domingo, 27 de março de 2022

Um cenário de terra arrasada (não é na Ucrânia, é na política brasileira) - Paulo Roberto de Almeida

Um cenário de terra arrasada (não é na Ucrânia, é na política brasileira) 

 

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

  

Nada do que venha a ocorrer no curso da próxima campanha política presidencial me impedirá de reconhecer exatamente quem são os corruptos, os grandes mentirosos, os incompetentes e até um totalmente psicopata, e também de me confirmar que o estamento político predatório — que de fato se converteu numa categoria à parte no cenário social brasileiro — se apresenta hoje como sendo o pior inimigo do Brasil e dos trabalhadores brasileiros, que estão sendo sistematicamente extorquidos por ladrões organizados.

Vai ser difícil reparar tal sistema necrosado pela corrupção entranhada, totalmente alheio a qualquer ética no serviço público, servindo apenas a si mesmo e confiante na impunidade judicial que seus grandes integrantes construíram para si.

Como chegamos a isso?

Foi um lento acumular de distorções e de deformações banais, que atingiram inclusive as mais altas corporações de Estado, e que produziram um mundo à parte das preocupações mundanas dos brasileiros do setor produtivo, um mundo focado exclusivamente na captura da riqueza criada pelo setor produtivo sob a forma de nacos cada vez maiores do orçamento nacional, sistematicamente desviados para ganhos prebendalistas, o que está no centro do patrimonialismo que nunca deixou de se fortalecer no Brasil.

Nossa decadência política é de um tipo diferente: ela não tem nada de ideológico, pois que todas as correntes de opinião política, todas as tendências do sistema partidário partilham do mesmo afã pelo ganho fácil, pela extorsão legalizada por um sem número de dispositivos e mecanismos dedicados ao objetivo comum de extrair renda do Estado brasileiro.

Os rentistas do estamento político estão unidos no aprofundamento do declínio da nação e prometem aperfeiçoar o sistema de extorsão legalizada justamente no ano em que “comemoramos” o Bicentenário do Estado independente. 

Existe maior ironia do destino do que essa?

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4119, 27 março 2022, 1 p.


XI Encontro de Pós-Graduação em História Econômica e 9ª Conferência Internacional de História Econômica, Campinas, 27-29/09/2022

XI Encontro de Pós-Graduação em História Econômica e 9ª Conferência Internacional de História Econômica

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XI Encontro de Pós-Graduação em História Econômica e 9ª Conferência Internacional de História Econômica

27, 28 e 29 de setembro de 2022, Campinas

Instituto de Economia, Universidade Estadual de Campinas

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XI Encontro de Pós-graduação em História Econômica & 9a Conferência Internacional de História Econômica

Campinas, 27, 28 e 29 de setembro de 2022 Instituto de Economia – Universidade Estadual de Campinas

1a CIRCULAR CHAMADA DE TRABALHOS

Dando continuidade à iniciativa realizada há duas décadas, a Associação Brasileira de Pesquisadores em História Econômica convida a todos(as) pós-graduandos(as), recém pós-graduados(as) e graduandos(as) da área de História Econômica, História do Pensamento Econômico e áreas afins para participar e apresentar suas pesquisas e trabalhos no XI Encontro de Pós-graduação em História Econômica & 9a Conferência Internacional de História Econômica. São considerados(as) recém pós-graduados(as), os(as) mestres(as) ou doutores(as) cujas defesas ocorreram a partir de janeiro de 2021.

Planejado para acontecer sob forma presencial, o encontro ocorrerá no Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)nos dias 27, 28 e 29 de setembro de 2022. Nessa edição, o evento contará com conferências e mesas redondas relacionadas à temática do Bicentenário da Independência, com lançamento de livros e com a realização do 4o Prêmio ABPHE de melhor tese e melhor dissertação na área de história econômica.

Sessões temáticas dos trabalhos:

1) Brasil e América Colonial

  1. 2)  Brasil e América no século XIX

  2. 3)  Brasil e América nos séculos XX e XXI

  3. 4)  História Econômica Geral e Economia Internacional

  4. 5)  História do Pensamento Econômico

  5. 6)  História de Empresas e da Tecnologia

  6. 7)  Iniciação Científica - exclusiva para graduandos(as)

CALENDÁRIO

  • ●  Limite

  • ●  Divulgação dos trabalhos aceitos - 15/08/2022

  • ●  Divulgação da programação - 31/08/2022

  • ●  Realização do encontro - 27, 28 e 29/09/2022

    CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO

    As propostas de comunicação (textos completos) nas sessões temáticas deverão ser enviadas até o dia 30 de junho de 2022 para o endereço eletrônico encontro.pos.abphe@gmail.comFavor indicar no título do e-mail a área temática para a qual o trabalho se direciona. A partir dessa etapa, os textos serão enviados para os membros da Comissão Científica, que procederão à avaliação das propostas a partir dos critérios já estabelecidos pela comissão organizadora, a saber:

    • ●  Pertinência do tema à sessão temática considerada e ao evento em geral;

    • ●  Relevância do tema em relação ao estado atual da historiografia de cada módulo;

    • ●  Fundamentação teórica adequada e atualizada;

    • ●  Identificação de referências bibliográficas essenciais sobre o tema;

    • ●  Qualidade da pesquisa empírica (quando for o caso);

    • ●  Rigor lógico da argumentação;

    • ●  Relevância dos resultados e das conclusões para a área específica em que se

      insere o trabalho;

● Redação clara e correta.

da submissão dos trabalhos - 30/06/2022

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ESPECIFICAÇÕES DO TEXTO

Deverão ser submetidos dois arquivos: o artigo desidentificado com título, resumo e conteúdo; e, um segundo, com apenas o(s) nome(s), filiação(ções) e título(s) do(s) autor(es).

O artigo deve possuir no máximo 25 páginas (incluindo tabelas, gráficos, planilhas e referências bibliográficas). No caso dos trabalhos destinados à área de iniciação científica, o limite do texto é de até 10 páginas.

Destacando-se as seguintes especificações:

  • ●  O artigo completo submetido não poderá ter identificação com nome do(s) autor(es). A avaliação será cega.

  • ●  Idiomas: Português, Inglês ou Espanhol;

  • ●  Formato do arquivo: Microsoft Word, Open Office ou RTF (não serão aceitos arquivos

    em PDF);

  • ●  Devem conter título, resumo e cinco palavras-chave em Português e Inglês. Trabalhos

    submetidos em outros idiomas, que não o Português, devem conter título, resumo e

    cinco palavras-chave no idioma da submissão e em Português;

  • ●  O resumo para o artigo completo não deve ultrapassar 500 palavras;

  • ●  TEXTOS: fonte Times New Roman, corpo 12, entrelinhas 1,5;

  • ●  MARGENS: “normal”, superior e inferior 2,5 cm, esquerda e direita 3,0 cm;

  • ●  Os textos devem seguir as normas de formatação indicadas pela revista História

    Econômica & História de Empresashttps://www.hehe.org.br/index.php/rabphe/about/submissions

    RESULTADOS

    A divulgação da lista de trabalhos aceitos para apresentação nas sessões temáticas ocorrerá até o dia 15 de agosto de 2022.

    HOSPEDAGEM PARA ESTUDANTES

    Dadas as dificuldades que o nível de pós-graduação vem enfrentando nos últimos anos em razão da escassez de recursos, a Comissão Organizadora (composta por docentes e alunos) tem tido um cuidado e um carinho especial com relação à hospedagem dos estudantes. Se você é estudante de pós-graduação e deseja participar do nosso encontro (lembremos que

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será o primeiro em formato presencial depois de dois anos de eventos em formato remoto e, portanto, sua participação será muito importante), pedimos que responda o formulário abaixo:

https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSe7u_UT9BdeFoBMssiJJ4qs14jQ24P8hGiz-UxKLVP B97Vadw/viewform?usp=sf_link

COMISSÃO CIENTÍFICA

Brasil e América Colonial

Idelma Aparecida Ferreira Novais
Pablo Oller Mont Serrath (Cátedra Jaime Cortesão USP) Valter Lenine Fernandes (IFSUL, UFRGS)

Brasil e América no século XIX

Leonardo Milanez de Lima Leandro (UNIVASF) Paulo César Gonçalves (UNESP)
Rita de Cássia da Silva Almico (UFF)

Brasil e América nos séculos XX e XXI

Leila Mourão (UFPA)
Pedro Henrique Pedreira Campos (UFRRJ) Rogério Naques Faleiros (IE-UFES)

História Econômica Geral e Economia Internacional

Alexandre Macchione Saes (FEA-USP) Fábio Campos (UNICAMP)
José Augusto Ribas Miranda (IBMEC-RJ)

História do Pensamento Econômico

Daniel do Val Cosentino (UFOP) Ivan Colangelo Salomão (UFPR) Luiz Felipe Bruzzi (UFMG)

História de Empresas e da Tecnologia

Caroline Gonçalves (UFMS)

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Fábio Faria de Moraes (CIASC) Leandro Malavota (IBGE)

Iniciação Científica

Leonardo Cândido Rolim (UERN) Natânia Silva Ferreira

COMISSÃO ORGANIZADORA

Alexandre Macchione Saes (FEA-USP) Bruno Aidar Costa (UNIFAL)
Claudia Alessandra Tessari (Unifesp-Osasco) Maísa Faleiros da Cunha (NEPO-Unicamp) Michel Deliberali Marson (UNIFAL)

Milena Fernandes de Oliveira (IE-Unicamp) Nelson Mendes Cantarino (IE-Unicamp) Renata Bianconi (Unicamp)
Thiago Gambi (UNIFAL)


sábado, 26 de março de 2022

Desgoverno miliciano: O presente de R$ 167 bilhões para abrir na eleição - Jaqueline Mendes (IstoÉ Dinheiro)

O presente de R$ 167 bilhões para abrir na eleição

 

Ano eleitoral é sempre o período em que o mandatário da nação precisa preparar o caminho para o pleito de outubro. Com medidas requentadas e desviando de uso de dinheiro público, Guedes anuncia um pacote para tentar turbinar Bolsonaro.

ÚLTIMO LIBERAL Paulo Guedes quer reforçar agenda liberal ao tentar estimular a economia sem usar dinheiro público. 

 

Jaqueline Mendes

ISTOÉ DINHEIRO, 25/03/22

 

Depois de três anos de hibernação na economia, o surto populista do presidente Jair Bolsonaro (PL) está a pleno vapor. Às vésperas do início oficial da corrida eleitoral pela presidência, o governo anunciou, na sexta-feira (18), um pacote de bondades para reaquecer a atividade econômica e, ao mesmo tempo, tentar reverter à desvantagem do atual chefe do Executivo até as eleições de outubro. A ofensiva, no entanto, se utiliza de medidas antigas e o pacote elaborado por Guedes para o presidente abrir em outubro pode deixar a desejar, a depender do andamento de outros indicadores macroeconômicos.

 

Mas o “presente” de Guedes foi uma reação, e se deu logo após o Banco Central aumentar a taxa básica de juros (Selic) de 10,75% para 11,75% ao ano, o patamar mais elevado desde abril de 2017. Com a escalada dos juros, a economia tende a se contrair. Para tentar amortecer esse movimento, a decisão foi dar sinal verde a saques do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e a antecipação do 13º dos aposentados.

 

As mesmas propostas já haviam sido adotadas pelo governo durante a pandemia e pelos ex-presidentes Dilma Rousseff e Michel Temer. A equipe econômica também endossou medidas de estímulo à oferta de crédito para microempreendedores e empréstimos consignados para aposentados e beneficiários de programas assistenciais, como Benefício de Prestação Continuada (BPC), Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS) e Auxílio Brasil. Nos cálculos do governo, serão injetados na economia recursos na ordem dos R$ 167 bilhões.

 

Para quem olha de fora, o afago econômico de Bolsonaro é uma tentativa de virar o jogo nas pesquisas de intenção de voto, que mostram o ex-presidente Lula à frente com 43%, contra 29% do Messias. Na avaliação de Ricardo Ismael, cientista político e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), as movimentações recentes estão vinculadas à tentativa do chefe do Executivo de reduzir a rejeição e pavimentar a disputa à reeleição. Para ele, o pacote de ajuda às indústrias, o incentivo a moradias, a liberação do FGTS para quitação de dívidas, entre outras medidas, tem repercussão positiva e impacto, mas Bolsonaro acumula rejeição de forma geral e coleciona uma série de problemas. Ismael avalia que o pacote pode ajudar a tentar reduzir um pouco a rejeição em certos grupos e ajuda na tentativa de ir ao segundo turno, mas há poucas chances de reverter a rejeição acumulada ao longo tempo de maneira a vencer no segundo turno.


PRONTOS PARA SACAR Liberação do resgate do FGTS anunciada pelo governo não é medida nova, mas injeta dinheiro na economia. 

 

Apesar da injeção bilionária à economia, ainda há dúvidas se o montante será concretizado. Os R$ 77 bilhões referentes ao crédito consignado, quase metade do valor do pacote, não estão garantidos porque dependerá dos bancos públicos e privados. Com desemprego elevado e aumento do endividamento, economistas temem uma disparada da inadimplência. “Os juros altos, a inflação fora de controle e o achatamento do poder de compra das famílias, os bancos não vão se expor demais a riscos”, disse o economista Ricardo Bonatelli, da Fundação Getulio Vargas (FGV). Hoje, 76,6% das famílias, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), estão endividadas ou sem poder captar novos empréstimos.

 

NOME SUJO Para seduzir essa parcela da população, em especial os com o CPF negativado nas instituições de proteção de crédito, Guedes, e o ministro do Trabalho e Previdência (MTP), Onyx Lorenzoni, anunciaram que a proposta inclui oferecer crédito até para negativados e a ampliação do comprometimento da renda, de 35% para 40% com juros baixos. “A medida funciona como uma alternativa para famílias evitarem agiotas, que cobram juros de 10%, 15% ou 20% ao mês.”

 

Na mesma ocasião, o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, afirmou que a nova modalidade de microcrédito do banco, com taxas de 1,99% ao mês, foi inspirada no Grameen Bank, concebido pelo bengalês Muhammad Yunus, Nobel da Paz de 2006. O executivo garantiu que, no atual ritmo de crescimento do banco estatal na liberação de crédito, a Caixa deverá ultrapassar o Banco do Brasil em dois anos. Um outro pacote, segundo integrantes da equipe econômica, está sendo elaborado e pode ser divulgado nas próximas semanas. Entre as iniciativas estão a redução do Imposto de Renda para investidores estrangeiros e um programa voltado a estimular a reciclagem. Até outubro, quando Bolsonaro vai ver se o “presente” de Guedes valeu a pena ou não.


sexta-feira, 25 de março de 2022

China: posição quanto à guerra na Ucrânia e sobre o papel do Brasil e da China no conflito - Eliane Oliveira (O Globo)

 ‘China e Brasil têm posições semelhantes ou idênticas’, diz chefe da embaixada chinesa em Brasília sobre guerra


Segundo Jin Hongiun, Estados Unidos e Europa impõem à Rússia sanções ‘extremas e sem precedentes’, mas posicionamento da China sobre a questão da Ucrânia é ‘objetiva e imparcial’

Eliane Oliveira
O Globo, 25/03/2022

BRASÍLIA — À frente do posto desde que o embaixador Yang Wanming voltou para seu país, o encarregado de negócios da Embaixada da China, Jin Hongiun, afirmou ao GLOBO que, mesmo divergindo em votações da ONU, brasileiros e chineses têm posições semelhantes sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia: são contra a aplicação de sanções econômicas aos russos e defendem o diálogo para um acordo de paz. Mas ambos os países têm votado de forma diferente na ONU e em fóruns como os Brics. Esta é a primeira vez que um representante de Pequim em Brasília fala sobre a crise no Leste Europeu e o papel do Brasil, e após o representante da embaixada americana no Brasil, Douglas Koneff, comentar o posicionamento do Itamaraty sob o governo Jair Bolsonaro.  

Por que a China não condenou a ação militar da Rússia contra a Ucrânia? Isto é uma aprovação tácita da invasão? 

A China sempre defende a paz e se opõe à guerra. É desolador ver qualquer país em conflitos armados. Diante da crise na Ucrânia, o que precisamos considerar é o que deve ser feito para resolver de fato o problema. Obviamente, a condenação e as sanções não têm esse efeito. Quanto mais complicada a situação, mais importante é manter a calma e a razão, priorizando o cessar-fogo entre as partes. Em relação ao conflito russo-ucraniano, a China defende que a soberania e a integridade territorial de todos os países devem ser respeitadas, os propósitos e princípios da Carta das Nações Unidas devem ser cumpridos, as legítimas preocupações de segurança de todos os países devem ser levadas a sério, e todos os esforços conducentes à resolução pacífica da crise devem ser apoiados.

O que a China tem feito, como membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, para ajudar a acabar com a guerra? 

Como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU e país responsável, a China vem fazendo todo o possível para trazer as partes à mesa de diálogo e negociações. No primeiro momento do conflito, a China já propôs à Rússia iniciar conversações de paz com a Ucrânia e vem trabalhando com a comunidade internacional para assumir um papel construtivo no processo de aliviar as tensões e promover o diálogo de paz. Ao mesmo tempo, a China acompanha de perto a situação humanitária na Ucrânia, apresentou iniciativas relevantes e tomou medidas concretas nesse sentido. A Cruz Vermelha da China está enviando ajuda humanitária de emergência à Ucrânia, os suprimentos estão chegando às mãos de refugiados. Novas remessas serão enviadas conforme as necessidades. 

O senhor acredita que esse conflito pode gerar uma nova Guerra Fria? 

A crise atual é resultado de uma combinação de fatores e da deflagração de desavenças acumuladas ao longo dos anos. Estrategistas ocidentais como George Kennan, Henry Kissinger e John Mearsheimer já haviam alertado sobre esta crise muito tempo atrás. Para encontrar o cerne da questão, será que não vale a pena refletir sobre a expansão irrestrita da Otan para o leste? A solução de longo prazo para garantir a segurança reside no respeito mútuo entre as principais potências, no abandono da mentalidade da Guerra Fria e de grupos confrontantes, construindo gradualmente uma arquitetura de segurança global e regional equilibrada, eficaz e sustentável. Os Estados Unidos e a Otan devem entrar em diálogo com a Rússia para desvendar o cerne da crise ucraniana e abordar as preocupações de segurança tanto da Rússia quanto da Ucrânia. 

O Brasil foi o único país do Brics (bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) que votou a favor de uma resolução condenando os ataques à Ucrânia pela Rússia. Os demais membros abstiveram. Como o Brics deveria se posicionar em relação a essa guerra?  

O Brics é um mecanismo de cooperação entre mercados emergentes e países em desenvolvimento, ao mesmo tempo que constitui uma força importante para a evolução da ordem internacional, o aprimoramento da governança global e a defesa do multilateralismo. Os membros do Brics têm posições semelhantes sobre a crise Rússia-Ucrânia, isto é, defender o princípio do respeito à soberania, independência e integridade territorial de todos os países, apoiar a manutenção do ímpeto das conversações de paz em busca da resolução de disputas através do diálogo e das negociações. Na presidência rotativa do Brics este ano, a China vai manter comunicações intensas com o Brasil sobre a salvaguarda conjunta da paz, da segurança, da justiça e da equidade no mundo, a defesa do multilateralismo e a recuperação estável da economia mundial. 

O Brasil condenou a invasão, mas já deixou claro que não concorda com a aplicação de sanções econômicas contra a Rússia. Como a China vê esse posicionamento da diplomacia brasileira?  

O Brasil é um país soberano e independente e nós respeitamos plenamente sua posição. Em relação à crise ucraniana, devo dizer que nossos dois países compartilham posições semelhantes ou idênticas. Ambos os países repudiam, por exemplo, o abuso das sanções. A China sempre se opõe às sanções unilaterais que não tenham fundamento no direito internacional, nem o aval do Conselho de Segurança. A história tem mostrado em repetidas ocasiões que sanções abusivas são como tentar apagar fogo com lenha, ou seja, em vez de resolver o problema, pioram os conflitos. Os Estados Unidos e a Europa estão impondo à Rússia sanções abrangentes e extremas sem precedentes, que ainda se agravam e se expandem. A essência desta ação é tornar a globalização uma "arma", o que terá severos impactos nas finanças, na energia, nos transportes e nas cadeias de suprimentos do mundo, prejudicando a recuperação da economia global e trazendo danos a todos os povos. A China e o Brasil também compartilham a mesma posição de promover a negociação de paz. O diálogo e a negociação são a maneira correta de lidar com questões internacionais e regionais. Ostentar o confronto jamais propicia a paz. A China apela a todos os países para concentrar seus esforços na criação do ambiente e das condições necessárias para o diálogo e a negociação, ao invés de aumentar o conflito jogando mais lenha na fogueira. 

A China apoiará economicamente ou militarmente a Rússia?  

Há quem alegue que a China sabia dos ataques de antemão ou tomou partido na questão da Ucrânia. Tudo isso não passa de desinformação feita com o propósito sinistro de negar os esforços da China e distorcer suas intenções. A posição da China sobre a questão da Ucrânia sempre foi objetiva e imparcial. Nossos julgamentos e manifestações são feitos de forma independente com base nos méritos dessa questão. O que a China forneceu ao povo ucraniano foi ajuda humanitária, e não armas e munições a um lado ou outro. A Rússia é um vizinho importante da China, e os dois Estados soberanos têm o direito de desenvolver suas relações com base no direito internacional. A relação de confiança mútua com a Rússia permite que a China desempenhe um papel especial nos esforços internacionais para promover as conversações de paz. 

 Os Estados Unidos defendem que os países que têm alguma relação com a Rússia, como a China e o Brasil, usem sua influência sobre Moscou para acabar com o a guerra. O senhor avalia que o Brasil pode ajudar de alguma forma?  

O Brasil é uma potência emergente com relevância global e uma força importante na manutenção da paz mundial e na promoção do desenvolvimento global. Certamente pode desempenhar e está desempenhando um papel significativo. A China vai manter uma comunicação frequente com o Brasil sobre a situação regional e internacional para que os dois países possam trabalhar juntos para desempenhar um papel ainda mais construtivo. 

Como a China vê os impactos da guerra no fornecimento global de alimentos e fertilizantes?  

A situação na Ucrânia acentua ainda mais os riscos de crise em alimentos, energia e finanças. Os países do mundo já enfrentam muitas dificuldades, como a pandemia, os conflitos, a recessão, o endividamento, a inflação, o desemprego e a fome. A humanidade está em uma encruzilhada, onde está o futuro? Neste momento, cada país e cada indivíduo deve assumir sua responsabilidade. Devemos prezar pela paz e manter a estabilidade, em vez de praticar um jogo de soma zero e dividir o mundo. Devemos ter respeito mútuo, ser abertos e inclusivos, ao invés de criar confrontos, semear divisões e erguer muros. Devemos ainda nos unir para lidar com os desafios, em vez de agir sempre em interesse próprio e transferir a culpa a terceiros. 

Há quem associe a crise da Ucrânia à questão de Taiwan, dizendo que se a China resolver a questão de Taiwan pela força, será uma ameaça à segurança regional e até mesmo global. Qual é o seu comentário a esse respeito? 

A diferença fundamental entre a questão de Taiwan e a da Ucrânia é que Taiwan é uma parte inseparável da China, portanto se trata de um assunto interno, enquanto a disputa entre Rússia e Ucrânia acontece entre dois Estados soberanos. Não há comparação entre um assunto com o outro. O princípio de “Uma só China" é o consenso geral da comunidade internacional, uma norma reconhecida nos relacionamentos internacionais, assim como uma importante premissa e base política para a China estabelecer e desenvolver relações diplomáticas com qualquer país. Algumas pessoas, enquanto enfatizam o princípio da soberania na questão da Ucrânia, prejudicam a soberania e a integridade territorial da China na questão de Taiwan. É um ato flagrante de duplo padrão. Ao especular "chantagem militar" da parte continental sobre a ilha, criar hostilidade e exagerar tensões, obviamente eles não estão trabalhando para promover a paz e a estabilidade da região. A China sempre defende e contribui para a segurança e estabilidade da região Ásia-Pacífico e do mundo inteiro, e jamais criou problemas. Trabalhamos e continuaremos a trabalhar com a maior boa-fé para solucionar a questão de Taiwan por meios pacíficos. Ninguém está mais preocupado com a paz e tranquilidade de seus compatriotas de Taiwan do que os 1,4 bilhão de chineses, e a segurança e o bem-estar deles dependem inteiramente do desenvolvimento pacífico das relações entre os dois lados do Estreito e da reunificação nacional. O que motivou a tensão atual no Estreito de Taiwan foi a tentativa das autoridades da Ilha de buscar a "independência", desrespeitando os interesses fundamentais dos compatriotas de ambos os lados do Estreito. Aqueles países que equiparam a questão de Taiwan com a crise na Ucrânia devem manter a coerência entre suas palavras e ações. Esperamos que eles coloquem na prática seu compromisso com o princípio de “Uma só China”, se abstenham de emitir sinais errados às forças secessionistas de Taiwan e contribuam de forma positiva para a paz e estabilidade regional. 

https://oglobo.globo.com/mundo/china-brasil-tem-posicoes-semelhantes-ou-identicas-diz-chefe-da-embaixada-chinesa-em-brasilia-sobre-guerra-25447332

Continuaremos as tartarugas sonsas que já somos nos próximos anos? - Paulo Roberto de Almeida

Continuaremos as tartarugas sonsas que já somos nos próximos anos? 

 

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

 

Se ouso fazer um prognóstico pessimista, começando por um relativamente otimista: Bozo estará fora do cenário em janeiro de 2023. 

Já é alguma coisa: ninguém pode ser tão ruim quanto ele, ninguém é tão depravado mental, qualquer um, mesmo um papagaio falador, consegue não ser tão desastroso quanto esse parvo perverso.

Mas, e este é um grande e incerto mas, o Brasil continuará se arrastando penosamente em direção a uma modernidade indefinida. Somos uma tartaruga míope e incerta quantos aos caminhos a atalhar vagarosamente. 

O estamento político corrupto, medíocre e autocentrado ata o Brasil a seus grilhões patrimonialistas, como um prisioneiro com uma imensa bola de ferro nos pés. 

Não há liberdade ou abertura econômica, continuamos protecionistas, sem condições de fazer liberalização comercial ou nos inserirmos nas cadeias de valor mundiais por força de um sistema tributário irracional e anticompetitivo. 

Não existe consenso entre elites econômicas e dirigentes políticos sobre um amplo programa de reformas estruturais destinadas a inserir o Brasil na economia global. Essas elites não se falam entre, eles apenas perseguem seus interesses setoriais, sem qualquer sentido de nação.

Não vislumbro, no final do terceiro mês deste ano eleitoral, qualquer sinal de que um, apenas um, mas podem ser dois ou três dos que estão atualmente em liça, está pronto para oferecer um diagnóstico realista de nossa deplorável situação e seja capaz de formular um programa prescritivo de medidas e reformas estruturais que nos tire dessa condição de tartaruga sonsa.

Sorry por ser realista ducha-fria.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4116: 25 março 2022, 1 p.


 

 

quinta-feira, 24 de março de 2022

Livro de Paulo Fernando Pinheiro Machado mostra legado do Visconde do Uruguai na política externa brasileira (Conjur)

 

DIPLOMACIA E DIREITO

Livro mostra legado do Visconde do Uruguai na política externa brasileira

O processo de construção do Estado-nação brasileiro pelas visões, crenças e motivações do político e ex-chanceler Paulino José Soares de Souza é tema do livro "Ideias e diplomacia: o Visconde do Uruguai e o nascimento da política externa brasileira (1849-1853)", que a editora portuguesa Lisbon International Press acaba de lançar.

Para o autor, Paulino de Souza, o Visconde do Uruguai, fundou a diplomacia brasileira
Divulgação

Autor da obra, o diplomata e jurista Paulo Fernando Pinheiro Machadomostra que coube a Paulino, também conhecido como Visconde do Uruguai, a tarefa de conferir ao Brasil independente uma política externa coerente e estruturada, legando ao novo país uma tradição diplomática que serviu de referência para seus sucessores.

Para Pinheiro Machado, Paulino foi o pai fundador da política externa brasileira. Senador do Império, ministro da Justiça e dos Negócios Estrangeiros, além de embaixador em missão especial na França, ele acreditava que o Brasil deveria exercer uma hegemonia benévola na América do Sul, que lhe permitisse dialogar de igual para igual com as grandes potências — ideia que agradava ao imperador dom Pedro II e que balizaria a atuação externa do Império no momento da formação do Estado nacional.

No livro, o autor mostra também que Paulino foi responsável pela criação da estrutura administrativa da chancelaria e pela profissionalização do corpo diplomático — são de autoria dele os documentos legais que fundamentaram o antigo Ministério dos Negócios Estrangeiros e as instruções para o exame dos candidatos a "adido de legação", primeiro programa oficial exigido para o ingresso na carreira.

Paulino José Soares de Souza "foi, indiscutivelmente, um dos pais construtores do Estado brasileiro e um dos fundadores de sua diplomacia, tal como ela conseguiu se libertar de duas pesadas amarras da herança internacional portuguesa e passou a cuidar, verdadeiramente, dos interesses nacionais", diz o embaixador Paulo Roberto de Almeida no prefácio.

Paulo Fernando Pinheiro Machado é diplomata, jurista, historiador, escritor e financista. Viveu em diversos países e atuou como encarregado de negócios do Brasil em Praga (República Tcheca) e em Copenhague (Dinamarca). É integrante das comissões de Direito Internacional do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB) e da OAB-PR e membro honorário da Comissão Especial de Direito Marítimo, Aeronáutico, Portuário, Aduaneiro e Hidroviário e da Comissão de Relações Internacionais e Integração do Mercosul da OAB-RS.

"Ideias e Diplomacia" custa R$ 39 e está à venda no site da Livraria Atlântico. O prazo para postagem é de 15 dias úteis.

A única função do BRICS é a de se opor ao G7 (e agora a toda a comunidade internacional), na proteção da Rússia - Jamil Chade

 THE BRICS ARE BACK—AND THEY ARE CHALLENGING THE WEST

Jamil Chade
March 24, 2022

Russia’s attack on Ukraine is tearing apart international bodies and submitting the multilateral system to its biggest stress test in recent history. But Ukraine and the Western powers’ efforts to isolate the Russian Federation and to make Vladimir Putin an international pariah is also facing a newly organized resistance. The BRICS countries—Brazil, Russia, India, China and South Africa—are behind it.

Along with some Gulf and African countries, the BRICS say they want to avoid inserting geopolitical confrontation into multilateral institutions. Their representatives are determined to counter what they describe as the “hijacking” of international institutions—which, they claim, ought to remain “inclusive and plural.” In part, emerging countries explain their position as a response to the devastating global impact of the war on energy and food supplies that is already being felt. They fear that a further isolation of Russia would only lead to a worsening of the situation, with dramatic consequences for their countries’ economies. But clearly, politics is at work.

A resolution (https://www.ilo.org/global/about-the-ilo/newsroom/news/WCMS_840263/lang--en/index.htm?mc_cid=420ad656c2&mc_eid=UNIQID) passed yesterday by the ILO offers a good indication of the international community’s positioning as the war enters its second month. The decision to “temporarily suspend technical cooperation or assistance from the ILO to the Russian Federation, except for the purpose of humanitarian assistance, until a ceasefire is agreed, and a peaceful resolution is implemented,” was approved by a large majority of 42 votes. But China, India, and Brazil rejected the text (or chose to abstain), marking a shift in position for India and Brazil, both of whom had voted in favor of the condemnation of the war at the UN General Assembly.

Also significant and consequential in yesterday’s ILO’s vote was Jakarta’s abstention. Indonesia holds the G20 presidency in 2022 and its role has been crucial (diplomats from emerging countries tell The G|O) in curbing the American and European pressure to further isolate Russia.

At the WTO, an initiative pushed by the US and the EU to suspend Russia’s trading status went unsupported by Brazil, Russia, India, China and South Africa. The same coalition opposed a resolution at UNESCO which proposed to condemn Russia for recent attacks on freedom of speech, culture, and education. Over at the Food and Agriculture Organization in Rome, Latin American governments are pushing for fertilizers to be excluded from the list of Russian items embargoed. Pressed by agribusiness exporters, Latin America claims that such measures threaten to increase world hunger.

RUSSIAN MANIPULATION

American and European diplomats tell The G|O they fully agree that the multilateral system must be protected. But they contend that the alleged “hijacking” of the system is a much lesser risk than the danger posed by Vladimir Putin’s unprovoked and blatant attack on Ukraine, a clear violation of the UN Charter and a direct threat to European security. There are also fears that the BRICS’ position will weaken the international mobilization to punish the Kremlin for the crimes committed in Ukraine, and will make it more difficult to hold Vladimir Putin accountable.

Russia, meanwhile, can take advantage of this rift to claim it is not isolated. It is no coincidence that Vladimir Putin announced yesterday (https://www.reuters.com/world/russias-ambassador-indonesia-says-putin-plans-attend-g20-summit-2022-03-23/?mc_cid=420ad656c2&mc_eid=UNIQID) that he was planning to attend the next G20 summit in Jakarta, while Sergei Lavrov, the Russian Foreign Minister, was all smiles when meeting (https://thediplomaticinsight.com/russian-foreign-minister-meets-brics-ambassadors/?mc_cid=420ad656c2&mc_eid=UNIQID) with the BRICS’ Ambassador to Moscow.

Jamil Chade

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