segunda-feira, 14 de setembro de 2020

A tentativa de pensar uma política externa pós Bolsonaro - Miriam Leitao (Globo, 14/09/2020)

Parabéns ao colega e amigo Antonio Cottas Freitas pela iniciativa.  

https://blogs.oglobo.globo.com/miriam-leitao/post/movimento-renascenca-tem-proposta-para-o-futuro-da-politica-externa.html

MÍRIAM LEITÃO 

Miriam Leitão é um blog que tem análises exclusivas sobre economia nacional e estrangeira feitas pela Míriam e equipe. Além disso, posta os produtos que são divulgados em vários veículos do Grupo Globo pela jornalista, os comentários na TV e Rádio, e a coluna no GLOBO

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MÍRIAM LEITÃO

Míriam Leitão, jornalista há mais de 40 anos, é colunista do jornal desde 1991. É autora, entre outros, do livro Saga Brasileira, ganhador do Jabuti de Livro do Ano (2012). Entre seus prêmios, recebeu o Maria Moors Cabot da Columbia University (NY)

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Do Rio, Marcelo Loureiro escreve para o blog da Míriam desde julho de 2014. Formado pela PUC-Rio, especializou-se em Finanças na Fipecafi-USP. Conquistou o Prêmio IBGC Imprensa e, por duas vezes, o prêmio BM&F Bovespa de Jornalismo

·     MOVIMENTO RENASCENÇA

A tentativa de pensar uma política externa pós Bolsonaro

Por Míriam Leitão

O Globo, 09/09/2020 • 12:43

A proposta de uma nova política externa para depois de Jair Bolsonaro está sendo pensada por alguns diplomatas partindo da constatação de que o atual governo “tem causado graves danos à reputação e aos interesses do Brasil”. É um grupo de debates sobre o Brasil. A ideia foi uma iniciativa do diplomata licenciado Antonio Cottas, do Instituto Diplomacia para a Democracia. Participaram do lançamento o embaixador aposentado Rubens Ricupero e o ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim. Há integrantes desse diálogo que estão na ativa, mas, para escapar de perseguições dentro do Itamaraty, eles estão anônimos. Segundo Cottas “não é uma rebelião”, mas sim um processo de debates. O documento com o título de projeto Renascença foi lançado na terça-feira.
   
Uma das perguntas que move o grupo é o que o país pretende ser como nação. O momento é propício. Em 2022, o Brasil completa o bicentenário da Independência.  

No movimento, a diversidade de pensamento é bem-vinda. Essa gestão atual, além dos erros na política externa, tenta também doutrinar as novas gerações do Itamaraty. A Fundação Alexandre de Gusmão, um centro de estudos ligado ao Itamaraty que agregava pensamentos de todas as tendências, hoje recebe apenas pensadores bolsonaristas radicais, que representam ideias bem minoritárias no mundo.   

O grupo vai discutir questões como o meio ambiente e a inclusão. O Brasil é signatário, por exemplo, do acordo de objetivos do desenvolvimento sustentável, e o atual governo está indo na direção contrária em alguns pontos. Ele nega a mudança climática. O ministro de Relações Exteriores acredita que a discussão é uma pauta dos globalistas, que ele tanto critica. O país também tem obrigações no Acordo de Paris e em outros compromissos internacionais para a sustentabilidade.  

O problema também ocorre na área dos direitos humanos. O Brasil tem votado sistematicamente contra os direitos da mulher, alinhado a países fundamentalistas islâmicos. Em discussão recente, o Brasil votou junto com Catar, Líbia e Afeganistão. Jacqueline Pitanguy, cientista política e socióloga, conta na “Folha de S. Paulo” que em decisão recente o Brasil ficou contra o direito ao acesso universal à informação sobre métodos contraceptivos. É uma posição medieval, uma cruzada contra o direito das mulheres. Esse padrão tem se repetido recentemente.  
O Brasil conta com 110 milhões de brasileiros não brancos. O Renascença explica que o país tem que estar alinhado às políticas de combate ao racismo.  

O processo de debates merece atenção porque a diplomacia não representa governos, ela tem que representar o país.


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