quarta-feira, 16 de
maio de 2012
Dou-me
o direito de discordar (Comissao da "Verdade")
Sobre isto:
A presidente Dilma Rousseff empossou nesta
quarta-feira, em Brasília, os sete integrantes da Comissão Nacional da
Verdade, grupo de trabalho que irá apurar violações de direitos humanos
durante a ditadura militar, entre os anos de 1946 e 1988. Com voz embargada, a
presidente negou que o colegiado busque “revanchismo” ou a possibilidade de
“reescrever a história”. Ex-integrante da organização clandestina VAR-Palmares,
a presidente se emocionou ao relembrar os “sacrifícios humanos
irreparáveis” daqueles que lutaram pela redemocratização do país...
peço licença para discordar.
Como ex-integrante de dois desses grupos que alinharam
contra o regime militar, no final dos anos 1960 e início dos 1970, posso dizer,
com pleno conhecimento de causa, que NENHUM de nós estava lutando para trazer o
Brasil de volta para uma "democracia burguesa", que desprezávamos.
O que queríamos, mesmo, era uma democracia
"popular", ou proletária, mas poucos na linha da URSS, por nós julgada
muito "burocrática" e já um tantinho esclerosada.
O que queríamos mesmo, a maioria, era um regime à la
cubana, no Brasil, embora alguns preferissem o modelo maoista, ainda mais
revolucionário.
Os soviéticos -- e seus servidores no Brasil, o
pessoal do Partidão -- eram considerados reformistas incuráveis, e nós
pretendíamos um regime revolucionário, que, inevitavelmente, começaria
fuzilando burgueses e latifundiários. Éramos consequentes com os nossos
propósitos.
Sinto muito contradizer quem de direito, mas sendo
absolutamente sincero, era isso mesmo que TODOS os desses movimentos,
queríamos.
Essa conversa de democracia é para não ficar muito mal
no julgamento da história.
Estávamos equivocados, e eu reconheço isso. Posso até
dar o direito a outros de não reconhecerem e não fazerem autocrítica, por
exemplo, dizer que nós provocamos, sim PROVOCAMOS, o endurecimento do regime
militar, quando os ataques da guerrilha urbana começaram. Isso é um fato.
Enfim, tem gente que pode até querer esconder isso.
Mas eles não têm o direito de deformar a história ou
mentir...
Paulo Roberto de Almeida
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Addendum em 21/05/2012
A revista Veja, em sua edição do sábado 19 (data de capa
23/05/2012), reproduziu trecho desta postagem, desta forma:
O sociólogo Paulo Roberto de Almeida, que pertenceu a
grupos de insurreição armada contra o regime militar brasileiro, colocou a
questão com muita clareza:
"Como ex-integrante de dois desses grupos que se
alinharam contra o regime militar, posso dizer, com pleno conhecimento de
causa, que nenhum de nós estava lutando para trazer o Brasil de volta para uma
'democracia burguesa', que desprezávamos. Nós pretendíamos um regime
revolucionário, que, inevitavelmente, começaria fuzilando burgueses e
latifundiários."
Essa é a verdade. É uma afronta à história tentar
romantizar ou edulcorar as ações, os métodos, as intenções e as ligações com
potências estrangeiras dos terroristas que agiram no Brasil durante o período
militar.
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