É preferível que Dilma diga o que diz agora àquilo que diz antes? É, sim! Mas isso evidencia o descompromisso dessa gente com os fatos, com a história e com a sua própria história. Dilma deveria ter começado a sua resposta assim: “Meu adversário estava certo sobre o Irã; aliás, os adversários do PT costumam estar certos, mas temos sido bem-sucedidos nos nossos truques…”
Paulo Roberto de Almeida
Apoio a Irã na ONU foi erro, diz Dilma
Luciana Xavier CORRESPONDENTE NOVA YORK, Lucas de Abreu Maia
O Estado de S.Paulo, 06 de dezembro de 2010
A presidente eleita Dilma Rousseff criticou, em entrevista publicada ontem no jornal The Washington Post, o comportamento do Brasil na Organização das Nações Unidas (ONU), em 18 de novembro, ao se abster de votar uma condenação às violações de direitos humanos no Irã. "Não concordo com o modo como o Brasil votou. Não é a minha posição", afirmou Dilma, que vinha evitando fazer comentários sobre a decisão do Itamaraty.
Diplomacia. Dilma defendeu negociações de paz no Oriente Médio e sugeriu que manterá estratégia de intermediar conflitos
Na votação, a ONU aprovou uma censura ao regime iraniano por violações de direitos humanos e pediu o fim dos apedrejamentos, da perseguição a minorias e de ataques a jornalistas.
O Brasil foi um dos 57 países que se abstiveram na votação - outros 80 votaram a favor da condenação e 44 foram contrários. A aproximação do Brasil com o Irã tem sido vista com preocupação por Estados Unidos e Europa.
A censura da ONU a Teerã foi motivada pela condenação à morte por apedrejamento de Sakineh Achtiani, acusada de adultério e de envolvimento no assassinato do marido. Em sua primeira entrevista como presidente eleita, Dilma havia criticado a sentença.
Na entrevista ao Post, ela voltou a condenar o apedrejamento de mulheres no Irã. "Não concordo com as práticas medievais características que são aplicadas quando se trata de mulheres. Não há nuances e eu não farei nenhuma concessão em relação a isso", garantiu. "Não sou a presidente do Brasil (hoje), mas ficaria desconfortável, como uma mulher eleita presidente, em não me manifestar contra o apedrejamento. Minha posição não vai mudar quando assumir."
As declarações de Dilma foram antecipadas no site do jornal americano na sexta-feira, pouco depois da notícia de que o atual chanceler, Celso Amorim, deve mesmo deixar o comando do Itamaraty. O ministério das Relações Exteriores provavelmente será comandado por Antônio Patriota - que já foi embaixador do Brasil em Washington.
A despeito da inflexão do discurso em relação ao Irã, a presidente eleita defendeu o diálogo com o governo dos aiatolás e criticou a política externa americana para a região. "O que vemos no Oriente Médio é a falência de uma política de guerra: estamos falando do Afeganistão e o desastre que foi a invasão do Iraque", criticou. A presidente eleita defendeu as negociações de paz na região, sugerindo que seu governo manterá a estratégia atual de intermediar conflitos.
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A boa resposta de Dilma ao Washington Post sobre o Irã: “Meu adversário estava certo; aliás, isso sempre acontece…”
Reinaldo Azevedo | VEJA.com 06/12/2010
Como estarão se sentindo agora os petralhas, incluindo algumas cabeças coroadas da universidade? Afinal, as eleições aconteceram há pouco mais de um mês. O PT e sua então candidata, Dilma Rousseff, defenderam sem reservas a política de aproximação com o Irã, empreendida pelo megalonanico Celso Amorim, seguindo a orientação de Luiz Inácio Lula da Silva. Em entrevista ao Washington Post como presidente eleita, Dilma afirmou discordar da decisão do governo brasileiro, que se absteve na sessão da ONU que censurou o país por violar os direitos humanos.
Se Dilma é contra o apedrejamento, certamente deve se opor ao enforcamento de opositores. Quando lhe foi dado falar a respeito durante a campanha, preferiu atacar a política americana — o que ela faz de novo, diga-se —, sem qualquer restrição ao indecoroso apoio incondicional do país a Ahmadinejad e seus terroristas. O alinhamento do Brasil com o Irã era tomado como evidência da altivez do Brasil. Os vazamentos do WikiKeaks só serviram para confirmar o desgaste a que foi submetido o país.
Durante a campanha, o tucano José Serra atacou com dureza as posições do governo brasileiro. Dilma as defendeu. A se manter o padrão de análise de Eliane Cantanhêde — segundo quem, ao criticar o Irã agora, Dilma assume uma posição mais à esquerda (!) do que o governo Lula —, o candidato “esquerdista”, então, era Serra… Menos, vejam bem, para Chico Buarque, o sambista, não era bem assim.
Para o seqüestrador de Jabutis, a política externa anterior ao governo Lula preferia falar fino com Washington e grosso com países do Terceiro Mundo. Como bom esquerdopata, ele acredita que deva ser o contrário: falar grosso com os EUA e fino com facínoras da periferia. Disse isso num encontro de “artistas & intelectuais” em apoio a Dilma. Ao lançar a sua antítese primária, a platéia zurrou de satisfação, muitos com o bolso cheio de grana por leis de “incentivo” à cultura. A coisa mais fácil do mundo é comprar certo tipo de “intelectual & artista”…
É preferível que Dilma diga o que diz agora àquilo que diz antes? É, sim! Mas isso evidencia o descompromisso dessa gente com os fatos, com a história e com a sua própria história. Dilma deveria ter começado a sua resposta assim: “Meu adversário estava certo sobre o Irã; aliás, os adversários do PT costumam estar certos, mas temos sido bem-sucedidos nos nossos truques…”
Etanol: protecionismo e livre comercio - artigo de opiniao
"De opinião", mas baseado em fatos. Os EUA são especialmente hipócritas no que tange o etanol. Aliás, perfeitamente irracionais no plano econômico, só se explicando os inacreditáveis subsídios concedidos aos produtores de etanol de milho pelo lobby dos estados e corporações produtores, que são, na verdade, rentistas, do etanol de milho.
Mas o Brasil já foi protecionista e subvencionista no passado. Hoje não é mais porque não há mais necessidade, mas para isso foi preciso adotar soluções pró-mercado na agricultura. Poderia fazer o mesmo com a indústria, do contrário ela vai ser sempre dependente das generosas tetas do governo. Os industriais -- não todos, claro -- são drogados em ajuda pública, em suas diversas formas: tarifas protetoras, subsídios, capital subsidiado do BNDES, etc. Está em tempo de acabar com a festa, o que parece não vai acontecer...
Paulo Roberto de Almeida
Mas o Brasil já foi protecionista e subvencionista no passado. Hoje não é mais porque não há mais necessidade, mas para isso foi preciso adotar soluções pró-mercado na agricultura. Poderia fazer o mesmo com a indústria, do contrário ela vai ser sempre dependente das generosas tetas do governo. Os industriais -- não todos, claro -- são drogados em ajuda pública, em suas diversas formas: tarifas protetoras, subsídios, capital subsidiado do BNDES, etc. Está em tempo de acabar com a festa, o que parece não vai acontecer...
Paulo Roberto de Almeida
Impacto da política de etanol dos EUA no Brasil
Erika M. Kliauga e Harry de Gorter
Valor Econômico, 06/12/2010
Biocombustíveis são responsabilizados pela alta das commodities.
O subsídio dos Estados Unidos ao etanol, juntamente com a tarifa específica de importacão originalmente criada para compensar esse subsídio, termina em 31 de dezembro deste ano. Há uma crescente hesitação entre os membros do Congresso no sentido de estende-lo, até porque custam aos contribuintes mais de US$ 6 bilhões por ano. Além disso, uma série de estudos tem mostrado que o término dessas políticas terá pouco ou nenhum impacto sobre as indústrias de etanol americana ou brasileira. Uma das razões é que o mandato federal americano para produção e uso de combustíveis renováveis, conhecido como Renewable Fuel Standard - RFS, exige que os americanos consumam uma quantidade crescente de biocombustíveis a cada ano, até 2022. Portanto, a demanda por etanol não cairá significativamente, mesmo quando os 45 centavos de dólar por galão de subsídio e os 54 centavos por galão da tarifa protecionista forem eliminados. Como uma ordem, o mandato atua como um mantenedor de mercado para os produtores de etanol dos EUA. O Brasil argumenta que se a racionalidade econômica para a tarifa de importação de etanol é compensar o subsídio, os produtores de etanol brasileiros são da opinião que, com o fim do subsídio a tarifa também deverá ser eliminada. Permitir que a tarifa expire pode ter importantes benefícios de longo prazo para a economia brasileira, pois o setor tem amplo potencial para expansão das exportações.
É muito importante que o Brasil aproveite o arrefecer do apoio público americano no que diz respeito ao subsídio aos biocombustíveis. Redundância e custos orçamentais elevados (além do fato de que o subsídio aumenta o consumo da gasolina com o mandato) não são os únicos fatores para que os políticos hesitem em estender o crédito fiscal; outras razões incluem a crescente incerteza sobre os proclamados benefícios ambientais e a publicidade negativa, pois os biocombustíveis são vistos como os primeiros culpados da alta de preço das commodities em 2008. Com o preço recorde do milho e preocupações com a inflação gerada pelo custo dos alimentos, os melhores dias do etanol de milho em receber subsídios e proteção podem ter ficado para trás.
Os EUA e o Brasil esperam benefícios econômicos, ambientais e agrícolas caso a política de etanol de 30 anos seja modificada. Contudo, o Brasil precisa ser vigilante tendo em vista que o cenário político encontra-se salpicado de obstáculos para que ocorra uma reforma significativa no curto prazo. Por exemplo, a administração do presidente Obama indicou apoio para extensão do subsídio, mesmo que sua prorrogação por um ano nas bases atuais custe aos contribuintes mais de US$ 6 bilhões e resulte em pouco ou nenhum adicional de produção interna de etanol de milho acima ou além do atualmente obrigatório.
Enquanto isso há claras controvérsias no lobby do etanol dos EUA, onde alguns argumentam que o subsídios não são mais necessários, enquanto outros estão propondo uma mudança para um subsídio na producão, pago diretamente aos produtores de etanol e não aos misturadores ou blenders (como é o caso do subsídio atual) e baseado nas emissões de carbono.
Apesar de um subsídio à produção destinado apenas a produtores domésticos ser problemática, isso acabaria com a tarifa de importação protecionista. As opções para o Brasil atuar contra os subsídios propostos são várias incluindo lobby ativo, diplomacia, concessões industriais nas negociações de Doha e apelos à Organização Mundial do Comercio (OMC). Um subsídio ao produtor custando mais de US$ 6 bilhões por ano certamente entrará em conflito com o que previsto nas regras de subsídios da OMC, o que permitiria ao Brasil agir como no caso do algodão. De acordo com o Acordo sobre a Agricultura e ao fato de o etanol, segundo o código de tarifas ser classificado como produto agrícola, um subsídio de US$ 6 bi colocaria o EUA acima de seus limites do programa de apoio doméstico.
O Brasil deixou de subsidiar o etanol há mais de dez anos e eliminou a sua tarifa no início deste ano; princípios de justo e livre comércio sugerem que os EUA ajam no mesmo sentido. Sendo os maiores produtores mundiais de etanol, esses dois países deveriam colaborar na construção de um mercado de biocombustíveis aberto e global, para prover energia limpa e renovável. Como a tendência parece voltar-se ao subsídio e tarifas dos EUA, é importante que o Brasil mantenha a pressão utilizando todos os canais, incluindo possíveis ações junto a OMC. Com outras questões e disputas comerciais no governo Obama, a melhor coisa que o presidente e o Congresso podem fazer é omitir-se nessa questão, ou seja, deixar a vigência do subsídio e tarifa expirarem nas próximas semanas.
Erika Madeira Kliauga é pesquisadora associada do Departamento de Economia Aplicada na Universidade de Cornell.
Harry de Gorter é professor do Departamento de Economia Aplicada na Universidade de Cornell.
É muito importante que o Brasil aproveite o arrefecer do apoio público americano no que diz respeito ao subsídio aos biocombustíveis. Redundância e custos orçamentais elevados (além do fato de que o subsídio aumenta o consumo da gasolina com o mandato) não são os únicos fatores para que os políticos hesitem em estender o crédito fiscal; outras razões incluem a crescente incerteza sobre os proclamados benefícios ambientais e a publicidade negativa, pois os biocombustíveis são vistos como os primeiros culpados da alta de preço das commodities em 2008. Com o preço recorde do milho e preocupações com a inflação gerada pelo custo dos alimentos, os melhores dias do etanol de milho em receber subsídios e proteção podem ter ficado para trás.
Um subsídio ao produtor custando mais de US$ 6 bilhões por ano permitiria ao Brasil agir como no caso do algodãoA fim de reforçar o seu propósito, o Brasil deve enfatizar que o seu etanol de cana de açucar é muito mais benéfico ao meio ambiente e tem menor impacto nos preços dos alimentos. A principal razão de o etanol de cana ser de longe o biocombustível que menos emite carbono ao ser produzido é porque se obtém o dobro da quantidade de etanol por unidade de terra quando comparado ao etanol de milho. Além disso, a cana de açucar não é um alimento básico e, ao contrário do milho, tem apenas efeito indireto sobre os preços dos alimentos. É melhor para o Brasil produzir etanol e os EUA produzirem milho .
Os EUA e o Brasil esperam benefícios econômicos, ambientais e agrícolas caso a política de etanol de 30 anos seja modificada. Contudo, o Brasil precisa ser vigilante tendo em vista que o cenário político encontra-se salpicado de obstáculos para que ocorra uma reforma significativa no curto prazo. Por exemplo, a administração do presidente Obama indicou apoio para extensão do subsídio, mesmo que sua prorrogação por um ano nas bases atuais custe aos contribuintes mais de US$ 6 bilhões e resulte em pouco ou nenhum adicional de produção interna de etanol de milho acima ou além do atualmente obrigatório.
Enquanto isso há claras controvérsias no lobby do etanol dos EUA, onde alguns argumentam que o subsídios não são mais necessários, enquanto outros estão propondo uma mudança para um subsídio na producão, pago diretamente aos produtores de etanol e não aos misturadores ou blenders (como é o caso do subsídio atual) e baseado nas emissões de carbono.
Apesar de um subsídio à produção destinado apenas a produtores domésticos ser problemática, isso acabaria com a tarifa de importação protecionista. As opções para o Brasil atuar contra os subsídios propostos são várias incluindo lobby ativo, diplomacia, concessões industriais nas negociações de Doha e apelos à Organização Mundial do Comercio (OMC). Um subsídio ao produtor custando mais de US$ 6 bilhões por ano certamente entrará em conflito com o que previsto nas regras de subsídios da OMC, o que permitiria ao Brasil agir como no caso do algodão. De acordo com o Acordo sobre a Agricultura e ao fato de o etanol, segundo o código de tarifas ser classificado como produto agrícola, um subsídio de US$ 6 bi colocaria o EUA acima de seus limites do programa de apoio doméstico.
O Brasil deixou de subsidiar o etanol há mais de dez anos e eliminou a sua tarifa no início deste ano; princípios de justo e livre comércio sugerem que os EUA ajam no mesmo sentido. Sendo os maiores produtores mundiais de etanol, esses dois países deveriam colaborar na construção de um mercado de biocombustíveis aberto e global, para prover energia limpa e renovável. Como a tendência parece voltar-se ao subsídio e tarifas dos EUA, é importante que o Brasil mantenha a pressão utilizando todos os canais, incluindo possíveis ações junto a OMC. Com outras questões e disputas comerciais no governo Obama, a melhor coisa que o presidente e o Congresso podem fazer é omitir-se nessa questão, ou seja, deixar a vigência do subsídio e tarifa expirarem nas próximas semanas.
Erika Madeira Kliauga é pesquisadora associada do Departamento de Economia Aplicada na Universidade de Cornell.
Harry de Gorter é professor do Departamento de Economia Aplicada na Universidade de Cornell.
A maldicao do petroleo comeca a atingir o Brasil
Estou lendo um livro cruel sobre o mundo do petróleo.
Aliás, ele se chama Crude World: The Violent Twilight of Oil.
O autor é Peter Maass, um jornalista americano, e o livro pode ser encontrado bem barato na Abebooks.com, ou na Amazon (Penguin Books, 2009).
Apenas para dar uma ideia da "maldição", aqui vão os nomes dos capítulos:
1. Scarcity
2. Plunder
3. Rot
4. Contamination
5. Fear
6. Greed
7. Desire
8. Alienation
9. Empire
10. Mirage
Pois é, o petróleo é capaz de provocar tudo isso, não cumulativamente, nem nos mesmos países, mas seus efeitos são terríveis.
Espero não sair de sua leitura muito deprimido. E um pouco mais pessimista com os males que o petróleo já vem causando ao Brasil.
Eu resumiria em poucas palavras: rentismo sem-vergonha, corrupção, deformação da economia normal de um país, gastança antes do tempo, concentração de renda, desestímulo a outras atividades produtivas, enfim, tudo o que existe de pior.
Pode ser que eu esteja enganado, mas não custa ser realista.
Paulo Roberto de Almeida
Aliás, ele se chama Crude World: The Violent Twilight of Oil.
O autor é Peter Maass, um jornalista americano, e o livro pode ser encontrado bem barato na Abebooks.com, ou na Amazon (Penguin Books, 2009).
Apenas para dar uma ideia da "maldição", aqui vão os nomes dos capítulos:
1. Scarcity
2. Plunder
3. Rot
4. Contamination
5. Fear
6. Greed
7. Desire
8. Alienation
9. Empire
10. Mirage
Pois é, o petróleo é capaz de provocar tudo isso, não cumulativamente, nem nos mesmos países, mas seus efeitos são terríveis.
Espero não sair de sua leitura muito deprimido. E um pouco mais pessimista com os males que o petróleo já vem causando ao Brasil.
Eu resumiria em poucas palavras: rentismo sem-vergonha, corrupção, deformação da economia normal de um país, gastança antes do tempo, concentração de renda, desestímulo a outras atividades produtivas, enfim, tudo o que existe de pior.
Pode ser que eu esteja enganado, mas não custa ser realista.
Paulo Roberto de Almeida
Butim do petróleo
Editorial - O Estado de S.Paulo
05 de dezembro de 2010
Serão perniciosas para o País as consequências da avidez com que os congressistas se lançaram na briga pelos royalties do petróleo da camada do pós-sal, já em exploração, e do pré-sal, se e quando sua exploração for economicamente viável. Como se disputassem um butim, eles aprovaram um projeto no qual procuram assegurar a maior fatia possível dos royalties para as regiões de seu interesse eleitoral, sem levar em conta os interesses do País. O Executivo tem o dever de vetar essa partilha.
Deixando de lado questões essenciais do projeto, como a mudança do modelo de exploração do pré-sal - que não será mais pelo regime de concessão, em vigor até agora, e, sim, pelo regime de partilha - e a criação do fundo social, que aprovaram como o governo queria, deputados e senadores concentraram seus esforços na repartição dos royalties.
Na quarta-feira, a Câmara decidiu que o dinheiro será distribuído para todos os Estados e municípios de acordo com os critérios dos Fundos de Participação dos Estados e dos Municípios, sem levar em conta se eles são ou não produtores ou se têm despesas ou prejuízos ambientais com a exploração do petróleo.
Essa regra foi proposta inicialmente pelos deputados Ibsen Pinheiro (PMDB-RS) e Humberto Souto (PPS-MG). Aprovada em março pela Câmara, seguiu para o Senado, onde o senador Pedro Simon (PMDB-RS) acrescentou a obrigatoriedade de a União ressarcir os Estados e municípios que perderem receita com a nova regra, mas sem especificar a fonte da receita para a nova despesa. Por causa do acréscimo, o projeto voltou à Câmara, onde foi novamente aprovado.
Pelo atual sistema de repartição dos royalties, os Estados produtores ficam com 26,25% do total; os municípios produtores, também com 26,25%; e os municípios afetados por operações de logística da exploração na plataforma continental, com 8,75%. A União fica com 30%. A parcela restante, de 8,75%, vai para um fundo especial que atende os demais Estados e municípios.
A nova regra afeta duramente as receitas do Rio de Janeiro (que recebe cerca de 70% dos recursos destinados aos produtores e passaria a receber só 1,51%) e do Espírito Santo.
Ela é ruim não só pelas perdas que impõe, mas também porque contraria o espírito da lei que instituiu os royalties, cuja finalidade é compensar os Estados e municípios que incorrem em custos decorrentes da exploração de petróleo, além dos riscos ambientais. A repartição dos royalties tem também a finalidade de compensar os Estados produtores pelo fato de o ICMS ser cobrado no destino, não na origem.
Nada disso foi levado em conta pelos deputados e senadores que aprovaram a nova regra. A questão federativa, que implica a discussão da repartição das receitas e das responsabilidades entre os diferentes níveis de governo e entre Estados e municípios, nem de longe mereceu atenção dos parlamentares durante o debate da forma de partilha do butim.
Preocupados apenas com a aprovação do que interessava ao governo e à Petrobrás, os integrantes da base governista no Congresso agiram exclusivamente de acordo com seus interesses eleitorais.
Diante do resultado do festival de demagogia e irresponsabilidade dos parlamentares, o governo nem pode comemorar o inquestionável ganho político que foi a aprovação do projeto do novo modelo de exploração para o pré-sal e de criação do fundo social, que, com outros três projetos aprovados anteriormente, compõe o marco regulatório que assegura a maior parte dos recursos para a União.
Se não quiser deixar mais este embaraço político para sua sucessora, o presidente Lula precisará vetar a partilha dos royalties aprovada pelo Congresso. Seu líder na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza, garante que ele o fará
Mas não será o bastante. O regime de partilha implica mudanças nas regras de composição e divisão dos royalties, e o governo ainda não decidiu como elas ficarão. Se não o fizer, propiciará novas demonstrações de demagogia e terá de arcar com o custo político de barrá-las.
Deixando de lado questões essenciais do projeto, como a mudança do modelo de exploração do pré-sal - que não será mais pelo regime de concessão, em vigor até agora, e, sim, pelo regime de partilha - e a criação do fundo social, que aprovaram como o governo queria, deputados e senadores concentraram seus esforços na repartição dos royalties.
Na quarta-feira, a Câmara decidiu que o dinheiro será distribuído para todos os Estados e municípios de acordo com os critérios dos Fundos de Participação dos Estados e dos Municípios, sem levar em conta se eles são ou não produtores ou se têm despesas ou prejuízos ambientais com a exploração do petróleo.
Essa regra foi proposta inicialmente pelos deputados Ibsen Pinheiro (PMDB-RS) e Humberto Souto (PPS-MG). Aprovada em março pela Câmara, seguiu para o Senado, onde o senador Pedro Simon (PMDB-RS) acrescentou a obrigatoriedade de a União ressarcir os Estados e municípios que perderem receita com a nova regra, mas sem especificar a fonte da receita para a nova despesa. Por causa do acréscimo, o projeto voltou à Câmara, onde foi novamente aprovado.
Pelo atual sistema de repartição dos royalties, os Estados produtores ficam com 26,25% do total; os municípios produtores, também com 26,25%; e os municípios afetados por operações de logística da exploração na plataforma continental, com 8,75%. A União fica com 30%. A parcela restante, de 8,75%, vai para um fundo especial que atende os demais Estados e municípios.
A nova regra afeta duramente as receitas do Rio de Janeiro (que recebe cerca de 70% dos recursos destinados aos produtores e passaria a receber só 1,51%) e do Espírito Santo.
Ela é ruim não só pelas perdas que impõe, mas também porque contraria o espírito da lei que instituiu os royalties, cuja finalidade é compensar os Estados e municípios que incorrem em custos decorrentes da exploração de petróleo, além dos riscos ambientais. A repartição dos royalties tem também a finalidade de compensar os Estados produtores pelo fato de o ICMS ser cobrado no destino, não na origem.
Nada disso foi levado em conta pelos deputados e senadores que aprovaram a nova regra. A questão federativa, que implica a discussão da repartição das receitas e das responsabilidades entre os diferentes níveis de governo e entre Estados e municípios, nem de longe mereceu atenção dos parlamentares durante o debate da forma de partilha do butim.
Preocupados apenas com a aprovação do que interessava ao governo e à Petrobrás, os integrantes da base governista no Congresso agiram exclusivamente de acordo com seus interesses eleitorais.
Diante do resultado do festival de demagogia e irresponsabilidade dos parlamentares, o governo nem pode comemorar o inquestionável ganho político que foi a aprovação do projeto do novo modelo de exploração para o pré-sal e de criação do fundo social, que, com outros três projetos aprovados anteriormente, compõe o marco regulatório que assegura a maior parte dos recursos para a União.
Se não quiser deixar mais este embaraço político para sua sucessora, o presidente Lula precisará vetar a partilha dos royalties aprovada pelo Congresso. Seu líder na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza, garante que ele o fará
Mas não será o bastante. O regime de partilha implica mudanças nas regras de composição e divisão dos royalties, e o governo ainda não decidiu como elas ficarão. Se não o fizer, propiciará novas demonstrações de demagogia e terá de arcar com o custo político de barrá-las.
sábado, 4 de dezembro de 2010
Mentira: um apego patologico, uma obsessao (e minha aversao por tudo isso)...
Sou normalmente tolerante com ideias equivocadas, inclusive porque gosto de aproveitar da ocasião para debater temas relevantes.
Mas tenho uma ojeriza à mentira e à desonestidade que podem até beirar a intolerância, como expresso aqui, imediatamente.
Existem pessoas que têm necessidade psicológica de mentir, é quase uma segunda natureza, e elas já nem percebem mais quando estão cometendo esses desatinos. Mas creio que isso deriva de uma desonestidade que faz parte do caráter das pessoas que assim procedem.
Seja de onde forem, seja que estatuto tiverem, seja que autoridade exibirem, é preciso sempre denunciar a mentira.
Acho até que o editorial do Estadão, abaixo, foi muito delicado, ao falar que os fatos desmentem esse personagem incontornável de nosso panorama político dos últimso 30 anos (e talvez de vários outros mais à frente). Em todo caso, o jornal poderia ter dito simplesmente: trata-se de um mentiroso contumaz
Paulo Roberto de Almeida
Os fatos desmentem Lula
Editorial - O Estado de S.Paulo,
Sábado, 4/12/2010
Fiel a seu costume de contar a história à sua maneira, sem o mínimo compromisso com os fatos e a verdade, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mais uma vez falou sobre a “herança maldita” recebida em 2003, ao iniciar seu primeiro mandato. Desta vez, o rosário de inverdades foi desfiado perante o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. O evento foi uma das várias despedidas programadas pelo presidente para este mês. De novo ele falou sobre o País quebrado e sobre o mau estado da economia no momento da transição do governo. De novo ele se entregou a uma de suas atividades prediletas, a autolouvação despudorada, atribuindo a si e a seu governo a inauguração de uma economia com fundamentos sólidos, estabilidade e previsibilidade. As pessoas informadas e capazes de discernimento conhecem os fatos, mas talvez valha a pena recordá-los mais uma vez, para benefício dos mais jovens e dos vitimados pela propaganda petista.
A primeira informação escamoteada pelo presidente Lula e pela companheirada é a origem da crise inflacionária e cambial de 2002. Os problemas surgiram quando as pesquisas mostraram o crescimento da candidatura petista. Não surgiram do nada e muito menos de uma perversa maquinação dos adversários. Os mercados simplesmente reagiram às insistentes ameaças, costumeiras no discurso petista, de calote na dívida pública e de outras lambanças na política econômica. Figuras importantes do partido haviam apoiado um irresponsável plebiscito sobre a dívida e mais de uma vez haviam proposto uma “renegociação” dos compromissos do Tesouro.
Tinha sólidos motivos quem decidiu fugir do risco proclamado pelos próprios petistas. A especulação cambial e a instabilidade de preços foram o resultado natural desses temores. A Carta ao Povo Brasileiro, com promessas de seriedade, foi o reconhecimento do vínculo entre a insegurança dos mercados e as bandeiras petistas.
Essas bandeiras não foram inventadas pelas fantasmagóricas elites citadas pelo presidente nas perorações mais furiosas. São componentes de uma longa história. Petistas apoiaram algumas das piores decisões econômicas dos últimos 30 anos. Uma de suas figuras mais notórias aplaudiu entre lágrimas uma das mais desastradas experiências dos anos 80, o congelamento de preços do Plano Cruzado. Nenhum petista ensaiou uma discussão séria quando os erros se tornaram mais que evidentes e o plano começou a esboroar-se.
Naquele período, como nos anos seguintes, petistas continuaram pregando o calote da dívida externa. Ao mesmo tempo, torpedearam todas as tentativas importantes de reordenação política e econômica e resistiram a assinar a Constituição.
O PT combateu as inovações do Plano Real. Foi contra a desindexação de preços e salários. Resistiu ao saneamento das finanças estaduais e municipais. Combateu - como já vinha combatendo - a privatização de velhas estatais, mesmo quando não havia a mínima razão estratégica para manter aquelas empresas sob o controle do Tesouro. Criticou a Lei de Responsabilidade Fiscal e atacou todas as iniciativas de ajuste das contas públicas.
A economia foi retirada do caos e seus fundamentos foram consertados, nos anos 90, contra a vontade do PT. O saneamento e a privatização de bancos estaduais permitiram o resgate da política monetária. Graças a isso foi possível, em 2003, conter o surto inflacionário em poucos meses. O Banco Central simplesmente manejou ferramentas forjadas na administração anterior.
Todos os princípios e instrumentos de política econômica essenciais à estabilidade nos últimos oito anos são componentes dessa herança mais que bendita. Se os tivesse abandonado há mais tempo, o governo Lula teria sido não só um fracasso, mas um desastre. Mas a fidelidade aos princípios do governo FHC nunca foi total. O inchaço da administração, o loteamento de cargos, a desmoralização das agências de regulação e o desperdício são partes da herança deixada à sucessora do presidente Lula, além de compromissos irresponsáveis, como o de um trem-bala mal concebido e contestado econômica e tecnicamente. Esse legado não será descoberto aos poucos. Já é bem conhecido.
Mas tenho uma ojeriza à mentira e à desonestidade que podem até beirar a intolerância, como expresso aqui, imediatamente.
Existem pessoas que têm necessidade psicológica de mentir, é quase uma segunda natureza, e elas já nem percebem mais quando estão cometendo esses desatinos. Mas creio que isso deriva de uma desonestidade que faz parte do caráter das pessoas que assim procedem.
Seja de onde forem, seja que estatuto tiverem, seja que autoridade exibirem, é preciso sempre denunciar a mentira.
Acho até que o editorial do Estadão, abaixo, foi muito delicado, ao falar que os fatos desmentem esse personagem incontornável de nosso panorama político dos últimso 30 anos (e talvez de vários outros mais à frente). Em todo caso, o jornal poderia ter dito simplesmente: trata-se de um mentiroso contumaz
Paulo Roberto de Almeida
Os fatos desmentem Lula
Editorial - O Estado de S.Paulo,
Sábado, 4/12/2010
Fiel a seu costume de contar a história à sua maneira, sem o mínimo compromisso com os fatos e a verdade, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mais uma vez falou sobre a “herança maldita” recebida em 2003, ao iniciar seu primeiro mandato. Desta vez, o rosário de inverdades foi desfiado perante o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. O evento foi uma das várias despedidas programadas pelo presidente para este mês. De novo ele falou sobre o País quebrado e sobre o mau estado da economia no momento da transição do governo. De novo ele se entregou a uma de suas atividades prediletas, a autolouvação despudorada, atribuindo a si e a seu governo a inauguração de uma economia com fundamentos sólidos, estabilidade e previsibilidade. As pessoas informadas e capazes de discernimento conhecem os fatos, mas talvez valha a pena recordá-los mais uma vez, para benefício dos mais jovens e dos vitimados pela propaganda petista.
A primeira informação escamoteada pelo presidente Lula e pela companheirada é a origem da crise inflacionária e cambial de 2002. Os problemas surgiram quando as pesquisas mostraram o crescimento da candidatura petista. Não surgiram do nada e muito menos de uma perversa maquinação dos adversários. Os mercados simplesmente reagiram às insistentes ameaças, costumeiras no discurso petista, de calote na dívida pública e de outras lambanças na política econômica. Figuras importantes do partido haviam apoiado um irresponsável plebiscito sobre a dívida e mais de uma vez haviam proposto uma “renegociação” dos compromissos do Tesouro.
Tinha sólidos motivos quem decidiu fugir do risco proclamado pelos próprios petistas. A especulação cambial e a instabilidade de preços foram o resultado natural desses temores. A Carta ao Povo Brasileiro, com promessas de seriedade, foi o reconhecimento do vínculo entre a insegurança dos mercados e as bandeiras petistas.
Essas bandeiras não foram inventadas pelas fantasmagóricas elites citadas pelo presidente nas perorações mais furiosas. São componentes de uma longa história. Petistas apoiaram algumas das piores decisões econômicas dos últimos 30 anos. Uma de suas figuras mais notórias aplaudiu entre lágrimas uma das mais desastradas experiências dos anos 80, o congelamento de preços do Plano Cruzado. Nenhum petista ensaiou uma discussão séria quando os erros se tornaram mais que evidentes e o plano começou a esboroar-se.
Naquele período, como nos anos seguintes, petistas continuaram pregando o calote da dívida externa. Ao mesmo tempo, torpedearam todas as tentativas importantes de reordenação política e econômica e resistiram a assinar a Constituição.
O PT combateu as inovações do Plano Real. Foi contra a desindexação de preços e salários. Resistiu ao saneamento das finanças estaduais e municipais. Combateu - como já vinha combatendo - a privatização de velhas estatais, mesmo quando não havia a mínima razão estratégica para manter aquelas empresas sob o controle do Tesouro. Criticou a Lei de Responsabilidade Fiscal e atacou todas as iniciativas de ajuste das contas públicas.
A economia foi retirada do caos e seus fundamentos foram consertados, nos anos 90, contra a vontade do PT. O saneamento e a privatização de bancos estaduais permitiram o resgate da política monetária. Graças a isso foi possível, em 2003, conter o surto inflacionário em poucos meses. O Banco Central simplesmente manejou ferramentas forjadas na administração anterior.
Todos os princípios e instrumentos de política econômica essenciais à estabilidade nos últimos oito anos são componentes dessa herança mais que bendita. Se os tivesse abandonado há mais tempo, o governo Lula teria sido não só um fracasso, mas um desastre. Mas a fidelidade aos princípios do governo FHC nunca foi total. O inchaço da administração, o loteamento de cargos, a desmoralização das agências de regulação e o desperdício são partes da herança deixada à sucessora do presidente Lula, além de compromissos irresponsáveis, como o de um trem-bala mal concebido e contestado econômica e tecnicamente. Esse legado não será descoberto aos poucos. Já é bem conhecido.
Um presidente "sainte" que nao sai: crise a vista...
Não, não estou falando de outro presidente "sainte", que tampouco sai do noticiário e tampouco deixa de fazer um governo à sua imagem e semelhança. Este é um outro presidente sainte, que parece que gostou do cargo e não pretende abandoná-lo...
Paulo Roberto de Almeida
Côte d'Ivoire : Laurent Gbagbo investi président
Le Monde, 4 Décembre 2010
Le président sortant a prêté serment, samedi, et dénoncé des "ingérences". L'ONU, l'Union européenne, les Etats-Unis et la France ont reconnu la victoire de son adversaire, Alassane Ouattara.

Le président sortant Laurent Gbagbo, dont la réelection est vivement contestée par l'opposition et la communauté internationale, a prêté serment samedi 4 décembre comme président de la Côte d'Ivoire. Le Conseil constitutionnel l'avait proclamé vendredi vainqueur de la présidentielle du 28 novembre, invalidant les résultats de la commission électorale qui donnaient son rival Alassane Ouattara en tête avec 54,1 % des voix.
"Devant le peuple souverain de Côte d'Ivoire, je jure solennellement et sur l'honneur de respecter et de défendre fidèlement la Constitution, de protéger les droits et libertés des citoyens, de remplir consciencieusement les devoirs de ma charge dans l'intérêt supérieur de la Nation", a-t-il déclaré en prêtant serment au palais présidentiel à Abidjan. "Que le peuple me retire sa confiance et que je subisse la rigueur des lois si je trahis mon serment", a-t-il ajouté lors d'une cérémonie devant une très nombreuse assistance.
"INGÉRENCES"
Surnommé "le boulanger" pour sa faculté à rouler ses opposants dans la farine, celui qui dirige le pays depuis dix ans a également dénoncé des "ingérences" étrangères. Les Nations unies, les Etats-Unis, l'Union européenne, la France et la Belgique ont reconnu ces dernières heures la victoire d'Alassane Ouattara et appelé Laurent Gbagbo à admettre sa défaite.
Le premier ministre ivoirien Guillaume Soro a lui-même déclaré samedi devant la presse à Abidjan qu'il reconnaissait son ancien allié Alassane Ouattara comme président, et qu'il allait lui remettre la démission de son gouvernement.
SARKOZY : "OUATTARA EST LE PRÉSIDENT ÉLU"
Dans une déclaration au premier jour de sa visite en Inde, Nicolas Sarkozy avait appelé samedi dans la matinée au respect de "l'élection incontestable" de l'ancien premier ministre Alassane Ouattara. "Je lance un appel à tous les dirigeants et responsables civils et militaires (ivoiriens) pour qu'ils respectent la volonté du peuple et s'abstiennent de toute initiative de nature à provoquer la violence", a déclaré le président français, en évoquant "les résultats qui marquent une nette et incontestable victoire pour Alassane Ouattara".
"Je me suis entretenu cette nuit longuement au téléphone avec le secrétaire général des Nations unies, avec le président Gbagbo et avec le président élu Alassane Ouattara. J'aurai aujourd'hui un autre entretien avec le président Gbagbo", a-t-il ajouté. "Un président est élu en Côte d'Ivoire. L'ensemble de la communauté internationale et les Nations unies l'ont reconnu. Ce président est Monsieur Alassane Ouattara", a-t-il déclaré à la presse.
VIOLENCES À ABIDJAN

Cette investiture s'est déroulée dans un climat de violences à Abidjan, marquées par au moins deux morts dans la nuit et des protestations de jeunes opposants dans les rues. Comme ils l'avaient fait la veille après la proclamation de la victoire de Laurent Gbagbo, des centaines de jeunes en colère sont sortis au petit matin, dans le quartier populaire de Koumassi (sud), pour ériger des barricades et mettre le feu à des pneus ou des bouts de bois, dans une ambiance électrique.
Selon une source militaire, des barricades avaient également été érigées dans la matinée par des manifestants sur le boulevard Giscard d'Estaing, principale artère d'Abidjan reliant l'aéroport au centre administratif et des affaires du quartier du Plateau. Ces barricades ont été rapidement levées.
Paulo Roberto de Almeida volta a comentar:
Por uma vez eu preciso concordar "gramaticalmente" com nosso estropiador-mor da linguagem: eu também acho que "sainte" é uma excelente expressão.
Mas, eu acho que os saintes precisam sair, do contrário não seriam saintes.
Tem alguns que deveriam ser chamados de "ficantes"...
Paulo Roberto de Almeida
Côte d'Ivoire : Laurent Gbagbo investi président
Le Monde, 4 Décembre 2010
Le président sortant a prêté serment, samedi, et dénoncé des "ingérences". L'ONU, l'Union européenne, les Etats-Unis et la France ont reconnu la victoire de son adversaire, Alassane Ouattara.
Côte d'Ivoire : Laurent Gbagbo investi président
LEMONDE.FR avec AFP | 04.12.10 | 09h52 • Mis à jour le 04.12.10 | 16h08
"Devant le peuple souverain de Côte d'Ivoire, je jure solennellement et sur l'honneur de respecter et de défendre fidèlement la Constitution", a déclaré Laurent Gbagbo en prêtant serment au palais présidentiel.AFP/SEYLLOU
"Devant le peuple souverain de Côte d'Ivoire, je jure solennellement et sur l'honneur de respecter et de défendre fidèlement la Constitution, de protéger les droits et libertés des citoyens, de remplir consciencieusement les devoirs de ma charge dans l'intérêt supérieur de la Nation", a-t-il déclaré en prêtant serment au palais présidentiel à Abidjan. "Que le peuple me retire sa confiance et que je subisse la rigueur des lois si je trahis mon serment", a-t-il ajouté lors d'une cérémonie devant une très nombreuse assistance.
"INGÉRENCES"
Surnommé "le boulanger" pour sa faculté à rouler ses opposants dans la farine, celui qui dirige le pays depuis dix ans a également dénoncé des "ingérences" étrangères. Les Nations unies, les Etats-Unis, l'Union européenne, la France et la Belgique ont reconnu ces dernières heures la victoire d'Alassane Ouattara et appelé Laurent Gbagbo à admettre sa défaite.
Le premier ministre ivoirien Guillaume Soro a lui-même déclaré samedi devant la presse à Abidjan qu'il reconnaissait son ancien allié Alassane Ouattara comme président, et qu'il allait lui remettre la démission de son gouvernement.
SARKOZY : "OUATTARA EST LE PRÉSIDENT ÉLU"
Dans une déclaration au premier jour de sa visite en Inde, Nicolas Sarkozy avait appelé samedi dans la matinée au respect de "l'élection incontestable" de l'ancien premier ministre Alassane Ouattara. "Je lance un appel à tous les dirigeants et responsables civils et militaires (ivoiriens) pour qu'ils respectent la volonté du peuple et s'abstiennent de toute initiative de nature à provoquer la violence", a déclaré le président français, en évoquant "les résultats qui marquent une nette et incontestable victoire pour Alassane Ouattara".
"Je me suis entretenu cette nuit longuement au téléphone avec le secrétaire général des Nations unies, avec le président Gbagbo et avec le président élu Alassane Ouattara. J'aurai aujourd'hui un autre entretien avec le président Gbagbo", a-t-il ajouté. "Un président est élu en Côte d'Ivoire. L'ensemble de la communauté internationale et les Nations unies l'ont reconnu. Ce président est Monsieur Alassane Ouattara", a-t-il déclaré à la presse.
VIOLENCES À ABIDJAN
La capitale ivoirienne est en proie à des tensions depuis l'annonce des résultats de l'élection présidentielle. AFP/SIA KAMBOU
Selon une source militaire, des barricades avaient également été érigées dans la matinée par des manifestants sur le boulevard Giscard d'Estaing, principale artère d'Abidjan reliant l'aéroport au centre administratif et des affaires du quartier du Plateau. Ces barricades ont été rapidement levées.
Appel à témoignages
Vous êtes en Côte d'Ivoire, quelle est la situation sur place ?
Le Conseil constitutionnel ivoirien a invalidé la victoire de l'opposant Alassane Ouattara à la présidentielle de dimanche et a annoncé, vendredi, celle du président sortant Laurent Gbagbo. Vous vous trouvez dans le pays, quelle est la situation sur place ? Comment réagit la population ? Avez-vous peur que la situation ne dégénère ? Craignez-vous pour votre sécurité ? Une sélection de témoignages sera publiée sur LeMonde.fr.
==========Paulo Roberto de Almeida volta a comentar:
Por uma vez eu preciso concordar "gramaticalmente" com nosso estropiador-mor da linguagem: eu também acho que "sainte" é uma excelente expressão.
Mas, eu acho que os saintes precisam sair, do contrário não seriam saintes.
Tem alguns que deveriam ser chamados de "ficantes"...
Noticias de uma outra Casa: Cuba - um morto-vivo reaparece para falar do Nosso Guia
Um pequeno registro inicial: não considero os cubanos, ou chineses, contrários a seus regimes liberticidades, "dissidentes". Eles são apenas ativistas, ou seja, têm coragem de se opor a regimes autoritários, quando não totalitários.
Dissidentes são os governos, que não cumprem tratados internacionais que eles mesmos assinaram. Esses regimes são os dissidentes da liberdade, da democracia, dos direitos humanos.
Paulo Roberto de Almeida
Direitos humanos
Revista Veja, 22/10/2010 - 13:27
‘Lula será lembrado na história cubana como cúmplice da ditadura sanguinária de Fidel e Raúl Castro’
A opinião é do dissidente Guillermo Fariñas, laureado nesta semana com um prêmio europeu que homenageia a liberdade de pensamento
Mariana Pereira de Almeida
“Com este prêmio em mãos, eu diria a Lula o seguinte: 'Ao deixar o poder, trate de se retificar'. Ele não está sendo capaz de fazê-lo enquanto ainda é o presidente”
Fariñas acusa o regime cubano de assassinato e reprova a atitude do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva ao visitar o país logo após a morte de Zapata. Na ocasião, Lula comparou o dissidente aos presos comuns das cadeias brasileiras. “Luiz Inácio Lula da Silva será lembrado na história cubana como cúmplice da ditadura sanguinária de Raúl e Fidel Castro”, disse Fariñas, por telefone, ao site de VEJA. “Com este prêmio em mãos, eu diria a Lula o seguinte: 'Ao deixar o poder, trate de se retificar'. Ele não está sendo capaz de fazê-lo enquanto ainda é presidente do Brasil”, acrescentou.
Fariñas iniciou 23 greves de fome contra a ditadura cubana. A mais recente delas, que durou 135 dias, só foi encerrada quando a Igreja Católica de Cuba anunciou a libertação de 52 presos políticos, em julho último. A seguir, a entrevista completa concedida pelo dissidente:
O que o senhor sentiu ao receber um prêmio que trata da liberdade de pensamento enquanto vive em Cuba, onde tudo é proibido?
O meu primeiro sentimento é de compromisso com a causa cubana, com a democratização do país, com meus irmãos que ainda estão presos, com todos homens e mulheres de boa vontade que querem a democracia na ilha. Creio que este é o meu grande compromisso que tenho.
O senhor dedicou o prêmio a Orlando Zapata, que morreu fazendo uma greve de fome. Foi preciso a morte de um homem para o mundo perceber a situação dos dissidentes cubanos?
Creio que sim. Infelizmente, um de nossos irmãos teve que morrer assassinado de maneira planejada em uma prisão cubana - por fazer uma oposição pacífica - para que o mundo se desse conta de todos os maus tratos que os presos políticos sofrem em Cuba.
O senhor disse assassinado, mas ele morreu por fazer greve de fome...
Sim, mas ele foi chantageado. Zapata tomava água em sua greve de fome. As autoridades cortaram sua água durante muitos dias para que se rendesse. Ele não se rendeu e teve problemas renais que o levaram à morte.
O que o senhor diria ao presidente brasileiro sobre sua conduta ao visitar Cuba logo depois da morte de Zapata?
Luiz Inácio Lula da Silva, que foi preso político e tem memória ruim, veio ao país exatamente quando Orlando Zapata estava sendo assassinado. Ele comparou aqueles que faziam greve de fome pela morte de Zapata com delinquentes de São Paulo. Por isso, Luiz Inácio Lula da Silva será lembrado na história cubana como cúmplice da ditadura sanguinária de Raúl e Fidel Castro. Com este prêmio em mãos, eu diria a Lula o seguinte: 'Ao deixar o poder, trate de se retificar'. Ele não está sendo capaz de fazê-lo enquanto ainda é presidente.
O reconhecimento ao senhor veio pouco depois do Nobel da Paz concedido a outro dissidente, o chinês Lu Xiaobo. É um sinal de que as coisas podem mudar em países, como Cuba e China?
Sim. Mesmo que nossas lutas pareçam impossíveis, nós dissidentes sempre teremos fé que nossas idéias são boas, que são para o bem do mundo. Sempre lutaremos por elas.
O senhor acha que a União Europeia pode mudar a chamada Posição Comum, que determina como o bloco lida com a situação cubana, em uma reunião que será realizada na próxima segunda-feira?
Eu considero que Cuba ainda não fez nada para que a UE levante a Posição Comum. Nossos irmãos que estão presos em Cuba e serão colocados em liberdade estão sendo tratados como moeda de troca pelo governo cubano, como se fossem escravos e reféns do regime. Creio que o governo cubano deixou intactas as leis que lhes permitem prender de maneira arbitrária aqueles que fazem oposição pacífica.
Então o senhor acredita que a libertação dos presos políticos pelos irmãos Castro foi uma maneira de conquistar a simpatia do mundo para obter benefícios políticos?
Sim. O governo usou os dissidentes para reduzir o desprestígio causado pela morte de Zapata e por minha greve de fome. Se o governo cubano realmente quisesse respeitar os direitos humanos, os oposicionistas poderiam expor de maneira pacífica suas opiniões, ter bibliotecas independentes e ler livros censurados pelo regime.
Como o senhor se sentiu antes e depois de sua greve de fome?
Me senti bem, de verdade, porque não pensei que ia morrer, mas sim que estava fazendo o possível pelo bem da minha pátria e para que outros dissidentes não fossem assassinados na prisão.
O que o senhor fará com o prêmio de 50.000 euros?
Não sei exatamente o que vou fazer, mas será algo pela causa dos dissidentes e que traga alguma contribuição à democracia em Cuba.
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