Me parece inevitável transcrever, pois Raymond Aron e eu temos os mesmos sentimentos, ou instintos, na verdade uma tremenda alergia à burrice.
Em seu depoimento a Jean-Louis Missika e a Dominique Wolton, Aron avalia os erros do Front Populaire (1936):
“Assim é que eu frequentemente me inclinei a pensar que a ignorância e a burrice são fatores consideráveis na História. E digo muitas vezes que o último livro que gostaria de escrever, para o fim, teria como tema o papel da burrice na História.
J.-L. M. — Seria um verdadeiro tratado...”
O Espectador Engajado (RJ: Nova Fronteira, 1982), p. 56.
Bem, já que Raymond Aron não escreveu esse livro, eu, que também tenho uma profunda aversão à burrice, acho que vou ter de fazê-lo, se não um livro inteiro, pelo menos um artigo completo, com citações de casos históricos, exemplos exemplares e tudo o o mais.
Não digo a ignorância dos ingênuos e não educados, pois eles muitas vezes não têm culpa de sua condição (embora devessem procurar se educar em todas as circunstâncias).
Eu me refiro à burrice de alguns letrados, diplomados, que dispondo de todas as condições de se informarem, de se ilustrarem, de corrigirem seus erros de compreensão, escolhem deliberadamente alimentar a sua burrice.
São muitos, inúmeros os burros congenitais, alguns até dispondo de poder e riqueza, e até de meios de impor a sua vontade, “por la razón o por la fuerza”, como dizem os chilenos. Mas não, eles escolhem continuar burros, sabe-se lá como conseguem, alguns até exitosamente.
Deve ser porque na humanidade existe um número incomensurável de burros e de estúpidos, e eles se protegem entre eles.
Viram? Daria um verdadeiro tratado...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 26/01/2019
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