domingo, 8 de dezembro de 2024

A França se lança ao desconhecido - Daniel Afonso da Silva A Terra é Redonda,

A França se lança ao desconhecido

Daniel Afonso da Silva

A Terra é Redonda, 6/12/2024

https://aterraeredonda.com.br/a-franca-se-lanca-ao-desconhecido/ 

 

A classe política francesa e suas elites econômicas e culturais conseguiram, finalmente, lançar o país ao desconhecido, tornando a integralidade do regime disfuncional


Era previsível: um país – a França – ingovernável. Foi premonitório: o término das Olimpíadas de Paris com Tom Cruise e Missão Impossível. O primeiro-ministro francês, Michel Barnier, vem de ser demitido pelo Parlamento após 91 dias na função. Os parlamentares reuniram 331 votos – bem mais que os 289 necessários – para censurá-lo e ejetá-lo do cargo.

Jean-Luc Mélenchon foi o mentor e o tenor da manobra. Marine Le Pen, sua coadjuvante em convicção e apoio. As duas maiores forças político-partidárias da França, malgrado as suas diferenças, uniram-se em alma, em princípio, contra a proposta de orçamento apresentada pelo primeiro-ministro. Mas, em verdade, o seu objetivo indisfarçável sempre foi fragilizar o presidente Emmanuel Macron.

Que, doravante, precisa reconhecer a derrota, acatar a decisão do legislativo, acolher a demissão de Michel Barnier e de seu brevíssimo governo de três meses, nomear um outro primeiro-ministro e vistoriar a escolha de novos ministros, novas táticas e novas estratégias para superação da variedade de sinistros franceses momentâneos, conjunturais e estruturais extraordinariamente profundos. Sendo o colapso econômico muito grave. O constrangimento partidário gravíssimo. A entropia política sem precedentes. E a crise de regime, matizado pela Quinta República, perto de terminal.

Sem meias palavras, a classe política francesa e suas elites econômicas e culturais conseguiram, finalmente, lançar o país ao desconhecido, tornando a integralidade do regime disfuncional. Por claro, que em decorrência de operações sorrateiras. Que não vêm de hoje nem de ontem. Mas de tempos. Anos e mais anos com a embarcação fazendo água. E, agora, enfim, com furos aumentados, casco estourado e leme inteiramente avariado. Sendo improvável a solução por reparos. Restando apenas reconhecer-se a abertura de uma nova temporada de caos.

Forjada pelo general Charles de Gaulle, a partir de 1958, a Quinta República, enquanto regime político francês, foi, sim, uma resposta à instabilidade política e moral da Quarta República. Mas, também e fundamentalmente, um esforço de superação da “república de partidos”. Um cancro insistente permanente na vida política da França.

Como cotidianamente notada, a tensão no interior da classe política francesa jamais abdicou a sua condição efervescente. Desde a Revolução, passando pela Restauração, avançando pelo golpe – farsa ou não – de Napoleão III, chegando ao colapso de 1870-1871, amargando o após 1918 e 1929, vivenciando o cataclismo de 1940, entorpecendo-se com a resistência ao nazismo até 1944, juntando os cacos da humilhação de Vichy depois e tentando superar o tropismo da France Éternelle versus a vulgaridade da gestão do imediato. Um imediato que envolvia (i) a reconciliação nacional, (ii) a reconstrução do país e (iii) a definição do destino das colônias africanas.

O general De Gaulle fora retirado dessas incumbências desde 1946. Ele parecia controverso demais. Conduzira a resistência francesa desde 1940. Era herói inequívoco das guerras totais de 1914 a 1945. Mas – talvez também por isso – granjeou suspeição de todas as partes. Notadamente do primeiro-ministro Winston Churchill, que sempre lhe aplicou votos de desconfiança, e particularmente do presidente Roosevelt e todo o establishment norte-americano, que nutriam por ele um complexo sentimento de admiração e repulsa. Especialmente porque o general De Gaulle, no fundo, era a quintessência do marquês de La Fayette – “herói de dois mundos”, combatente da Guerra de Independência dos Estados Unidos e da Revolução Francesa – com todo o seu estigma de ser admirado em bravura e menosprezado em reconhecimento.

Como todos podiam vivamente se lembrar, a étrange défaite francesa de 1940 tinha sido um choque planetário. Malgrado o extraordinário empenho do general francês na superação dessa situação, após a liberação de Paris e da França em 1944-1945, ele foi percebido como corpo estranho em seu próprio país quando a situação serenou. E, com isso, foi obrigado a retirar-se da vida pública e reduzir-se a singelo e silencioso observador distante. Longe de tudo, mas perto de todos. Especialmente com o avanço da Guerra Fria.

Contrário a todas as aparências, a Guerra Fria sempre foi um problema essencialmente europeu cujo impasse se devia ao destino da Alemanha. Que desde Yalta e Potsdam fora partilhada entre norte-americanos e soviéticos. Deixando bem claro o imperativo da tensão Leste-Oeste entre liberais e anti-liberais forjando um espaço de rivalidades sem perdão interiorizadas e simbolizadas pela ocupação de Berlim. Ainda não existia muro. Mas a cortina de ferro já era uma realidade inconteste.

Assim, desde 1945, a possibilidade de avanço vermelho causava apreensão. Especialmente entre os franceses. Que, por sua vez, suplicaram pelo apoio permanente e estrutural dos norte-americanos. Que, como resposta, retornaram ao Velho Mundo com o Plano Marshall e a Otan. Dois projetos que permitiram a efetiva reconstrução da França e a decisiva internalização notas de pacificação os franceses.

Mas, apenas, entre os metropolitanos. Pois, nas colônias, notadamente, africanas, desde 1944-1945, em lugar de fim da guerra e dos conflitos, acelerava-se o verdadeiro começo de uma guerra sem fim por independência e liberdade. E por razões plausíveis: os colonos franceses haviam participado dos esforços de guerra sob a aura da resistência implementada pelo general De Gaulle a partir de 1943 e, com o fim do embate ante o nazismo em 1944-1945, a sua demanda geral moveu-se ao encontro da supressão do sistema, do regime e do mando coloniais franceses. Lutava-se pela descolonização. Mas a gente de Paris seguia aturdida e indiferente. Especialmente após 1946, com a partida do general.

Nesse embate, a classe política francesa voltou rapidamente a viver entropias após 1946. Era, de uma só vez, impossível de se ignorar as demandas africanas como eles ignoravam e inconsequente ignorar o peso das colônias para o orçamento francês como os menos experimentados nunca conseguiram se dar conta. Frente a isso, a junção de insensibilidades, ignorância e indiferença acabou por conduzir o país à beira do precipício. Gerando um cenário de franca anomia. Onde a Quarta República deixou de se fazer funcional.

Isso porque a pressão parlamentar contrária à concessão de independências aos africanos conduziu – para ficar num simples exemplo – pressões orçamentárias insuportáveis para a manutenção de integridades territoriais coloniais e, por outro lado, a redução de impostos advindos das colônias. E se isso não bastasse, o francês metropolitano francês – leia-se: a sociedade civil – estava demasiado cansado de aventuras e guerra.

Para superar a situação, pôs pressão em sua classe política que, por não suportar, sucumbiu a uma imensa instabilidade partidária. Que contaminou o Parlamento. Que, por timorato, passou a padecer de convulsões sucessivas. Produzindo 24 governos e 12 primeiros-ministros nas legislaturas 1946 e 1958, e levando o regime político a uma disfuncionalidade total. Sem continuidade nem credibilidade na condução de seus destinos. O que impôs a reabilitação do general De Gaulle. Essencialmente para solucionar a problemática colonial. Mas, fundamentalmente, para superar essa guerra infindável de partidos.

Convocado em 1958, o general foi imediatamente tornado plenipotenciário. E, nessa condição, compôs às pressas uma Constituição. Foi à Argélia – principal e mais conturbada colônia. Apresentou aos argelinos o seu ambíguo “je vous ai compris” [eu lhes compreendi]. Iniciou a distensão com todas as colônias. Negociou com praticamente todas as lideranças metropolitanas e coloniais. Conduziu – ora tranquilamente, ora menos tranquilamente – a descolonização/independência.

Reposicionou o lugar da França no mundo. Forjou uma nova projeção interior e exteriori do país. Eliminou a possibilidade de alinhamentos automáticos com liberais ou comunistas. Passou a construir-se como terceira via e terceira voz no mundo. Falando a todos e tentando ser ouvido por todos. Em nome do presente, pensando no futuro e em louvor aos tempos em que o mundo venerava a França. Mesmo assim, a pressão interna seguiu imensa.

Especialmente porque, tecnicamente, o general havia sido entronizado no poder indiretamente por um colégio de notáveis. Sem, portanto, a participação nem a legitimidade popular. E, desse modo, gostando-se ou não, mais ou menos, refém do sistema e dos partidos. Que, por claro, poderiam amputar os seus meios de ação e ejetá-lo do poder a qualquer momento, tão logo a sua tarefa principal que era solucionar a problemática colonial fosse concluída.

Para, então, inibir essa possibilidade, o general convocou um referemdum para a instalação do sufrágio universal para a escolha de presidentes da República a começar por ele próprio. Como reação, o aglomerado de partidos do colégio de notáveis impetrou uma moção de censura contra o governo de George Pompidou, primeiro-ministro do general, com o propósito de acoimar o general. O ano era 1962. O mês, outubro. O dia, 5.

E, portanto, em atenção ao artigo 50 da Constituição de 1958, nesse dia 5 de outubro de 1962, pela primeira vez na Quinta República, um primeiro-ministro foi demitido pela vontade parlamentar.

Mas o general não se intimidou. Vendo que o propósito era fragilizá-lo, ele dissolveu o Parlamento, convocou novas eleições parlamentares, conseguiu constituir maioria parlamentar a seu favor, renomeou George Pompidou como seu primeiro-ministro e conseguiu o referendum favorável ao sufrágio presidencial universal. E, com isso, conduziu a querela de partidos à irrelevância. Vitalizando o espírito do novo regime ancorado na Constituição de 1958. Que fazia do presidente da um verdadeiro monarca, com amplos poderes e robusta legitimidade. Advindos diretamente do povo. Sem nenhum – ou quase nenhum – compromisso com partidos. Eis a essência da Quinta República.

O que acaba de ocorrer na França nesta primeira semana de dezembro de 2024 vai integralmente diferente daquele feito de 1962. Michel Barnier vem de ser demitido pelos parlamentares e o presidente Macron não possui nenhum mecanismo para “punir” os parlamentares. Vê-se, assim, um evidente retorno à odienta querela de partidos. Esterilizando o regime político da Quinta República e lançando o destino do país – da Quinta República e do presidente Macron – ao desconhecido.

Pois um retorno à Quarta República virou impossível e a implementação de uma Sexta, a partir de uma reforma política, também parece improvável. De modo que 1958 e 1962 foram, agora, tornados anacrônicos e 2024 ganhou a pecha de annus horribiblis francês. Ou melhor, o ano que em o empilhamento de crises chegou ao limite do suportável. Pois a crises são múltiplas e variadas. Para ficar apenas nas mais decisivas, olhando bem de perto, o cursor pode ser posicionado naquela fatídica decisão de dissolução do Parlamento na noite do 9 de junho de 2024 após a vitória acachapante do partido de Marine Le Pen nas eleições para deputação na União Europeia em Bruxelas.

Olhando mais ao longe, o 2 de dezembro de 2020, 26 de setembro de 2019 e o 8 de janeiro de 1996 – datas respectivas da morte dos presidentes Vallery Giscard d’Estaing, Jacques Chirac e François Mitterrand – sepultaram os últimos presidentes franceses capazes de suportar o fardo de sucessores do general De Gaulle. E olhando bem longe, a Quinta República talvez tenha começado a terminar com a resignação do general naquele terrível 28 de abril de 1969.

Voltando ao início e recompondo com calma seis meses, dia após dia, daquela fatídica decisão do 9 de junho de 2024, ninguém entendeu completamente as motivações do presidente Macron na dissolução do Parlamento. As eleições eram europeias. O partido de Marine Le Pen – e de seus similares radicais e extremistas na Europa e mundo afora – amplia a sua capilaridade de maneira profunda e estrutural desde a crise financeira de 2008. Tanto que chegou ao segundo turno das presidenciais francesas em 2017 e 2022 – nas duas ocasiões, contra Emmanuel Macron.

De maneira que já virou tácito que a sua ascensão vai constante, impressionante e irresistível. E, claramente, poderá – mais dia, menos dia – conduzir Marine Le Pen ou afins para a presidência em 2027 ou adiante. De modo que dissolver o Parlamento francês sob o pretexto de conter a ramificação do partido de Marine Le Pen continua sendo um argumento intelectualmente frágil, moralmente inconsequente e politicamente irresponsável. Assim como a tese da clarificação, mobilizada pelo presidente Macron.

Sem ser demasiado contundente ao encontro do nobre presidente francês, a defesa dessa tese beira o cinismo. Todo o macronismo entrou em crise terminal ao longo do primeiro mandato do presidente Macron. Após a sua reeleição em 2022, os despojos dessa crise só fizeram aumentar. De modo que impor ao povo “pensar melhor” e “rever” o sobre o seu ampliado apoio no partido de Marine Le Pen chega bem perto de ignomínia. Ou, dito de outro modo, parece brincadeira de péssimo gosto com a inteligência alheia. Tanto que o resultado dos dois para o legislativo deixou ainda mais clara a força de Marine Le Pen.

Em contrário, observe-se que esse resultado coloriu o Parlamento com a França Insubmissa (LFI) de Jean-Luc Mélenchou conquistando 78 cadeiras; o Partido Comunista Francês (PCF), 8; os Ecologistas (LE), 28; o Partido Socialista (PS), 69; os partidos esquerdistas diversos, 10; os partidos centristas diversos, 5; o Movimento Democrático (Modem) de François Bayrou, 33; Ensemble – reunindo Renascimento e outros aliados do presidente Macron – 99; o Horizontes do antigo primeiro-ministro Édouard Phillipe da presidência Macron, 26; a União Democrática e Independente, 3; o Os Republicanos (LR) do antigo presidente Nicolas Sarkozy, 39; partidos direitistas diversos, 26; a união LR-RN – aliança entre Éric Ciotti e Marine Le Pen –, 17; o RN de Marine Le Pen, 125; o partido de extrema direita, à direita do RN, 1; e o partido regionalista, 9.

Mirando tudo através de alianças, a Nova Frente Popular (NFP), liderada por Mélenchon aquinhoou 182 assentos. A Maioria Presidencial (MP) de Macron conseguiu 168. A Reunião Nacional (RN) de Marine Le Pen de braço com parcelas de LR de Éric Ciotti conseguiu 143. O grupo dos Republicanos levou 46. Enquanto a variedade independente à direita conseguiu 14, a à esquerda, 13, a ao centro, 6. Ao passo que o partido dos regionalistas levou 4 e outras agremiações nanicas unidas, 1.

Baralhando mais uma vez os números e vendo-os em perspectiva, o RN aparece como o único partido com ascensão constante, consistente e acelerada na ampliação de sua representação parlamentar nos últimos vinte e cinco anos. Essa força política sob a liderança dos Le Pen não tinha conseguido nenhuma cadeira em 2002 nem em 2007. Mas conquistou duas em 2012, nove em 2017, 89 em 2022 e às 125 – ou, em aliança, 143 – em 2024.

O conjunto dos partidos ancorados no agrupamento Ensemble conquistou 350 após a primeira eleição do presidente Macron em 2017, 249 após a sua reeleição em 2022, e desceu para 156 – ou 168 – cadeiras em 2024. Enquanto o agrupamento de Mélenchon – que também envolve, a contragosto de todos, frações do PS – variou de 162 em 2002 para 205 em 2007, 307 após a eleição do presidente François Hollande em 2012 para 58 em 2017, 131 em 2022 e 178 – ou 182 – em 2024.

Parece mais que claro que esses números não são números. Fitando apenas a realidade de 2024, após a dissolução e recomposição do Parlamento, existem 143 cadeiras a favor de Le Pen, 168 para Macron e 182 para Mélenchon. Constituindo-se três forças parlamentares disformes e dissonantes. Como jamais se viu sob a Quinta República.

Pois, voltando-se à essência, a Quinta República supõe a governabilidade através de uma maioria parlamentar. Qualquer que seja.

O general De Gaulle e todos os seus sucessores – exceto o presidente Jacques Chirac, em 1997 – supuseram dissolver o Parlamento como mecanismo de afirmação dessa maioria. E conseguiram.

O presidente Macron poderia até intuir e pode seguir imaginando que isso seria possível em junho de 2024. Mas nenhum dado da realidade corrobora a sua tese.

De modo que, sem mancar com o respeito ao encontro do distinto presidente francês afeiçoado em saltitar com o presidente Lula da Silva na Amazônia, a sua intempestividade na dissolução do Parlamento foi, sim, uma ação temerária e desprovida de pouco ou nenhum cálculo político revestido de interesse nacional francês.

Daí a perplexidade rumo ao desconhecido. Pois nesse cenário, qualquer primeiro-ministro tende a transitar por um Parlamento hostil. Que só poderá ser novamente dissolvido em junho de 2025. Tarde demais para um regime político que, sinceramente, claudica.

E claudica porque, de fato, “ninguém ganhou” as legislativas. Ou seja, nenhum partido conseguiu número suficiente de cadeiras para afirmar-se majoritário. O número mínimo seriam 289 cadeiras. Como ninguém chegou nem perto, o caos se instalou. Pois o grupo de Mélenchon conseguiu 182 e se acredita majoritário. O entorno de Marine Le Pen com suas 143 também se sente empoderado. E os 168 deputados fieis ao presidente sabem que não possuem nada a comemorar.

Nesse ambiente, a singela escolha de um primeiro-ministro tornou-se um risco ao regime. O presidente Macron escolheu Michel Barnier sabendo disso.

Michel Barnier é tido como experimentado quadro político francês. De seus variados serviços prestados, o mais recente, complexo e relevante foi a negociação do Brexit. Que demonstrou os seus predicados de portador de nervos de aço, paciência chinesa e sapiência carioca. Por isso, ele entrou no radar do presidente Macron para Matignon. Mas para aceder ao posto ele precisaria atar alianças. Essencialmente com Mélenchon e fundamentalmente com Marine Le Pen.

Com o primeiro, a resposta foi “não”. Com a segunda, conversou-se. E dessa conversa emergiu a perspectiva de integração das 143 cadeiras do RN às 168 do Ensemble como uma frente parlamentar para fazer passar projetos essenciais. Sendo o orçamento, o mais importante. Sob um custo moral, sinceramente, inacreditavelmente imperdoável da naturalização de Marine Le Pen e de seu RN na paisagem política francesa.

Tudo parecia bem. Bem mesmo. Malgrado os solavancos de Mélenchon. Até que o judiciário francês iniciou um procedimento de inviabilização política de Marine Le Pen. Denunciando-a de crimes políticos – “empregos fictícios” – no Parlamento europeu.

Michel Barnier havia sido empossado primeiro-ministro em setembro de 2024 e essa ofensiva jurídica ante Marine Le Pen começou em outubro. Quando durante duas ou três semanas não se falou de outra coisa que a possibilidade de a principal liderança da principal força política do país sob o risco de ser suprimida da competição eleitoral francesa.

Esse mal-estar causou desconforto de natureza física e espiritual em toda parte. Especialmente sobre Marine Le Pen, em seu partido e em seus eleitores.

Coetaneamente, Michel Barnier iniciou a apresentação do orçamento a ser votado pelo Parlamento. Uma operação complexa, decorrente da deterioração fiscal estrutural do país.

A situação fiscal francesa vem gravemente deficitária há quarenta ou cinquenta anos. O após pandemia e o “quoi qu’il en coûte” [custe o que custar] do presidente Macron simplesmente tornou a situação mais desafiadora. Com a eclosão da nova fase da tensão russo-ucraniana e o seu impacto direto sobre o fornecimento de energia, o que era desafiador ganhou ares de desespero. Diante a situação israelo-palestina, o desespero virou insuportável. E, se nada disso bastasse, a expectativa de retorno e o retorno de Donald J. Trump à Casa Branca transformaram o pesadelo em pandemônio. De maneira que o projeto orçamentário de Michel Barnier nasceu inviável e impossível de ser aprovado.

Sem adentrar em tecnicalidades, diante de todos esses vetores, o projeto propunha, simplesmente, o aumento de perto de 40 bilhões de euros em impostos ao contribuinte francês.

Entre os franceses, como se sabe, tudo: menos apreciação de impostos. Notadamente após 2008, a crise do euro, o Brexit, os Coletes Amarelos e a pandemia.

 

De toda sorte, era necessário tentar. E tentar por vias legislativas. Nesse sentido, do lado de Mélenchon, o apoio – independente da proposta – seria nulo, e foi. Ao passo que lado de Marine Le Pen apoiar projeto desse tipo seria uma traição aos seus 11 milhões de eleitores. Porquanto, essas duas forças parlamentares – o NFP e o RN, de Mélenchon e Marine Le Pen – bloquearam a proposta.

Diante disso, o primeiro-ministro lançou mão do artigo 49, alínea 3, da Constituição para fazer passar sem o aval do Parlamento. Frente à gravidade da manobra, Mélenchon formalizou uma proposição de censura. Que foi imediatamente aceita por Marine Le Pen e variados parlamentares de outros partidos. Concretizando-se nos 331 votos de censura ante Michel Barnier no último dia 04 de dezembro.

Como primeiro-ministro do presidente Macron, Michel Barnier foi lançado a feras. Todos sabiam disso. Mas, agora, com ares históricos. Não simplesmente por ser a primeira demissão após 1962 e a segunda no interior da Quinta República Francesa. Mas porque, essencialmente, o evento sugere novos tempos. Tempos de tormentas. Onde as estabilidades viraram voláteis. E ninguém parece saber o que fazer.

Fitando simplesmente o caso francês, quando Nicolas Sarkozy chegou à presidência da República em 2007, a intelligentsia francesa, europeia e mundial começou a sinalizar que um mundo umbilicalmente integrado às agruras do século XX começava a desaparecer. Nicolas Sarkozy era o primeiro presidente da Quinta República nascido após 1945 e, portanto, desprovido da imagem do trágico nas retinas.

Mas antes a situação já não ia bem. 2005, o “não” francês à Constituição europeia, sob a presidência de Jacques Chirac, foi um baque importante. 1992, o “quase não” francês a ingressar no sistema de Maastricht foi outro momento constrangedor. 1981, o “não” francês à reeleição do presidente Valery Giscard d’Estaing também segue complexo. Pois a disputa Giscard versus Mitterrand produziu duas narrativas que merecem meditação.

Giscard propôs ser Mitterrand um “homem do passado” ao passo que Mitterrand propôs ser Giscard um “homem do passivo”.

Observando-se com calma, esse “passivo” remetia a problemas fiscais, aumento de desemprego, da carga de impostos e afins. Todos problemas persistentes e anteriores a 1981. Para não dizer bem antes. Desde, ao menos, o fim dos Trinta Anos Gloriosos, que, de fato, terminaram em maio de 1968.

Maio de 1968 como outubro de 1962 levaram a autoridade do fundador da Quinta República ao descrédito. Da primeira vez, em 1962, o general conseguiu suportar e superar. Da segunda, em 1968, não. Como resultado, ele renunciaria onze meses depois sem deixar nenhum sucessor.

E por razões profundas que podem ser apreendidas na meditação atenta das concepções do general De Gaulle reportadas nesse fabuloso C’était de Gaulle de Alain Peyrefitte (Paris: Fayard, 1994).

Sob todos os seus aspectos, a Quinta República foi feita sob medita para o general. Essencialmente ao subentender que o exercício da presidência deveria ser, acima de tudo, um fato retórico e um fato moral. Onde a grandeur [grandiosidade] da França, tangida por sua história e por sua cultura, serviria de objetivo e obsessão. E a distinção de seu líder máximo conduziria o país acima dos arranjos do estado, do direito e dos partidos.

O presidente Mitterrand – único presidente francês a cumprir quatorze anos ininterruptos de presidência sob a Quinta República – levou esses preceitos às últimas consequências. Sendo a “quase” imposição de Maastricht a marca mais evidente dessa perspectiva estrutural e estruturante.

O presidente Chirac, por sua vez, tentou de tudo – e conseguiu – para seguir a senda do general. Sendo o “não” francês à invasão do Iraque a melhor mostra disso.

O presidente Macron chegou ao poder em 2017 ignorando De Gaulle, Mitterrand e Chirac e querendo ser Júpiter, o maior planeta do sistema solar. Mas, agora, por razões obtusas, após a dissolução de junho e moção de censura de dezembro, corre forte risco de terminar como Ícaro: singrando pelo desconhecido até ser definitivamente estraçalhado pelo seu misto de arrogância e ilusão.

 

*Daniel Afonso da Silva é professor de história na Universidade Federal da Grande Dourados. Autor de Muito além dos olhos azuis e outros escritos sobre relações internacionais contemporâneas (APGIQ). [https://amzn.to/3ZJcVdk]

 

Ricardo Bergamini resume o lamentável prejuízo que as estatais produzem contra os interesses da maioria dos brasileiros (com dados do governo)

 Lula agradece ao Bolsonaro ter preservado o ninho petista das estatais (Ricardo Bergamini)

 

 

Panorama das Estatais – Fonte MGISP

 

Base: Ano de 2023

 

 

I – Quantidade de Empresas Estatais Federais

São 123 empresas estatais federais, sendo 44 com controle direto da União (17 dependentes exclusivas do tesouro nacional, e 27 não dependentes do tesouro nacional), e 79 com controle indireto (39 subsidiárias no Brasil, e 40 subsidiárias no exterior.

Esses “elefantes brancos” somente servem para gerar déficit público e empregos para apadrinhados de políticos, além de ser o principal ninho petista. E o mais grave é que o “prostíbulo BNDES” financia muitas delas. Uma imoralidade sem precedentes. 

Cabe lembrar que existem 79 empresas estatais com controle indireto do governo, que não necessitam de autorização do Congresso para serem vendidas. 

 

II – Empresas Estatais Dependentes Exclusivas do Tesouro Nacional

De 2019 até 2022, o falso liberal Bolsonaro enterrou R$ 79,2 bilhões (média de R$ 20,0 bilhões ano) nas lixeiras das estatais dependentes exclusivas do Tesouro Nacional.

Em 2023, Lula iniciou a festa no seu ninho político e enterrou R$ 23,9 bilhões nessas lixeiras das estatais dependentes exclusivas do Tesouro Nacional.

III – Empresas Estatais Não Dependentes Exclusivas do Tesouro Nacional

De 2019 até 2022, o falso liberal Bolsonaro enterrou R$ 4,5 bilhões (média de R$ 1,1 bilhão ano) nas estatais não dependentes do tesouro nacional.

IV – Evolução do Endividamente das Estatais Federais

Em 2018, a dívida consolidada das empresas estatias era de R$ 388,5 bilhões (5,55% do PIB). Em 2022, a dívida consolidada das empresas estatais era de R$ 293,5 bilhões (2,51% do PIB). Redução real em relação ao PIB de 54,71%.

Até o 2º trimestre de 2024, Lula iniciou a festa no seu ninho político e elevou a dívida para R$ 345,1 (3,18% do PIB). Aumento real em relação ao PIB foi de 26,69%, comaprativamente ao ano de 2022.

VI– Quadro De Pessoal Efetivo das Estatais Federais

Em 2018, existiam 499.326 servidores ativos nas estatais federais, já em 2022, reduziu para 434.017. Redução do efetivo de 65.309 em relação ao ano de 2018. Em 2023 houve aumento para 436.283 servidores. Aumento do efetivo de 2.266 em relação ao ano de 2022.

Estudo completo clique abaixo:

http://www.panoramadasestatais.planejamento.gov.br/QvAJAXZfc/opendoc.htm?document=paineldopanoramadasestatais.qvw&lang=en-US&host=QVS%40srvbsaiasprd07&anonymous=true

 

 

Nas mãos do governo, Correios têm rombo histórico de R$ 2 bilhões

 

Planalto acompanha com preocupação a degradação da companhia

 

Por Robson Bonin 

 

Atualizado em 7 dez 2024

 

As investidas do governo para reverter o processo fracassaram e acabaram criando um abismo entre o resultado da antiga estatal e as atuais empresas controladas pelo governo. 

 

Leia mais em: https://veja.abril.com.br/coluna/radar/nas-maos-do-governo-correios-tem-rombo-historico-de-r-2-bilhoes/


Um chamado ao bom-senso econômico, por Pedro Malan: 2026: o ano que vem chegando mais cedo

 Introdução à transcrição do artigo de Pedro Malan, por Maurício David, quem meu enviou a matéria. PRA

Pedro Malan, grande figura humana, um economista de primeira grandeza que foi Ministro da Fazenda nos dois governos de Fernando Henrique Cardoso (1995/2002). Fui colaborador do Malan, quando ele presidiu o Instituto de Economistas do Rio de Janeiro (IERJ) e me convidou para participar da sua gestão, no começo dos anos 80. Em momentos de grandes dificuldades que enfrentei ao voltar do exílio em 1979, o Pedro me estendeu a mão, conseguindo para mim uma bolsa do CNPQ (onde êle era membro do Comitê Assessor para a área de Economia, na ocasião)  que me garantiu a sobrevivência (e da minha família) naqueles difíceis anos de procura de reinserção no Brasil nos anos pós-Anistia. O Brasil muito deve ao Pedro Malan. Eu muito devo ao Pedro Malan, de quem me orgulho de ter sido amigo e colega no IRI (Instituto de Relações Internacionais da PUC/RJ) e no IERJ.

Receba um abraço afetuoso, querido Pedro...

MD 

 


2026: o ano que vem chegando mais cedo

Pedro Malan

O Estado de S. Paulo, domingo, 8 de dezembro de 2024

Os próximos dois anos muito dirão sobre nossos inafastáveis desafios na área fiscal

 

Tema frequente de meus artigos neste espaço, ao longo de anos, tem sido a visão de que no Brasil convivem em simbiose o moderno e o anacrônico. E de que o Brasil moderno pode estar, ainda que muito gradualmente, aumentando seu peso relativo em relação a seu lado anacrônico – que nunca deve ser subestimado. Isso vale tanto para o mundo da política quanto para aquele da economia. Na arena político-institucional, continuamos tentando construir uma sociedade em que parte não irrelevante da opinião pública seja contra a apropriação espúria e uso indevido de recursos públicos; contra a ocupação e aparelhamento da máquina governamental para servir a interesses eleitorais, corporativistas, partidários e clientelistas. Em ambas as dimensões da vida pública – política e economia – penso ser possível expressar esperanças não insensatas em diálogos não impossíveis.

E por que essa reflexão agora? Ao fim deste mês de dezembro o presidente Lula da Silva terá alcançado a metade de seu mandato. Veremos, como de hábito nesses momentos, numerosos balanços do primeiro biênio, análises sobre o que esperar do período restante. Mas faltam apenas 21 meses para as cruciais eleições de 2026 – o ano que está chegando mais cedo.

Logo após sua vitória nas urnas em 2022, Lula assim se expressou, reiterando o mantra de sua campanha eleitoral: “O modelo que propomos, aprovado nas urnas, exige, sim, compromisso com a responsabilidade, a credibilidade e a previsibilidade; e disso não vamos abrir mão. Foi com realismo orçamentário, fiscal e monetário, buscando a estabilidade, controlando a inflação e respeitando contratos que governamos este país. (...) Olhem o que eu fiz nos oito anos (2003-2010). Não podemos fazer diferente. Teremos que fazer melhor”. Seu quadriênio de 20 anos depois (2023-2026) será avaliado nas urnas em função dessas promessas e também do que terá a dizer sobre o futuro o provável candidato Lula.

“O que fazer agora? Na economia, há quase um consenso de que o País precisa de reformas estruturais para viabilizar um novo ciclo de desenvolvimento.” “É certo que mudanças são necessárias na Previdência e na legislação trabalhista, assim como na tributação, na remuneração dos serviços públicos, no gasto social e também no gasto financeiro do governo.” “A solução da crise atual requer um debate equilibrado e transparente de questões impopulares, inclusive nas campanhas eleitorais, inclusive pela esquerda.” Assim escreveu o ex-ministro da Fazenda Nelson Barbosa, hoje diretor do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), em seu primeiro artigo como colunista da Folha de S.Paulo, em maio de 2017. Reproduzi essas palavras, que considerei encorajadoras, em artigo publicado um mês depois neste espaço (Diálogos não impossíveis?, de 11/6/2017).

Barbosa voltou ao tema menos de um ano depois em importante entrevista para Claudia Safatle no jornal Valor Econômico (2/3/2018). Ali, afirmava: “Acho que agora caiu a ficha para o PT, (...) o pessoal já sabe que tem que fazer a reforma da Previdência, sabe que tem que fazer reformas. Tem que regulamentar o teto remuneratório do setor público e tem que rever todas as vinculações que hoje engessam o Orçamento”. A sequência de reformas deveria ser, segundo o ex-ministro, aquela da Previdência e em seguida a da folha de salários, que, somadas, representariam quase 75% do gasto primário da União e responderiam pelo forte desequilíbrio das finanças dos Estados e municípios.

Ao longo dos próximos 21 meses, até as eleições de 2026, é preciso discutir dois grandes conjuntos de questões. O primeiro é como encaminhar um processo de reformas como aquelas sugeridas por Barbosa e por muitos dos economistas não ligados ao PT, que olham para o futuro do País no longo prazo e não apenas para as próximas eleições.

O segundo tem a ver com questão fundamental sintetizada com felicidade por Kenneth Rogoff nos seguintes termos: “É lamentável que neste debate sobre os limites das ações do governo haja muito pouca discussão sobre como fazer o governo um provedor de serviços eficiente. Aqueles que desejam um papel mais amplo do setor público estariam fortalecendo sua posição se estivessem preocupados em encontrar formas de fazer o setor público mais eficaz”. E – acrescento eu – não creio que isso seria impopular, particularmente nas áreas de saúde, educação, segurança e infraestrutura. Que certamente ocuparão posição central nos debates de 2026 e muito adiante.

Em março de 2021 publiquei neste espaço um artigo que tinha o mesmo título deste, mas referindo-se a 2022, ano eleitoral que vinha chegando mais cedo. Agora é 2026 que vem chegando – e muito mais rápido, indicando, mais uma vez, que o tempo da política não é o mesmo do tempo cronológico convencional. Tivemos nas eleições presidenciais de 2018 um não debate, que se repetiu em 2022. Não podemos correr o risco de ver ausente das eleições presidenciais de 2026 discussão séria sobre temas substantivos como aqueles discutidos pelo ex-ministro, economista que se considera um moderado do PT, como quero crer que se considere o atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Os próximos dois anos muito dirão sobre nossos inafastáveis desafios na área fiscal.


Two Books on Autocracy, Dictatorship, and Tyranny: Autocracy, Inc. (Anne Applebaum); World of the Right (Rita Abrahamsen et al.) - Foreign Affairs

 Two Books on Autocracy, Dictatorship, and Tyranny

Autocracy, Inc.: The Dictators Who Want to Run the World

By Anne Applebaum

Doubleday, 2024, 224 pp.


World of the Right: Radical Conservatism and Global Order

By Rita Abrahamsen, Jean-François Drolet, Michael C. Williams, Srdjan Vucetic, Karin Narita, and Alexandra Gheciu

Cambridge University Press, 2024, 220 pp.


Reviewed by G. John Ikenberry

Foreign Affairs,  November/December 2024 (October 22, 2024)

 

Two studies offer fascinating portraits of the increasingly sophisticated and networked world of autocracy, dictatorship, and tyranny. Applebaum focuses on the growing connections among hard-core autocratic regimes, led by China, Russia, and Iran and joined by Venezuela, North Korea, Belarus, Sudan, and others. These illiberal states vary widely in their ideologies but are building a larger web of financial, military, technological, and diplomatic ties in their common efforts to evade Western sanctions and stay in power. Applebaum argues that what separates these autocratic states from softer illiberal and authoritarian regimes, such as those in Hungary, India, and Turkey, is the ruthlessness and reach of their dictatorial power and their deep hostility to the Western-led democratic world. Russia is the linchpin in this emerging counterhegemonic system, pioneering the modern model of kleptocracy and dictatorship, organized for the self-enrichment of its leaders, and turning its invasion of Ukraine into a wider ideological and geopolitical assault on the liberal international order. Applebaum argues that Western democracies must reckon with their complicity in the spread of kleptocratic autocracy through offshore banking, money laundering, business deals, and ideological support from right-wing fellow travelers.

The authors of World of the Right vividly map the intellectual and political ties of the increasingly globally connected radical right. Focusing primarily on nationalist and populist movements in Canada, the United States, Europe, and Latin America, the authors argue that these seemingly disparate groups have evolved into a global phenomenon. What they share is a common enemy: liberal elites, who from entrenched positions in the leading institutions of society and the administrative state, are conspiring to undermine sovereignty and traditional values. Such cosmopolitan liberals and technocratic experts threaten, as Hungarian Prime Minister Viktor Orban put it, the “whole of Western civilization.” Through a far-flung network of conferences, think tanks, and political party organizations, the extreme right has increasingly configured itself as a loosely organized transnational radical movement. Its emphasis on civilizational identity and antipathy to liberal internationalism creates opportunities for entanglements with illiberal states, such as China and Russia, that share the goal of dethroning Western liberalism and the U.S.-led international order.

 

Jean-François Revel ou le syndrome d’Orphée - Henri Astier (La bibliothèque de Telos)

Jean-François Revel ou le syndrome d’Orphée 

Dec. 7, 2024

 

Orphée, le héros du film éponyme de Jean Cocteau, est un poète très populaire mais détesté des gens de lettres. Lorsqu’il se rassure en signalant que « le public m’aime », on lui répond : « Il est bien le seul. » On peut en dire autant de Jean-François Revel, né il y a cent ans et mort en 2006. Son premier essai, Pourquoi des philosophes (1957), remporte un succès remarqué en démontrant l’inanité du prêt-à-penser de l’époque (heideggerisme, psychanalyse lacanienne, etc.) Ses critiques du structuralisme des années 1960 achèvent de l’éloigner de l’intelligentsia. Son audience croît ensuite de façon aussi spectaculaire que l’animosité des lettrés. Dans Ni Marx ni Jésus (1970), Revel trouve un modèle de révolution aux États-Unis, contrairement à une gauche qui glorifie les guérillas postcoloniales. La Tentation totalitaire (1976) analyse le complexe des démocrates devant leur ennemi communiste.

Ces deux livres valent à Revel à la fois écho international et opprobre. Il qualifiera le second de « best-seller exécré ». Aux yeux de l’opinion éclairée, la condamnation du communisme ne peut procéder que du préjugé obsessionnel. André Fontaine, dans Le Monde, dénonce les « fantasmes » et « phobies » de l’auteur de La Tentation totalitaire. L’éditeur de la traduction grecque y ajouta une préface écartant comme caduque la thèse de Revel sur le stalinisme. Le traducteur italien tenta d’insérer des notes destinées à « corriger les erreurs » de l’auteur.

À la source de ces contorsions : le rejet par les clercs du parallèle entre nazisme et communisme. Dans les années d’après-guerre, l’analogie sautait aux yeux d’observateurs tels que George Orwell, Hannah Arendt, Arthur Koestler ou Albert Camus. Vers 1970, elle est devenue insupportable aux progressistes. Revel tiendra jusqu’au bout à rappeler l’évidence : « Être assassiné par Pol Pot est-il moins grave que d’être assassiné par Hitler ? »[1]

Certains ont associé Revel à la Nouvelle Droite fascisante. Régis Debray, notamment, l’a rapproché du collaborateur pronazi Marcel Déat. Après l’entrée de Revel à l’Académie française en 1997, Libération le qualifie de « réactionnaire, paladin de l’anticommunisme ».

Or Revel s’est toujours réclamé des valeurs fondamentales de la gauche : liberté, dignité, solidarité. Il les invoque contre le pouvoir gaulliste et sa mainmise sur l’information.  Directeur de L’Express de 1978 à 1981, il protège ses journalistes de l’ire des ministres giscardiens. « Je n’ai jamais cessé de me considérer comme étant de gauche »affirmera-t-il en 1997. « Si trouver Castro répugnant, c’est être de droite, alors je veux bien être de droite. Ces gamineries témoignent de la sclérose intellectuelle la plus totale. »

Comment les démocraties finissent est à la fois le livre de Revel le plus en phase avec son temps et celui qui lui a valu de plus de critiques. En 1983, lorsqu’il paraît, les « nouveaux philosophes » avaient repris à leur compte les thèmes revéliens et propagé en France les appels à la résistance à l’expansionnisme soviétique. Même la haute politique a fini par y être sensible. C’est Revel qui, en plein débat des Euromissiles, a soufflé à François Mitterrand la phrase : « Le pacifisme est à l’Ouest et les missiles sont à l’Est. »[2]

Entre 1981 et 1983, malgré une vague de manifestations « pacifistes », les partisans du réarmement de l’OTAN remportent les élections en Belgique, aux Pays-Bas, en Grande-Bretagne et en Allemagne. Et pourtant, après la Guerre froide, le livre fut mis en avant contre Revel : l’effondrement de l’URSS aurait montré qu’il avait été mauvais prophète.

Revel a maintes fois répondu à cette charge. Il n’a jamais dit que le communisme était invulnérable. Tous ses livres affirment que le totalitarisme ne fonctionne pas. Simplement, ses vices constitutifs ne le condamnent pas à disparaître dans un proche avenir. Revel parle de « survivance du moins apte » : l’empire soviétique n’est fort que des faiblesses des Occidentaux, de leur réticence à exploiter leur supériorité.

Comment les démocraties finissent est un appel au sursaut et non une prédiction. Son esprit est celui de la mise en garde d’Abraham Lincoln « Si la destruction est notre destin, c’est nous-mêmes qui devons en être les auteurs... En tant que nation libre, nous devons soit vivre jusqu’au bout, soit mourir par suicide. » Personne n’a accusé Lincoln de catastrophisme, sous prétexte que l’esclavagisme était voué à disparaître.

Loin d’avoir été rendues caduques par l’histoire, les analyses de Revel sont plus que jamais pertinentes. Face à l’expansionnisme des tyrannies, les Occidentaux ont eu au XXIe siècle les mêmes réflexes qu’au XXe. Leur premier souci est l’apaisement. La violation des normes internationales est acceptée dans l’espoir que ce sera la dernière.  C’est ce que Revel nomme la « tactique de la capitulation prophylactique ». Cette formule résume à merveille la position des démocraties lors du dépeçage de la Géorgie par la Russie en 2008 et leur timidité devant les interventions de Moscou en Ukraine depuis 2014.

L’un des principes de la Détente fut celui de la réconciliation par les échanges. La doctrine des « armes de la paix » reposait sur l’espoir que, liée à l’Ouest par le commerce, l’URSS se montrerait moins agressive. Malgré les démentis apportés à cette idée (Pologne mise au pas, dissidents enfermés…) les démocraties poursuivirent leur coopération avec Moscou. Comme l’écrivait Revel en 1983, ce fut l’Ouest, et non l’Est, qui fut pris dans l’engrenage : « Les ‘armes de la paix’ ont très bien fonctionné pour l’URSS, dans ce sens que l’Occident, surtout l’Allemagne, est ligoté par ses contrats économiques et ses créances à l’Est. »[3] Depuis, les Occidentaux se sont placés dans la même situation de dépendance vis-à-vis de l’énergie russe et des usines chinoises.

L’antitotalitarisme, pour Revel, n’est pas seulement une affaire de géopolitique : il s’agit d’abord d’un combat interne à la démocratie. Parmi les « cadres mentaux de la défaite », il y a l’idée que le système libéral ne mérite pas d’être défendu, car des sociétés où l’on trouve inégalités, violences policières et autres fléaux sociaux sont mal placées pour dénoncer les autres. La perfection est exigée des pays démocratiques et d’eux seuls : leurs vices sont considérés comme rédhibitoires, ceux des pays totalitaires accessoires. Comme de nombreux tropes longtemps répandus par la gauche, ce message est de nos jours largement diffusé par la droite populiste, et toujours dans le but de faire taire les adversaires du Kremlin. « Avant de donner des leçons de morale aux autres, nous devons regarder dans quelles conditions notre démocratie s’exerce… Je pense qu’il faudrait regarder devant notre porte »déclare ainsi Éric Zemmour. Aux États-Unis, ce langage a longtemps été la marque de fabrique du trumpisme. Interrogé sur sa politique de rapprochement avec Moscou durant son premier mandat, Donald Trump a répondu : « Poutine est un tueur, mais croyez-vous que notre pays soit aussi innocent que ça ? » La technique du « renvoi dos à dos », écrit Revel, « est devenue à l’usage une sorte de truc de sorcellerie, destiné… à disculper le parti vers lequel on penche ».

Un autre concept déployé jadis pour expliquer le comportement de Moscou a ressurgi : la peur de l’encerclement. L’Occident n’a-t-il pas provoqué Vladimir Poutine en promettant à la Géorgie et à l’Ukraine un rattachement à l’OTAN ? La thèse selon laquelle l’alliance atlantique porterait une lourde responsabilité dans le conflit ukrainien, et que l’expansionnisme russe serait avant tout défensif, est défendue par Tulsi Gabbard, nommée par Trump comme sa future patronne du renseignement.

La théorie du complexe obsidional de la Russie tend à justifier une expansion indéfinie. Cette remarque de Revel n’a pas pris une ride en plus de quarante ans : « Il est évident que plus le cercle de vos frontières s’élargit, plus nombreux sont les peuples avec lesquels vous êtes en contact et qui, de ce fait, constituent des centres d’agression possible contre vous (...) Le seul moyen d’obtenir que les frontières de l’Union soviétique ne soient plus menacées (…) c’est qu’il n’y ait plus de frontières soviétiques du tout, ou, si l’on préfère, que le territoire de l’Union soviétique coïncide avec celui de la planète tout entière. »[4]

Toutes les positions prises par Revel procèdent d’un libéralisme inébranlable : pour être à la fois juste et performant, le pouvoir doit être limité. Il a acquis cette conviction lorsque, jeune enseignant au Mexique dans les années 1950, il a constaté les ravages de l’omnipotence. Son opposition plus tard au gaullisme est ancrée dans cette expérience. Il juge que la Constitution de 1958 institue un pouvoir personnel qui sape sa propre autorité. Revel développera cette idée dans L’Absolutisme inefficace (1994), livre qui n’a rien perdu de son actualité. Sous la présidence d’Emmanuel Macron, l’incapacité d’un pouvoir « jupitérien » à réformer le pays en profondeur — jusqu’à l’autodestruction que constitua la dissolution de juin 2024 — illustre les limites du présidentialisme à la française.

Un concept revélien par excellence aide à comprendre le danger de pourrissement interne qui pèse sur la démocratie aujourd’hui : celui de « censure élargie ». Ce procédé consiste à mobiliser l’intimidation idéologique ou morale et la pression de groupe contre les idées qu’on réprouve. La censure élargie prévaut, écrit Revel en 1977, lorsque « subsiste un pluralisme qui laisse la latitude de recourir à un moyen de diffusion autre que celui qui vous a censuré, même si ce recours comporte des difficultés pratiques »[5].

Le phénomène s’est aggravé depuis. Bien que moins efficace que la censure officielle, ce qu’on appelle la cancel culture vise la même fin : clore le débat pour préserver le Bien de la confrontation avec le Mal.

L’aspect le plus intemporel de la pensée de Jean-François Revel est sa théorie de la connaissance. Philosophe de formation, il a placé la question de l’accès à la vérité au centre de son œuvre. Peut-on distinguer le vrai du faux ? Quels sont les enjeux pour les sociétés ? Revel traite ces questions dès Pourquoi des philosophes, puis dans son Histoire de la philosophie occidentale (1966). Il prolongera sa réflexion de livre en livre, notamment dans La Connaissance inutile (1988), sans doute son essai le plus profond.

Revel estime qu’il est possible de connaître la vérité ; encore faut-il le vouloir. « Un fait n’est ni réel ni irréel : il est désirable ou indésirable », déplore-t-il. « Nous acceptons ou rejetons l’information en fonction de nos convictions. » Ce travers, relevé par les moralistes de tous temps, est aujourd’hui connu sous le nom de biais de confirmation. Les psychologues ont démontré la capacité de notre esprit à protéger nos croyances des démentis que lui assène le réel. L’étude de tels biais cognitifs a valu un prix Nobel au psychologue Daniel Kahneman.

L’humain est-il profondément irrationnel ? Pour Revel, comme pour la psychologie contemporaine, la question ne se pose pas ainsi. L’empire des idées reçues est essentiel pour la vie en société. Kahneman souligne l’utilité d’automatismes mentaux qui nous épargnent temps et effort. Et surtout, nous savons privilégier les faits sur la foi quand il le faut, particulièrement dans notre vie professionnelle – lorsque nous jouons notre peau, selon l’expression de Nassim Taleb. D’où l’accumulation des connaissances depuis le paléolithique, et le progrès matériel qui en découle.

Toutefois, remarque Revel, ces avancées ne dénotent pas une soif fondamentale de savoir. En l’absence de contrainte, l’esprit humain s’abandonne aux plaisirs de l’irraison. En 2022, dans la société la plus technologiquement avancée du monde, un Américain sur six croyait le pays aux mains de satanistes pédophiles. Lorsqu’il a le choix, écrit Revel, l’homme moderne « n’est ni plus ni moins rationnel qu’aux époques définies comme préscientifiques ».

Or le libéralisme, et c’est là l’argument central de La Connaissance inutile, repose sur le principe de réalité. La démocratie ne peut fonctionner qu’avec un minimum de prise en compte des faits. De tous temps, certains maîtres à penser se sont ingéniés non seulement à nier l’évidence, mais à théoriser ce déni : notre esprit, selon eux, n’a pas accès à la réalité ; la distinction entre le vrai et le faux n’a donc pas de sens. Revel notait le caractère pervers de cette théorie : c’est le pouvoir, non le contrepouvoir, qui a intérêt à contester la nature vérifiable de l’information. Lorsque rien n’est vrai, tout est possible : qui peut dire alors que l’Ukraine n’est pas aux mains de néonazis ?

Revel est un écrivain à la curiosité encyclopédique. Ses articles portent les sujets les plus variés, de l’art au turf. Il est l’auteur d’un livre sur Proust, d’une histoire de la gastronomie et d’une très personnelle anthologie de la poésie française. L’ensemble est uni par un regard pénétrant, sans cesse tourné vers le réel, évitant l’abstraction.

Cette qualité, qui explique le succès de Revel, se retrouve dans ses mémoires. Il juge de façon volontiers lapidaire, certes, mais le jugement chez lui intervient toujours à la suite d’une accumulation de faits observés. La force de son style repose sur une rigueur de démonstration alliée à un sens dévastateur de la métaphore. En réponse à un historien qui excuse une ineptie proférée par Jean-Paul Sartre à son retour d’URSS en arguant que l’écrivain était souffrant, Revel commente : « Faux-fuyant piteux ! Imagine-t-on Newton affirmant que la terre est plate parce qu’il a une crise de foie ? »[6]

Dix-huit ans après la mort de Revel, une certaine gauche post-sartrienne le poursuit de sa vindicte. En juin 2024, Libération l’accusait d’avoir fréquenté un cercle pédophile vers 1980. Le journal s’appuyait sur le témoignage d’une victime affirmant avoir reconnu l’écrivain parmi un groupe de pervers masqués lorsqu’elle avait cinq ans. Des faits d’une telle gravité méritaient un traitement sérieux, d’autant plus que Revel n’avait jamais suscité de soupçons. En fait, comme nous l’avons montré dans un article de CommentaireLibé accumule les amalgames du type : les Grecs prônaient la pédophilie ; or Le Monde a comparé Revel à Socrate... Autre « coïncidence » signalée avec des guillemets entendus : la tombe de l’académicien au cimetière Montparnasse est située près de celle d’une entremetteuse ayant joué un rôle dans cette affaire sordide. Pour bonne mesure, Revel est qualifié de chantre d’un libéralisme « provocateur, résolument tourné vers l’Amérique ». L’enquête permet à Libération d’alourdir son cas en d’ajoutant la présomption de pédocriminalité aux délits d’anticommunisme et d’apologie du capitalisme.

Il reste à espérer que la Justice, qui a été saisie, fasse toute la lumière. En attendant, des allégations non vérifiées entachent la mémoire de Jean-François Revel : sa fiche Wikipédia leur consacre désormais plus de place qu’à aucun de ses essais. Le syndrome d’Orphée le poursuit jusque dans l’autre monde. Si Revel, comme le héros mythique, est destiné à revenir des Enfers, la remontée s’annonce longue.

 

1] Entretien au Figaro, 14 novembre 1997

[2] Pierre Boncenne, Pour Jean-François Revel, Plon, 2006.

[3] Comment les démocraties finissent, Grasset, 1983, p. 49.

[4] Ibid, p. 66.

[5] La Nouvelle censure, Robert Laffont, 1977, p. 40.

[6] Le Voleur dans la maison vide, Plon, 1997, p. 394.

 

Brasileiro reuniu maior arquivo sobre crimes cometidos por Assad e alertou para risco de novas ‘atrocidades’ - Jamil Chade (UOL)

Todos sabemos que o Assad merece um capítulo especial no TPI, graças ao trabalho de Paulo Sérgio Pinheiro. Vamos aguardar os novos crimes dos fundamentalistas islâmicos que podem converter o país num novo regime do tipo talebã ou teocrático iraniano, ou pior... (PRA)

Brasileiro reuniu maior arquivo sobre crimes cometidos por Assad e alertou para risco de novas ‘atrocidades’

Por Jamil Chade 

Uma equipe liderada pelo brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro guarda um verdadeiro tesouro: o arquivo de mais de uma década de provas, testemunhos e relatos dos crimes cometidos pelo regime de Bashar Al Assad.

Pinheiro, que foi chefe da pasta de Direitos Humanos no governo de Fernando Henrique Cardoso, foi escolhido em 2011 para comandar a comissão de inquérito da ONU sobre os crimes cometidos na Síria, depois da eclosão do conflito no país. Sua nomeação era considerada como estratégica.

Meses depois, ele chegou à conclusão que Bashar Al Assad havia cometido "crimes contra a humanidade" ao reprimir manifestantes desarmados, implementando uma máquina de tortura e assassinatos em estádios, escolas e hospitais.

Ao longo de anos, a comissão presidida pelo brasileiro reuniu centenas de relatos e documentos que, eventualmente, podem ser usados para uma denúncia ao Tribunal Penal Internacional. Entre os trabalhos de Pinheiro está a construção de uma cadeia de comando na execução de crimes.

Naquele momento, Pinheiro indicou que não restava dúvida que torturas, violações sexuais, mortes e desaparecimentos de milhares de pessoas, inclusive de crianças, foram ordenados pelo alto escalão do governo sírio.

Pinheiro liderou os trabalhos à pedido do Conselho de Direitos Humanos da ONU e foi escolhido por sua experiência e por ser brasileiro, já que o Itamaraty ainda mantinha canais abertos com Damasco.

Os sírios impediram a entrada oficial da comissão ao país. Mas chegaram a receber o brasileiro de forma isolada. Ainda assim, a enquete é considerada dentro da ONU como a coleta mais completa de evidências da repressão de Assad.

Leia matéria completa: 

https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2024/12/08/brasileiro-foi-chave-em-denuncia-contra-assad-por-crimes-contra-humanidade.htm

Para receber todas minhas colunas por WhatsApp, basta clicar no link abaixo ⬇️ 

https://chat.whatsapp.com/LwhrE3yjuoT2rVwWHABeaM


sábado, 7 de dezembro de 2024

A secretária de Trump para a Inteligência Nacional dos EUA: seria como ter Lavrov no comando - Timothy Snyder

 Mais uma indicação de Trump para destruir o que resta de governo democrático

Tulsi Gabbard Holds the Knife

An Operation We Might Not Survive

Imagine that the day has come for your brain surgery. You are lying, immobilized and vulnerable, on the operating table. Something is wrong, but you hope that it can be repaired. As the anesthesia sets in, you reflect. To be sure, your brain hasn't always performed the way you wished it had. You have made some mistakes, and done some stupid things, regrettable things, wrong things. But still, it is the brain that allows for a reconsideration of all that, to adjust, to have some hope and some possibility of doing better next time. Your brain keeps you going, keeps you in touch with the world. Hopefully, yours can be repaired, and you can get back to thinking, being, becoming. You could get better. As darkness descends, you catch a glimpse of a person dressed as a surgeon, approaching your head with a knife and a smile. It's Tulsi Gabbard. Hope gives way to horror.

This dark fantasy suggests, on a very small scale, the national trauma that lies before us. Gabbard is Donald Trump's choice to operate American intelligence. In the intelligence system, a kind of national brain, the Director of National Intelligence oversees and coordinates the work of agencies charged with knowing the world, protecting the integrity of digital systems, anticipating and preventing terrorism, and evaluating national security threats. Gabbard is the opposite of qualified for such a role: she is a disinformer and as an apologist for the war crimes of dictatorships.

Gabbard appears on the world stage as a defender of a million violent deaths. 

She is an apologist for two of the great atrocities of the century: the Russian-Syrian suppression of the Syrian opposition to the Bashar al-Assad dictatorship, which has taken about half a million lives, most of them civilians, some of them by chemical weapons; and the Russian invasion of Ukraine, which has also taken about half a million lives, and has brought the destruction of whole cities, the kidnapping of children, mass torture, and the large-scale execution of civilians.

That is it. That is her profile. Disinformer and apologist. Beyond the United States, in the larger world that US intelligence agencies are tasked to understand, she is associated with her pro-Assad and pro-Putin positions. (In third place, I suppose, would be her propensity to provide the Chinese state media with useful sound bites).

Until 2014, Gabbard said nothing remarkable about foreign affairs. In 2015, just before Putin intervened to save Assad, she began her extraordinary journey of apology for atrocity. In September of that year, Putin sent Russian mercenaries, soldiers, and airmen to Syria to defend Assad. The great advantage Putin could bring to Assad was to multiply the regime's air strikes, which were turned against hospitals and other civilian targets. Hospitals were and remain a Russian specialty.

a destroyed building in a city

In June 2015, as a congresswoman from Hawai'i, Gabbard visited Syria. During her stay, she was introduced to girls who had been burned from head to toe by a regime air strike. Her reaction to the situation, according to her translator, was to try to persuade the girls that they had been injured not by Syrian forces, but by the resistance. But this was impossible. Only Syria (at the time of her visit) and Russia (beginning weeks later) were flying planes and dropping bombs. 

Either Gabbard was catastrophically uninformed about the most basic elements of the theater of war she was visiting, or she was consciously spreading disinformation. Those are the two possibilities. The first is disqualifying; the second is worse.

And if she was spreading disinformation consciously, she was also doing so with a pathological ruthlessness. Anyone who would lie to the child victims of an air strike to their burned faces would lie to anyone about anything. In January 2017, she visited Syria again, this time to speak to Assad. She began thereafter to deny that his regime had used chemical weapons on its own people. That was a very big lie.

In Washington, in speeches in Congress, Gabbard showed an uncanny ability to turn almost any issue into a justification for defending the Assad regime. In 2016, concern for Christians in Syria was a pretext to defend the Assad regime. In 2017, she presented worries about terrorism as a reason to defend of the Assad regime. In 2018, the anniversary of 9/11 was her prompt for defending the Assad regime. In 2019, she found her way from the genocide of Armenians a century earlier to the need to defend the Assad regime. She even worked hard to segue from the lack of affordable housing in Hawai'i to the need to defend the Assad regime. Gabbard's support of Assad was so well known that her colleagues, Republican and Democratic alike, were worried that she would reveal the identity of a Syrian photographer brought to Congress to testify about Assad's atrocities.

For Russia, Syria was a testing ground for Ukraine. The atrocities perpetrated by Russians in Syria were repeated in Ukraine. In 2021, the largest donor to Gabbard’s PAC was an apologist for Putin. When the Russian full-scale invasion of Ukraine began in February of the following year, Gabbard, a consumer of Russian propaganda, was immediately ready as a channel for the Russian line, including obvious Russian disinformation. Again and again, over and over, her public statements were strikingly similar to Putin’s,

Amidst the farrago of lies that Russia used to justify its full-scale invasion invasion was the completely bogus claim that Ukraine was site of American biolabs that were testing which infections would be most harmful to Slavs (and thus Russians). This lie originates in Russia and was spread by Russian media, along with some Chinese and Syrian echo chambers, and with a setof western helpers -- one of whom was Tulsi Gabbard. She also urged, "in the spirit of Aloha," that Ukraine react to the invasion by surrendering its sovereignty to Russia. She later justified Russia's invasion of Ukraine by the notion, common in Moscow, that Russia was the victim of American attempts to overthrow Putin. She was specifically thanked by Russian state media for defending Russian war propaganda.

To be sure, the wars and the regions are complex. Even if Assad falls, as now looks increasingly likely, Syria will be a mess, with unsavory and dangerous people in power. There is, of course, room for disagreement about American foreign policy, including with respect to Assad and Putin and their twinned atrocities. That can all be taken for granted, and provides no excuse whatever for Gabbard's very unusual behavior. It is strange, to say the least, that Gabbard says nothing about these regimes that they have not first said about themselves, and that she uses her platform to spread their own very specific disinformation.

One feature of disinformation is that it is factually incorrect: and so the very least (or most?) that can be said about Gabbard is that she consistently wrong on matters of the greatest moral and political significance. But the other element of disinformation is that it is consciously and maliciously designed to confuse. These memes (biolabs!) are tested and perfected before they are released. Disinformation is the opposite of an innocent mistake: it is concocted to make rational reflection and sensible policy difficult. Disinformation, in other words, is a weapon that one regime tries to spread within another society or -- in the dream of a hostile spy chief -- within another society's intelligence service. That is part of what Gabbard offers America’s enemies, and it is bad enough, because it means that systems meant to protect Americans instead put them in danger. It goes without saying that American allies would be unable to cooperate with the United States, and that patriotic intelligence officers would resign in droves. Informers around the world would cease their work. The US government would be cut off from the world. 

As Director of National Intelligence, Gabbard would do enormous harm, unwillingly or willingly. She is not just completely unqualified for this role -- she is anti-qualified. She is just the sort of person enemies of the American republic would want in this job. This is not a hypothetical -- Gabbard is the specific person that actual enemies of the United States do want in the job. The Russian media refers to Tulsi Gabbard as a "Russian agent" and as "girlfriend," with good reason.

Gabbard is worse than unfit. Her public record is as a disinformer and apologist for mass murderers. And there is nothing on the other side of the ledger. There are no positive qualifications. (Yes, she wrote a bestselling book. It became a bestseller because she scammed her followers into donating to a PAC which bought the book in bulk.) 

Gabbard is just as qualified to operate on your brain as she is to operate the national intelligence services. Would you let her? She clearly wants to take up the knife. Whose idea, one wonders, was that?

Imagine, because it is true, that the day will soon come when we name the person who will operate the national intelligence services. To be sure, like our own minds, the intelligence services of the United States haven't always performed well. There have been mistakes, and manipulation, and downright evil. But there has also been learning, and some recent, impressive showings, as in the precise and public prediction of the Russian invasion of Ukraine. Intelligence services are a central part of government. Just as a brain might need surgery, American intelligence needs reform. But it does not need to be butchered for the pleasure of enemies.

Thinking about... is a reader-supported publication.

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...