Fã de Olavo de Carvalho, assessor internacional de Bolsonaro ecoa
cartilha da nova direita
Filipe Martins, 30, ocupará função
análoga à de Marco Aurélio Garcia durante o governo Lula
FSP, 6.jan.2019 às
16h46
Quando o
Twitter bloqueou seu perfil, Filipe Martins, 30, abriu uma conta em outra rede
social em protesto e republicou a mensagem que havia causado o banimento.
“O
feminismo é só um instrumento de poder de esquerda”, escreveu quatro meses
atrás, durante a campanha eleitoral. “A mulher que ousa discordar das
pautas de esquerda é tratada feito lixo. Só presta a que é idiota útil. O
problema é que o idiota útil nunca sabe que é idiota nem a quem é útil.”
A rede
social escolhida para o descarrego foi o Gab, que, ao
acolher sem censura comentários antissemitas sobretudo nos EUA, popularizou-se entre
adeptos de teorias supremacistas e neonazistas.
Nomeado
na quinta-feira (3) assessor especial da Presidência de Jair Bolsonaro para
assuntos internacionais, Martins rechaça publicamente qualquer associação com a alt-right, como
é chamada a direita radical repaginada nos EUA.
Aluno e
admirador de Olavo de
Carvalho, formado em relações internacionais pela UnB (Universidade
se Brasília) e diretor de assuntos internacionais do PSL, Martins integrou o
núcleo da transição no grupo do agora chanceler
Ernesto Araújo.
Mas seu
acesso ao presidente e família independe do ministro de Relações Exteriores.
Além de ser ouvido por Bolsonaro na confecção de discursos, por exemplo, tem
boa relação com Carlos e Eduardo Bolsonaro,
dois de seus filhos.
Sua
atuação, contudo, é em parte contestada. Alguns aliados do presidente veem em
Martins uma personalidade às vezes estridente e nem sempre bem preparada para a
função para a qual trabalhou para ser nomeado.
Quando
acompanhou o deputado Eduardo
Bolsonaro em viagem aos Estados Unidos, em dezembro, por exemplo,
deixou transbordar considerações ideológicas como críticas ao Foro de São
Paulo, mesmo quando a audiência —grande investidores— exigia objetividade.
Dizem que sua pouca idade e inexperiência podem trazer prejuízo a Bolsonaro.
Martins é
entusiasta de Steve Bannon,
ex-estrategista do presidente americano Donald Trump. Tanto que, natural de
Sorocaba (SP), ganhou o apelido de Sorocabannon.
Embora
critique agressiva e frequentemente a imprensa brasileira, à qual associa a
elite e a esquerda, o assessor se mostrou hábil perto de um recluso Ernesto
Araújo.
Na
assessoria especial da Presidência, em função análoga à de Marco Aurélio
Garciadurante o governo Lula, Martins atuará como ponte entre o
chanceler e Bolsonaro. Na definição de membros do governo, o assessor não terá
atribuição de formular política externa mas sim de garantir sintonia entre o
Itamaraty e o Palácio do Planalto.
Quer
ajudar o presidente a dar uma expressão mais acabada às suas ideias sobre temas
internacionais e preparar os seus discursos, auxiliando na comunicação dentro e
fora do país.
“Sua
atuação trará ainda mais solidez a um importante trabalho já debatido durante a
campanha de aproximar o Brasil de nações desenvolvidas e democráticas, e não
mais de ditaduras que violam desde direitos humanos a processos eleitorais”,
disse a empresária Letícia Catel, que trabalhou na transição.
Martins e
Araújo estrearam internacionalmente na última sexta-feira (4), quando
participaram do Grupo de Lima,
no Peru, que elaborou documento em reprimenda à ditadura Maduro na Venezuela.
“Ninguém
melhor talhado que Filipe G. Martins para assessor internacional do Planalto”,
assinalou Ernesto Araújo em rede social depois da viagem conjunta. “Seu
conhecimento, sensibilidade, determinação, visão estratégica e patriotismo
raramente se reúnem nesse grau na mesma pessoa.”
Crescido
em um bairro pobre da paulista Sorocaba, Martins estudou em escola pública e,
antes de prestar vestibular, decidiu estudar por conta própria. Aos 17, conheceu
Olavo de Carvalho, com quem mantém contato até hoje.
Com o
escritor radicado nos Estados Unidos tem afinidades de forma e conteúdo. É
crítico do chamado globalismo,
do ateísmo, do aborto e da descriminalização de drogas, por exemplo. E burilou
estilo afeito a polêmicas.
“O
espírito brasileiro está possuído por um demônio e nada além de um exorcismo
poderá quebrar este ciclo amaldiçoado e mitigar os problemas nacionais”,
escreveu em junho. “Vivemos sob o reino dos perfeitos idiotas”, concluiu
em maio.
“Sempre
digo que a crise ocidental é também uma crise da masculinidade”, interpretou em
agosto.
“Esta
eleição é um grande dedo do meio do povo brasileiro para os donos do poder e
seus serviçais na classe jornalística, na classe artística e na academia. Um
grito de libertação”, afirmou em setembro.
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