quarta-feira, 19 de novembro de 2025

Política Externa e Interesse Nacional: interações e descompassos - Paulo Roberto de Almeida (IRICE)

 Política Externa e Interesse Nacional: interações e descompassos

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Reflexões sobre uma problemática ainda carente de equacionamento no Brasil.
Preparado para seminário homônimo coordenado pelo embaixador Rubens Barbosa.
Realização: Irice, 21 de novembro de 2025, 17:00hs.

        Os conceitos de política externa e de interesse nacional são suficientemente vagos e muito pouco explícitos, para permitir qualquer interpretação objetivamente embasada sobre as conexões possíveis entre uma política setorial concreta, determinada, efetiva, como é a “política externa governamental”, e essa noção subjetiva e abstrata de “interesse nacional”. Entende-se, por esta última, que ela corresponde a toda e qualquer ação, condução, direção que levem à consecução das aspirações concretas do país, ou seja, da maioria de seu povo, em especial daqueles objetivos apontados como necessários pelas lideranças políticas e econômicas da nação. O primeiro conceito, por sua vez, o da política externa, está sendo permanentemente documentado, expresso, exposto e defendido pelo dirigente nacional – primeiro-ministro, presidente, ditador – e pela instituição oficialmente encarregada de sua operacionalização, o ministério das relações exteriores e seu corpo profissional.
(...)
Disponível na plataforma Acdemia.edu, link:
https://www.academia.edu/145030554/5105_Politica_Externa_e_Interesse_Nacional_interacoes_e_descompassos_2025_

terça-feira, 18 de novembro de 2025

Conceitos “carcereiros” na teoria social (e política) do Brasil - Paulo Roberto de Almeida

Conceitos “carcereiros” na teoria social (e política) do Brasil

Paulo Roberto de Almeida 

Durante toda a sua história, o Brasil não conseguiu escapar de certas “prisões mentais” que dificultaram seu desenvolvimento inclusivo e homogêneo. Durante mais de três séculos, talvez quatro, não conseguimos escapar do escravismo efetivo, que significou o tráfico africano e o escravismo negro (que rapidamente superou o indígena, por ser mais produtivo e “expendável”); ele foi substituído pelo escravismo mental, que perdura até hoje.

Depois veio, a grande ideologia da industrialização nacionalista que contaminou todas as políticas públicas desde o final do século XIX até hoje, compreensível pela importância das revoluções industriais que transformaram o mundo, a partir do núcleo europeu ocidental, até hoje.

Nunca fizemos uma revolução educacional, isto é, ensino básico de qualidade para todos, até hoje.

Mais recentemente, alguns novos “conceitos carcereiros” vêm aprisionando nossas políticas públicas, inclusive no terreno diplomático (que é o meu universo de trabalho acadêmico e profissional), e que insistem em moldar a agenda da teoria social, inclusive no setor governamental: deixo de lado o ridiculo molde “decolonial” que, na área acadêmica, veio tomar o lugar da teoria da dependência, outra grande ilusão metofológica. 

Na área diplomática, o BRICS e o tal de  Sul Global (antes apenas Sul-Su) são os dois novos queridinhos de acadêmicos e dirigentes da nossa diplomacia, aprisionando qualquer nova reflexão sobre uma agenda própria de desenvolvimento econômico e social.

Por que o Brasil precisaria das muletas mentais (e práticas) do BRICS e do tal do Sul Global para poder se desenvolver de maneira uniforme e independente? O Mercosul anda em baixa atualmente, sendo que foi, durante três décadas, o principal projeto estratégico da diplomacia brasileira.

As elites econômicas e políticas ainda não perceberam que ambos conceitos nos prendem a modelos e caminhos de atuação interna e externa que limitam e constrangem nossa atuação independente num mundo dominado por impérios — o que nunca fomos, nem seremos, no futuro previsível — e povoado por Estados nacionais, que possuem independência relativa?

Continuamos sem revolução educacional, mas sempre aderindo a modismos que nos aprisionam mentalmente, e que contaminam o discurso público, inclusive o diplomático.

Certas coisas demoram para passar: talvez o Brasil ainda não tenha crescido o suficiente. Como crianças pequenas, imitamos o que vem de fora  e certas modas criadas por intelectuais. BRICS e Sul Global são apenas os exemplos mais recentes dessas prisões mentais, que têm incidência direta nas políticas públicas, inclusive as diplomáticas.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 18/11/2025


Ukraine vs. Russia preferences in Slavonic studies - Dasha Nepochatova

 What I Find Very Difficult at Oxford

Dasha Nepochatova

(Via Anton Geraschenko)

I think I’ve already mentioned that when I entered the university, I did not expect that in Slavonic Studies the overwhelming majority of research would be dedicated to Russia. In fact, my dissertation will be the first one about Ukraine in this department.

Since I hadn’t even thought about this beforehand, because I had no expectations at all, I was genuinely shocked when I first encountered this reality. The world is banning Russia — in sports and many other spheres — yet here it is being studied: its cinema, literature, LGBT community, and so on. On the one hand, scholarship is scholarship, and that’s natural. But at the same time Ukraine is not being studied. That’s the problem.

This was in 2024. The war had already been going on for two and a half years.

When the shock passed, I realized that the only thing I could do was to help build Ukrainian Studies within our sub-faculty. Because it is almost impossible to counter the Russian narrative when most professors are professors on Russia and there is not a single professor on Ukraine. That was the first layer — the one I gradually adapted to.

Later another layer emerged — the narrative around the Soviet Union. Yes, the USSR is studied in other programs too, but in Slavonic Studies, for example, they study GULAG literature. And when I attended a two-day workshop on this topic, I realized that 90% of the presentations were about Russian writers, and none about Ukrainian ones. The topic of the Executed Renaissance wasn’t even mentioned, as if no one had ever heard of it. That’s when I understood that even Soviet history studies turn into studies of Russia.

This was deeply painful. Even more painful than discovering the imbalance in Slavonic Studies. That situation can still be explained somehow, but this one cannot be explained at all. And I thought that programs like this should apply an approach similar to gender quotas — like in parliaments, where at least 30% of MPs must be women. Yes, it’s artificial regulation, but I see no other way.

I eventually worked through that shock as well. I poured even more energy into creating Ukrainian Studies, understood how to build a strategy, what to say, and even drafted a large fundraising document explaining why this work is necessary.

But then a new year came, and unexpectedly I encountered another layer — an even more painful one — and I felt like there was nothing I could do about it. This term I took a course in world literature.

In one of the lectures, dedicated to Nordic literature — the sagas of the Vikings — the professor quoted different texts. In one of them (the Saga of Bjorn) it said that the Vikings set out “east into Russia to see King Vladimar.” Then another reference to ancient “Russian” literature appeared on the slide.

The next lecture, with a different professor, was on medieval literature, and of course she also spoke about “Russian literature” created in Kyiv.

I couldn’t remain silent and wrote the professor an email.

“I wanted to share a brief reflection on two details that particularly caught my attention. The use of the term “Russia” in the slide referring to King Valdimar in the Saga of Bjorn is historically inaccurate. King Valdimar corresponds to Prince Volodymyr the Great (c. 958–1015), ruler of Kyivan Rus’, a polity centred in Kyiv and established in the 9th century. Moscow was founded only in 1147, and the Muscovite state — the precursor of modern Russia — emerged several centuries later.

Kyivan Rus’ is the historical predecessor of the Ukrainian state, not the Russian one. Translating “east into Russia” or referring to that region as “Russia” therefore projects a much later political identity backwards in time and perpetuates the imperial myth of a “shared history” — a narrative that contemporary Russia actively exploits to justify its aggression against Ukraine.

Similarly, the quotation from Schlözer (1773), which places “Russian literature” among medieval traditions, reflects the 18th-century Eurocentric habit of treating all East Slavic culture as “Russian.” Acknowledging this historiographical bias and postcolonial studies could add valuable nuance to how medieval identities are discussed and contextualised.

In the present context of Russia’s full-scale war against Ukraine overlooking these distinctions risks appearing as a form of knowledge distortion, however unintended. It is particularly sensitive when presented to undergraduate students, whose critical thinking skills are still developing. I believe that we all share a responsibility to encourage intellectual curiosity, historical accuracy, and awareness of how narratives are shaped — especially those that carry deep political and cultural implications.

I understand that such terminology is often inherited from long-standing academic conventions, but within an institution like Oxford — where we have both the tools and the responsibility to approach history with precision — it seems particularly important to revisit these inherited frameworks.

I share these reflections with genuine respect for your scholarship, and with appreciation for the thought-provoking nature of your lecture, which encouraged me to raise this perspective.”

To my surprise, the professor responded quickly and very positively. He thanked me for the feedback, promised to revise the lecture, and even asked whether he should re-deliver it with the corrections.

I might not have written this post at all if today I hadn’t come across Judith Jesch’s book Women in the Viking Age. Naturally, I picked it up to look through it, and immediately stumbled on the chapter titled Russia. The term Kyivan Rus’ isn’t mentioned at all, even though the chapter discusses Princess Olha.

And so now I have a question. What do we do with all of this? Do we have scholars working on the decolonization of Kyivan Rus’ at the level of international universities? Because the professor’s reaction to my comment was constructive — he agreed with my arguments. But so much of our history has been stolen — how do we fix it? How do we communicate it? Where do we find the strength and resources? Because to me this is a falsification of knowledge. And Western institutions are participating in it.

The photos are the slide from that lecture and a page from the book.

Author: Dasha Nepochatova, President of Oxford Universtiy Ukrainian Society


domingo, 16 de novembro de 2025

Ricupero, Lafer e as relações internacionais do Brasil: Livro Vidas Paralelas, de Paulo Roberto de Almeida - Marco Aurelio Nogueira

Livros | Comentários, Slider

Ricupero, Lafer e as relações internacionais do Brasil
Marco Aurelio Nogueira blog, 16//11/2025

Livro reconstroi trajetórias e ideias de duas figuras que fizeram, ao longo da vida, uma verdadeira ode à diplomacia, à busca da paz e da harmonia no mundo

Você lê o interessantíssimo livro do diplomata Paulo Roberto de Almeida como se estivesse acompanhando uma conversa entre amigos. Há um mestre de cerimônias, o autor, que se mistura com os amigos, menciona suas biografias, qualidades e trajetórias. São todos especialistas em diplomacia, Itamaraty e política externa.

O livro transpira afinidades eletivas, como Paulo Roberto menciona algumas vezes. As afinidades o auxiliam a captar o lado humano e profissional das duas grandes figuras públicas merecedoras de sua atenção, Rubens Ricupero ( e Celso Lafer (1941) Há convergências e confluências entre eles, mas também diferenças. Paralelismo. Ricupero e Lafer são personagens de destaque da política externa brasileira. São intelectuais refinados, escritores de livros seminais e de intensa atividade pública.

Vidas paralelas: Rubens Ricupero e Celso Lafer nas relações internacionais do Brasil (RJ, Ateliê de Humanidades, 2025) tem seu mérito maior na exposição que nos faz de duas figuras que fizeram, ao longo da vida, uma verdadeira ode à diplomacia, à busca da paz e da harmonia no mundo. Viveram as guerras e atrocidades das últimas décadas, estudaram suas determinações, enveredaram pelas trilhas da pesquisa e da reflexão teórica, sempre à procura de novos conhecimentos. O foco de ambos foi localizar o lugar do Brasil no mundo e compreender sua história no terreno das relações internacionais.

Ricupero escreveu o imprescindível A diplomacia na construção do Brasil (1750 – 2022) (Versal Editores, 2024). Foi ministro da Fazenda e secretário-geral da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento-UNCTAD, entre 1995 e 2004, período durante o qual incentivou a pesquisa em economia criativa.

Lafer, por sua vez, foi um acadêmico atento às teorias do direito internacional, publicou importantes livros e atuou por duas vezes como Chanceler brasileiro (1992 e 2001-2002), além de ter trabalhado na área diplomática internacional. É autor de A Identidade Internacional do Brasil e a política externa brasileira (Perspectiva, 2020).

Diferentes, mas convergentes trajetórias. Interesses comuns, afinidades intelectuais (Norberto Bobbio, Hannah Arendt, Raymond Aron) e perspectivas políticas semelhantes, “um liberalismo com consciência social”. Continuam a formar uma dupla não projetada, mas que se afirmou no correr do tempo, alimentada por uma comunhão de ideais e atividades. “Diplomatas da inteligência”, como Ricupero afirmou certa vez, ao homenagear José Guilherme Merquior.

O projeto que Paulo Roberto materializou nesse livro é, no essencial, uma história intelectual. Os dois intelectuais de que ele se ocupa são figuras públicas proeminentes, que, no arco de sessenta anos, deram importante contribuição para um melhor conhecimento do Brasil pelo mundo e pelos próprios brasileiros. Com origens e trajetórias pessoais distintas, seus caminhos terminaram por se “cruzarem, se imbricarem e não mais se desligarem”. Ambos continuam a trabalhar, a manter relações de amizade e afinidade intelectual.

O livro não se propõe a ultrapassar os limites impostos pela concepção de história intelectual. Há uma recuperação pontual de traços biográficos, mas o texto sabe como incorporá-los. Do mesmo modo, Paulo Roberto estabelece com clareza que será dada “atenção apenas seletiva à ação de ambos no campo da diplomacia prática, ou da governança de maneira geral”. O foco estará sempre nas ideias, com o objetivo de “ressaltar os aspectos mais significativos de duas trajetórias intelectuais e de atuação pública”, de alcançar “uma síntese tentativa do imenso volume de conhecimento que eles colocaram à disposição do público brasileiro, e até estrangeiro”.

A ideia de traçar o paralelismo entre a vida de Ricupero e Lafer encontra apoio em pontos essenciais: “Uma mesma origem na imigração, ainda que diferente em suas raízes, uma trajetória similar de construção de vida pelo trabalho, o mesmo esforço nos estudos, uma absoluta identidade de propósitos quanto a objetivos maiores”. O que prevalece, da história narrada por Paulo Roberto de Almeida, é sua admiração pelos intelectuais estudados, unidos por dois elementos intangíveis: a cultura e a inteligência.

O livro, em resumo, nos ajuda a compreender melhor a contribuição que Rubens Ricupero e Celso Lafer deram e continuam a dar para tornar o Brasil mais conhecido e, quem sabe, mais preparado para lidar com o complexo mundo atual e enfrentar seu futuro. Uma ótima iniciativa.

Paulo Roberto de Almeida é diplomata, professor universitário e autor de diversos livros e artigos. Entre suas publicações mais recentes, incluem-se Apogeu e demolição da política externa. Itinerários da diplomacia brasileira (Curitiba, Appris, 2021) e, como organizador, Intelectuais na Diplomacia Brasileira: A cultura a serviço da nação (Rio de Janeiro: Francisco Alves; São Paulo: Unifesp, 2025).

Marco Aurélio Nogueira

Cientista político brasileiro, doutor em ciência política pela Universidade de São Paulo e Professor Titular Aposentado da Universidade Estadual Paulista-UNESP. 

Uma pequena ONU nos textos acessados em Academia.edu: Origem das buscas nesta plataforma - Paulo Roberto de Almeida

 Os textos mais acessados em minha página na plataforma Academia.edu.


5117. “Uma pequena ONU nos textos acessados em Academia.edu”, Brasília, 16 novembro 2025, 9 p. Lista, feita a partir do Analytics, contendo a origem das buscas nesta plataforma (https://unb.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida), trabalhos meus e textos de terceiros. Postada em Academia.edu (link: https://www.academia.edu/144991080/5117_Uma_pequena_ONU_nos_textos_acessados_em_Academia_edu ).

Uma pequena ONU nos textos acessados em Academia.edu
Origem das buscas nesta plataforma (trabalhos meus e textos de terceiros)

Paulo Roberto de Almeida

O Analytics da plataforma Academia.edu tem vários tipos de seleções para listagem setorial dos acessos. Uma das que mais aprecio é a que relaciona as cidades e os países de origem. Isso me permite ver, igualmente, quais textos estão sendo mais buscados em minha página; justamente, um dois mais buscados é o relatório Military Balance (2023 e 2024), um dos “externos”, mas que aparece repetidamente. Na relação abaixo, eu relacionei unicamente os acessos feitos do início do dia 15 de novembro e metade deste dia, mais exatamente até as 13:46hs do dia 16 de novembro.

13:46 Nov 16 Baghdad Iraq O Itamaraty na Cultura Brasileira...
13:38 Nov 16 Rio de Janeiro Brazil 22) Prata da Casa: os...
13:35 Nov 16 Ouricuri Brazil 2786) A globalização e o...
13:27 Nov 16 Phnom Penh Cambodia 1744) Lula’s Foreign Policy during...
(...)

Just a compilation of access and downloads established from the Academia.edu Analytics, showing the origin (city and country) and the text available in my page, either mine or third parties.

Lista completa (9 páginas) em Academia.edu (link: https://www.academia.edu/144991080/5117_Uma_pequena_ONU_nos_textos_acessados_em_Academia_edu ).


A CHEGADA DE BOLSONARO NO INFERNO - Bastião da Curiboca


A CHEGADA DE BOLSONARO NO INFERNO
Por Bastião da Curiboca

Corria um dia tranquilo
Na portaria do inferno.
A fila estava pequena
Com três caboco de terno;
Um agiota, um banqueiro,
E um pastor potoqueiro
Invocando o Pai Eterno.

O capeta da guarita
Só conferia os malfeito
Numa lista bem comprida
Ia ticando, com jeito:
Ladroagem, carteirada,
Ódio, usura, mentirada,
Consciência com defeito.

Mais atrás vinha uma quenga
E um vendedor de seguro;
Pouco depois um pinguço
Ralando o chifre no muro;
Uma dupla sertaneja,
Uma barata-de-igreja,
E um tarado de pau duro.

Tudo estava nos conformes
Naquela burocracia,
Quando se ouviu ao longe
Uma estranha tropelia.
Fazendo muita poeira,
Promovendo quebradeira,
Xingando a democracia.

Na frente, boca espumando,
Tinha um tal de Capitão.
Com a mão fazia um gesto
Imitando um três-oitão;
Riso de psicopata,
Catinga de vira-lata,
E zóio de assombração.

Ele logo foi dizendo:
“Sou presidente, tá oquei?
Tenho apoio da milícia,
Da rede globo e da lei.
Vou trocar o delegado!
Eu quero um advogado,
Daqueles que eu já comprei”.

O diabo olhou o tipo
E pensou: “Lá vem encrenca!”
O cabra não vinha só,
Vinha com ele uma renca:
Tinha milico fardado,
Fazendeiro, deputado,
E jornalista em penca.

“Trezentos mil. E daí?”
Relinchava o genocida,
E era aplaudido com força
Pela claque ensandecida.
Os quatro filhos vibravam,
Enquanto compartilhavam
Da rachadinha bandida.

Puxando o coro dos males,
O general Pazuello;
Damares, Ricardo Salles,
Parecia um pesadelo!
O chanceler Araújo
Com QI de caramujo,
Paulo Guedes num camelo.

“Eu vim para destruir!”
Gritava o quase-demente.
E chegou na portaria
Querendo passar na frente.
“Não ligo pra pandemia!
Mi-mi-mi é covardia,
De quem não votou na gente!”

Capeta coçou o rosto,
E farejou confusão.
“Esse aí parece encosto,
Vou precisar de outra ação.”
E ligou prum mais chifrudo,
Mais graduado, pançudo,
Que chegou com a guarnição.

“O que está acontecendo
Nessa repartição?
Aqui é lugar decente,
Não pode haver confusão.
Não me importa a patente,
Tem de ser obediente
Em nossa jurisdição.”

O capitão gargalhou
De um jeito alucinado.
Virou-se pra sua plateia,
Soltou um berro, alterado:
“Vamos passar a boiada!
Isso aqui não é nada,
Comparado com meu gado.”

O tinhoso, experiente,
Percebeu a desvantagem.
Era muita gente bronca
Seguindo aquela visagem.
“Vou ligar pro meu Supremo.
Briga boa eu não temo,
Mas assim é sacanagem…”

Satanás estava na mesa
Comendo um leitão assado.
Quando recebeu o zap
Caiu no chão, alarmado.
“Como é que esse bandido
Que acompanho, escondido,
Veio parar desse lado?”

Vestiu a capa vermelha,
E procurou o tridente.
Passou um pente na telha
Deu um gole de aguardente.
Arriou uma jumenta
Que tinha fogo na venta,
E foi pra linha de frente.

Chegando na portaria
Viu aquela confusão.
O povo fazendo arminha,
Gritando “É o Capitão!”
Trinta pastores na grama,
Dez generais de pijama,
e o Bonner na narração.

Seguindo aquele fascista,
Tinha de tudo um pouquinho.
Acadêmico e artista,
Sílvio, Datena e Ratinho.
Racista, neonazista,
comboio de taxista
atravancando o caminho.

O Demônio encheu o peito
Com seu bafo venenoso,
E perguntou pro sujeito:
“Cê quer o que, malcheiroso?
Não pense que me engana,
A facada foi chicana,
Recurso bem vergonhoso.”

Bolsonaro então sorri,
Lembrando a maracutaia.
“Não foi ali que morri,
Bem sabe o Rodrigo Maia.
Cheguei com apoio do Moro,
Dos tucanos de alto foro,
E também do Malafaia.”

“Mas então você me explique”,
Interrogou Belzebu:
“Por que vem fazer chilique
Com esse bando de urubu?
Pra entrar tem que ter senha,
Espero que aqui não venha
Provocar um sururu.”

“É Deus acima de todos,
Brasil acima de tudo!”
Desta forma inconsequente
Blasfemou o linguarudo.
O Demo pegou a deixa,
E transmitiu sua queixa
Para o Senhor-Pai-de-Tudo.
“Mestre Supremo, desculpe,
Nessa hora incomodar.
Mas tem um cara suspeito,
Aqui a me atazanar.
É um tal de Bolsonaro,
Se não me falha o faro,
É cabra ruim pra danar.”

Deus pôs a mão na testa,
deu um suspiro profundo.
“Belzebu, tu estás comigo
Desde o início do mundo.
Sabes que não ajo errado:
Se alguém vai pro teu lado,
É porque é vagabundo!”

“Mas, Deus, será que mereço
Um castigo tão tacanho?
O cara é sociopata,
Quem segue é um povo estranho.
Aqui temos uma ordem,
Por mais que outros discordem,
É disso que eu tiro o ganho.”
“Penso que um cabra desses,
Tão seguido de pastores
De igrejas tão diversas,
Guiadas por malfeitores,
Devia ir para o limbo
E receber um carimbo
Por proclamar tais horrores!”

O Supremo, com um sorriso,
Respondeu ao Lucifer:
“É justamente por isso
Que a situação requer
um jeitinho mais profano:
Aceite o miliciano
E seja o que Deus quiser!”

O Maligno, abismado,
Achou a declaração hostil.
“Se Deus quiser, ora essa!
Onde é que já se viu?
Agora que a coisa aperta!
Se Deus quisesse, na certa,
Tinha salvado o Brasil!”

Belzebu ficou cabreiro
Com aquela situação.
Lá fora o Bozo rosnava
Incitando a multidão.
Foi quando um diabo-raso
Preocupado com o caso,
Disse: “eu tenho a solução!”

“Lá no Brasil tem um cabra
Que todo mundo respeita.
Correu cinquenta países,
E em nenhum fez desfeita.
Cabra bom de Garanhuns,
Adorado por alguns,
Temido pela direita.”

Satanás, bem curioso,
Viu uma chance bem clara.
O diabinho, orgulhoso,
Sentiu que a fala tocara.
“É Lula, meu comandante!
Sei também que o meliante
Morre de medo do cara.”

“Quero o telefone agora
Dum homem desse quilate!”
Lucifer se apresentou,
E contou qual o embate.
Lula soltou uma risada,
E falou: “Esse é barbada.
Desafia prum debate!”

O Demonho, agradecido,

Foi direto pro portão.
Com a capetada ao lado
Anunciou a intenção:
“Vamos expor nossos planos.
Se os teus não forem insanos,
Te entrego a chave e o bastão!”

Bolsonaro ouvindo aquilo
Na hora empalideceu.
O suor correu na testa
E a garganta emudeceu.
Pra escapar da desgraça
Numa nuvem de fumaça,
Depressa se escafedeu.

A multidão, sem comando,
Aos poucos se diluiu.
Os diabos festejaram
A vitória sem fuzil.
Se alguém pergunta o destino
Do capitão asinino,
Saiba que está no Brasil.

===========

Eu (PRA) acrescento:
Um cordel arretado, cadeia prá quem merece.
Falta um prá outro cabra da peste, lá da Trumplândia.

 [Grato a Olympio Pinheiro pela postagem]

Ah, essa “relíquia bárbara” (como diria Keynes) - Paulo Roberto de Almeida

Ah, essa “relíquia bárbara” (como diria Keynes):

Uma das propostas do Projeto 2025, dos apoiadores de Trump, no campo monetário, seria um retorno ao padrão ouro, algo virtualmente impossível, nas condições atuais. Os BCs ficariam administrando toneladas de lingotes (para supostamente garantir as emissões de moeda), sem que isso se refletisse necessariamente nas demais políticas macroeconômicas e setoriais.

O fato é que a China, já maior produtora do mundo de ouro (e de muitas outras coisas mais), está acumulando toneladas de ouro, talvez para enfrentar a outra obsessão de Trump, além das tarifas: a manutenção do dólar como o padrão incontestável dos pagamentos e das cotações nos intercâmbios globais.

O outro fato é que Trump está fazendo de tudo para afundar os EUA: a China assiste impassível ao besteirol econômico trumpista.

Lula já falou diversas vezes numa provável “desdolarização” (que irá ocorrer, mas a longo prazo), com isso atraindo inutilmente os raios jupiterianos de um Zeus de araque, aquele que se crê o imperador do mundo.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 16/11/2025

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...