Em princípio, deveria exigir conhecimentos amplos sobre essa área, desde os primeiros pensadores da política (isto é, os gregos), passando por Santo Agostinho, Maquiavel, Hobbes, Locke, Montesquieu, e chegando até os clássicos contemporâneos, ou seja Tocqueville, Marx, Weber, e todos os pensadores da teoria política no século XX, entre liberais, conservadores, socialistas, a exemplo de Raymond Aron e vários outros.
Esta a chamada:
Período de Inscrição: de 02/08/2012 até 31/08/2012
|
Acham-se abertas, nos termos do Despacho nº 627/2012-RUNESP, de 28/06/2012, publicado no Diário Oficial do Estado – DOE – Poder Executivo – Seção I de 29/06/2012, com base no Estatuto e Regimento Geral da Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” – UNESP, bem como na legislação em vigor, as inscrições para o concurso público de provas e títulos para provimento de 01 (um) cargo de PROFESSOR ASSISTENTE, com titulação mínima de Doutor, em Regime de Dedicação Integral à Docência e à Pesquisa – RDIDP, junto ao Departamento de Ciências Políticas e Econômicas, da Faculdade de Filosofia e Ciências, do Campus de Marília, nas disciplinas “Teoria Política I e II”.
Mas vejam o programa:
Programa:
1- Marx e a crítica da política
2- Marx e as revoluções de 1848
3- Marx e a Internacional
4- Marx e o movimento operário alemão
5- Engels e a social democracia
6- As vertentes teóricas da social democracia
7- A teoria do partido revolucionário
8 - A teoria da revolução democrática
9 - A teoria da transição socialista
10 - A teoria dos conselhos
11 - Estado e sociedade civil
12 - Luta de classes e hegemonia
Ou seja, a "teoria política" da Unesp se resume, em tudo e por tudo (e não é pouco, reconheçamos), a uma suposta teoria da revolução segundo os cânones do marxismo-leninismo. Edificante, não é mesmo?
Inclusive uma tal de "transição socialista" que, como todos sabemos, está na ordem do dia.
E eis a Bibliografia recomendada (aliás obrigatória, do contrário, o pobre do candidato não conseguiria passar em tão complicada prova de conhecimentos revolucionários aplicados à realidade do mundo atual).
Bibliografia
BARATTA, G. I quaderni e le rose. Roma: Gamberetti, 1999.
BARATTA, G.; CATONE, A. Tempi moderni: Gramsci e la critica dell´americanismo. Roma: Edizione Associate, 1989.
BERTELLI, A. R. Capitalismo de estado e socialismo. São Paulo: IAP: IPSO, 1999.
BUKHARIN, N. Le vie della rivoluzione. Roma: Riuniti, 1980.
BURGIO, A.; SANTUCCI, A. Gramsci e la rivoluzione in occidente. Roma: Riuniti, 1999.
DEL ROIO, M. O império universal e seus antípodas: a ocidentalização do mundo. São Paulo: Ícone, 1998.
______. Os prismas de Gramsci: a fórmula política da frente única. São Paulo: Xamã: IAP, 2005.
______. Marxismo e oriente: quando as periferias se tornam o centro. São Paulo: Ícone; Marília: Oficina Universitária Unesp, 2008.
ENGELS, F. Anti-Duhring. São Paulo: Paz e Terra, 1977.
______. Revolução e contra-revolução na Alemanha. Lisboa: Avante, 1981.
FEUERBACH, L. A essência do cristianismo. Campinas: Papirus, 1997.
FREDERICO, C. O jovem Marx: as origens da ontologia do ser social. São Paulo: Cortez, 1995.
FREDERICO, C.; SAMPAIO, B. A. Dialética e materialismo: Marx entre Hegel e Feurebach. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 2006.
GRAMSCI, A. Cadernos do cárcere. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004. 6 v.
GRUPPI, L. Il pensiero de Lenin. Roma: Riuniti, 1970.
______. O conceito de hegemonia em Gramsci. Rio de Janeiro: Graal, 1980.
HEGEL, G. W. F. Princípios da filosofia do direito. São Paulo: Ícone, 1997.
HOBSBAWN, E. (Org.). Storia del marxismo. Torino: Einaudi, 1978-1982. 4 t.
LENIN, V. Duas táticas da social democracia na revolução democrática. Rio de Janeiro: Vitória, 1945.
______. Que fazer? Lisboa: Estampa, 1973.
______ . Obras escogidas. Moscú: Progreso, 1975. 12 t.
______. O estado e a revolução. São Paulo: Hucitec, 1979.
______. O desenvolvimento do capitalismo na Rússia: o processo de formação do mercado
interno para a grande indústria. São Paulo: Abril Cultural, 1982.
LOSURDO, D. Antonio Gramsci dall liberalismo al comunismo crítico. Roma: Gamberetti, 1997.
LOWY, M. A teoria da revolução no jovem Marx. Petrópolis: Vozes, 2002.
LUKACS, G. Ontologia do ser social: a falsa e a verdadeira ontologia de Hegel. São Paulo: Ciências Humanas, 1979.
_____. Ontologia do ser social: os princípios ontológicos fundamentais de Marx. São Paulo: Ciências Humanas, 1979.
_____. História e consciência de classe. Lisboa: Martins Fontes, 2003.
LUXEMBURG, R. Scritti politici. Roma: Riuniti, 1976.
MARTORANO, L. C. A burocracia e os desafios da transição socialista. São Paulo: Xamã, 2002.
______. Conselhos e democracia. São Paulo: Expressão Popular, 2011.
MARX, K. Luta de classes na França. Introdução e organização de Friedrich Engels. Rio de Janeiro: Vitória, 1956.
______. El capital. México: FCE, 1976. 3 v.
______. A questão judaica. São Paulo: Centauro, 2000.
______. Introdução a crítica da filosofia do direito de Hegel. São Paulo: Boitempo, 2002.
______. Manuscritos econômico-filosóficos. São Paulo: Boitempo, 2004.
MARX, K.; ENGELS, F. Obras escolhidas. Rio de Janeiro: Vitória, 1956. 3v.
______. Manifesto comunista. São Paulo: Boitempo, 1998.
______. A sagrada família. São Paulo: Boitempo, 2002.
______. A ideologia alemã. São Paulo: Boitempo, 2007.
______. Luta de classes na Alemanha. São Paulo: Boitempo, 2010.
MCLELLAN, D. Karl Marx: vida e pensamento. Petrópolis: Vozes, 1990.
MESZAROS, I. Para além do capital. São Paulo: Boitempo, 2003.
______. A teoria da alienação em Marx. São Paulo: Boitempo, 2007.
NETTO, J. P. Capitalismo e reificação. São Paulo: LECH, 1981.
SANTOS, A. Marx, Engels e a luta de partido na Primeira Internacional (1864-1874). Londrina: Ed. UEL, 2002.
TEXIER, J. Revolução e democracia em Marx e Engels. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 2005.
TROTSKY, L. A revolução permanente. São Paulo: LECH, 1979
O redator do edital e responsável pelo programa é, indiscutivelmente, um adepto da bibliografia italiana, sendo, sem sombra de dúvida, um remanescente do exílio italiano, do qual ele ainda não conseguiu se liberar. Tanto é assim, que cita a obra dirigida pelo Hobsbawm na sua edição italiana -- Storia del marxismo -- quando existe uma edição em Português desde muitos anos. O autor do edital espera, entretanto, que os candidatos não apenas leiam a edição italiana, mas que eles leiam, como "teoria política", exclusivamente essa bibliografia sectária.
É ou não é um concurso destinado apenas a um companheiro desempregado?
Edificante como se notam progressos fantásticos no que se converteu em lixo das humanidades nas universidades públicas brasileiras.
Eu poderia passar no concurso, pois conheço toda essa bibliografia marxista, mas suponho que na prova didática os companheiros só vão selecionar aqueles plenamente identificados com o seu "marquissismo" altamente idiota.
Paulo Roberto de Almeida
==================
Addendum em 9/08/2012:
Um comentário que merece promoção de nota de rodapé a corpo de texto:
Gostei muito do post! Faço pós-graduação em tal instituição, no programa de Ciências Sociais. Tive o desprazer de conhecer algumas dessas peças que compõe o Departamento de Ciências Políticas e Econômicas. Sorte minha o programa oferecer disciplinas suficientes para não ser obrigado a ter aula com eles, mas tenho pena dos graduandos, ouvi histórias escabrosas sobre atitudes e posturas de tais professores. São tão fanáticos e intolerantes quanto religiosos dogmáticos, ou piores.
ResponderExcluirAcho que vc deveria prestar o concurso só pra ver qual seria a avaliação da banca na prova didática. Faça esse exercício por nós, por favor
ResponderExcluirBruno,
ResponderExcluirEsse tipo de concurso ja foi concebido especialmente para que um "marquissista" desempregado, amigo da tribo de fundamentalistas, ganhe sua boquinha na Unesp-Marilia.
Mesmo se o proprio Marx se apresentasse, ele seria reprovado em favor do escolhido previamente.
Nunca me submeto a fraudes desse tipo.
PRA
Não consigo acreditar que você tenha lido todo esse lixo citado na bibliografia algum dia Paulo. Ler Marx e Engels é muito bom, diria que até inspirador, agora ler esse bando que fazem omelete sem ovos (Lukács, Luxemburgo, Gramsci), é tortura. Daí uns poucos pirados que escrevem alguma coisa aproveitável, tipo Cohen, são ignorados pela banca. Seu cérebro deve ter alguma forma de cooler para não ter fritado ao entrar em contato com tanta babaquice. Abs, muito interessante seu(s) blog(s).
ResponderExcluirMeu caro Anônimo horrorizado,
ResponderExcluirQuer você acredite ou não, eu li TODA a literatura marxista leninista, que você chama de lixo indevidamente.
Isso faz parte da história das ideias nos séculos 19 e 20 (e para os atrasados da AL, ainda no século 21), e foram extremamente relevantes para a política mundial antes e durante a Guerra Fria.
Num determinado momento (entre os anos 1930 e 1970), até economistas "capitalistas" como Joseph Schumpeter, pensadores liberais como Peter Drucker e Raymond Aron, e críticos keynesianos do capitalismo como Galbraith, além de liberais clássicos, como Mises e Hayek, pensavam que o socialismo sobreviveria e até encontraria alguma convergência com a economia de mercado.
Ideias contam, de fato.
Eu fui marxista, como foram dezenas e milhares de estudantes universitários em minha época.
Apenas que NUNCA fui religioso, ou seja, eu lia, além dos autores marxistas, todos os liberais e capitalistas também, sem nenhum preconceito, à diferença dos "marquissistas" fundamentalistas de nossas universidades. Eu também conheci, todos os socialismois reais e os capitalismos existentes, o que poucos desses marquissistas fizeram.
Ou seja, como diria José Marti dos EUA, eu também conheço as entranhas do monstro (a URSS e os demais países) e posso dizer que ele era muito mais horrivel do que a descrição que dele se fazia, inclusive em termos de miséria moral, até mais do que miséria material.
Os "marquissistas" da Unesp não são apenas patéticos, são também profundamente desonestos em seu trabalho acadêmico.
Paulo Roberto de Almeida
Palpite de leigo no assunto: Acho faltou a essa turma ler os romances clássicos...
ResponderExcluirCrime e castigo, por exemplo, está em alguma bibliografia ?
GRAMSCI está na bibliografia para alunos no primeiro semestre de ciências sociais, de fato, sou prova viva. Mas nunca recomendaram Goethe, Dostoiévski, Borges...
Nem o Saramago, coitado, que se diz "cumpanheiro"...
Pois é Paulo, havia não percebido o detalhe de que você iniciou-se nas letras quando um muro separava a maior economia da União Européia. Eu, pelo contrário, peguei apenas a Rússia já de Yeltsin. Li Marx, li Engels, mas não suportei a alienação dos marxistas, será que fiz errado desistir de suas obras pouco depois das primeiras páginas? Como você salientou, o que está ali tem relevância ao menos histórica. Mas é condizente ao jovem hodierno ler Gramsci? Eu li Proudhon, que é deveras mais antigo, e não achei tão alienado quanto àquele. Mas é claro, existe a verve, existe a circunstância, e o que viveu um Gramsci pode (de fato deve) ter influenciado em seus escritos, o indivíduo perseguido por um regime vai abrir mão de certa dose de racionalidade e se utilizar de maior militância passional.
ResponderExcluirAproveitando o gancho de alguém que faceou os monstros, como você mesmo diz. Qual seria uma lista indispensável de obras de Economia Política? Não meramente de interesse histórico, e sim de fato construtiva, onde um autor use os ombros de outro para subir mais alto, e não apenas produzir um panfleto ideológico.
abs,
Anônimo horrorizado.
Esse relato mereceria uma bela denúncia ao ministério público, juntando a ementa do concurso com a emnta de outras disciplinas semelhantes em outras universidades, inclusive do exterior.
ResponderExcluirTambém juntar o currículo dos candidatos para ver se alguns deles é diretamente beneficiado com o edital.
É uma vergonha um negócio desses.