E o Brasil estaria preparado para administrar eventuais levas de refugiados econômicos venezuelanos -- e possivelmente de uma não descartada guerra civil -- em sua fronteira norte, em Roraima?
Governo se inspira na Turquia; até 30 mil
já cruzariam fronteira por dia
POR JANAÍNA FIGUEIREDO, CORRESPONDENTE
BUENOS AIRES — Entre Colômbia e Venezuela
existem sete postos de fronteira oficiais e cerca de 512 passagens informais,
cada vez mais utilizadas por venezuelanos que decidem abandonar seu país em
busca de melhor qualidade de vida e fuga da repressão em terras colombianas.
Nas últimas semanas, desde que o governo do presidente Nicolás Maduro instalou
sua polêmica e questionada Assembleia Nacional Constituinte (ANC), a emigração
para a Colômbia intensificou-se de forma expressiva e atualmente, segundo ONGs
e dirigentes políticos colombianos, chega a até 30 mil pessoas por dia.
BUENOS AIRES — Entre Colômbia e Venezuela
existem sete postos de fronteira oficiais e cerca de 512 passagens informais,
cada vez mais utilizadas por venezuelanos que decidem abandonar seu país em
busca de melhor qualidade de vida e fuga da repressão em terras colombianas.
Nas últimas semanas, desde que o governo do presidente Nicolás Maduro instalou
sua polêmica e questionada Assembleia Nacional Constituinte (ANC), a emigração
para a Colômbia intensificou-se de forma expressiva e atualmente, segundo ONGs
e dirigentes políticos colombianos, chega a até 30 mil pessoas por dia.
Em muitos casos, famílias inteiras entram
na Colômbia com pouquíssimos recursos e acabam dormindo nas ruas e praças. A
situação é delicada e o governo de Juan Manuel Santos já cogita, publicamente,
criar campos de refugiados, inspirados na experiência da Turquia com os sírios.
Um dos que mencionaram esta possibilidade foi o conselheiro de Segurança da
Presidência, Juan Carlos Restrepo, que esteve este ano na Turquia visitando os
locais. Em entrevista ao site “El Colombiano”, Restrepo afirmou que seu governo
está “preparados para abordar essa opção, como última alternativa”.
O cenário ainda não é visto como tão
dramático por Jozef Merkx, representante na Colômbia do Alto Comissionado das
Nações Unidas para Refugiados (Acnur). Ao GLOBO, Merkx assegurou que “não é
momento de falar em campos de refugiados”.
— Não vemos essa necessidade. Monitoramos
as fronteiras e não observamos uma avalanche de venezuelanos. Em muitos casos,
as pessoas compram coisas na Colômbia e voltam ao seu país. Acreditamos que
existem outras maneiras de ajudar, e o governo Santos está lidando muito bem
com a situação.
Mas nem todos são tão cautelosos como
Merkx. De acordo com a Associação de Venezuelanos na Colômbia, atualmente cerca
de 1,5 milhão de cidadãos venezuelanos vivem no país. A grande maioria, disse o
presidente da associação, Daniel Pages, chegou nos últimos anos. Os
compatriotas que a cada dia atravessam a fronteira poderiam superar 30 mil,
segundo ele.
— Antes, emigrávamos para melhorar a
qualidade de vida. Hoje, emigramos para comer e sentir-nos seguros. Falar num
campo de refugiados é uma necessidade, porque os venezuelanos estão espalhados
por todos os lados — diz, relatando que há famílias de quatro pessoas que
migram com US$ 30 no bolso: — As pessoas estão morando nas ruas, praças e
rodoviárias. É muito triste e só vai piorar.
A mesma posição foi defendida pelo senador
Jorge Hernando Pedraza Gutiérrez, do Partido Conservador:
— Temos de conscientizar a comunidade
internacional sobre este drama, porque a Colômbia não tem recursos para
financiar os programas que serão necessários, em matéria de saúde, educação e
moradia.
O governo Santos já autorizou os
venezuelanos detentores da Permissão Especial de Permanência (PEP, de 90 dias,
prorrogáveis por até dois anos) a terem acesso ao sistema nacional de Saúde.
Mas, de acordo com Pedraza Gutiérrez, são necessários planos mais abrangentes
que considerem mercado de trabalho e segurança.
ESPERANÇA TROCA DE LADO
Muitos venezuelanos que emigram à Colômbia
são filhos e netos de colombianos. Calcula-se que, entre as décadas de 1970 e
1980, em torno de cinco milhões de colombianos tenham migrado à Venezuela, na
época um país mais estável economicamente, favorecido pelos altos preços do
petróleo. Já a Colômbia enfrentava uma guerra interna sangrenta e gravíssimos
problemas de segurança. Hoje, os papéis se inverteram, e a esperança de um
futuro melhor está do lado colombiano.
Embora os campos de refugiados sejam “a
última opção” do governo Santos, já estão sobre a mesa. A tensão bilateral é
cada vez maior e, nos últimos dias, elevou-se pela denúncia da Colômbia sobre a
presença de agentes da Guarda Nacional Bolivariana (GNB) em seu território,
durante recentes exercícios militares venezuelanos.
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