domingo, 6 de janeiro de 2013

Japao: demografia declinante - Alexandre Vidal Porto

Onde as crianças nascem menos
Alexandre Vidal Porto
Folha de S. Paulo, 5 de janeiro de 2013

População do Japão não para de cair; vendem-se mais fraldas para adultos que para crianças no país

NO JAPÃO, a cada 31 segundos, nasce uma pessoa. A cada 26, morre outra. Ou seja, tem mais gente morrendo que nascendo.

Desde 2007, a população japonesa não para de diminuir. Segundo o governo, de 2011 a 2012, o país perdeu o número recorde de 212 mil pessoas. Nesse ritmo, até 2060, os japoneses, hoje 128 milhões, estariam reduzidos a 86 milhões apenas.

Em 2012, nasceram 18 mil crianças a menos que em 2011. Essa tendência está diretamente vinculada à baixa taxa de fertilidade das japonesas. Hoje, a média de filhos por mulher é de 1,39. Para que a população se mantivesse estável, seria necessário que ela alcançasse 2,1.

A redução do número de filhos é explicada, ao menos parcialmente, por razões econômicas. A conjuntura de recessão desencoraja a constituição de novas famílias. As pessoas se casam menos e mais tarde. A manutenção de um filho é cara: em 2009, os cinco primeiros anos de educação infantil custavam cerca de US$ 73 mil, 2,5 vezes mais que nos Estados Unidos, por exemplo.

Além disso, ter filhos dificulta o avanço profissional das mulheres. Como trabalhar 15 horas por dia - coisa comum no Japão- quando se tem criança pequena em casa? Diante desse dilema, número cada vez maior de mulheres tem priorizado a carreira profissional e decidido não ter filhos.

Com a redução no número de nascimentos e uma das expectativas de vida mais elevadas do planeta, o Japão se transformou no país desenvolvido com a mais alta proporção de idosos. No mercado japonês, vendem-se mais fraldas descartáveis para adultos que para crianças. Hoje, 24% da população total é de idosos. Em 2060, os idosos serão 40%.

Essa tendência é uma bomba-relógio populacional. A cada cem segundos, o Japão tem uma criança a menos. Segundo Hiroshi Yoshida, professor de economia da Universidade de Tohoku, a prevalecer esse quadro, em maio de 3011, não haverá mais crianças no país.

O envelhecimento da população imporá sobrecarga crescente ao sistema previdenciário. Também terá impacto sobre o nível da produtividade e o ritmo do crescimento. Agora, mesmo que a taxa de fertilidade subisse, tomaria mais de uma geração para que a diferença pudesse ser economicamente verificada.

A incorporação de imigrantes poderia ajudar a compensar o deficit demográfico, mas essa hipótese parece não ser considerada pelas autoridades japonesas. O governo está ciente da questão e estabeleceu um ministério específico para o tema. Algumas políticas têm sido implementadas, mas os resultados têm ficado aquém das expectativas.

Contudo, a despeito do que faça o governo, é fundamental que a comunidade empresarial reconheça e assuma seu quinhão de responsabilidade. É importante para toda a nação que a cultura corporativa e o ambiente laboral incorporem regras de proteção ao convívio familiar e protejam o avanço profissional das trabalhadoras com filhos. A contribuição que as mulheres japonesas podem dar ao sistema produtivo de seu país, mais do que valiosa, é necessária. Não deve ser desprezada.

ALEXANDRE VIDAL PORTO é escritor e diplomata. Este artigo reflete apenas as opiniões do autor.

Republica dos companheiros: gastos secretos e abusos repetidos

Pois é, o discurso da transparência e da democratização das instituições era só para enganar os incautos. Não a mim...
Paulo Roberto de Almeida

46% dos gastos via cartão corporativo do governo são mantidos em segredo

Presidência da República e órgãos oficiais de investigação, como Abin e Polícia Federal, são os que mais recorrem ao sigilo de despesas

Alana Rizzo, de O Estado de S. Paulo, 05 de janeiro de 2013

Em 2012, ano em que a Lei de Acesso à Informação entrou em vigor, quase metade dos gastos com cartões corporativos do governo federal foi mantida em segredo. O argumento é que são informações estratégicas para a segurança da sociedade e do Estado brasileiro.
Entre janeiro e setembro, 46,2% das despesas via cartão foram classificadas como sigilosas – as informações referentes aos meses finais de 2012 ainda não foram enviadas pelo Banco do Brasil à Controladoria-Geral da União (CGU) para divulgação no Portal da Transparência do governo.
Ao todo, na administração pública, os portadores dos mais de 13 mil cartões de pagamento do governo espalhados pelo País gastaram, de forma secreta, R$ 21,3 milhões dos R$ 46,1 milhões pagos pelo chamado suprimento de fundos. A maioria é de compras e saques da Presidência da República, da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e da Polícia Federal. Na Presidência, 95% das despesas com cartões são sigilosas.
Pela legislação, o uso do chamado suprimento de fundos – ou seja, os cartões – não é regra e deve ser usado como exceção e em casos de despesas excepcionais ou de pequeno vulto, como compra de material de consumo e contratação de serviços.
A Abin diz que utiliza o cartão de forma "ostensiva" para atender às demandas administrativas de 26 superintendências estaduais vinculadas. O Gabinete de Segurança Institucional, a quem a Abin é subordinada, afirma que os cartões de pagamento são usados em ações de caráter sigiloso em conformidade com a lei.
A Polícia Federal, órgão submetido ao Ministério da Justiça, cujos gastos secretos por meio de cartão corporativo são altos, não quis comentar o assunto.
A Secretaria de Administração, responsável pela gestão dos cartões da Presidência, informou que os cartões corporativos se destinam a atender as despesas eventuais de pronto pagamento e que, por sua excepcionalidade, não podem se subordinar ao processo normal de empenho. A Vice-Presidência da República, que gastou R$ 537,8 mil com os cartões, informou que não poderia responder aos questionamentos da reportagem porque seus servidores estavam em recesso.
Sem amparo legal específico, a fiscalização das despesas sigilosas é compartilhada dentro do governo. Cabe à Secretaria de Controle Interno (Ciset) da Secretaria-Geral acompanhar os gastos relacionados à Presidência da República, incluindo a Abin. Já as despesas da PF são fiscalizadas pela Controladoria-Geral. No entanto, os relatórios de contas da Ciset e da CGU revelam que os órgãos utilizam artifícios para burlar o controle e não divulgar os gastos.
Atraso. Os últimos dados disponíveis na página da CGU são de setembro. Até a última semana, o portal estava desatualizado e divulgava informações referentes à fatura de maio, um atraso de mais de seis meses na divulgação de informações públicas.
O sigilo e a demora na publicação dos dados vai na contramão da Lei de Acesso e do compromisso assinado pela presidente Dilma Rousseff de implantação do projeto Governo Aberto. Durante a abertura da 1.ª Conferência de Alto Nível Parceria para o Governo Aberto (OGP) em abril do ano passado, Dilma ressaltou o "grande compromisso" do governo com a transparência e destacou o Portal da Transparência. "O Portal divulga todas as despesas do governo federal em base diária e nos mínimos detalhes. Quem acessá-lo nesta manhã verá que todos os gastos realizados até a noite de ontem estão lá expostos e configurados."
Em nota, a CGU informou que o Banco do Brasil é o responsável pelo envio dos dados e a Controladoria, pela publicação. O atraso, segundo o órgão, foi causado por "problemas de ordem técnica" ocorridos no processamento das informações no mês de julho, o que prejudicou a atualização dos meses subsequentes. O banco alegou que a demora foi provocada por mudanças no sistema dos cartões.
Incorporados ainda no governo Fernando Henrique Cardoso com o objetivo de diminuir os gastos e dar mais transparências às contas, os cartões corporativos provocaram uma crise em 2008.
Denúncias de mau uso, incluindo o pagamento de despesas pessoais e saques sem justificativas, levaram a então titular da Secretaria da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, a pedir demissão. Uma CPI foi criada no Congresso. A ex-ministra será secretária adjunta de Netinho de Paula na pasta da Promoção da Igualdade Racial na gestão de Fernando Haddad (PT) na Prefeitura de São Paulo.
Veja também:
link PF apura desvio de R$ 650 mil da educação no interior de SP
link CGU inocenta ex-reitor da UFRJ de acusação
link O Estado tem o direito de ocultar despesas com os cartões corporativos? 

O novo lider (reformista?) da China - Nicholas Kristof

The New York Times, January 5, 2013

Looking for a Jump-Start in China

BEIJING
HERE is my prediction about China: The new paramount leader, Xi Jinping, will spearhead a resurgence of economic reform, and probably some political easing as well. Mao’s body will be hauled out of Tiananmen Square on his watch, and Liu Xiaobo, the Nobel Peace Prize-winning writer, will be released from prison.
These won’t happen immediately — Xi won’t even be named president until March — and I may be wrong entirely. But my hunch on this return to China, my old home, is that change is coming.
Here’s my case for Xi as a reformer.
First, it’s in his genes. His father, Xi Zhongxun, was a pioneer of economic restructuring and publicly denounced the massacre of pro-democracy protesters in 1989. Xi’s mother chooses to live in Shenzhen, the most capitalist enclave in the country.
Xi is also one of the first Chinese leaders to send a child to the United States as an undergraduate. His daughter is a junior at Harvard, reflecting her parents’ emphasis on learning English and their admiration for American education.
It helps that the bar is low for Xi: he follows President Hu Jintao, who is widely regarded in China as a failure. Even government ministers complain that he squandered his 10 years as leader. Today there is pent-up demand for change.
President Hu, who always reads speeches from texts, is a robot who surrounds himself with robots. One such robot aide is Ling Jihua, whose 23-year-old son was driving a Ferrari one night last March with two half-naked women as passengers. The car crashed on a Beijing road, killing the young man and badly injuring the women, one of whom later died.
Ling feared a scandal and reportedly began a cover-up. He went to the morgue, according to the account I got from one Chinese official, and looked at the body — and then coldly denied that it was his son. He continued to work in the following weeks as if nothing had happened. The cover-up failed, and the episode underscored all that was wrong with the old leadership: the flaunting of dubious wealth, the abuse of power and the lack of any heart.
Xi is trying to send a message that he is different. His first act upon becoming Communist Party general secretary in November was to replicate a famous “southern tour” by Deng Xiaoping in 1992 that revived economic reforms. Xi and his team have also startled officials by telling them to stop reading empty speeches at meetings.
Another good sign: I hear that Wang Yang, a reformist who has been the party chief in Guangdong Province and is perhaps the single most capable leader in China today, will be named a vice premier in March.
The new leaders would probably prefer to accelerate economic change while minimizing political relaxation, but that is increasingly difficult as China develops an educated, worldly and self-confident middle class. Over the years, most of China’s neighbors — from Taiwan to Mongolia, South Korea to Thailand — have become more democratic, and now even Myanmar is joining the parade. How can mighty China be more backward than Myanmar?
For 25 years, I’ve regularly been visiting my wife’s ancestral village in the Taishan area of southern China. At first, the villagers were semiliterate and isolated, but now their world has been transformed. On this visit, we dropped by a farmhouse where a former peasant was using the Internet to trade stocks on his laptop. His daughter is in college, and he watches Hong Kong television on a big screen.
People like him are ever harder to control or manipulate, and they’re steamed at China’s worsening corruption. A couple of decades ago, a friend who is a son of a Politburo member was paid several hundred thousand dollars a year to lend his name to a Chinese company so that it could get cheap land from local governments. These days, the family members of leaders can rake in billions of dollars over time.
The 70 richest delegates to China’s National People’s Congress have a collective net worth of almost $90 billion, Bloomberg News reported. That’s more than 10 times the collective net worth of the entire American Congress.
Granted, there is evidence to counter my optimistic take. Most troubling, the authorities are cracking down on the Internet. That’s a great leap backward, but I am skeptical that it will be sustained. Right now a fascinating test case is unfolding: a senior propaganda official censored a New Year’s message in a major Guangdong newspaper, and now journalists are publicly demanding that he be fired. Stay tuned.
Xi is also more nationalistic than President Hu, and I worry that a confrontation with Japan over disputed islands could escalate out of control — in which case all bets are off.
Still, the pre-eminent story of our time is the rise of China. For the last decade it has been hobbled by the failed leadership of President Hu. I’m betting that in the coming 10 years of Xi’s reign, China will come alive again. 

I invite you to comment on this column on my blog, On the Ground. Please also join me on Facebook and Google+, watch my YouTube videos and follow me on Twitter.

China, o sonho dos companheiros: autoritaria e corrupta (tudo o queeles queriam no Brasil)

Retiro, de uma materia sobre a China que vou postar em seguida, esta pequea informacao recolhida nas melhores fontes disponiveis:

"The 70 richest delegates to China’s National People’s Congress have a collective net worth of almost $90 billion, Bloomberg News reported. That’s more than 10 times the collective net worth of the entire American Congress."

Gostaria de ver, ouvir, saber o que os companheiros tem a dizer sobre isso, ou seja: os congressistas americanos sao muito mais pobres que os parlamentares chineses.
Deve ser produtividade: reunindo-se uma unica vez ao ano, os representantes chineses vao direto ao ponto, sem todos aqueles hearings das comissoes do Congresso, aquele questionamento das autoridades,essas chatices da democracia. Eles se concentram naquilo que e' importante: ganhar dinheiro.
Nada como cultivar os bons valores e habitos americanos...
Paulo Roberto de Almeida

sábado, 5 de janeiro de 2013

A decadencia moral do Brasil - Ferreira Gullar, Nelson Motta e os companheiros

O Brasil atravessa uma fase de decadência moral inacreditável. As explicações para isso são fáceis: tivemos a ascensão de uma nova classe, de uma nova elite, segundo as teorias da circulação das eleites de Gaetano Mosca e de Vilfredo Pareto. A que ascendou é essa que estamos vendo: a nova nomenklatura, pouco educada, mas extremamente ávida de benesses, privilégios, consumo conspícuo. A ela segue-se uma legião de mercenários a soldo e de voluntários da causa que contribui para degradar a níveis extremamente baixos o debate político no país, convertido numa vingança dos ratos magros contra os ratos gordos que nos governavam. Apenas que os ratos gordos já se uniram aos ratos magros na tarefa de degradar ainda mais o ambiente intelectual no Brasil (mas creio que o adjetivo não se aplica).
Tendo constatado, tanto quanto Nelson Motta, na coluna abaixo que discorre sobre os comentários ao artigo de Ferreira Gullar, que a fúria da malta se torna irracional e extremamente agressiva nesses casos de crítica ao supremo guia genial dos povos, só posso concluir quanto à erosão completa dos valores da civilidade e do debate cortês no Brasil.
Estamos recuando, cada vez mais, infelizmente.
Paulo Roberto de Almeida

Artigo de Ferreira Gullar:

Me engana que eu gosto

Folha de S.Paulo, 30/12/2012 

 Muitos de vocês, como eu também, hão de se perguntar por que, depois de tantos escândalos envolvendo os dois governos petistas, a popularidade de Dilma e Lula se mantém alta e o PT cresceu nas últimas eleições municipais. Seria muita pretensão dizer que sei a resposta a essa pergunta. Não sei, mas, porque me pergunto, tento respondê-la ou, pelo menos, examinar os diversos fatores que influem nela.
Assim, a primeira coisa a fazer é levar em conta as particularidades do eleitorado do país e o momento histórico em que vivemos. Sem pretender aprofundar-me na matéria, diria que um dos traços marcantes do nosso eleitorado é ser constituído, em grande parte, por pessoas de poucas posses e trabalhadores de baixos salários, sem falar nos que passam fome.
Isso o distingue, por exemplo, do eleitorado europeu, e se reflete consequentemente no conteúdo das campanhas eleitorais e no resultado das urnas. Lá, o neopopulismo latino-americano não tem vez. Hugo Chávez e Lula nem pensar.
Historicamente, o neopopulismo é resultante da deterioração do esquerdismo revolucionário que teve seu auge na primeira metade do século 20 e, na América Latina, culminaria com a Revolução Cubana. A queda do Muro de Berlim e o fim da União Soviética deixaram, como herança residual, a exploração da desigualdade social, já não como conflito entre o operariado e a burguesia, mas, sim, entre pobres e ricos. O PT é exemplo disso: nasceu prometendo fazer no Brasil uma revolução equivalente à de Fidel em Cuba e terminou como partido da Bolsa Família e da aliança com Maluf e com os evangélicos.
Esses são fatos indiscutíveis, que tampouco Lula tentou ocultar: sua aliança com os evangélicos é pública e notória, pois chegou a nomear um integrante da seita do bispo Macedo para um de seus ministérios. A aliança com Paulo Maluf foi difundida pela televisão para todo o país. Mas nada disso alterou o prestígio eleitoral de Lula, tanto que Haddad foi eleito prefeito da cidade de São Paulo folgadamente.
E o julgamento do mensalão? Nenhum escândalo político foi tão difundido e comprovado quanto esse, que resultou na condenação de figuras do primeiro escalão do PT e do governo Lula. Não obstante, o número de vereadores petistas aumentou em quase todo o país.
E tem mais. Mal o STF decidiu pela condenação de José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares, estourava um novo escândalo, envolvendo, entre outros, altos funcionários do governo, Rose Noronha, chefe do gabinete da Presidência da República em São Paulo e pessoa da confiança e da intimidade de Lula.
Em seguida, as revelações feitas por Marcos Valério vieram demonstrar a participação direta de Lula no mensalão. Apesar de tudo isso, a última pesquisa de opinião da Datafolha mostrou que Dilma e Lula continuam na preferência de mais de 50 % da opinião pública.
Como explicá-lo? É que essa gente que os apoia aprova a corrupção? Não creio. Afora os que apoiam Lula por gratidão, já que ele lhes concedeu tantas benesses, há aqueles que o apoiam, digamos, ideologicamente, ainda que essa ideologia quase nada signifique.
Esse é um ponto que mereceria a análise dos psicólogos sociais. O cara acha que Lula encarna a luta contra a desigualdade, identifica-se com ele e, por isso, não pode acreditar que ele seja corrupto. Consequentemente, a única opção é admitir que o Supremo Tribunal Federal não julgou os mensaleiros com isenção e que a imprensa mente quando divulga os escândalos.
O que ele não pode é aceitar que errou todos esses anos, confiando no líder. Quando no governo Fernando Henrique surgiu o medicamento genérico, os lulistas propalaram que aquilo era falso remédio, que os compridos continham farinha. E não os compravam, ainda que fossem muito mais baratos. Esse tipo de eleitor mente até para si mesmo.
Não obstante, uma coisa é inegável: os dirigentes petistas sabem que tudo é verdade. O próprio Lula admitiu que houve o mensalão ao pedir desculpas publicamente em discurso à nação.
Por isso, só lhes resta, agora, fingirem-se de indignados, apresentarem-se como vítimas inocentes, prometendo ir às ruas para denunciar os caluniadores. Mas quem são os caluniadores, o Supremo Tribunal e a Polícia Federal? Essa é uma comédia que nem graça tem.
Ferreira Gullar Ferreira Gullar é cronista, crítico de arte e poeta. Escreve aos domingos na versão impressa de "Ilustrada".

Artigo de Nelson Motta:

Coices e relinchos


Nelson Motta
O Estado de S.Paulo, 04 de janeiro de 2013
A maneira mais estúpida, autoritária e desonesta de responder a alguma crítica é tentar desqualificar quem critica, porque revela a incapacidade de rebatê-la com argumentos e fatos, ideias e inteligência. A prática dos coices e relinchos verbais serve para esconder sentimentos de inferioridade e mascarar erros e intenções, mas é uma das mais populares e nefastas na atual discussão política no Brasil.
A outra é responder acusando o adversário de já ter feito o mesmo, ou pior, e ter ficado impune. São formas primitivas e grosseiras de expressão na luta pelo poder, nivelando pela baixaria, e vai perder tempo quem tentar impor alguma racionalidade e educação ao debate digital.
Nem nos mais passionais bate-bocas sobre futebol alguém apela para a desqualificação pessoal, por inutilidade. Ser conservador ou liberal, gay ou hétero, honesto ou ladrão, preto ou branco, petista ou tucano, não vai fazer o gol não ser em impedimento, ser ou não ser pênalti. Numa metáfora de sabor lulístico, a política é que está virando um Fla-Flu movido pelos instintos mais primitivos.
Na semana passada, Ferreira Gullar, considerado quase unanimemente o maior poeta vivo do Brasil, publicou na Folha de S. Paulo uma crônica criticando o mito Lula com dureza e argumentos, mas sem ofensas nem mentiras. Reproduzida em um "site progressista", com o habitual patrocínio estatal, a crônica foi escoiceada pela militância digital.
Ler os cento e poucos comentários, a maioria das mesmas pessoas, escondidas sob nomes diferentes, exigiria uma máscara contra gases e adicional de insalubridade, mas uma pequena parte basta para revelar o todo. Acusavam Gullar, ex-comunista, de ter se vendido, porque alguém só pode mudar de ideia se levar dinheiro, relinchavam sobre a sua idade, sua saúde, sua virilidade, sua aparência, sua inteligência, e até a sua poesia. E ninguém respondia a um só de seus argumentos.
Mas quem os lê? Só eles mesmos e seus companheiros de seita. E eu, em missão de pesquisa antropológica. Coitados, esses pobres diabos vão morrer sem ter lido um só verso de Gullar, sem saber o que perderam.

Venezuela: teste para a Unasul e o Mercosul na ruptura democratica

A Unasul e o Mercosul foram extremamente rapidos em classificar o impedimento constitucional ocorrido no Paraguai, em junho de 2012, de "ruptura democrática". Vamos ver como se comportam em relação aos dispositivos constitucionais da Venezuela...
Paulo Roberto de Almeida

Piora da saúde de Chávez aumenta peso de escolha do chefe da Assembleia

Parlamento domindado por chavistas escolhe neste sábado o comando do Legislativo do país

05 de janeiro de 2013 | 2h 00
ROBERTO LAMEIRINHAS - O Estado de S.Paulo
 
CARACAS - Os ânimos estão acirrados em Caracas. A cinco dias da posse do presidente Hugo Chávez e em meio a um agravamento de seu estado de saúde, a Assembleia Nacional da Venezuela deve reeleger neste sábado o deputado Diosdado Cabello, que conta com o apoio de 93 dos 165 deputados do Parlamento, para o comando do Legislativo.
Altar em Caracas para 'curar' Chávez, que tem câncer - Carlos Garcia/Reuters
Carlos Garcia/Reuters
Altar em Caracas para 'curar' Chávez, que tem câncer
A eleição, normalmente protocolar, ganhou importância política nos últimos dias em razão da incerteza que cerca o próximo mandato do líder bolivariano.
O vice-presidente Nicolás Maduro declarou nesta sexta-feira em entrevista na TV que Chávez, eleito para um novo mandato, permanecerá na função de presidente e a formalidade da posse, marcada para quinta-feira, poderá ser adiada. "Apesar da séria condição médica, não há nenhuma razão para declarar Chávez em ausência permanente", disse Maduro.
Uma ausência irreversível, segundo a Constituição, tornaria o presidente da Assembleia, eleito neste sábado, o encarregado de assumir o governo do país e convocar eleição presidencial em 30 dias. Maduro argumentou que o líder bolivariano solicitou no início do mês passado uma permissão de viagem que pode ser prolongada por 90 dias, o que daria margem de manobra para adiar a cerimônia de posse. O vice-presidente também acusou a oposição de planejar "um golpe".
Segundo o presidente do Instituto Dataanálisis, Luis Vicente León, a eleição para a presidência da Assembleia é importante, mas bastante previsível. "Cabello deve ser reeleito sem maiores complicações", disse ao Estado. "Não me parece provável que o presidente da Assembleia assuma a presidência, a não ser que Chávez morra antes da posse."
Próximo à ala militar chavista e com força dentro da máquina partidária do PSUV, Cabello foi preterido como herdeiro político de Chávez, que preferiu designar Maduro como sucessor, caso não tenha condições de assumir o mandato.
Nos últimos dias, os dois líderes deram declarações de união para afastar rumores de uma suposta divisão dentro do chavismo. "Estão tentando difundir rumores sobre a unidade da equipe política do presidente Chávez, particularmente eu e o camarada Diosdado Cabello. Mas estamos aqui, unidos", disse Maduro à TV estatal venezuelana na quinta-feira. "Juramos perante Chávez estar unidos."
"O governo vai se utilizar de uma estratégia para fortalecer Maduro como candidato do chavismo, caso o presidente não consiga tomar posse", explicou León. "A cisão entre Cabello e Maduro é hipervalorizada. Diante de um inimigo externo comum, no caso a oposição, eles terão de se unir para uma possível eleição contra Capriles."
Ainda de acordo com o presidente do Datanálisis, um cenário similar ocorre dentro da oposição venezuelana, unificada desde 2010 para antagonizar Chávez, mas com disputas internas.
"Capriles hoje é o candidato com mais probabilidade de representar a oposição: venceu as primárias no ano passado, reelegeu-se governador e teve 45% dos votos contra Chávez, um recorde." Um dos principais rivais de Capriles é o prefeito de Caracas, Antonio Ledezma.
Piora. Na madrugada de ontem, o ministro das Comunicações Ernesto Villegas declarou que Chávez sofre de insuficiência respiratória, decorrente de uma infecção pulmonar grave. O ministro também acusou a oposição venezuelana e a imprensa internacional de travar uma "guerra psicológica" sobre o estado de saúde do presidente.
"Após a delicada cirurgia do dia 11, o comandante Chávez tem enfrentado complicações como consequência de uma grave infecção pulmonar, que provocou uma insuficiência respiratória que requer que ele cumpra à risca seu tratamento médico."
Especialistas em oncologia consultados pela agência Associated Press acreditam ser provável que Chávez esteja respirando artificialmente.
"Não sei qual a magnitude da infecção, mas é provável em casos similares que o paciente respire com ajuda de aparelhos", disse Gustavo Mendrano, especialista em pulmão do Centro Médico de Caracas.
"A insuficiência respiratória significa que o nível de oxigênio no sangue está muito baixo, mas dependendo da gravidade da insuficiência isso pode ser tratado de diversas maneiras."
No final do ano, o governo voltou a admitir o piora no estado de saúde de Chávez. Os festejos de réveillon em Caracas foram cancelados. / COLABOROU LUIZ RAATZ, COM AP

Intervencionismo governamental continua ativo e intenso

Parece que o Brasil, atualmente, e' mais socialista que a China, e esta mais capitalista que o Brasil. Incrivel como o chamado "capitalismo de lacos" vem se desenvolvendo extraordinariamente nos tempos atuais, com o envolvimento ativo do governo na gestao empresarial.
Nao estranha, assim, que o investimento tenha declinado bem mais fortemente do que a mediocre taxa de crescimento economico: os capitalistas devem estar esperando algum mana' governamental ou outros beneficios setoriais.
Como o governo continua anunciando, toda semana, novos puxadinhos de "estimulo economico", todo mundo para com seus planos privados para aguardar a proxima benesse oficial.
Em outros tempos, isso se chamaria fascismo corporativo. Acho que agora tambem. Os brasileiros ainda nao se deram conta, nas o Brasil ja' virou um pais fascista. O governo toma conta do pais inteiro, cidadaos e empresas: deve pensar que sao todos uns idiotas e que so' ele sabe o que e' bom para o pais. Parece que vamos continuar uma economia atrasada, com crescimento mediocre. Pior: estamos recuando mentalmente, e retornando ao fascismo do entre-guerras. Pode ser.
Mas nao com minha negligencia ou omissao intelectual. Tempos tristes.
Paulo Roberto de Almeida

Malabarismo contábil do governo leva Caixa a virar sócia até de frigorífico
Para engordar as contas públicas, o governo fez uma operação polêmica que levou a Caixa a ficar dona de ações que eram do BNDES
04 de janeiro de 2013
Adriana Fernandes e Raquel Landim, de O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA e SÃO PAULO - Para ajudar nas manobras fiscais do governo, a Caixa Econômica Federal se tornou sócia de frigorífico, fabricante de autopeças, de bens de capital, processador de minério, entre outras empresas privadas. As operações foram feitas para sustentar parte da operação montada pelo governo federal para arrumar dinheiro para cumprir a meta fiscal, das contas públicas, de 2012.

O aumento de capital da Caixa autorizado pelo governo no fim de 2012, de R$ 5,4 bilhões, foi bancado em parte com ações que o BNDESPar - braço de investimentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) - detinha em algumas empresas e repassou para o Tesouro. O restante foi financiado pela União com transferência de ações da Petrobrás.

A Caixa se recusou a informar o montante da capitalização que foi bancado por ações de companhias privadas e quais foram as empresas envolvidas. O uso das ações no processo de capitalização do banco só veio a público porque JBS (frigorífico), Romi (bens de capital), Mangels (autopeças) e Paranapanema (processamento de cobre), que têm ações negociadas na bolsa, comunicaram ao mercado sobre a saída do BNDESPar e entrada da Caixa na composição acionária.

Só nessas quatro empresas foram R$ 2 bilhões em participação acionária para a Caixa, mas o valor pode ser maior. O BNDESPar informou que repassou a União ações em 10 companhias diferentes. Além das quatro já mencionadas, estão Petrobrás (petróleo), Eletrobrás (energia), Vale (minério ), Cesp (energia), Metalfrio (refrigeradores) e Vulcabrás (calçados).

O valor das ações repassadas pelo BNDESPar a União chega a quase R$ 6 bilhões - suficiente, para bancar com sobra o aumento de capital feito na Caixa. A Petrobrás responde por mais da metade (R$ 3,15 bilhões), seguida por JBS (R$ 1,79 bilhão) e Vale (R$ 446,9 milhões).

A Caixa informou apenas, por meio de nota, que "não realizou de forma ativa nenhum investimento em participações acionárias". O movimento de ações acima de um determinado limite força as companhias a divulgar a operação como um todo para o mercado financeiro. Se a Caixa ficou com ações de outras empresas abaixo desse limite, não é obrigada a informar.

As ações repassadas à União para ajudar nas manobras fiscais correspondem a 8,7% das ações disponíveis para a venda que a BNDESPar dispunha para a venda em setembro (último balanço divulgado). A assessoria de imprensa do BNDES disse que a operação total gerou lucro, mas não informou quanto. A venda das ações do JBS, por exemplo, deu prejuízo de R$ 300 milhões, pois o BNDES comprou os papéis a R$ 7 em maio de 2011 e entregou a R$ 6 para a União.

Meta. A elevação de capital da Caixa compensou o repasse de dividendos - R$ 4,7 bilhões - que o banco fez para o Tesouro para garantir recursos para a meta fiscal de 2012. No ano passado, a Caixa repassou R$ 7,7 bilhões em dividendos. Até setembro, o banco lucrou R$ 4,1 bilhões.

Com a queda na arrecadação, o governo teve sérias dificuldades para economizar R$ 139,8 bilhões para o pagamento de juros da dívida. Por isso, fez uma conjunto de operações para gerar uma "receita extra". Ao todo, injetou R$ 19,4 bilhões no cofre. O maior montante - R$ 12,4 bilhões - veio do Fundo Soberano do Brasil. O BNDES antecipou R$ 2,3 bilhões em dividendos e a Caixa outros R$ 4,7 bilhões.

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...