Rato de biblioteca por deformação da primeira infância, quando ainda não sabia ler, eu me afeiçoei tanto aos livros que chegada a etapa do letramento, na tardia idade dos sete anos, nunca mais larguei dos livros, um só instante na vida.
Quando me vi constrangido a um longo exílio voluntário na Europa, nos anos de chumbo da ditadura militar no Brasil, arrastei comigo uma pequena biblioteca que deve ter intrigado vários guardas aduaneiros, cada vez que eu tinha de transpor as fronteiras da Guerra Fria. Mas sobrevivi, com os meus livros, ainda que os amaldiçoasse, cada vez que, tendo de mudar de casa para viver mais barato, o que fiz frequentemente, tinha de arrastar escada abaixo e escada acima, caixas e mais caixas de livros que foram se acumulando ao sabor das viagens e da vida nas livrarias e biblioteca.
Mas, eu me perco. O que eu quero dizer é que, aos diplomatas burocratas, eu prefiro os intelectuais não pretensiosos, aqueles sabedores da modéstia do seu saber, e que procuram aumentá-lo sempre, pelas leituras, pelas viagens, pelo contato com as pessoas, pela abertura de espírito. Pois é de uma pessoa assim que eu quero falar, e agradecer o seu gesto.
O embaixador mais intelectual (que eu conheço) da excelente diplomacia lusitana, que nos legou a nossa boa diplomacia nacional – por vezes maltratada por sectários e aloprados – faz neste artigo uma pequena digressão sobre as minhas desventuras diplomáticas (elas são frequentes) entre um regime e outro. Francisco Seixas da Costa repercute no mais importante jornal português a minha exoneração do IPRI, o que converte o fato em ato internacional, como convém a um diplomata. Muito obrigado embaixador Seixas da Costa, grande amigo de tertúlias brasilienses, quando eu já estava na geladeira sob o lulopetismo diplomático. Parece que volto a ela, mas requentado por suas palavras generosas. Recomendo, por sinal, seu excelente blog Duas ou Três Coisas, que combina tudo o que gosto: cultura refinada, bom humor, curiosidade pelo que é novo, ou diferente, tolerância na política e uma leve ponta de contestação, que é disso que eu também gosto: https://duas-ou-tres.blogspot.com/
Paulo Roberto de Almeida
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