segunda-feira, 27 de agosto de 2012

A dificuldade de inovar no Brasil - Ciencia Hoje online



A dificuldade de inovar

Apesar das políticas voltadas para a inovação, distância entre universidade e empresa continua grande e produção industrial brasileira desacelera. Governo, academia e indústria debatem estratégias para tornar a ciência brasileira mais competitiva.
Por: Marcelo Garcia
Ciência Hoje online, em 21/08/2012 
A dificuldade de inovar
Superar a resistência histórica das empresas à inovação pode impulsionar a competitividade do país no mercado internacional. Hoje, o Brasil importa tecnologia e produtos industrializados em diversas áreas. (foto: Flickr/ MorBCN – CC BY-NC-SA 2.0)
Segundo o Relatório de Competitividade Global de 2012, o Brasil é o 53º país do mundo em inovação, cinco posições acima da que ocupa no Índice Global de Inovação. O Barômetro Global da Inovação, que avalia a percepção do ambiente de inovação de 22 países, nos coloca no 17º lugar do grupo. Os dados são recentes, mas o quadro nem tanto: apesar de ocupar posição louvável na produção científica mundial (13ª), o Brasil ainda não cobriu o fosso que separa seu setor produtivo das universidades e segue com dificuldade de inovar.
As iniciativas, leis e políticas de estímulo e investimento que caracterizam o ambiente de inovação brasileiro foram o foco do Congresso da Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica (Abipti), realizado na semana passada, em Brasília. Cientistas, representantes de instituições públicas de pesquisa e empresários discutiram aquele que consideram um dos principais gargalos nacionais: como transformar a excelência da pesquisa científica brasileira em práticas inovadoras.
Presente ao evento, o ministro de Ciência e Tecnologia Marco Antonio Raupp destacou a importância de fortalecer a relação entre universidade e setor produtivo e voltou a defender o papel das instituições científicas e tecnológicas nesse processo.
“O Brasil tem boas bases científica e industrial, mas os dois caminhos se desenvolveram separadamente; as empresas nacionais nunca se preocuparam em competir no mercado global”, afirmou. “O papel das entidades de pesquisa, desenvolvimento e inovação é criar pontes entre os dois universos.”

Confira a opinião dos participantes do congresso sobre a evolução da inovação no Brasil


Beija sapo

Fechar esse ‘ciclo de inovação’ depende da superação da histórica aversão ao risco das empresas brasileiras. Segundo o diretor representante daFraunhofer no Brasil, Eckart Bierdümpel, somente cinco em cada mil ideias inovadoras conseguem ser lançadas com algum sucesso. “Ou seja, é preciso beijar muitos sapos para conseguir um príncipe”, completou.
Rezende: “Nas últimas décadas, as grandes questões eram a inflação e a qualidade. Só depois veio a inovação”
Para o presidente do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi) Jorge Ávila, a criação de um ambiente favorável à inovação passa justamente pela redução do risco. “Isso pode ser alcançado por medidas como a coparticipação do Estado e a desoneração tributária, por exemplo”, destacou, “além de necessários avanços na área de propriedade intelectual e industrial.”
O ex-ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação Sergio Rezende lembrou, no entanto, que a própria discussão sobre inovação é recente nas empresas. “Nas últimas décadas, as grandes questões eram a inflação e a qualidade. Só depois veio a inovação”, afirmou. “Em todo país com industrialização moderna, o governo teve papel central na criação de um ambiente favorável à inovação, com investimento educacional, estímulo à pesquisa nas empresas e à interação com a universidade, além de incentivos fiscais.”

Confira a opinião dos participantes do congresso sobre a posição do setor empresarial na cadeia de inovação

Um incentivo adicional à inovação pode estar nos resultados de uma pesquisa apresentada pela consultoria Innoscience. O grupo acompanhou durante cinco anos as 31 empresas nacionais de capital aberto mais inovadoras e registrou uma valorização 100% maior de suas ações em relação às das empresas mais valiosas da Bolsa de Valores de São Paulo. 

A política da inovação

Colocada como prioridade nos últimos governos, a inovação ganhou nos anos 2000 diversas regulamentações e iniciativas a ela direcionadas, como a própria Lei de Inovação e a Lei do Bem, que visam estimular a parceria público-privada e o investimento empresarial na área.
“Inovar para competir, competir para crescer”, lema do Plano Brasil Maior, política industrial lançada no ano passado, reflete bem esse ímpeto inovador – também representado pela criação de redes como o Sistema Brasileiro de Tecnologia e de iniciativas como a Empresa Brasileira de Inovação Industrial e o Código Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, em tramitação no Congresso Nacional.
Mesmo com a proposta de  elevar o investimento em C,T&I para 1,8% do PIB,  governo  realizou corte de mais de 20% no orçamento da área em 2012
Paradoxalmente, o país vive umquadro de desaceleração da produção industrial nos últimos anos, destacado pelo gerente executivo de inovação e tecnologia da Confederação Nacional da Indústria, Jefferson Gomes. “Há algumas décadas, a indústria de transformação já representou quase 30% do PIB brasileiro, mas hoje não chega a 15%”, lamentou. Gomes apresentou o projeto de instalação dos institutos Senai de inovação, que visam auxiliar as empresas brasileiras a inovar. 
O próprio investimento governamental em ciência, tecnologia e inovação derrapou no início do ano. Mesmo tendo assumido o compromisso eleitoral de elevar o investimento na área para 1,8% do PIB até 2015, como lembrou Rezende, o governo federal anunciou um corte de mais de 20% do orçamento da pasta para este ano – a princípio um reflexo da crise global que não sinaliza mudanças nos rumos da política nacional.

Confira a opinião dos participantes do congresso sobre a legislação e as políticas de inovação do Brasil

O presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) Glauco Arbix defendeu a prioridade de investimento em ciência, tecnologia e inovação, além da educação, nesse momento de crise. “Qualquer outro discurso é paliativo; precisamos agregar valor ao que produzimos ou continuaremos a viver de soluços.” Arbix também comentou sobre o processo de transformação da Finep em uma agência de fomento, que poderá dar mais flexibilidade para a instituição atuar na gestão de risco tecnológico e no estímulo à inovação no país.
Marcelo Garcia
Ciência Hoje On-line

Um comentário:

  1. "That's one small step for man, one giant leap for mankind..."
    *Neil Armstrong

    http://www.washingtonpost.com/neil-armstrong-first-man-the-on-moon-dies-at-82/2012/08/25/e8d3580c-eef3-11e1-b624-99dee49d8d67_video.html?tid=video_carousel_3

    http://www.washingtonpost.com/national/health-science/neil-armstrong-first-man-to-step-on-the-moon-dies-at-82/2012/08/25/7091c8bc-412d-11e0-a16f-4c3fe0fd37f0_story.html?wpisrc=nl_headlines_nonlocal

    Vale!

    ResponderExcluir

Comentários são sempre bem-vindos, desde que se refiram ao objeto mesmo da postagem, de preferência identificados. Propagandas ou mensagens agressivas serão sumariamente eliminadas. Outras questões podem ser encaminhadas através de meu site (www.pralmeida.org). Formule seus comentários em linguagem concisa, objetiva, em um Português aceitável para os padrões da língua coloquial.
A confirmação manual dos comentários é necessária, tendo em vista o grande número de junks e spams recebidos.