segunda-feira, 28 de novembro de 2022

Velhos e novos amigos: as cartas do Dr. Everardo Moreira Lima - resenha de livro por Paulo Roberto de Almeida

 Velhos e novos amigos: as cartas do Dr. Everardo Moreira Lima 

 

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

Resenha do livro de Everardo Moreira Lima, Cartas aos Amigos (Rio de Janeiro: N 30 Editorial, 2022, 212 p.; ISBN: 978-85-5484-303-8). 

 

Nunca é tarde para se fazer novos amigos, assim como para continuar cultivando os velhos amigos, inclusive para conquistar novos admiradores entre leitores que estão muito longe no espaço e, talvez, um pouco menos na dimensão temporal. Esta é a impressão que recolho depois de percorrer as cartas, na verdade verdadeiras crônicas (de viagens, de leituras, de trabalho, de aprendizado), escritas ao longo de mais de três décadas, sobre um pouco de tudo, começando pela infância, percorrendo a vida e o tempo, e culminando na pós-verdade, sem esquecer o novo e já velho grande problema da atualidade: o aquecimento global. O livro, prefaciado em janeiro de 2022, e apresentado pelo seu próprio filho, Sérgio Eduardo Moreira Lima –meu chefe, quando nos divertimos juntos, ele na presidência da Fundação Alexandre de Gusmão, eu na direção do Instituto de Pesquisas de Relações Internacionais, entre 2016 e 2018 – é uma coletânea muito bem organizada das melhores “cartas” que o Doutor Everardo dirigiu por iniciativa próprias aos seus muitos amigos, tratando dos temas que mais lhe interessaram ao longo de uma vida intensamente vivida, entre itinerários familiares, viagens de lazer, leituras – autores brasileiros e estrangeiros, de Homero a Garcia Márquez, de Machado a Camus – e uma excelente cartilha (em quatro lições) para o “exercício da cidadania brasileira”.

As orelhas são assinadas por um neto, Leonardo, e a contracapa por ninguém menos do que o nosso antigo Consultor Jurídico do Itamaraty (1985-1990) e juiz, falecido neste mesmo ano, da Corte Internacional de Justiça, Antonio Augusto Cançado Trindade, que destaca o que tinha o prazer de compartilhar com o autor, a lição de Aristóteles, “para quem o bem, para o ser humano, reside no exercício da excelência (que implica perfeição e probidade), podendo a excelência moral ser adquirida pela prática e pelo hábito, e a intelectual com o tempo e a experiência, moldando o comportamento justo com os demais”. As afinidades eletivas entre ambos se explicam por “um gosto comum, o do cultivo do estudo do tempo, não só no universo conceitual do Direito, mas também, e sobretudo, na condição existencial”. Pois foi essa a característica que me chamou a atenção neste livro original, um modelo perfeito para quem sabe, empreender uma obra não semelhante, mas similar?

Destaco, de imediato, como útil para nossa familiaridade com a grande família dos Moreiras Limas, a fotos coletadas por um de seus filhos de alguns integrantes desse grande clã, assim como uma árvore genealógica, do século XIX ao XXI, de todos os antecessores e descendentes deste ilustre membro da advocacia, do Ministério Público, os amigos que lhe fizeram companhia, durante décadas seguidas, em restaurantes do Rio de Janeiro. A afeição por ele demonstrada em direção desses muitos amigos transparece em muitas das cartas, inclusive em viagens, uma das quais à Hungria, quando seu filho Sérgio Eduardo se exercia como embaixador nesse país do finado império soviético. Everardo destaca, num dos textos iniciais, sobre o “significado” destas cartas aos amigos, que 

... desde muito cedo, venho registrando nestes escritos meu ponto de vista contra o desmatamento da Amazônia, pela preservação das florestas e do meio ambiente, como também pela manutenção dos povos indígenas nos territórios onde viveram tradicionalmente, vale dizer, onde sempre estiveram suas tribos, posição esta que tem a finalidade de evitar o aquecimento do planeta e a consequente extinção dos seres vivos, inclusive da espécie humana. (p. 29)

 

Vale destacar, também, de imediato e de modo singularmente atrativo, sua redação límpida, sem adjetivos rebarbativos, num estilo ao mesmo tempo coloquial e erudito, com as muitas referências a autores das mais diversas origens e épocas. A parte IV, dedicada à literatura, explica, provavelmente, a correção da linguagem e a profundidade das reflexões próprias sobre autores os mais diversos, da antiguidade aos atuais, começando pelas três seções de uma “Pequena Estante de Literatura Brasileira” de Manuel Antonio de Almeida (Memórias de um Sargento de Milícia) a Joaquim Manuel de Macedo (A Moreninha) e o inevitável Machado de Assis, que para ele se situa “nos altiplanos da literatura universal” (p. 132). Do criador da Academia Brasileira de Letras, ele cita os romances mais importantes, destacando a originalidade das Memórias póstumas de Brás Cubas (p. 135). Sobre o maior autor brasileiro, ele se refere inclusive a um romance recente, O Homem que Odiava Machado de Assis (por José Almeida Júnior, cujo nome ele não cita), do qual ele não gostou, por ser um “machadista ferrenho” (p. 139), terminando por transcrever o poema que Machado dedicou à sua finada esposa, Carolina, que está no centro das intrigas desse curioso romance de um acusador e inimigo de Machado.

Os muitos textos da primeira seção, trinta mais exatamente, são saborosas crônicas sobre uma saga familiar tipicamente brasileira, com as sucessivas migrações dos estados setentrionais até o estabelecimento na segunda capital da República, mas com ramos que se espalharam em outros estados e até mundialmente. A parte III é inteiramente dedicada a uma viagem com amigos de trabalho a Portugal, objeto de trinta páginas de uma bem planejada incursão na terrinha, em março e abril de 2018. A Parte V, A Vida e o Tempo, é, talvez, a mais reflexiva, e instrutiva, de todo o livro, com considerações de grande densidade intelectual sobre as vários noções do tempo, nas obras e pensamentos de filósofos famosos (de Aristóteles, na antiguidade, ao francês Comte-Sponville), mas também oferecendo lições de história – calendários juliano e gregoriano, por exemplo – e os ensinamentos próprios que o Doutor Everardo adquiriu na fruição dessas obras e na absorção do significado dessa abstração que não tem existência tangível. Como ele mesmo explica: 

O tempo não está na consciência como uma coisa, somos nós mesmos que o intuímos pelos sentidos e convencionamos os padrões de sua medida em relação a coisas para facilitar a comunicação.

Não é o tempo que passa, somos nós que passamos. Tudo na natureza nasce, vive e morre. Somos protagonistas e testemunhas desse ciclo inexorável. (p. 175)

 

Na última parte, VII, dedicada à Pós-Verdade, há toda uma reflexão, distribuída em quatro textos de títulos similares, sobre os “fatos alternativos”, expressão utilizada “pela primeira vez por George Orwell (Eric Arthur Blair) no seu livro “1984”, lançado em 1949, como forma de o Estado totalitário apresentar sua versão dos fatos” (p. 208). Doutor Everardo faz a imediata conexão com as práticas do inacreditável presidente americano dessa época (2017), Trump, o ídolo do presidente brasileiro eleito um ano depois (mas esse repetidor de “fatos alternativos” não comparece em nenhuma das cartas). O epílogo dessas cartas é oferecido com todo o carinho do Doutor Everardo: 

A título de epílogo, gostaria de agradecer aos meus leitores e dizer-lhes do meu prazer, ao longo dos últimos trinta anos, em poder escrever a Carta aos Amigos e da satisfação ainda maior em receber comentários. Seria difícil de imaginar, que aos 98 anos pudesse manter vivo o desejo de comunicar-me com esse pequeno universo de pessoas com quem compartilhei estórias, impressões e sentimentos. (p. 211)

 

Bem mais do que isso, Doutor Everardo, seu livro teve o poder de “fabricar” novos amigos, mesmo distantes e num formato virtual. Aprendi muito com suas dezenas de cartas, não apenas pelo estilo claro, sincero, transcendendo simpatia com amigos e, sobretudo, o seu caráter íntegro, honrado e intelectualmente honesto e modesto. Dele retirei inspiração e um modelo para lançar-me num empreendimento não semelhante, mas certamente similar.

 

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4279: 28 novembro 2022, 3 p.


domingo, 27 de novembro de 2022

Onde se esconderam os democratas liberais? - Augusto de Franco (Antagonista)

Uma primeira "crônica" de Augusto de Franco como novo Antagonista:  

Onde se esconderam os democratas liberais?

Se não houver pluralidade de forças, a política se resumirá ao perde-ganha bipolar, com mais características de guerra do que de política
Onde se esconderam os democratas liberais?
Montagem

Sempre que se usa a palavra liberal é necessário advertir que isso não tem nada a ver com as doutrinas do liberalismo-econômico ou com chamado neoliberalismo. Para todos os efeitos práticos, liberal – no sentido político do termo – significa hoje apenas uma coisa: não-populista. No primeiro turno de 2022 muitos estavam convencidos de que seria preciso construir um centro democrático liberal (quer dizer, não-populista) no Brasil. A candidatura de Simone Tebet, de certo modo, expressou esse desejo.

Com o afunilamento da disputa entre o populismo-autoritário bolsonarista e o neopopulismo lulopetista, esse desejo parece ter se esfumado. Ficou a impressão de que a (incorretamente) chamada terceira via (outra designação para o centro democrático) não passava de marketing eleitoral. Muitos que queriam apostar numa alternativa a Bolsonaro e a Lula ficaram pendurados na broxa quando várias lideranças, após declararem – corretamente – apoio a Lula no segundo turno, começaram a costear o alambrado para aderir ao novo governo. Como se dissessem: “Agora a conjuntura mudou: a gente entra no novo governo e só volta com esse papo de centro democrático (ou de terceira via) em 2026”.

Apoiar Lula no segundo turno foi a opção democrática correta, de vez que era a única maneira de impedir a reeleição de Bolsonaro – que só não aconteceu, aliás, por um triz. Mas aderir ao governismo não é a consequência necessária de ter removido eleitoralmente Bolsonaro. Ou um centro democrático – no sentido de centro de gravidade da política e não de posição geometricamente equidistante dos polos ditos de direita ou extrema-direita e de esquerda – é necessário para o bom funcionamento da democracia, ou não é.

Já que Lula foi eleito, isso não é mais necessário? Pelo contrário. Continua sendo necessário um centro de gravidade democrático liberal ou não-populista. Mas se todos os que viam essa necessidade vão embarcar no novo governo, quem articulará tal alternativa (não em 2026, mas em 2023, 2024, 2025)? Se os democratas liberais se esconderem da política, imaginando que o país vai ficar parado até o próximo pleito, então de nada valeram seus esforços e promessas no primeiro turno.


O barato do absurdo - Muniz Sodré (FSP)

 O barato do absurdo

Mark Twain tem algo a dizer aos perplexos com o embotamento das faculdades mentais de extremistas. 

Muniz Sodré

Folha de SP,  26/11/22


"É mais fácil enganar as pessoas do que convencê-las de que foram enganadas". Assim, "nunca discuta com pessoas estúpidas, porque vão lhe arrastar para o nível delas e acabar vencendo por experiência". Estas duas boutades ferinas de Mark Twain podem servir de guia para os perplexos com o embotamento das faculdades mentais de extremistas.


De fato, é tarefa inglória argumentar sobre o grau de realidade de um fato, quando o interlocutor foi emocionalmente capturado por outra certeza, absurda. O fato: TSE, STF, militares, observadores internacionais, governantes à esquerda e à direita no mundo reconhecem a lisura das eleições brasileiras. Mas um empresário retruca: "Creio que é fraude. Mandei caminhões para protestar".

"Creio porque é absurdo" é frase derivada de Tertuliano, teólogo cristão do século três, que queria assim afirmar a fé como transcendental à razão. Só que extremismo nada tem a ver com teologia, e sim com basbaquice, imbecilidade ou estupidez legítima, que é uma forma deliberada de idiotia. Às vezes, o que se diz não coincide com o que se pensa, isso pode ser corriqueiro. Preocupante é o abismo entre um e outro, ocupado pelas ilusões de onipotência do estado de autoexaltação, em que o imbecil veste uma fantasia pretensamente capaz de resgatá-lo de sua miséria existencial. Por insólito que pareça, o absurdo banal é uma droga do extremismo.

Têm se multiplicado na mídia interpretações de natureza psi sobre o fenômeno. Em geral, numa bela língua, mas talvez seja um esforço excessivo. O estúpido, o imbecil, o cretino, o basbaque, o mané não comporta profundidade, é grosseiramente linear. Daí a dificuldade de apreendê-lo pela via da racionalidade culta: busca-se um sentido oculto na cabeça da ovelha, enquanto o comportamento é regido pela mecânica irreflexa do rebanho.

Por mais incômodo e ridículo que seja o despautério nas redes, em frente a quartéis ou sob um céu de ovnis, seria de bom aviso pautar a verve de Mark Twain, uma reflexão prática sobre os impasses do diálogo. Na verdade, isso pode estar ocorrendo, quando até mesmo militares começam a se preocupar mais com o lixo acumulado pelas "livres expressões democráticas" nas portas de suas unidades do que com aquele que enche cabeças "patrióticas" às voltas com picanha e linguiça, ao som de música sertaneja.

Mas estupidez não tem agenda, pode durar. Nesse meio tempo, recomenda-se aos sãos de espírito meditar sobre uma canção ("Le Roi des Cons") do genial Georges Brassens, em que ele diz ser possível rolar por terra a Coroa da Inglaterra, mas "não se destrona o rei dos imbecis". É empresa árdua, certo, porém factível: bem avisadas, as urnas democráticas dão conta do recado.

Folha de SP.  26/11/22

sábado, 26 de novembro de 2022

Livro de José Jobim, Hitler e seus comediantes; resenha de João Batista Natali (FSP)

Hitler e seus Comediantes na Tragicomédia: O despertar da Alemanha

  • Autor José Jobim
  • Editora Topbooks
  • R$ 69,90 158 págs.

Reportagens de brasileiro nos anos 1930 sobre o nazismo lembram valor do bom jornalismo

Em livro que ganha nova edição José Jobim relatou gênese dos horrores da Segunda Guerra

    São Paulo

    Uma boa pergunta consistiria em saber se a perfídia moral do nazismo já era conhecida quando Adolf Hitler chegou ao poder ou se, ao contrário, foi preciso esperar que historiadores e juízes do Tribunal de Nuremberg reunissem as informações que até hoje nos chocam de modo superlativo.

    E a boa resposta seria a seguinte: a monstruosidade do nazismo já era plenamente exercida quando, no início de 1933, Hitler foi nomeado para a chefia do governo alemão. Tanto que o bom jornalismo relatava em detalhes os horrores que aconteciam.

    Um dos repórteres competentes daquela época foi José Jobim, que em 1934 reuniu reportagens no livro "Hitler e seus Comediantes na Tragicomédia: O Despertar da Alemanha", há pouco reeditado pela Topbooks.

    Soldados nazistas em treinamento em foto sem data - Divulgação Holocaust Memorial Museum

    O autor, paulista de Ibitinga, prestou em seguida concurso para o Itamaraty. Durante sua carreira de diplomata foi embaixador na Colômbia, na Argélia, no Vaticano e no Equador. Foi assassinado em 1979, por estar reunindo material para um livro sobre a corrupção na construção da usina de Itaipu —a causa verdadeira de sua morte foi relatada apenas anos depois, pela Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos do regime militar.

    Mas voltemos à Alemanha, onde crimes semelhantes eram recorrentes. Jobim teve acesso fácil, em 1933, a informações sobre a administração nazista. E por que não foi também esse, então, o comportamento de toda a mídia a brasileira?

    O correspondente nos conta que Joseph Goebbels, o ministro da Propaganda do Terceiro Reich, distribuía propina a jornais, agências de notícia e jornalistas, para que falassem bem de Hitler e escondessem as safadezas que ele cometia.

    Por exemplo, o incêndio do Reichstag, o Parlamento em Berlim, em 28 de fevereiro de 1933. O fogo foi atribuído mentirosamente a um ex-comunista holandês, Marinus van der Lubbe. Mas quem o acendeu foi um comando que entrou de madrugada no prédio, por meio de uma passagem subterrânea que saía dos aposentos de Hermann Goering —viciado em cocaína, diz Jobim—, um dos homens de confiança de Hitler.

    Vejamos o contexto. Naquele mês de fevereiro a Alemanha ainda era formalmente uma democracia e se preparava para eleições em que os comunistas poderiam ultrapassar em número de deputados a bancada dos nazistas. O incêndio foi o pretexto para prender deputados comunistas, proibir seus jornais, vetar ao partido o acesso às emissoras de rádio e criminalizar sua existência.

    Para tanto, e mais uma vez, a operacionalidade suja foi entregue às Sturmabteilung, as SA, milícia armada do Partido Nacional-Socialista que seria depois responsável pelo extermínio de judeus e opositores nos campos de concentração.

    As SA também exerciam o poder ilimitado de polícia. Jobim cita o "Livro Pardo", espécie de compêndio de violações alemãs dos direitos humanos, que aponta 60 mil casos de tortura nos meses iniciais da consolidação do nazismo.

    O jornalismo põe em evidência curiosidades que nos anos seguintes historiadores considerariam menos relevantes. Jobim, que trabalhava para vários jornais, informa, por exemplo, que brochuras com textos da oposição circulavam com capas em que apareciam uma catedral gótica alemã ou o rosto de atrizes de cinema. Entre os dados mundanos, o primeiro congresso do Partido Nazista já no poder transportou delegados em 340 trens especiais e nele foram consumidos 500 mil quilos de salsichas.

    Mas o nazismo foi um suicídio da inteligência alemã. O físico Albert Einstein precisou se exilar por ser judeu e viu seus livros queimados na Universidade de Berlim. O "Völkischer Beobachter", jornal que o próprio Hitler dirigia, informou em maio de 1933 que 600 mil toneladas de livros e revistas haviam sido confiscadas, e parte delas, queimadas —entre as vítimas, romances de Thomas Mann, Nobel de Literatura.

    Grandes professores foram demitidos e tinham seus passaportes confiscados, para não poder lecionar ou pesquisar em países estrangeiros.

    Em meio a 10 mil bibliotecas particulares, foram queimados manuscritos antigos do Instituto de Pesquisas Sexuais Magnus Hirschfeld, na época singular em toda a Europa, acusado pelo governo de "colecionar material pornográfico".

    Jobim ainda menciona o lado tosco da idealização da mulher como mãe ariana, desestimulada a voltar ao mercado de trabalho, para onde a geração anterior se encaminhou em razão do deslocamento dos homens para as trincheiras da Primeira Guerra. A mulher sob o nazismo pertence essencialmente ao lar, onde cuida moralmente dos filhos, que o Estado também escolariza por meio do ensino ideológico do totalitarismo.

    Há o exemplo esquisito de um garoto de 10 anos, filho de imigrantes uruguaios e que se chamava José. Na escola, o garoto contou ao jornalista que colegas que se comportavam mal eram cercados e ameaçados: "Você não passa de um judeu".



    Uma Nova Ordem Europeia? - colóquio da Universidade Portucalense (30/11/2022)

     

    Oradores: Martin Pohl, embaixador da República Checa em Portugal, e António Martins da Cruz, antigo embaixador e ex-ministro dos Negócios Estrangeiros.
    Recentemente, Emmanuel Macron, Presidente de França, defendeu a criação de uma nova “comunidade política europeia”, mais alargada que a União Europeia (UE), que reforce a cooperação no espaço europeu.
    Emmanuel Macron e Ursula von der Leyen, Presidente da Comissão Europeia, defendem o fim da unanimidade nas decisões da UE em Segurança e Defesa, Política Externa ou Saúde, o que implicará uma revisão dos tratados.
    O que poderá significar esta proposta para o futuro da Europa e para o papel da UE no mundo?
    A Conferência será aberta pelo Reitor da Universidade Portucalense, Fernando Ramos, pela Diretora do Departamento de Direito, Maria Manuela Magalhães e pelo coordenador da licenciatura e do mestrado em Relações Internacionais, André Pereira Matos, e terá a moderação do professor Pedro Ponte e Sousa. 
    A Conferência “Uma Nova Ordem Europeia?” é uma atividade integrada na unidade curricular de Estudos Europeus, da Licenciatura em Relações Internacionais.


    quinta-feira, 24 de novembro de 2022

    Gilberto Amado: Memorial Lectures - Conférences Commémoratives - 2a edição de livro sobre o grande jurista

    Um importante coleção de conferências sobre o direito internacional e sobre o papel da Comissão do Direito Internacional – International Law  Commission – na construção e na codificação do DI, com destaque para a trajetória do jurista brasileiro Gilberto Amado.


    disponível neste link: 

    https://funag.gov.br/biblioteca-nova/produto/1-113-gilberto_amado_memorial_lectures_conferences_commemoratives_giberto_amado

    ou neste outro: 


    Gilberto Amado: Memorial Lectures . Conférences Commémoratives

    Ficha catalográfica: 

    Gilberto Amado: memorial lectures.

    Gilberto Amado: memoral lectures = Gilberto Amado: conférences commemoratives / Prefácio à 2. ed. de Gilberto Vergne Saboia. – 2. ed. rev, e ampl., bilíngue – Brasília : FUNAG, 2012.

    677 p.; 15,5 x 22,5 cm. Textos em inglês e francês.

    Palestras de Eduardo Jiménez de Aréchaga, Constantin Eustathiades, Manfred Lachs, Humphrey Waldock, Taslim o. Elias, Geraldo Eulálio do Nascimento e Silva, Georges Abi-Saab, José Sette Câmara, Cançado Trindade, Carl-August Fleischhauer, Francisco Rezek, Lucius Caflisch, Celso Lafer, Alain Pellet, José Luis Jesus e Leonardo Nemer Caldeira Brant.

    ISBN: 978-85-7631-383-0

    Destaco esta duas conferências: 

    A Hundred Years of Plenitude

    Lecture delivered on 16 June 1987 at Geneva by H.E. Mr. José Sette Câmara, Judge at the International Court of Justice and former Ambassador of Brazil , 159

    Introduction , 161 

    Gilberto Amado – A Hundred Years of Plenitude , 163


    The Contribution of Gilberto Amado to the Work of the International Law Commission

    Lecture delivered on 16 June 1987 at Geneva by Professor Cançado Trindade, Legal Adviser of the Ministry of Foreign Affairs of Brazil, Professor of International Law at the Rio Branco Institute (Brazil’s Diplomatic Academy) and at the University of Brasilia , 177


    Nos links acima, é possível ter acesso ao livro na íntegra.




    Invasão russa na Ucrânia completa 9 meses sem expectativa de paz - Rodrigo Craveiro (CB)

     Operação Especial para perpetrar crimes de guerra, contra a humanidade e contra a paz.


    Invasão russa na Ucrânia completa 9 meses sem expectativa de paz

    Invasão russa completa 273 dias sem expectativa de paz. Parlamento Europeu aprova resolução em que classifica a Rússia como patrocinadora do terror. Forças de Moscou ampliam destruição da infraestrutura civil. Milhões estão sem água e luz

    Rodrigo Craveiro
    Correio Braziliense, 24/11/2022 

    O tempo dedicado a celebrar a chegada de uma nova vida tem sido o mesmo, para os ucranianos, na angustiante espera da morte. A invasão russa à ex-república soviética completa, hoje, nove meses sem  qualquer indício de paz. Ontem, enquanto o Parlamento Europeu aprovava uma resolução declarando-a "Estado promotor do terrorismo", a Rússia intensificava a campanha para destruir a infraestrutura civil da Ucrânia. De acordo com a Força Aérea de Kiev, as forças de Moscou dispararam "cerca de 70 mísseis de cruzeiro" contra o país vizinho, 51 dos quais foram abatidos. Cinco drones suicidas do tipo Lancet também acabaram derrubados no sul. Sem usar a palavra "guerra", o governo de Vladimir Putin assegurou que a ofensiva será coroada com o "sucesso", depois de as bombas causarem danos imensos na capacidade energética da Ucrânia. Nos últimos dias, a Rússia sofreu uma série de reveses — a principal delas foi a retirada militar de Kherson, cidade que havia anexado, no sul do país. 

    "Não resta a menor dúvida sobre o futuro e o sucesso da operação especial", declarou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov. O governador de Kiev, Oleksi Kuleba, relatou que o abastecimento de água foi suspenso e que "toda a região está sem luz". De um estação de metrô de Kiev, onde se abrigava das bombas, às 20h40 de ontem (15h40 em Brasília), Anton Suslov — especialista da Escola de Análise Política (naUKMA) — falou ao Correio e disse que, depois de significativas derrotas militares, a Rússia intensificou os bombardeios a cidades e vilarejos. "Centenas de civis foram assassinados e milhares sofrem. Temos visto resultados terríveis em áreas liberadas do domínio russo. Quando incapazes de vencer no front, os soldados de Putin alvejam civis", lamentou.

    De acordo com Suslov, o governo ucraniano e a sociedade civil fizeram apelos para que a Rússia passasse a ser classificada como patrocinadora do terrorismo. "A decisão do Parlamento Europeu é um resultado lógico dessa campanha. Ainda que tenha significado meramente simbólico, mostra o consenso entre atores-chave da Europa em relação a mais ações contra a Rússia. Como os membros do Parlamento são eleitos diretamente pelos cidadãos dos países-membros, isso também representa um chamado informal à ação por parte de outras instituições da União Europeia", acrescentou. 

    Ciberataque
    Os parlamentares europeus aprovaram a resolução por 494 votos a favor, 58 contra e 44 abstenções. Horas depois, o portal virtual do Parlamento Europeu foi alvo de um "sofisticado ciberataque". "Um grupo pró-Kremlin assumiu a responsabilidade. Nossos especialistas estão resistindo e protegendo nossos sistemas", tuitou Roberta Metsola, presidente da instituição, sediada em Estrasburgo (França). "Minha resposta: 'Slava Ukraini' (Glória à Ucrânia)", emendou. 

    "As atrocidades cometidas pela Federação da Rússia contra a população civil ucraniana, a destruição de infraestruturas civis e outras violações graves dos direitos humanos e do Direito Internacional humanitário constituem atos de terror (...) e crimes de guerra", apontou o documento. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, elogiou o desdobramento político e defendeu que "a Rússia deve ser isolada em todos os níveis e responsabilizada para encerrar sua velha política de terrorismo na Ucrânia e em todo o planeta". Zelensky também convocou uma reunião emergencial do Conselho de Segurança da ONU. 

    Também em Kiev, Peter Zalmayev — diretor da organização não governamental Eurasia Democracy Initiative (em Kiev) — confirmou à reportagem que Kiev registrava blecautes durante todo o dia de ontem. "Nesse momento, há eletricidade em meu apartamento, mas não temos água. Vejo pela janela que muitos edifícios estão na completa escuridão. Os moradores de Kiev têm estado sem água. Eu enchi a banheira de casa para ter água por pelo menos duas semanas. Graças a Deus, o sistema de aquecimento ainda funciona. Em caso de pane, Zelensky tem um plano de enviar os moradores para centros comunitários espalhados pela capital, onde poderão ficar aquecidos", contou. 

    Zalmayev disse não ver um precedente para vitórias militares russas por meio de bombardeios aéreos. "Eles querem a nossa rendição e a derrubada de nosso governo. Querem que saiamos às ruas para pedir a destituição de Zelensky. Na verdade, o ódio em relação aos russos tem aumentado. E essa ira vai durar mais alguns anos para cada bombardeio sofrido pela Ucrânia", acrescentou.  

    Bombardeio a maternidade mata recém-nascido
    Ele teve um vislumbre de vida, apagada pela guerra. Um bebê nascido na última segunda-feira foi morto, na madrugada de ontem, durante um bombardeio a uma maternidade emVilniansk, na região de Zaporizhzhia, no sul da Ucrânia. A mãe da criança foi resgatada dos escombros com vida, apesar de bastante ferida. "O Estado terrorista continua a guerra contra os civis.O inimigo decidiu mais uma vez tentar alcançar, com terror e assassinato, o que não conseguiu em nove meses e não vai conseguir", afirmou o preisdente da Ucrãnia, Volodymyr Zelensky. A primeira-dama, Olena Zelesnka, denunciou os "crimes insanos da Federação Russa". "É uma dor horrível. Nós nunca esqueceremos e jamais perdoaremos."

    Eu acho...
    "A decisão do Parlamento Europeu é importante simbolicamente, apesar de não ter caráter vinculante. Trata-se de uma recomendação. A Rússia comprovou o teor da resolução, ao lançar um massivo ataque à nossa infraestrutura civil. Não se deve ter mais dúvidas em relação ao tipo de Estado que a Rússia é."

    Peter Zalmayev, diretor da organização não governamental Eurasia Democracy Initiative (em Kiev)

    https://www.correiobraziliense.com.br/mundo/2022/11/5053998-invasao-russa-na-ucrania-completa-9-meses-sem-expectativa-de-paz.html

    Postagem em destaque

    Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

    Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...