Continuidade da transcrição da resenha de Gladson Miranda, desde as postagens anteriores:
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Abreu, Marcelo de Paiva (org.):
A Ordem do Progresso:
dois séculos de política econômica no Brasil
2.
ed. - Rio de Janeiro : Elsevier, 2014, ISBN 978-85-352-7859-0
íntegra da resenha
(...)
CAPÍTULO 14 - A ÓPERA DOS TRÊS CRUZADOS, 1985-1990
Eduardo
Marco Modiano
Da metade para o final da década de 80, os
objetivos da economia brasileira era conter a inflação. Os projetos realizados
durante a primeira metade da década foram responsáveis apenas em ajustar
externamente a economia, mas não foram capazes de impedir o crescimento da
inflação. (pg. 281)
“A concepção dos programas de
estabilização para a economia brasileira, adotados a partir de fevereiro de
1986, favoreceu a interpretação de que a inflação brasileira era
predominantemente inercial. A inércia inflacionária resultaria dos mecanismos
de indexação, para a correção monetária dos preços, salários, taxa de câmbio e
ativos financeiros, que tenderiam a propagar a inflação passada para o futuro”.
(pg. 281)
“A mudança do patamar inflacionário que
tem origem no conflito distributivo de rendas pode ser explicada através de um
modelo simples de uma economia com uma função de produção agregada utilizando
apenas dois insumos: trabalho e um agregado composto de capital, produtos
primários e bens intermediários importados”. (pg. 284)
Em 1985 a Nova República foi estabelecida
em seguida a 21 anos de regime militar. O recém empossado presidente iniciou o
governo com a intenção a princípio de estabelecer políticas de austeridade
monetária e fiscal. (pg. 285)
Logo após ser anunciada a política
econômica a ser seguida, a inflação teve uma queda muito importante, chegando
ao percentual de 7,2. (pg. 286)
Entretanto, não houve sucesso duradouro
com relação a manutenção da inflação em níveis baixos, tendo assim finalizada o
momento político-econômico da Nova República. (pg. 290)
O Brasil vinha tentando se reestabilizar
quando resolveu modificar o padrão monetário e estabeleceu o cruzeiro como moeda
em 1986. A taxa inicialm de conversão era de 1000 cruzeiros por cruzado. (pg.
290)
“O Plano Cruzado não estabeleceu regras
ou metas para as políticas monetária e fiscal para complementar o programa de
estabilização. A atuação das políticas monetária e fiscal foi relegada ao
discernimento dos responsáveis pela política econômica”. (pg. 292)
“A análise dos resultados do Plano
Cruzado está dividida em três períodos. O primeiro período, que vai de março a
junho de 1986, é caracterizado por uma queda substancial da inflação e também
pelos primeiros indícios da existência de excesso de demanda na economia. O
segundo período, que vai de julho a outubro de 1986, pode ser identificado pela
total imobilidade do governo ante o agravamento da escassez de produtos e à
deterioração das contas externas. Finalmente, o terceiro período, que vai de
novembro de 1986 a junho de 1987, ratificou o fracasso do Plano Cruzado, com o
retorno das altas taxas de inflação”. (pg. 293)
Durante o primeiro período o governo teve
noção do tamanho do desequilíbrio que o âmbito fiscal vinha sofrendo. Já no
segundo período, pode-se notar que a inflação se manteve baixa, apenas
apresentou uma pequena inclinação progressiva. (pg. 294-295)
“O Plano Bresser de 12 de junho de 1987
foi apresentado à população como um programa de estabilização híbrido, que
incluía elementos tanto ortodoxos quanto heterodoxos para o combate à inflação.
Em contraste com o Plano Cruzado original, o novo programa não tinha como meta
a “inflação zero”, nem tencionava eliminar a indexação da economia”. (pg. 297)
O referido plano diferia do Plano
Cruzado, entre outras coisas, no tocante a forma de adotar a política fiscal e
monetária, sendo que naquele seria ativa. O pequeno período do governo neste
plano faria praticar taxas de juros positivas reais com a intenção de coibir a
conjectura com consumo de bens duráveis e estoques. (pg. 298-299)
“A evolução da política econômica, após o
lançamento do segundo programa de estabilização, pode ser dividida em dois
períodos. O primeiro período, que vai de julho a dezembro de 1987, inclui as
fases de congelamento e flexibilização do Plano Bresser, configurando o sucesso
inicial e o fracasso posterior desta segunda tentativa. O segundo período, que
vai de janeiro a dezembro de 1988, é caracterizado por um renascimento da
ortodoxia e por uma retomada do gradualismo no combate à inflação. No final de
1988 a economia parecia novamente se encontrar no limiar da hiperinflação”.
(pg. 299)
O referido plano instituiu uma nova
reforma monetária, estabelecendo como moeda nacional o cruzado novo. Esse ato
também foi entendido como um projeto de estabilização complexo. (pg. 304-305)
O cruzado novo estava muito desvalorizado
perante o dólar americano, chegando a índices de 18% de desvalorização. (pg.
306)
“A execução do Plano Verão pretendia
produzir dois ou três meses de taxas de inflação baixas com a economia desindexada
e, assim, induzir os agentes econômicos a ampliar as periodicidades dos
reajustes nas negociações sobre as regras futuras de indexação. Nesta fase
seria também aprofundado o ajuste fiscal. As taxas de juros elevadas
promoveriam uma recessão suave a curto prazo, o que facilitaria a eliminação
gradual do congelamento”. (pg. 307)
O dólar se manteve estável nos primeiros
meses do plano verão. Mas a principal conquista deste plano foi manter a
inflação estável, sem qualquer aumento desenfreado. Neste período o PIB chegou
a crescer 3,2% e contrariou as expectativas negativas. (pg. 310)
A despeito do principal objetivo da
política econômica ser o combate à inflação, esta teve índices altíssimos no
período de 1985 a 1989, chegando a quadriplicar. (pg. 310)
O governo não conseguiu se manter
equilibrado, a economia brasileira teve dificuldades em crescer. “Ironicamente,
a falta de uma solução para os desequilíbrios internos, herdados do início dos
anos 1980, ao não permitir uma retomada vigorosa do crescimento econômico,
reforçou e prolongou o ajuste recessivo do desequilíbrio externo, que
caracterizou a política econômica da primeira metade da década”. (pg. 312)
(continua...)
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