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domingo, 17 de fevereiro de 2013

Acordos regionais de comercio: Brasil e Mercosul ficam sem nada

Esse e' o tema, alias, de meu proximo livro, que deve ser proximamente publicado. Acabo de corrigir a primeira prova, justamente atualizando os dados recentemente divulgados pela OMC.
Dizer que a politica comercial de Dilma e' cautelosa e' o que se pode chamar de understatement. A politica e' claramente defensiva, para nao dizer retraida, introvertida e claramente protecionista, operando um retorno inacreditavel aos anos 1970, nisso seguindo a Argentina.
Apenas espero que nao sigamos a Argentina no seu retorno, ainda mais inacreditavel, aos anos 1930, feito de controles de capitais, manipulacoes cambiais, restricoes generalizadas.
Paulo Roberto de Almeida

Brasil fecha só 3 acordos de comércio em 20 anos
No período, fracassou a Rodada Doha e o País abriu mercado somente para Israel, Palestina e Egito; para analistas, governo Dilma Rousseff envia sinais confusos
16 de fevereiro de 2013
Raquel Landim - O Estado de S.Paulo

Israel, Palestina e Egito. E apenas o primeiro está em vigor. Esse é o saldo de acordos de livre-comércio selados pelo Brasil desde 1991, quando se tornou membro do Mercosul. Nessas duas décadas, houve uma explosão de acordos bilaterais e regionais no mundo. Para os analistas de política comercial, os números mostram que o Brasil ficou para trás.

O anúncio na semana passada das negociações entre Estados Unidos e União Europeia para formar a maior zona de livre-comércio do planeta aumentou a pressão sobre o governo brasileiro, que adota uma postura cautelosa na área comercial por conta do tamanho e da complexidade da economia local.

"Nesse período, o mundo se mexeu muito, inclusive na nossa região", diz Soraya Rosar, gerente executiva da unidade de negociações internacionais da Confederação Nacional da Indústria (CNI). "O Brasil está fora das grandes cadeias produtivas."

Dados compilados pela Organização Mundial de Comércio (OMC) mostram que, até 10 de janeiro deste ano, 543 acordos bilaterais ou regionais haviam sido notificados (contando mercadorias e serviços em separado). Desses, 354 estavam em vigor - e pelo menos metade foi estabelecida de 2003 para cá.

Essa explosão de acordos bilaterais é uma consequência do fracasso das negociações da Rodada Doha, da OMC, que pretendiam derrubar barreiras ao comércio global, principalmente na área agrícola. "Estamos assistindo a substituição de Doha por um processo regional. E, em um mundo que se regionaliza, o Brasil tem poucos acordos", diz Sérgio Amaral, ex-ministro do Desenvolvimento.

Os Estados Unidos possuem hoje 14 acordos de livre comércio em vigor e estão com duas grandes negociações em curso: o acordo com a União Europeia e uma aliança entre os países do Oceano Pacífico, com exceção da China. A UE também tem em vigor 32 acordos, e até mesmo a China, que desperta medo nos países, já assinou 15 tratados.

Vizinhos. Na América do Sul, os acordos proliferaram. Peru e Colômbia seguiram o caminho de Chile e México e selaram, respectivamente, 12 e 11 acordos de livre-comércio, incluindo EUA e UE. Os chilenos abriram o mercado para 21 países, enquanto os mexicanos assinaram 13 acordos, conforme estudo da CNI.

De acordo com analistas, os países andinos estão colhendo os bons frutos da abertura de mercado. No ano passado, segundo projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI), as economias de Chile, Peru e Colômbia avançaram, respectivamente, 5%, 6% e 4,3%. Já o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil deve ter subido 1%.

Fontes do governo ponderam que os países andinos tem características muito distintas do Brasil, uma economia grande e complexa. Chile, Peru e Colômbia são dependentes das vendas de algumas poucas commodities e não possuem uma indústria desenvolvida - por isso, tem facilidades para fechar acordos.

"Um acordo bilateral não resolve tudo para um país com as características do Brasil. A opção multilateral é a mais correta, porque é o único fórum onde se pode discutir subsídios agrícolas", diz uma fonte. Um dos motivos do pouco esforço brasileiro em fechar acordos bilaterais nos últimos anos foi exatamente a concentração dos esforços na Rodada Doha, da OMC.

Ao deixar as negociações bilaterais em segundo plano, o Brasil fechou acordos de livre comércio apenas com Israel, Palestina e Egito e tratados de preferências tarifárias limitados com Índia e África do Sul. Além disso, em uma iniciativa controversa, trouxe a Venezuela para o Mercosul. A abertura efetiva do mercado venezuelano interessa à indústria brasileira, mas só deve estar completa em 2018.

Para Rubens Ricupero, ex-ministro da Fazenda, o Brasil não tem condições de avançar nas negociações internacionais, por conta da perda de competitividade da indústria: "Estamos paralisados por uma profunda crise de competitividade. Vamos levar anos para nos recuperar." O problema é que, enquanto isso, o mundo não para.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Juizes gulosos... e totalmente dispensaveis... (os do trabalho, que so dao trabalho e despesas)

Juízes do trabalho, pelo menos no sentido que se tem no Brasil, são uma contradição nos termos: eles são inerentemente criadores de conflitos, e demoram anos para julgar os dos usuários, além de custar uma fortuna aos cofres públicos -- ou seja, a cada um de nós -- sem que se vislumbre qualquer utilidade nas suas funções.
Com efeito, o Brasil é um dos poucos países no mundo a possuir essa coisa totalmente jabuticabal que é um juiz trabalhista. A maioria dos países resolve pendências trabalhistas por meios mais rápidos, mais práticos, menos custosos, desburocratizados, diretos: soluções de chão de fábrica, em primeiro lugar, com comitês paritários; depois soluções arbitrais; depois varas especializadas da justiça comum, e se tudo isso não resolver, vai para um juiz com competência na matéria. Sem palácios, sem muita burocracia, sobretudo sem alimentar uma gigantesca máquina de "adevogados" interssados nisso mesmo (pois ai é que ganham dinheiro) e a máquina ainda mais gigantes, custosa, morosa, quando não fraudulenta, dos tribunais do trabalho, chegando, invariavelmente, à mais alta corte do "vamos ver quanto tempo demora e por quanto vai sair a causa" (para você, contribuinte).
Se dependesse de mim, eu acabaria com a justiça do trabalho, passaria um trator nos palácios de Brasilia e das capitais -- ou melhor, destinaria esses monstrengos a escolas e universidades -- e simplesmente passaria a borracha dessa coisa jabuticabal que só cria conflitos, despesas e corrupção.
Aí estão eles, que não me deixam mentir...
Paulo Roberto de Almeida 

As contas da Justiça do Trabalho

16 de fevereiro de 2013
Editorial O Estado de S.Paulo
 
Alegando que o Executivo e o Legislativo estariam desrespeitando a norma constitucional que determina a revisão dos salários do Judiciário, a Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra) denunciou o Brasil à Corte Interamericana de Direitos Humanos por omissão legislativa "grave e iterativa". Para a entidade, ao se negarem a conceder reajustes anuais aos juízes trabalhistas, o Congresso e o Palácio do Planalto estariam "violando a independência remuneratória" da magistratura e a "mínima liberdade orçamentária" da Justiça do Trabalho. Segundo a Anamatra, entre 2006 e 2012 o poder de compra dos vencimentos dos juízes teria sofrido perda de 25%.
Na denúncia, que tem 95 páginas, a entidade afirma que, ao se recusar a recompor as perdas causadas pela inflação nos salários dos juízes trabalhistas, o governo brasileiro estaria comprometendo a vida pessoal e familiar dos integrantes da categoria. A entidade alega ainda que tentou reverter a situação no STF, impetrando mandados de injunção para assegurar "uma política remuneratória mais consistente para o Poder Judiciário", mas esses recursos até hoje não foram julgados, por causa da "excessiva morosidade" da Corte.
Segundo a denúncia, os ministros do STF não têm vontade nem determinação política de julgar os mandados de injunção por temerem "uma possível crise institucional entre os poderes da República". Para a Anamatra, só a intervenção de um organismo internacional - como a Corte Interamericana dos Direitos Humanos - asseguraria "impessoalidade" à discussão e evitaria uma "crise republicana". Especialistas em direito internacional afirmam que a iniciativa da Anamatra carece de fundamento normativo - até porque a Corte Interamericana de Direitos Humanos não poderia passar por cima da soberania brasileira, caso seus juízes acolham a denúncia.
Mas o problema não é jurídico nem político. É, isto, sim, de caráter moral. Afinal, os juízes que recorrem a uma justiça internacional não conseguem acertar com lisura as próprias contas. Uma semana antes de acusar o governo de não respeitar a Constituição, o Tribunal de Contas da União (TCU) proibiu os Tribunais Regionais do Trabalho (TRTs) de depositarem R$ 818,9 milhões nas contas de seus servidores, a título de pagamento de benefícios retroativos. Entre outras irregularidades, a auditoria do TCU descobriu que os TRTs fizeram cálculos equivocados, pagando aos seus magistrados o dobro da quantia de fato devida.
As investigações do TCU sobre o descontrole na folha de pagamentos dos TRTs começaram há cerca de três anos. Pressionado, o Conselho Superior da Justiça do Trabalho admitiu que os TRTs exorbitaram no cálculo dos juros e nas alíquotas de correção monetária, calculando em R$ 2,4 bilhões uma dívida que não passava de R$ 1,2 bilhão. Como até agora já foi pago R$ 1,5 bilhão, segundo reportagem do Estadão, o TCU quer que os juízes trabalhistas devolvam a diferença.
Além dos cálculos equivocados e da morosidade com que o Conselho Superior da Justiça do Trabalho enviou as informações solicitadas, o TCU suspeita de outras irregularidades. Uma delas diz respeito aos critérios utilizados pelos TRTs para incorporar o auxílio-moradia e o adicional de tempo de serviço aos salários dos juízes trabalhistas. Esses dois benefícios custaram cerca de R$ 957 milhões aos cofres públicos. Outras irregularidades envolvem a Vantagem Pessoal Nominalmente Identificada, sigla que abarca outros benefícios, e o cálculo do "abate teto", corte obrigatório de valores que excedem o teto do funcionalismo, no valor de R$ 28 mil. Em alguns TRTs, o TCU também descobriu servidores judiciais já falecidos que estariam recebendo "extras".
Diante da gravidade do que foi apurado pelo TCU, que autoridade moral têm os juízes trabalhistas para bater nas portas da Corte Interamericana de Direitos Humanos? Ou para se opor à proibição de patrocínio de empresas privadas a entidades da magistrados, que vem sendo estudada pelo Conselho Nacional de Justiça, e ao fim das férias de 60 dias dos juízes, medida proposta pelo presidente do STF, Joaquim Barbosa?

Macedonia de frutas macroeconomicas - editorial Estadao

Sempre me interroguei sobre a origem da palavra "macedônia", aplicada a salada de frutas, ou a legumes misturados. Deve ser porque a Macedônia histórica, desde antes de Felipe e Alexandre, sempre foi uma mescla de povos e de culturas.
No nosso caso, especificamente se tratando de política econômica, já nem deve ser Macedônia, mas talvez Sérvia, quem sabe Bósnia-Herzegovina, ou até mesmo Kossovo de medidas angelicais, tomadas pelos nossos doutos doutores e outros curandeiros econômicos.
O Brasil correu, no passado, o risco de "balcanização", com as revoltas regionais do período regencial, as tais de cabanagens, sabinadas, farroupilhas e outras pilhas de nervos provinciais e locais. Tivemos até a revolução constitucionalista de 1932, que alguns interpretam como a vontade separatista de S.Paulo. Nada disso foi adiante.
Atualmente, com exceção de alguns gaúchos malucos, ninguém mais pensa desmembrar o Brasil.
Mas sempre tem alguns malucos em Brasília fazendo de tudo para dar a impressão de que vivemos uma salada de frutas em política econômica.
Deve ser por puro acidente...
Paulo Roberto de Almeida

Mantega, juros e credibilidade

16 de fevereiro de 2013 | 2h 08
Editorial O Estado de S.Paulo
 
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, voltou a falar sobre o combate à inflação, recomendou a política de juros como principal instrumento e, mais uma vez, condenou o uso do câmbio para a contenção da alta de preços. Em outras condições, especialmente em países onde o Banco Central (BC) dispõe de uma clara autonomia operacional, aqueles comentários seriam considerados meras obviedades e descartados como irrelevantes. No Brasil, no entanto, são recebidos com atenção e chegam a influenciar, como ocorreu ontem, decisões tomadas no mercado de capitais. A atenção dispensada às palavras do ministro, nesse caso, só se justifica, tecnicamente, porque há dúvidas bem fundadas sobre três pontos essenciais para o entendimento e a avaliação da política.
Em primeiro lugar, o BC parece hoje muito menos independente do que havia sido até há dois anos e muito mais sujeito à intervenção, disfarçada ou nem tanto, da Presidência da República. Quem comanda, portanto, as decisões sobre juros?
Em segundo lugar, o próprio governo, em várias ocasiões, confundiu as formas de ação, recorrendo a instrumentos diferentes da política monetária para conter a inflação, ou, mais precisamente, a elevação do índice. O prolongado controle dos preços dos combustíveis é um bom exemplo desse tipo de interferência.
Em terceiro lugar, as autoridades têm demonstrado uma indisfarçável tolerância à inflação, gerando incertezas sobre a meta realmente escolhida. O alvo efetivo será uma taxa anual de 4,5% ou qualquer ponto até o limite de 6,5%? Em mais de uma ocasião a fala das autoridades tem justificado essa dúvida.
A própria meta de 4,5%, mantida há oito anos, é bem mais alta que a de outros países, tanto desenvolvidos quanto em desenvolvimento. Esse dado já é um forte indício de tolerância à alta de preços. Além disso, a inflação elevada tem coexistido com baixas taxas de crescimento econômico. Nem a mais comum justificativa - um estímulo adicional à atividade - valeria neste caso.
O ministro Guido Mantega parece consciente de pelo menos algumas dessas dúvidas, quando se põe, como fez ontem, a falar sobre a política anti-inflacionária. Sempre se acende um sinal de alerta no governo, disse ele, quando a inflação anual supera 4,5%. Se isso for verdade, o sinal deve estar aceso há muito tempo. Fica difícil, nesse caso, explicar por que a inflação chegou a 6,5% no fim de 2011 e a 6,15% nos 12 meses terminados em janeiro deste ano.
Se todas as palavras do ministro fossem precisas, seria igualmente difícil dar conta da política de juros. O BC iniciou uma série de cortes no fim de agosto de 2011, manteve essa política durante meses, no ano seguinte, e há algum tempo tem mantido a taxa básica em 7,25%. Oficialmente, dirigentes e técnicos do BC continuam à espera de um recuo "espontâneo" da inflação, isto é, de uma alta menor de preços mesmo sem um aperto monetário. Mas é difícil conciliar também esse dado com a história do sinal de alerta.
O ministro da Fazenda começou a falar sobre inflação, juros e câmbio há algumas semanas, depois de divulgada a inflação de janeiro, de 0,86%. Se o governo insistisse em manter os juros em 7,25%, especulou-se no mercado financeiro, o BC poderia intervir no câmbio para baratear o dólar. Isso afetaria os preços vinculados ao comércio internacional e ajudaria a conter o índice de inflação. Mas o resultado seria ruim para a indústria, porque encareceria os bens exportáveis e favoreceria a importação. Essa tática seria contrária à política de depreciação cambial defendida pelo ministro da Fazenda.
Ao recomendar um combate à inflação baseado nos juros, o ministro Guido Mantega pode estar abrindo caminho para uma nova mudança da política monetária. Essa hipótese foi considerada no mercado financeiro. Mas suas declarações podem ser também uma tentativa de estimular uma alta de juros no mercado, antes mesmo de qualquer decisão de política monetária.
Isso pode ser uma forma de terceirizar, espertamente, as funções do BC. O resultado pode ser também uma confusão maior na sinalização ao mercado, com maior perda de credibilidade para o governo. É esperar para ver.

Brasil viveu “décadas de isolamento internacional” - Parbleu!

Uau! Dessa eu não sabia: vivíamos isolados do mundo, e ninguém nunca nos disse nada.
Ufa! Ainda bem que nos tiraram da escuridão interior...
Paulo Roberto de Almeida   

Lula receberá prêmio em Nova York
15/02/2013 | 19:22

 O ex-presidente Lula será homenageado pela ONG International Crisis Group (ICG) no dia 22 de abril. Na ocasião, ele receberá o prêmio In Pursuit of Peace (Em Busca da Paz) durante um jantar em Nova York. A ONG justifica a vitória de Lula com seus programas sociais, que teriam tirado milhões de brasileiros da miséria, além da política externa praticada em seus oito anos de mandato. O principal objetivo da ONG é a solução de conflitos armados no mundo e, segundo organização, Lula foi responsável por tirar o Brasil de “décadas de isolamento internacional” e ter atuado na redução da fome na África, além de liderar forças de paz no Haiti e ajudar na solução de conflitos internos com países vizinhos.
 

Ingerencia nos assuntos internos? Amigos podem...

Primeiro foi com a Venezuela, agora com Cuba...
Onde estão os bons modos constitucionais de antigamente?
Paulo Roberto de Almeida

PT distribui dossiê contra Yoani
Veja, 16/02/2013

ASSESSOR DE GILBERTO CARVALHO TERIA AJUDADO A PLANEJAR ATAQUES CONTRA BLOGUEIRA CUBANA
Reportagem da revista Veja desta semana revela o envolvimento de militantes petistas -- e até de funcionário do Palácio do Planalto -- numa conspiração do governo cubano para desmoralizar a blogueira Yoani Sánchez em sua visita ao Brasil. Segundo a revista, o dossiê contra Yoani tem 235 páginas, foi distribuído pela Embaixada de Cuba em Brasília a militantes do PT e contém uma compilação de artigos publicados sobre a blogueira na ilha comunista, fotos e sórdidas montagens com insinuações de que ela teria se rendido ao dinheiro porque bebe cerveja, come banana e vai à praia. A blogueira Yoani Sánchez desembarca no Brasil nesta semana para divulgar o livro De Cuba, com Carinho, uma coletânea sobre o triste cotidiano do povo cubano sob a ditadura dos irmãos Fidel e Raúl Castro. O trabalho rendeu à dissidente uma perseguição implacável. Ela foi sequestrada, torturada e, durante anos, impedida de deixar o país. Para os sete dias em que permanecerá no Brasil, além de recrutar um grupo para desqualificá-la com o patético dossiê, o governo cubano teria escalado agentes para vigiá-la, tudo com conhecimento e apoio do PT, de militantes do partido e de pelo menos um funcionário da Presidência da República. De acordo com a reportagem, um assessor do ministro Gilberto Carvalho participou da reunião na embaixada, recebeu o dossiê e ouviu detalhes do plano de ataque.

Desajustes mentais: algo dificil de corrigir - Rolf Kuntz

Políticas macroeconômicas não são uma ciência exata, claro. Dependem muito da percepção dos seus autores-decisores, para saber em que medida, com qual grau de intensidade, usar mais ou menos uma alavanca monetária, cambial, fiscal, etc. Ou seja, existe certo grau de subjetivismo, e de improvisação no uso dessas ferramentas, tanto porque ninguém, nem os governos mais poderosos, podem controlar, ou determinar, o que outros parceiros estarão usando, como instrumentos similares, e qual o seu impacto nos fluxos diretos e indiretos de comércio e finanças que impactam a todos no mundo globalizado.
O mais importante, me parece, é ter uma percepção clara do ambiente externo e saber, com precisão, o que fazer, no contexto interno, para diminuir os efeitos negativos de quaisquer políticas (suas ou dos outros) e aumentar os efeitos positivos de ambas.
Em outros termos, é preciso primeiro fazer um diagnóstico realista da situação, para depois agir com grande grau de responsabilidade.
Este artigo de Rolf Kuntz mostra, infelizmente, que as autoridades brasileiras estão pouco preparadas para uma ou outra tarefa.
Os problemas não são falta de indicadores confiáveis, ou de estatísticas reais (como na Argentina, por exemplo). O problema está na cabeça das pessoas. E aí, estamos no brejo, para ser simples e direto.
Paulo Roberto de Almeida

Perdendo o bonde

16 de fevereiro de 2013 | 2h 06

Rolf Kuntz *
O fim da crise global poderá ser o marco de mais um fracasso brasileiro. Enquanto governos mais sérios tentam criar os alicerces de uma nova fase de prosperidade, Brasília continua discutindo a guerra cambial e brigando no Fundo Monetário Internacional (FMI) para adicionar alguns pontos de porcentagem a seu poder de voto. Nenhum país poderoso mudará sua política monetária ou fiscal para evitar reflexos no câmbio, nem a limitada redistribuição de votos afetará os rumos do FMI ou servirá ao desenvolvimento brasileiro. Economias emergentes e em desenvolvimento já têm votos mais que suficientes para exercer um respeitável poder de barganha. Mas só as autoridades brasileiras parecem acreditar num bloco dos Brics ou agem como se houvesse um alinhamento automático de países do Norte e do Sul. Pior para o Brasil. Quando o mundo entrou em recessão, em 2008, o País parecia um time promissor a caminho da primeira divisão. Poderá estar no rumo da terceira, quando o mundo rico voltar a crescer e a China tiver avançado em seus ajustes.

Nesse momento, os emergentes mais dinâmicos e governados com mais seriedade, incluídos alguns latino-americanos, já estarão ocupando seus lugares para a nova etapa de prosperidade. No meio da crise, uma economia mundial mais dinâmica está sendo forjada, com programas de reformas e novos pactos comerciais entre blocos e países de todas as regiões.

A recém-anunciada negociação de um acordo de comércio e investimentos entre Estados Unidos e União Europeia, os dois mercados mais ricos e mais desenvolvidos, é parte desse esforço de remodelação. As conversações entre países desenvolvidos e em desenvolvimento para a criação de uma Parceria Trans-Pacífico são um empreendimento aparentemente menos ambicioso. Mas essa iniciativa se soma a várias outras manobras para integração das economias da Ásia e do lado ocidental das Américas - com riscos evidentes para o comércio brasileiro, já afetado na vizinhança pela forte concorrência da China e de outras potências orientais.

O presidente Barack Obama citou as duas negociações em seu pronunciamento sobre o estado da União. Houve reações divergentes em Brasília. Alguns diplomatas apontaram o projeto comercial de americanos e europeus como um novo estímulo para a busca de acordos relevantes ou, no mínimo, para a conclusão das conversações entre Mercosul e União Europeia. Mas também houve quem menosprezasse a novidade e até duvidasse da formação do megabloco do Atlântico Norte.

Quanto a um ponto, pelo menos, parece haver coincidência de opiniões no governo: qualquer nova iniciativa do Brasil e de seus parceiros regionais dependerá da solução de problemas do Mercosul. Em termos concretos, o Brasil está amarrado aos problemas da Argentina e, portanto, às ambições políticas e às trapalhadas econômicas da presidente Cristina Kirchner. Nenhum acordo de livre-comércio será celebrado pelo bloco, ou por qualquer de seus sócios, enquanto a Casa Rosada estiver comprometida com a ala mais protecionista dos empresários argentinos. Por enquanto, no domínio dos Kirchners, há apenas o aprofundamento das políticas em vigor. As barreiras comerciais permanecem, o controle de preços se amplia (já com problemas de abastecimento interno) e as estatísticas oficiais continuam sendo feitas à moda da casa.

Mas a presidente Dilma Rousseff e seus estrategistas internacionais parecem aceitar como natural, sábia e confortável a vinculação da diplomacia e dos interesses comerciais do Brasil a políticas desse tipo. Aceitaram o golpe contra o Paraguai e apoiaram a admissão da Venezuela no Mercosul pela porta dos fundos. A maior potência industrial da América do Sul depende, para fixar suas metas internacionais, da disposição de um governo vizinho populista, trapalhão e desacreditado internacionalmente. Basta a opinião desse governo, diante da passividade brasileira, para determinar os caminhos e descaminhos do Mercosul. Criado para servir à integração regional e facilitar a inserção de quatro países na economia global, o bloco transformou-se num trambolho, um entrave a qualquer esforço mais sério e mais ambicioso de diplomacia econômica.

O Mercosul limitou-se a acordos com economias em desenvolvimento, nem sempre no alto das prioridades comerciais, e orientados frequentemente por preconceitos ideológicos. Nem os acordos com parceiros sul-americanos, os mais próximos, serviram de forma equilibrada à economia brasileira. Nem mesmo contribuíram para dificultar o ingresso crescente de produtos fabricados na Ásia. Essa invasão tem ocorrido mesmo no interior do bloco, onde o protecionismo argentino tem deslocado produtos brasileiros em favor de mercadorias fabricadas no Oriente.

Com o fracasso da Rodada Doha, o Brasil perdeu sua principal aposta no jogo das negociações. Nada sobrou além de um regionalismo de baixo retorno e de um terceiro-mundismo de centro acadêmico. A América do Sul ainda é o principal destino das exportações brasileiras de manufaturados, mas até nesse terreno o País tem dificuldade para competir.

Sem a rodada global, os governos mais adultos negociam acordos bilaterais e regionais. Esses acordos podem até complicar o sistema multilateral, mas são o jogo disponível neste momento - e o Brasil está fora. Nada mudará enquanto o governo confundir política internacional com passeata e subordinar sua diplomacia a interesses imaginários de blocos inexistentes, a começar pelo Brics. Se olhasse mais para o mundo, esse governo estaria de fato muito mais preocupado com as vantagens e desvantagens comparativas do Brasil e menos empenhado na retórica inútil da guerra cambial.

O papa Bento XVI anunciou a intenção de se isolar depois de abandonar o Vaticano. Dificilmente estará mais distante do mundo num convento do que estaria no Palácio do Planalto.


* Rolf Kuntz é jornalista.

Desajustes cambiais: um incomodo inevitavel - Celso Ming

O mundo viveu, entre o final do século 19 e o início da Primeira Guerra Mundial, a ilusão de que seria possível conviver pacificamente num sistema de câmbio fixo, então simbolizado pelo padrão ouro (na verdade, a predominânca da libra esterlina no comércio internacional).
Depois da descida aos infernos do conflito, e dos desalinhamentos e controles que dele advieram, o mundo tentou voltar ao antigo padrão, sem de verdade o conseguir.
A crise de 1929, e a desvinculação da libra do padrão ouro  em 1931 (ao qual ela tinha retornado em 1925) precipitaram o mundo na era das desvalorizações competitivas (e agressivas), que foi na verdade um não sistema monetário ou financeiro, feito de controles, restrições, medidas unilaterais e redução absoluta e relativa nos fluxos comerciais, financeiros e de investimentos. Depois veio a guerra.
Em Bretton Woods, se tentou corrigir o sistema, introduzindo um padrão ouro-dólar.
O mundo viveu, de 1946 até meados dos anos 1960, a ilusão de que poderia conviver pacificamente num sistema de câmbio fixo, que na verdade poucos respeitaram, a não ser, parcialmente, os EUA. Era a predominância absoluta do dólar no comércio e nas finanças internacionais, o que ainda não terminou, a despeito de crescente importância de outras moedas, a última das quais o yuan chinês.
A partir de 1971-73, o esquema de Bretton Woods veio abaixo, sem que nada tenha sido colocado em seu lugar, a não ser esses entendimentos frágeis entre as principais potências econômicas (G7), agora secundadas pelas intermediárias do  G20 financeiro.
Ou seja, vai se continuar falando que todos precisam se comportar razoavelmente bem no plano monetário e cambial, mas na verdade, cada país tenta tirar vantagens do não-sistema, usando moderadamente as alavancas que possui nos terrenos monetário e financeiro.
Nada temos a esperar deste ou de qualquer outro encontro do G20, pois os desalinhamentos vão continuar, embora sem as políticas agressivas do passado do entre-guerras.
Ou seja, não haverá guerra cambial, apenas fricções cambiais e monetárias.
Nada dramático, apenas irritante...
Paulo Roberto de Almeida
Celso Ming
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Diálogo de surdos

16 de fevereiro de 2013 | 2h 07
Celso Ming - O Estado de S.Paulo
 
É desconcertante que as 20 maiores autoridades econômicas e financeiras do mundo, de repente, entendam que a guerra cambial seja problema grave e que, no entanto, não reconheçam que estejam envolvidas nesse e em outros conflitos.

O assunto virou tão importante que atropelou a agenda do encontro de ministros de Finanças e presidentes dos bancos centrais do Grupo dos Vinte (G-20), que começou ontem e continua hoje, em Moscou. Mas nenhum desses senhores do mundo admite que esteja manipulando o câmbio. (Esta Coluna já desenvolveu o tema há dois dias, mas tem de voltar a ele pelos aspectos novos que traz.)

Apenas para relembrar, guerra cambial foi um termo criado em 2010 pelo ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega. Na ocasião, ele estava preocupado com o efeito sobre o câmbio do Brasil provocado pela ação do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), que vinha despejando (e continua a despejar) trilhões de dólares na economia, com o objetivo de reativar a atividade produtiva e o emprego.

Essa é uma política que descarrega boa parte da conta da crise sobre os vizinhos. Os mercados de câmbio ficam atolados em moeda estrangeira e se ajustam por meio da valorização das moedas nacionais (baixa do dólar). O resultado disso é o encarecimento do produto nacional em dólares e, portanto, a perda de capacidade de exportar.

No momento, a principal preocupação dos países ricos é o jogo do Banco do Japão (BoJ, banco central) que, por meio da troca maciça da moeda nacional por moeda estrangeira, provocou a desvalorização do iene de quase 20% desde o começo de outubro - veja o gráfico.

Diante do impacto da operação do BoJ, intensificada desde novembro, na última terça-feira as autoridades de Finanças das sete maiores potências do mundo (o G-7) já haviam sentido a necessidade de assinar um comunicado que condena a manipulação do câmbio. Mas as autoridades japonesas não só declararam que essa condenação não tinha a ver com elas, mas também que era a prova eloquente de que não vinham manipulando o câmbio. Ontem, a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde, inocentou o governo do Japão: "O que o BoJ faz é política monetária e não política cambial".

O presidente do Fed, Ben Bernanke, mantém seu discurso. Há meses vem declarando que não é operador de câmbio. O que ele chama de afrouxamento quantitativo (quantitative easing) não passa de recursos de política monetária. Limita-se à compra de títulos, logo, à emissão de dólares, para reativar a economia. Ontem ele repetiu em Moscou que essa política não prejudica outros países. Ao contrário, todos deveriam apoiá-la, afirmou Bernanke, porque deverá provocar a reativação da economia dos Estados Unidos - o que é do interesse de todos. E afirmou ainda mais: se algum país se sente prejudicado com ela - e aí vai uma paulada no ministro Mantega -, é consequência das opções de política econômica feitas por seu governo.

Há anos o governo dos Estados Unidos acusa a China de manter um câmbio artificialmente fixo e desvalorizado para favorecer suas exportações em detrimento das outras economias. Curiosamente, desta vez, não é a China que está mobilizando os dirigentes do G-7 e do G-20 contra essa guerra.

O presidente da França, François Hollande, é um dos que reclamam das consequências sobre a economia do seu país, provocadas pelas políticas cambiais dos Estados Unidos e do Japão. Mas o que ele quer não é propriamente o fim desse jogo. Deseja apenas que o Banco Central Europeu (BCE) sacuda sua inércia e também opere o câmbio para desvalorizar o euro e elevar a capacidade de exportação dos países da área.

Nesse diálogo de surdos, o G-20 pode até endurecer seu comunicado sobre o tema, que deve ser emitido hoje - como reivindicam os representantes do Brasil. Mas ninguém espere alguma mudança significativa na ação dos bancos centrais. Essa guerra tem tudo para continuar. Se não por outra razão, continua porque o fim do padrão ouro em 1971 destruiu a estabilidade entre as principais moedas e, de lá para cá, nada foi colocado em seu lugar. Aparentemente, somente a instituição de uma moeda única universal (ou um pequeno número delas) seria capaz de estabilizar o sistema monetário. Mas isso não está no horizonte de ninguém.

Duvida cruel: onde comeca a Europa? - Francisco Seixas da Costa

Acho até que não é difícil, com uma pesquisa em bibliotecas, arquivos e no Google, saber onde, ou por onde, começou a Europa, pelo menos aquela que conhecemos, espalhada por aqui e por ali, com suas dezenas de milhares de eurocratas, e algumas centenas de milhares de funcionários nacionais a vagar de um canto a outro, em aviões, trens, carros, bicicletas, sempre saindo de uma reunião e entrando em outra, seguidos, por sua vez, por um batalhão de intérpretes simultâneos, para pelo menos fazer uma das 75 traduções cruzadas entre o fino-ungárico e o basco (e o galego?).
Mas, aposto como ninguém sabe dizer onde acaba a Europa: alguns dizem que é na Turqui, outros em Gibraltar, quem sabe no polo norte, ou talvez no comitê do orçamento?
Em todo caso, toda essa perplexidade, está refletida nesta pequena crônica de um européen convaincu (hoje talvez um pouco desconfiado)...
Paulo Roberto de Almeida

Europas
Francisco Seixas da Costa
Blog Duas ou três coisas, 15/02/2013

Hoje, ao estacionar o meu carro na área da rua de S. Caetano reservada a algumas viaturas de quem trabalha no Centro-Norte Sul do Conselho da Europa, que atualmente dirijo, uma senhora parou em frente a mim e disse: "Eu conheço-o de qualquer sítio! É isso, vi-o na televisão! Trabalha 'na Europa', não é?".

Desvanecido com o reconhecimento, porque o nosso ego é afagado com maior facilidade à medida que avançamos (ou recuamos) na vida, disse que sim, e que agora trabalhava ali, numa estrutura do Conselho da Europa, como se podia ler na placa de estacionamento colocada na rua.

Sempre amável, a senhora inquiriu: "Essa coisa do Conselho da Europa é onde trabalha o dr. Durão Barroso, não é?".

Desta vez com uma paciência cuja dimensão a senhora não era obrigada a adivinhar, expliquei-lhe que não, que o dr. Barroso não mandava nada por ali. E, para sua aparente surpresa, disse-lhe que o Conselho da Europa é a mais antiga instituição europeia, criada em 1949, muito antes daquilo a que hoje se chama União Europeia, que é "onde trabalha o dr. Durão Barroso".

A senhora agradeceu e disse que se lembrava de ouvir dizer, há dias, que o primeiro-ministro português estivera no Conselho da Europa.

Aí voltei a esclarecer: o dr. Passos Coelho nunca esteve no Conselho da Europa, que tem sede em Estrasburgo, ao lado do Parlamento Europeu, mas sim no Conselho Europeu, que é a instituição onde se reúnem os chefes de governo da União Europeia, geralmente em Bruxelas.

"Mas o Parlamento Europeu não é em Bruxelas? Tenho uma amiga que trabalha lá".

Aí, críptico, expliquei: "Tem razão, o Parlamento é em Bruxelas mas também é em Estrasburgo. Reune lá uma semana por mês..."

"Há-de concordar que isto é tudo uma grande confusão!", disse-me a senhora, sorridente.

Aí retorqui: "Ó minha senhora! Concordo em absoluto! Nem a senhora sabe da missa a metade..." 

Argentina: ja falamos dela hoje? Agora, com o Chavez no estaleiro, sobra a CK...

De erro em erro, Argentina se isola

Editorial O GLOBO - 16/02/2013

Cristina Kirchner governa de acordo com suas necessidades imediatas e sem levar em conta graves consequências para o país


Cristina Kirchner governa de acordo com suas necessidades mais imediatas e adota medidas “da mão para a boca”, com desprezo para as graves consequências para o povo argentino e a credibilidade do país. O piloto, nesses voos rasantes e temerários, é o secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno.

Não é de hoje que a inflação tornou-se um problema para a Casa Rosada. Moreno, então, interveio no Indec (responsável pelos índices), que passou a produzir taxas fajutos de 10% ao ano. A inflação real, hoje de 25% e em alta, continuou sendo calculada por consultorias privadas, até que elas foram ameaçadas de processo penal pelo governo. Com isto, passaram ao Congresso a tarefa de divulgar os números. O país passou a ter dois índices — o oficial, que ninguém leva a sério, e o do Congresso. Como resultado, a Argentina já foi formalmente advertida pelo FMI e corre o risco até de ser afastada do Fundo.

Quando a manipulação dos índices se tornou insuficiente, o governo recorreu a Moreno para congelar os preços, a princípio até 1º de abril. As consequências não tardaram: começaram a faltar produtos nas prateleiras da Grande Buenos Aires. O desabastecimento é um subproduto inevitável do congelamento. Outro é o surgimento do “mercado negro”, no qual as mercadorias reaparecem, mas com preço mais alto. Ao governo K o que interessa é poder trombetear uma queda da inflação, mesmo que o anúncio careça de credibilidade. E também, com isso, conter as demandas por aumento salarial. Os sindicatos querem reajustes na faixa dos 30%, mas a Casa Rosada não quer ir além dos 20%.

A farsa do congelamento ensejou um novo capítulo da guerra dos governos K contra a imprensa independente, nomeadamente os grupos Clarín e La Nación. Moreno proibiu supermercados e cadeias de varejo de publicar suplementos com ofertas de produtos nas edições dominicais dos jornais, acabando com uma de suas principais fontes de receita.

A Argentina segue na rota do isolamento. Uma das maneiras é afrontar os EUA, à maneira chavista. Assim, a Casa Rosada produziu um acordo com o Irã para, supostamente, relançar as investigações sobre o atentado contra a associação judaica Amia, realizado em 1994, em Buenos Aires, com 85 mortos e 300 feridos. A Justiça argentina pede a extradição de oito iranianos envolvidos na ação, entre eles altos funcionários do atual governo de Teerã. Com o inédito acordo, a ser ainda votado pelo Congresso, Buenos Aires solicita a cooperação do criminoso, o Irã, para deslindar o que já sabe. A Casa Rosada é acusada de se render ao Irã ,e a comunidade judaica está possessa. Com razão, tudo indica.

Mas Cristina não quer ficar para trás em relação à Venezuela e, em menor grau, ao Brasil, na parceria com os aiatolás da bomba nuclear. Doa a quem doer. No caso, dói nos próprios argentinos.

Pausa para... um filme: Trem noturno para Lisboa

Infelizmente, ainda não terminei de ler o romance, filosófico como poucos...
Paulo Roberto de Almeida

Berlim – Trem noturno para Lisboa

Correio do Brasil, 15/2/2013 14:12
Por Rui Martins, de Berlim

Thriller político reúne resistentes ao salazarismo e torturadores da PIDE portuguesa.
Thriller político reúne resistentes ao salazarismo e torturadores da PIDE portuguesa.
Baseado num livro best-seller, Trem noturno para Lisboa é o longa metragem mais próximo do Brasil, exibido no Festival de Berlim. Embora não seja falado em português, os atores Jeremy Irons, Melanie Laurent, Jack Huston e Martina Gedek tentam dar um sotaque luso ao inglês, som no qual foi rodado o filme. Na verdade, o filme poderia ter sido feito em alemão, pois o livro no qual se inspirou, vem de Berna. Conta a história de um professor da Universidade de Berna, mas foi também escrito por um professor de filosofia dessa universidade. Ex-professor porque como o livro vendeu mais de dois milhões de exemplares, o professor Peter Bieri deixou Berna e vive atualmente em Berlim.
Quando escreveu o livro, romance contando justamente a busca de um professor de Berna, em Lisboa, de um filósofo e poeta português, preferiu utilizar um pseudonimo Pascal Mercier, pois como contou numa entrevista ao Diário de Notícias, de Lisboa, temia, na época, as consequências de sua audácia sobre sua carreira universitária.
Ainda mais que, num certo momento, a personagem do filme, Raimund Gregorius, fala de Berna como cidade entediante, mais ou menos como Clarice Lispector contava ao seu amante Samuel Wainer, quando era obrigada a viver em Berna, acompanhando seu marido diplomata brasileiro.
Porém, os temores de Peter Bieri eram infundados. Seu livro não se restringiu ao pequeno mundo suíço, mas teve sucesso em toda a Europa, tanto que o cineasta Bille August foi escolhido para fazer sua transposição para o cinema. E assim Comboio ou trem noturno para Lisboa, se transformou num filme de quase duas horas, bem menos que tempo necessário no longo trajeto de um trem noturno, nos anos 70, de Berna a Lisboa.
Ao salvar uma jovem portuguesa que tentava se jogar da ponte do Kirchenfeld, em Berna, o professor Raimund descobre um livro de filosofia, escrito por um certo Amadeu de Prado. Dentro do livro, havia uma passagem para Lisboa que Raimundo, numa decisão repentina, decide utilizar. A jovem salvada do suicídio desaparecera, mas não é ela o alvo de sua busca e sim Amadeu do Prado. Existe algum filósofo e poeta português com esse nome ? Uma espécie de outro Fernando Pessoa, que lutara contra a ditadura salazarista ? Ou se trata de uma personagem de Peter Bieri, aliás Pascal Mercier ?
Esse é o filme que se enriquece das ruas, dos bondes, das praças e da ponte sobre o Tejo. Contá-lo seria tirar o prazer da leitura do livro e da visão do filme.
Mas um resumo é possível – Amadeu do Prado era um médico, filho de juiz salazarista, amigo de Jorge, colega de universidade, apesar de uma diferença fundamental entre ambos – Amadeu era de família rica e influente, Jorge era filho de pobretões. No seu discurso de formatura, Amadeu provoca escândalo denunciando a ditadura, sua parceira a Igreja católica e se declarando ateu contra um Deus omniciente e omnipresente, invasor da intimidade das pessoas, e contra a imortalidade prometida aos fiéis, porque pior coisa não poderia haver do que ser condenado a viver para sempre.
O filme é thriller político, cujas personagens são os resistentes ao salazarismo e, do outro lado, os torturadores da PIDE, a polícia política portuguesa versão mais sofisticada do Doi-Codi dos nossos anos de ditadura. E também tem história de amor, pois a mesma mulher é amada tanto por Jorge como por Amadeu. É ela que detém os nomes dos resistentes que, na manhã do 25 de abril, vão derrubar a ditadura ao som de Grandola Vila Morena, na Rádio Renascença.
Não sei se o monopólio americano da distribuição dos filmes levará aos cinemas brasileiros essa história portuguesa, revelada pelo professor suíço. Se passar no Brasil, não perca, é um filme bonito de se ver. Em Portugal, imagino ser tão obrigatório como foi a Cidade Branca, do suíço Alain Tanner, fora do circuito turístico das cidades européias de Woody Allen.
Rui Martins, de Berlim, convidado pelo Festival.

Oposicao? Onde?? Alguem viu??? - Editorial OESP

A oposição, obsequiosa e muda

15 de fevereiro de 2013
Editorial O Estado de S.Paulo
 
Diante da emergência de governar sem o Orçamento, que o ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), impediu o Congresso de votar antes de decidir sobre mais de 3 mil vetos presidenciais, o Executivo baixou medida provisória ao arrepio da ordem institucional, arrogando-se o poder de gastar R$ 42 bilhões em investimentos quando teria de se limitar a gerir o dia a dia comezinho até o Legislativo decidir sobre em que se poderá utilizar o dinheiro arrecadado em impostos. Nenhum opositor teve forças para tugir ou mugir.
Os truques contábeis empregados pelo prestidigitador Guido Mantega no Ministério da Fazenda para dar um "jeitinho" nas contas públicas no fim do ano, condenados até por um especialista ouvido pelos atuais donos do poder, como o professor Delfim Netto, também passaram em branco pelos parlamentares que dizem dissentir de Dilma e de sua equipe econômica.
Seis anos depois do anúncio do milagre econômico a ser produzido pelo petróleo extraído no pré-sal e a dois e meio da "maior capitalização da história do capitalismo" com a venda de R$ 107 bilhões em ações pela Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), a Petrobrás confessou seu deplorável estado financeiro. O balanço de 2012 registrou queda de 36% dos lucros, seu valor caiu para 65% do patrimônio, a joia mais preciosa da coroa nacionalista despencou no ranking das petroleiras mundiais para o oitavo lugar e perdeu o posto de líder na América do Sul para uma colombiana. Nenhum tucano ou "demista" lamentou a derrocada.
Luiz Pinguelli Rosa, primeiro especialista em eletricidade no Partido dos Trabalhadores (PT), denunciou publicamente o desmanche da Eletrobrás para tentar salvar a petroleira. Na oposição, ninguém percebeu: tudo foi aceito como uma imposição inexorável dos fados. À exceção de gestores como o secretário de Energia de São Paulo, José Aníbal, que não aceitou a antecipação da renovação da concessão das usinas paulistas exigida por Dilma, e de tucanos mineiros que o seguiram nesta posição isolada, seus correligionários e aliados se comportaram como se nada houvesse a fazer. Na verdade, havia. Mas nenhum opositor se deu ao trabalho de repetir avisos dados por especialistas de que a redução da tarifa só seria sustentável se não comprometesse a distribuição da carga elétrica.
E, para confirmar o aparente inferno astral na virada da primeira metade do mandato da presidente para o segundo, a inflação bateu em janeiro o recorde em dez anos: a taxa de 0,86% foi a pior desde 2003.
Mas esta foi, parece, a gota d'água para a oposição calar e sumir de vez. Tido como pule de dez na escolha do tucano para tentar evitar a reeleição de Dilma ano que vem, Aécio Neves (PSDB-MG) fez súbita aparição no Senado para recomendar aos companheiros de bancada que não votassem em Renan Calheiros para presidente. Funcionou como uma senha pelo avesso: sua bancada deu os votos de que o peemedebista precisava para não ter de enfrentar algum intruso em eventual segundo turno.
Depois de passar um ano limitados a apresentar queixas formais contra o emprego pela presidente de convocações de redes de rádio e televisão para fazer campanha eleitoral antecipada, baixando tarifas de eletricidade e chamando-os de maus brasileiros, os opositores preferiram começar 2013 no silêncio obsequioso. Mineiros e paulistas, que controlam o PSDB, anteciparam a folga do carnaval. E a cúpula "demista" correu atrás do trio elétrico do PT baiano para ninguém dizer sobre eles que "só não foi quem já morreu". Ah, mas justiça seja feita: antes do longuíssimo feriado, todos trataram de espalhar à boca pequena que, depois do tríduo momesco, ressurgiriam na Quarta-Feira de Cinzas. Alguém aí ouviu uma voz oposicionista?
Pois é. Todas as notícias dadas no início desta nota devem passar a impressão de que o País poderia sobreviver melhor sem a gestão desastrada dos petistas. Mas, ó céus, como o PT faz falta na oposição combatendo gastos públicos, aumento do índice inflacionário, maquiagem contábil, malefícios ao "petróleo é nosso" e apagões a granel!

O que sera' que vao dizer nos corredores da Casa Grande?

Essa é fácil de responder:
"-- Mas você viu quem escreveu? Aquele jornalista de direita, que odeia o PT e o governo..."
Pois é, gente assim não tem nenhuma credibilidade, só merece o nosso desprezo...
E depois, não foi a Economist que criticou...
Mais um pouco e vamos passar a acreditar que todos os problemas derivam mesmo dos escritos de jornalistas mal intencionados.
Com o que se encontra plenamente justificado o "controle social da mídia".
CQD...
PRA

Dilma vai visitar uma ditadura Africana. E a fala de uma tal Edileuza…
Reinaldo Azevedo, 15/02/2013

Nos dez anos de governo petista, o Itamaraty, em nome do suposto pragmatismo, fez uma aliança preferencial com todas as ditaduras do planeta — desde, é claro, que os países em questão alimentassem ou as fantasias antiamericanistas de setores do petismo ou a conversa mole de uma política externa autônoma. Mais vagabundo moralmente do que essa proximidade é o discurso que a justifica. Leiam isto:

“Dilma mesma disse que, quando se trata de direitos humanos, todos podem melhorar, inclusive nós”. A frase, que leio em reportagem da Folha, é da subsecretária-geral política do Ministério das Relações Exteriores, embaixadora Maria Edileuza Fontenele Reis. Já houve uma Edileuza mais interessante: a empregada folgada e desbocada do humorístico “Sai de Baixo”, interpretada, então, pela atriz Cláudia Jimenez.

A que se referia esta senhora? Na próxima quinta-feira, a presidente Dilma Rousseff visita a Guiné Equatorial, governada, desde 1979, por um carniceiro chamado Teodoro Obiang Nguema Mbasogo. Escreve a Folha: “Na próxima quinta, Dilma participa da 3ª Cúpula ASA, que vai reunir representantes de 66 países da América do Sul e da África. Segundo a embaixadora Maria Edileuza, o encontro não é um foro de negociação de direitos humanos, mas de consolidação de laços econômicos, em especial na área de infraestrutura, energia e transportes.”

Edileuza, como a sua xará, não se contenta com uma besteira. Prefere logo dizer uma penca. A propósito: em 2010, Lula também visitou o país. Celso Amorim, então ministro das Relações Exteriores, classificou os questionamentos sobre direitos humanos de “críticas moralistas” e despejou, para nossa estomagação: “Negócios são negócios”.

Então vamos ver, pela ordem:
1: quando Dilma pronunciou aquela bobagem, estava sabem onde? Em Cuba! Chegara ao país pouco depois de um dissidente morrer na cadeia. Ao afirmar que todos tinham explicações a dar sobre direitos humanos, inclusive o Brasil, omitia o fato de que a ilha dos irmãos assassinos mantém presos de consciência e usa o aparelho repressivo do estado para esmagar adversários, a exemplo do que faz o tal Mbasogo. Comparações dessa natureza tornam democracias imperfeitas, como a nossa, piores do que são, e ditaduras asquerosas, como Cuba e Guiné Equatorial, melhores do que são;

2: não me oponho ao fato de que, nas relações externas, “negócios são negócios”. A China, em muitos aspectos, é uma Guiné Equatorial com séculos de tradição… Não faremos negócios com os chineses por isso? Bobagem! A questão é outra. Há modos de tratar do assunto. É perfeitamente possível deixar claro o repúdio a ditaduras, lembrando, no entanto, que um país não impõe a outro condicionantes dessa natureza no comércio internacional;

3: reduzir a preocupação com direitos humanos à mera “pregação moralista” é um ato de pura delinquência intelectual. De resto, é mentira até mesmo que o Brasil seja sempre pragmático. Infelizmente, é também ideológico;

4: tomem-se dois casos exemplares: Honduras e Paraguai. No primeiro, um movimento contragolpista depôs um bolivariano maluco, Manuel Zelaya; no segundo, um processo legítimo de impeachment derrubou Fernando Lugo.  O Brasil reagiu de maneira estúpida: tentou levar a guerra civil a Honduras, em apoio a Zelaya, e suspendeu o Paraguai do Mercosul, abrindo as portas para um ditador como Hugo Chávez.

O Brasil não precisa, de fato, impor uma pauta de direitos humanos aos países com os quais faz negócio. Mas poderia se dispensar do vexame de tentar minimizar as violências cometidas por “ditadores amigos”.
=========
Enquanto isso, em outras esferas...

O Globo, 16/02/2013
O vice-presidente da Guiné Equatorial, Teodorin Nguema Obiang Mangue, estava em Salvador quinta-feira quando a Justiça francesa expediu mandado de prisão contra ele, no processo em que responde por lavagem de dinheiro e desvio de recursos públicos estrangeiros. Mangue, que é filho do atual presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, deixou a capital baiana na noite da mesma quinta-feira, em avião oficial do governo de seu país.

Ele passou o carnaval em Salvador, deu grandes festas privadas, foi fotografado com autoridades como o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), e o deputado federal Antonio Imbassahy (PSDB), e participou do desfile do bloco afro Ilê Aiyê, que este ano saiu com o tema “Guiné Equatorial — da herança pré-colonial à geração atual”, em referência à luta contra a discriminação racial e à valorização da cultura africana na Bahia.

De acordo com o jornal francês “Le Monde”, o mandado de prisão foi expedido após Mangue faltar a uma audiência do processo, na última quarta-feira, em Paris. Nesse dia, ele patrocinava uma festa numa das três mansões que alugou para acomodar a delegação de seu país, na Praia de Busca Vida, em Lauro de Freitas, região nobre do litoral norte baiano. Zeca Pagodinho teria sido um dos artistas contratados para animar a festa.

Em Salvador, a Polícia Federal informou que não havia recebido até o início da noite desta sexta-feira o mandado de prisão expedido pela Justiça da França. A presidente Dilma Rousseff irá à Guiné Equatorial, no fim da próxima semana, para a reunião de cúpula dos países da América do Sul e da África. Segundo a embaixadora Maria Edileuza Reis, subsecretária-geral de Política do Ministério das Relações Exteriores, a escolha do país seguiu o critério do revezamento entre os dois continentes.
(…)

Por que no Brasil magnata precisa do BNDES?

Nao precisa, justamente. Eles poderiam, tranquilamente, se abastecer no mercado de creditos privado.
Mas e' que o BNDES e' um sorvedouro de recursos do Tesouro ( ou seja, de toda a populacao), especialmente dos trabalhadores (FGTS, FAT), e depois precisa sair por ai dando dinheiro para capitalistas abastados e megaempresas apenas para justificar sua existencia.
Uma distorcao completa, claro, so existente num pais anormal como o Brasil, no qual companheiros supostamente amigos do povo arrancam dinheiro do povo para dar a ricacos.
Paulo Roberto de Almeida

Por que no Brasil Lemann precisa do BNDES?
Fernando Dantas
Blogs do Estadao, 15 de fevereiro de 2013

A oferta de aquisição, junto com Warren Buffett, da multinacional americana de alimentos Heinz (conhecida pela tradicionalíssima marca de ketchup do mesmo nome) pela 3G Capital coloca em destaque os três bilionários brasileiros – Jorge Paulo Lemann, Marcelo Telles e Carlos Sicupira – que podem ser considerados os maiores símbolos nacionais do capitalismo liberal, desimpedido e agressivo. Desde o início da sua carreira, Lemann, ex-campeão de tênis (e também um dos pioneiros do surf no Brasil, detalhe menos conhecido), tornou-se conhecido, e até cultuado, como um visionário empreendedor, que aplica na prática, e com feroz zelo, as leis de mercado pregadas por Adam Smith e que contribuem mais para geração de riqueza para os indivíduos e para as nações do que qualquer outro sistema econômico.
A história dos bilionários brasileiros da 3G Capital é bem conhecida. Do ultra agressivo e competitivo (inclusive internamente) Banco Garantia, fundado no início da década de 70 e posteriormente vendido ao Credit Suisse, às aquisições espetaculares das Lojas Americanas e da Brahma, à fusão desta com a Antarctica na AmBev, e à posterior formação da Inbev (hoje Anheuser-Busch InBev), maior grupo de bebidas do mundo, com a fusão com a belga Interbrew.
Nos Estados Unidos, o trio esteve à frente da aquisição da Anheuser-Busch, fabricante da conhecidíssima cerveja Budweiser, pela InBev; da aquisição da empresa ferroviária CSX (a maior do Leste dos Estados Unidos); e, agora, a aquisição conjunta, por US$ 28 bilhões, da Heinz. Essas são, claro, apenas algumas das operações mais conhecidas dos três bilionários.
Nem é preciso mencionar a honra no altar do capitalismo que representa a participação numa operação como a da Heinz, de igual para igual (e inclusive com a 3G Capital no papel de operadora) com o mítico Warren Buffett, a maior lenda viva do mundo dos investidores. E não seria exagero dizer, como saiu na imprensa internacional, que Lemann (auxiliado por seus dois sócios de toda uma vida de negócios) é uma espécie de Buffett brasileiro, um investidor de fantástica eficiência e sucesso, que o colocam num patamar à parte dos seus pares. Aliás, Eike Batista, com sua fortuna oscilante e montada em negócios muito mais arriscados, já foi ultrapassado por Lemann (que tem US$ 18,8 bilhões, segundo a Bloomberg) no posto de brasileiro mais rico.
O economista Mansueto Almeida, especialista em contas públicas e política industrial, não mede palavras para descrever a nova operação da 3G Capital. “Eles são impressionantes, fascinantes, e mostram exatamente o que a gente espera de um capitalismo ultracompetitivo”, ele diz.
Na sua opinião, as operações internacionais, e especialmente nos Estados Unidos, de Lemann, Telles e Sicupira colocam em evidência virtudes que não são nada típicas dos grupos empresariais brasileiros e latino-americanos. O economista nota que os três investidores atuam de uma forma totalmente desvinculada do modelo de empresa familiar tão comum na região.
“Quando você se associa a um grande investidor lá fora, ele vai querer uma gestão totalmente profissional, formal, certamente não vai querer nada de família envolvido”, comenta Almeida. Ele acha inclusive que este detalhe pode ter ajudado a azedar a relação de Abílio Diniz com o grupo Casino, que comprou o Pão de Açúcar.
Outra característica da 3G, polêmica junto ao público em geral, mas muito popular em Wall Street, é a forma rápida e impiedosa com que cortam custos das empresas adquiridas. Almeida, que já teve contatos com executivos do grupo, lembra-se de relatos de como eles aplicaram na CSX sistemas desenvolvidos na brasileira ALL (da qual também participam) para reduzir drasticamente o número de controladores das composições. “Eles me disseram na
época que a ferrovia era muito mal administrada, e que eles sabiam que poderiam melhorá-la”, recorda-se o economista.
No caso do Burger King, Almeida lembra uma conversa na qual executivos do grupo revelaram que haviam feito uma avaliação do custo de tomar o controle do McDonald’s, que era fabulosamente alto. Foi dessa forma que a 3G pôde notar o quão barato estava o preço de adquirir o Burger King, US$ 3,3 bilhões. Naturalmente, para depois, com seus métodos agressivos de gestão, reformular a tradicional marca americana e expandi-la no mundo emergente.

Ironia
Mas o economista acha irônico que o trio de bilionários brasileiros, que é uma aula viva sobre o funcionamento e as vantagens do capitalismo liberal, aja em solo pátrio exatamente como o grosso dos grandes grupos nacionais, buscando todas as oportunidades de usufruir de financiamentos públicos subsidiados.
“Apesar de eles não precisarem de governo, como mostra esta operação da Heinz, aqui no Brasil eles têm vários empréstimos com o BNDES”, diz Almeida. Segundo o economista, entre os dez maiores emprestadores do BNDES em 2011, na categoria que inclui indústria e varejo, constam três empresas ligadas ao trio de bilionários: a AmBev, as Lojas Americanas e a B2W, resultado da fusão da Americanas.com com o Submarino. O total de créditos do BNDES às três em 2011, de acordo com Almeida, é de pouco mais de R$ 3 bilhões.
Ele observa ainda que a AmBev tem um ativo diretor de Relações Corporativas, Milton Seligman, ex-Ministro da Justiça de Fernando Henrique Cardoso e que ocupou vários cargos no setor público. O economista deixa claro que não está fazendo nenhuma crítica ao legítimo trabalho de Seligman, mas acrescenta que é típico no Brasil a importância de um diretor que se ocupa basicamente das relações com o governo e com os órgãos públicos.
“Esses são os melhores capitalistas brasileiros, um exemplo, e se dão muito bem lá fora, inclusive conseguem entrar no mercado americano, o mais competitivo do mundo, e comprar empresas e marcas históricas. Por que aqui dentro do Brasil eles precisam do BNDES?”, indaga Almeida.
Ele ressalva que não se trata de uma crítica particularista, aos três sócios da 3G. Afinal, como raciocina o economista, se há o dinheiro barato do governo, disponível, seria “burrice” por parte de três águias como Lemann, Telles e Sicupira se não o pegassem. E ele nota que a prática, obviamente, não se limita aos três. Outro sensacional homem de negócios e financista brasileiro, o jovem André Esteves, do BTG Pactual, também se aliou ao governo, entrando junto com a Caixa Econômica no banco PanAmericano. A própria Vale privatizada, uma potência internacional, também é grande usuária dos recursos do BNDES.
Essa absorção de financiamento público por parte de alguns dos mais audazes e competitivos capitalistas do mundo ocorre, continua Almeida, num momento de extraordinária expansão do BNDES. Os empréstimos do Tesouro para os bancos públicos saíram de R$ 14 bilhões, ou 0,5% do PIB, no final de 2007, para R$ 406 bilhões, ou 9,22% do PIB, ao fim de 2012. Ele nota que o salto de 8,7 pontos porcentuais do PIB é maior do que os dois grandes programas
americanos de saneamento financeiro e reativação da economia (respectivamente, de George W. Bush e de Barack Obama), lançados para tirar o país do abismo da crise financeira global.
Juntos, eles somam 8,4% do PIB norte-americano.
“Foi uma expansão brutal do BNDES, e, quando a gente vê esses financiamentos a capitalistas que absolutamente não precisam deste dinheiro, fica claro que boa parte desta expansão não era necessária”, critica Almeida.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Cuba e' o centro do mundo? Se nao e', parece...

Incrível capacidade que possuem os líderes latino-americanos, especialmente os hispano-americanos, de fazer de uma ilha decadente economicamente o foco de suas tratativas puramente bilaterais entre si, ou para questões que não necessariamente precisam do aval dos cubanos.
PRA

Canciller de Venezuela suspende visita a Perú por llamado desde Cuba

Elías Jaua
Elías Jaua, canciller de Venezuela, canceló su cita con el presidente del Perú, Ollanta Humala.

Según el diario El Universal de Caracas, Elías Jaua canceló cita este viernes con Ollanta Humala.

El ministro de Relaciones Exteriores de Venezuela, Elías Jaua, suspendió la visita que tenía agendada para este viernes con el presidente peruano Ollanta Humala y su homólogo peruano, Rafael Roncagliolo, en Lima, confirmó la Cancillería peruana.
Mientras que la agencia de noticias Efe habla de la suspensión de su visita “por problemas de agenda”, el periódico El Universal afirma que esta se dio por un llamado a Jaua desde La Habana, donde permanece internado y bajo estricta observación médica el presidente venezolano Hugo Chávez.
De otra parte, la agencia AFP señaló que una fuente diplomática dijo que "El presidente Hugo Chávez ha llamado al canciller Elías Jaua a La Habana, la visita (a Perú de Jaua) se ha postergado".
Horas después del anuncio de la visita hecho por un portavoz de la Cancillería se produjo la suspensión de la misma por problemas de agenda del ministro venezolano, con la posibilidad de ser reprogramada en las próximas semanas, según la agencia Efe.
La visita de Jaua a Lima fue anunciada después de que el presidente Humala estuviera en Cuba y se interesara por la evolución de la salud de su colega venezolano, Hugo Chávez, operado en ese país en diciembre último y que permanece aún en La Habana.
Humala se reunió el pasado 11 de enero con algunos familiares del mandatario venezolano y con el vicepresidente de Venezuela, Nicolás Maduro, en La Habana, tras manifestar a su llegada a Cuba que indagaría por la salud de Chávez.
La última vez que Humala visitó a Chávez en Caracas fue hace un año cuando acudió a un encuentro bilateral que concluyó con la firma de varios acuerdos de cooperación política y comercial.
LIMA
EFE y EL UNIVERSAL

US-EU FTA UP?; EU-MSUR DOWN? What more?

Sorry for the capital letters guys. Eu estava apenas querendo dizer que com essas prometidas negociacoes de um acordo para uma ZLC monstro entre UE e os EUA caminhando, as torturadas e tortuosas negociacoes de um acordinho birregional UE-Mercosul poderiam ir para o brejo. So be it...
Paulo Roberto de Almeida

Acordo comercial EUA-Europa indica desafio para Brasil
Ruth Costas
Da BBC Brasil em Londres
14 de fevereiro, 2013 - 17:55 (Brasília)

Possível acordo foi analisado como resposta à crise financeira global

A eventual aprovação de um acordo de livre comércio entre os Estados Unidos e a União Europeia pode representar o surgimento de novos desafios internacionais para o Brasil e outros países emergentes, de acordo com analistas ouvidos pela BBC Brasil.

O mundo assistiu a uma proliferação de pactos comerciais bilaterais e regionais nos últimos anos. Mas os analistas concordam que poucos têm um peso geopolítico e econômico tão grande quanto o esperado do acordo comercial EUA-Europa, que recebeu um pontapé inicial nesta semana.

O objetivo declarado de americanos e europeus é chegar o mais perto possível de uma área "transatlântica" de livre comércio e usar essa integração para impulsionar a geração de empregos e crescimento econômico.

O projeto precisará superar uma série de barreiras, mas se deslanchar o resultado pode ser a maior zona de livre comércio do planeta - um gigante reunindo metade do PIB e um terço de todas as trocas comerciais globais.

"Trata-se de uma espécie de resposta dos centros ‘tradicionais’ de poder econômico e político globais à crise econômica e ao fortalecimento dos BRICS - que pressionam por um mundo mais multipolar", diz a professora de relações internacionais Miriam Gomes Saraiva, que atualmente pesquisa as relações Brasil-Europa na Universidade de Oxford.

"Para o Brasil e outros emergentes que vinham se esforçando para ter mais peso em fóruns multilaterais e debates econômicos globais, em um primeiro momento um projeto que aponta para um maior alinhamento entre Europa e EUA não parece uma boa notícia", opina.

Para Erik van der Marel, especialista em negociações comerciais da London School of Economics, ainda é cedo para entender até que ponto o acordo poderia fazer produtores de outros países perderem mercados americanos e europeus para concorrentes locais. No entanto, ele acredita que é normal esperar que haja algumas "vítimas" do acordo em outros países.

No caso do Brasil, Saraiva diz que há muita convergência nas pautas de exportação brasileiras para os EUA e para a Europa - o que limitaria o impacto do acordo. Ela não descarta, porém, a possibilidade de que setores específicos possam sofrer com a concorrência de rivais do Norte nesses mercados, dependendo dos termos e perfil do acordo.

Divergências
Já para Stephen Barber, professor associado de políticas públicas na London South Bank University, o efeito do pacto transatlântico pode ser positivo até para países do Sul do globo.

"Se esse acordo ajudar os EUA e a Europa a retomarem ritmo de crescimento, todos vão ganhar. Até porque ambos estão entre os principais mercados de muitos países emergentes, como o Brasil"

O início das negociações sobre a "Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento" foi anunciado pelo presidente americano, Barack Obama, nesta quarta-feira. Americanos e europeus agora vão se dedicar a gestões internas e, segundo o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, devem se sentar à mesa para debater a integração em junho.

No total, o comércio bilateral movimenta US$ 646 bilhões por ano.

Além das tarifas, EUA e Europa também pretendem reduzir as barreiras "não tarifárias" ao comércio - regulamentações que encarecem os negócios - e facilitar investimentos bilaterais.

"Um comércio livre e justo através do Atlântico estimulará (a criação) de milhares de empregos bem remunerados para os americanos", prometeu Obama.

Desafios
As negociações não serão fáceis. Uma das questões politicamente intrincadas diz respeito aos subsídios a produtores locais oferecidos por governos dos dois lados - em especial, a Política Agrícola Comum europeia.

Ainda não está claro se o resultado do acordo pode ser uma redução efetiva desses subsídios, como sugere Barber, ou se americanos e europeus podem unir forças para resistir a pressões externas para cortar seus programas - ameaça levantada por Saraiva.

Algumas regulamentações específicas também podem ser um problema para a integração. A Europa, por exemplo, tem ressalvas sobre o comércio de alimentos geneticamente modificados, o que já causou disputas comerciais com os Estados Unidos no passado.

Autoridades americanas e europeias tem dado a entender que poderia haver um tratamento especial para o que elas chamam de "produtos sensíveis" - aqueles protegidos por grupos de interesses locais. "Em vez de um acordo de livre comércio radical também é possível que tenhamos uma versão 'light'", diz Marel.

Segundo Barber, para garantir que as negociações avancem de forma constante, o ideal seria que as partes envolvidas montassem uma estrutura institucional com tal missão - por exemplo, com um secretariado.

"Por muito tempo assuntos de segurança dominaram a agenda entre os EUA e a Europa, apesar da enorme importância das relações econômicas", diz Barber.

"As negociações para esse novo acordo são em parte um reconhecimento de que, apesar de todo o entusiasmo com o mercado chinês, a maior parte dos clientes dos dois lados ainda está aqui no Norte."

Guerra cambial: esses banqueiros enviesados contra nos...

Deve ser mentira: ou então se basearam no que disse o ministro da Fazenda, a pessoa justamente menos preparada para tratar de política cambial...
Esses banqueiros acreditam em qualquer um...
Paulo Roberto de Almeida

Brasil é o 4º mais intervencionista no câmbio, diz HSBC

País cai no ranking, pois no ano passado ocupava a segunda posição; Suíça e Japão são os países que mais intervêm

13 de fevereiro de 2013

Fernando Nakagawa, da Agência Estado
LONDRES - O Brasil deixou de ser um dos países mais ativos na proteção de sua moeda. A constatação é de um estudo divulgado nesta quarta-feira: o Ranking da Guerra Cambial. Produzido pela equipe de pesquisa global do banco britânico HSBC, o levantamento compara 36 moedas e a ação desses países no mercado. De zero a dez, o Brasil ficou com sete pontos na contagem dos mais intervencionistas no câmbio - o que lhe rendeu o quarto lugar da lista. Com dez pontos, Japão e Suíça dividem o título de mais ativos na defesa de suas moedas.
No estudo, economistas do HSBC compararam o comportamento de 35 diferentes países e também da União Europeia nos últimos 12 meses. Levaram em conta desde aspectos subjetivos, como os discursos e a retórica dos líderes econômicos, até itens comparáveis, como taxa de juro, volume de intervenções diretas, medidas regulamentares e programas de relaxamento quantitativo.
Feita a comparação, o Brasil recebeu sete pontos em uma escala que varia de zero - o menos intervencionista - até dez - o mais ativo possível. Além de medidas tradicionais de política monetária como corte de juros, o estudo diz que "a regulamentação tornou-se a tática adicional favorita dos emergentes".
O HSBC dá como exemplos a mudança de alíquotas de impostos ou novas regras para o mercado. "O Brasil é um exemplo notável disso, onde novas alíquotas passaram a ser cobradas em operações financeiras que estavam pressionando o real."
Com sete pontos, o Brasil divide o 4.º lugar no ranking com o Peru e Taiwan. À frente estão Colômbia, Venezuela e Turquia, com oito pontos, e Argentina, com nove pontos, além dos líderes Japão e Suíça, que têm a pontuação máxima.
Queda. No ano passado, o Brasil era mais intervencionista e estava em segundo lugar, atrás apenas da Suíça. "Um ano atrás, a intervenção era maior e visava a enfraquecer o real. Agora, há uma ação de duas vias para manter a relação entre o dólar e o real em um intervalo", diz o estudo, que sinaliza que o menor esforço brasileiro tem a ver com a cotação do dólar no Brasil que, nos últimos meses, tem oscilado entre R$ 1,95 e R$ 2,05.
Outro fator que explica o Brasil menos ativo é o custo dessa intervenção. "Uma moeda mais fraca pode aumentar a inflação. O Brasil usou sua moeda para estimular o crescimento, mas recentemente reconheceu que o impacto negativo disso é ter mais inflação", diz o relatório. Diante desse custo para a economia, o HSBC prevê que o governo brasileiro passará a agir de maneira "mais suave".
Atrás do Brasil no ranking estão todos os outros grandes emergentes e também as economias maduras: os Estados Unidos têm seis pontos, China e Reino Unido têm quatro pontos, Rússia e Chile fizeram três pontos e a Índia tem apenas um ponto. Na lanterna, Canadá, México e África do Sul têm zero ponto e recebem o título de menos intervencionistas no mercado cambial.
As perspectivas de curto prazo para a guerra cambial não são muito otimistas. Para o banco, atualmente são maiores as chances de um recrudescimento da disputa de moedas nos próximos meses, especialmente com uma possível reação do Banco Central Europeu e de países produtores de commodities. O estudo, porém, não cita quais os países produtores de produtos básicos poderiam reagir.

Teoria das (des)vantagens (nao)comparativas (ultra)relativas: o Brasil e o (nao)comercio internacional - Editorial O Globo

Em materia de comércio exterior, pode-se dizer, numa caracterização benigna, que o Brasil tem feito raríssimas coisas certas, para não dizer que fez tudo errado. Vejamos.
Primeiro, os companheiros inventaram um tal de "nova geografia do comércio internacional", que só existia na cabeça deles, já que todo mundo estava mesmo comerciando com base na velha geografia, ou seja, aquela que tem montanhas, vales, rios, oceanos, portos, grandes metrópoles consumidoras, países importadores de tarifas liberais, países em desenvolvimento protecionistas e todas as outras modalidades que são conhecidas há décadas, senão há séculos.
Depois tentaram consolidar essa "teoria" estapafúrdia num tal conceito Sul-Sul, que também só existia na cabeça deles, já que os do Sul estavam preferencialmente exportando para o Norte, e onde mais fosse, para o Sul também, especialmente para aqueles países que tinham inventado uma outra maravilha maravilhosa, a tal de "substituição de importações", em favor do Sul, claro, que o grande arauto dos povos defendia como sendo uma "diplomacia da generosidade", ou seja, que o Brasil deveria importar dos vizinhos e de outros países em desenvolvimento, mesmo que fosse mais caro e de menor qalidade, apenas por "ser do Sul", entendem?, e o Brasil, por ser grande, forte, generoso e rico, importaria ainda assim, pois assim é que os verdadeiros amigos do Sul deveriam fazer.
Alguém sabe me dizer se algum outro país -- do Sul, ou de qualquer outra latitude, longitude, altura e extensão como a nossa -- seguiu essa ideia maravilhosa?  
Claro, tudo isso era para "dar um truco" nos países ricos, e "não ficar dependente do comércio com os Estados Unidos", entenderam a estratégia inteligente?
Outro representante dessas novas teorias do comércio internacional até chegou a dizer que tinha sido uma maravilha o Brasil ter recusado a Alca, pois imagina o que teria acontecido conosco no quadro da crise americana??!! Teríamos afundado muito mais, entenderam,? mesmo tendo exportado mais para os malvados americanos, entenderam?
Em terceiro lugar, organizaram uma tais de conferências só do Sul, com aliados estratégicos, e também desenvolveram mecanismos de integração exclusivos, ou seja, excluindo o Império e os outros colonialistas e imperialistas, entenderam? Esses malvados só queriam manter-nos acorrentados ao velho padrão de comércio internacional Norte-Sul, pelo qual nó só exportávamos commodities e eles nos exportavam manufaturas. O tal de "intercâmbio desigual", entenderam? E ainda por cima com a tal "deterioração dos termos do intercâmbio", como ensinava mestre Prebisch, entenderam? Ou seja, com os imperialistas nós estávamos condenados a só exportar matérias primas, e ficar dependentes da importação de produtos de alto valor agregado.
Isso não! Onde já se viu? Tínhamos mesmo de desenvolver a nossa indústria, mesmo se para isso fosse preciso praticar subsídios generosos aos industriais amigos do rei e ser um pouquinho protecionistas, mas só um pouquinho, entenderam?
Finalmente, os companheiros, já tendo definido os nossos "aliados estratégicos", sugeriram que tínhamos mesmo de desenvolver o comércio com a China, com a Índia e outros parceiros preferenciais, esses caras que nunca foram imperialistas, hegemônicos, e que só trabalham para o nosso bem, entenderam?
E assim fomos, de etapa em etapa, com a maravilha do Mercosul e seus acordos maravilhosos, aumentando nosso comércio, graças à nossa generosidade e a dos nossos aliados estratégicos. Foi assim que chegamos ao perfeito comércio Norte-Sul, com a China, entenderam?, no qual conseguimos realizar a proeza de exportar 95% de commodities (cinco ou seis, no máximo), e de importar 95% de manufaturados, essas bugigangas chinesas que deixam os nossos bravos industriais da Avenida Paulistda de cabelos em pé, entenderam?
Não é uma maravilha a tal de "teoria das desvantagens pouco comparativas e ultrarelativas do (não)comércio internacional"? David Ricardo não teria elaborado teoria melhor, que merece figurar em todos os manuais de economia internacional. Ainda bem que temos os gênios companheiros que nos ajudaram a desenvolver essa brilhante elucubração da economia teórica e prática, a que nos elevou significativamente de patamar, e nos conquistou a admiração de todos os povos deste nosso planetinha redondo, desde os fenícios até os malvados americanos.
E não é que os americanos, sempre conspiradores, se preparam para nos passar a perna, dando um truco nas nossas pretensões? Pois a gente discute com a UE faz mais ou menos 15 anos um acordo de liberalização comercial -- já tendo abrido convenientemente o caminho para isso, implodindo a Alca, esse malvado projeto de anexação imperial -- e não é que agora os europeus traidores dizem que querem um acordo de livre comércio com o Império? Ingratos! Assimétricos! Anti-geográficos!
Me segura que vou ter um troço...
(Não, não sou eu; estou apenas fazendo figuração, entenderam?)
Paulo Roberto de Almeida

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Ideologia prejudica comércio exterior
Editorial O Globo, 14/02/2013

Os discursos anuais do Estado da União proferidos pelos presidentes americanos perante sessão conjunta do Congresso funcionam como peça política de afirmação de doutrinas, programas e linha de governo.
O feito no fim da noite de terça-feira por Barack Obama teve sua importância amplificada por se tratar de um pronunciamento balizador do segundo mandato do presidente, quando o governante tenta deixar sua marca na Casa Branca, sem se preocupar mais em disputar votos. Deseja encerrar a carreira política em cargos eletivos com um passaporte para a História.
Devido ao peso dos Estados Unidos, deve-se prestar atenção a tudo que emana do governo e Congresso americanos.
No caso deste discurso, destaca-se o anúncio formal feito por Obama de apoio às negociações bilaterais com a União Europeia sobre um acordo comercial transatlântico.
O Brasil tem interesse direto no assunto — ou deveria ter. E mesmo que os responsáveis pela política externa brasileira desdenhem este projeto, o país será afetado por ele, caso venha a ser fechado.
Em artigo no GLOBO de terça, o ex-embaixador Rubens Barbosa chamou a atenção para a fase de mudanças por que passa o comércio internacional, com a assinatura de vários acordos bilaterais, na esteira do fracasso da Rodada de Doha, de liberalização do comércio em escala planetária.
Deste processo de evolução o Brasil está alijado, por ter feito uma opção ideológica errada.
Como a política externa foi capturada pela visão terceiro-mundista simpatizante do chavismo e bolivarianismo, o comércio exterior brasileiro vai sendo engessado nas limitações crescentes do Mercosul, paralisado pela crise política, econômica e institucional da Argentina, situação agravada na absorção do bloco pela Alba, associação dominada por Chávez e os irmãos Castro.
Enquanto o Mercosul e o Brasil estão paralisados, o comércio mundial tende a fluir cada vez mais por meio de acordos entre economias e blocos.
Não faz muito tempo, Chile, Colômbia, Peru e México se uniram na Aliança do Pacífico, próxima dos Estados Unidos e Ásia. O México já é do Nafta, junto com os EUA e Canadá.
Há dias, países latino-americanos reuniram-se com a União Europeia, no Chile. Perda de tempo, devido à visão autárquica de argentinos, venezuelanos, equatorianos e bolivianos, aliados preferenciais de Brasília.
Não será fácil a negociação entre americanos e os 27 países da UE. Separa-os um contencioso semelhante ao que existe quando brasileiros e europeus tentam se entender: desentendimentos em torno de exportações agrícolas, o setor de serviços, proteção à propriedade intelectual, por exemplo.
Mas se trata de um gigantesco fluxo comercial de US$ 2,7 bilhões diários. Se chegarem a algum entendimento — importante para os dois —, o Brasil, amarrado a um Mercosul de tonalidade chavista, ficará mais para trás neste novo comércio internacional.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Diplomacia presidencial: desconhecimento e preconceito...

Declaração de Dilma sobre ação militar no Mali irrita governo francês
Por Murillo Camarotto | Valor, 
RECIFE - Não pegou bem em Paris a declaração da presidente Dilma Rousseff sobre a intervenção do exército francês no Mali. Após uma reunião com líderes europeus, há três semanas, Dilma afirmou que o combate ao terrorismo não deveria “reavivar antigas tentações coloniais”.
Ruy Baron/ValorEm reunião com líderes europeus, presidente Dilma criticou atuação da França no Mali
Fontes do governo francês informaram ao Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor, que a observação de Dilma foi muito mal recebida em Paris. “Um comentário como esse revela, acima de tudo, desconhecimento”, disse uma pessoa com trânsito na diplomacia francesa.
De acordo com a fonte, a operação militar está amparada nos requisitos necessários, como pedido oficial de ajuda pelo governo do Mali e aval da Organização das Nações Unidas (ONU). “A intervenção também conta com apoio dos países vizinhos ao Mali, que temem a proliferação do terrorismo na região”, reforça a mesma fonte.
Colônia da França até 1960, o Mali passa por uma onda de violência após o envolvimento de grupos terroristas de origem muçulmana e ocidental em disputas políticas locais. As forças francesas entraram em ação no dia 11 de janeiro, no momento em que rebeldes ameaçavam derrubar o governo local.
No último dia 24, Dilma se reuniu em Brasília com os presidentes da União Europeia, José Manuel Durão Barroso, e do Conselho Europeu, Herman van Rompuy. Na ocasião, a presidente cobrou solução para os conflitos no Mali, na Síria, em Israel e na Guiné-Bissau.
Dilma defendeu a submissão das ações militares às decisões do Conselho de Segurança da ONU e mencionou eventuais tentações coloniais. “O combate ao terrorismo também não pode ele mesmo violar os direitos humanos nem reavivar nenhuma das tentações, inclusive as antigas tentações coloniais", disse a presidente.
Na avaliação dos franceses, a declaração revela também o “desinteresse” do governo Dilma pela política externa. Os europeus reclamam de dificuldades em conseguir agendar reuniões e coletar informações junto aos ministérios e demais órgãos do governo. Os empecilhos, segundo os franceses, teriam aumentado após Dilma assumir a Presidência da República. 
Em um primeiro momento, os diplomatas franceses avaliaram a declaração como um arroubo presidencial e esperaram, em vão, por um esclarecimento do Ministério das Relações Exteriores. “Um país que tem a sexta economia do mundo e quer um assento no Conselho de Segurança da ONU não pode falar em colonialismo em pleno século 21”, arrematou a fonte no governo francês.
(Murillo Camarotto | Valor)

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Petrobras: triunfo (ilusorio) e tragedia (real) do lulopetismo...

A Petrobras conviveu, nos seus primeiros dez anos com presidências incompetentes, em sua maior parte, comandadas politicamente, e portanto com parcos resultados substantivos. Depois, tivemos duas décadas de regime militar, com gestão mais prussiana, mas também com resultados medíocres, em função de todo aquele stalinismo industrial, daquele nacionalismo rústico que sempre caracterizou o pensamento econômico (se pensamento havia) dos militares.
Depois foi a mediocridade da Nova República, embora se tenha tentado fazê-la avançar. A Constituinte, obtusa como era no plano econômico, confirmou as piores decisiões que se poderia esperar de estatizantes entusiasmados sobre como aproveitar (mal) os recursos nacionais e como atrasar ainda mais a exploração e transformação industrial do petróleo.
Com FHC e as emendas constitucionais de modernização econômica (e mental), a Petrobras adquiriu uma gestão profissional, tecnicamente sólida, e com a ANP pragmática foram abertos muitos campos à exploração conjunta, da Petrobras e de empresas estrangeiras.
Aí veio a praga do lulopetismo, com todos os vícios, mazelas, preconceitos, incompetências acumuladas de décadas passadas. Saíram anunciando grandes triunfos e colheram grandes tragédias.
Infelizmente todo o povo brasileiro vai pagar caro pela má gestão petista no comando da Petrobras, e mais ainda os acionistas.
Não falo só do valor de mercado da companhia, que já caiu pela metade, mas dos retrocessos acumulados na operação própria da companhia, e que vai ser difícil recuperar nos próximos anos.
Esta é mais uma das heranças malditas do lulopetismo, junto com a roubalheira do Mensalão, a deterioração das instituições, o recuo educacional, o aumento da corrupção e o atraso mental, claro.
Paulo Roberto de Almeida

A Petrobras especializada na fabricação de prodígios só existiu enquanto durou a quermesse dos patriotas de galinheiro
Augusto Nunes, 14.02.2013

“Quando a gente quiser ter orgulho de alguma coisa neste país, a gente lembra da Petrobras mais do que o Carnaval, mais do que o futebol”, comunicou em 29 de outubro de 2010 o ainda presidente Lula. “A Petrobras é a certeza e a convicção de que este país será uma grande nação”. Nem sempre fora assim, ressalvou o palanque ambulante. Fundada em 3 de outubro de 1953, a empresa nasceu de novo quando a Divina Providência presenteou o grotão sul-americano com o maior dos governantes desde Tomé de Souza.

Entre tantas ideias luminosas, foi Lula quem descobriu que a estatal merecia ser comandada pelos companheiros José Eduardo Dutra e José Sérgio Gabrielli. Em dois anos e meio no cargo, o Zé geólogo ajudou o chefe a desmatar a trilha que conduz à autossuficiência em petróleo. Nos seis anos seguintes, o Zé economista ajudou o chefe a localizar a rota que leva às jazidas do pré-sal ─ um colosso nas funduras do Atlântico que antecipou a inauguração do Brasil Maravilha.

“Vamos usar esse petróleo para resolver um problema crônico de investimento na educação e para tirar esse atraso”, anunciou Lula em agosto de 2008. “Vamos usar parte desse dinheiro para resolver o problema dos miseráveis desse país, das pessoas que ainda não conquistaram cidadania”. Já de olho no gabinete presidencial, Dilma Rousseff achou essencial explicar que “o pré-sal é um recurso tão importante para a nossa geração e próximas que é de fato um conjunto da população brasileira”.

Enquanto tentavam entender a primeira frase, os ouvintes foram apresentados pela Mãe do PAC a outras preciosidades em dilmês primitivo. “Isso define o princípio que vai nortear o governo sobre seu uso, que é tomar todas as medidas para transformar esse grande recurso em fonte que vai permitir que os brasileiros tenham melhoria da educação, das condições que permitirão que avancemos em direção à sociedade do conhecimento, que inova e faz pesquisa, e pela forma que chegamos ao pré-sal”.

Em setembro de 2009, no discurso transmitido por uma cadeia nacional de rádio e TV, Lula concedeu ao pré-sal o título de “Dádiva de Deus”, reduziu a traidores da pátria os que ousaram duvidar da eficácia da Petrobras, condenou à danação eterna os pessimistas de ofício e, caprichando na pose de Pedro III, proclamou a Segunda Independência. Terminado o palavrório, milhões de crédulos sem cura foram dormir na OPEP. E só neste começo de 2013 deixaram de sonhar com o litro de gasolina abaixo de 10 centavos.

Um ano depois da substituição de Gabrielli por Graça Foster, despertadas pelo desabamento dos lucros e dos investimentos, as vítimas da tapeação enfim começam a enxergar o que a fantasia em frangalhos procurou esconder. A autossuficiência em petróleo nunca existiu. A aventura do pré-sal não desceu do palanque. As jazidas de dimensões colossais jamais foram vistas fora da imaginação dos engarrafadores de nuvens. A festa acabou. E agora, Josés? O que tem a dizer a dupla de nulidades? E o Primeiro Farsante, tem algum álibi a apresentar?

A estatal de matar de inveja qualquer similar estrangeira é tão real quanto a transposição das águas do São Francisco, o trem-bala, a erradicação da miséria, o terceiro aeroporto de São Paulo, a inocência de Lula ou a competência de Dilma Rousseff. A Petrobras especializada na fabricação de prodígios só existiu enquanto durou a quermesse dos patriotas de galinheiro.
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 Gonçalo Osório: O estranho sumiço da tropa de choque que sempre estrila quando é citado o santo nome da Petrobras
Augusto Nunes

Transcrevo na íntegra o comentário do meu amigo Gonçalo Osório sobre o post que tratou da Petrobras. (AN)

Uma observação a respeito desse excelente texto teu sobre a Petrobras. Estranha a ausência da tropa de choque da própria empresa, que sempre estrila (afinal, tem mais jornalista contratado do que 2/3 da imprensa brasileira) quando o santo nome dessa estatal é citado. Não é preciso ser sequer estudante de sociologia para entender que existe, numa empresa daquele tamanho, um espírito corporativo (como existe no Banco do Brasil, na Receita Federal, e por aí vai) que começa a reagir às barbaridades cometidas contra a própria empresa (portanto, contra seus integrantes concursados) pelo sindicalismo safado e corrupto que é a principal característica do lulopetismo.

Curiosa e irônica essa volta da história: antes acreditava-se que seria necessário lutar contra esse espírito corporativo para privatizar essa estatal; agora espera-se que esse espírito corporativo amacie o estrago causado pelo lulopetismo. Isso talvez explique a ausência dos chiliques com que o aparato de comunicação montado na estatal entrava em campo toda vez que surgia alguma crítica ao santo nome da Petrobras. A corporação acha que é o PT quem está apanhando — e deixa o chicote cair — e não a Petrobras. O que vem a ser uma boa desculpa para a própria ineficiência.

Os erros estratégicos do atual governo surgem em cada setor que se examina: energia, transportes (aeroportos incluídos), saúde, educação, política monetária e, com o anúncio das negociações entre EUA e UE para um amplo acordo de comércio, também no comércio exterior. Eu tenho a sensação chata de que o país vai sendo sufocado, manietado, travado, oprimido, sugado, espoliado e, sinceramente, só textos como esse teu ajudam a respirar e dizer: ainda há vida inteligente por aqui.

Happy Valentine's Monopoly Day!: worse off...

Certamente, as passagens vão ficar mais caras, o serviço pior, e o desemprego setorial vai aumentar...
Viagens aéreas estão ficando piores do que ônibus centro-americanos, atualmente...
Paulo Roberto de Almeida

American Airlines and US Airways announced that they were merging, the last of the big American carriers to do so. The deal creates one of the world's biggest airlines.