sexta-feira, 6 de julho de 2012

Fascismo cambial argentino: retrocedendo meio seculo...

Houve um tempo, no Brasil, em que para assinar uma revista estrangeira, eu tinha de ir ao Banco do Brasil, como agente cambial oficial, para ter a permissão de remeter 30 ou 50 dólares ao exterior. 
Apenas depois de 1992 é que começamos a ter cartões de crédito válidos no exterior. Antes era preciso ir aos bancos acreditados para comprar, em limites que variavam de 1.000 a 4.000 dólares, os dólares para viajar ao exterior. O resto era com o cambista, que chegou a ser, em meu ministério, a segunda pessoa mais importante da estrutura oficial, depois do ministro (e ainda assim, se tinha mais relações com o cambista do que com o ministro).
Escapamos dos aspectos mais nocivos, e ridículos, do controle cambial, mas a obsessão cambial ainda não acabou no Brasil. Somos impedidos, por exemplo, de ter contas em moedas estrangeiras. Assim, se você chega com um resto de dinheiro do exterior, ou quer fazer uma pequena poupança em cash em divisas, para eventuais viagens-surpresa, você tem três soluções: (a) troca de volta no banco, que agradece pelas generosas e extorsivas comissões que cobra a cada vez; (b) aluga um cofre no banco, ou faz um em sua casa, com as despesas correspondentes; (c) guarda de qualquer jeito em sua casa, esperando a passagem de algum bandido.
A proibição de se ter contas em dólares é uma lembrança dos tempos de depressão, 80 anos atrás, quando havia penúria de dólares.
O atraso mental brasileiro é tão grande que ainda não nos libertamos dessa obsessão, numa fase de abundância de dólares (para o bem e para o mal). As autoridades mantêm controles de capitais alegadamente para preservar o equilíbrio monetário e evitar problemas de balanço de pagamentos. Melhor seria se o Brasil caminhasse no sentido da plena conversibilidade, que abandonamos em 1931 e ainda não restabelecemos plenamente. Um dia o atraso mental acaba e viramos normais outra vez.
Mas o caso da Argentina é diferente. Não se trata apenas de atraso mental, mas de retrocesso voluntário, de loucuras kafkianas, como demonstrado nesta circular do Banco Central, dizendo que o Estado, esse ente fascista por excelência, vai ter de controlar se os cidadãos possuem de fato recursos -- legalmente declarados -- para poder comprar dólares.
É o fascismo no seu estado mais elementar.
E um retrocesso de mais de 80 anos na história econômica.
Paulo Roberto de Almeida 

BANCO CENTRAL DE LA REPUBLICA ARGENTINA
MODIFICACIONES EN LA REGULACION DE MERCADO CAMBIARIO

En cumplimiento de los mandatos que impone su Carta Orgánica respecto de la preservación de la estabilidad financiera y la promoción del crecimiento y el empleo, el Directorio del BCRA dispuso las siguientes modificaciones en la regulación del mercado cambiario:

° Permitir el acceso al mercado de cambios por el concepto de viajes y turismo por parte de personas físicas y jurídicas residentes para los viajes propios y también de empresas por los viajes de su personal, previa validación fiscal de cada operación.
° Mantener vigentes los códigos por los cuales es posible cursar diferentes clases de operaciones en el mercado de cambios para pago y cobro de mercancías, servicios, rentas y capital de acuerdo con la normativa actualmente en vigor, que entre las compras y ventas de cambios suman alrededor de 300 códigos.
° Permitir el acceso al mercado de cambios para la compra de billetes en moneda extranjera por los montos correspondientes a créditos hipotecarios, que no sean de corto plazo, otorgados por entidades financieras a personas físicas para la compra de vivienda a aquellos que hubieran gestionado carpetas preacordadas a la entrada en vigencia de la presente norma y hasta el 31 de octubre del 2012.
° Permitir con validación fiscal previa el acceso al mercado de cambios para los casos previstos en la Comunicación A 4834, cuando superen los 1.000 dólares o equivalente. Por esta Comunicación se canalizan pequeñas operaciones de personas que regularmente no operan en el mercado de cambios, a través de un sistema simplificado para operaciones de hasta US$ 5.000 dólares contra la presentación de una declaración jurada y con acreditación en cuenta (sea compra o venta). Se trata de una norma para clientes que no operan habitualmente con el exterior. Entre los casos contemplados por esta norma pueden mencionarse los siguientes: a) en el caso de ingreso de divisas, un cheque por la prestación de un servicio por una sola vez (ej. una conferencia) o por el pago de gastos de un viaje (invitación a un seminario). Los dólares ingresan contra declaración jurada y los pesos deben acreditarse obligatoriamente en una cuenta bancaria; b) para la salida de divisas, casos como los de turistas argentinos que sufren en el exterior la pérdida o robo de documentos y dinero y se quedan sin fondos. Los familiares entonces pueden acceder al mercado para enviarles las divisas. El límite máximo para el envío es de 5.000 dólares o equivalente; pero para remitir más de 1.000 dólares se requiere validación fiscal previa. También se requiere declaración jurada y los fondos deben provenir de una cuenta bancaria. 
° Autorizar el acceso al mercado de cambios sin la conformidad previa para la compra de divisas para realizar donaciones en casos de desastres naturales, urgencias sanitarias u otras situaciones de carácter humanitario de conocimiento público. Estas donaciones pueden ser recibidas únicamente por organismos y entidades gubernamentales, u otras entidades con presencia en el país y reconocidas internacionalmente por sus obras benéficas. 
° Suspender el acceso al mercado local de cambios para la compra de activos externos sin aplicación a un destino específico previsto en el punto 4 del Anexo a la Comunicación A 5236.

Gerencia de Prensa
Banco Central de la República Argentina
Reconquista 266, 4to piso of. 408
Buenos Aires
Tel. (011) 4348-3624
www.bcra.gov.ar


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E se não bastasse como fascismo econômico, ainda tem mais esta: os bancos são obrigados a emprestar, mesmo que queiram fazer reservas ou ter outras aplicações. O Estado fascista é assim: ele não permite você dispor do seu próprio dinheiro, ele é quem determina o que fazer, já que sabe melhor do que nós como ficar pobres e arruinados...
Paulo Roberto de Almeida 


Argentina obriga bancos a dar crédito

Valor Econômico - A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, determinou ontem que os bancos com mais de 1% dos depósitos no país devem oferecer uma linha de crédito a empresas para investimentos. A linha terá suas condições estabelecidas pelo governo: três anos de prazo e juros variáveis conforme a taxa Badlar - referência no país para transações interbancárias - mais 4%. Em valores de ontem, isto correspondia a cerca de 15%.

Mercosul e Unasul: enfim juntos! (que bonito...)

Vamos aguardar o casamento, já anunciado pelo presidente do Uruguai, como adiantei no post abaixo: 

Confusao: Uruguai quer juntar Mercosul e Unasul




Um leitor deste blog já sugeriu até um nome para a nova entidade de integração: MILONGA!


Com o meu apoio
Paulo Roberto de Almeida  

Viva a deseducacao brasileira!; vamos continuar com escolas mediocres

Por uma vez, e isso não é ironia, devemos saudar a má educação brasileira. Sem ela, os bandidos seriam muito melhor preparados para nos fraudar e roubar nosso parco dinheirinho, como se pode constatar por esta peça de desinteligência recebida de uma suposta seção de cadastro do Banco do Brasil (reproduzo tal qual, sem o link): 



Prezado(a) Cliente.
Para, sua maior segurança,O BB implementou o conceito da nova senha:Senha De Confirmação 
É um código alfanumerico de quatro digitos,que deve conter em sua composição
pelo menos duas letras e dois números.Esta senha será usada para confirmação de todas as transações

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ATENÇÃO: Caso o procedimento não seja completado,por medidas de segurança seu acesso será suspenso
por tempo indeterminado.
Agradeçemos a sua cooperação - Gerente Bruno Costa Dutra - Linha de Segurança

Vamos pedir ao MEC que não faça nada, ou melhor, que continue o que está fazendo para atrasar a educação no Brasil. Como a polícia e o judiciário tampouco funcionam, esta é pelo menos mais um linha de segurança cidadã contra violações à propriedade.
Por uma escola medíocre...
Paulo Roberto de Almeida 

Desorientacao total: Cuba busca desperadamente uma saida

Esta é a confusão cabal de que o governo cubano está desesperado por não saber o que fazer, por não ter o que fazer, por não ter técnicos capacitados a promover reformas de estilo chinês -- ou seja, preservando a ditadura do partido e introduzindo o capitalismo no terreno econômico -- e sobreviver durante algum tempo. À diferença, porém, do processo chinês, o sistema cubano será jogado na lata de lixo da história tão pronto os gerontocratas, o sistema senil e esclerosado do stalinismo puro e duro, desapareçam nas dobras da história.
Paulo Roberto de Almeida 

Em viagem à China, Raúl Castro busca apoio para abertura econômica de Cuba

O presidente Raúl Castro
Infolatam/EFE
Pequim, 05 de julho de 2012
Las claves
  • Nos encontros, ambas as partes demonstraram intenção de aprofundar laços de cooperação em todos os níveis, agora que as relações, nas palavras do líder cubano, "chegaram a sua maturidade".
Os governos de Cuba e da China, ao término da reunião entre os chefes de Estado dos dois países,Raúl Castro e Hu Jintao, assinaram nesta quinta-feira oito acordos e memorandos de entendimento, entre eles um empréstimo do Banco de Desenvolvimento da China para a melhoria de hospitais e outro de cooperação agrícola.
O empréstimo, de valor não revelado, foi assinado pela diretora geral do Banco Nacional de Cuba,Juliana Maritza Martínez, e o presidente do Banco de Desenvolvimento da China, Chen Iuane, após a reunião dos dois líderes no Grande Palácio do Povo.
Além disso, o vice-presidente cubano, Ricardo Cabrisas, e o ministro do Comércio chinês, Chen Deming, assinaram dois convênios de cooperação econômica e técnica que implicarão doações e créditos livres de juros. Os valores dos convênios também não foram revelados.
Também foi assinado um memorando de cooperação aduaneira que entrará em vigor em 2013 e que terminará em 2015. Castro, que visita o gigante asiático pela terceira vez, embora esta seja sua primeira viagem ao país como líder máximo de Cuba, reuniu-se hoje com o presidente da China, Hu Jintao, e com o presidente da Assembleia Nacional Popular (Parlamento), Wu Bangguo.
Nos encontros, ambas as partes demonstraram intenção de aprofundar laços de cooperação em todos os níveis, agora que as relações, nas palavras do líder cubano, “chegaram a sua maturidade”.
“Para nós constitui um orgulho manter relações com todas as instituições da República Popular China e com seu povo”, disse o líder cubano, cuja viagem pela Ásia, que também inclui o Vietnã, tem como objetivo buscar apoio de outros regimes comunistas para a reforma econômica da ilha.
O presidente da China, Hu Jintao, afirmou no começo da reunião que desde que Castro assumiu o poder no lugar de seu irmão, Fidel, em 2008, a “tradicional amizade entre China e Cuba” se aprofundou.
“Temos certeza que esta visita aumentará a cooperação para níveis mais elevados”, ressaltou o presidente da China, que lembrou suas três visitas a Cuba (1997, 2004 e 2008), as duas últimas já como chefe de Estado do país asiático.
Antes da reunião com HuCastro se encontrou com o presidente da Assembleia Nacional Popular, Wu Bangguo, que afirmou que o político cubano se reuniu tanto com os atuais como com os futuros dirigentes do país.
Raúl Castro se encontrará amanhã com o primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao; com Xi Jinping, atual vice-presidente e que assumirá a presidência em 2013; e com Li Keqiang, atual vice-primeiro-ministro e futuro chefe de Governo.
Esta é a primeira viagem de Castro à China como líder máximo do regime cubano, embora tenha visitado o país em 1997 e 2005, na época com o objetivo de estudar a reforma econômica sem abertura política, e agora para conseguir apoio de Pequim para as mudanças em Cuba. A China, assim como o Vietnã, realizou as reformas econômicas que Cuba está fazendo agora há anos.
Com Raúl Castro foi iniciado em Cuba uma abertura econômica que lembra os primeiros anos da reforma chinesa, incluindo a redução do grande número de funcionários públicos e a introdução de uma incipiente iniciativa privada.

Confusao: Uruguai quer juntar Mercosul e Unasul

Por vezes eu me surpreendo quanto ao grau de ingenuidade, de desorientação, ignorância, ou de simples confusão mental, dos nossos dirigentes. Que o presidente do Uruguai queira juntar Mercosul e Unasul, asi no más, é uma demonstração, surpreendente, de total inconsciência política, de ignorância econômica e, no limite, de irresponsabilidade diplomática no mais alto grau.
Esse tipo de confusão mental chega a me assustar: a quem estamos entregues?
Brrrr...
Paulo Roberto de Almeida 

Uruguai: José Mujica propõe fusão de Mercosul e Unasul em um único bloco

O presidente do Uruguai, José Mujica, em sua chegada à VI Cúpula das Américas em Cartagena (Colômbia). EFE/Paolo Aguilar
ANSA
Montevidéu, 05 de julho de 2012
Las claves
  • "Transformar o Mercosul na Unasul ou vice-versa. É uma coisa só. Não sei como se chamará, mas é preciso considerar que necessitamos caminhar em outras direções de caráter institucional, que primeiro sejam muito mais flexíveis e que sejam mais realistas", explicou Mujica, em entrevista à revista Búsqueda.
O presidente do Uruguai, José Mujica, propôs a fusão do Mercosul (Mercado Comum do Sul) e da Unasul (União das Nações Sul-Americanas) em um único bloco. A iniciativa foi apresentada por ele a seus pares da região nas cúpulas das duas organizações, que aconteceram na última sexta-feira, em Mendoza, na Argentina.
“Transformar o Mercosul na Unasul ou vice-versa. É uma coisa só. Não sei como se chamará, mas é preciso considerar que necessitamos caminhar em outras direções de caráter institucional, que primeiro sejam muito mais flexíveis e que sejam mais realistas”, explicou Mujica, em entrevista à revista Búsqueda.
O presidente, que na quarta-feira se responsabilizou pela entrada da Venezuela como sócia-plena do Mercosul, assinalou que “temos que pensar 20 anos para frente” e que “ninguém está fazendo isso”.
Mujica apresentou a proposta aos chefes de Estado da Argentina, Cristina Kirchner; do Brasil, Dilma Rousseff; do Chile, Sebastián Piñera; e do Peru, Ollanta Humala.

Trapalhadas diplomaticas dos aprendizes de feiticeiros - Elio Gaspari

Ressalvo desde já um elemento essencial dessa brincadeira de estudantes: o que está em causa não é exatamente a diplomacia brasileira, ou o Itamaraty, e sim os amadores que se metem a "traçar os rumos" da política externa brasileira na região. Eles não fazem diplomacia, nunca souberam fazer, e dificilmente vão aprender; fazem política partidária, e da pior espécie: aquela vinculada aos interesses espúrios dessa patota esclerosada do Foro de S.Paulo, que ainda pretende construir não se sabe qual via alternativa à democracia de mercado, ou à dominação da burguesia e do capitalismo. Esse pessoal é muito primário, e sectário, o que aliás rima, mas não tem graça nenhuma...
Paulo Roberto de Almeida 



A leviana diplomacia do espetáculo
Elio Gaspari
Folha de S. Paulo e O Globo, 27/06/2012

A patrulha internacional que atacou Paraguai é impertinente e só serve aos interesses da democracia chavista.
Poucas vezes a diplomacia brasileira meteu-se numa estudantada semelhante à truculenta intervenção nos assuntos internos do Paraguai. O presidente Fernando Lugo foi impedido por 39 votos a 4, num ato soberano do Senado.
Nenhum soldado foi à rua, nenhuma linha de noticiário foi censurada, o ex-bispo promíscuo aceitou o resultado, continua vivendo na sua casa de Assunção e foi substituído pelo vice-presidente, seu companheiro de chapa.
Nada a ver com o golpe hondurenho de 2009, durante o qual o presidente Zelaya foi embarcado para o exílio no meio da noite.
Quando começou a crise que levou ao impedimento de Lugo, a diplomacia de eventos da doutora Dilma estava ocupada com a cenografia da Rio+20.
Pode-se supor que a embaixada brasileira em Assunção houvesse alertado Brasília para a gravidade da crise, mas foi a inquietação da presidente argentina Cristina Kirchner que mobilizou o Brasil.
A doutora achou conveniente mobilizar os chanceleres da Unasul, uma entidade ectoplásmica, filha da fantasia do multilateralismo que encanta o chanceler Antonio Patriota.
As relações do Brasil com o Paraguai não podem ser regidas por critérios multilaterais. Foi no mano a mano que o presidente Fernando Henrique Cardoso impediu um golpe contra o presidente Juan Carlos Wasmosy em 1996. Fez isso sem espetacularização da crise. A decisão de excluir o Paraguai da reunião do Mercosul é prepotente e inútil. Quando se vê que o presidente Hugo Chávez, da Venezuela, cortou o fornecimento de petróleo ao Paraguai e que a Argentina foi além nas suas sanções, percebe-se quem está a reboque de quem. Multilateralismo no qual cada um faz o que quer é novidade. Existe uma coisa chamada Mercosul, banem o Paraguai, mas querem incluir nele a Venezuela, que não está na região e muito menos é exemplo de democracia.
Baniu-se o Paraguai porque Lugo foi submetido a um rito sumário. O impedimento seguiu o rito constitucional. Ao novo governo paraguaio não foi dada nem sequer a palavra na reunião que decidiu o banimento.
Lugo aceitou a decisão do Congresso e agora diz que liderará uma oposição baseada na mobilização dos movimentos sociais. Direito dele, mas se o Brasil se associa a esse tipo de política, transforma suas relações diplomáticas numa espécie de Cúpula dos Povos. Vai todo mundo para o aterro do Flamengo, organiza-se um grande evento, não dá em nada, mas reconheça-se que se fez um bonito espetáculo.
O multilateralismo da diplomacia da doutora Dilma é uma perigosa parolagem. Quando ela se aborreceu, com razão, porque um burocrata da Organização dos Estados Americanos condenou as obras da hidrelétrica de Belo Monte, simplesmente retirou do foro o embaixador brasileiro. A OEA é uma irrelevância, mas para quem gosta de multilateralismo, merece respeito.
A diplomacia brasileira teve um ataque de nervos na bacia do Prata. O multilateralismo que instrui a estudantada em defesa de Lugo é típico de uma política externa biruta. O chanceler Antonio Patriota poderia ter se reunido com o então vice-presidente paraguaio Federico Franco 20 vezes, mas se a Argentina queria tomar medidas mais duras, ele não deveria ter ido para uma reunião conjunta, arriscando-se ao papel de adorno.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Cinebiografias, nos EUA e no Brasil... (que não tem cachorro, se vira com ratos...)

Um leitor, que leu meu meu post de homenagem ao 4 de julho, me escreve o que segue: 



...estou vendo um seriado chamado John Adams, trata-se de eventos da vida de um dos pais fundadores dos EUA relativos à época da independência.

Brilhante o seriado. Chama a atenção o fato dos americanos mostrarem com orgulho homens como Adams, diplomata, presidente, cristão reto e culto. Aqui no Brasil as cinebiografias que fizemos refletem, também, o que o país apresenta de melhor para a sociedade atual: Lula, Bruna Surfistinha, Cazuza, Olga Benário...

Não nos interessamos por brasileiros do quilate de Ruy Barbosa, Machado de Assis, Carlos Drummond, Joaquim Nabuco etc.

Preciso acrescentar algo?
Paulo Roberto de Almeida 

"Argentina acaba com o Mercosul" - Emb. Rubens Antonio Barbosa

"Se tivesse sido expulso, tudo bem"???
Acho que não. Essa afirmação não faz sentido...
O resto faz...
Paulo Roberto de Almeida 

Folha de S.Paulo, 05/07/2012

Argentina acabará com o Mercosul, diz consultor brasileiro

SYLVIA COLOMBO
DE BUENOS AIRES
"A Argentina será responsável pelo fim do Mercosul." A frase de Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil em Washington e Londres e atual presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de SP), ecoa na mídia argentina com destaque nos últimos dias.
Em entrevista à Folha, Barbosa explicou por que fez a declaração à imprensa do país vizinho. Segundo ele, ações recentes do governo Cristina Kirchner têm sido extremamente prejudiciais ao bloco.
Em primeiro lugar, por causa das travas às importações, que os argentinos vêm impondo com mais vigor desde fevereiro. "Estão bloqueando o Brasil, mas deixando entrar outros países. Essa medida não ajuda a incrementar a indústria local e ainda prejudica os vizinhos."
Em segundo lugar, por alimentar um ambiente de insegurança para os negócios na região depois de nacionalizar 51% da petrolífera YPF.
Sobre o Paraguai, Barbosa diz que a Argentina foi quem tomou a posição mais radical desde o princípio, ao retirar seu embaixador e não reconhecer o novo governo paraguaio. "Se dependesse da Argentina, haveria ainda sanções econômicas --ou seja, causaria um problema para a estabilidade da região."
Ele acrescenta que a pressão para que a Venezuela integrasse o bloco começou em 2006, pelas mãos da própria Argentina. "É errado aprovarem a entrada da Venezuela estando o Paraguai só suspenso. Se tivesse sido expulso, tudo bem, mas ainda é país-membro e tinha de ser respeitado. Isso fere o tratado."
Para o ex-embaixador, o Brasil meteu-se em um "imbróglio" ao respaldar a entrada da Venezuela, pois o país caribenho terá de fazer muitos ajustes em suas relações comerciais e diplomáticas para integrar o bloco. "Como fica a questão de Israel, por exemplo, com quem o Mercosul tem acordo, mas a Venezuela não tem relações?"
Por meio da Fiesp, Barbosa tem acompanhado as dificuldades dos empresários brasileiros em concluir negócios com a Argentina. "Os ministros, os técnicos brasileiros vão à Argentina, fecham acordos, depois eles param nas mãos do [secretário de Comércio Interior] Guillermo Moreno. Porque tudo virou uma questão política."
Por fim, considera que o governo brasileiro deixa a Argentina ultrapassar limites. "Aqui se defende a teoria de que a relação com a Argentina deve ser mantida a qualquer custo, mas o fato é que os argentinos estão extrapolando. Esse comportamento, no fim das contas, levará ao desmanche do Mercosul."

Venezuela no Mercosul: a posicao a favor - tecnicos do Ipea

Os autores estão mal informados sobre os tratados de integração existentes, se enganam no quadro jurídico-legal do Paraguai e se equivocam completamente quanto ao sentido do comércio entre o Brasil e a Venezuela. De toda forma, são funcionários obedientes do governo, e por isso escolheram deformar totalmente o processo político em relação ao Paraguai, e edulcorar as relações dos países do Mercosul com a Venezuela.
Eles estão a serviço de uma causa, que não é exatamente a verdade. Aliás, escondem a verdade, por razões totalmente políticas.
Paulo Roberto de Almeida

Folha de S.Paulo, 05/07/2012 - 03h00

Tendências/Debates: Bem-vinda ao Mercosul, Venezuela

PEDRO BARROS
LUIZ PINTO
FELIPPE RAMOS
O caso do golpe ocorrido no último dia 22 no Paraguai, que destituiu o presidente Fernando Lugo, gerou uma resposta uníssona dos chefes de Estado do Mercosul em condenação à ruptura da ordem democrática no país vizinho --posição amparada pelo Protocolo de Ushuaia II, que prevê a cláusula democrática para permanência no bloco.
A suspensão do Paraguai do bloco permitiu a adesão da Venezuela como membro pleno do Mercosul, que vinha sendo postergada pela maioria oposicionista do Congresso paraguaio há três anos. O ingresso da Venezuela é um grande avanço para a integração sul-americana.
A decisão dos presidentes tem impacto político forte, uma vez que serve para pressionar o governo de facto do Paraguai sem recorrer a sanções econômicas que acabam por penalizar a população. Simultaneamente, resolve-se o impasse da adesão de um novo membro.
A nova adesão amplia geopoliticamente o Mercosul em direção ao norte da América do Sul, superando a fase "Cone Sul" do bloco.
Com a entrada da Venezuela, os Estados amazônicos passam, de fato, a ser parte do Mercosul. É um novo fôlego é vislumbrado.
A importância econômica da Venezuela pode equilibrar a díade entre Brasil e Argentina no bloco. Com o 24º PIB do mundo, de US$ 389 bilhões, segundo o relatório de 2010 do Banco Mundial, a economia da Venezuela é maior do que as do Chile (43°), do Peru (50º), da Bolívia (101°) e do Paraguai (103°) juntos. Nessa lista, o Brasil aparece em 7°. A Argentina, em 27°.
A Venezuela apresenta ainda as maiores reservas certificadas de petróleo do mundo, com a faixa do Orinoco, que permitirá nos próximos anos um desenvolvimento acelerado. O Brasil e os demais membros do Mercosul podem cooperar.
Para o Brasil especificamente, a entrada da Venezuela potencializa o processo de aprofundamento das relações econômicas: em 2003, o comércio entre os dois países era de US$ 880 milhões, ampliando-se para US$ 5,9 bilhões em 2011 --uma ampliação de cerca de sete vezes.
Nos cinco primeiros meses deste ano, as exportações do Brasil para a Venezuela cresceram 40,6% em relação ao mesmo período do ano passado. A Venezuela é hoje o terceiro superávit comercial do Brasil, oscilando entre os três maiores sócios comercias do país desde 2007.
Para além das vantagens e oportunidades econômicas, a presença da Venezuela no bloco apresenta claro sentido estratégico.
A integração do Brasil com os países vizinhos segue ritmo menor do que a entrada massiva da China e outras potências extrarregionais no continente. Essa nova presença ameaça diminuir o comércio intraregional de produtos com mais valor agregado. Para uma política de competição com a China, é preciso ampliar a integração do Mercosul.
A entrada da Venezuela pode abrir caminho a alguns países andinos, amazônicos e caribenhos para ingressar no bloco. O Mercosul pode, então, caminhar para um salto qualitativo em duas dimensões:
1) Ampliação do número de membros, para além da Venezuela;
2) E o impulso à reforma da agenda do bloco em direção à superação definitiva da fase comercialista para a integração produtiva.
Conforme recordava Celso Furtado, a crise pode acelerar a história.
PEDRO SILVA BARROS, 32, é professor do departamento de economia da PUC-SP e titular da missão na Venezuela do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea); LUIZ FERNANDO SANNÁ PINTO, 28, doutorando em economia política internacional na UFRJ e FELIPPE SILVA RAMOS, 26, mestre em sociologia pela UFBA, são pesquisadores vinculados à missão do Ipea na Venezuela

Venezuela no Mercosul: ilegalidade - Yves Gandra Martins


Folha de S.Paulo, 05/07/2012

Tendências/Debates: Democracia paraguaia

IVES GANDRA DA SILVA MARTINS
Em 1991, fui convidado pelo Ministro da Justiça do Paraguai, com constitucionalistas de outros países latino-americanos, para proferir palestras sobre a Constituição brasileira. À época, o Paraguai se encontrava em processo constituinte, em vias de promulgar a Constituição que hoje rege os destinos da nação.
Entre os temas que abordei, expliquei que toda a Constituição brasileira fora formatada para um regime parlamentar de governo, só na undécima hora tendo se transformado numa Lei Maior presidencialista.
Talvez por essa razão, o equilíbrio de Poderes foi realçado ao ponto de, apesar de nossas crises políticas --impeachment presidencial, crise do Orçamento, dos anões, superinflação, alternância do poder, mensalão etc.--, jamais alguém ter falado em ruptura institucional.
O cientista político Arend Lijphart, em seu livro "Democracies", de 1984, detectou, em todo o mundo, apenas 20 países em que não houvera ruptura institucional depois da Segunda Guerra.
Desses, 19 eram parlamentaristas. Apenas um, os EUA, era presidencialista. Ulisses Guimarães me pediu o livro emprestado, mas preferi enviar um exemplar --lembrando da advertência de Aliomar Baleeiro, que dizia ter amigos que fizeram sua biblioteca com livros emprestados.
Sou parlamentarista desde os bancos acadêmicos, e sempre vi no parlamentarismo um sistema de "responsabilidade a prazo incerto": eleito um irresponsável para a chefia do governo, ele pode ser afastado, sem traumas, tirando-lhe o Parlamento o voto de confiança.
Já o presidencialismo é um regime de "irresponsabilidade a prazo certo", pois, eleito um irresponsável, ele só pode ser afastado pelo traumático processo de impeachment.
O Paraguai adotou o regime presidencial, mas, no artigo 225 de sua Constituição, escolheu instrumento existente no sistema parlamentar para afastar presidentes que:
a) Tenham mau desempenho;
b) Cometam crimes contra o Poder Público;
c) Cometam crimes comuns.
Tendo recebido um voto na Câmara dos Deputados e quatro no Senado, Lugo foi afastado do governo, no estritos termos da Constituição, por mau desempenho.
É de se lembrar que o Parlamento tem representantes da totalidade da nação (situação e oposição). O Executivo, só da maioria (situação).
Folhapress
Tanto foi tranquilo o processo de afastamento no Paraguai que não existiram manifestações de expressão em defesa do ex-presidente. As Forças Armadas nem precisaram enviar contingentes à rua, e Lugo continuou com toda a liberdade para expressar as suas opiniões e até para montar um governo na sombra.
Processo digno das grandes democracias parlamentares. Mas difícil de ser compreendido pelo histriônico presidente venezuelano, que usa todos os meios possíveis para calar a oposição e a imprensa, pela aprendiz de totalitarismo que é a presidente argentina, que tudo faz para eliminar a imprensa livre em seu país, ou pelos dois semiditadores da Bolívia e do Equador.
O curioso foi o apoio da presidente Dilma a essa "rebelião de aspirantes a ditadores", pisoteando a democracia e a Lei Suprema paraguaia a fim de facilitar a entrada no Mercosul de um país cuja monoeconomia só permitirá a seu conturbado presidente permanecer no poder enquanto o preço do petróleo for elevado.
Decididamente, a ignorância democrática na América Latina tem um passado fantástico e um futuro deslumbrante.
IVES GANDRA DA SILVA MARTINS, 77, advogado, professor emérito da Universidade Mackenzie, da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército e da Escola Superior de Guerra, é presidente do Conselho Superior de Direito da Fecomercio
*
PARTICIPAÇÃO
Para colaborar, basta enviar e-mail para debates@uol.com.br.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

A "nova geografia do comércio internacional" - Rolf Kuntz

Durante anos, tanto esse gênio do comércio e das finanças internacionais, que era o presidente do "nunca antes", como o seu chanceler -- que sabia que estava falando uma bobagem, mas ainda assim repetia o chefe apenas por sabujice voluntária -- proclamaram uma tal de "nova geografia do comércio internacional". Ela seria constituída pelos fluxos Sul-Sul, diretamente, sobretudo com as novas "parceiras estratégicas" que teriam a virtude de nos "libertar da dependência do comércio" [sic, resic, trisic, do ex-presidente genial] com potências imperialistas, que obviamente só queriam manter-nos no atraso das velhas relações coloniais de comércio. 
O novo "gênio da lâmpada" chegou não apenas a propor um acordo de livre comércio do Mercosul com a China, mas também que esse comércio  se fizesse em moedas locais, ou seja, em reais e em yuans; isso para escapar da "ditadura do dólar", claro, que como todos sabemos, é uma moeda perversa, imperialista, através do qual o Império impõe sua vontade econômica a todos os demais países do mundo. 
Assim, o saldo que ainda temos com a China -- mas isso deve acabar graças às parcerias estratégicas do genial governo com as novas potências do Sul -- seria obrigatoriamente convertido em compras na própria China, como antigamente se fazia na época dos "rentenMarks", quando o comércio entre o Brasil de Vargas e a Alemanha nazista, nos anos 1930, era estritamente bilateralizado. Essa enormidade de inovação econômica e monetária -- endossada na época pelo chanceler submisso, e até hoje pelo ministro que parece que se ocupa das finanças do Brasil -- faria o sistema de pagamentos do Brasil recuar mais de oitenta anos atrás, passando do multilateralismo estabelecido em Bretton Woods, para o sistema de intercâmbio dirigido dos anos da Depressão.
Não é preciso dizer que os companheiros no poder se esforçaram também para sabotar todos os vínculos comerciais com as "potências do Norte" e estimular a tal de "nova geografia". Os asiáticos, que não são bobos, concordaram em vender mais ao Brasil, já que nós nos oferecíamos para abrir nossos mercados, mas continuavam exportando suas manufaturas para todos os mercados abertos, especialmente para os países desenvolvidos: eles já tinham descoberto a "nova geografia" muito tempo antes dos companheiros, e exportavam para todos os mercados solváveis, em lugar de gastar dinheiro com promoção comercial apenas nos mercados do Sul. Para eles, mercados são mercados, e não têm ideologia, cor ou geografia: tudo o que possa comprar é interessante.
O gênio da lâmpada também sugeriu que os nossos importadores fizessem o genial programa brasileira de "substituição de importações", ou seja, deixar de comprar onde fosse mais barato ou de melhor qualidade, para "comprar dos nossos irmãos mais pobres, mesmo que fosse um pouco mais caro", como argumenta esse gênio. O seu criado amestrado logo criou um programa desse tipo em seu ministério, fazendo com que o Brasil pagasse pelo que era dever dos outros: se quer vender, arregace as mangas e vá buscar mercados. Aqui não: nós é que nos dispúnhamos a ir buscar os seus produtos caros para inunda o mercado brasileiro. Genial, não?
O Brasil não é tão atrasado materialmente, como ele é mentalmente atrasado, sobretudo pela mentalidade de certas pessoas que tomam certas decisões. Ainda não experimentamos todas as soluções genias que vão criar para nos trazer de volta aos gloriosos anos do protecionismo generalizado.
Paulo Roberto de Almeida 



A estratégia do atraso

O Estado de S.Paulo, 4 de julho de 2012
Rolf Kuntz
Desta vez, vai. Com o companheiro Chávez no Mercosul e o comércio regional comandado pelo ministro argentino Guillermo Moreno, o Brasil e seus vizinhos vão desemperrar o comércio exterior – se o governo uruguaio, é claro, desistir de contestar a lambança realizada em Mendoza para a admissão da Venezuela. Por enquanto, há alguns probleminhas, mas nenhum com suficiente importância para impressionar a presidente Dilma Rousseff e seus estrategistas. De janeiro a junho as exportações brasileiras para o Mercosul, US$ 11,1 bilhões, foram 14,7% menores que as de um ano antes. Esse resultado é explicável principalmente pela diminuição de 16% nas vendas para a Argentina, a segunda maior economia do bloco e a principal defensora de barreiras comerciais entre sócios de uma união aduaneira. O ministro Moreno aperfeiçoou essa política, impondo mais restrições burocráticas à importação e obrigando os empresários a exportar um dólar para cada dólar importado.
As demais parcerias estratégicas definidas por Brasília continuam funcionando magnificamente e restaurando, em alguns casos, algumas venerandas práticas de outras eras. Os embarques para a China renderam US$ 21,1 bilhões e ficaram 4,7% acima dos registrados no primeiro semestre do ano passado, mas a relação entre a economia chinesa e a brasileira continuou moldada segundo o velho padrão colonial: troca de matérias-primas por manufaturados. Ninguém deve acusar o governo petista de bancar o moderninho e menosprezar o passado.
Segundo as últimas informações disponíveis no site do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, de janeiro a maio o Brasil exportou para a China manufaturados no valor de US$ 892,6 milhões, 5,2% das vendas para aquele mercado. Somando-se os semimanufaturados, chega-se a US$ 2,3 bilhões de produtos industriais, 13,1% do total. O mesmo padrão é observado no comércio com os três parceiros do grupo Bric – Rússia, Índia e China. Os manufaturados vendidos pelo Brasil somaram US$ 1,1 bilhão, 5,5% dos US$ 20,6 bilhões exportados. O total dos industrializados chegou a US$ 3,3 bilhões, 16% do valor faturado pelo Brasil.
Se a presidente Dilma Rousseff examinasse rapidamente outras parcerias comerciais do País, ficaria provavelmente surpresa com um descuido ideológico de seus estrategistas. A diplomacia brasileira esforçou-se bravamente, a partir de 2003, para evitar maior envolvimento com os mercados do mundo rico – especialmente do Império, como diria o líder Hugo Chávez – , mas as vendas para Estados Unidos e União Europeia ainda proporcionam quase um terço da receita (32,2% no primeiro semestre deste ano). Mais que isso: os mercados mais desenvolvidos do mundo se mantêm como grandes compradores de manufaturados made in Brazil.
De janeiro a maio, os americanos compraram US$ 5,1 bilhões de manufaturados brasileiros (45% do total importado) e US$ 2,4 bilhões de semimanufaturados. Os US$ 7,5 bilhões de industrializados corresponderam a 63,8% da receita do Brasil no comércio com o Império naqueles cinco meses.
O intercâmbio com a União Europeia também viola o padrão imaginado pelos salvadores do Brasil. Até maio, as exportações de manufaturados para o bloco europeu chegaram a US$ 7,3 bilhões, 37% do total, e as de industrializados, US$ 10 bilhões, 50,7%. Detalhe interessante: vários países europeus estão afundados em recessão e as vendas brasileiras para a região, no primeiro semestre, US$ 23,9 bilhões, foram 7% menores que as de janeiro a junho do ano passado. Mesmo assim, o mercado europeu é mais propício à indústria brasileira que os mercados dos “parceiros estratégicos”. Os US$ 12,4 bilhões de manufaturados remetidos aos Estados Unidos e à União Europeia entre janeiro e maio corresponderam a 60% do valor de todas as categorias de produtos exportadas para China, Rússia e Índia.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os Kirchners nunca se deixaram iludir pela tentação de um comércio não colonial com americanos e europeus. Graças à sua perspicácia e à visão estratégica de seus assessores, evitaram qualquer compromisso favorável à intensificação dos negócios industriais com as velhas potências dominadoras. Agora, enriquecidos com a inspiradora participação do companheiro Chávez, os governos brasileiro e argentino poderão reforçar os laços com as potências verdadeiramente comprometidas com o futuro da América do Sul, como os Brics e outros parceiros do “Sul”. Mas ainda será possível avançar em outras áreas. Que tal, por exemplo, aumentar os impostos sobre as vendas externas de manufaturados? Mais que um passo, seria um salto na direção de um comércio muito mais parecido com o dos velhos e bons tempos coloniais.

Mercosul: ilegalidade do ingresso da Venezuela - Celso Lafer

Disse o óbvio e o necessário, mas de forma elegante e fundamentada.
A ilegalidade da incorporação da Venezuela
CELSO LAFER

Folha de S.Paulo, 4/07/2012; Tendências/Debates
O respeito ao direito internacional é dimensão caracterizadora do Estado democrático de Direito. Ele tem, entre seus valores, a importância da preservação da legalidade como meio de assegurar a convivência coletiva.
No plano internacional, as normas do direito internacional cumprem duas funções importantes para a manutenção da segurança das expectativas, inerente ao princípio de legalidade: indicar e informar aos Estados sobre o padrão aceitável de comportamento e sobre a provável conduta dos atores estatais na vida internacional.
O Tratado de Assunção, que criou o Mercosul, prevê adesões, mas estabelece que sua aprovação "será objeto de decisão unânime dos Estados-partes" (artigo 20).
Não vou discutir os critérios que levaram Argentina, Brasil e Uruguai a considerar, invocando o Protocolo de Ushuaia, que houve ruptura da ordem democrática no Paraguai.
Pondero apenas que foi uma decisão tomada com celeridade semelhante à que caracterizou o impeachment do presidente Lugo e que ela não levou em conta o passo prévio previsto no artigo 4 do referido protocolo: "No caso de ruptura da ordem democrática em um Estado-parte do presente protocolo, os demais Estados-partes promoverão as consultas pertinentes entre si e com o Estado afetado".
Com a suspensão do Paraguai, que ainda não havia aprovado a incorporação da Venezuela ao Mercosul, Argentina, Brasil e Uruguai emitiram declaração sobre a incorporação da Venezuela, a ser finalizada em reunião convocada para 31 de julho no Rio de Janeiro.
O Protocolo de Ouro Preto estabelece: "As decisões de órgãos do Mercosul serão tomadas por consenso e com a presença de todos os Estados-partes" (artigo 32), exigência indiscutível para uma decisão que vá alterar a vida do Mercosul, como a incorporação de um novo membro.O Tratado de Assunção e o Protocolo de Ouro Preto, que deu ao Mercosul sua estrutura institucional, são tratados-quadro de natureza constitucional. Suas normas são superiores às de outras normativas que dela derivam. Inclusive as que levaram aos desdobramentos da suspensão do Paraguai, que não têm a natureza de uma reunião ordinária de condomínio.
Daí, a lógica do artigo 20 do Tratado de Assunção, antes mencionado, que é constitutivo do Mercosul e dele inseparável.
A Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados, de 1969, está em vigor no Brasil. Deve ser executada e cumprida tão inteiramente como nela se contém, como estatui o decreto 7030 de 14/12/2009 (artigo 1º).
A convenção estabelece, no artigo 26, que "todo tratado em vigor obriga as partes e deve ser executado por elas de boa-fé". Estipula, no artigo 31, como regra geral de interpretação, que "um tratado deve ser interpretado de boa-fé, segundo o sentido comum atribuível aos termos de tratado em seu contexto e à luz do seu objeto e finalidade".
A exigência da aprovação do Paraguai à incorporação da Venezuela no Mercosul me parece indiscutível à luz dos termos do Tratado de Assunção e de seu objeto e finalidade.
A decisão de incorporar a Venezuela, como foi feita, não atende a obrigações relacionadas à observância de tratados previstas na Convenção de Viena. Carece de boa-fé, seja na acepção subjetiva de uma disposição do espírito de lealdade e honestidade, seja na acepção objetiva de conduta norteada para esta disposição.
Trata-se, em síntese, de uma ilegalidade. Contrapõe-se ao que ensinava Rio Branco: "O nosso Brasil do futuro há de continuar invariavelmente a confiar acima de tudo na força do Direito e no bom senso".
CELSO LAFER, 70, é professor aposentado da Faculdade de Direito da USP. Foi ministro das Relações Exteriores em 1992 (governo Collor) e entre 2001 e 2002 (FHC)

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Brasil-Argentina: delongando o inevitável...

A Argentina é ciclotímica: a cada dez anos entra em crise, e no intervalo alterna as políticas, com um resultado previsível: ela sempre fica um pouco pior do que era. O cenário atual lembra o da fase pré-crise, quando o Brasil também se mostrou compreensivo com uma situação que já era inviável desde o início.
Porque dirigentes escolhem ser cegos?
Vai lá saber...
Paulo Roberto de Almeida 


Brasil reduzirá superavit comercial com Argentina
NATUZA NERY, LUCAS FERRAZ
Folha de S.Paulo, 4/07/2012

BRASÍLIA - O governo Dilma Rousseff admite ganhar cerca de R$ 2 bilhões menos no comércio bilateral com a Argentina para ajudar o país vizinho num momento de agravamento de sua situação econômica.
A Argentina vive fuga de capitais, inflação em alta e desaceleração da indústria --e o Brasil sabe que terá de socorrer seu terceiro maior parceiro comercial.
Setores da economia brasileira --como automobilístico, têxtil e de alimentos-- serão prejudicados se a economia argentina se deteriorar mais. E é justamente o temor de contágio em áreas estratégicas que a Esplanada dos Ministérios tenta espantar.
Segundo a Folha apurou, há uma decisão não declarada oficialmente do Brasil de reduzir o superavit com a Argentina de R$ 5,8 bilhões em 2011 para R$ 4 bilhões.
A assessoria do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior nega, mas a proposta já foi até apresentada ao lado argentino e prevê a fixação de cotas extraoficiais de exportação de produtos brasileiros.
Atualmente, diversos itens vendidos ao vizinho sofrem barreiras protecionistas. A ideia das cotas informais é justamente livrar produtos desse entrave, mesmo que haja um limite de venda.
As dificuldades enfrentadas pela Casa Rosada vêm erodindo a popularidade da presidente Cristina Kirchner.
Em Brasília, o sinal de alerta aparece também nos telegramas confidenciais emitidos por diplomatas brasileiros. A Folha teve acesso a algumas dessas mensagens oficiais. Em telegrama de janeiro deste ano, a embaixada brasileira em Buenos Aires prevê a continuidade da fuga cambial ao longo de 2012.
Dilma Rousseff também já ouviu relatos de assessores de que a taxa de câmbio apreciada na Argentina resultou em perda de competitividade, diminuindo as reservas.
NOVO TOM
A opção de superavit com a Argentina é uma mudança de tom em relação ao início do ano, quando ministros brasileiros falavam em represálias ao país vizinho. Revela, portanto, o nível de preocupação com o parceiro.
Apesar de as economias estarem interligadas, a Fazenda não faz diagnóstico apocalíptico dos efeitos de uma crise cambial sobre o Brasil.
Para Tristán Rodríguez, economista do Cadal (Centro para Abertura e Desenvolvimento da América Latina), o esfriamento da indústria brasileira afeta mais a Argentina do que o contrário.

Editoria de Arte/Folhapress

4 de Julho: liberdade, o outro nome dos EUA

Minha homenagem pelo 4 de Julho: 

In CONGRESS, July 4, 1776

The Unanimous Declaration of the 13 United States of America.

When in the course of human events, it becomes necessary for one people to dissolve the political bands which have connected them with another, and to assume among the powers of the earth, the separate and equal station to which the Laws of Nature and of Nature’s God entitle them, decent respect to the opinions of mankind requires that they should declare the causes which impel them to the separation. We hold these truths to be self-evident, that all men are created equal, that they are endowed by their Creator with certain unalienable Rights, that among these are Life, Liberty and the
pursuit of Happiness.

iPads: economicos em energia, e na fatura da eletricidade (talvez nao no Brasil)

Pelo menos nos EUA, os iPads custam pouco e gastam muito pouca energia.
No Brasil, a fatura é sempre mais cara...

It costs just $1.36 to charge an iPad for a year
NEW YORK (AP) — That coffee you're drinking while gazing at your iPad? It cost more than all the electricity needed to run those games, emails, videos and news stories for a year.
The annual cost to charge an iPad is just $1.36, according to the Electric Power Research Institute, a non-profit research and development group funded by electric utilities.
By comparison, a 60-watt compact fluorescent bulb costs $1.61, a desktop PC adds up to $28.21 and a refrigerator runs you $65.72.
The group, known as EPRI, studied the power consumption of Apple Inc.'s iPad to determine the effect that the newly-popular devices might have on the nation's electricity use.
The answer: not much.
If the number of iPads triples from the current 67 million, they would need the electricity from one small power plant operating at full strength.
But if people are using iPads instead of televisions to play video games, or ditching their desktop computers for iPads, the shift to tablets could mean lower overall power consumption. A desktop computer uses 20 times more power than an iPad.
Baskar Vairmohan, the EPRI researcher who conducted the iPad test, said the group is now studying usage to understand whether the explosion of tablets is adding to power consumption, or reducing it.
Residential power demand is on track to fall for the third straight year, according to the government. A weak economy is keeping people in smaller houses and shacked up with others. At the same time, efficiency programs are pushing more efficient light bulbs, air conditioners and other devices into homes. Refrigerators use a quarter of the power they used a generation ago, according to EPRI.
For the iPad test, Vairmohan measured the amount of power used to charge up an iPad with a drained battery. He assumed that users would charge up every other day. Over a year, the latest version of the iPad consumed 11.86 kilowatt-hours of electricity. (Older versions consume somewhat less power.)
The juice would cost $1.36 at the U.S. average residential price of 11.49 cents per kilowatt-hour.
But there's an even cheaper way to go than the iPad. EPRI calculated the cost of power needed to fuel an iPhone 4 for year: just 38 cents.
Follow Jonathan Fahey at http://twitter.com/JonathanFahey .

Livros que moldaram os EUA - Library of Congress


List-o-mania
The Library of Congress’s arguable roster of “Books That Shaped America”
The City Journal, 3 July 2012

In 1987, David Letterman inaugurated his famous Top Ten lists, which included Elf Pickup Lines (Sample: “I’m down here”); Ways to Reduce the Federal Deficit (“Sell ad space on president’s forehead during State of the Union speeches”); Unsuccessful Mall Shops (“Jiffy-Spay”); and many others. American media had already been infected; magazines and newspapers promptly took List-o-mania to the next level. Today Esquire publishes a roster of the Top 100 Women, Time offers mini-biographies of the Most Influential People, Forbes identifies the Most Powerful Celebrities, the New York Times informs its readers of the Top Ten Must-Have Apps, and theWashington Post reveals the Top 15 Happiest Countries.
One might think the august Library of Congress would be immune to pop trends, but one would be wrong. A group of anonymous librarians have just revealed their own list: 88 “Books That Shaped America.” The fiction list is mainly a catalogue of obvious choices: Huckleberry Finn, Moby-Dick, The Red Badge of Courage, The Catcher in the Rye, The Scarlet Letter, Uncle Tom’s Cabin, Little Women, The Legend of Sleepy Hollow. Among them, however, are some questionable items. Why Ernest Hemingway’s For Whomthe Bell Tolls, and not his Collected Stories, which completely reshaped American prose? Why Gone with the Wind? Did it really change America, or just the budgets of American cinema? Similarly, Edgar Rice Burroughs’sTarzan is hardly a nation-shaping novel; its sway—if any—was to give employment to a parade of Hollywood actors, white and black, as well to a series of chimpanzees who played Cheetah.
Seven works of poetry made the cut: Emily Dickinson’s Poems, Walt Whitman’s Leaves of Grass, Gwendolyn Brooks’s A Street in Bronzeville, Robert Frost’s New Hampshire, Langston Hughes’s Weary Blues, William Carlos Williams’s Spring and All, and Allen Ginsberg’s Howl. If all these are deserving, why not influential works by such masters as Wallace Stevens? Marianne Moore? ee cummings? Robert Lowell? John Berryman? Sylvia Plath? In the field of nonfiction, the librarians perform a balancing act worthy of a circus aerialist. The muckraker Upton Sinclair is represented byThe Jungle (an exposé of the meatpacking industry), and Ira Tarbell by herHistory of Standard Oil. The list must have seemed a bit too anti-business, for the librarians shoehorned in Atlas Shrugged, by the libertarian icon Ayn Rand.
The librarians seem a bit pathetic in their yearning for political correctness. Obviously they felt that gays had to be represented, so here is Randy Shilts’sAnd The Band Played On, about the AIDS epidemic. African-American writers are omnipresent, from Frederick Douglass and W. E. B. Du Bois to Ralph Ellison and James Baldwin. Hispanics are represented by Cesar Chavez, feminism by Betty Friedan, Native Americans by non-Indian Dee Brown’s Bury My Heart at Wounded Knee. But where are Asians? How about Maxine Hong Kingston? Amy Tan? David Hwang? Evidently, after the librarians fit in Zane Gray’s Riders of the Purple Sage and Margaret Wise Brown’s Goodnight Moon, there just wasn’t any room.
The number seems arbitrary as well. Maybe the librarians were thinking of the Steinway keyboard. Or of Mandy Patinkin, who played a character called 88 Keys in the movie Dick Tracy. Or of the number of constellations in the sky. Or of the atomic number of radium. It’s hard to know what they had in mind—other than joining the ranks of list makers like Letterman. The big difference is, audiences laugh with David.

Governo brasileiro nao liga para suas baleias - Santuario deixa de ser aprovado


Projeto que cria santuário de baleias é derrubado
O Estado de São Paulo, 3/07/2012

Defendida pelo Brasil, proposta é vetada na reunião anual da Comissão Internacional Baleeira. Organizações criticam falta de esforço diplomático.
Os 38 votos a favor da criação do Santuário Atlântico Sul foram insuficientes e o projeto para proteger as baleias na região entre a América do Sul e a África, que há 12 anos é apresentado pelo País, foi vetado ontem (2) na reunião anual da Comissão Internacional Baleeira (CIB), que ocorre nesta semana na Cidade do Panamá.

A aprovação da área de proteção dependia de 75% de votos favoráveis - com 21 países contrários e 2 abstenções, o índice ficou em 65%. Representantes de organizações ambientais criticam uma suposta falta de esforço diplomático frente ao lobby de países caçadores de baleias, liderado pelo Japão.

Para Leandra Gonçalves, do SOS Mata Atlântica, o santuário não sairá do papel enquanto não houver transparência na votação. "Foram 21 votos contra, mas apenas 3 países (Japão, Islândia e Noruega) realmente têm essa posição. O restante é de países menores, que têm seus votos comprados", acusa a ambientalista, coordenadora do Programa Costa Atlântica.

Segundo ela, o maior avanço para este ano havia sido jogar a votação para o início da discussão. Sem uma campanha forte da diplomacia brasileira antes da reunião, no entanto, não houve a adesão esperada. "Todos os anos, a maioria simples vota a favor. Mas, neste ano, se olharmos para o governo brasileiro, houve retrocesso. O País sempre mandou muitos representantes, mas durante as prévias faltou esforço para reforçar a campanha", afirmou Leandra.

A opinião é compartilhada por Truda Palazzo, diretor do escritório brasileiro do Centro de Conservação Cetácea, que acompanha a discussão no Panamá. "Está claro que o governo do Brasil não está fazendo a sua parte para conseguir esses votos faltantes. Muitos países do Caribe e África têm relações bilaterais fortes com o Brasil, mas não se consegue que o Itamaraty ou mesmo a Presidência eleve o nível das gestões para se conseguir esses votos", afirma Palazzo. "Como um dos idealizadores da proposta, em 1998, estou indignado com esse desleixo do País com o tema. Dá a impressão de que o compromisso do Brasil com o tema é meramente "diplomacia ornamental"."
O governo brasileiro nega ter diminuído os esforços para a criação do santuário e alega "questões burocráticas" para a baixa representatividade do País no evento - segundo o Ministério do Meio Ambiente, há apenas um técnico do órgão acompanhando as discussões na Cidade do Panamá.

Nova discussão - Nos próximos dias, outra resolução bastante aguardada deve entrar na pauta. Ela se refere à participação da Organização das Nações Unidas (ONU) na questão da caça científica promovida no Santuário de Baleias do Oceano Antártico. "Não acredito em novas votações para os próximos dias, mas essa é uma questão importante", afirma Leandra Gonçalves. "É preciso barrar a matança promovida pelo Japão, pois não é preciso matar para se fazer experiências científicas."

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Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...