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segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

O fascismo soft (e ordinario) do poder - Marco Antonio Villa

Os que me leem regularmente, sabem o que eu penso da política, dos políticos, do poder e da economia, atualmente em vigor no Brasil.
Não preciso dar explicações a ninguém sobre o que penso, como penso e por que o faço, desta maneira que faço, ou seja, totalmente independente, espírito anárquico (o que não quer dizer anarquista), sem peias, sem disciplina, sem qualquer submissão ao poder ou aos que mandam. Sou inteiramente livre, para desgosto de alguns que aqui aparecem, que gostariam da mesma rendição às falcatruas que cometem, direta ou indiretamente, da mesma submissão que obtiveram de tantos, por pressão, ameaças, dinheiro ou suposta afinidade ideológica. 
Não sou comprável, nem "submetível", e por isso posso postar, e comentar o que me apraz, até reações raivosas daqueles mesmos que gostariam que todos concordassem com as falcatruas, mentiras, fraudes e desonestidade que veem sendo servidas ao povo brasileiro, com a complacência de políticos -- inclusive os de uma suposta oposição -- que não se pejam em atacar a imprensa, ou seja, os meios livres, pelos poucos ataques que merecem sua conduta a todos os títulos deplorável.
Por isso mesmo, continuo, com meu espaço de resistência à mentira, à fraude, à omissão, à burrice, à má-fé e à desonestidade de todos aqueles que pertencem aos círculos que pertencem não por mérito, mas por adesão ao que de pior a política brasileira já produziu desde tempos imemoriais.
O Brasil, infelizmente, passou a viver, ou já está vivendo, desde algum tempo, sob um regime que poderíamos descrever como de Cleptocracia, ou seja, um sistema organizado com base no roubo sistemático dos bens públicos (que são recursos da sociedade) pelos que controlam o poder, em diversas esferas. A Cleptocracia se espalha por todos os poros da sociedade, como uma peste que sufoca gradativamente a sociedade.
Não que não tivéssemos corruptos e ladrões antes do atual sistema: não, eles existiam e estavam bem vivos. Apenas que o que era feito de forma desorganizada, assistemática, de forma praticamente artesal, no máximo manufatureira incipiente, passou a ser feito de forma sistemática, organizada, em escala industrial, avassaladora, um sistema montado para justamente fraudar os cidadãos e as empresas, arrancando todos os recursos que são possíveis de serem extraídos pelos meios disponíveis, legais e ilegais, de todos os modos.
Cleptocracias, como esta do tipo que se instalou no Brasil, são difíceis de serem extirpadas. Que o diga a Venezuela, que hoje paga o preço da antiga cleptocracia tradicional que tinha se instalado no poder, e que foi substituída por uma nova, mais eficiente do que a anterior.
O Brasil vai ter um imenso trabalho para extirpar a sua. Não imagino uma "limpeza" antes de uma geração completa, aí por meados dos anos 2020, depois dos 200 anos de independência, que podem ser passados ainda sob o mesmo regime que inaugurou a vida nacional: antes eram traficantes de escravos, escravocratas, ladrões de terra, aproveitadores de cargos públicos, enfim, amigos do alheio. Hoje podemos substituir os traficantes de escravos pelos demagogos oportunistas, que se locupletam com base nos muitos pobres e ignorantes que ainda existem no Brasil. Processos históricos são lentos e imprevisíveis. Chegaremos lá, mas vai demorar...
Paulo Roberto de Almeida 

Ministério da Verdade
Marco Antonio Villa, historiador  professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)
Folha de S.Paulo, 9/01/2012

Estamos vivendo um tempo no qual os donos do poder exigem obediência absoluta.
No Congresso, a oposição representa apenas 17,5% das cadeiras. O governo tem uma maioria digna da Arena. Em 1970, no auge do regime militar, o MDB, partido de oposição, chegou a examinar a proposta de autoextinção. Quatro anos depois, o mesmo MDB venceu a eleição para o Senado em 16 dos 22 Estados existentes (no Maranhão, o MDB nem lançou candidato).
Ou seja, a esmagadora maioria de hoje pode não ser a de amanhã. Mas, para que isso aconteça, é necessário fazer algo básico, conhecido desde a antiga Grécia: política.
É nesse terreno que travo o meu combate. Sei que as condições são adversas, mas isso não significa que eu tenha de aceitar o rolo compressor do poder. Não significa também que eu vá, pior ainda, ficar emparedado pelos adversários que agem como verdadeiros policiais do Ministério da Verdade.
Faço essas ressalvas não para responder aos dois comentários agressivos, gratuitos e sem sentido do jornalista Janio de Freitas, publicados nesta Folha nos textos “Nada mais que o Impossível” (1º de janeiro) e “Meia Novidade” (3 de janeiro). Não tenho qualquer divergência ou convergência com o jornalista. Daí a minha estranheza pelos ataques perpetrados sem nenhuma razão (aparente, ao menos).
A minha questão é com a forma como o governo federal montou uma política de poder para asfixiar os opositores. Ela é muito mais eficiente que as suas homólogas na Venezuela, no Equador ou, agora, na Argentina.
Primeiro, o governo organizou um bloco que vai da direita mais conservadora aos apoiadores do MST. Dessa forma, aprova tudo o que quiser, com um custo político baixo. Garantindo uma maioria avassaladora no Congresso, teve as mãos livres para, no campo da economia, distribuir benesses ao grande capital e concessões aos setores corporativos. Calou também os movimentos sociais e sindicatos com generosas dotações orçamentárias, sem qualquer controle público.
Mas tudo isso não basta. É necessário controlar a imprensa, único espaço onde o governo ainda encontra alguma forma de discordância. No primeiro governo Lula, especialmente em 2005, com a crise do mensalão, a imprensa teve um importante papel ao revelar as falcatruas -e foram muitas.
No Brasil, os meios de comunicação têm uma importância muito maior do que em outras democracias ocidentais. Isso porque a nossa sociedade civil é extremamente frágil. A imprensa acaba assumindo um papel de enorme relevância.
Calar essa voz é fechar o único meio que a sociedade encontra para manifestar a sua insatisfação, mesmo que ela seja inorgânica, com os poderosos.
Já em 2006, quando constatou que poderia vencer a eleição, Lula passou a atacar a imprensa. E ganhou aliados rapidamente. Eram desde os jornalistas fracassados até os políticos corruptos -que apoiavam o governo e odiavam a imprensa, que tinha denunciado suas ações “pouco republicanas”.
Esse bloco deseja o poder absoluto. Daí a tentativa de eliminar os adversários, de triturar reputações, de ameaçar os opositores com a máquina estatal.
É um processo com tinturas fascistas, que deixaria ruborizado Benito Mussolini, graças à eficiência repressiva, sem que se necessite de esquadrões para atacar sedes de partidos ou sindicatos. Nem é preciso impor uma ditadura: o sufrágio universal (sem política) deverá permitir a reprodução, por muitos anos, dessa forma de domínio.
Os eventuais conflitos políticos são banais. Por temer o enfrentamento, a oposição no Brasil tenderá a ficar ainda mais reduzida e restrita às questões municipais e, no máximo, estaduais.

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