A questão está em saber se esses brasileiros serão retirados à revelia do governo venezuelano, que já recusou oferta de ajuda no passado, inclusive de tipo humanitário (remédios, matérial médico).
Responsabilidade DE proteger, e AO proteger?
Paulo Roberto de Almeida
Por
Murillo Camarotto e Daniel Rittner | De Brasília
O governo está finalizando um plano de contingência para
retirar brasileiros da Venezuela em caso de necessidade. O ministro do Gabinete
de Segurança Institucional (GSI), general Sérgio Etchegoyen, disse ao Valor que
o objetivo é viabilizar, entre outras coisas, uma estrutura mínima de
assistência médica e alojamento para os cidadãos que precisarem deixar às
pressas o país vizinho.
Segundo Etchegoyen, a ideia é ter algo parecido com o que
foi posto em prática em 2011 para retirar brasileiros da Líbia, que na época
vivia os conflitos resultantes da Primavera Árabe. Na ocasião, o plano para
resgatar engenheiros e levá-los para a vizinha Malta foi desenvolvido em
parceria com o governo italiano.
Na última década, o governo brasileiro também desenvolveu
estratégias para receber cidadãos que queriam deixar a Síria e o Líbano. Um
grupo de trabalho coordenado Subchefia de Articulação e Monitoramento da Casa
Civil está à frente das discussões.
Etchegoyen fez questão de salientar que o plano de
contingência será disponibilizado somente para quem quiser sair espontaneamente
do território venezuelano, em um eventual agravamento da crise que assola o
país. Com representação em Caracas, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin)
monitora a escalada da violência entre defensores e opositores do presidente
Nicolás Maduro.
Fontes na diplomacia brasileira estimam que cerca de 30
mil brasileiros vivam atualmente na Venezuela. Uma parte significativa,
entretanto, não está cadastrada no consulado. Ainda assim, o número elevado de
pessoas inviabilizaria uma estratégia de resgate com aviões, restando apenas a
via terrestre. Etchegoyen, contudo, não deu detalhes sobre a logística do plano.
Uma das maiores preocupações do governo é com o
estrangulamento da infraestrutura da cidade de Paracaima, em Roraima, que já
sofre com o grande fluxo de venezuelanos que fogem da violência em seu país.
"A questão venezuelana preocupa o Brasil, as Nações
Unidas e todo o mundo. Temos abordado como uma questão humanitária, com
carências e dificuldades graves. Já fizemos duas ofertas de ajuda, que foram
recusadas pelo presidente Maduro", afirmou Etchegoyen, durante audiência
na Comissão de Relações Exteriores do Senado.
Além da questão humanitária, o governo observa com
atenção o ângulo estratégico da crise na Venezuela, que é a principal porta de
saída do Brasil para o Caribe. "Como maior país da América do Sul, com
metade da economia e da população da região, também temos que arcar com a maior
conta do condomínio", disse o general, referindo-se ao tamanho do papel do
Brasil na crise.
Ele destacou ainda a existência de "elementos
extrarregionais" na instabilidade venezuelana, citando como exemplo a
grande quantidade de cubanos que vive no país. Essas questões também estão
sendo observadas com atenção pelo governo brasileiro.
Após a criação de uma contestada Assembleia Constituinte,
a Venezuela foi suspensa do Mercosul. Os chanceleres dos países fundadores do
bloco justificaram a medida como última opção às fracassadas tentativas de
diálogo. Dias depois, o secretário da Organização dos Estados Americanos (OEA),
Luis Almagro, disse que "não há vestígio de democracia" na Venezuela.
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