O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

domingo, 28 de setembro de 2014

Amazon.br: contra o mercado sovietico do livro no Brasil

Editoras, como as poucas redes de livrarias existentes no Brasil (e disso não escapam nem mesmo os sebos, reais ou virtuais), adoram um mercado soviético, ou seja, sem concorrência (e, no caso de todos eles, com os preços mais altos possíveis, em detrimento de leitores, compradores obrigados - livros didáticos - e simples consumidores).
Sobre isso acrescem os petralhas malucos, que queriam ainda dar mais empregos garantidos a seus militantes de nenhuma especializaçao cruando mais um cargo pomposo na estrutura do Ogro Famélico, o de "estimulador de leitura", a ser financiado com mais um imposto sobre a cadeia do livro, precisamente, como se esse fosse barato no Brasil. Se vcs querem ideias estúpidas é só encomendar aos companheiros totalitários. 
Por isso apoio integralmente cada uma das palavras do meu amigo Orlando Tambosi, cujo post transcrevo abaixo. 
Paulo Roberto de Almeida 

Acho que todos os leitores já sabem, mas não custa repetir. A Amazon  conta com uma livraria física no Brasil, vendendo livros com grandes descontos. Em compras acima de 70 reais, a remessa é gratuita. Se for menor, você pagará apenas R$ 1,90. A Amazon está livre dos Correios Petralhas, que cobram os olhos da cara e atrasam as entregas.

Esqueça as livrarias ditas brasileiras, que alimentam o patrimonialismo. Sabem o que querem seus proprietários, que vivem à sombra do Estado? Matar a concorrência que favorece o leitor. A reação deles diante da saudável concorrência introduzida pela empresa norte-americana é, pasmem, fixar preço único para os livros. Livreiros soviéticos é o que são. E os editores, na maioria esquerdistas, reforçam a pressão para que o mercado fechado sobreviva.

Nunca mais comprarei livros dessas livrarias. Vou de Amazon. Viva o capitalismo!

P.S.: embora o prazo de entrega formal seja de sete dias, no terceiro a encomenda já está no seu endereço. Repito: livre dos Correios Petralhas.

Politica Externa: um discurso na AGNU para nao ser lembrado - Ricardo Ferraco


Ricardo Ferraço
O BRASIL NA 69A ASSEMBLEIA-GERAL DA ONU
Diário do Poder, 27 de setembro de 2014

O discurso da Presidente Dilma Rousseff na abertura da 69ª Assembleia-Geral das Nações Unidas, dia 24 de setembro, revelou uma Chefe de Estado em plena campanha eleitoral, com invencível dificuldade de despir as vestes de candidata ao expressar ao mundo uma mensagem que representasse a Nação brasileira.
O pronunciamento não foi além do autoelogio pomposo, desconectado do Brasil real que não habita a propaganda televisiva do marqueteiro João Santana, o qual não tem cabimento em recinto solene, por onde passaram tantos ilustres brasileiros que nos orgulharam com sua firmeza de princípios em tempos de acirramento ideológico, na denúncia de injustiças e mazelas da guerra, no amor ao multilateralismo, à pluralidade de visões e aos direitos da pessoa humana.
Sua eleitoreira passagem por Nova York serviu, ainda, para mostrar que o Brasil perdeu protagonismo no debate mundial sobre mudança do clima, uma vez que sua Ministra do Meio Ambiente defendeu que o Brasil, “por não ter sido chamado a participar das negociações”, devia omitir-se na Declaração adotada sobre florestas. Por que fomos excluídos desse diálogo? Logo o Brasil que sediou a Eco-92 e a Rio+20 e que sempre ostentou posição de vanguarda nesta temática?
Como se isso não bastasse, Dilma deu declarações superficiais, simplistas, amadorísticas e inaceitáveis sobre o enfrentamento à barbárie terrorista do chamado Estado Islâmico.
A recente viagem da presidente Dilma a Nova York, contudo, não será lembrada pelo provincianismo de seu discurso perante a qualificada Assembleia-Geral da ONU. Inesquecíveis, infelizmente, são as declarações irresponsáveis que cometeu durante coletiva de imprensa. Dias após os EUA, em conjunto com coalizão de forças que reúne países de quatro continentes – algo em torno de 40 nações –, iniciaram o bombardeio de alvos do Estado Islâmico, no Iraque e na Síria, Dilma fez de sua já conhecida incontinência verbal uma arma de destruição da credibilidade do Brasil perante o concerto das Nações. Sem reflexão, sem ouvir os especialistas, sem sopesar consequências e repercussões, a Presidente confundiu episódios e conceitos, demonstrando desconhecimento da complexidade daquela problemática.
Uma frase da presidente Dilma merece destaque entre outras tantas platitudes e reducionismos simplificadores sobre o quadro altamente complexo e conflituoso que se espalhou pelo Oriente Médio após a chamada Primavera Árabe. Em retrospectiva, pode-se afirmar que os despotismos, então derrubados em movimentos de massa, foram substituídos por forças antes dormentes, sendo algumas destas altamente perigosas e radicais. Para uma plateia atônita, a Presidente Dilma “lamentou enormemente” os ataques desferidos contra alvos do grupo terroristas pelos EUA – esquecendo-se de estender a reprimenda para os demais parceiros da empreitada – e “repudiar o morticínio dos dois lados”.
A presidente Dilma repudiou a morte dos terroristas do Estado Islâmico, cujos militantes trucidam membros da minoria Yazidi, vítimas de ataques genocidas, e covardemente decapitam, diante das câmaras, reféns ocidentais? As declarações de nossa Chefe de Estado deram margem para especulações que depõem contra nossas melhores tradições. O problema é que a presidente Dilma fala por um país inteiro e deveria observar maior decoro em suas manifestações sobre questões que requerem maior estudo. Nem a mais benevolente interpretação do nonsense presidencial retira do discurso seu significado deplorável.
A indecorosa fala da Presidente Dilma ainda repercutirá por longo tempo em nossas relações, não apenas com os EUA, mas com o resto do mundo, especialmente entre alguns de nossos mais importantes parceiros. Por trás da incoerência, da ligeireza e da leviandade com que tratou de tema tão sério, identifica-se um renitente e antiquado antiamericanismo que não tem mais cabimento no século XXI.
Em questão de poucos meses, o Estado Islâmico ocupou vasto território na fronteira entre o Iraque e a Síria, reeditando práticas de crueldade como crucificações de cristãos, sequestro de mulheres e de crianças, forçando a conversão dos “infiéis”. Dados dos serviços de inteligência dos EUA estimam haver mais de 15 mil cidadãos, de 80 nacionalidades diferentes, que integram o bando criminoso. Esse contingente inclui cerca de 2 mil europeus e outros 100 norte-americanos, os quais podem retornar aos seus países para promover ataques contra inocentes no Ocidentes. Segundo denunciado por uma mãe desesperada, pelo menos um brasileiro se juntou àquelas falanges da intolerância e do radicalismo.
Os resultados da passagem da presidente Dilma por Nova York constituem mais uma evidência de que interesses ideológicos capturaram uma politica que deveria ser de Estado. Dito de outra maneira, a lógica partidária insiste em se sobrepor à generosa visão do todo nacional, o que é perigosamente antirrepublicano.
A crítica mostrou-se tão destoante que nos situou além do Governo russo, ora às voltas com grave contencioso com as potências Ocidentais, após os episódios ainda não superados na Ucrânia. Com efeito, a Rússia do presidente Putin já declarou seu apoio à intervenção militar em território iraquiano com o propósito de debelar os invasores terroristas, colocando de lado, mesmo que temporariamente, arraigadas diferenças com os EUA e a União Europeia. O próprio Secretário-Geral da ONU, Sr. Ban Ki-Moon teve oportunidade de emprestar seu apoio à inédita coalização organizada em torno do objetivo comum de destruir a ofensiva terrorista que agrava e ameaça a paz e a segurança não apenas no Oriente médio, mas de todo o mundo. Além do referido apoio, o dirigente máximo da ONU afirmou, acertadamente, que a ação deflagrada contra o Estado Islâmico prescindiria de autorização do Conselho de Segurança, por se tratar de entidade terrorista sem qualquer foro de legitimidade, portanto, perante a comunidade internacional.
Para se concordar com as declarações da presidente Dilma seria necessário acreditar na possibilidade de diálogo entre Estados nacionais com encapuzados sanguinários do Estado Islâmico. Só os muitos ingênuos ou desavisados apostariam que o Estado Islâmico seja capaz de entender linguagem que não seja da força. Tamanha ingenuidade beira a irresponsabilidade, inaceitável para um País que se pretende líder. Coincidentemente, suas declarações aconteceram horas após a decapitação de um turista francês por jihadistas argelinos ligados ao Estado Islâmico…
O Brasil é membro relevante e respeitado do sistema internacional. Essa ordem mundial é integrada por nós e dela somos beneficiários. A manutenção da ordem mundial é essencial ao nosso bem-estar e a nossas perspectivas futuras de desenvolvimento. Isto implica, porém, que também tenhamos responsabilidade na manutenção dessa ordem. Por fim, basta que se pergunte: depois da inolvidável passagem do furacão Dilma por Nova York, aumentaram ou diminuíram as chances de o Brasil ser percebido como país líder com aspiração legítima a integrar o Conselho de Segurança das Nações Unidas e outras instâncias e grupos com voz na governança do sistema internacional.

sábado, 27 de setembro de 2014

O Peron de botequim vai catequisar o mundo - Augusto Nunes

Augusto Nunes

26/09/2014
 às 0:22 \ Direto ao Ponto

Depois da eleição, Lula terá tempo para baixar na Síria e sossegar os companheiros degoladores com meia dúzia de conversas

No fim de 2008, depois de dar por inaugurado o Brasil Maravilha, o primeiro ex-operário promovido a presidente da República cismou que a ONU merecia um secretário-geral que, além de monoglota, nunca lera um livro nem sabia escrever. Nos dois anos seguintes, até que a ficha caísse, Lula caprichou no duplo papel: Conselheiro do Mundo e Solucionador de Conflitos Insolúveis.
O consultor planetário, por exemplo, tentou convencer o governo americano de que, vistos de perto, os aiatolás atômicos do Irã eram gente fina, que recorria a peraltices nucleares só para chamar a atenção dos adultos. O especialista em crises sem remédio abandonou de novo o local do emprego para baixar no Oriente Médio e ensinar que ódios seculares podem ser liquidados com uma semana de prosa & lábia.
Voto revoga prontuário, reiterou a campanha internacional. Lula bajulou genocidas africanos, perdoou dívidas bilionárias de tiranos caloteiros, ajoelhou-se no altar de Hugo Chávez, celebrou missas negras em companhia de assassinos psicopatas, rebaixou-se a amigo e irmão de abjeções como Muammar Khadafi, debochou dos presos políticos cubanos; fez o diabo. Mas a candidatura a comandante da ONU fez tanto sucesso quanto a ideia de instalar no governo paulista um poste disfarçado de Alexandre Padilha.
O padrinho pode ter sua segunda chance caso ajude a afilhada a provar que só a troca dos ataques aéreos por conversas civilizadas conseguirá encerrar o show de selvageria protagonizado pelo Estado Islâmico. Como constata o comentário de 1 minuto para o site de VEJA, não há no mundo alguém tão preparado quanto Lula para missões do gênero. A partir de novembro, ex-presidente estará liberado para sossegar os companheiros degoladores com meia dúzia de conversas.
Perdida a eleição, Lula não terá nada a perder além da cabeça.

A Mafia, em todos os seus estados (inclusive o pior...)

Quando eu me referi aos companheiros do partido totalitário como uma máfia, era no sentido alegórico, não exatamente analógico, ou literal. Como explica a etiologia do nome, se tratava, na origem, de uma associação de camponeses ou trabalhadores subalternos de defesa de seus interesses, contra o poder arbitrário dos latifundiários sicilianos. Bem depois é que ela derivou para o crime, primeiro como forma de vida, ou atividade econômica, mais tarde, já preparada e com regras próprias, para o exercício de um poder atemorizador, voltada à criminalidade extensiva, chantagens, extorsões, roubo dos recursos públicos, sequestro de ricos, etc. A máfia holliwoodiana é outra coisa diferente, muito ligada ao contrabando de bebidas, durante a Proibição (1918-1934), ao tráfico de drogas, desde sempre, e a todos os outros negócios que a original siciliana já fazia, inclusive comprar senadores, juízes, chefes de polícia e silenciá-los pelo terror e pela ameaça.
Não sabia que a "nossa" máfia enveredaria também rapidamente por todos os tipos de crimes, inclusive aqueles dos quais ainda não temos conhecimento. Um dia virá...
Paulo Roberto de Almeida 

Maquiavel

A versão de Lula para o roubo a banco

O ex-presidente Lula dá sua versão sobre um roubo a banco durante discurso em prol do candidato do PT ao governo paulista, Alexandre Padilha, em Santo André (SP)
O ex-presidente Lula dá sua versão sobre um roubo a banco durante discurso em prol do candidato do PT ao governo paulista, Alexandre Padilha, em Santo André (SP) (Vanessa Carvalho/Brazil Photo Press/Folhapress)
No melhor estilo socialista neanderthal, a propaganda eleitoral do PT na televisão elegeu os banqueiros como vilões nesta campanha. O ex-presidente Lula levou uma versão desse discurso para um palanque na cidade de Santo André, no ABC paulista, na noite desta quarta-feira. No tom jocoso que às vezes o aproxima do deputado-palhaço Tiririca e o afasta do mínimo de compostura que deveria sempre pautar o comportamento de um ex-presidente da República, Lula deu a entender que roubar um banqueiro não é nada de tão condenável. Disse Lula: "A coisa está tão grave que é pobre roubando pobre. Eu, antigamente, via: ‘Bandido roubou um banco’. Ficava preocupado, mas falava: 'Roubar um banqueiro… O banqueiro tem tanto que um pouquinho não faz falta. Afinal de contas, as pessoas falavam: ‘Quem rouba mesmo é banqueiro, que ganha às custas do povo. Eu ficava preocupado... Era chato, mas era… Sabe, alguém roubando rico”. A fala do petista só não foi a pior da semana (que ainda não acabou) porque o discurso da presidente-candidata Dilma Rousseff na ONU, equiparando os bárbaros decapitadores do Estado Islâmico (EI) às forças ocidentais que os combatem, ultrapassa todos os limites da infelicidade.

Livro: como os bandidos e os piedosos moldam as politicas públicas

O livro, que vai ser debatido em um Book Forum do Cato Institute, em Washington, trata unicamente das políticas regulatórias nos EUA, e não tem nada a ver, aparentemente, com o Brasil.
Na verdade, ele tem tudo a ver, e pode ser simplesmente traduzido da seguinte maneira:

Como mafiosos, traficantes e bandidos de alto coturno estabelecem, deliberada ou involuntariamente, uma coalizão prática com fundamentalistas religiosos, piedosos morais, mas totalmente ingênuos e ignorantes, para introduzir e manter políticas nocivas que afetam a todos e fazem a sociedade retroceder.

E então? Tem ou não tem a ver com o Brasil atual?
Pena que não vou estar para assistir...
Paulo Roberto de Almeida 

Bootleggers and Baptists: How Economic Forces and Moral Persuasion Interact to Shape Regulatory Politics


Book Forum
Thursday, October 9, 2014 12:00PM

Featuring the authors Adam Smith, Assistant Professor of Economics and Director, Center for Free Market Studies, Johnson & Wales; and Bruce Yandle, Dean Emeritus of the College of Business and Behavioral Science, and Alumni Distinguished Professor of Economics Emeritus, Clemson University; with comments by Susan Dudley, Research Professor of Public Policy and Public Administration and Director, Regulatory Studies Center, George Washington University. Moderated by John Samples, Vice President and Publisher, Cato Institute.

The “Bootlegger and Baptist” theory, an innovative public-choice theory developed more than 30 years ago, holds that for a regulation to emerge and endure, both the “bootleggers,” who seek to obtain private benefits from the regulation, and the “Baptists,” who seek to serve the public interest, must support the regulation. Economists Adam Smith and Bruce Yandle provide an accessible description of the theory and cite numerous examples of coalitions of economic and moral interests that desire a common goal. The book applies the theory’s insights to a wide range of current issues, including the recent financial crisis and environmental regulation, and provides readers with both an understanding of how regulation is a product of economic and moral interests and a fresh perspective on the ongoing debate of how special-interest groups influence politics. Please join us for an engaging discussion of why government regulation fails so often to attain the public interest.
 

REGISTER or Watch online Oct 9

Politica comercial externa e os efeitos da ideologia companheira -Editorial O Globo

Grato ao meu amigo Orlando Tambosi por transcrever esta matéria.
Paulo Roberto de Almeida 

Eis o resultado da ideologização da política externa. O Itamaraty nunca esteve tão distante dos interesses do país, submetido que foi ao alinhamento com vetustas posições terceiro-mundistas e antiamericanistas. O predomínio da ideologia sobre os interesses nacionais afetou a economia, principalmente o comércio.
Editorial do jornal O Globo:

Não se tem notícia de uma fase como esta dos 12 anos de hegemonia do PT, em que o Itamaraty tenha estado tão distante das formulações da diplomacia do país. Desde 2003, tornou-se impossível qualquer desalinhamento entre ideologia dos inquilinos do Planalto e a política externa, mesmo para defender interesses nacionais estratégicos. O Itamaraty passou a ser guiado pelas visões terceiro-mundistas e antiamericanistas do partido. Não se trata de uma mudança de eixo neutra e isolada, porque estas visões fazem parte de um todo, articulam-se com outras políticas, como o protecionismo, que reativou a tendência ao fechamento da economia, uma das razões da perda de competitividade da indústria.

O comércio exterior, em boa medida, passou a refletir as opções ideológicas de Brasília. Atreladas ao Mercosul, no qual a visão autárquica do governo brasileiro foi temperada pelo chavismo venezuelano e anabolizada pelo populismo argentino, as exportações brasileiras, principalmente de manufaturados, tiveram perigosamente ampliada a dependência ao bloco de comércio sul-americano. Em 2013, o peso do Mercosul, como destino das exportações, era maior que o do mercado americano: 12% contra 10%.

Enquanto se sedimentava esta dependência, cresciam as exportações de matérias-primas para a China, de minério de ferro e soja. O resultado foi a mudança de patamar das vendas brasileiras anuais de algo como US$ 100 bilhões para mais de US$ 200 bilhões. E o mercado chinês passou a disputar com a União Europeia qual o principal destino das vendas do Brasil, praticamente empatados em 19% do total das exportações cada um. Não é ruim o crescimento das exportações de matérias-primas. O problemático tem sido, por condicionamento ideológico, o Brasil se manter ligado a um Mercosul em crise, sem explorar as alternativas de acordos bilaterais que existem. O subproduto deste engessamento é a perda relativa de importância do mercado importador americano, ainda o maior do mundo, alternativa para as exportações de bens manufaturados e semimanufaturados barradas no Mercosul (menos aproximadamente quatro pontos percentuais de 2008 ao ano passado).

Passado o bom tempo para a economia mundial, as exportações brasileiras padecem com a diminuição de ritmo do crescimento chinês — de 10% para 7,5% ao ano. Reduz-se a pressão da China nos mercados, caem — ou sobem menos — as cotações de soja e minério, ajudando a gerar déficits na balança comercial do país, algo há muito tempo não visto. Importações não previstas de petróleo agravaram o quadro. E o cenário piora porque as exportações aumentaram a dependência para com as matérias-primas (de 28,9% do total em 2003 para 46,7% dez anos depois). A radiografia do comércio exterior chama a atenção do próximo presidente para reformas que precisará fazer na economia e a necessidade de gerenciar problemas técnicos sem partidarismos.

OS PONTOS-CHAVE

1 País passou a depender bastante do Mercosul, mas o bloco entrou em crise, devido à Argentina

2 Como a China ganhou grande importância para o Brasil, o desaquecimento chinês preocupa

3 A queda de preços internacionais de matérias-primas contribui para déficits comerciais brasileiros

4 Crise à parte, descaso de fundo ideológico com os EUA se reflete no comércio externo

5 Brasil voltou a ser essencialmente um grande exportador de matérias-primas Este é o primeiro editorial de uma série sobre problemas que terão de ser enfrentados pelo próximo presidente da República

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The Drama of Brazilian Politics: From Dom Joao to Marina Silva - Ted Goertzel and Paulo Roberto de Almeida (eds); Kindle ebook

Um novo livro quase saíndo do forno, minha gente, bem a tempo de ser lido ainda antes do primeiro turno das eleições presidenciais.
Qualquer que seja o resultado dessas eleições, no primeiro ou no segundo turno, o livro se sustenta, pelo seu caráter menos conjunturalista, e mais estrutural e analítico.
Eis o esquema do livro, e o seu Prefácio e a Introdução.
Estou revisando algumas coisas, preparando o expediente, providenciando um ISBN e escolhendo a capa, com meu amigo Ted Goertzel, um brasilianista da velha escola (como eu, aliás).
Paulo Roberto de Almeida
 
The Drama of Brazilian Politics:

From Dom João to Marina Silva


Edited by:

Ted Goertzel and

Paulo Roberto de Almeida

Dedicated to all Brazilians and their Foreign friends who are actively engaged in the building up of a modern democratic nation.


Table of Contents


Introduction, by Ted Goertzel
1.        The Drama of Brazilian Politics: from Dom Pedro to Marina Silva, by Ted Goertzel
2.        The Politics of Economic Regime Change in Brazilian History, by Paulo Roberto Almeida
3.        The Brazilian Presidency from the Military Regime to the Workers’ Party by João Paulo M. Peixoto
4.        A Woman’s Place is in the Presidency: Dilma, Marina and Women’s Representation in Brazil by Farida Jalalzai and Pedro G. dos Santos. 
5.        A Brazilian ex-President’s Public Speech: A Threat to the Existing Order? By Inês Signorini          
6.        Life without Turnstiles by Alipio de Sousa Filho
7.        The Changing Face of Brazilian Politics by Sue Branford and Jan Rocha
8.        Political Leadership and Protest in Brazil: The 2013 Vinegar Revolt in Comparative Perspective by Guy Burton
9.        Presidential Leadership and Regime Change in Brazil with Comparisons to the United States and Spanish America by Ted Goertzel
Authors

 
Preface
            This book was conceived by Ted Goertzel in the summer of 2012 as part of his life-long interest in Brazil and “elective affinity” with things Brazilian, going back to his days as a participant observer in the Brazilian student protests of 1966 to 1968. After publishing biographies of two of Brazil’s presidents, he found that there was very little scholarly literature on the role of the presidency in Brazilian politics and society. Rather than undertake such a comprehensive study on his own, he decided to consult some members of the Brazilian Studies Association to find colleagues who shared an interest in putting the Brazilian presidency in an historical perspective and a comparative context.
The experts who responded came from different countries – Brazil, England and the United States – and varied widely in their ideological and dispositions and professional backgrounds. We have made no effort to homogenize the chapters; each has a clear authorial voice. Paulo Roberto de Almeida, a diplomat doublé as academic, responded very enthusiastically to this project, and was able to contribute with his life-long acquaintance of all-things Brazilian and as well as a deep knowledge of American Brazilianists, a by-product of his “elective affinities” with this community of scholars.
The Brazilian Protests of mid-2013 took place as we were working on this project and stimulated us to think as much about Brazil’s future as its past. While the protests were largely unexpected in Brazil, they fitted into theories of presidential leadership and regime change. We wanted to use our historical and comparative research to offer what insight we could into the future.
We also wanted to make our work available in October, 2014, when interest would be high because of the Brazilian presidential elections. So we took advantage of e-book technology to bring the reader a volume that is both timelier and less expensive than traditionally published volumes. We plan to use the same technology to update the volume after the elections, and we invite readers to contact us with comments and suggestions, as well as with corrections for any errors they may find.
We expect this work to offer, both for scholars and for the general public, a comprehensive understanding of the Brazilian political system in its contemporary developments and challenges.
Ted Goertzel
Paulo Roberto de Almeida
September 2014


Introduction

By Ted Goertzel


This book is suitable for students of Latin American history, politics and economics, as well as for journalists, diplomats, activists, business people, and anyone interested in Brazil. It is up-to-date, but also deeply rooted in Brazilian history and in a concern with lasting social problems. The chapters can be read separately, although readers sketchy on Brazilian history might do best to begin with the first chapter, by ted Goertzel, which introduces the fascinating characters who played and are playing the leading roles in the drama of Brazilian politics.
The second chapter, by Paulo Roberto Almeida, covers Brazilian economic history from the time of the Empire to the present day. It is eminently readable with no economic abstractions, but with some statistical information. It focuses on major changes in the economic regime, not on day-to-day fluctuations in economic indicators, but on major trends. The first two chapters, taken together, give a substantial introduction to Brazil’s political economy.
Chapter three, by João Paulo M. Peixoto, gives a more detailed description of the politics and administrative practices of each of the Brazilian presidencies since 1964. Brazil was ruled by military governments from 1964 to 1985, but new presidents were installed regularly and there were important differences between their administrations. There are also many continuities, on both the political and the administrative level, between the military governments and the civilian governments that followed them. This chapter covers much of what is distinctively Brazilian about Brazilian government, as distinct from other Latin American countries.
Chapter four, by Farida Jalalzai and Pedro G. dos Santos, brings a distinctly feminist perspective to a discussion of the Dilma Rousseff government, as well as to the accomplishments and promise of Marina Silva, her leading opponent in the 2014 presidential election. Dilma Rousseff was Brazil’s first female president, and the fact that her leading opponent for the presidency is also a woman shows the remarkable progress that Brazil has made on gender issues.
In Chapter five, Inês Signorini introduces a linguistic perspective in examining the controversy over the speech patterns of Luiz Inácio Lula da Silva. Lula was Brazil’s first president without a university or military academy education, and his speech patterns reflect a working class background that appealed to many of his supporters but disturbed some middle class voters. Inês Signorini’s discussion highlights some important issues in Brazilian political culture.
Chapter six, by Alipio de Sousa Filho, gives a sympathetic account of the Brazilian protests of 2013, emphasizing the goals of the Free Pass movement and of the anarchist activists.
 Chapter seven, by Sue Branford and Jan Rocha looks at the political impact of the 2013 protests from the perspective of partisan politics and social movements, and especially on the 2014 presidential election campaigns. It concludes with a discussion of the reaction of the Workers Party and others on the left to the Marina Silva campaign.
The last two chapters place the Brazilian drama in theoretical perspective, drawing on concepts from political science.
Chapter eight, by Guy Burton, looks at the role of popular uprisings in Brazilian history, placing the protest movements of 2013 in a historical perspective that includes the monarchist revolts, peasant mobilization in the Canudos in the Northeast and the Contestado revolt in the south, the Vaccine Revolt of 1904, the Constitutionalist Rebellion of 1932, the pro and anti-military intervention demonstrations of 1964, the Diretas Já movement to restore democracy, and the movement to impeach Fernando Collor. Burton uses theories of presidential leadership to explain governmental responses to these movements.
The last chapter, by Ted Goertzel, uses a theory of presidential leadership taken from the work of political scientist Stephen Skowronek to compare Brazilian patterns of regime change to those in the United States and in Spanish America. It offers some insight into the alternatives for Brazil’s future.
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Wait for the pizza...
Paulo Roberto de Almeida

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Um debate sobre a concentracao de renda e o distributivismo estatal - neste blog

Permito-me destacar, arrancando-os das notas de rodapé que os tornam praticamente ilisíveis para a maior parte dos leitores, dois comentários que recebi a propósito desta minha postagem anterior:

Desigualdade: desaba a lenda da desconcentração
quinta-feira, 25 de setembro

Desigualdade: desaba a lenda da desconcentracao - Clovis Ross - See more at: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/09/desigualdade-desaba-lenda-da.html?google_comment_id=z12tf1grtwacfhusv22jul3hxwvkvrjet&google_view_type#gpluscomments

Desigualdade: desaba a lenda da desconcentracao - Clovis Ross - See more at: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/09/desigualdade-desaba-lenda-da.html?google_comment_id=z12tf1grtwacfhusv22jul3hxwvkvrjet&google_view_type#gpluscomments

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Desigualdade: desaba a lenda da desconcentracao - Clovis Rossi

- See more at: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/09/desigualdade-desaba-lenda-da.html?google_comment_id=z12tf1grtwacfhusv22jul3hxwvkvrjet&google_view_type#gpluscomments
Finalizo transcrevendo a minha própria resposta-comentário a um dos interlocutores:

Euclides Vega

1 dia atrás  -  Compartilhada publicamente
 
Professor, a notícia não revela que a politica distributiva falhou, mas, no máximo, que ela está chegando ao seu limite. Alem disso, revela uma incompetência do atual governo em aplicar a politica programática do governo anterior


Pedro Cunha

4 horas atrás  -  Compartilhada publicamente
 
Problema sério na pesquisa original que motivou a matéria jornalística. A base de dados do IR não é representativa da população brasileira. Pobre não declara imposto de renda, logo não está na base de dados! Houve queda sim, e o motivo foi que o pobre melhorou de vida, já o rico não piorou.
  

Minha resposta:
Paulo Roberto de Almeida:

Pedro Cunha,
Agradeço pelo comentário, o que mais uma vez nos confirma a fiabilidade muito relativa desses estudos sobre desigualdade, concentração da renda, com base nas metodologias de indicadores (Gini, Theil, etc) e nas pesquisas tipo PNAD ou via IRPF, como criticado. Como se trata de um tema sensível politicamente, ele se presta a vieses metodologicos de diferentes naturezas, e por isso caberia um trabalho multidisplinar, por um centro de pesquisas econômicas, utilizando abordagens complementares para séries históricas mais consistentes nos últimos 20 ou 30 anos.
Parece visível que houve uma desconcentração nos últimos 10 ou 15 anos, mas caberia determinar exatamente os fatores, os mecanismos e os impactos setoriais e sobre a inserção ocupacional das várias categorias.
Uma coisa é certa: existe uma tendência, em todas as esferas e estratos sociais, a subdeclarar e a minimizar a renda monetária e os ativos de diversis tipos, inclusive porque com um Estado fascista como o nosso todos têm medo de declarar todos os seus rendimentos, inclusive os não monetários.
Em todo caso, tenho por princípio sempre desconfiar de dados e análises de governos e de certos acadêmicos. Aí sobra muito pouca gente, não é mesmo: existem consultorias empresarias (tipo McKinsey) que não teriam interesse em deformar os dados. Orgãos multilaterais (tipo PNUD) ou plurilaterais, como OCDE, também poderiam ser considerados relativamente isentos,  mas os vieses políticos e burocráticos sempre existem.
Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 26/09/2014

Ebook: Conferencia Os Rumos da Politica de Comercio Exterior do Brasil - FGV-SP

É com grande satisfação que o CCGI – Centro do Comércio Global e Investimento da EESP/FGV, com o apoio da FIESP, CINDES, ABCI e Valor Econômico divulgam o e-book da

Conferência Os Rumos da Política de Comércio Exterior do Brasil
realizada dia 09 de setembro de 2014.

Durante a Conferência foram debatidos os principais pontos de uma proposta de agenda de Política de Comércio Exterior. Foram apresentados dados sobre as oportunidades a serem exploradas, resultados de modelagem de possíveis acordos e dados sobre a posição do Brasil com relação às cadeias globais de valor. Finalmente, foram discutidas medidas que possam gerar os ajustes necessários tanto em termos de atuação diplomática, quanto de reformulação da estrutura do comércio exterior do Brasil.

O e-book é composto pelo programa, minuta dos painéis e apresentações dos palestrantes, e está disponível para download no site do CCGI:

http://ccgi.fgv.br/en/confer%C3%AAncia-os-rumos-da-pol%C3%ADtica-de-com%C3%A9rcio-exterior-do-brasil

Vera Thorstensen
CCGI

CONFERENCIA OS RUMOS DA POLÍTICA DE COMÉRCIO EXTERIOR DO BRASIL
O superávit do comércio exterior brasileiro mostra declínio desde 2006. Caiu de US$ 46 bilhões em 2006 para US$ 2,5 bilhões em 2013, podendo apresentar déficit em 2014. 
Algumas razões são apresentadas para esse declínio: a crise econômica de 2008, que paralisou a economia global, sem que até hoje tenha ocorrido recuperação significativa nas grandes economias; a reorientação da economia chinesa, que resultou em taxas menores de crescimento, diminuindo a demanda por commodities, os principais produtos exportados pelo Brasil; a perda de competitividade global dos produtos industrializados brasileiros, cuja participação decresceu significativamente nas exportações de nosso país.
No entanto, uma visão mais aguda do quadro ajuda a detectar questões outras que poderiam explicar a atual perda de fôlego do comércio exterior brasileiro.
Além das questões de Custo Brasil, carga tributária, encargos trabalhistas e câmbio, debate-se, nos meios acadêmicos, se a perda de ímpeto do comércio não seria consequência da opção do País pelo multilateralismo, em detrimento dos acordos preferenciais de comércio, e pela ênfase no comércio Sul-Sul, fragilizando a alternativa Norte-Sul, que envolve os países desenvolvidos, com o consequente distanciamento das cadeias globais de valor. 
Diante desse quadro, o CCGI – Centro do Comércio Global e Investimento da EESP/FGV propõe a realização da Conferência Os Rumos da Política de Comércio Exterior do Brasil em que serão debatidos os principais pontos de uma proposta de agenda. Serão apresentados dados sobre as oportunidades a serem exploradas, resultados de modelagem de possíveis acordos, bem como a posição do Brasil com relação às cadeias globais de valor. Finalmente, serão discutidas medidas que possam gerar os ajustes necessários tanto em termos de atuação diplomática, quanto de reformulação da estrutura do comércio exterior do Brasil. 
O E-book com o programa, minutas e apresentações pode ser conferido AQUI.

Eleicoes 2014: o curral eleitoral do Bolsa Famila vale bem uma missa...

Aliás, não se trata de missa, mas de simples conta aritmética, como pode ser verificado abaixo:

Em 2014, o governo concedeu os seguintes reajustes:

Reajuste para Aposentados = 5,7%
Reajuste para Trabalhador ainda na ativa = 7,5%
Reajuste para o Programa Bolsa Família= 10%


Se não é um curral eleitoral, é demagogia pura e simples, ou provavelmente os dois...
Assinado:
Paulo Roberto de Almeida

Fundo Soberano: uso indevido - Julio Hegedus

Semprei fui contra o tal de FSB, que não é um Fundo, muito menos soberano e que não serve ao Brasil, mas ao governo esquizofrênico que andou desgovernando o Brasil e suas contas nacionais.
Sempre classifiquei essa aventura prejudicial como mais um crime econômico do lulo-petismo. 
Paulo Roberto de Almeida 

Uso indevido do Fundo Soberano

As eleições estão na reta final. Os candidatos intensificam suas campanhas e os assessores começam a fazer uma “sintonia fina” sobre detalhes dos programas em elaboração (ou já elaborados). Dentre os temas mais analisados, o mais polêmico talvez seja a gestão fiscal. A do governo Dilma é cercada de críticas em função das várias maquiagens fiscais utilizadas, uso abusivo de receitas extras, postergação de despesas, conhecidas como “pedaladas”, etc.
Para reforçar isto, o governo anunciou nesta semana mais um mecanismo considerado polêmico, o uso do Fundo Soberano (FSB) para fechar as contas deste ano. Foram R$ 3,5 bilhões mobilizados, quase que zerando este fundo, só restando R$ 300 milhões. Lembremos que em 2012, em dificuldade para atingir a meta, o governo fez a mesma coisa, usando R$ 12,4 bilhões, além de antecipar R$ 7 bilhões em dividendos. Como o aporte inicial era de R$ 14,2 bilhões, isto significa que já foi “raspado o tacho”. Somado a isto, o governo anunciou a antecipação de dividendos das estatais, em R$ 1,5 bilhão, o adiamento de R$ 7 bilhões em despesas e a revisão da arrecadação em menos R$ 14,7 bilhões.
De antemão, discordamos do uso do Fundo Soberano, visto que este só deve ser usado em momentos de crise e não em função da gestão fiscal
De antemão, discordamos do uso do FSB, visto que este só deve ser usado em momentos de crise e não em função da gestão fiscal. O problema é que nem assim será possível obter a meta para este ano (anunciada em fevereiro passado) de R$ 99 bilhões (1,9% do PIB). Com muito otimismo, chegaremos a algo próximo a 1,4% do PIB. Até julho deste ano, o superávit primário foi a R$ 24,7 bilhões e em 12 meses chegou a R$ 61,5 bilhões (1,22% do PIB), menor percentual desde outubro de 2009 (0,97%). Para obter a meta seriam então necessários mais R$ 74,3 bilhões no ano ou R$ 14,8 bilhões de superávit mensais médios. Apenas para lembrar: em junho e julho houve déficit de R$ 6,8 bilhões. Em complemento, a arrecadação federal de agosto foi a R$ 94,3 bilhões, em muito sustentada pela arrecadação do Refis, de R$ 7,1 bilhões. No ano, a arrecadação foi a R$ 771,8 bilhões, com avanço de 0,6% contra o mesmo período do ano passado.
A economia crescendo pouco e as várias desonerações e isenções praticadas nos últimos meses explicam este fraco desempenho. Já as despesas seguem crescendo acima do PIB, sendo de difícil redução, por serem rígidas ou “carimbadas” (cerca de 90% das de custeio). Com isto, o governo segue gerenciando-as na “boca do caixa”, adiando o que puder ser adiado, inclusive investimentos prioritários.
Neste cenário fiscal ruim, as propostas surgem entre os assessores dos candidatos. Armínio Fraga, ex-presidente do Bacen, ligado a Aécio, defende uma maior transparência nas contas públicas e as despesas evoluindo menos que o crescimento da economia. Nelson Barbosa, cotado para o ministério da Fazenda da Dilma, defende uma meta fiscal de 2,0% a 2,5% do PIB. Para ele, o ajuste fiscal é mais um desafio político do que econômico. Com a economia crescendo pouco neste ano e no próximo, dificilmente esta meta será obtida, dada a baixa arrecadação e a rigidez das despesas. Sendo otimista, o processo de ajuste será lento, demorando entre dois a três anos. Mansueto Almeida concorda com esta tese e defende um ajuste fiscal de longo prazo.




SOBRE JULIO HEGEDUS NETTO


Julio Hegedus Netto

Julio Hegedus Netto é economista-chefe da Lopes Filho & Associados, empresa de consultoria na área de mercado financeiro e de capitais. É bacharel em ciências econômicas pela Universidade Cândido Mendes (UCAM), tem mestrado em política economia pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e mestrado em estratégia empresarial pela UCAM. É professor de economia da UCAM. Suas áreas de interesse são: macroeconomia, economia internacional, conjuntura econômica e mercado financeiro.

Politica externa: diplomacia Sul-Sul chega ao Estado Islamico -Editorial O Globo

Editorial do jornal O Globo, 26/09/2014

Entre as marcas fortes destes 12 anos de administração petista, inclui-se a partidarização da política externa. Assim, tão logo Lula assumiu, a nova diplomacia brasileira começou a trabalhar contra as negociações com os americanos em torno da Alca, Aliança de Livre Comércio das Américas, sob aplausos do nacional-populismo já reinstalado no continente — Venezuela e Argentina, seus representantes mais proeminentes. De fato soterrou-se aquele projeto de integração Norte-Sul, e a diplomacia companheira fez o país mergulhar em outra direção, na política Sul-Sul, equivocada, como sabido.

A patética participação da candidata-presidente Dilma Rousseff na 69º Assembleia Geral da ONU mostrou outra faceta preocupante da “petização” da diplomacia brasileira: seu uso eleitoreiro, apenas para afeito da campanha da reeleição de Dilma. Neste caso, dizer que o Barão do Rio Branco enrubesce na tumba não é um bordão surrado.

Antes de representar o Brasil no discurso de abertura da assembleia, Dilma participou da Cúpula do Clima, com um providencial vestido vermelho, em óbvia obediência aos marqueteiros da campanha. Da tribuna da ONU, Dilma continuou no script eleitoreiro, ao fazer um discurso de prestação de contas de seu governo e dos oito demais anos de PT no Planalto, sem qualquer interesse para os representantes dos países.

Teve o mesmo objetivo a desastrada crítica, feita de forma mais clara em entrevistas, à ação militar da coalizão liderada pelos americanos contra o Estado Islâmico, grupo sectário tão radical e violento que foi desligado da al-Qaeda. Inspirada no antiamericanismo, agora com fins eleitoreiros, Dilma fez a inaceitável defesa dos jihadistas assassinos do EI, com base no conhecido discurso já usado sobre a guerra no Iraque — correto em si —, de que é necessário “dialogar”, em vez de sacar armas.

Fez uma inacreditável confusão. O EI não é um Estado, mas um bando armado, fanático, já conhecido por degolar jornalistas e, agora, um turista, filmar as atrocidades e colocá-las na internet como peça de propaganda. Esqueceu-se a diplomacia companheira que da coalização participam países árabes, o que aumenta a legitimidade da operação.

Da desastrosa passagem por Nova York sobram danos para o Brasil. Além do descrédito semeado por Dilma, há um novo distanciamento em relação aos Estados Unidos, cuja economia se recupera e pode compensar as perdas nas exportações nacionais causadas pela debacle Argentina. Outro dano é o virtual fim do projeto de obtenção do assento no Conselho de Segurança, elevando o status político brasileiro ao peso que o país já tem na economia mundial. Não se pode mesmo dar poder de veto no CS a quem protege sectários.

É uma imagem emblemática a cena do assessor especial da presidência Marco Aurélio Garcia, liderança petista, aboletado na bancada brasileira na assembleia geral. Simbolizava a tutela da política externa pelo partido.